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Introdução ao Estudo do Processo 03/02/2011 Revisão de conceitos a) Mundo do ser humano: Os seres humanos compartilham o espaço com os demais seres da natureza. Este é o mundo da realidade, o mundo em que os acontecimentos podem ser percebidos. No mundo da realidade existem muitos acontecimentos. O conjunto dos acontecimentos do mundo da realidade são chamados de fatos lato sensu. Há varias formas de classificar os acontecimentos. Tomando como ponto de partida a vontade humana, temos os fatos estritos (acontecimentos produzidos somente pela natureza) e os atos (acontecimentos produzidos somente pela vontade humana). A vontade humana atua de dois modos: modo positivo e modo negativo. Ato comissivo (atuação positiva da vontade humana - quem está na sala de aula ). A vontade humana de forma negativa é o ato omissivo (quem deveria estar na sala de aula, mas não está). Os atos, tanto comissivos, quanto omissivos podem ou não interessar ao direito. Para decidir se o ato é comissivo ou omissivo precisamos de um critério. O critério para resolver este problema é o DEVER (onde eu devo estar, se eu devo estar na sala de aula e estou na sala de aula o ato é comissivo). Acontecimentos híbrido: depende em parte da vontade humana e da natureza. Atos fatos: Acontecimentos iniciados pela vontade humana e completados pela natureza. A parte humana pode ser positiva ou negativa (comissiva ou omissiva). A natureza pode ou não completar o acontecimento. Se o ato acontece conforme a vontade humana temos o ato fato. Se a vontade humana falhar, temos o ato falho (situação em que existe a vontade humana, mas a natureza não completa o ato - exemplo uma plantação que não germina) . No ato fato, a parte humana pode ser omissiva (ex.: quem deveria cuidar da égua não cuidou e a natureza funcionou- a égua cruzou com o animal impuro e houve a prenhez) - Parte humana omissiva e natureza seguindo seu curso - ou comissiva (o jardineiro que planta as flores). O ato fato pode ou não interessar ao direito.O ato é falho quando a natureza não completa (nesse caso não tem interesse nenhum). Este é o mundo compartilhado com outros seres. Os seres humanos criam um mundo que só existe na mente, o mundo abstrato, o mundo do direito (mundo jurídico ou ordem jurídica). Alguns acontecimentos interessam ao direito, outros não. Os acontecimentos que interessam ao direito são aqueles que vão para o mundo abstrato (jurídico). Sempre que um acontecimento interessa ao direito, ele ingressa no mundo jurídico. Qualquer acontecimento da realidade que ingressar no mundo jurídico, se torna um fato jurídico lato sensu. (Art. 104 código civil.) - Tratado de direito privado - 1º volume - classificação - Pontes de Miranda. 1 O processo é feito apenas pela vontade humana. Código do processo civil (art. 154 título 5º- Dos atos processuais). O processo cuida apenas dos atos, pois o processo é feito apenas pela vontade humana. b) Comportamentos do ser humano: Nós humanos, inteligentes que somos, temos dois comportamentos. 1º é o comportamento interno, subjetivo (só cada um sabe o comportamento que está adotando). 2º é o comportamento externo ou objetivo (é um comportamento relacional, ou seja, forma algum tipo de relação, que pode ser positiva ou negativa). O comportamento objetivo pode ser aferido pela comunidade, cada um de nós pode verificar o que o outro está fazendo, mas não tem como verificar os pensamentos. A intenção é mais importante do que a literalidade. A intenção deve ser aferida, dentro daquilo que ela pode ser objetivada. c) Sistemas normativos: O critério para decidir o que vai ou não para o mundo jurídico é a norma. Para falarmos em norma precisamos falar de ética (vem de ethos, que quer dizer bons costumes). Ética sob o aspecto popular: Comportamento segundo a prescrição de determinado grupo social (grupo familiar, religioso, profissional, de estudos, etc.). Na família o pai e a mãe estabelecem determinadas regras para os filhos, no grupo de estudos existem regras de funcionamento no grupo. Pode ser também grupo social ilegítimo (10 meliantes formam um grupo para praticar assaltos e combinam que nenhum vai entregar o outro. Um é preso e acaba entregando o grupo - sob o ponto de vista do bando, ele não tem ética. O delinquente agiu dentro da lei, mas para o grupo ele não tem ética). Ética sob o aspecto filosófico: Parte da filosofia que estuda as regras de comportamento