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EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Licenciatura em Química FUNDAMENTOS DE BIOLOGIA Salvador 2010 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A ELABORAÇÃO Marcos Fábio Oliveira Marques REVISÃO TEXTUAL Andréa da Silva Oliveira REVISÃO DE NORMALIZAÇÃO E ARQUIVO Carla Cristiani Honorato de Souza Cláudia Veja Correia Gonçalves PROJETO GRÁFICO Nilton Rezende DIAGRAMAÇÃO Teodomiro Araújo de Souza COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Editora da Universidade do Estado da Bahia - EDUNEB Diretora Maria Nadja Nunes Bittencourt Assessora Editorial Carla Cristiani Honorato Colaboradores Sidney Santos Silva Teodomiro A. de Souza João Victor Souza Dourado Fernando Luiz de Souza Junior Débora Alves Souza EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luis Inácio Lula da Silva MINISTRO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Carlos Eduardo Bielschowsky DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Hélio Chaves Filho SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA CAPES Celso Costa COORD. GERAL DE ARTICULAÇÃO ACADÊMICA DA CAPES Nara Maria Pimentel GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA GOVERNADOR Jaques Wagner VICE-GOVERNADOR Edmundo Pereira Santos SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO Osvaldo Barreto Filho UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB REITOR Lourisvaldo Valentim da Silva VICE-REITORA Amélia Tereza Maraux PRÓ-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO José Bites de Carvalho COORDENADOR UAB/UNEB Silvar Ferreira Ribeiro COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTO Jader Cristiano Magalhães de Albuquerque DIRETOR DO DEDC – I Antônio Amorim COORDENADOR DO CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA Marta Valéria Andrade COORDENADOR DE TUTORIA DO CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA Rosane Cruz EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Caro (a) Cursista. Estamos começando uma nova etapa de trabalho e para auxiliá-lo no desenvolvimento da sua aprendizagem estruturamos este material didático que atenderá ao Curso de Licenciatura em Química na modalidade de educação à distância (EAD). O componente curricular que agora lhe apresentamos foi preparado por profissionais habilitados, especialistas da área, pesquisadores, docentes que tiveram a preocupação em alinhar conhecimento teórico-prático de maneira contextualizada, fazendo uso de uma linguagem motivacional, capaz de aprofundar o conhecimento prévio dos envolvidos com a disciplina em questão. Cabe salientar, porém, que esse não deve ser o único material a ser utilizado na disciplina, além dele, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), as atividades propostas pelo Professor Formador e pelo Tutor, as atividades complementares, os horários destinados aos estudos individuais, tudo isso somado compõe os estudos relacionados a EAD. É importante também que vocês estejam sempre atentos as caixas de diálogos e ícones específicos que aparecem durante todo o texto apresentando informações complementares ao conteúdo. A idéia é mediar junto ao leitor, uma forma de dialogar questões para o aprofundamento dos assuntos, a fim de que o mesmo se torne interlocutor ativo desse material. São objetivos dos ícones em destaque: Você sabia? – convida o leitor a conhecer outros aspectos daquele tema/conteúdo. São curiosidades ou informações relevantes que podem ser associadas à discussão proposta. Saiba mais – apresenta notas, textos para aprofundamento de assuntos diversos e desenvolvimento da argumentação, conceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliam a compreender melhor o conteúdo abordado. Indicação de leituras – neste campo, você encontrará sugestões de livros, sites, vídeos. A partir deles, você poderá aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas teóricas ou outros ol- hares e interpretações sobre determinado tema. Sugestões de atividades – consiste num conjunto de atividades para você realizar autonomamente em seu processo de autoestudo. Estas atividades podem (ou não) ser aproveitadas pelo professor-formador como instrumentos de avaliação, mas o objetivo principal é o de provocá-lo, desafiá-lo em seu processo de autoaprendizagem. Sua postura será essencial para o aproveitamento completo desta disciplina. Contamos com seu empenho e entusiasmo para juntos desenvolvermos uma prática pedagógica significativa. COORDENAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO Gestão dos Projetos e Atividades de Educação à Distância – GEAD. Universidade do Estado da Bahia - UNEB ?? VOCÊ SABIA? ??? ??? SAIBA MAIS INDICAÇÃO DE LEITURA SUGESTÃO DE ATIVIDADE EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA APRESENTAÇÃO A Biologia é uma disciplina que se desenvolveu extraordinariamente nos últimos tempos, aumentando vigorosamente a compreensão sobre o mundo vivo. Esta área curricular tem influência na vida de todas as pessoas, inserindo seus conhe- cimentos como partes essenciais na cultura das sociedades que tornam o estudo desta ciência uma atividade fascinante. Baseado na perspectiva de curiosidade e investigação fascinante da Biologia, este módulo traz para os estudantes, informa- ções sobre a disciplina Fundamentos de Biologia, além de conceitos, ideias, pesquisas e outras informações que permitirão a compreensão dos processos biológicos e suas relações químicas e evolutivas. Assim, convido-os para navegarem nos temas deste módulo que se encontram organizados por capítulos. No capítulo I, vocês irão desvendar a composição química das biomoléculas, compreendendo a estrutura celular dos organismos simples aos mais complexos. No capítulo II conhecerão importantes aspectos do metabolismo celular, com ênfase na respiração celular e fotossíntese, além dos processos de replicação, transcrição e tradução, bem como os eventos do ciclo celular. No capítulo III, viajarão pelo interior dos organismos, visualizando aspectos fisiológicos de alguns sistemas, seu funciona- mento e a manutenção das características físicas e químicas. Por fim, no capítulo IV, convido-os a pensar como ocorre a distribuição e como são abundantes os organismos na natureza, através de fundamentos da ecologia e, também, refletir sobre a relação entre ser humano e saúde. A proposta para o ensino dessa disciplina traz textos da Biologia que significam momentos de estudos, investigações, experiências e compartilhamentos de muitos pesquisadores e estudiosos. Desta forma, visa auxiliá-los no cotidiano de suas atividades acadêmicas. Dediquem-se ao estudo do mundo biológico, leiam os textos, consulte-os, utilize-os sempre que precisar, pois isto será fundamental no decorrer da nossa jornada. Bons estudos para todos! Professor Marcos Fabio Oliveira Marques EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA SUMÁRIO FUNDAMENTOS DE BIOLOGIA LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 1313UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA CAPÍTULO I COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA VIDA (Biomoléculas e ação enzimática) A CÉLULA (Caracterização e evolução celular) INTRODUÇÃO A estrutura da célula resulta da combinação de molécu- las organizadas. Os componentes químicos da célula incluem a água, os minerais, os ácidos nucléicos, os carboidratos, os lípideos e as proteínas. Algumas estruturas celulares contêm lípideos e macromoléculas ou polímeros, formados a partir de monômeros ou unidades integradas, que se unem entre si por ligações covalentes. Emboraas células tenham todas uma estrutura básica, existem vários tipos e formas celulares em número sufi- ciente para criar a imensa variedade de formas vivas que conhecemos. Em um animal mamífero, por exemplo, existem tipos diferentes, cada um com uma função específica. As particularidades da composição química e estrutura das células, bem como aspectos fisiológicos serão aborda- dos neste capítulo. ÁCIDOS NUCLÉICOS Os ácidos nucléicos estão entre as macromoléculas de extrema importância para todos os organismos vivos. Entre suas funções está à sinalização para sintetização do tipo de proteína e quantidade a ser produzida, além do armaze- namento e transmissão da informação genética na célula. Dessa forma, segmentos dessas moléculas formam os genes localizados nos cromossomos da célula. Assim, as informações são realizadas através do código genético, já que a tradução resulta na síntese protéica. Os organismos vivos possuem dois tipos de ácidos nucléicos: o DNA (ácido desoxirribonucléico) e RNA (ácido ribonucléico). No entanto, os vírus possuem apenas um tipo de ácido nucléico: DNA ou RNA. Nas células eucarióticas, o DNA encontra-se no núcleo integrando os cromossomos (uma pequena parte encontra-se no citoplasma, dentro das mitocôndrias e dos cloroplastos). Já o RNA, localiza-se tanto no núcleo em que é formado como no citoplasma, para o qual se dirige no processo de síntese protéica. Ácidos nucléicos são polímeros lineares de nucleotídeos, unidos por ligações fosfodiéster. O número de monômeros em uma molécula de ácido nucléico é, geralmente, muito maior que o número de aminoácidos em uma proteína. Tanto o DNA quanto o RNA consistem de somente quatro diferentes tipos de nucleotídeos (ZAHA, 1996). Um nucleotídeo é composto de um grupo fosfato, uma pentose e uma base nitrogenada (a púrica que tem dois anéis heterociclícos fundidos entre si ou a pirimídica, que possui um anel heterociclíco). As pentoses são de dois tipos, no DNA desoxirribose e, no RNA, ribose. A diferença entre os dois ácidos está na desoxirribose que tem um áto- mo a menos de oxigênio do DNA, a composição de base das moléculas e o DNA é sempre uma molécula dupla. As bases adenina (A), guanina (G) e citosina (C) são encontradas nos dois ácidos. No entanto, a base timina (T), apenas no DNA e uracila (U), apenas no RNA (Tabela 1). Tabela 1. Ácidos nucléicos DNA RNA Local iza- ção Principalmente no núcleo (também nas mitocôndrias e nos cloroplastos) Principalmente no citoplasma (também no núcleo, nas mi- tocôndrias e nos cloroplas- tos) Papel nas células Informação genética Síntese de pro- teína Pentose Desoxirribose Ribose Bases pir- imídicas Citosina Timina Citosina Uracila B a s e s purínicas Adenina Guanina Adenina Guanina Fonte: ROBERTIS e HIB, 2006. 