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Dos crimes contra o patrimônio 
Direito Penal IV – Prof. Rafael Faria 
 
1) Introdução: 
 
a) Localização topográfica: 
 Os crimes contra o patrimônio se encontram no Título II da Parte Especial do 
Código Penal (crimes contra o patrimônio). Dividem-se em oito capítulos, sendo que 
sete deles se referem a delitos em espécie e o último cuida das disposições gerais, 
apresentados a seguir: 
 Capítulo I – Do furto – arts. 155 e 156; 
 Capítulo II – Do roubo e da extorsão – arts. 157 a 160; 
 Capítulo III – Da usurpação – arts. 161 e 162; 
 Capítulo IV – Do dano – arts. 163 a 167; 
 Capítulo V – Da apropriação indébita – arts. 168 a 170; 
 Capítulo VI – Do estelionato e outras fraudes – arts. 171 e 179; 
 Capítulo VII – Da receptação – art. 180; 
 Capítulo VIII – Disposições gerais – arts. 181 a 183. 
 
b) Fundamento constitucional da proteção ao patrimônio 
 O fundamento constitucional da proteção ao patrimônio, que autoriza o 
legislador a protegê-lo do ponto de vista penal, se encontra no art. 5º, caput, da CF, o 
qual estabelece ser o direito à propriedade inviolável: “Art. 5º Todos são iguais perante 
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
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estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...)” 
 Superada esta breve introdução, passamos a analisar os crimes contra o 
patrimônio propriamente ditos. 
 
2) Roubo 
 
a) Previsão legal: 
 
CAPÍTULO II 
DO ROUBO E DA EXTORSÃO 
 “Roubo 
 Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou 
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de 
resistência: 
 Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 
 § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência 
contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da 
coisa para si ou para terceiro. 
 § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: 
 I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; 
 II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; 
 III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal 
circunstância. 
 IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro 
Estado ou para o exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Incluído pela 
Lei nº 9.426, de 1996) 
 § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze 
anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da 
multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90” 
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b) Análise do dispositivo: 
 O tipo do roubo é composto pela subtração – característica do furto – 
acrescida do emprego de grave ameaça ou violência à pessoa. Assim, pode ser 
enxergado como um furto acrescido de alguns dados que o tornam especial. 
 Portanto, são elementos que compõe o tipo roubo: a) o núcleo subtrair; b) o 
especial fim de agir caracterizado pela expressão para si ou para outrem; c) a coisa 
móvel alheia; d) o emprego de violência (própria ou imprópria) à pessoa ou grave 
ameaça. 
 Os três primeiros elementos já foram analisados quando do estudo do crime de 
furto. O que torna o crime de roubo especial em relação ao furto é justamente o 
emprego da violência à pessoa ou da grave ameaça para subtração da coisa – o que 
passaremos a analisar a seguir. 
 Para a configuração do roubo, são previstos dois tipos de violência. A primeira é 
a denominada violência própria (vis corporalis ou vis absoluta), que é praticada pelo 
agente a fim de que tenha sucesso na subtração criminosa. Aqui a violência é física, 
consistente na prática de lesão corporal ou vias de fato. A segunda, chamada de 
violência imprópria, é aquela em que o agente, não usando de violência física, 
utiliza qualquer meio que reduza a possibilidade de resistência da vítima, 
conforme se verifica na parte final do caput (exemplo: ministrando drogas para a 
vítima dormir, “boa noite cinderela”, hipnotizando-a, induzindo a vítima a beber 
álcool até embriaga-la, etc). 
 Ressalte-se que se a própria vítima se colocar nesse estado de 
impossibilidade de resistência, por exemplo, pela ingestão de bebida alcoolica, e o 
sujeito ativo se aproveitar disso para subtrair seus bens, não haverá crime de roubo 
com violência imprópria, mas tão somente furto. 
 O roubo também se caracterizará quando o agente, para fins de subtração da 
coisa alheia móvel, se utiliza de grave ameaça (vis compulsiva). Esta deve ser capaz de 
infundir temor à vítima que, subjugada pelo agente, tem seus bens subtraídos. 
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Aqui, ao contrário do que se dá no crime de ameaça, a ameaça deve ser iminente. A 
ameaça também deve ser verossímil. 
 Além disso, devem-se levar em considerações as circunstâncias subjetivas do 
sujeito passivo e as do caso concreto, para se analisar se a ameaça fora capaz de 
infundir temor na vítima. 
 
