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AULA 3 DIREITO PENAL V LEI DE TORTURA

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DIREITO PENAL V 
 
LEI DA TORTURA 
 
AULA 3 
 
 
Professor Eduardo Galante 
 BRASÍLIA 2015 
1 
 
LEI DA TORTURA 
Leitura obrigatória: 
 
 LEI Nº 9.455/97; 
 
 Doutrina: livros de qualidade. Rogério S. Cunha por exemplo. 
 
 Jurisprudência: 
 
- Súmulas STF 
- Súmulas STJ 
 
- Informativos STF 
- Informativos STJ 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
3 
 O art. 1º, III, da CF/1988 dispõe acerca da dignidade da pessoa humana. 
 
 Ainda, o art. 4º, II, estabelece que um dos princípios existentes é a prevalência 
dos direitos humanos. 
 
 O primeiro tipo penal a tratar a tortura como crime foi o art. 233 do ECA, que 
punia com reclusão aquele que submetesse criança ou adolescente sob sua 
guarda ou vigilância a tortura. 
 
 Previsão em tratados ratificados pelo Brasil: O Brasil se tornou signatário de 
diversos Tratados e levou quase cinquenta anos para tipificar a conduta 
criminosa da prática da tortura. 
 
 Em relação aos Tratados, são eles: Declaração Universal dos Direitos Humanos; 
Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos 
ou degradantes; Convenção Interamericana, entre outros. 
 
 As Convenções consideram a tortura como crime próprio, ou seja, só podem ser 
cometidos por funcionários públicos. 
DOUTRINA, COMPETÊNCIA, AÇÃO PENAL E BEM JURÍDICO TUTELADO 
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 Há dois posicionamentos sobre a Lei de Tortura. 
 
 O primeiro se dá no sentido de entender ser inconstitucional o diploma 
legal, uma vez que a tipificação do delito de tortura como crime comum é 
inconstitucional, tendo em vista que a lei lesionou uma norma com 
embasamento em Tratados Internacionais de Direitos Humanos. 
 
 Assim, o crime de tortura não poderia destoar flagrantemente das 
definições contidas nas Convenções Internacionais. 
 
 A segunda corrente entende pela constitucionalidade, afirmando que o 
legislador brasileiro optou pela forma correta, pois não se pode restringir 
a tortura ao agente público, uma vez que qualquer pessoa pode praticá-la. 
DOUTRINA, COMPETÊNCIA, AÇÃO PENAL E BEM JURÍDICO TUTELADO 
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 É preciso ressaltar que a tortura não constitui crime hediondo, 
contudo é a ele equiparado. 
 
 Qualquer que seja a modalidade de tortura, a ação penal sempre 
será pública incondicionada. 
 
 Temos como elemento subjetivo o dolo, ou seja, a consciente e a 
vontade dirigidas à realização da conduta. 
 
 O bem jurídico primário é a dignidade humana e os bens jurídicos 
secundários são a integridade física e psíquica da vítima. 
TORTURA-CONSTRANGIMENTO E TORTURA-PROVA 
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 O art. 1º, inciso I, da Lei de Tortura dispõe: 
 
“Constitui crime de tortura: 
 
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, 
causando-lhe sofrimento físico ou mental.” 
 
 Temos como sujeito passivo qualquer pessoa, independentemente 
de vínculo com o sujeito ativo do crime. 
 
 Existe majorante prevista no art. 4º, inciso II, do mesmo diploma 
legal, se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de 
deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos. 
TORTURA-CONSTRANGIMENTO E TORTURA-PROVA 
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 Para configuração da tortura nesta modalidade, é preciso que haja 
dolo (não existe forma culposa), bem como o especial fim de agir 
do agente, que deve atuar com uma das finalidades previstas nas 
alíneas. 
 
 A violência e a grave ameaça estão presentes apenas nos incisos I e 
II como modos de execução. 
 
 A violência consiste no emprego da força física, para dominar a 
vítima, e a grave ameaça consiste na promessa de mal grave, injusto 
e iminente, como a ameaça de morte, por exemplo. 
 
 É preciso ressaltar que quanto ao sofrimento mental, a prova é de 
difícil aferição. 
TORTURA-CONSTRANGIMENTO E TORTURA-PROVA 
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 De acordo com o art. 158 do CPP, quando a infração deixar vestígios 
deve-se proceder à realização de perícia. 
 
 Sendo hipótese de tortura psicológica é comum que não fiquem 
vestígios. 
 
 A tortura-prova está prevista na alínea “a” do inciso I do art. 1º da 
Lei de Tortura e dispõe: 
 
“com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima 
ou de terceira pessoa.” 
 
 Nota-se que estamos diante de um crime formal, de consumação 
antecipada, em que o atingimento do resultado é mero 
exaurimento da conduta delituosa. 
PRINCÍPIO DA INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS. TORTURA-CRIME. TORTURA RACIAL 
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 A CF assegura em seu art. 5º, inciso LVI, que são inadmissíveis provas 
obtidas por meios ilícitos. 
 
