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DIREITO PENAL V CRIMES HEDIONDOS AULA 1 Professor Eduardo Galante BRASÍLIA 2015 1 APRESENTAÇÃO 2 Sou o Professor EDUARDO GALANTE; Mestre em Direito Internacional; Doutorando em Ciências Jurídicas. Pós-graduado em Direito Administrativo, Direito Constitucional, Direito Penal, Direito Civil E Pós-graduando em Direito Tributário e Empresarial; Sou graduado em Secretariado e em Direito; Possuo 5 anos de experiência na Docência de Ensino Superior em cursos de graduação e pós-graduação; Orientador de Trabalho de Conclusão de Curso; Servidor Público há 23 anos. CONTATOS 3 Blog: http://professoreduardogalante.blogspot.com.br Twitter: @profedugalante Email: professoreduardogalante@gmail.com What App: CRIMES HEDIONDOS Leitura obrigatória: LEI Nº 8.072/90; Doutrina: livros de qualidade. Rogério S. Cunha por exemplo. Jurisprudência: - Súmulas STF - Súmulas STJ - Informativos STF - Informativos STJ 4 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 5 CONCEITO DE CRIME HEDIONDO – ORIGEM O termo crimes hediondos surgiu pela primeira vez na Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso XLIII, que estabelece que “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. Dois anos mais tarde, a Lei n. 8.072/90 definiu quais eram os crimes hediondos e, para atender a disposição constitucional, a eles equiparou a tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo. Na mesma esteira, estabeleceu quais as consequências penais e processuais penais desta categoria de delitos. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 6 Note-se, porém, que a lei não conceituou o que fosse crime hediondo, sendo certo que se tratava de puro processo de etiquetagem legal, ou seja, é hediondo aquele crime que a lei rotulou, em rol taxativo, como tal. Não se admite, portanto, extensão do rol de crimes hediondos por criação judicial, aplicando-se a analogia, sob pena de violação ao princípio da legalidade. Portanto, foi adotado o denominado “critério legal” na definição do rol dos crimes hediondos. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 7 A Lei n. 8.072/90, conhecida como a “Lei dos Crimes Hediondos”, na realidade define alguns tipos contidos no Código Penal como crimes hediondos (tentados ou consumados), além de incluir neste rol, o crime de genocídio (tentado ou consumado), previsto nos artigos 1º, 2º e 3º, da Lei n. 2.889, de 1º de outubro de 1956. Ao lado dos tipos penais definidos como crimes hediondos, a Lei n. 8.072/90 também cuida de outras três modalidades criminosas: a tortura; o tráfico ilícito de drogas; e o terrorismo. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 8 Um crime é qualificado como hediondo porque é considerado muito grave, repugnante, aviltante. O legislador entendeu que esses crimes merecem uma maior reprovação por parte do Estado. Os crimes hediondos estão no topo da pirâmide da desvaloração axiológica criminal. São os crimes que causam mais aversão à sociedade. A Constituição da República menciona os crimes hediondos no art. 5º, XLIII. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 9 Assim, crimes hediondos são aqueles elencados no artigo 1º, da Lei n. 8.072/90, a saber: I) Previstos no Código Penal: 1) homicídio (artigo 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, 2) homicídio qualificado (artigo 121, § 2º, I, II, III, IV e V); 3) latrocínio (artigo 157, § 3º, in fine); 4) extorsão qualificada pela morte (artigo 158, § 2º); 5) extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (artigo 159, caput e §§ 1º, 2º e 3º); 6) estupro (artigo 213, caput e §§ 1º e 2º, com a redação dada pela Lei n. 12.015/2009); 7) estupro de vulnerável (artigo 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º, com a redação dada pela Lei n. 12.015/2009); 8) epidemia com resultado morte (artigo 267, § 1º); 9) falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (artigo 273, caput, e § 1º, § 1º A, § 1º B, com a redação dada pela Lei n. 9.677/98); 10) crime de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança, adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput e §§1º e 2º do CP, introduzido pela lei 12.978/2014). NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 10 II) Previsto em legislação especial: 