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RECONHECIMENTO E INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE 1. - Reconhecimento e Investigação de Paternidade. 1.1. Maternidade A questão do reconhecimento da maternidade nunca foi um problema muito sério para o direito de família posto que a maternidade é certa, ou seja: quase sempre sabe-se quem é mãe. Até a Constituição Federal/88 a mulher casada não poderia reconhecer o filho adulterino ou incestuoso, surgindo daí raríssimos casos de investigação de maternidade. Alguns pouquíssimos, para não dizer íntimos, casos de investigação de maternidade advém de: * Duas ou mais mulheres se dizerem mãe de uma criança; * A criança ser registrada como filho de outra, por dolo ou má-fé do declarante. 1.2. - Paternidade presumida Se a mãe é certa, o pai é presumido. Tanto é que diz o: Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. De forma que o: - pai pode declarar a paternidade e maternidade de uma criança; - mas a mãe não poderá atribuir a paternidade a um homem, salvo se casada com ele e desde que nas condições do artigo 1.597 supra. Percebe-se que o filho concebido casamento fora do casamento só poderá ser declarado pelo pai. Mas e se o pai não declarar que é o pai da criança? Neste caso, poderá ser compelido judicialmente através da Ação de investigação de paternidade. 1.3. - Reconhecimento voluntário Aquele que não for casado com a mãe da criança e desejar, voluntariamente reconhecer a paternidade, poderá fazê-lo de diversas formas. Formas de reconhecimento voluntário: a) no assento de nascimento Lei 8.560/92 - art. 1° o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: I - no registro de nascimento. Aquele que desejar reconhecer como seu um filho, poderá faze-lo diretamente, no assento de nascimento. Comparecerá pessoalmente e declarará que o filho é seu. b) por escrito - público e particular Lei 8.560/92 - art. 1° o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em Cartório. Se o declarante (pai) não estava presente por ocasião da lavratura do assento de nascimento, poderá reconhecer a paternidade através de escritura pública ou de escrito particular que ficará arquivado no cartório do registro civil de pessoas naturais. c) por testamento Lei 8.560/92 - art. 1°. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado. É outra forma de reconhecimento da paternidade. Se alguém, no testamento, reconhece um filho, este reconhecimento é válido. d) judicialmente Lei 8.560/92 - art. 1°. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: IV - por manifestação expressa e direta perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Por fim a lei abre um espaço para que o reconhecimento possa ser feito judicialmente, em qualquer tipo de processo ainda que o objeto do processo não seja o reconhecimento de paternidade. Exemplo: Na ação de alimentos onde o filho (ou algum deles) não tenha sido reconhecido. Numa ação de investigação de paternidade de outro filho. 1.4. - Reconhecimento - ata de casamento Lei 8.560/92 - art. 3°. É vedado legitimar e reconhecer filho na ata do casamento. Parágrafo único. É ressalvado o direito de averbar alteração do patronímico materno, em decorrência do casamento, no termo de nascimento do filho. A lei 8.560/92, no entanto, proíbe o reconhecimento dos filhos na ata de casamento. 1.5. - Reconhecimento - filho maior Lei 8.560/92 - art. 4°. O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento. O filho maior - diga-se: plenamente capaz (maior ou não de 18 anos) - não poderá ser reconhecido sem seu consentimento. É preciso que ele, filho, compareça e manifeste sua anuência no reconhecimento, sob pena de invalidade do reconhecimento. 1.6. - Reconhecimento - filho menor Para reconhecer filho menor - incapaz absoluta ou relativamente - não há necessidade do consentimento do filho. Todavia ele pode impugnar o reconhecimento, como diz o: Art. 1.614 CC. O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode impugnar o reconhecimento, nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação. 1.7. - Natureza da filiação Art. 227 CF,§ 6°. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Como se sabe antes da Constituição Federal de 88 o filho era classificado segundo a natureza de sua filiação. Filhos: 1 - Legítimos: concebidos durante o casamento; 2 - Ilegítimos: Naturais; Espúrios: adulterinos Incestuosos 3 - Adotivos A Constituição proibiu qualquer designação, sendo que, daquela data em diante todos são filhos independente de sua origem. Assim, dispõe a Lei 8.560/92: Art. 5°. No registro de nascimento não se fará qualquer referência à natureza da filiação, à sua ordem em relação a outros irmãos do mesmo prenome, exceto gêmeos, ao lugar e cartório do casamento dos pais e ao estado civil destes. Art. 6°. Das certidões de nascimento não constarão indícios de a concepção haver sido decorrente de relação extraconjugal. § 1°. Não deverá constar, em qualquer caso, o estado civil dos pais e a natureza da filiação, bem como o lugar e cartório do casamento, proibida referência à presente Lei. Não importa, pois, a sua origem. Seja qual for a natureza da filiação, serão tidos como filhos. 1.8. - Declaratória de Paternidade A lei 8.560/92 criou um Procedimento Administrativo que se convencionou chamar-se Declaratória De Paternidade. É uma forma de abreviar (acelerar) o Reconhecimento Da Paternidade. O procedimento é simples, não havendo custas processuais ou honorários advocatícios. É necessário esclarecer, porém, que é um procedimento de natureza voluntária não havendo espaço para o contencioso de modo que se o suposto pai não reconhecer voluntariamente, não há como se produzir provas e proferir sentença. Nesse sentido a Lei 8.560/92 estabelece que: Art. 2°. Em registro de nascimento de menor apenas com a maternidade estabelecida, o oficial remeterá ao juiz certidão integral do registro e o nome e prenome, profissão, identidade e residência do suposto pai, a fim de ser averiguada oficiosamente a procedência da alegação. Declaração firmada pela mãe de que não deseja declara o nome do pai da criança. O processo será arquivado. A qualquer tempo poderá haver a investigação de paternidade. O Juiz pode adotar um dos dois procedimentos: 1º - mandará, em qualquer caso, notificar o suposto pai, independente de seu estado civil, para que se manifeste sobre a paternidade que lhe é atribuída. Art. 2º § 4°. Se o suposto pai não atendeuno prazo de trinta dias, a notificação judicial, ou negar a alegada paternidade, o juiz remeterá autos ao representante do Ministério Público para que intente, havendo elementos suficientes, a ação d investigação de paternidade. 2º - marcar uma audiência para ouvir a mãe (declarante) e o suposto pai. Manda notificar o suposto pai. Se ele não comparecer, não há condução coercitiva e nem revelia. Art. 2° - § 3°. No caso do suposto p confirmar expressamente paternidade, será lavrado o termo de reconhecimento e remetida certidão ao oficial do registro, para a devida averbação. Expede-se o mandado de averbação, encaminhando-o ao Cartório do Registro Civil de Pessoas Naturais. Arquiva-se o procedimento administrativo. 1.9. - Reconhecimento Judicial 1.9.1. - Introdução Situações em que é possível: Como já sabemos, o filho concebido na constância do casamento, presume-se do marido. A presunção deixa de existir se não houver casamento. Neste caso, se o pai não reconhece voluntariamente o filho, só resta a ação judicial de investigação de paternidade para compeli-lo a reconhecer o filho. Na verdade pode-se resumir as três situações em uma só, desde que se prove: - que tenha havido relacionamento sexual entre a mãe e o suposto pai; - que tal relacionamento coincida com a concepção; - que as relações sejam exclusivas. E, pouco importa se houve ou não concubinato, rapto consensual, estupro, etc. 1.10. - O autor da ação a) filho Tem se entendido que o autor será o filho que tem o direito personalíssimo de investigar a sua paternidade. Enquanto incapaz - menor de 16 anos, será representado e se maior de 16 anos será assistido por sua mãe. Se a mãe for menor, será representada ou assistida por seus pais (avós da criança). b) pai Também é possível, embora mais raro que o próprio pai promova a investigação