 As provas ilegais podem ser ilícitas, ilegítimas ou irregulares. 
 
 O § 1º do art. 157 do CPP dispõe: “São inadmissíveis, devendo ser 
desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as 
obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.” 
 
 Tortura-crime está disposta no art. 1º, inciso I, alínea “b”, tratando-se de 
crime de tortura para provocar ação ou omissão de natureza criminosa. 
 
 Aqui, o agente constrange a vítima com violência ou grave ameaça para 
obrigá-la a praticar um crime. 
 
 Consuma-se o crime independentemente da realização dos crimes 
pretendidos, sendo um delito formal, de consumação antecipada. 
PRINCÍPIO DA INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS. TORTURA-CRIME. TORTURA RACIAL 
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 Concurso com crime praticado pela vítima: Fernando Capez entende que o 
agente responderá pelo crime de tortura em concurso material com o crime 
praticado pela vítima, e esta não responde por crime nenhum. 
 
 Isso porque, temos aqui uma excludente de culpabilidade, que é a coação moral 
irresistível. 
 
 A alínea “c” do inciso I do art. 1º da Lei aqui estudada dispõe: “constranger 
alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento 
físico ou mental em razão de discriminação racial ou religiosa”. 
 
 Temos aqui a tortura racial. 
 
 O inciso II do art. 1º dispõe: “submeter alguém, sob sua guarda, poder ou 
autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento 
físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter 
preventivo.” 
 
 Temos aqui a denominada tortura-castigo. 
 
 
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QUESTÕES DISCURSIVAS 
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01 - Pratica crime de tortura o agente que expõe a perigo a saúde de pessoa sob sua autoridade, para 
fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, sujeitando-a a trabalho excessivo ou abusando de 
meios de correção ou disciplina. Certo ou errado. Justifique. 
 
02 - A condenação por crime de tortura acarretará a perda do cargo, da função ou do emprego público 
e a interdição, para seu exercício, pelo triplo do prazo da pena aplicada. Certo ou errado. Justifique. 
 
 
03 - Caracteriza uma das espécies do crime de tortura a conduta consistente em, com emprego de 
grave ameaça, constranger outrem em razão de discriminação racial, causando-lhe sofrimento mental. 
Certo ou errado. Justifique. 
 
 
04 - Se um integrante de corporação policial militar for processado penalmente pela prática de tortura 
ao submeter agente preso por sua guarnição a sofrimento físico intenso com a intenção de obrigá-lo a 
delatar os comparsas, o julgamento do processo deverá ocorrer na justiça comum, e a eventual 
condenação implicará, automaticamente, a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição 
para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada, como efeito automático da condenação, 
dispensando-se motivação circunstanciada. Certo ou errado. Justifique. 
 
 
05 - O agente público que submeter pessoa presa a sofrimento físico ou mental, ainda que por 
intermédio da prática de ato previsto em lei ou resultante de medida legal, praticará o crime de 
tortura. Certo ou errado. Justifique.EXERCÍCIOS 
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01 - Pode-se afirmar sobre o crime de tortura, regulado pela Lei no 9.455/97, que 
 
a) será sempre de competência da Justiça Federal, independentemente do lugar do 
crime. 
 
b) é crime equiparado ao hediondo, caso ocorra o resultado morte. 
 
c) quando praticado pelo militar, ele será julgado pela Justiça Militar. 
 
d) o condenado por crime de tortura poderá perder o cargo, função ou emprego 
público, desde que este efeito seja expressamente declarado na sentença. 
 
e) as lesões leves suportadas pela vítima serão absorvidas pelo crime de tortura. 
EXERCÍCIOS 
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02 - Considerando as leis que tratam das contravenções penais, de abuso de autoridade, da 
tortura, dos crimes de trânsito e dos crimes contra a ordem tributária, assinale a opção 
correta. 
 
a) Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida permissão ou habilitação, gerando 
perigo de dano, é classificado como delito de perigo abstrato. 
 
b) O prazo prescricional do delito material contra a ordem tributária começa a correr do dia 
da prática do fato reputado como criminoso. 
 
c) Na lei que trata das contravenções penais, não é previsto o instituto da suspensão 
condicional da pena. 
 
d) Entre as sanções penais previstas na lei que dispõe sobre abuso de autoridade, incluem-se 
a perda do cargo público e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função 
pública por prazo de até três anos. 
 
e) O crime de tortura que resulta em lesão corporal de natureza grave ou gravíssima é punível 
conforme as penas previstas para esse delito, acrescidas das referentes ao delito de lesão 
corporal grave ou gravíssima. 
EXERCÍCIOS 
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03 - Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou 
grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, conforme a legislação brasileira, 
constitui: 
 
a) modalidade disciplinar. 
 
b) infração administrativa. 
 
c) crime de tortura. 
 
d) sanção disciplinar. 
EXERCÍCIOS 
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04 - Sobre a Lei nº 9.455/97 (Crimes de Tortura), é correto afirmar que 
 
a) se a vítima da tortura for criança, a Lei nº 9.455/97 deve ser afastada para incidência do 
tipo penal específico de tortura previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 233 do 
ECA). 
 