1) genocídio (arts. 1º, 2º e 3º, da Lei n. 2.889, de 1º de outubro de 1956). A tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e o terrorismo não são crimes hediondos, no sentido técnico da denominação, mas estão contidos na Lei n. 8.072/90 e têm tratamento jurídico assemelhado a tais crimes, razão pela qual são chamados de crimes “equiparados” ou “assemelhados” aos hediondos. CONSEQUÊNCIAS DA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS 11 A graça, o indulto e a anistia são formas de extinção da punibilidade. Anistia é o ato do Poder Legislativo por meio do qual se extinguem as consequências de um fato que em tese seria punível e, como resultado, qualquer processo sobre ele. É uma medida ordinariamente adotada para pacificação dos espíritos após motins ou revoluções. A graça, diferentemente, é concedida a pessoa determinada, enquanto o indulto tem caráter coletivo. Ambos, porém, somente podem ser concedidos por ato do Presidente da República, sendo possível a delegação dessa competência a Ministro de Estado, ao Advogado-Geral da União ou ao Procurador-Geral da República. CONSEQUÊNCIAS DA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS 12 A redação original do inciso II do art. 2º vedava também a concessão de liberdade provisória nos casos de crimes hediondos e equiparados. Você pode notar, entretanto, que a Constituição não fez qualquer menção à restrição da liberdade do acusado por tais crimes. Pelo contrário, o teor do art. 5º, LXVI, é no sentido de que “ninguém deve ser levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”. Foi por essa razão que o dispositivo foi alterado em 2007, e hoje os crimes hediondos e equiparados são inafiançáveis, mas o acusado apenas pode ter sua liberdade restringida cautelarmente quando houver decisão judicial fundamentada, e apenas nos casos previstos em lei (art. 312 do CPP). CONSEQUÊNCIAS DA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS 13 O artigo 2º da Lei n. 8.072/90 enumera as principais restrições a direitos e garantias de natureza penal e processual penal, em relação aos crimes hediondos, tortura, tráfico ilícito de drogas e terrorismo, a saber: a) tais práticas criminosas são insuscetíveis de anistia, graça e indulto e fiança (artigo 2º, incisos I e II); b) a pena será iniciada em regime fechado, admitida a progressão com cumprimento de 2/5 da pena, ao primário, ou 3/5, se reincidente (artigo 2º, parágrafos 1º e 2º); c) o prazo da prisão temporária é de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período (artigo 2º, parágrafo 4º); d) e o livramento condicional apenas será concedido após o cumprimento de mais de dois terços (2/3) da pena, se o condenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza (artigo 5º). PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PENAL 14 Somente os delitos previstos no rol taxativo da presente lei podem ser consideradoshediondos. Aplicação em concurso. • MPE-SC - Promotor de Justiça - SC/2013 A conduta do agente que expõe à venda e tem em depósito para vender produto, destinado a fins terapêuticos, falsificado ou alterado, na condição de ausência das cara caraterísticas de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização ou com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade, é considerada crime de natureza hedionda, nos termos da Lei n. 8.072/90. A alternativa está certa. PROGRESSÃO DE REGIME 15 É possível a progressão de regime do condenado por crime hediondo, sendo possível quando se der o cumprimento de 2/5 da pena (apenado primário), ou de 3/5 (reincidente). A Lei dos Crimes Hediondos determina que a pena deve ser cumprida inicialmente em regime fechado. Todavia, o STF já declarou este dispositivo constitucional em sede de controle difuso. CRITÉRIO UTILIZADO PELO LEGISLADOR PARA DEFINIR OS CRIMES HEDIONDOS 16 Existem três critérios pelos quais se pode considerar um delito de natureza hedionda, quais sejam: o critério legal; o critério judicial e o critério misto. De acordo com o critério legal, somente o legislador pode definir os delitos considerados hediondos, em um rol exaustivo previsto na lei. Pelo critério judicial, cabe ao Juiz definir quais são os delitos classificados com hediondos. Por fim, o critério misto preconiza que o legislador