14 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A A combinação de uma base com uma pentose (sem o fosfato) constitui um nucleosídeo. Por exemplo, a adenosina (adenina + ribose) é um núcleosídeo, enquanto a adeno- sina monofosfato (AMP), a adenosina difosfato (ADP) e a adenosina trifosfato (ATP) são exemplos de nucleotídeos (ROBERTIS e HIB, 2006). Uma sequência de nucleotídeos possui uma orientação química de extrema importância. Em uma fita de DNA ou RNA, numa das extremidades, há um grupo fosfato ligado ao 5C (carbono 5’) do açúcar (extremidade 5’) e na outra há hidroxila ligada ao 3C (carbono 3’) do açúcar (extremidade 3’) (ZAHA, 1996). O DNA constitui o depósito de toda informação genética de um organismo. Esta informação é copiada ou transcrita em moléculas de RNA mensageiro, cujas sequências de nucleotídeos contêm o código que estabelece a sequência dos aminoácidos nas proteínas. É por isso que a síntese protéica é também chamada de tradução do RNA, podendo ser expresso: DNA transcrição Ò RNA tradução Ò proteína. DNA A molécula de DNA encontra-se nas células dos orga- nismos de alto peso molecular. Por exemplo, em termos de comprimento, o DNA de uma bactéria Eschericia coli possui um comprimento total de 1,4 mm, enquanto que uma só célula diplóide humana, completamente estendida, pode ter um comprimento de 1,7 m. Em 1953, com base nos dados obtidos por Wilkins e Franklin, mediante difração de raio X, Watson e Crick propu- seram um modelo para estrutura do DNA que contemplava as propriedades químicas e biológicas, principalmente, a capacidade de duplicação da molécula (ROBERTIS e HIB, 2006). O ácido desoxirribonucléico (DNA) é um polímero quase sempre não ramificado de unidades de desoxirribonucleotí- deos. Estes são compostos por um açúcar, a desoxirribose. Uma base nitrogenada ligado ao carbono 1’ da pentose e um ou três grupos fosfato (PO4 -) ligados ao carbono 5’ da pentose. Na molécula de DNA, os desoxirribonucleotídeos formam cadeias ligadas entre si por pontes fosfodiéster estabe- lecidas entre o grupo fosfato e o grupo hidroxila (OH) do carbono 3’ adjacente (Figura 1). Figura 1 – Estrutura da molécula de DNA. Fonte: Adaptado de www. gazetadopovo.com.br/midia_tmp/600--rna.gif Milhares de nucleotídeos empilham-se de forma linear para construir uma cadeia da molécula de DNA. O grupo fosfato liga o carbono 3’ do açúcar de um nucleotídeo ao carbono 5’ do açúcar do nucleotídeo seguinte, por meio de uma ligação fosfodiéster. Figura 2 - Molécula de DNA.1 Fonte: adaptado de http://www.accesse- xcellence.org/RC/VL/GG/dna_molecule.php O DNA é constituído de duas cadeias de nucleotídeos que se enrolam, originando a dupla hélice. As duas cadeias se dispõem de modo antiparalelo, ou seja, uma na direção 5’ para 3’, a outra ocorre na direção oposta, de 3’ para 1 O grupo fosfato liga o carbono 3’ do açúcar de um nucleotídeo ao carbono 5’ do açúcar do nucleotídeo seguinte. A ligação de duas cadeias de nucleotídeos é feita por ponte de hidrogênio formando a dupla hélice do DNA. A ligação entre os nucleotídeos adenina e timina se faz por duas pontes de hidrogênio, enquanto a ligação entre guanina e citosina, por três pontes de hidrogênio. EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 15UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 5’. Essas cadeias, por sua vez, são unidas por ligações químicas do tipo ponte de hidrogênio, ocorrendo entre as bases nitrogenadas de cadeias diferentes (Figura 2). Assim, devido às diferenças entre as bases nitroge- nadas, uma Adenina (A) sempre se liga a uma Timina (T), enquanto uma Citosina (C) se liga a uma Guanina (G). Contudo, quando se conhece a sequência de bases de uma das cadeias, pode-se deduzir a sequência da cadeia comple- mentar. Desse modo, a partir de uma cadeia, por exemplo, T-G-A-C, pode-se afirmar que sua cadeia complementar é composta por: A-C-T-G. A desnaturação do DNA é possível sob certas condições, como por aumento da temperatura, que rompe as pontes de hidrogênio que ligam as duas cadeias. No entanto, se a temperatura tende a cair, cada cadeia encontrará uma ca- deia complementar, renaturando a dupla hélice novamente, sendo esta a base do processo de hibridização. Observando a figura dois, pode-se notar que entre ade- nina e timina existem duas pontes de hidrogênio, enquanto entre citosina e guanina estão presentes três pontes de hidrogênio, gerando uma ligação mais forte. Deste modo, uma molécula de DNA rica em pares C-G requer, para sua desnaturação, uma temperatura mais alta, do que molé- culas do mesmo tamanho, porém com mais conteúdos de pares A-T. RNA A estrutura da molécula de RNA é muito seme- lhante à de DNA. Ambas, são polímeros lineares de subunidades ligadas entre si por pontes fosfodiéster 5’ Ò 3’. Contudo, na molécula de RNA, o açúcar é a ribose e a uracila (U) substitui a timina (T),uma vez que nas demais bases estão presentes adenina (A), citosina (C) e guanina (G). O RNA também é formado por uma única cadeia de nucleotídeos, diferentemente da dupla hélice do DNA. Segundo Zaha (1996), é formado por fita simples, em- bora os pareamentos entre as bases possam ocorrer entre regiões da própria cadeia, formando estruturas secundárias que são importantes na função dos RNAs e no reconhecimento de proteínas-RNA. Existem diferentes tipos de RNAs que estão presen- tes nas células e desempenham funções específicas, sendo estes classificados de acordo com a localização e função na estrutura celular. Os três mais importantes que intervêm na síntese protéica são: 1) RNA mensa- geiro (RNAm); 2) RNA ribossômico (RNAr) e 3) RNA transportador ou de transferência (RNAt). O RNAm copia a informação contida no DNA e trans- porta essa informação ao citoplasma. Já o RNAr liga-se às proteínas para compor os ribossomos, nos quais acontece a síntese protéica. E, por fim, o RNAt carrega os aminoácidos no citoplasma que se organizarão para formar uma nova cadeia polipeptídica. AMINOÁCIDOS Os aminoácidos constituem uma classe de moléculas que possui um grupo carboxílico (-COOH) e um grupo amino (-NH2), ambos ligados a um mesmo carbono. A va- riabilidade química deriva da cadeia lateral que também é ligada ao carbono (ALBERTS et. al, 1999). A única exceção é a prolina, que possui um grupo amino secundário (-NH-) (VOET et al. 2000). O papel dos aminoácidos na célula está na cons- trução das proteínas, que são polímeros de aminoácidos ligados cabeça com cauda, formando uma cadeia que se enrola em uma estrutura tridimensional, resultando em uma dada proteína característica. As proteínas possuem, normalmente, 20 tipos de ami- noácidos, sendo que cada um possui uma cadeia lateral distinta ligada ao carbono (Figura 3). Esses aminoácidos ocorrem nas proteínas, indiferente dos organismos, bactérias, animais ou plantas. Nem todas as proteínas contêm os 20 tipos de aminoácidos-padrão, mas a maioria deles está presente, se não todos. Segundo Alberts et al. (1999), a maneira pela qual este conjunto específico de 20 aminoácidos foi escolhido é um mistério da evolução da vida. Os aminoácidos podem ser polimerizados para formação de cadeias. Processo este que pode ser representado como uma reação de condensação (eliminação de uma molécula de água). A ligação CO-NH resultante de uma ligação amida, é conhecida como ligação peptídica. Os polímeros compostos de dois, três, alguns (3-10) e muitos aminoácidos, são designados, respectivamente, dipeptídeos, tripeptídeos, oligopeptídeos e polipeptídeos. No entanto, são geralmente mencionadas apenas como “peptídeos”. Após incorporados a um peptídeo, os aminoácidos individuais são considerados resíduos de aminoácidos (VOET et al., 2000). As proteínas têm suas funções biológicas e diversidade nas variações do comprimento e na sequência de amino- ácidos de polipeptídeos. Para Alberts et al. (1999), a versatilidade química dos 20 aminoácidos comuns às pro- 16 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A teínas tem importância vital. Assim, cinco dos 20 aminoácidos possuem cadeias laterais que, em solução, podem formar íons e, desse modo, podem ser carregados. Outros, por sua vez, são não carregados, alguns são polares e hidrofílicos e os demais são não polares e hidrofóbicos (Figura 3). Figura 3 – Os 20 aminoácidos-padrão encontrados nas proteínas Fonte: http://www.biologia.edu.ar/macromoleculas EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 17UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA PROTEÍNAS As proteínas constituem mais da metade do peso seco de uma célula. Os aminoácidos são os monômeros que as compõem, sendo que elas desempenham inúmeras funções biológicas e também determinam a forma e a estrutura da célula. Entre as diversas funções, pode-se citar: catalisação de uma série de reações