de paternidade em relação ao seu filho, quando desejar declarar a paternidade. Suponha-se que uma mulher casada, tenha um relacionamento extraconjugal, resultando a gravidez. Nascendo a criança a mulher registra-a como sendo filho de marido, o que não é verdade. O verdadeiro pai, descobrindo o fato poderá propor a Ação de Investigação de Paternidade em face a criança, da mãe e do marido dela. 1.11. - O(s) requerido(s): a) o pai Via de regra a ação de investigação de paternidade é proposta contra aquele que é apontado como pai da criança. Sendo ele menor de 21 anos, deverá ser citado na pessoa do pai (avô da criança). b) contra os herdeiros Se o apontado pai for falecido a ação será proposta contra os herdeiros do apontado pai, e não contra o espólio. A jurisprudência não discrepa. Senão vejamos: Réu na ação de investigação de paternidade post mortem não é o espólio e sim os herdeiros. (TJDF - Agi 111327 - (reg. 42) - 3a t cível- rel. Des. Ribeiro de Sousa - DJU 10.02.1999) - Investigação de paternidade - cumulada com alimentos - legitimidade passiva ad causam - espólio - inadmissibilidade - ação que deve voltar-se contra os herdeiros do de cujus, únicos legitimados passivamente para respondê-la. (TJSP- AC 122.045-4 - Jundiaí - 1a cdpriv. - rel. Des. Guimarães e Souza - j. 16. 11. 1999 - v. U.) Falecido o indigitado pai, a ação de investigação de paternidade deve ser ajuizada contra os herdeiros. E não contra o espólio do de cujus. Nulidade reconhecida nos ternos do artigo 363, do CC - precedentes do STF e STJ. " - recurso conhecido e provido (STJ - Resp 120622 - RS - 3a t - rel. Min. Waldemar Zveiter- DJU 25.02.1998 - p 71) 1.12. - Cumulação de pedidos Via de regra, quando necessário, a Ação de Investigação de Paternidade deverá vir acompanhada de outros pedidos, tais como: - pedido de alimentos; ou - petição de herança. 1.13. - Ação de alimentos É o mais comum: propõe-se a investigação de paternidade e pede-se, também, que reconhecida a paternidade seja o requerido condenado a prestar alimentos ao requerente. Algumas particularidades devem ser observadas: a) Cabe fixar alimentos provisórios? O requisito para fixação de alimentos provisórios é a prova da paternidade, sem o que não se pode fixar os alimentos provisórios. Mas a pergunta é: em ação de investigação de paternidade c/c alimentos é possível fixá- los provisoriamente, isto é: antes da sentença? A questão é controvertida. Vejamos os que dizem que não se pode fixar alimentos provisórios: Investigação de paternidade - fixação dos alimentos provisórios - não cabimento - existência de meras referências quanto ao nome do suposto pai do investigante. Inocorrência, "in casu", de certeza prévia sobre a paternidade investigada, não aconselhando o aludido pagamento - recurso de agravo de instrumento provido para o fim de liberar o recorrente de arcar com os alimentos provisórios pleiteados. (TJSP - AI 118.607-4 - Araraquara - 9° CDPRIV. - Rel. Des. Thyrso silva - j 21.09.1999 - v.u.). INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - C/C ALIMENTOS - FIXAÇÃO DE PROVISÓRIOS - impossibilidade - alimentos que só devem ser fixados a partir da sentença de procedência da ação de investigação de paternidade - (tribunal de justiça de São Paulo - ai n. 110.747-4 - São Paulo - 3° câmara de direito privado - relatar. Flávio pinheiro - 15.06.99 - v.u) AÇÃO CAUTELAR ALIMENTOS PROVISÓRIOS. MEDIDA ANTECIPA TÓRIA DE AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PA TERNIDADE CUMULADA COM ALIMENTOS. LLMINAR. DESCABIMENTO. NECESSIDADE DA PROVA PRÉ-CONSTLTUIDA DO PARENTESCO. É descabida a liminar de alimentos provisórios em ação cautelar preparatória de ação ordinária de investigação de paternidade cumulada com ação de alimentos. Imprescindível, para tanto, a prova pré-constituída do parentesco. Inteligência do art. 5º da lei n. 883, de 21.10.49. Cuja redação e mantida pelo art. 7., da lei n. 8.560, de 29.12.92. (tribunal de justiça do Paraná - acórdão 10841, l' câmara cível, publicado em 13/02/95). Vejamos, agora, os que dizem que pode haver a fixação: ALIMENTOS PROVISÓRIOS. ALIMENTOS REQUERIDOS NO CURSO DA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. PRESENÇA DE FORTES INDÍCIOS DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.