estabelece, em um rol exemplificativo, os delitos que são considerados hediondos, permitindo ao Juiz, por critério de interpretação analógica, qualificar outros delitos como sendo igualmente hediondos. PRISÃO TEMPORÁRIA DIFERENCIADA 17 A prisão temporária é modalidade de prisão provisória ou cautelar, criada através da Lei n. 7.960, de 21 de dezembro de 1989, cabível, como regra, pelo prazo de cinco (05) dias, prorrogáveis por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade e que pode ser decretada em três hipóteses: a) quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; b) quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; ou c) quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: homicídio doloso; sequestro ou cárcere privado; roubo; extorsão; extorsão mediante sequestro; estupro; atentado violento ao pudor; rapto violento; epidemia com resultado morte; envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte; associação criminosa; genocídio; tráfico de drogas; crimes contra o sistema financeiro. PRISÃO TEMPORÁRIA DIFERENCIADA 18 No que toca a prisão temporária, o que a Lei dos Crimes Hediondos fez foi estabelecer um prazo maior para esta modalidade de prisão, em se tratando de uma das modalidades criminosas ditas hediondas, qual seja de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período, em caso de extrema e comprovada necessidade. Com a Lei n. 12.403/2011, que deu nova redação ao artigo 283, do Código de Processo Penal, manteve-se a possibilidade desta modalidade de prisão cautelar: “Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva” LIVRAMENTO CONDICIONAL DIFERENCIADO E REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA 19 O livramento condicional é um incidente da execução da pena privativa de liberdade, consistente na antecipação condicionada da liberdade ao condenado, desde que preenchidos alguns requisitos tanto de ordem objetiva, quanto subjetiva, enumerados no artigo 83, do Código Penal. A Lei dos Crimes Hediondos, no tocante ao livramento condicional, acrescentou o inciso V, ao referido artigo 83, do Código Penal, no qual condiciona a concessão do benefício ao cumprimento de dois terços (2/3) da pena privativa de liberdade, além dos demais requisitos, desde que o condenado não seja reincidente específico. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA - SURSIS 20 No tocante à possibilidade da concessão da suspensão condicional da pena, há duas orientações: a) Fernando Capez salienta que: “não cabe sursis para os crimes previstos na Lei n. 8.072/90, ante a incompatibilidade do benefício com o tratamento mais rigoroso imposto por essa legislação especial (crime hediondo, tortura, tráfico de drogas e terrorismo)”. Esta orientação majoritária na jurisprudência. b) Em sentido contrário, advoga Silva Franco – acompanhado de Júlio Fabbrini Mirabete, Antonio Scarance Fernandes, Damásio Evangelista de Jesus e Alberto Zacharias Toron - entendendo que a Lei n. 8.072/90 não contém norma expressa a vedar a concessão do sursis, não pode o intérprete lançar mão de interpretação extensiva ou dilatória para suprimir o benefício, o que consistiria analogia in malam partem. Com o mesmo entendimento precedente do STJ (Informativo 91, REsp 287.810-DF, Rel. Min. FELIX FISCHER, j. 5/4/2001). RECURSO EM LIBERDADE 21 Regra do parágrafo 3º, do artigo 2º, da Lei 8.072/90: “em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade”. O Supremo Tribunal Federal já julgou no sentido da compatibilidade entre o encarceramento compulsório e o princípio da presunção de inocência. Atualmente o entendimento jurisprudencial segue a seguinte tendência: O Supremo Tribunal Federal inclina-se para a aplicação do princípio da presunção da inocência que impõe, como regra, que o acusado recorra em liberdade, podendo-se determinar o seu recolhimento, se preenchidos os requisitos para a prisão cautelar. Aplica-se ao Crime Hediondo ELEVAÇÃO DAS PENAS NOS CRIMES HEDIONDOS 22 Decorre do artigo 6º, da Lei n. 8.072/90, a elevação das penas dos crimes etiquetados como hediondos. DELAÇÃO PREMIADA 23 A lei dos crimes hediondos inovou, ao criar o instituto da delação premiada, também denominada delação eficaz, modalidades do chamado direito premial, com origem no modelo norte-americano do “plea-bargaining” e do “pattegiamento” do Direito Penal italiano (mais tarde outras leis trouxeram a previsão de institutos semelhantes, a exemplo das Leis n. 12.850/2013 (Organização Criminosa), n. 9.613/98 (Lavagem de Dinheiro), n. 9.807/99 (Proteção a Vítimas e Testemunhas) etc. Assim o fez por razões de política criminal, priorizando a prevenção e repressão do crime. DELAÇÃO PREMIADA 24 A Lei n. 8.072/90 prevê dois institutos de delação premiada: a) O primeiro, no artigo 7º, que faz encaminhamento direto ao artigo 159, § 4º, do Código Penal, com a seguinte redação: “Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços”. Este primeiro, para diferenciá-lo do segundo, chamaremos de delação premiada; b) O segundo, no artigo 8º, parágrafo único, com a seguinte redação: “o participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços”. Este segundo, chamaremos de traição benéfica. O delito de quadrilha ou bando atualmente é denominado associação criminosa (lei 12.850/2013). Ambos têm natureza jurídica EXCLUSIVA de causa de diminuição da pena, de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). DELAÇÃO PREMIADA 25 A - DELAÇÃO PREMIADA DO ARTIGO 7º, DA LEIN. 8.072/90: Requisitos: 1 – Crime de extorsão mediante sequestro; 2 – Crime praticado em concurso de pessoas; 3 – Eficácia da delação, propiciando a libertação da vítima sequestrada. B – TRAIÇÃO BENÉFICA DO ARTIGO 8º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N. 8.072/90: Requisitos: 1 –Associação Criminosa formada para prática de crimes hediondos ou assemelhados; 2 – Eficácia da traição (delação), propiciando o desmantelamento do grupo criminoso. PENAS - QUADRILHA 26 Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. O art. 288 do Código Penal diz respeito ao crime de quadrilha ou bando. Quando a quadrilha ou bando tiver por objeto a prática de crimes hediondos ou equiparados a hediondos, haverá aumento de pena: a pena cominada pelo CP é de reclusão de 1 a 3 anos, enquanto, neste caso, será de reclusão de 3 a 6 anos. QUADRILHA 27 Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços. O parágrafo único traz mais uma hipótese de delação premiada, aqui chamada de traição benéfica. É importante que você compreenda que, quanto a crimes hediondos, a delação premiada somente se aplica quando houver quadrilha ou bando, formada especificamente para o fim de cometer crimes hediondos ou equiparados. HOMICIDIO SIMPLES 28 Questão relevante versa sobre a possibilidade de o homicídio simples ser considerado crime hediondo. De acordo com a doutrina e jurisprudência, o homicídio simples somente será hediondo se for praticado nos moldes descritos na primeira parte do inciso , ou seja, praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente. Ex . : Mata-se a vítima porque ela pertence a um grupo de muçulmanos, punks, prostitutas ou homossexuais. Em relação ao homicídio qualificado, não há dúvidas de ser o crime considerado hediondo, em razão da expressa e clara previsão na segunda parte do inciso 1. HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO. POSSIBILIDADE 29 É possível que o homicídio seja, ao mesmo tempo, privilegiado e qualificado, desde que as qualificadoras sejam de natureza objetiva, que são as previstas nos incisos IlI e IV do §2º do art. 121 do Código Penal. Ex. : O agente, motivado por violenta emoção, mata a vítima com emprego de asfixia, como na hipótese do agente que mata por asfixia o delinquente que entrou em sua residência, ameaçou de morte sua família e depois subtraiu todos os pertences que lhe guarneciam a residência. HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO NÃO É CONSIDERADO HEDIONDO 30 Embora seja possível o homicídio ser ao mesmo tempo qualificado e privilegiado, não é considerado delito hediondo, por dois fundamentos. Em primeiro lugar, por falta de previsão legal, falta de tipicidade, uma vez que o art. 1·, da lei só faz menção expressa ao homicídio simples quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que praticado por só um agente, e ao homicídio qualificado . Em segundo lugar, porque o privilégio não é com patível com a natureza hedionda do delito. HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO NÃO É CONSIDERADO HEDIONDO 31 O latrocínio nada mais é do que o crime