humano. (é o aspecto mais importante para a matéria) Ética sob o aspecto jurídico: Regra de comportamento profissional, nas profissões regulamentadas. Uma profissão é regulamentada a partir do momento em que ela se torna socialmente importante ( existem profissões lícitas e ilícitas, regulamentadas e não regulamentadas - Ex: Pedreiro é lícito e não regulamentado. Médico é lícito e regulamentado). Por regulamentada entenda-se tem uma lei que regula a profissão, que cria uma instituição para regular a profissão - Ex: OAB, CRM, CRO. O órgão de controle profissional é obrigado a elaborar um código de ética. Quando o código de ética é descumprido, podem haver sanções. Os comportamentos contrários ao código de ética provocam sanções. O aspecto das profissões regulamentadas é jurídico porque é obrigatório. As normas segundo Giorgio Del Vecchio (maior filósofo do direito do séc. XX, se exilou no Brasil e criou uma corrente filosófica no Brasil - Humanismo - que influenciou na elaboração da constituição e do código civil de 2002) - Obra: Lições de filosofia do direito. Segundo Del Vecchio, existem dois conjuntos de normas: Normas morais: Regras de comportamento humano (Toda norma regula o comportamento humano, não se elabora regras de comportamento para outros seres), subjetiva (destinada ao comportamento interno, o elaborador na norma sabe que o destinatário é livre, porque ele é inteligente e pode escolher entre se comportar conforme a norma ou contrario a norma), desprovida de sanção (consequência desagradável para quem preferir um comportamento contrário) efetiva (Neste caso não dá para impor 2 sanção, pois há sanção, mas ela não é efetiva, a regra é para a individualidade, é para a consciência) e produzida principalmente pelas religiões. Ex: Regras religiosas (o indivíduo pode ou não obedecer as regras de uma determinada religião. A sanção existente pelo não cumprimento dessas normas não gera nenhum efeito no indivíduo que não seja em sua consciência). Fonte das normas morais: Religião (fonte primária) Obra1: A cidade antiga (diz quando surgem as religiões) Fustel Coulanges: Segundo Fustel Coulanges nós, seres humanos, em algum estágio da nossa evolução, tomamos conhecimento do fim. A certeza do fim criou medos. 1º o medo de uma entidade muito poderosa e vingativa, logo temos que estar bem com a entidade. 2º o medo da volta do morto. Os seres humanos têm que adotar certos comportamentos, para que os mortos não retornem para perturbar os vivos. Foram elaboradas normas de bem viver, para que o ser humano não fique sujeito a ira da divindade e para que não ocorra a volta dos mortos. Obra 2: A cidade grega - Gustave Glotz (2º edição) Na atualidade, alem da religião, a comunidade se tornou fonte secundária de normas morais (denominadas moralidade média do povo - normas morais criadas pela comunidade). Estas normas, atualmente têm grande influencia no direito. Na constituição, na lei processual, no código penal, a moralidade é citada. A norma moral, embora regule o comportamento interno, tem influência no direito. (Código do processo civil art. 332.) O Brasil, por ser um Estado laico, aceita normas morais de qualquer religião. Normas jurídicas: Critério Funcional: Regra de comportamento humano, objetiva (destinada ao comportamento externo) , provida de sanção efetiva ( a comunidade sabe quem se comportou conforme ou contrariamente a norma,e para aqueles que se comportaram contrariamente a norma, a própria comunidade impõe a sanção) e produzida principalmente pelo Estado. Fontes: As normas são criadas principalmente pelo estado, mas existem fontes estatais e não estatais. Fontes estatais: Poder legislativo é a fonte mais importante, gera norma jurídica legal (aquela produzida pelo poder legislativo). O legislador elabora norma legal apenas para as situações mais frequentes na sociedade. A segunda fonte estatal é o poder judiciário, que cria as normas jurídicas pretorianas, para aqueles casos menos comuns, que são levados à justiça. Quando há uma lide e não existe norma legal, o poder judiciário cria a norma pretoriana. Fonte não estatal: comunidade, que cria norma jurídica consuetudinária (costumes) . Art. 126 Código do processo civil - lei mandando o juiz aplicar os costumes na falta de outra fonte-. O CPC aplica-se também na esfera penal quando o CPP for omisso. OBS: Art. 126 CPC. Poder/dever da jurisdição (No Brasil, o judiciário é obrigado a julgar. Quando está julgando, as normas