- 1. O despacho que defere alimentos provisórios. Diante da presença de fortes indícios da paternidade, no curso de ação principal de investigação de paternidade. Não desafia o art. 2. Da lei n. 5.478/68. (STJ - 3' turma - R Esp. 105194/PR DJU 15/12/97, pág 66.381). ALIMENTOS PROVISÓRIOS -INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - ausência de prova inequívoca ou de verossimilhança das alegações produzidas nos autos quanto ao vínculo genético - hipótese em que não se adiantam alimentos provisórios, nem mesmo por tutela antecipada - recurso provido. (tribunal de justiça de são Paulo - agravo de instrumento n. 96.042-4 - Guarulhos - 5ª Câmara de direito privado - relator: Silveira Netto¬11. 02.99 - v u) AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE C/C ALIMENTOS PROVISÓRIOS - EXCEPCIONALIDADE PODE SER CONCEDIDOS. - excepcionalmente, podem ser concedidos alimentos provisórios, no curso de investigação de paternidade cumulada com ação de alimentos, se, além de achar-se o autor em situação aflitiva, houver fortes indícios no sentido da efetiva paternidade (Tribunal de justiça de Rondônia, Câmara Cível - ai 97.00.1603-4, 11/11/97) tribunal de justiça de São Paulo. Ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos provisionais - ausência de prova da paternidade. Descabimento de fixação liminar dos alimentos. Ausente prova de paternidade, descabida a fixação de alimentos provisóriosem sede de ação investigatória cumulada com alimentos. Agravo provido. (TJRS - ai 70000003590 ¬(00334360) - 2° Câmara Cível. - Rel. Des. Cartas Eduardo Zietlow Duro - j 27. 10. 1999). No curso Como funciona o processo da Ação de Investigação de Paternidade examinaremos a partir de quanto serão devidos os alimentos. Cumulada com petição de herança: É outro pedido que poderá ser cumulado. Ocorrerá quando o autor da herança, suposto pai do investigante, faleceu sem reconhecer a filiação. É preciso, nestes casos, preservar a herança do investigante. O juiz recebendo o pedido e verificando a possibilidade de sucesso da ação, deferirá a reserva de bens do monte partilha em favor do investigante. O foro competente 1.14. - Ação de investigação A ação de investigação de paternidade é de natureza pessoal, portanto, deverá ser proposta no domicílio do apontado pai (réu), na forma do artigo 94 do CPC: Art. 94. A ação fundada em direito pessoal serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu. 1.15. - Investigação c/c alimentos Quando se trata, porém, de ação de investigação de paternidade c/c alimentos, decidiu-se que prevalecerá a regra especial. De fato, diz o artigo 94 do Código de Processo Civil: Art. 94. A ação fundada em direito pessoal serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu. Mas, também, diz o artigo 100 do Código de Processo Civil: Art. 100. É competente o foro: II - do domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; Aí fica a perplexidade: onde propor a ação? Como foi dito, prevalecerá a regra especial, ou seja: o domicílio do alimentado (do filho). Nesse sentido Súmula 1 do STJ: Súmula nº. 1 do STJ - o foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos. Havendo varas especializadas, ou seja varas de família, serão, elas, competentes. Não as havendo, será da vara cível. 1.16. - Passo a passo da Ação de Investigação de Paternidade - Começará, naturalmente, com a petição inicial na qual o autor mencionará o relacionamento sexual de sua mãe com o requerido, a filiação, o pedido de reconhecimento. Se houver pedido cumulativo, também deverá dizer qual é o pedido. - Citação A citação se fará pessoalmente, por mandado ou correio. Não sendo encontrado será citado por edital. - Não responde - revelia Se o requerido, devidamente citado, não responde à ação, é reputado como revel, na forma da lei. Mas a pergunta que se faz é: haverá os efeitos da revelia? A maioria da jurisprudência entende que não ocorrem os efeitos da revelia: O direito à paternidade é extrapatrimonial e indisponível