c) Classificação: 
Trata-se de crime comum quanto ao sujeito ativo, bem como quanto ao sujeito 
passivo; material; de forma livre; em regra, comissivo; instantâneo; de dano; 
monossubjetivo; plurissubsistente; em regra, não transeunte. 
 
d) Bem juridicamente protegido ou objeto jurídico: 
 Assim como no crime de furto, protege-se, precipuamente o patrimônio, aqui 
entendido como a propriedade e a posse. Além disso, no crime de roubo protege-se 
também a detenção – esta última por conta da natureza complexa do crime de 
roubo. 
 Sendo o roubo pluriofensivo, protege-se também, de forma indireta, a 
integridade corporal ou a saúde, a liberdade individual e até mesmo a vida. 
 
e) Objeto material da conduta: 
O objeto material da conduta é a coisa alheia móvel contra a qual é dirigida a 
conduta praticada pelo agente, bem como a pessoa sobre a qual recai a conduta 
praticada pelo agente. 
 
f) Sujeito ativo e sujeito passivo: 
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Tratando-se de crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física, 
desde que não seja o proprietário (haja vista que se exige a subtração de coisa 
“alheia”). 
O sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa, ou seja, o proprietário, o 
possuidor e, ao contrário do crime de furto, o mero detentor, em decorrência da 
natureza complexa do delito. 
 
g) Roubo próprio e roubo impróprio: 
 
“Roubo 
 Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave 
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à 
impossibilidade de resistência: 
 Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 
 § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega 
violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime 
ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.” 
 
Se a utilização de violência ou grave ameaça contra a pessoa se constituir 
meio para a prática do crime de roubo, sendo esta praticada antes ou durante a 
ação delituosa, o sujeito ativo incorrerá no tipo de roubo impróprio, previsto no 
caput do art. 157, CP, conforme doutrina majoritária. 
De outro lado, se a violência ou grave ameaça forem utilizadas, logo depois da 
subtração da res, para assegurar a impunidade do crime (exemplo: deixou 
documento no local dos fatos e ali retorna, imediatamente, para busca-lo e, para tanto, 
agride o morador) ou a detenção da coisa (exemplo:agride o morador que tenta detê-
lo), o enquadramento típico se dará no §1º do art. 157 do CP, denominado roubo 
impróprio. Aqui, o dolo inicial era de apenas furtar, convertendo-se em roubo 
impróprio em decorrência da utilização posterior da violência ou da grave ameaça 
para assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa. 
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Ressalte que, conforme a doutrina majoritária, não se admite a violência 
imprópria no roubo impróprio, por ausência de previsão legal. 
 
h) Consumação e tentativa: 
A doutrina e a jurisprudência têm entendido, de forma majoritária, que o roubo 
próprio se consuma com a simples retirada do bem da esfera de disponibilidade da 
vítima, sem que haja necessidade de que a posse do sujeito ativo se torne tranquila. 
Adota-se, pois, a teoria da amotio ou aprehensio ou inversão da posse, a exemplo do 
que ocorre no crime de furto. 
Neste sentido, o STJ: 
“De acordo com o entendimento jurisprudencial remansoso nesta Superior 
Tribunal de Justiça, o delito de roubo, assim como o de furto, se consuma com a 
simples posse, ainda que breve, da coisa alheia, mesmo que haja imediata 
perseguição do agente, não sendo necessário que o objeto do crime saia da 
esfera de vigilância da vítima. Incidência do enunciado 83 da Súmula deste 
STJ (STJ, AgRg no REsp .1505.160/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis 
Moura, 6ª T., DJe 10/06/2015). 
E também o STF: 
“O crime de roubo consuma-se quando o agente, após subtrair coisa alheia 
móvel, mediante o emprego de violência, passa a ter a posse da res furtiva fora 
da esfera de vigilância da vítima, não se exigindo, todavia, a posse tranquila 
do bem” (STF, RHC 119.611/MG, RO em HC, 1ª T., Rel. Min. Luiz Fux, DJe 
13/02/2014). 
No roubo próprio, tratando-se de crime material e plurissubsistente, admite-se a 
tentativa, quando, iniciada a execução, não conseguir o agente retirar o bem da 
esfera de disponibilidade da vítima, por circunstâncias alheias a sua vontade. 
De outro lado, no roubo impróprio, entende-se, também de forma 
majoritária, que a consumação se dá com o simples emprego de violência ou grave 
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ameaça depois da subtração da coisa. Além disso, segundo o STJ, não se admite a 
tentativa nessa modalidade de roubo, in verbis: 
“O crime previsto no art. 157, §1º, do Código Penal, consuma-se no momento 
em que, após o agente tornar-se possuidor da coisa, a violência é empregada, 
não se admitindo, pois, a tentativa (REsp 1.025.162/SP, REsp 2008/0014351-
8, 5ª T., Rel. Min. Felix Fischer, DJe 10/11/2008). 
 