legais devem ser aplicadas. Não havendo normas legais, as normas pretorianas são criadas ou os costumes (normas jurídicas consuetudinárias) são aplicadas. OBS2: Todo ramo do direito admite regra consuetudinária, menos o direito penal e o direito tributário. Ai existe o princípio da reserva legal. OBS3: Quando é norma moral da comunidade e quando é norma jurídica da comunidade? A distinção é, 1º verificar para que tipo de comportamento é destinada a norma (se for comportamento interno (consciência é norma moral. Se é dirigida a conduta 3 externa, é norma jurídica consuetudinária). A 2º é a sanção (se houver sanção efetiva é norma jurídica consuetudinária, se não houver sanção efetiva é norma moral) 08/02/2011 Norma jurídica: Há um critério valorativo para decidir o que entra ou não no mundo jurídico. Este critério é a norma jurídica no conceito valorativo CONCEITO DE NORMA SEGUNDO O CRITÉRIO VALORATIVO: DESCRIÇÃO HIPOTÉTICA (abs t ra ta) DE COMPORTAMENTOS OS QUAIS, SE CONCRETIZADOS, INGRESSAM NO MUNDO JURÍDICO (se torna um fato jurídico lato sensu) DE FORMA POSITIVA (CRIANDO, MODIFICANDO OU EXTINGUINDO DIREITOS) OU NEGATIVA (GERANDO IMPOSIÇÃO DE SANÇÃO). O ingresso no mundo jurídico ocorre por dois caminhos: Ou o ingresso é positivo, quando a concretização da norma cria, modifica ou extingue direitos ou o ingresso é negativo, quando a concretização da norma gera sanção. Ingresso positivo: Criar direito - Criança que nasce viva no parto normal (a criança, que era nascitura, agora vira pessoa) Modificação de direito - Um jovem que esteja completando 18 anos. Até o dia anterior ao seu aniversário, a princípio, a pessoa não tinha capacidade plena. No dia do aniversário, a princípio, a pessoa é plenamente capaz. Extinção de direito: Morte natural. Ingresso negativo: Quando o acontecimento da realidade gera imposição de sanção. Toda a lei penal. Na esfera civil, quando alguém contrai obrigação e não cumpre. 2º Classificação das normas jurídicas (José de Oliveira Ascensão) Obra: Introdução e Teoria Geral Segundo José de Oliveira Ascensão, existem 4 tipos de normas: 1) Religiosas: Aquelas que vem exclusivamente das religiões 2) Morais: Aquelas criadas pela comunidade. (Para Del Vecchio, normas morais e religiosas são apenas um tipo - Normas morais) 3) Sociais: São as normas de transição. Não são puramente morais, mas ainda não são jurídicas. Normas de bom convívio social (ex.: Cumprimentar é norma de educação. É comportamento externo, logo não é norma moral, mas ainda não é jurídica, pois não gera sanção efetiva). Normas sociais podem se tornar jurídicas com o tempo (antes de 88 era norma social ceder o lugar para idosos, gestantes, deficientes, atualmente, isto se tornou norma jurídica). Sanção indireta existe (pessoas mal educadas acabam ficando sozinhas), o que não existe é a sanção direta. 4 4) Jurídicas: O conceito é o mesmo do Del Vecchio. Pelos critérios funcional e valorativo: Conceito de norma jurídica segundo o critério funcional: Regra de comportamento humano, objetiva(destinada ao comportamento externo), provida de sanção efetiva ( a comunidade sabe quem se comportou conforme ou contrariamente a norma, e para aqueles que se comportaram contrariamente a norma, a própria comunidade impõe a sanção) e produzida principalmente pelo Estado. CONCEITO DE NORMA SEGUNDO O CRITÉRIO VALORATIVO: DESCRIÇÃO HIPOTÉTICA (abstrata) DE COMPORTAMENTOS OS QUAIS, SE CONCRETIZADOS, INGRESSAM NO MUNDO JURÍDICO (se torna um fato jurídico lato sensu) DE FORMA POSITIVA (CRIANDO, MODIFICANDO OU EXTINGUINDO DIREITOS) OU NEGATIVA (GERANDO IMPOSIÇÃO DE SANÇÃO). Sistemas Jurídicos Obra: René David - Os grandes sistemas do direito contemporâneo. O ser humano criou o mundo abstrato, mas ainda não existe um sistema jurídico global. O que existe atualmente é um conjunto de ordens jurídicas. Cada ordem jurídica é soberana, isto é, as normas jurídicas de A não atuam no território da ordem jurídica B, salvo se permitido por B. Cada Estado é uma ordem jurídica (elementos do Estado: território, população, soberania e poder - só existe soberania se estes 4 elementos se reunirem). A soberania surge quando uma grande potência reconhece. Ex: em 1822 houve o grito do ipiranga, puro formalismo, o Estado brasileiro surgiu apenas quando, em 1825, D. Pedro I foi à Inglaterra, negociou e conseguiu o reconhecimento inglês para o Estado brasileiro. A soberania torna a ordem jurídica impermeável (as normas de A não se aplicam ao território de B, salvo se permitido por B). Apesar da impermeabilidade, determinados princípios aparecem em varias ordens jurídicas (ex.: Princípio do respeito à vida humana. O que muda é apenas a sanção). Obras: Os grandes sistemas jurídicos. Mario G. Losano Sistema jurídico: É UM CONJUNTO DE ORDENS JURÍDICAS (ESTADOS) QUE ADOTAM PRINCÍPIOS COMUNS. Principais sistemas jurídicos: princípios com uma quantidade maior de seguidores 1) Sistema Romano-germânico (Civil Law) : Sistema da Europa continental e dos seus colonizados. Criando pelos romanos e melhorado pelos germanos. 