químicas, controle da permeabilidade das membranas, regulação do controle de metabólitos, reconhecimento e ligação não covalentemente com outras biomoléculas, movimentação e controle da função gênica. Essas moléculas que desempenham essas funções, por sua vez, são constituídas por vinte diferentes aminoácidos (ver aminoácidos). O termo proteína (do grego, proteîon, proeminente) sugere que as funções básicas das células dependem de proteínas específicas. Dessa forma, sem proteínas não existiria vida, visto que estão presentes em cada célula e em cada organela, podendo ser estas estruturais ou enzimáticas (ROBERTIS & HIB, 2006). As proteínas são sintetizadas in vivo por uma polimerização passo a passo dos aminoácidos na ordem especificada pela sequência de nucleotídeos em um gene (VOET et al. 2000). Existem as proteínas conjugadas, ligadas a porções não protéicas (grupos prostéticos). A esta categoria pertencem as glicoproteínas (associadas a carboidratos), as nucleoproteínas (associadas a ácidos nucléicos), as lipoproteínas (associadas a gorduras) e as cromoproteínas, que têm como grupo prostético um pigmento (ROBERTIS e HIB, 2006). Níveis de organização da estrutura das proteínas Estrutura primária A estrutura primária de uma proteína refere-se à formação de uma cadeia peptídica, através da sequência de aminoácidos (Figura 4). Esta sequência determina os demais níveis de organização da molécula. Tal arranjo tem importância biológica, por exemplo, em doenças hereditá- rias como a anemia falciforme, em que ocorrem alterações funcionais profundas pela substituição de um único amino- ácido na molécula de hemoglobina. Figura 4 – Estrutura primária das proteínas. Fonte: http://www.fcfar.unesp.br/alimentos/bioquimica/introdu- cao_proteinas/introducao_proteinas_dois.htm] Estrutura secundária Estrutura com configuração espacial da proteína, que se deriva da posição de deter- minados aminoácidos encontrados próximos a sua cadeia. Assim, algumas regiões podem ter uma estrutura em forma de cilindro, ou em hélice a, na qual a cadeia se enovela em torno de um eixo imaginário, estabilizada por pontes de hidrogênio formadas entre o grupo amino de um aminoácido e o grupamento carboxílico do aminoácido situado quatro resíduos mais adiante na mesma cadeia polipeptídica (Figura 5A). 18 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A Figura 5A – Estrutura secundária de proteínas. Hélice a Fonte: http://www.fcfar.unesp.br/alimentos/bioquimica/introdu- cao_proteinas/introducao_proteinas_dois.htm Outras proteínas exibem a estrutura desig- nada folha pregreada ou dobrada b. Nessa, a molécula configura-se em uma folha dobrada em decorrência da ligação, mediante pontes de hidrogênio laterais, de grupos amina com grupos carboxila da mesma cadeia polipeptídica (Figura 5B). Figura 5B – Estrutura secundária de proteínas. Folha dobrada b Fonte: http://www.fcfar.unesp.br/alimentos/bioquimica/introdu- cao_proteinas/introducao_proteinas_dois.htm] Estrutura terciária O nível estrutural terciário é formado pelas novas dobraduras na estrutura secundária da hélice a e folha dobrada b, resultando numa conformação tridimensional da proteína (Figura 6). A estrutura ganha estabilidade através das pontes de hidrogênio entre os grupos peptídicos não envolvidos na estrutura secundária, por pontes de hidrogênio entre os grupos laterais (R), por interações hidrofóbicas, por ligações iô- nicas entre os grupos carregados positivamente ou negativamente e por ligações covalentes do tipo dissulfeto (S-S) (ZAHA, 1996). A partir das dobraduras produzidas, são gera- das proteínas fibrosas ou globulares. As fibrosas formam-se a partir de cadeias polipeptídicas (ou de segmentosprotéicos) com estrutura secun- dária tipo hélice a exclusivamente. No entanto, as globulares, formam-se a partir de hélices a como de folhas dobradas b, ou de uma com- binação de ambas (ROBERTIS e HIB, 2006). Figura 6 – Estrutura terciária das proteínas. Fonte: LEHINGER, 2004 EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 19UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA As proteínas fibrosas são filamentosas e, em sua maio- ria, desempenham papel estrutural nas células e tecidos animais. Fazem parte desse grupo as proteínas da pele, tecido conjuntivo e fibras animais como: cabelos, lã e seda. Como exemplos, a elastina é encontrada em grande quantidade em artérias e ligamentos, sendo sua cadeia polipeptídica composta de glicina e alanina, tornando-se muito flexível e de fácil extensão. O colágeno constitui a proteína mais abundante nos vertebrados. As proteínas globulares, por outro lado, apresentam- se em uma estrutura enovelada e compactada, são abundantes e essenciais, sendo encontradas em todos os organismos. As proteínas globulares auxiliam na síntese, no transporte e no metabolismo químico celular. Por exemplo, a enzima ribonuclease que catalisa a hidrólise do ácido ribonucléico (RNA). Estrutura quaternária A estrutura quaternária de uma proteína resulta da combinação de dois ou mais polipeptídeos, o que origina moléculas de grande complexidade. Por exemplo, a molécula de hemoglobina, composta de quatro cadeias polipeptídicas (Figura 7). As forças estabilizadoras podem ser covalentes, formadas pelas pontes dissulfeto (S-S) entre grupos SH dos resíduos de cisteína, dando lugar a vários aspectos característicos da estrutura terciária; ligações iônicas ou eletrostáticas, resultantes das forças de atração entre grupos ionizados de cargas contrárias; pontes de hidrogênio que se produzem quando um próton (H+) é compartilhado entre dois átomos eletronegativos muito próximos; e/ou interações hidrofóbicas, que compreendem a associação de grupos não polares de maneira a excluir o contato com a água (ZAHA, 1996). Figura 7 – Estrutura quaternária das proteínas Fonte: LEHINGER, 2004. Fatores que determinam a estrutura protéica As proteínas resultam da expressão contida num gene. Dessa forma, o gene é um segmento de DNA que contém o arquivo completo da sequência de aminoácidos para fabricar uma cadeia polipeptídica específica. Quando a proteína possui mais de uma cadeia polipeptídica, existe um arquivo para cada uma das cadeias, sendo a proteína codificada por mais de um gene. O gene determina a sequência de aminoácidos conti- da numa dada proteína, ou seja, cada proteína possui uma ordem definida de resíduos de aminoácidos, sua sequência primária. A estrutura tridimensional da molécula será estabelecida conforme a própria sequência de aminoácido contida na molécula. Esta característica pode ser demons- trada em experimentos de desnaturação de uma proteína, ou seja, uma alteração natural (nativa), por mudanças nas condições do meio (alterações de pH, temperatura, adição de solventes), nas quais se encontram a proteína. Dessa forma, a proteína perde a estrutura tridimen- sional, perdendo assim sua função biológica. No entanto, 20 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A algumas podem restabelecer sua conformação nativa pela renaturação protéica, que se efetuam quando são resta- belecidas as condições naturais (ZAHA, 1996). As proteínas, por sua vez, interagem com um número variável de outras moléculas, por exemplo, a expressão de muitos genes é controlada pela ligação de proteínas que reconhecem sequências específicas de DNA; a ligação de partículas estranhas ao organismo por anticorpos constitui a base do sistema imune. Essas são apenas algumas das interações das proteínas com outras moléculas. Voet et al. (2000) ressalta que o material genético de um organismo especifica a sequência de aminoácidos de todas as suas proteínas. Alterações nos genes devido a mutações aleatórias, muitas vezes, modificam a estrutura primária das proteínas. Esta mutação só se propaga, se ela aumentar, ou pelo menos, não diminuir a probabilidade de seu portador so- breviver e se reproduzir. Contudo, muitas dessas mutações são danosas ou letais, sendo os seus portadores eliminados. Por outro lado, em determinadas ocasiões, esta mutação aumenta a aptidão do seu hospedeiro, uma vez que é a essência da evolução. CARBOIDRATOS Os carboidratos ou sacarídeos (do grego sakcharon, açúcar) são as moléculas biológicas mais abundantes. São quimicamente mais simples que as demais biomoléculas, contendo carbono, hidrogênio e oxigênio, sendo a fórmula estrutural (CH2O)n, em que n≥ 3. Os monossacarídeos são as unidades básicas dos car- boidratos, sendo que estes podem ser agrupados (enfileira- dos) de diferentes maneiras para formar os polissacarídeos. Os polissacarídeos tendem a ser mais heterogêneos, em tamanho e composição, que proteínas e ácidos nucléicos, pois não são construídos por um molde genético. As organizações dos carboidratos nas proteínas e na superfície de células são a chave para muitos eventos de reconhecimento entre as proteínas e as células. Assim, a variabilidade estrutural inata dos carboidratos é de fundamental importância para sua funcionalidade biológica (VOET et al., 2000). Os carboidratos representam a principal fonte de energia para célula e são constituintes importantes das membranas celulares e da matriz extracelular, bem como atuam como sinais de reconhecimento específico, desen- volvendo um papel informacional. Monossacarídeos Os monossacarídeos são açúcares simples com fór- mula Cn(H2O)n, sendo classificados de acordo com o número de átomos de carbonos que contêm, em trioses, tetroses, pentoses e hexoses. Quimicamente, segundo Voet et al. (2000), os monossacarídeos são aldeídos ou cetonas derivados de poliidroxiálcoois de cadeia linear, contendo