i) Elemento subjetivo: 
 O dolo é o elemento subjetivo do crime em tela. 
 Não se admite modalidade culposa, por ausência de previsão legal. 
 Além disso, se faz necessário que o agente haja com especial fim de agir, ou 
seja, sua conduta deve ser dirigida com a finalidade de ter a coisa alheia móvel para si 
ou para outrem. 
 No roubo impróprio, por sua vez, há exigência de outros dois elementos 
subjetivos, que dizem respeito ao especial fim de agir do sujeito ativo, 
representados pelas expressões “assegurar a impunidade do crime ou a detenção 
da coisa”. 
 
j) Modalidades comissiva e omissiva: 
 O crime em análise pode se dá, em regra, de forma comissiva (subtrair), 
podendo, entretanto, ocorre de forma omissiva imprópria, desde que o agente goze do 
status de garantidor. 
 
k) Causas especiais de aumento de pena 
 Estabelece o §2º do dispositivo em análise cinco causas de aumento de pena, 
também conhecidas como majorantes e que terão influência na terceira fase da 
dosimetria da pena. São elas: 
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 “§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: 
 I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; 
 II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; 
 III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal 
circunstância. 
 IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para 
outro Estado ou para o exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) 
 V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua 
liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)” 
 
 Quanto mais causas de aumento estiverem presentes, mais o juiz deverá se 
aproximar do percentual máximo de majoração, conforme ensina Greco, devendo, 
contudo, fundamentar sua decisão, nos termos da Súmula nº 443 do STJ: “O aumento 
na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige 
fundamentação concreta, não sendo suficiente para sua exasperação a mera indicação 
do número de majorantes”. Há quem entenda, todavia, que havendo concurso de 
majorantes, o juiz deve se utilizar apenas de uma para aplicação da causa de aumento de 
pena, sendo as demais consideradas como circunstâncias judiciais previstas no art. 59, 
CP, para fixação da pena-base. Uma terceira corrente, por sua vez, ensina que a 
existência de mais de uma causa de aumento por si só não significa a elevação 
necessária da pena. 
 Passamos a analisar cada uma delas: 
 Violência ou ameaça exercida com o emprego de arma 
A arma utilizada poderá ser própria (exemplo: revólver) ou imprópria 
(exemplo: barra de ferro). Entretanto, para incidência da majorante a arma deverá ter 
potencialidade lesiva. Assim, não responde por roubo majorado aquele que se 
utiliza de arma de brinquedo (vide Súmula 174, STJ, cancelada em 2001: “No crime 
de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o aumento da pena”) ou 
mesmo arma verdadeira desmuniciada ou com defeito mecânico que impossibilite 
o disparo. Neste sentido: 
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“A majorante prevista no art. 157, §2º, I, do Código Penal deve ser afastada se o 
réu praticou o roubo com o emprego de arma de fogo desmuniciada – fato 
reconhecido na sentença e no acórdão. Precedentes (STJ, HC 281.279/SP, Rel. 
Min. Gurgel de Faria, 5ª T., DJe 08/06/2015).” 
 