2) Common Law (Law deve ser traduzido como direito): Sistema inglês e de seus colonizados. 3) Muçulmano, ou direito religioso. 5 Características 1) Romano germânico: DIREITO ABSTRATO (norma elaborada antes do acontecimento, a lei não pode retroagir, se aplica aos acontecimentos futuros, descreve abstratamente, quando os fatos se tornam concretos a norma pode ser aplicada,exceção existe na lei penal, que retroage para beneficiar) E MÉTODO DEDUTIVO (tem uma situação geral, que é a abstração e uma situação particular, que é a concretude, vai do geral para o abstrato. Abstratamente a norma diz que quem assume uma obrigação deve cumprir. Quem cumpre a obrigação está concretizando o abstrato. Geral é a norma, particular é o fato) , PREDOMINANDO A NORMA JURÍDICA ESCRITA DE ORIGEM LEGISLATIVA (predomina a norma jurídica legal). 2) Common Law: DIREITO CONCRETO (sem normas abstratas. O direito é criado a partir de fatos) E MÉTODO INDUTIVO (verificados os conflitos, em sua similaridade, criam-se as normas), PREDOMINANDO A NORMA JURÍDICA DE ORIGEM PRETORIANA (Juízes e tribunais, a partir de casos concretos, criam as normas). (No ano de 1106 os normandos invadiram a inglaterra. Na inglaterra viviam os saxões. Para conseguir administrar eles criaram 2 tipos de direitos. O direito normando, que era o direito comum, e o direito da equidade, que era o direito dos povos conquistados. Em linhas gerais, daí vem o nome direito comum). O sistema Common Law tem mais estabilidade do que o romano germânico. Obra: Rene David - O Direito Inglês 3) Sistema Muçulmano ou de direito religioso: AS NORMAS RELIGIOSAS SÃO, SIMULTANEAMENTE, NORMAS JURÍDICAS (É SISTEMA DE NATUREZAMISTA: AS NORMAS DO CORÃO SÃO ABSTRATAS ENQUANTO OS TRIBUNAIS CRIAM NORMAS SUPLETIVAS, QUE SÃO CONCRETAS). Os conflitos surgidos devido às novas tecnologias não estão previsto no corão, que foi escrito por Maomé, por volta do séc. VII. Os tribunais criam normas supletivas, pretorianas. No sistema romano- germânico, as normas mudam, o corão é imutável. A diferença consiste neste fato. A supletividade é apenas para aqueles casos que não estão no corão, por isto, o sistema é híbrido. As normas do corão são abstratas e as normas pretorianas são concretas. As normas presentes no corão são simultaneamente normas jurídicas legais. ANOTAÇÕES FINAIS: A) Norma jurídica e lei são inconfundíveis: - a norma jurídica é mais ampla (pode ser legal, pretoriana ou consuetudinária) enquanto a lei, em regra, cria norma legal (mas, se desprovida de sanção, contém apenas norma moral). Quando o texto legal não tem sanção, ele é norma moral. A sanção não precisa estar sempre na mesma lei que estabelece a regra de comportamento. Se a lei contem uma norma, uma regra de comportamento, sem sanção, ela é norma moral (ex.: Lei autorizativa - autoriza um ato, mas não tem sanção por não realização do ato). - a sanção pode estar na mesma ou em outra lei. A lei, em regra cria normas legais, mas excepcionalmente pode criar normas morais (caso da lei autorizativa). 6 - cada artigo de lei pode conter uma ou mais normas jurídicas (neste caso, as hipóteses são numerus clausus (se o aplicador não pode incluir outras hipóteses - são as chamadas hipóteses taxativas) ou apertus (aberta- exemplificativa) clausus (o intérprete pode ampliar, incluir outras hipóteses) ). O ideal é que cada artigo de lei seja apenas uma norma jurídica, apenas uma hipótese de comportamento. O legislador, para que os códigos não sejam muito extensos, utiliza a técnica da concentração - Em um artigo de lei, o legislador concentra várias normas jurídicas. Quando o artigo de lei é concentrado, a relação de interpretação pode ser numerus clausus ou taxativas - o interpretador não pode incluir outras hipóteses. Ou a relação de normas jurídicas do artigo é apertus clausus ou exemplificativa, o legislador apenas exemplificou, isso