pelo menos três átomos de carbono. Eles são classificados de acordo com a natureza química de seu grupo carbonila e pelo número de seus átomos de carbono. Designa-se o açúcar aldose, quando o grupo carbonila é um aldeído. No entanto, chama-se Cetose se o grupo carbonila for uma cetona. Para os seres vivos, as pentoses mais importantes são a ribose e a desoxirribose (Figura 8), que entram na composição química dos ácidos nucléicos, os quais coman- dam e coordenam as funções celulares. A xilose é uma pentose presente em algumas glicoproteínas. As hexoses mais importantes são a glicose (Figura 9) (constitui fonte primária de energia), a frutose e a galactose, principais fontes de energia para os seres vivos. Ricas em energia, as hexoses constituem os principais combustíveis das células. Outras hexoses importantes são manose, fucose, ácido glicurônico e ácido idurônico, podendo estar associados entre si, sob a forma de oligos- sacarídeos ou polissacarídeos. Alguns carboidratos em hexoses apresentam um grupo amina e se encontram acetilados como N- acetilglicosamina e a N-acetilgalactosamina. Já o ácido N-acetilneuramínico (ou ácido sálico), resulta da ligação da amino-hexose com o ácido pirúrvico (3 carbonos). EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 21UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Figura 8 – Estrutura das pentoses Ribose e Desoxirribose Fonte: http://medicina.med.up.pt Figura 9 – Estrutura cíclica da glicose Fonte: http://www.bicodocorvo.com.br/saude/glicose Dissacarídeos Os dissacarídeos são formados pela combinação de dois monômeros de hexoses, com a perda correspondente de uma molécula de água. Desse modo, possuem a fórmula C11H22O11. Entre os dissacarídeos pode-se citar a lactose (glicose + galactose), o açúcardo leite, importante nos mamíferos. A mudança desse açúcar, que ocorre natural- mente no leite, varia entre 0 a 7%, dependendo da espécie (Figura 10). Outro dissacarídeo, sendo o mais abundante é a sa- carose, a principal forma pela qual os carboidratos são transportados nas plantas (Figura 11). Conhecemos a sacarose como o açúcar de mesa. Figura 10 – Estrutura molecular da lactose Fonte: http://www.edinformatics.com/math_science/science_of_ cooking/lactose.htm Figura 11 – Estrutura molecular da sacarose http://www.ufrgs.br/alimentus/feira/prfruta/sucolara/sacarose.htm Oligossacarídeos Os oligossacarídeos não estão livres nos organismos, podendo ser encontrados ligados a lipídeos e proteínas, formando os glicolipídeos e as glicoproteínas. Esses carboi- dratos formam cadeias, às vezes, ramificadas, compostas pela combinação de diversos tipos de monossacarídeos. Os oligossacarídeos das glicoproteínas conectam-se com a cadeia protéica por meio do grupo OH (ligação O-glicosídica ou ligação O) de uma serina ou de uma tre- 22 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A onina (aminoácidos) ou por meio do grupo amida (ligação N-glicosídica ou ligação N) de uma asparagina (ROBERTIS e HIB, 2006). As glicoproteínas ocorrem em todas as formas de vida e desempenham funções que compreendem o espectro intei- ro das atividades das proteínas, incluindo as das enzimas, de proteínas de transporte, de receptores, de hormônios e de proteínas estruturais. As glicoproteínas tendem a ter uma composição variável de carboidratos, um fenômeno de micro-heterogeneidade (VOET et al., 2000). Polissacarídeos Os polissacarídeos originam-se da combinação de mui- tos monômeros de hexoses, resultando na perda de uma molécula de água. A fórmula correspondente é (C6H10O5)n. Como exemplos, o amido (vegetais) e o glicogênio (animais), substâncias de reserva, ou a celulose (figura 12), elemento estrutural da parede celular vegetal. Os polissacarídeos, diferentes das proteínas e dos áci- dos nucléicos, formam polímeros ramificados e lineares. No entanto, há alguns polissacarídeos complexos, os glicosa- minoglicanas (GAG), que são compostos por uma sucessão de uma mesma unidade dissacarídica na qual um dos dois monômeros é um ácido glicurônico, um ácido idiurônico ou a galactose e o outro possui um grupo amina, já que é um N-acetilglicosamina ou uma N-acetilgalactosamina (ROBERTIS e HIB, 2006). Figura 12 – Celulose – polímero linear de até 15 mil resíduos de D-glicose ligados por ligações glicosídicas b (1,4) Fonte: http://lqes.iqm.unicamp.br/images/ As GAG mais importantes são o ácido hialurônico (hia- luronana), o sulfato de condroitina, o dermatansulfato, o heparansulfato e o queratansulfato. Entre estes, o ácido hialurônico é um importante GAG componente do tecido conjuntivo, do líquido sinovial e do humor vítreo dos olhos; e a heparina que ocorre nos grânulos intracelulares dos mastócitos e ocorrem nas paredes das artérias. LIPÍDEOS Os lipídios constituem um grupo de moléculas de origem biológica caracterizadas pela insolubilidade em água e solubilidade em solventes orgânicos (clorofórmio e metanol). Essas propriedades são devido às suas cadeias hidrocarbonadas alifáticas ou anéis benzênicos, que são estruturas não polares ou hidrofóbicas. No entanto, em alguns lipídios, estas cadeias podem estar ligadas a um grupo polar que lhes permite unir-se a água (ROBERTIS e HIB, 2006). A maioria dos componentes não protéicos das mem- branas celulares são lipídios, entre eles destacam-se os triglicerídeos, fosfolipídios, glicolipídeos, esteróis e poliprenóides. Triacilgliceróis Os triacilgliceróis (também chamados triglicerídeos) são triésteres dos ácidos graxos com glicerol (Figura 13). Pode-se citar, por exemplo, as gorduras e os óleos exis- tentes em plantas e animais. Estes atuam como reserva de energia em animais, sendo a mais abundante classe de lipídeos. Gorduras e óleos são misturas de triacilgliceróis, cujas composições dos ácidos graxos variam com o orga- nismo que os produziu. As gorduras são eficientes no armazenamento de ener- gia metabólica, pois são menos oxidadas que proteínas e carboidratos. Dessa forma, quando são oxidadas fornecem mais energia. Segundo Voet et al (2000), os adipócitos dos animais são especializados na síntese e armazenamento de triacilgliceróis, pelo qual este tipo celular pode estar com- pletamente preenchido com glóbulos de gordura, diferente dos demais tipos celulares. Fosfolipídeos Os fosfolipídeos são pequenas moléculas de ácido graxo e glicerol. Estes diferem dos trigliceróis por possuírem duas moléculas de ácido graxo unidas a uma molécula de glicerol, estando a terceira molécula hidroxila do glicerol ligada a um ácido fosfórico. Os fosfolipídios possuem duas caudas hidrófobas não-polares longas (dois ácidos graxos) e uma cabeça hidrófila polar de glicerol (exceto na esfingomielina), um segundo álcool e um fosfato, sendo moléculas anfipáti- cas. As células apresentam dois tipos de fosfolipídeos: os glicerofosfolipídeos e os esfingofosfolipídeos. EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 23UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Os glicerofosfolipídeos são o principal componente lipídico das membranas biológicas. Eles consistem de dois ácidos graxos unidos a uma molécula de glicerol e o terceiro grupo hidroxila esterificado com um fosfato ligado, por sua vez, a um segundo álcool. A estrutura básica dos glicerofosfolipídeos é o ácido fosfatídico (AF), resultado da combinação do glicerol com dois ácidos graxos e o fosfato (Figura 14). O segundo álcool pode ser a etanolamina, a serina, a colina ou o inositol. A partir deles, são obtidos os fosfolipídeos designados fosfatidiletanolamina, fosfatidilserina, fosfatidilcolina e fosfatidilinositol. Estes ocorrem, normalmente, nas membranas celu- lares. No entanto, na membrana interna das mitocôndrias, existe um glicerofosfolipideo duplo, o difosfatidilglicerol (cardiolipina), que possui dois ácidos fosfatídicos ligados entre si por uma terceira molécula de glicerol (ROBERTIS e HIB, 2006). Figura 14 - Ácido fosfatídico Fonte: ROBERTIS e HIB, 2006. O esfingofosfolipídeo presente na célula é a esfingo- mielina, resultado da combinação da fosforilcolina com a ceramida. A fosforilcolina (um fosfato ligado à colina) encontra-se também na fosfatidilcolina, enquanto a ce- ramida é formada pela agregação de um ácido graxo à esfingosina (amino-álcool que possui cadeia hidrocarbonada relativamente longa) (ROBERTIS e HIB, 2006). Os axônios das células nervosas possuem uma bainha de mielina que o reveste e o isola eletricamente, sendo esta bainha rica em esfingomielina. Os fosfolipídeos são os principais componentes das membranas celulares. Estes, quando se dispersam na água, adotam conformação semelhante às membranas, com as cabeças polares dirigidas para fora e suas caudas não polares confrontadas entre si no interior da dupla camada. Glicolipídeos Os glicolipídeos são classificados em cerebrosídios e gangliosídios. Os cerebrosídios são formados pela ligação de uma glicose (glicocerobrosídeos) ou galactose (galac- tocerebrosídeos) com a ceramida. Estes, por sua vez, não possuem grupos fosfato, sendo não-iônicos. Trata-se de esfingomielinas cujas fosforilcolinas são substituídas por um monossacarídeo (glicose, galactose). Já os gangliosídios, são similares aos cerebrosídios. No entanto, o carboidrato não é nem glicose, nem galactose, mas um oligossacarídeo composto por vários monômeros, um a três dos quais são ácidos siálicos. Estes são os componentes principais das membranas da superfície celular e constituem uma fração significativa (6%) dos lipí- deos cerebrais(ROBERTIS e HIB, 2006; VOET et al., 2000). Esteróis Os esteróis, de maioria eucaroiótica, são derivados do ciclopentanoperidrofenantreno (Figura 15), um composto que consiste de quatro anéis não-planares fusionados. Figura 15 – Estrutura do ciclopentanoperidrofenantreno Fonte: VOET et al., 2000 O esteróide mais abundante nos animais, encontrado nas membranas e em outras partes da célula, é o coles- terol (figura 16), sendo um esterol, devido o grupamento hidroxila na posição do carbono três, conferindo ao mesmo características anfipáticas. Nos mamíferos, o colesterol é o precursor metabólico dos hormônios esteróides. 