 Há divergência doutrinária quanto à necessidade de ser a arma efetivamente 
empregada para aplicação da causa de aumento em análise. Bittencourt entende ser 
necessário que a arma seja efetivamente utilizada na prática do crime. Segundo 
Greco, todavia, mesmo na hipótese de que o agente, tendo consigo a arma, não a 
maneje ou a exiba à vítima, porém dá a entender que está armado e pretende fazer 
uso da arma, caberá a incidência da majorante. 
Também há divergências acerca da necessidade de apreensão da arma para 
configuração da majorante, sendo majoritária, na jurisprudência, a posição pela 
dispensabilidade da referida apreensão. Neste sentido, o STJ e o STF, como se vê 
abaixo: 
“A jurisprudência desta Corte é firma no sentido de que a aplicação da 
majorante pela utilização de arma prescinde da apreensão e perícia no 
objeto, quando comprovada sua utilização por outros meios de prova, como pela 
palavra da vítima ou de testemunhas” (STJ, HC 310.880/SP, Rel. Min. Reynaldo 
Soares da Fonseca, 5ª T., DJe 25/06/2015). 
“Não se mostra necessária a apreensão e perícia da arma empregada no roubo 
para comprovar o seu potencial lesivo, visto que essa qualidade integra a própria 
natureza do artefato. A majorante do art. 157, §2º, I, do Código Penal pode 
ser evidenciada por qualquer meio de prova, em especial pela palavra da 
vítima ou pelo depoimento de testemunha presencial (STF, RHC 122.074/SP, 
2ª T., Min. Ricardo Lewandowski, DJe 06/6/2014). 
 Concurso de duas ou mais pessoas: 
A qualificadora exige que os agentes participem da execução do crime, 
intervenham em seu cometimento, estejam presentes no local e no momento do 
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fato. Porém, não é necessário que todos eles pratiquem grave ameaça ou violência, 
bastando que um o faça e esse modo de execução seja deconhecimento e tenha a 
aprovação, expressa ou tácita, dos demais. 
Apesar de divergente, a jurisprudência tem admitido a possibilidade de 
condenação do réu por roubo majorado pelo concurso de pessoas e associação 
criminosa, não se configurando bis in idem, pois se tratam de infrações distintas e 
independentes (RT 631/321, 719/412). 
 Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente 
conhece tal circunstância: 
Deve haver a conjugação de dois elementos: estar em serviço de transporte de 
valores (exemplo: dinheiro, pedras preciosas, ouro, cheques, etc) e ter o agente o 
conhecimento destas circunstâncias. Exemplo: carro-forte, office-boy que esteja 
transportando valores. 
Essa majorante não se aplica na hipótese em que o próprio proprietário faz o 
transporte de valores. 
 
 Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser 
transportado para outro Estado ou para o exterior: 
Os comentários são os mesmos referentes à qualificadora de natureza idêntica 
prevista para o crime de furto, a qual já analisamos anteriormente, ressaltando-se, 
somente, que no crime de roubo, esta circunstância é causa de aumento de pena e 
não qualificadora. 
 Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua 
liberdade: 
A majorante em estudo se dará: a) quando a privação de liberdade for um 
meio de execução do roubo; b) quando essa mesma privação de liberdade for uma 
garantia, em benefício do agente, contra a ação policial. Exemplo: rouba o carro e 
coloca a vítima no porta-malas, para, algum tempo depois, já em local adequado 
para fuga, quando já não mais corria o risco de ser interceptado pela polícia, o 
agente estaciona o veículo e liberta a vítima. Além disso, a privação de liberdade não 
poderá ser prolongada. Caso não sejam atendidos estes requisitos, poderá ficar 
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configurado o crime de roubo em concurso com outro crime, como o de sequestro, 
por exemplo. 
 
l) Roubo qualificado pela lesão corporal grave e pela morte (latrocínio): 
 Estabelece o §3º do art. 157 o seguinte: 
 “§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a 
quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem 
prejuízo da multa.” 
 