significa que o intérprete pode incluir outras hipóteses. Sempre que encontrar no texto legal expressões como: por exemplo, tais como, dentre outras - Indicam relação apertus clausus. Código Civil, Art.99. Código de defesa do consumidor, art. 51. Quando estas expressões não são utilizadas o intérprete tem que seguir algumas regras. No direito público, em geral é exaustivo - O direito público é regra, enquanto o direito privado é exceção. Em direito privado, em geral, é exemplificativo. No direito público pode fazer o que a lei permite. No direito privado pode fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. - podem existir exceções para estas regras - em direito, raramente uma coisa é absoluta. Quase sempre existem regras e exceções. 10/02/2011 B) Divisão do texto legislativo: 1 - INTERNA: artigos, incisos, alíneas ou itens e parágrafos. 2 - EXTERNA: partes, livros, títulos, subtítulos, capítulos, seções e subseções. O texto legislativo no Brasil tem 2 divisões. 1º uma divisão obrigatória, que é interna e depois uma externa que é utilizada apenas em leis mais extensas. Divisão interna. No Brasil, a lei é articulada (dividida em artigos) e os artigos são numerados. Nos 9 primeiros artigos a numeração é ordinal (1º,2º...) e a partir do 10 cardinal (10,11,12...). Lei complementar nº 95 de 1997. Esta lei disciplina como se redige textos legais no país. Ela determina que se uma lei alterar outra para incluir mais artigos não pode haver uma renumeração. Utiliza-se o ultimo artigo e o artigo seguinte, intercalado recebe letras maiúsculas. Ex.: Art. 103 da constituição. CPC - art.475, originalmente 475, mas em 2005 uma lei incluiu entre o 475 e o 476 vários artigos. Os artigos intercalados tem o número do ultimo acrescentado de letras maiúsculas. Ex.: Art. 103, Art. 103-A, Art. 103-B, Art. 104... 7 O ideal seria que o artigo de lei tivesse apenas uma norma jurídica, mas, na prática, isso é impossível. Em geral, quando o artigo de lei passa a contar com 4 ou mais normas jurídicas ele é fracionado em incisos. Os incisos são identificados pelos algarismos romanos, sem o símbolo do ordinal. Como não tem o símbolo, a leitura até o inciso IX pode ser cardinal ou ordinal. Cada inciso é uma norma jurídica e as vezes a norma jurídica (hipótese) do inciso é complexa e tem que ser desdobrada em subipoteses. Este desdobramento é feito utilizando alíneas ou itens. As alíneas são representadas utilizando letras minúsculas do alfabeto seguida de parêntese. Se o numero de subipoteses for superior à capacidade do alfabeto (maior do que 26), as letras são substituídas por algarismos arábicos. Quando os algarismos arábicos são utilizados, temos os itens. Ex.: Constituição, art. 5º, inciso 38; lei 6015 de 1973 (lei de registros públicos, art.167). As vezes o legislador precisa alterar alguma coisa do que ele escreveu no artigo. Quando isto acontece, a regra que está no artigo e recebe o nome de caput (em latim, significa cabeça, a parte superior do corpo). É quando amplia, restringe ou excepciona a regra do artigo. O artigo pode ter um ou mais parágrafos. Quando tem somente um parágrafo, obrigatoriamente tem que escrever por extenso, “parágrafo único”. Se o artigo tiver mais de um parágrafo, o símbolo § é obrigatório. Os parágrafos são identificados do mesmo modo que os artigos (os 9 primeiros ordinais e a partir do 10 cardinais). Se necessário o parágrafo também pode ser desdobrado em incisos, alíneas e itens. Para escrever uma referência, ela deve ser feita de forma inversa, para informar ao leitor onde ele vai ler. (Parágrafo, alínea, inciso e artigo). Divisão externa: Quando a lei é um pouco mais extensa (em geral, a partir de 20, 30 artigos), ela tem a divisão externa. Ex.: O código civil - Dividido em 2 partes - parte geral (com as normas gerais) e a parte especial (com as normas específicas). A parte não é numerada, tem-se apenas o nome da parte. A parte é dividida em livros, que são organizados de acordo com a numeração romana, sem o símbolo ordinal. Quando muda a parte, a numeração dos livros é reiniciada. O livro é desdobrado em títulos. No código civil, o título é desdobrado em subtítulos, (parte especial, livro 2, titulo 2). O título ou o subtítulo é fracionado em capítulos. Quando é necessário, o capítulo pode ser fracionado em seções. A numeração é sempre em algarismos romanos. Raramente existe a necessidade de fracionar a sessão. Quando isso acontece, são utilizadas as subseções (parte especial, livro I, título VI). A constituição não tem um livro tão extenso, por isso, ela é dividida em títulos, capítulos, seções e subseções. C) Divisão do Direito quanto ao destinatário da norma: 8 1 - privado: normas de comportamento dos particulares ou do Estado, quando equiparado a particular. O Estado é a soma de parcelas de vontades de particulares. As comunidades humanas, em cada época da história, atingiram um estágio evolutivo, que permitiu o surgimento do estado. O estado é a renúncia de uma parcela da liberdade para a criação de uma grande vontade (vontade supraindividual - acima dos indivíduos). A vontade do estado age acima das vontades individuais, para o bem de todos. O estado, em regra, atua como vontade supraindividual e portanto imperativa. (O Estado impõe o pagamento de imposto, o Estado impõe que um terreno seja desapropriado, mesmo contra a vontade de seu proprietário). Em alguns casos, excepcionais, o Estado se equipara ao particular. Ele sai da sua posição de vontade supraindividual e passa a agir como se fosse um particular. 2 - público: normas de comportamento do Estado (lato sensu - união, estados e municípios), quandoatua ius imperii (vontade supraindividual, quando o estado está impondo). Ex.: Se o Estado quer alugar um imóvel ele age como particular. O Estado não pode obrigar uma venda, porém nas desapropriações o estado age com sua vontade supraindividual. O direito processual é direito público, pois o estado, ao julgar o conflito de interesses, age ius imperii (o estado impõe a solução). O direito privado, em regra, contem regras supletivas da vontade dos particulares. O direito público contem normas imperativas (obrigatórias). D) Princípios do pensamento aristotélico: Aristóteles era filho de um famoso médico e ao viajar com o pai, conheceu diversos ordenamentos jurídicos. Aristóteles é o pai do constitucionalismo. O pensamento aristotélico tem 4 princípios: 1 – matéria (essência) e forma (aparência) (tem aplicação ampla no Direito). Direito material ou substantivo é o conjunto de normais jurídicas que cria direitos, impõe deveres e prescreve sanções. Direito formal, adjetivo ou instrumental é o conjunto de normas jurídicas que permite a aplicação do direito material. Ex.: Art. 9º Código Civil - “serão inscritos no registro público” - Impõe o dever, porém não fala onde registrar (este tipo de informação é encontrada em lei instrumental). O direito processual é instrumental, pois é por ele que o Estado aplica o direito material julgando conflitos de interesses por meio do processo. 2- universal e particular (tem aplicação mediana em Direito). Divisão entre gênero, que é geral e espécie, que é particular. 3 – potência e ato (tem aplicação restrita no Direito). Potência é possibilidade, é vir a ser. 9 Ato é efetividade, é ser. A norma jurídica é descrição hipotética, potencial, de acontecimentos, que, se concretizados, tornam-se atos. 4 – motor e ser movido (praticamente não é aplicado no Direito). Não é utilizado na aplicação do direito, mas pode ser utilizado na criação do direito. Tem- se o sentido físico, em que motor é algo que move alguma coisa e o plano metafísico, em que motora é uma ideia que movimenta outra, que é a ser movida. Ex.: Pressões sociais para que o congresso produza uma lei. Ver o filme Sócrates, dando atenção às ideias apresentadas pelo filme. Lide e tutela Lide: é a pretensão (alguém quer alguma coisa) resistida (a outra parte não concorda) gerada pelo conflito de interesses em relação aos bens da vida (vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade). Segundo Moacyr Amaral Santos, é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. A pretensão pode ser justa ou injusta. Do mesmo modo, a resistência pode ser justa ou injusta. O direito processual tem como objeto a pretensão e a atividade do juiz consiste em decidir se a pretensão é justa ou injusta ou em parte justa em parte injusta. Os objetos da lide (conflito de interesses) são os bens da vida, que estão relacionados no artigo 5º da constituição. Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) 15/02/2011 Lide é sempre um conflito de interesses. Um conflito ocorre quando alguém quer alguma coisa e o o outro resiste. O conflito só pode surgir do comportamento externo do ser humano. Pretensão: querer alguma coisa (pode ser justo ou injusto) Resistência: Oposição (pode ser justa ou injusta) O direito existe para que o Estado possa solucionar os conflitos. O Estado soluciona os conflitos aplicando o direito material e a forma de comportamento do Estado para solucionar o conflito decorre do direito processual. Há conflitos que não interessam ao direito (ex.: o comprador quer comprar por um preço e a vendedora quer vender por outro preço. Caso a compradora ofenda a vendedora, o conflito passa a interessar ao direito, pois a compradora está praticando um ato ilícito). A tarefa do juiz é decidir se a pretensão é justa ou injusta. Tutela: é a atuação do Estado para manter ou restabelecer a paz na sociedade. Tutela é sempre um modo de atuar do Estado, procurando a pacificação. O conflito é o 10 rompimento da paz. Por menor que seja o conflito, ele rompe a paz. Na atualidade, a missão pacificadora é atribuída ao Estado (que tem vontade supra individual). Esta missão tem dois aspectos. 1º a missão de manter (tentar evitar um conflito) a paz. 2º A missão de restabelecer a paz, caso ela seja rompida pelo surgimento de um conflito. O Estado tenta manter a paz elaborando regras jurídicas. A tutela pode ser: a) jurídica (ou preventiva): dever do Estado que consiste em elaborar normas jurídicas materiais legais (e, às vezes, pretoriana, quando não existir norma legal) para assegurar a paz na sociedade. Sujeitos do direito: destinatários da norma jurídica. Os seres humanos são inteligentes, por serem inteligentes são livres e por isso podem optar por um comportamento conforme a norma (jurídico) ou contrário a norma (antijurídico). Ao adotar um comportamento antijurídico, o ser humano está prejudicando a paz. O ser humano é contraditório. Ele quer a paz, mas provoca conflito. Quando o conflito acontece, cabe ao estado restabelecer a paz, julgando o conflito e estabelecendo sanção. Isto é feito através da tutela jurisdicional ou repressiva. b) jurisdicional (ou repressiva): realização in concreto do direito material violado e não satisfeito de modo espontâneo. É prestada pelo poder judiciário. Tem a função de realizar concretamente o direito material, a fim de solucionar conflitos. Se a pessoa que teve conduta antijurídica não satisfazer de modo espontâneo o restabelecimento da paz, é necessário acionar o Estado para resolver o conflito. Na esfera penal tem que haver a tutela jurisdicional (não tem como resolver o conflito espontaneamente). Art. 2º CPC: Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais. A leitura deve ser feita de forma positiva: O juiz prestará tutela jurisdicional apenas quando a parte ou interessado requerer nos casos e formas legais. A tutela jurídica é prestada, preferencialmente, pelo poder legislativo. O executivo utiliza- se da medida provisória para prestar tutela jurídica. Medida provisória é um instituto do parlamentarismo, pois o primeiro ministro tem sempre a maioria no parlamento (se ele não tiver a maioria ele cai). No presidencialismo, este instituto é criticado, pois o presidente nem sempre tem a maioria no parlamento, mas mesmo assim tem o poder de legislar. As leis pretorianas são outra exceção (na falta de norma legal, o poder judiciário presta tutela jurídica). A tutela jurisdicional é prestada apenas pelo poder judiciário. Só quem é juiz pode prestá- la. O poder legislativo toma decisões que não tem caráter jurisdicional, pois essas decisões podem ser questionadas e revistas pelo poder judiciário. Existe um lapso temporal muito grande entre o surgimento do homem e a criação do Estado. Antes do surgimento do Estado os conflitos eram solucionados de diferentes formas: A primeira forma de satisfação do direito material era a autodefesa. Como não havia uma vontade supra-individual, permanecia a vontade do mais forte. Não importa o motivo, prevalece a vontade de quem tem força. Na maioria das vezes, a solução é injusta. 11 A autodefesa não desapareceu por completo. O Estado é um ente abstrato. A concretude são os seres humanos que atuam em nome do Estado. Todo este conjunto de pessoas naturais, que atuam em nome do estado, são chamados agentes do Estado. É impossível para o estado manter, permanentemente, os seus agentes impedindo que existam condutas antijurídicas. Não convém ao Estado criar covardes. (Se um país perder 1 metro quadrado de seu território não faz diferença,mas se o país não defender 1 metro quadrado no dia seguinte o vizinho invade porções maiores do território). Quem defende o Estado é a população, por isso, o Estado não pode estimular a covardia. Justamente por não poder