de roubo, qualificado pelo resultado morte da vítima, sendo, portanto, hediondo. O roubo do qual resulte apenas lesão corporal grave não é classificado como crime hediondo. Somente o delito de extorsão qualificado pela morte (art. 158, § 2º, do Código Penal) é considerado crime hediondo. Por exclusão, a extorsão simples ( art. 158, caput, do Código Pen a l ) e a extorsão qualificada pela lesão corpora l grave ( a t. 158, § 2º, do Código Penal ) não são crimes hediondos, por absoluta falta de previsão legal . CONSEQUÊNCIAS DA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS 32 PROIBIÇÃO DE FIANÇA Liberdade provisória é instituto de Direito Processual Penal e pode ser concedida em decorrência de prisão em flagrante, preenchidos os requisitos legais (artigo 310, do Código de Processo Penal, com a redação da Lei n. 12.403/2011). A versão original da Lei n. 8.072/90 proibia a liberdade provisória com ou sem fiança aos crimes desta lei (hediondos ou assemelhados). Com o advento da Lei n. 11.464/2007, apenas a proibição da liberdade provisória com fiança ficou mantida, até mesmo porque a Constituição Federal estabelece esta proibição no artigo 5º, inciso XLIII, em dispositivo considerado cláusula pétrea. Assim, a nova redação da Lei n. 8.072/90 não faz nenhuma referência acerca da liberdade provisória (seja para proibi-la, seja para admiti-la). Lei 12978/2014 Crimes Hediondos - Alteração 33 O que fez a Lei nº 12.978/2014 publicada recentemente? Acrescentou mais um inciso ao art. 1º da Lei nº 8.072/90 prevendo que também é considerado como crime hediondo o favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável, delito previsto no art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º do Código Penal. A Lei nº 12.978/2014 já entrou em vigor, de forma que, se a pessoa praticar o crime do art. 218-B do CP de hoje em diante, estará submetido às consequências penais e processuais inerentes aos crimes hediondos, sendo a mais gravosa delas a existência de requisitos objetivos diferenciados para progressão de regime (art. 2º, § 2º). Lei 12978/2014 Crimes Hediondos - Alteração 34 Foi publicada recentemente a Lei nº 12.978/2014, que altera a Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90). O que são crimes hediondos? São crimes que o legislador considerou especialmente repulsivos e que, por essa razão, recebem tratamento penal e processual penal mais gravoso que os demais delitos. Quais são os crimes hediondos no Brasil? O Brasil adotou o sistema legal de definição dos crimes hediondos. Isso significa que é a lei quem define, de forma exaustiva (taxativa, numerus clausus), quais são os crimes hediondos. Esta lei é a de nº 8.072/90, conhecida como Lei dos Crimes Hediondos. A Lei nº 8.072/90 traz, em seu art. 1º, o rol dos crimes hediondos. CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS 35 NÃO admite fiança. Admite liberdade provisória. NÃO admite a concessão de anistia, graça e indulto. O prazo da prisão temporária, quando cabível, será de 30 dias podendo ser prorrogado por mais 30. Admite a concessão de sursis, cumpridos os requisitos do art. 77 do CP, salvo no caso do tráfico de drogas por força do art. 44 da Lei nº 11.343/2006. réu pode apelar em liberdade, desde que a prisão não seja necessária. Para a concessão do livramento condicional, o condenado não pode ser reincidente específico em crimes hediondos ou equiparados e terá que cumprir mais de 2/3 da pena. Para que ocorra a progressão de regime, o condenado deverá ter cumprido: 2/5 da pena, se for primário; e 3/5 (três quintos), se for reincidente. pena do art. 288 do CP (associação criminosa) será de 3 a 6 anos quando a associação for para a prática de crimes hediondos ou equiparados. 36 37 38 EXERCÍCIOS 39 1) Qual a origem do termo “crimes hediondos”? 2) O que é crime hediondo? 3) Qual é o critério utilizado para definição de crime hediondo? 4) A Lei n. 8072/90 cuida apenas dos crimes hediondos? 5) Quais são os crimes hediondos? Todos estão previstos no Código Penal? 6) Os crimesde terrorismo, tráfico ilícito de drogas e tortura são hediondos? 7) O homicídio híbrido, isto é, qualificado-privilegiado é crime hediondo? 8) Quais as restrições de natureza penal e processual penal prevista na Lei n. 8072/90? 