Ressalte-se que os resultados aqui previstos devem ser advindos da violência 
(vis corporalis), não incidindo o agente na qualificadora caso os referidos 
resultados sejam provenientes da grave ameaça. 
São dois os possíveis resultados aqui previstos: a) lesão corporal de natureza 
grave (§§1º e 2º do art. 129 do CP); b) morte (latrocínio). Estes resultados poderão 
ser imputados a título de dolo ou culpa, nos termos do art. 19, CP (Pelo resultado que 
agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos 
culposamente). Trata-se, portanto, de crime qualificado pelo resultado. 
Destaque-se que os crimes qualificados pelo resultado culposo são 
denominados crimes preterdolosos, pois há dolo no antecedente (roubo) e culpa no 
consequente (lesões graves ou morte). 
As citadas qualificadoras podem ser aplicadas tanto no roubo próprio quanto 
no roubo impróprio. 
Ocorrendo o resultado morte, de forma dolosa ou culposa, teremos o que se 
denomina latrocínio, como ensina Greco. Há doutrinadores que entendem, entretanto, 
que o resultado morte somente poderia ser atribuído ao agente a título de culpa, 
pois, se este se desse culposamente, o agente deveria responder pelo crime de roubo 
em concurso com o de homicídio. 
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Em decorrência de sua localização topográfica, não se aplicam ao latrocínio e 
ao roubo qualificado pelas lesões corporais de natureza grave as causas de 
aumento de pena previstas no §2º do art. 157, CP. 
A morte de qualquer pessoa, durante a prática do roubo, que não alguém do 
próprio grupo que praticava a subtração, caracteriza o latrocínio, consumado ou 
tentado, a depender do caso concreto (exemplo: para assaltar um banco, matam 
imediatamente o segurança que ali estava). 
Na hipótese de, durante a prática de roubo, várias pessoas serem mortas, o 
Superior Tribunal de Justiça tem entendido pelo concurso de crimes de latrocínio, 
como se vê abaixo: 
“Prevalece, no Superior Tribunal de Justiça, o entendimento no sentido de que, 
nos delitos de latrocínio – crime complexo, cujos bens jurídicos protegidos são o 
patrimônio e a vida -, havendo uma subtração, porém mais de uma morte, 
resta configurada hipótese de concurso formal impróprio de crimes e não 
crime único” (HC 185101/SP, 6ª T., Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe 16/4/2015). 
A competência para o julgamento do latrocínio, mesmo nas hipóteses em que o 
resultado morte tenha sido causado dolosamente, é do juízo singular e não do 
Tribunal do Júri. Isto porque o Tribunal do Júri tem competência para julgamento 
de crimes dolosos contra em vida, enquanto o crime de latrocínio protege, 
precipuamente, o patrimônio. 
 Consumação e tentativa no delito de latrocínio: 
- Subtração consumada e homicídio tentado: haverá tentativa de latrocínio, 
conforme posição majoritária. Conforme Hungria, haverá tão somente homicídio 
qualificado (art. 121, §2º, V, CP); 
- Homicídio consumado e subtração tentada: a posição majoritária é de que 
haverá latrocínio consumado, nos termos da Súmula nº 610 do STF (Há crime 
de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize a 
subtração de bens da vítima). Greco não concorda, pois entende que nesta 
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hipótese o crime não é consumado por não estarem presentes nele todos os 
elementos de sua definição legal, nos termos do art. 14, I, CP. 
Em síntese, conforme Bittencourt: 
 
 
m) Pena e ação penal: 
 No roubo simples, próprio ou impróprio, a pena é de reclusão de 4 (quatro) a 
10 (dez) anos, e multa. 
 Para as modalidades qualificadas, se da violência resultar lesão corporal grave, 
a pena é de reclusão de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, além de multa; se resulta morte, 
a reclusão é de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo de multa. 
 A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. 
 
n) Crime impossível no roubo – impropriedade do objeto (vítima que nada 
possuía): 
 Ensina Bittencourt que a inexistência de objeto de valor em poder da vítima 
não desnatura a figura típica do art. 157 do CP, visto que se trata de crime 
complexo, cuja primeira ação – a violência ou grave ameaça – constitui início da 
execução. Em sentido contrário, pensa Greco, para quem se tratará de crime impossível, 
afastando-se eventual tentativa de roubo, devendo o agente responder pelos atos de 
violência já praticados. 
 