e, por isso, recai na exceção prevista no art. 320, lI, do CPC, não se produzindo, pois, os efeitos da revelia. Necessário, neste caso, a designação de audiência de instrução e julgamento para comprovação dos fatos alegados. Apelação provida para anular a sentença. Unânime. (TJDF -APC 19980910025832- 5ª Turma Cível - Rel. Des. Romeu Gonzaga Neiva - DJU 14.06.2000 - p. 45). Quando a causa versar sobre investigação de paternidade, direito indisponíveis, não se admite o julgamento antecipado da lide em razão da revelia. (TJAP - I.U.JA.C. 0100/93 - TP - Rel. Des. Carmo Antônio - j 29.03.2000). Na fase atual da evolução do direito de família, é injustificável o fetichismo de normas ultrapassadas em detrimento da verdade real, sobretudo quando em prejuízo de legítimos interesses de menor. Diante do cada vez maior sentido publicista que se tem atribuído ao processo contemporâneo, o juiz deixou de ser mero espectador inerte da batalha judicial, passando a assumir uma posição ativa que lhe permite, dentre outras prerrogativas, determinar a produção de provas. Desde que o faça, é certo, com imparcialidade e resguardando o princípio de contraditório. Tem o julgador iniciativa probatória, quando presentes razões de ordem pública e igualitária, como, por exemplo, quando se esteja diante de causa que tenha por objeto direito indisponível (ações do estado), ou quando o julgador, em face das provas produzidas, se encontre em estado de perplexidade ou, ainda, quando haja significativa desproporção econômica ou sócio-cultural entre as partes. (STJ - 4ª turma - rei. Min. Sálvio de Figueiredo, 48 turma, recurso especial nº 43. 467-MG. Transcrito no DJU de 18.03.1996). - Se o réu responde Se admitir a paternidade, estamos diante da confissão e ai e preciso verificar se o advogado tem poderes para confessar (ou se contestação está assinada pelo requerido). Ainda assim é conveniente designar audiência, mesmo porque poderá haver divergências com relação à pensão alimentícia. Se o requerido desejar contestar a ação, poderá lançar mão dos argumentos que dispuser, ou: * negando o relacionamento sexual com a mãe do investigante; * negando a coincidência das relações sexuais com a concepção do requerente; * dizendo que o relacionamento não era exclusivo. Isto é o que a doutrina conhece por exceptio plurium concubentium (pluralidade de relações sexuais). Também poderá alegar a incapacidade de gerar - incapacidade generandi, seja por deficiência congênita, por cirurgia, etc. - Se o réu é citado por edital Como se sabe, neste caso, necessário será a nomeação de curador processual ao requerido. O curador, não tendo poderes para confessar, deverá se for o caso, contestar por negação geral. - Audiência de instrução e julgamento Na audiência, o juiz deverá tentar conciliar as partes. Não conseguindo, seguir-se-á a produção de provas. São admitidos todos os meios de prova: documental, testemunhal, pericial, etc. a) o ônus da prova Como se sabe, nos termos do artigo 333 do Código de Processo Civil: Art. 333. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. De modo que cabe ao autor a prova de seu direito. No caso da investigação de paternidade caberá ao autor provar: * o relacionamento sexual de sua mãe com o requerido; * a coincidência deste relacionamento, com a data de concepção do requerente; * a exclusividade do relacionamento sexual. b) inversão do ônus da prova Se o requerente admitir o relacionamento sexual com a mãe do investigante, inverte-se o ônus da prova, cabendo a ele provar que: * o relacionamento sexual não coincidiu com a concepção; * que o relacionamento sexual não era exclusivo. Este último item exclusividade do relacionamento sexual tem sido abrandado pela doutrina e jurisprudência, com o surgimento de exames periciais com grande percentual de precisão, de modo que, mesmo provada a pluralidade de relacionamento sexual da mãe do investigante, é possível o exame de paternidade. - Exames médico-periciais: a) perícia morfológica Também conhecida como perícia antropológica consiste em comparar os traços fisionômicos do requerente e do requerido. Tal prova não é admitida