24 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A As funções dos esteróides estão ligadas aos grupos químicos que estarão unidos a sua estrutura básica. Os principais esteróis são os hormônios sexuais (estrógenos, progesterona, testosterona), os hormônios suprarrenais (cortisol, aldosterona), a vitamina D e os ácidos biliares (ROBERTIS e HIB, 2006). Poliprenóides Constituem-se os compostos derivados do isopreno (hidrocarboneto). Dentre os poliprenóides, o dolicol fos- fato é uma molécula pertencente à membrana do retículo endoplasmático, que incorpora oligossacarídeos aos poli- peptídeos, durante a formação das glicoproteínas. Outro poliprenóide comum nas células, faz parte da ubiquinona (Figura 17), uma molécula da membrana mitocondrial in- terna, composta por 10 isoprenos e de uma benziquinona. Figura 17 – Estrutura do Ubiquinona [Fonte: http://www.coenzima. com ENZIMAS E AÇÃO ENZIMÁTICA As enzimas são catalisadores biológicos. Desse modo, as substâncias que podem acelerar uma reação química sem alterá-la permanentemente são catalisadores. Nas células, esses processos são realizados por milhares de enzimas, muitas operam simultaneamente e no pequeno volume do citoplasma. As funções catalíticas das enzimas geram uma complexa rede de rotas metabólicas, cada uma composta por uma sequência de reações químicas, na qual o produto de uma enzima torna-se o substrato para a próxima. As enzimas são proteínas ou glicoproteínas que possuem um ou mais sítios ativos, os quais se unem ao substrato, ou seja, a substância sobre a qual a enzima atua. O subs- trato é modificado quimicamente e convertido em um ou mais produtos. Cada enzima catalisa somente uma reação, devido a sua especificidade. Esta especificidade é garantida por suas estruturas, principalmente, formas tridimensionais características com uma configuração de superfície espe- cífica, resultante das conformações primária, secundária e terciária. Dessa forma, essa configuração permite a enzima encontrar o substrato correto entre as diversas moléculas presentes na célula. As enzimas podem estar na célula na forma ativa ou inativa. É o ambiente celular o determinante da taxa que as enzimas trocam de uma forma para outra. Figura 16 – Estrutura do Colesterol com o sistema de numeração padrão. Fonte: VOET et al., 2000 EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 25UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Componentes das enzimas Algumas enzimas são constituídas inteiramente de proteínas. No entanto, a maioria delas, é formada por uma porção protéica (apoenzima) e um componente não protéico (cofator). A apoenzima mais o cofator formam uma holoenzima ou enzima completa ativa (Figura 18). Entre os cofatores, pode-se citar: íons de cálcio, magnésio, zinco. Quando esse cofator é uma molécula orgânica, temos uma coenzima. Figura 18 – Componentes de uma holoenzima Fonte: Adaptado de Tortora et al., 2006. As coenzimas podem auxiliar as enzimas pela admissão de átomos removidos de substrato ou pela doação de áto- mos requeridos pelo substrato. De muitas das vitaminas derivam as coenzimas. As coenzimas do metabolismo celular nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+) e nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP+) funcionam como carregadoras de elétrons e contêm derivados do ácido nicotínico, vitamina B (niacina). Atividade enzimática A ação enzimática inicia-se quando a superfície do substrato entra em contato com o sítio ativo da enzima. Nesse momento, forma-se o complexo enzima-substrato, ou seja, um composto intermediário temporário. Após esta etapa, o substrato é transformado pelo rearranjo de átomos, pela quebra da molécula do substrato ou com outra molécula de substrato. Os produtos da reação são liberados pela enzima, uma vez que não se encaixam mais no sítio ativo. Dessa forma, a enzima não-carregada fica livre, podendo reagir com outras moléculas de substrato (Figura 19). Fatores que interferem a atividade enzimática As enzimas podem ser controladas por mecanismos celulares diversos. Dentre eles, destacam-se o controle da síntese enzimática e o controle da atividade enzimática (quantidade de enzima versus ativação dela). Dentre os fatores que influenciam a atividade en- zimática, estão: a temperatura, o pH, a concentração do substrato e a presença ou ausência de inibidores. Para temperatura, o seu aumento aumenta a velocidade das reações químicas, pois as moléculas movem-se lentamente em baixas temperaturas. Para as reações enzimáticas, a elevação drástica, além da temperatura ótima, podem reduzir de forma significativa à velocidade da reação. Para o pH, a maioria das enzimas, em um pH ótimo tem sua atividade máxima. Quando se apresenta acima ou abaixo desse valor, a atividade enzimática e a velocidade da reação diminuem. Ácidos e bases alteram a estrutura tridimensional da proteína, porque o H+ e o OH-, respec- tivamente, competem com o hidrogênio e com as ligações iônicas em uma enzima, resultando em sua desnaturação. Já em relação à concentração do substrato, a velocidade máxima de reação só é alcançada quando a concentração do substrato é alta, desta forma, ficando a enzima em saturação, As enzimas estão sempre com seus sítios ativos ocu- pados com substratos ou produto. Contudo, os inibidores enzimáticos podem ser competitivos ou não-competitivos. Os competitivos ocupam o sítio ativo de uma enzima e com- petem com o substrato normal pelo sítio ativo da enzima. Estes possuem forma e estrutura química semelhante ao do substrato normal. Alguns inibidores competitivos se ligam irreversivelmente a aminoácidos no sítio ativo, im- pedindo interações com o substrato, outros, por sua vez, se ligam de forma reversível, alternadamente ocupando e liberando o sítio ativo, diminuindo a interação da enzima com o substrato. Os inibidores não-competitivos não competem pelo Figura 19 – Mecanismo da ação enzimática Fonte: Adaptado de TORTORA et al. 2006 26 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A sítio ativo da enzima, eles interagem com outra parte da enzima, o sítio alostérico, ou seja, que não é o sítio de ligação da enzima, resultando no processo de inibição alostérica (figura 20). Desta forma, após a ligação do ini- bidor, há mudança na conformação do sítio ativo, tornando esse sítio não funcional, reduzindo, portanto, a atividade enzimática. Este processo pode ser reversível ou não, depen- dendo da capacidade do sitio ativo retornar a sua forma original. No entanto, em alguns casos, pode ocorrer ativa- ção da enzima através de interações alostéricas, ao invés de inibi-las. Outro tipo de inibição não competitiva pode ocorrer com enzimas que necessitam de íons metálicos para sua atividade, em que algumas substâncias químicas se ligam com íons metálicos e impedem a reação enzimática. Figura 20 – Inibidor não-competitivo no sítio alostérico [Fonte: adap- tado de TORTORA et al. 2006]. A regulação ocorre quando uma molécula, diferente dos substratos,liga-se a uma enzima em um sítio regula- tório especial fora do sítio ativo e, dessa maneira, altera a velocidade com que a enzima converte seu substrato a produto. Na inibição por retroalimentação ou inibição do produto final, os inibidores alostéricos fazem o controle bioquímico, evitando que a célula gaste recursos químicos na produção de mais substâncias que o necessário. Desta forma, a enzima atuando em uma etapa anterior numa rota metabólica é inibida por um produto posterior da mesma rota (Figura 21). Assim, quando gran- des quantidades do produto final começam a acumular, esse produto liga-se a primeira enzima da rota, diminuindo sua atividade catalítica, e, assim, limitando o aporte de mais substratos naquela sequência de reações (ALBERTS et al., 2002; TORTORA et al., 2006). Na célula existem diversas moléculas com atividade enzimática que não são proteínas e sim ácidos ribonucléi- cos. São as ribozimas que catalisam a formação da ruptura de ligações fosfodiéster entre os nucleotídeos. Estas atuam nas fitas de RNA pela remoção de seções e união dos pedaços remanescentes. Figura 21 – Inibição por retroalimentação (Fonte: TORTORA et al. 2006). INDICAÇÃO DE LEITURA Para ler: “As origens da base citológica da hereditariedade”, dispo- nível em: http://dreyfus.ib.usp.br/bio201/texto2.pdf. EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 27UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA A CÉLULA A célula é a unidade básica da vida em que existe uma complementaridade entre forma e função. Todas as células são originadas a partir de células preexistentes. Estas afirmativas fazem parte da Teoria Celular, estabelcida por Schleiden e Schwann, em 1838-1839. A primeira observação de uma célula foi realizada por Robert Hooke em 1665, ao examinar uma cortiça (tecido vegetal morto) em microscópio rudimentar, denominando os inúmeros compartimentos que observava no material de “células”. Na verdade, os compartimentos representavam espaços (celas) ocupados por unidades mortas. A complexidade das células vivas tem sido descoberta