9) A Constituição Federal proíbe a graça, anistia e indulto em relação aos crimes hediondos, terrorismo, tortura e tráfico de entorpecentes? 10) A proibição do indulto a esses delitos é inconstitucional? EXERCÍCIOS 40 01 - A Lei n° 8.072/90 (crimes hediondos) a) define no seu artigo 1° os crimes considerados hediondos, todos previstos no Código Penal, sem prejuízo, contudo, de outros delitos considerados hediondos pela Legislação Penal Especial. b) não permite a interposição de apelação antes do recolhimento do condenado à prisão, em razão do disposto no seu artigo 2° , § 1° (a pena será cumprida em regime inicial fechado). c) prevê progressão de regime para os condenados pela prática de crime hediondo após o cumprimento de 1/6 da pena se o apenado for primário e 2/5 se for reincidente. d) traz no rol do seu art. 1° o crime de roubo impróprio (art. 157, § 1° , CP), o roubo circunstanciado (art. 157, § 2° , I, II, III, IV e V, CP) e o roubo qualificado pelo resultado (art. 157, § 3 , CP). e) estabelece o prazo de 30 (trinta) dias (podendo ser prorrogado por mais 30 dias) da prisão temporária decretada nas investigações pela prática de crime hediondo. EXERCÍCIOS 41 02 - A respeito dos crimes hediondos, assinale a alternativa correta com base na legislação de regência. a) O crime de epidemia com resultado morte não é considerado hediondo. b) Os crimes hediondos são insuscetíveis de anistia, graça e indulto, embora lhes seja admitida fiança. c) A pena do condenado por crime hediondo deverá ser cumprida em regime integralmente fechado, apesar de haver precedente jurisprudencial em que se admite o cumprimento da pena em regime inicialmente fechado. d) Se o crime hediondo de extorsão mediante sequestro for cometido por quadrilha ou bando, o coautor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, será beneficiado com a redução da pena de um a dois terços. e) Entre os crimes hediondos previstos na lei, apenas as condutas consumadas são consideradas hediondas; as tentadas configuram a modalidade simples de crime. EXERCÍCIOS 42 03 - Em matéria de penas privativas de liberdade, correto afirmar que a) possível a fixação do regime inicial fechado para o condenado a pena de detenção, se reincidente. b) o condenado por crime contra a Administração pública terá a progressão de regime do cumprimento de pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. c) a determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos mesmos critérios previstos para a fixação da pena-base, mas nada impede a opção por regime mais gravoso do que o cabível em razão da pena imposta, se a gravidade abstrata do delito assim o justificar. d) inadmissível a adoção do regime inicial semiaberto para o condenado reincidente. e) os condenados por crimes hediondos ou assemelhados, independentemente da data em que praticado o delito, só poderão progredir de regime após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se primários, e de 3/5 (três quintos), se reincidentes. EXERCÍCIOS 43 04 - Assinale a alternativa que indica corretamente crimes que, de acordo com o texto constitucional, a lei considerará inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, omitirem-se. a) O tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo, os definidos como crimes hediondos e o assédio sexual. b) A posse e o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo, os definidos como crimes hediondos e o racismo. c) A prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos. d) A prática da tortura, a posse e o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo. e) A prática da tortura, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos e o assédio sexual. EXERCÍCIOS 44 05 - Aponte a alternativa que corresponde a um crime previsto no rol dos Crimes Hediondos do artigo 1º da Lei nº 8.072/90: a) Roubo com uso de arma de fogo (artigo 157, §2º, inciso I, do Código Penal). b) Extorsão praticada com restrição de liberdade da vítima (artigo 158, §3º, do Código Penal). c) Homicídio simples (artigo 121, “caput”, do Código Penal). d) Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º, do Código Penal). e) Associação criminosa (artigo 288 do Código Penal). EXERCÍCIOS GABARITOS: 1 – E 2 – D 3 – B 4 – C 5 – D 45 46
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