no direito brasileiro. Tem pouca aplicação na legislação estrangeira. b) exame hematológico A perícia hematológica consiste no exame de sangue, no pressuposto de que o tipo sangüíneo se transmite pela herança. É largamente utilizado quando as partes não tem condições de pagar exames mais sofisticados. É, porém, inseguro, pois só se presta a excluir a paternidade, de modo que quando o exame resultarem que "Zoroastro" não pode ser pai de "Yasmim", terá valor absoluto para excluir a paternidade. Mas se o resultado for de que "Zoroastro" poderá ser o pai de "Yasmim", quer dizer que tanto "Zoroastro" como qualquer outro do mesmo grupo sangüíneo poderá ser o pai. c) DNA (ácido desoxirribonucléico) O exame da paternidade pelo método DNA é o mais moderno e eficaz. Dependendo do laboratório e do método utilizado, ele contém uma exclusão de 1 em cada grupo de 1.000.000 de pessoas, pois oferece uma confiabilidade de 99,9999%. Tal exame, por si só, não é conclusivo da procedência da ação de investigação de paternidade posto que, ainda que o exame seja confiável, as pessoas que o manipulam são falhas, podendo ocorrer manipulação do resultado. - Sentença A sentença proferida julgando procedente a investigação de paternidade é meramente declaratória, limitando-se a declarar que o autor é filho do réu. a) Cumulada com alimentos No caso de haver pedido cumulativo - alimentos -, ainda assim, haverá uma sentença na qual: - será declarada a paternidade; e - haverá condenação de pagar alimentos. Trata-se de uma sentença de natureza mista: declaratória e condenatória. b) efeito do recebimento da apelação A sentença declaratória da paternidade será recebida no efeito devolutivo e suspensivo. Se houver condenação em prestar alimentos, desta parte da sentença só caberá o efeito devolutivo, de modo que a questão dos alimentos pode ser executada imediatamente. Vejamos apenas a título de ilustração: ALIMENTOS -INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE- APELAÇÃO - EFEITOS - na ação de investigação de paternidade cumulada com pedido de alimentos, a apelação interposta, quanto à condenação à prestação alimentícia, será recebida tão-somente no efeito devolutivo (art. 520, inc. II, do CPC). Precedentes. Recurso especial conhecido e provido. (STJ - Resp 214835 - PR - 4ª t. - rel. Min. Barros monteiro - DJU 21.02.2000 - p. 132). Assim, a apelação será recebida: - em ambos os efeitos quanto a investigação de paternidade - apenas no efeito devolutivo no que se refere aos alimentos. Quanto aos alimentos, inclusive, há dispositivo expresso na Lei 5.478/68 e no Código de Processo Civil: Art. 14. Da sentença caberá apelação no efeito devolutivo. CPC - art. 520 - a apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interpostas de sentença que: I - condenar à prestação de alimentos. c) A partir de quanto são devidos os alimentos? Há, na jurisprudência e na doutrina, uma controvérsia para se estabelecer a partir de quando serão devidos os alimentos. A primeira corrente sustenta que será a partir da citação porque foi a partir daí que o requerido foi chamado a juízo para defender-se e se quis contestar, é direito seu, mas deverá responder se sucumbir. Lei 5.478/68 - art. 13 - § 2°. Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - ALIMENTOS - DATA INICIAL- Os alimentos concedidos na sentença de procedência de ação de investigação de paternidade são devidos a partir da citação inicial. Orientação adotada pela 28 seção no julgamento do r. Esp no 152.895/PR. Ressalva do relator. (STJ, AC. 199900718429 - Resp 226686 - DF - 4ªT - rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar- DJU 10.04.2000" p. 00095). AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CUMULADA COM ALIMENTOS - PROCEDFNCIA - DATA EM QUE OS ALIMENTOS SÃO DEVIDOS - RETROAGE A CITAÇÃO - com a sentença declaratória do estado parental, os alimentos serão devidos desde a citação do investigado. Em razão dos efeitos ex tunc do decisório, essa realidade há de retroagir ao momento em que foi convocado para responder pela paternidade. A lei n° 5478/68, dispõe que: "em qualquer caso os alimentos fixados retroagem