através do avanço na microscopia e em técnicas de colo- ração (instrumental e metodológico). Através do uso de corantes, por exemplo, foi possível a identificação do núcleo celular e dos cromossomos, estrutura com milhares de informações, os genes. Assim, o estabelecimento da moderna teoria celular de que todos os seres vivos são constituídos por células só ocorreu no final do século XIX. Esta teoria celular apresenta implicações importantes, pois, ao se estudar a Biologia da célula, se está, de alguma forma, estudando a vida, já que os princípios que regem as funções de uma única célula ou organismo unicelular são os mesmos que governam as milhares de células de um organismo multicelular, além de significar que a vida é contínua, ou seja, todas as células de um organismo multicelular vieram de uma única célula. A maioria das células, especialmente dos organismos multicelulares (metazoários), exibe uma forma fixa e típica. Contudo, há células mutáveis como dos protozoários e leu- cócitos. Apesar das diferenças, elas compartilham funções como: necessidade de energia externa para combinação de átomos e moléculas simples na formação de novas substâncias; perpetuação das informações relativas a seus processos de síntese, para as células descendentes. _____________?? VOCÊ SABIA? Que muitas vezes a forma celular pode auxiliar um diagnóstico. Por exemplo, os eritrócitos humanos, normalmente discos bicôncavos em sua posição central, tornam-se falcizados (forma de foice) em condições de baixa tensão de oxigênio, em portadores de anemia falciforme. Outro exemplo é a diversidade de formas dos protozoários e bactérias que auxiliam no processo de identificação em diversas categorias taxonômicas, como gêneros. Padrões de Organização Celular As células são revestidas por membrana plasmática, cuja constituição é lipoprotéica. Os procariotos possuem células mais simples e não apresentam núcleos. No entanto, as células eucarióticas possuem uma estrutura complexa, possuindo um ou mais núcleos. As células eucarióticas são produtos posteriores da evolução, que desenvolveram compartimentalização do material genético no núcleo, separando dos constituintes citoplasmáticos. A organização em célula procariótica é característica dos domínios Bactéria e Archeae (figura 22). Já as células eucarióticas são encontradas no domínio Eucarya, que inclui protistas, plantas, fungos e animais (Figura 23). As células eucarióticas contêm maior quantidade de DNA do que as procarióticas. Nas células eucarióticas devido a sua complexidade, o material genético requer uma re- gulação (controle) muito mais complexa do que as células procariotas. Figura 22– Uma típica célula procariótica - bactéria [Fonte: www. estudosobre.com/Procarioto] Figura 23– Célula eucariótica - animal [Fonte: http://www.calazans. ccems.pt/cn/images] 28 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A Atualmente as células eucarióticas diferem, em estru- tura, das células eucarióticas primitivas. Elas contêm orga- nelas autorreplicativas e seus ancestrais não. Cloroplastos e mitocôndrias têm genes e ribossomos próprios. Estas organelas parecem ter sido derivadas das eubactérias, dedução esta feita através de evidências bioquímicas e es- truturais. Acredita-se que, em algum estágio da evolução, uma bactéria invadiu uma célula eucariótica, fornecendo habilidades respiratórias e fotossintéticas que previamente estavam ausentes nessa célula. Sendo estes preceitos a base da teoria endossimbiôntica (Figura 24). Figura 24– Teoria endossimbiótica [Fonte: MADIGAN et al., 2004] Componentes Celulares Entre a membrana celular e o núcleo existe uma substância aparentemente amorfa e homogênea, na qual se distribuem corpúsculos de diferentes formas e tamanhos, compartimentalizados por membranas lipoprotéicas, as organelas citoplasmáticas. O citoplasma constitui a maior parte do volume celular. Nele, ocorre a maioria dos processos metabólicos (pro- cessamento das substâncias obtidas do ambiente, forne- cimento de energia e matéria-prima para o metabolismo, produção de substâncias etc.). Nas células eucarióticas, o citoplasma é entrecortado por uma rede de tubos e canais membranosos. Há também diversas organelas, estruturas que atuam em funções específicas. O citoplasma das células procarióticas tem organização relativamente mais simples. O citoplasma, tanto nas células procarióticas, quanto nas eucarióticas, é constituído por um liquido viscoso e semitransparente, o citosol, composto por 80% de água e por milhares de tipos de proteínas, glicídios, lipídios, aminoácidos, bases nitrogenadas, vitaminas, íons, entre outras substâncias. Membrana plasmática As membranas são estruturas dinâmicas cujos compo- nentes se movimentam, mudam e realizam papéis fisiológi- cos vitais que permitem às células interagir umas com as outras e com moléculas do ambiente. Esta é constituída, fundamentalmente, por lipídios e proteínas, sendo que alguns desses componentes estão ligados covalentemente a açúcares. Alguns processos essenciais estão situados na mem- brana plasmática, sendo seletiva, pois funciona como uma barreira para maior parte das moléculas solúveis em água. Contudo, proteínas específicas na membrana transportam pequenas moléculas para dentro da célula. Na membrana, há entrada de certas substâncias (endocitose) e a saída de outras (exocitose). A membrana contém enzimas, algumas envolvidas na produção de energia e síntese de parede celular. Estudos bioquímicos as revelaram como os componentes mais abundantes na constituição lipoprotéi- ca. Além dos fosfolipídios e proteínas, as membranas das célulasanimais também apresentam colesterol em sua constituição. A membrana celular tem aproximadamente 7,5 nm (nanômetro) de espessura; é composta primariamente de fosfolipídeos (20% a 30%) e proteínas (50% a 70%). Os fosfolipídeos formam uma bicamada na qual a maioria das proteínas estão embebidas (Figura 25). Os fosfolipídeos EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 29UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA possuem uma cabeça polar, com carga elétrica (a ter- minação fosfato) e uma cauda apolar, sem carga elétrica (a terminação hidrocarbônica). Na bicamada fosfolipídica, as terminações polares estão alinhadas na porção ex- terna, enquanto as terminações apolares, insolúveis em água, estão do lado de dentro. Essa composição torna a membrana fluida, na qual os componentes protéicos se movimentam. Esse arranjo é o modelo do mosaico fluido. As membranas dos integrantes do reino animal possuem, ainda, o colesterol e as vegetais possuem outros esteróis importantes para o controle da fluidez das membranas. As células procariotas, em sua maioria, não possuem esteróis. Figura 25 – Estrutura da membrana plásmática [Fonte:http://www. recursos.cnice.mec.es] Transporte através da membrana É o processo pelo qual as substâncias en- tram e saem da célula, podendo ser classifica- do em passivo e ativo. No transporte passivo, algumas substâncias atravessam a membrana espontaneamente, sem que haja gasto de ener- gia pela célula. Já no transporte ativo, há gasto de energia, pois, para absorver ou expulsar uma substância da membrana, ocorre ativamente o bombeamento para dentro ou fora da célula. O transporte passivo ocorre por diferentes tipos de difusão: difusão simples, por meio da bicamada fosfolipídica (não há ação de enzimas), e difusão facilitada, por meio de canais de proteínas ou de moléculas carreadoras (enzimas permeases). A difusão ocorrerá sempre da região em que as partí- culas estão mais concentradas para regiões em que sua concentração é menor. Poucos tipos de molécula e, prati- camente, nenhum tipo de íon, conseguem atravessar, em quantidades consideráveis, uma bicamada de lipídios. Assim, o transporte da maioria das moléculas e dos íons é realizado por proteínas inseridas na membrana plasmática. Algumas dessas proteínas formam canais, através dos quais molé- culas de água, certos tipos de íons e pequenas moléculas hidrofílicas se deslocam da região de maior concentração para a de menor, difusão facilitada (figura 26). No entanto, as proteínas transportadoras ou carreadoras da membrana transportam moléculas específicas, capturando-as no meio externo ou interno da célula e as liberando na face oposta. Figura 26– Diagrama da difusão facilitada [Fonte: http://farm3.static. flickr.com] A osmose é um caso especial de difusão em que apenas a água (solvente) se difunde através da membrana semi- permeável das células. Quando uma célula é colocada em água pura, a concentração externa desse solvente é neces- sariamente maior que no interior da célula, em que a água divide o espaço com as moléculas de soluto citoplasmáticas. Consequentemente, a água tende a se difundir em maior quantidade para o interior celular, fazendo a célula inchar. Numa célula animal, se a diferença de concentração for muito grande, pode ocorrer a lise celular. Contudo, se a célula for colocada em solução muito concentrada ha- verá maior difusão de água de dentro para fora da célula, fazendo-a murchar (plasmólise). As soluções podem ser designadas quanto à concentração: em hipertônica quando a solução é mais concentrada em solutos; quando é menos concentrada esta é considerada solução hipotônica. No entanto, quando as duas soluções apresentam a mesma concentração de solutos, elas são consideradas isotônicas. Na osmose, a difusão da água é mais intensa da solução hipotônica para a hipertônica. O transporte ativo é feito à custa de gasto energético, sendo mediado por proteínas carreadoras, da mesma forma que na difusão facilitada. Contudo, o carreador consome energia química (ATP) para promover o transporte de molé- culas contra o gradiente de concentração ou eletroquímico. 