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Resenha - A sedução no Discurso de Gabriel Chalita

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Unipê – Centro universitário de João Pessoa
Curso de Direito – Português Jurídico – Turma “J” 
CHALITA, Gabriel. A Sedução no Discurso: O poder da Linguagem nos Tribunais do Júri. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.168p.
Rafaelly Medeiros Palmeira Alexandre
Gabriel Chalita - Professor de Filosofia do direito e de Lógica Jurídica da Faculdade de Direito da PUC-SP- obteve como resultado de sua tese de doutorado em Comunicação e Semiótica o livro A Sedução no Discurso, ora em análise. Essa obra se propõe amalgamar os preceitos da semiótica com os do direito. O autor por meio dos filmes norte-americanos: Tempo de Matar, Filadélfia, Questão de Honra e Assassinato em Primeiro Grau, busca mostrar como advogados e promotores se comportam num debate no tribunal do Júri para convencer os jurados das premissas que eles defendem, apresentando a sedução como componente histórico do Direito Penal.
O objetivo do autor ao abordar a importância do discurso no tribunal do júri, demonstra características que fazem da oratória uma eficiente ferramenta de convencimento; destaca, em particular, diferentes aspectos emocionais explorados por advogados e por promotores com o intuito de convencer os jurados da validade de seu papel e de suas argumentações.
A sedução no Discurso do Tribunal do Júri é dividida em sete capítulos que se completam para provar a importância da sedução na busca da verdade no Tribunal do Júri. Várias técnicas da sedução pelo discurso são sugeridas por Gabriel Chalita para obter o efeito desejado: estimular os sentidos do receptor; incitar sua imaginação; tentar a identificação e a aproximação com quem se fala; prestar atenção na própria postura corporal… Até mesmo o silêncio tem parte importante no jogo: “Calar-se também é uma maneira de se comunicar. Todos são capazes de recordar situações em que o silêncio de alguém foi mais eloquente do que mil discursos”. 
No primeiro capítulo, Chalita inicia diferenciando a sedução de persuasão, segundo ele, a sedução traz um vocábulo que inclui atração, encanto, fascínio, partindo para um processo mais emotivo. Já a persuasão, embora possua significados similares ao de sedução, significa interiorizar uma determinada convicção em alguém, ou seja, sugere maior envolvimento do raciocínio e da lógica. Partindo desse princípio, o autor dá continuidade a seu pensamento utilizando o livro “O beijo da mulher-aranha”, de Manuel Puig, para enfatizar a importância do discurso sedutor e suas características. Este livro de Manuel, narra a estória de dois prisioneiros, dentro de uma cela, onde um busca seduzir o outro por meio de artifícios do discurso e da retórica, narrando histórias, de forma a excitar a imaginação do outro, utilizando-se exacerbadamente de seu poder de sedução.
E é exatamente isso que acontece no Júri, o advogado ou promotor, para convencer os jurados de sua tese, deve transportá-los ao seu imaginário fazê-los enxergar o que ele quer que enxerguem.
No segundo capítulo, o autor nos mostra por meio de personagens de quatro filmes norte-americanos, já citados, atitudes as quais ele analisa para sustentar sua tese, propiciando, assim, aos leitores uma maior aproximação com a realidade. No primeiro filme, Tempo de matar, vemos o julgamento de um crime brutal envolvendo estupro de uma criança negra, preconceito racial e vingança. Chalita ao analisar esse filme ressalta que a justiça nunca será imparcial, será sempre reflexos dos nossos preconceitos. Então, aludindo ao direito natural provoca o lado ético e moral do profissional, alegando que é nosso dever perante Deus buscar a verdade. Já o filme Filadélfia, relata a história de um jovem advogado que trabalhava como estagiário em um escritório de advocacia e ao se ter conhecimento que ele era portador do vírus da aids, foi demitido. Assim, iniciou-se uma grande disputa judicial onde o jovem ganhou a causa. O autor ao nos trazer esse filme questiona a qualidade e isenção de um júri em casos de discriminação, e o fato de se criar ideias sobre um tema que na época (1990) gerava muito preconceito, e que muitas vezes essas ideias atuam como filtro para decisões imparciais do corpo de jurados.
No terceiro filme, Questão de honra, o enredo nos traz a história da morte de um fuzileiro morto na base naval de Guantánamo, em Cuba. Dois soldados foram acusados, porém o tenente, nomeado para defendê-los, descobre que existem muitas outras coisas que o comando está ocultando, e que devem ser descobertas sobre essa morte. Por meio desse filme, Chalita evidencia que não só as provas dos autos se faz um processo, mas de “atitudes, palavras ajustadas, silêncio nos momentos apropriados, simulação, posturas físicas, etc”. Ele ainda tece considerações com o objetivo de mostrar um modelo de advogado “perfeito”, seguro, preparado para as eventualidades no Júri. E mesmo que algo dê errado, não se deve se abater. Deve-se agir como se soubessem tudo o que vai acontecer e deve ter consciência que se trata de uma luta verbal perigosa.