à data da citação". (TJMS - AC 68.602-4 - classe b - XV - Deodápolis - 2ª t.cív. - rel. Des. José augusto de Souza - j. 09.11.1999). Há, porém, os que pensam de maneira diversa, ou seja: serão devidos alimentos a partir da sentença. Vejamos: Seguindo o entendimento fixado pela egrégia segunda seção desta corte, os alimentos, quando postulados em ação de investigação de paternidade, são devidos a partir da citação. Ressalva do entendimento pessoal do relator que os entende devidos a partir da sentença. (STJ, Resp 229303 - PR - 4ª t - rei. Min. César Asfor Rocha - DJU 10.04.2000, p. 95). INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - cumulada com alimentos. Termo inicial destes. L. 883/49, art. 5° (atual lei 8.560/92, art. 7º). Os alimentos só são devidos quando postulados em cumulação com investigação da paternidade, a partir da sentença de 1° grau. (STJ - Resp 96443 - PR 4ª t - rel. p/o Ac. Min. César a - rocha - DJU 27.04.1998). Alimentos. Termo inicial. Os alimentos, quando pleiteados cumulativamente com a investigação de paternidade, são devidos a partir da sentença, data a partir da qual nasce o dever de prestá-los. Precedentes da quarta turma do STJ - apelo parcialmente provido. Segredo de justiça (TJRS, AC 598586618 - rel. Des. Jorge Luís Dall'agnol - J. 20.04.1999). INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - cumulação com alimentos.ação julga da procedente - irresignação do demandado quanto ao valor dos alimentos e a fixação a partir da citação - valor compatível com a condição do alimentante - alimentos, porém, que são devidos a partir da sentença ¬recurso parcialmente provido. (TJSP - AC 136.862-4 - leme - 8ª CDPRIV Rel. Des. César Lacerda - J. 28.02.2000 - m. V.). 1.17. - Participação do Ministério Público O Ministério Público participará obrigatoriamente dos processos de investigação de paternidade e de alimentos. 1.18. - Coisa julgada em investigação de paternidade A questão que vem atormentando os juristas nos dias atuais é definir: A decisão que julga improcedente a investigação de paternidade faz coisa julgada material ou formal? Em excelente monografia a respeito do tema, desenvolvido por Belmiro Pedro Walter, Promotor de Justiça no Rio Grande do Sul (Editora Síntese, 1ª edição/2000), conclui que: Primeira conclusão - somente haverá coisa julgada material, nas ações de investigação e contestação de paternidade, quando tiverem sido produzidas, inclusive de ofício e sempre que possível ,todas as provas, documental, testemunhal, pericial, especialmente exame genético DNA, e depoimento pessoal. Segunda conclusão - não faz coisa julgada o reconhecimento voluntário da paternidade, quer seja extrajudicial ou judicial. Terceira conclusão - não faz coisa julgada material a sentença de improcedência da ação de investigação ou de negação de paternidade por insuficiência de provas da paternidade biológica. A jurisprudência tem vacilado em admitir a coisa julgada material. Vejamos o pensamento do STJ: Seria terrificante para o exercício da jurisdição que fosse abandonada a regra absoluta da coisa julgada que confere ao processo judicial força para garantir a convivência social, dirimindo os conflitos existentes. Se, fora dos casos nos quais a própria lei retira a força da coisa julgada, pudesse o magistrado abrir as comportas dos feitos já julgados para rever as decisões não haveria como vencer o caos social que se instalaria. A regra do art. 468 do CPC é libertadora. Ba assegura que o exercício da jurisdição completa-se como o último julgado, pelas amplas possibilidades recursais e, até mesmo, pela abertura da via rescisória naqueles casos precisos que estão elencandos no art. 485. Assim, a existência de um exame de DNAposterior ao feito já julgado, com decisão transitada em julgado, reconhecendo a paternidade, não tem o condão de reabrir a questão com uma declaratória para negar a paternidade, sendo certo que o julgado está coberto pela certeza jurídica conferida pela coisa julgada. (STJ - Resp. 107. 248 - GO -3ª t - rei. Min. C.A. - Menezes Direito - DJU 29.06.1998).
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