30 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A O transporte mediado por proteínas nas membranas pode ser feito de três maneiras diferentes (figura 27): Uniporte (monotrasporte) – quando uma única molécula é transportada unidirecionalmente através da membrana; Simporte (co-transporte) – quando duas moléculas são transportadas simultaneamente em uma mesma direção Antiporte (contratransporte) – quando duas moléculas são transportadas simultaneamente em direções opostas. Figura 27– Tipos de permeases sendo atravessadas por um ou dois solutos e as direções que eles tomam [Fonte: adaptado de http:// www.ufmt.br/bionet/conteudos/15.09.04/transp2.jpg] O transporte ativo de solutos apresenta as mesmas características de especificidade e saturabilidade assinalada para difusão facilitada, embora difira desta por ser realizado contra o gradiente de concentração do soluto. Um dos sistemas de transporte ativos mais importantes é o que estabelece as diferenças nas concentrações Na+ e K+ entre o interior da célula e o líquido extracelular, sendo este responsável pela manutenção do potencial elétrico da membrana plasmática. A bomba de sódio e potássio como conhecida tem a função de expulsar Na+ para o espaço extracelular e introduzir K+ no citoplasma, sendo um sistema de contratransporte. Parede celular A parede celular é uma estrutura que envolve as células de organismos, como os procariotos, excetos micoplasmas e algumas arqueas, plantas, algas e fungos. Apresenta funções de proteção e suporte, além de evitar que a célula se rompa quando mergulhada em um meio hipotônico. É geralmente permeável à troca de íons entre o exterior e o interior da célula. As paredes celulares desses organismos possuem composição química e estrutura física distintas. As células bacterianas possuem peptideoglicanos como constituinte principal de sua parede, sendo que as células eucarióticas não possuem. Nas plantas, a parede celular é rígida e com- posta por celulose e pectina. Células vizinhas comunicam- se entre si através de poros na parede celular chamados plasmodesmos. Estas ligações explicam como as infecções ou outras doenças se espalham rapidamente por todos os tecidos das plantas. Para além destas ligações, existe ainda uma camada gelatinosa entre as paredes celulares das células vizinhas que as mantêm ligadas. Esta camada, chamada lamela média, é formada por fibras de celulose entrelaça- das por moléculas de pectinas e hemiceluloses (figura 28). Figura 28– Parede Celular e lamelas de plantas [Fonte: http://professores.unisanta.br/] Contudo, os fungos filamentosos já possuem quitina, en- quanto as leveduras unicelulares mananas, um polímero da manose. Em relação às algas, estas podem ter quantidades variáveis de celulose, outros polissacarídeos e carbonato de cálcio. As paredes das diatomáceas são impregnadas de sílica, tornando-as espessas e muito mais rígidas. Cílios e flagelos Os cílios são encontrados em diversas células e são móveis, servindo para arrastar líquidos e partículas (árvore respiratória), para deslocar outras células (os esperma- tozóides, o ovócito ou o zigoto na tuba uterina) ou para mobilizar as células autonomamente (espermatozóides). Os flagelos, por sua vez, são apêndices das células vivas, em forma de filamentos, que servem para a sua locomo- ção (no caso de organismos unicelulares - flagelados) ou para promover o movimento da água ou outros fluidos no interior do organismo, quer no processo de alimentação, quer na excreção. Os cílios são apêndices delgados com pequeno com- primentoquando comparados aos flagelos. Cada um é composto por um eixo citosólico, a matriz, envolto por um prolongamento da membrana plasmática. Na matriz, seguindo o eixo longitudinal do cílio ou flagelo, encontra-se o axonema (9+2), armação filamentosa regular composta por vários microtúbulos paralelos entre si associados com proteínas acessórias, surgindo estes de um corpúsculo EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 31UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA basal ou cinetossoma (figura 29) . Figura 29 – Esquema dos componentes de um cílio e flagelo [Fonte: BARNES et al., 2005] Ao contrário do movimento chicoteante dos flagelos, os cílios batem em um movimento ritmicamente coordenado. O flagelo eucariótico propulsiona a célula atuando como um chicote, flexionando-se e girando contra o meio líquido. Todavia, o procariótico move a célula girando como um saca-rolhas. A energia para mover os flagelos eucarióticos provem da hidrolise do ATP, ao contrário dos procarióticos que vem da força protomotiva (o movimento dos íons hidrogênio através da membrana plasmática). Citoesqueleto As células eucarióticas possuem uma armação protéica filamentosa espalhada pelo citoplasma, o citoesqueleto. Este é composto de três tipos de filamentos (filamentos intermediários, os microtúbulos e os filamentos de acti- na) e um conjunto de proteínas acessórias (reguladoras, ligadoras e motoras) (Figura 30). Os filamentos intermediários têm espessura menor que os microtúbulos e maior que os filamentos de actina. Sua composição química é diversa, sendo agrupados em seis tipos: laminofilamentos, filamentos de quitina, filamentos de vimentina, filamentos de desmina, filamentos gliais e neurofilamentos. Estes filamentos formam uma rede contínua que se espalha entre a membrana plasmática e o envoltório nuclear, formando uma malha. Dessa forma, os filamentos mantêm a forma celular e estabelecem as posições das organelas no interior da célula. Os microtúbulos são estruturas cilíndricas, aparente- mente ocas, com 25 mm de diâmetro, que se estendem por todo citoplasma. Estes se classificam de acordo com sua localização na célula: citoplasmáticos, presente nas células em interfase; mitóticos, correspondentes as fibras do fuso mitótico; ciliares, localizados no eixo dos cílios e centriolares, pertencentes aos corpúsculos basais e aos centríolos. O conjunto de proteínas acessórias do citoes- queleto é classificado em: reguladoras, ligadoras e motoras. As reguladoras controlam o nascimento, o alongamento, o encurtamento e o desaparecimento dos três filamentos principais do citoesqueleto; as ligadoras conectam os filamentos entre si ou com outros componentes da célula e as motoras servem para transladar macromoléculas e organelas de um ponto a outro do citoplasma. Os filamentos de actina possuem um diâmetro de 8 mm e são mais flexíveis que os microtúbulos, estando associados a redes ou feixes, sendo raros isolados. Estes se classificam em: corticais, que se localizam por baixo da membrana plasmática, sendo o componente citosólico mais importante; transcelulares, visto que atravessam o citoplasma em todas as direções. O desenvolvimento de um citoesqueleto, responsável pelos processos de estruturação, movimentação e trans- porte, foi um importante passo evolutivo, sendo uma ca- racterística distintiva entre as células eucarióticas, que os possuem e as eucarióticas que carecem do citoesqueleto. 32 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A Figura 30 – Componente do citoesqueleto [Fonte: http://migration. files.wordpress.com]. O citoesqueleto está envolvido em inúmeras funções celulares, tais como: contração muscular, transporte intracelular de vesículas e organelas e segregação dos cromossomos nos eventos de mitose. Inúmeras doenças implicam em alterações do citoesqueleto. Entre elas, temos a Síndrome de Duchenne e o câncer na sua fase metastática. Ribossomos A estrutura celular de um ribossomo é constituída de RNAr e proteínas. Ele está presente nos eucariotos e procariotos, porém apresenta diferenças quanto ao RNAr e proteínas das quais é formado. Nos eucariotos, o ribossomo apresenta coeficiente de sedimentação de 80S, enquanto os procariotos de 70S. São oriundas do nucléolo; podem ser encontrados espalhados no citoplasma, presos uns aos outros por uma fita de RNAm (mensageiro), formando os polissomos ou grudados nas membranas de uma estrutura chamada retículo endoplasmático (formando assim o retícu- lo endoplasmático rugoso ou granular ou ergastoplasma). O ribossomo, cuja função é a síntese de proteínas, é formado por duas subunidades: uma maior e outra menor (Figura 31). Na subunidade maior, existem duas regiões onde ocorre o contato direto com o RNAt (transporta- dor): são chamadas Sítio A (Aminoacil) no qual ocorre a chegada do RNAt e Sítio P (Peptidil) em que são formadas as ligações peptídicas pela junção entre os aminoácidos de ambos os sítios. Figura 31 – Esquema, mostrando as subunidades ribossomais [Fonte: http://www.icb.ufmg.br/big/genegrad/genetica/img/ribosso- mos_clip_image002.gif]. Retículo endoplasmático O retículo endoplasmático é formado por um sistema de membranas que se interconectam na forma de tubos ramificados, às vezes na forma de cisternas, que delimitam uma cavidade, conhecida como luz, podendo ser considera- do como o responsável pela distribuição do material de que a célula necessita, transportando de um ponto qualquer até o local de utilização. Uma característica estrutural é a continuidade com o envoltório nuclear. O Retículo Endoplasmático Rugoso (RER) ou Granular - Ergastoplasma apresenta ribossomos associados e uma estrutura na forma de cisternas, sendo que esta ligação se deve a receptores específicos em sua membrana. As proteínas produzidas pelos ribossomos no RER são liberadas no citoplasma