Por fim, temos o filme Assassinato em primeiro grau, que, baseado em fatos reais, narra a história de um jovem que rouba uma loja para comprar comida para sua irmã. Porém ele acabou cometendo um crime federal, roubando uma loja que funcionava como correios nos Estados Unidos. O jovem é preso, colocado em uma solitária e torturado. O autor ao relatar esse filme deixa claro o lado sórdido do sistema prisional salientando que a publicidade pode ser favorável para as considerações do juiz e para influenciar na decisão dos integrantes do Conselho de Sentença. Mostra, ainda, como a defesa planejou sua argumentação/sedução no sentido de quebrar culturas cristalizadas envolvendo o sistema penal e prisional.
No terceiro capítulo do livro o autor analisa a transcrição de um julgamento, mostrando-nos desde o início dos trabalhos, quem os coordena e os impedidos de participar do conselho de sentença, logo após mostra-nos como é feito o interrogatório ate chegar ao julgamento. Chalita, mostra-nos, também, que uma das táticas de defesa é desqualificar a “verdade”, intervindo nos momentos certos, para desmerecer a atuação do seu opositor. Mas, alerta, contudo, que é uma postura de risco diante da opinião dos jurados e que se pode optar por outra abordagem que privilegie a proximidade por meio de argumentos que emocionem e ganhem a simpatia dos jurados para sua tese, a fim de vencer pela sedução do envolvimento e não pelo embate.
No quarto capítulo o autor esclarece que embora a comunicação possa ocorrer por meio de expressões e atitudes de todo o corpo “A palavra é, em si, o elemento maior da sedução, o principal recurso à disposição de advogados e promotores para exercerem suas funções”. Seja a palavra escrita, falada, pensada, articulada, de todas as formas; é importante pois atinge o ouvinte em corpo e alma. Para essa teoria o autor fundamenta-se na importância de levarmos em consideração: o tom da voz, o ritmo das frases e o modo como elas são articuladas pelo falante. 
O quinto capítulo intitulado “Condicionantes do discurso jurídico” nos faz refletir sobre a importância das emoções na aplicação do direito. Ele salienta as características do discurso jurídico realizado nos aspectos objetivos e subjetivos, demonstrando que não é possível existir um bom discurso jurídico sem o uso da sensibilidade, o uso de elementos verbais e não verbais, pois estes são decisivos para obter a atenção, a confiança e a credibilidade. Chalita nos alerta, ainda, que o orador deve ter cuidado quanto à postura, gestos e aparência, recomendando a representação dramática de papéis para a ênfase da elocução.
O Sexto capítulo da obra descreve-nos por meio de fundamentação legal os processos da formação de um juri, a seleção e a composição da banca, como também descreve as competências, os requisitos e fundamentos, de nulidade de sentença. Chalita atenta, também, para se observar as características culturais e religiosas dos ouvintes, podendo ser decisivas na elaboração da sentença final. Ele encerra o capítulo nos alertando:
“Na sedução buscada pelos debates finais, é preciso refletir sobre e o que o jurado deseja escutar, e o que o jurado precisa escutar. Tratar apropriadamente dessa dicotomia é um elemento fundamental da sedução”
Por fim, temos o sétimo e último capítulo, onde Chalita enfoca a sedução e persuasão no discurso jurídico fazendo jus a sua tese com a constatação da enorme influência que a justiça sofre diante a forma que os cidadãos envolvidos no processo penal são seduzidos pelas palavras lhes dirigidas.
Diante do exposto, observamos que de modo simples e acessível, o autor comenta as várias maneiras de seduzir e conquistar alguém por meio de um discurso. Sua obra surge como fundamental instrumento de apoio aos operadores do Direito para o aprimoramento de sua oratória e a elaboração de discursos argumentados com maior persuasão e sedução, pois, como dito pelo autor: “Quem seduz induz. Quem seduz conduz. Quem seduz deduz. Quem seduz aduz”.
Referências:
CHALITA, Gabriel. A Sedução no Discurso: O poder da Linguagem nos Tribunais do Júri. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.168p.
MADUREIRA, Maria Cicleide Rosa. A Sedução no Discurso: O poder da Linguagem nos Tribunais do Júri. Conteúdo Jurídico, Brasilia-DF: 18 maio 2013. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.43495&seo=1>. Acesso em: 09 mar. 2016.
MACHADO, Bernardo. A Sedução no Discurso: O Poder da Linguagem nos Tribunais do Júri. Skoob. 2009. Disponível em: <http://w.skoob.com.br/livro/resenhas/12866>. Acesso em: 09 mar. 2016.

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