b) há previsão legal de crime por omissão. 
 
c) é inviável a suspensão condicional do processo para qualquer das modalidades típicas 
previstas na lei. 
 
d) o regramento impõe, para todos os tipos penais que prevê, que o condenado inicie o 
cumprimento da pena em regime fechado. 
 
e) há vedação expressa, no corpo da lei, de aplicação do sursis para os condenados por 
tortura. 
EXERCÍCIOS 
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05 - Com relação à tortura, cabe afirmar: 
 
a) Genericamente trata-se de crime próprio. 
 
b) Não está tipificada distintamente a conduta cometida com finalidade 
puramente discriminatória. 
 
c) Na versão especificamente omissiva, trata-se de cri- me comum. 
 
d) Trata-se de crime insuscetível de graça, porém não de anistia. 
 
e) Pode ser aplicada a lei brasileira ao crime praticado por brasileiro no 
estrangeiro. 
EXERCÍCIOS 
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06 - De acordo com a Lei Federal nº 9.455/1997, NÃO será considerada causa de 
aumento da pena para o crime de tortura, se o delito for cometido: 
 
a) Contra pessoa presa ou sujeita a medida de segurança, impondo-lhe sofrimento 
físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não 
resultante de medida legal. 
 
b) Por agente público. 
 
c) Contra criança, gestante, portador de defciência, adolescente ou maior de 60 
(sessenta) anos de idade. 
 
d) Mediante sequestro. 
EXERCÍCIOS 
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07 - Quanto aos crimes de tortura, correto afirmar que 
 
a) punível aquele que se omite em face da tortura, ainda que sem o dever legal de 
evitá-la ou apurá-la. 
 
b) todos são classificados como próprios, segundo expressa disposição legal. 
 
c) o condenado sempre iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. 
 
d) sujeito à jurisdição penal brasileira o estrangeiro que venha a torturar brasileiro 
fora do território nacional. 
 
e) a condenação acarretará a interdição de cargo, função ou emprego público pelo 
triplo do prazo da pena aplicada. 
 
 
EXERCÍCIOS 
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08 - No tocante aos crimes de tortura previstos na Lei n. 9.455/1997, 
 
a) a causa de aumento de pena será aplicada quando o crime for cometido por 
agente público, se cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, 
adolescente, maior de sessenta anos ou se cometido mediante sequestro. 
 
b) a condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a 
interdição para o exercício de novo cargo, função ou emprego público, pelo mesmo 
prazo da pena. 
 
c) o crime de tortura é inafiançável, insuscetível de graça, indulto ou anistia, sendo 
o cumprimento da pena integralmente em regime fechado. 
 
d) o disposto nessa lei aplica-se aos crimes que tenham sido cometidos em 
território nacional, sendo irrelevante ser a vítima brasileira ou o agente encontrar-
se em local sob jurisdição brasileira. 
 
 
EXERCÍCIOS 
21 
09 - Assinale a opção correta, à luz do disposto nas leis que definem os crimes resultantes 
de preconceitos de raça ou de cor e os crimes de tortura. 
 
a) Considere que um policial civil, após infligir sofrimento mental mediante privação do sono, 
exija que o acusado de roubo reconheça determinado homem como sendo seu comparsa. 
Nessa situação, o referido policial não cometeu o delito de tortura, mas de constrangimento 
ilegal em concurso material com cárcere privado. 
 
b) Por se tratar de crime próprio, o crime de tortura é caracterizado pelo fato de o agente 
que o pratica ser funcionário público. 
 
c) Considera-se crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia a prática do racismo, por 
ele respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-lo, se omitirem. 
 
d) Aquele que pratica racismo responderá por crime inafiançável e imprescritível, sujeitando-
se à pena de reclusão prevista na lei. 
 
e) Aquele que se omite em face de conduta tipificada como crime de tortura, quando tinha o 
dever de evitá-la ou apurá-la, será punido com as mesmas penas do autor do crime de 
tortura. 
EXERCÍCIOS 
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10 - Indique a alternativa CORRETA, de acordo com a Lei Federal nº 9.455/1997, que define 
os crimes de tortura: 
 
a) A pena prevista para o crime de tortura é aumentada de um sexto até um terço se houver 
resultado morte 
 
b) Aplica-se a lei dos crimes de tortura mesmo que o delito tenha sido praticado fora do 
Brasil, desde que a vítima seja brasileira. 
 
c) Se da conduta resulta lesão de natureza grave, a pena será de reclusão, de dois a oito anos; 
se resulta em lesão de natureza gravíssima, a pena será de reclusão de quatro a dez anos. 
 
d) O crime de tortura é imprescritível, inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. 
 
GABARITO 
01 – E 
02 – D 
03 – C 
04 – B 
05 – E 
06 – A 
07 – D 
08 – A 
09 – D 
10 – B 
 
23 
 
24

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