ou passam através da membrana do retículo por canais, de onde vão para várias partes da célula. Certas proteínas produzidas no ergastoplasma são enzimas lisossômicas, que irão atuar na digestão intrace- lular; outras são proteínas componentes das membranas celulares. As células com intensa atividade de síntese protéica, como as células acinosas do pâncreas, possuem RER bastante desenvolvido. Já o Retículo Endoplasmático EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 33UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Liso (REL) ou Agranular forma estruturas dominantemente tubulares, sem ribossomos associados. Células com retículo liso abundante estão relacionadas à síntese de hormônios esteróides, como as células de Leydig nos testículos. O REL participa da síntese de lipídios, ácidos graxos, este- róides e fosfolipídios. Os canais de retículo liso ajudam na distribuição das substâncias sintetizadas em toda a célula (figura 32). Figura 32 – Diagrama de um retículo endoplasmático rugoso [Fonte: http://www.dialogica.com.ar/medline/2007/09/el-camino-hacia-las- unidades-m-1.html] Complexo de Golgi É composto de sacos membranosos achatados com vesículas esféricas em suas extremidades. Contém de 6 a 20 sáculcos achatados, empilhados uns sobre os outros e vesículas, e são organelas encontradas em quase todas as células eucarióticas (figura 33). O complexo de Golgi é conhecido como o centro de empacotamento e distribuição da célula, pois é responsável pelo transporte seguro dos compostos sintetizados para o exterior da célula e pela proteção da célula ao ataque de suas próprias enzimas. Este está conectado a membrana plasmática da célula e se funde, a fim de liberar o seu con- teúdo para fora da célula, processo de exocitose. O complexo de Golgi empacota as enzimas sintetizadas no RER e dentro dos lisossomos.Enzimas estas que cata- lisam reações hidrolíticas, nas quais a água é usada para romper compostos químicos. Portanto, as enzimas contidas nos lisossomos também protegem a célula da ação danosa de suas próprias enzimas. As proteínas sintetizadas no RER são levadas para o interior do complexo de Golgi, onde os açúcares são adi- cionados para produzir glicoproteínas. Entre as enzimas que fazem essa união está a glicosil transferases que une as moléculas de carboidratos a proteínas. Figura 33 – Diagrama do Complexo de Golgi [Fonte: http://www.dia- logica.com.ar/medline/2007/09/el-camino-hacia-las-unidades-m-1. html] Lisossomos Os Lisossomos são organelas citoplasmáticas que acumulam cerca de 40 enzimas hidrolíticas, as quais apresentam uma ampla gama de substratos. A digestão intracelular é a principal função destas organelas, sendo de suma importância, visto que permite a célula eliminar porções envelhecidas ou danificadas de citoplasma, incluin- do organelas e moléculas e degradar componentes oriun- dos da endocitose, sejam eles fragmentos da membrana plasmática, macromoléculas, partículas, outras células ou microrganismos, além do processo de autofagia, digerindo elementos da própria célula (figura 34). 34 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A Os lisossomos apresentam polimorfismo em aspecto e tamanhos diferentes, mas também pela irregularidade de seus componentes. Esse polimorfismo é resultado da diversidade de material endocitado e pelo fato de cada tipo de lisossomo possuir uma combinação singular de enzimas hidrolíticas. As enzimas lisossômicas tornam-se ativas no pH 5,0. Essa acidificação é alcançada pela bomba de H+ presente na membrana do lisossomo. Assim, se um lisossomo se rompe e libera suas enzimas no citoplasma, não há autodigestão da célula, uma vez que o pH do citosol gira em torno de 7,2. A membrana do lisossomo não é digerida pela ação das enzimas hidrolíticas, porque seu lado luminal contém uma enorme quantidade de glicoproteínas. No processo autofagia ocorre a digestão gradual de componentes da própria célula, principalmente organelas envelhecidas. O primeiro passo da autofagia é um me- canismo de envolvimento da organela a ser digerida por uma membrana derivada do retículo endoplasmático liso, formando então uma vesícula denominada autofagossomo. Em seguida, este se funde com um endossomo secundário, o qual recebe enzimas hidrolíticas do Compexo de Golgi e se converte em fagolisossomo ocorrendo, então, a digestão da organela por essas enzimas. Diversas doenças congênitas ocorrem por mutações dos genes que codificam as enzimas lisossômicas. Por exemplo, a doença de Tay-Sachs em que alguns neurônios aparecem repletos de um gangliosídio, sendo o defeito decorrente da ausência da hexosaminidase A, que catalisa a hidrólise parcial do glicoipídio. Dessa forma, este se acu- mula nos neurônios, provocando alterações neurológicas. Peroxissomo Esta organela é formada por uma membrana lipoproteica que contém enzimas funcionais na face interna, apesar de a maioria das enzimas peroxissomais estarem presentes na matriz dessa organela. A sua composição enzimática está relacionada com o tipo celular e condições fisiológicas da célula. Este é encontrado em todas as células; suas enzimas oxidativas cumprem variadas funções metabólicas, sendo capazes de formar e decompor o peróxido de hidrogênio (H2O2), havendo cerca de 40 enzimas nos peroxissomos. A oxidação de substratos nos peroxissomos tem como consequência à formação do peróxido de hidrogênio, uma molécula altamente tóxica a célula, sendo a catalase a en- zima responsável por sua neutralização, transformando-o em água e gás oxigênio. As principais funções dos peroxissomos são: a degra- dação do peróxido de hidrogênio; metabolismo de lipídios, representada pelo b-oxidação de ácidos graxos, na qual em fungos e leveduras os peroxissomos são os respon- sáveis por toda degradação de ácidos graxos realizada; a degradação do ácido úrico, sendo essa via dependente dos peroxissomos e a reação catalisada pela urato oxida- se, que converte ácido úrico em alantoína, excretada por alguns mamíferos e répteis; fotorrespiração, em que nas plantas com metabolismo C3, os peroxissomos participam Figura 34 – Lisossomos [Fonte: http://www.ufmt.br/bionet/conteudos/15.11.04/Lisossomo.htm] EAD 2010 LI CE NC IA TU RA E M Q UÍ M IC A 35UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA desse processo e a degradação de glicose em tripanos- somatídeos, que possuem glicossomos relacionados aos peroxissomos, caracterizado por possuir parte das enzimas da via glicolítica. Centríolo É um pequeno cilindro oco constituído por nove conjun- tos de três microtúbulos, fazendo parte do centrossomo da maioria das células animais. O centrossomo, nas células animais, localiza-se ao lado do núcleo quando esta não está em mitose, organiza os microtúbulos que se irradiam, a partir dele, para todo o citoplasma. Os centríolos não estão relacionados com a nucleação dos microtúbulos no centros- somo (os anéis de g-tubulina por si mesmos são suficientes) e sua função é ainda um mistério, visto que não existem nas células vegetais. Os centríolos são semelhantes aos corpúsculos basais que formam os centros organizadores de microtúbulos nos cílios e flagelos. Mitocôndria A mitocôndria é constituída de duas membranas, cujas estruturas e funcionamentos são distintos (figura 35). Estas delimitam dois compartimentos da mitocôndria: o espaço intermembrana, que separa a membrana interna da externa e a matriz mitocondrial, que está circundada pela membrana interna. Nesta matriz, podem ser obser- vados ribossomos e alguns glóbulos de fosfato de cálcio. A invaginação da membrana para o interior da mitocôndria origina as cristas mitocondriais, sendo essas projeções aumentam a área da membrana interna, local onde estão os componentes da cadeia respiratória e o complexo enzi- mático responsável pela síntese de ATP. A composição química das membranas, em geral, é de lipídios e proteínas, mas a quantidade desses componentes varia, sendo na membrana externa (50% lipídios e 50% proteínas) e na interna (20% lipídios e 80% proteínas). Entre as proteínas, estão os citocromos, que fazem parte da cadeia respiratória; a ATP sintetase, que participa da síntese de ATP; o succinato desidrogenase, que catalisa uma das reações do ciclo de Krebs, entre outras. Figura 35 – Mitocôndria [Fonte: adaptado de http://professores. unisanta.br/] A mitocôndria contém também ácidos nucléicos e várias enzimas, que participam do metabolismo de carboidratos, de ácidos graxos e de compostos aminados. O DNA presen- te na mitocôndria é circular, semelhante ao das bactérias. Apesar de poucas proteínas serem codificadas pelo DNA mitocondrial, a mitocôndria contém todo o mecanismo para replicação e transcrição do DNA e tradução de proteínas. A quantidade de mitocôndrias varia de acordo com a origem celular, estando diretamente relacionada à demanda energética da célula. As mitocôndrias são consideradas usinas geradoras de ATP, que capturam energia deposi- tada nas ligações covalentes das moléculas de alimento e transferem-na ao ADP. Após a formação do ATP, este sai da mitocôndria e se difunde pela célula, de modo que a energia pode ser utilizada por distintas atividades celulares. Cloroplastos Os cloroplastos são encontrados desde algas verdes e azuis até vegetais superiores. Contudo, o número de clo- roplastos por células varia de espécie e do tecido vegetal considerado. Os cloroplastos ou plastídios são organelas delimita- das por dupla membrana. Há o espaço intermembrana, existente entre as duas membranas da organela (figura 36). A membrana
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