o) Roubo de uso: 
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 Conforme a jurisprudência do STJ, não se admite a figura do roubo de uso, 
como se vê abaixo: 
“É típica a conduta denominada ‘roubo de uso’. De início, cabe esclarecer 
que o crime de roubo (art. 157 do CP) é um delito complexo que possui como 
objeto jurídico tanto o patrimônio como a integridade física e a liberdade do 
indivíduo. Importa assinalar, também, que o ânimo de apossamento – elementar 
do crime de roubo – não implica, tão somente, o aspecto de definitividade, pois 
se apossar de algo é ato de tomar posse, de dominar ou de assenhorar-se do bem 
subtraído, que pode trazer o intento de ter o bem para si, de entregar para outrem 
ou apenas de utilizá-lo por determinado período. Se assim não fosse, todos os 
acusados de delito de roubo, após a prisão, poderiam afirmar que não pretendiam 
ter a posse definitiva dos bens subtraídos para tornar a conduta atípica. Ressalte-
se, ainda, que o STF e o STJ, no que se refere à consumação do crime de roubo, 
adotar a teria da apprehensio, também denominada de amotio, segundo a qual se 
considera consumadoo delito no momento em que o agente obtém a posse da 
res furtiva, ainda que não seja mansa e pacífica ou haja perseguição policial, 
sendo prescindível que o objeto do crime saia da esfera de vigilância da vítima. 
Ademais, a grave ameaça ou a violência empregada para a realização do ato 
criminoso não se compatibilizam com a intenção de restituição, razão pela qual 
não é possível reconhecer a atipicidade do delito ‘roubo de uso’” (STJ, REsp 
1.323.275/GO, 5ª T., Relª. Min.ª Laurita Vaz, julg. 24/4/2014). 
 Em sentido contrário, Rogério Greco admite a figura do roubo de uso, dizendo 
ser possível raciocinar, nessas hipóteses, com o tipo do constrangimento ilegal. 
 
p) Roubo e princípio da insignificância; 
 A jurisprudência do STF não reconhece a incidência do princípio da 
insignificância nos crimes violentos, como se vê abaixo: 
“É inviável reconhecer a aplicação do princípio da insignificância para crimes 
praticados com violência ou grave ameaça, incluindo o roubo. Jurisprudência 
consolidado no Supremo Tribunal Federal (RHC 106.360/DF, 1ª T., Ministra 
Rosa Weber, DJe 04/10/2012). 
15 
 
q) Subtração por arrebatamento (crime do “trombadinha”) 
 A doutrina ensina que quando a vítima não sofre lesão corporal em 
decorrência da ação de arrebatar a coisa, o entendimento quase unânime é no 
sentido de que se caracteriza o furto. 
 O Superior Tribunal de Justiça, entretanto, entende pela configuração do 
crime de roubo: 
“Esta Corte Superior tem entendimento no sentido de que o arrebatamento 
de coisa presa ao corpo da vítima que comprometa ou ameace sua 
integridade física, configurando vias de fato, bem como a prolação de 
ameaças verbais e a superioridade de sujeitos ativos, são suficientes para a 
caracterização das elementares da violência e da grave ameaça, e, em 
consequência, do crime de roubo” (STJ, AgRg. No AREsp 256.213/ES, Min. 
Marco Aurélio Belizze, 5ª T., DJe 10/6/2013). 
r) Roubo na Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/1983): 
“Art. 20 - Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, 
incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, 
por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de 
organizações políticas clandestinas ou subversivas. 
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. 
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro; 
se resulta morte, aumenta-se até o triplo.” 
 
QUESTÕES: 
16 
 
17 
 
 
 GABARITO: 
 B 
 D 
 D 
FONTES: 
Rogério Greco – Curso de Direito Penal – Parte Especial – volume 2 e Código Penal 
Comentado. 
Cezar Roberto Bittencourt – Tratado de Direito Penal – Parte Especial – volume 2.

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