estimular a covardia, o Estado permite que, em caráter excepcional, o particular pratique a autodefesa. Não há crime quando o fato é praticado em legítima defesa. Autotutela exercida dentro da lei, pois naquele momento faltavam agentes do Estado para impedir aquela situação. Quem satisfaz aos requisitos da lei penal praticou uma autodefesa legítima. Quando o agente estrapola a lei penal, ele responde pelo excesso e a autodefesa é ilegítima. A legítima defesa é a autodefesa praticada dentro dos limites da lei, pois naquele momento não havia representante do estado presente, capaz de impedir a violação do direito. Durante um período muito grande, as coisas eram resolvidas baseadas na força. 1) Autodefesa: nos primórdios da humanidade consistia no emprego da força porque não existia vontade supra-individual (vontade do Estado). Na atualidade, como exceção, consiste em suprir a ausência de agente do Estado quando a ameaça de lesão ao direito material pode ser concretizada (só é admitida, estritamente, nas hipóteses previstas em lei). A autodefesa é um estado de permanente desordem. Gera uma autodestruição. O ser humano evoluiu para uma segunda forma de solução de conflitos, para evitar a autodestruição. Autocomposição: Os próprios envolvidos no conflito encontram a solução, sem a participação do Estado. No lugar da força se emprega a inteligência. 2) Autocomposição: forma evoluída de solucionar o conflito pelas próprias partes. Pode ser: a) unilateral: desistência integral da pretensão ou da resistência; (o pedinte, ao não conseguir ganhar a fruta fala que não quer mais) b) bilateral: concessões mútuas (redução de intensidade da pretensão e da resistência). (o pedinte que queria ganhar concorda em comprar e o feirante, que queria vender por um preço aceita um preço menor). É um acordo. A melhor forma de resolver conflitos é a autocomposição, pois a solução do Estado é imposta. A autocomposição sempre depende da convergência de vontades. Quando não é possível esta convergência, é utilizada a terceira forma de satisfação do direito material (o processo). Agora que o estado existe, caso as partes não consigam resolver os conflitos, ele os soluciona dentro de um processo. A solução é feita por um terceiro desinteressado no objeto da lide, ou seja, por um terceiro imparcial. A solução pela via do processo quer dizer que quem vai julgar tem que ser imparcial. Por exceção, existe o processo voluntário, em que as partes escolhem o árbitro. Processo obrigatório: Ocorre quando o Estado, através do poder judiciário julga o conflito. Esta é a forma de processo mais utilizada. Processo voluntário: Quando a solução é feita por um terceiro que não pertence ao poder judiciário, um terceiro escolhido pelas partes. Este terceiro chama-se árbitro. Presume-se que o árbitro seja imparcial, pois ele é escolhido pelas duas partes. A lei brasileira impõe uma série de restrições. Lei 9307 de 1996. Só conflitos da área civil. As partes devem ser maiores e capazes. O objeto do conflito deve ser direito patrimonial disponível. 12 Direito patrimonial é aquele que envolve bens. Direito extrapatrimonial é aquele que envolve personalidade. O direito patrimonial pode ser disponível ou indisponível. Os bens podem ser alienáveis ou inalienáveis. Se o bem é inalienável, o direito patrimonial é indisponível. O processo obrigatório independe da convergência de vontades. O processo voluntário tem um custo muito elevado. Isto faz com que este processo seja bom para grandes empresas, que o utilizam com a finalidade de preservar os segredos, uma vez que o processo obrigatório é público. O processo voluntário é feito fora da justiça e a sociedade nem precisa ficar sabendo. O processo voluntário pode ser levado a justiça caso o devedor não pague o credor no final do processo. O árbitro não pode obrigar o perdedor a cumprir sua decisão. No momento em que o ganhador vai à justiça a sociedade toma conhecimento (acontece poucas vezes de o devedor acionar a justiça para fazer cumprir a decisão tomada em um processo voluntário, o que leva a crer que grande parte das pessoas cumprem a decisão do árbitro). O segredo tem o preço do custo elevado do processo. No congresso nacional tem o projeto da lei da mediação, que irá alterar esta lei. Se aprovada a lei da mediação, os requisitos serão outros. O processo obrigatório é utilizado quando não pode ser utilizado o processo voluntário ou os envolvidos no conflito não se interessam pelo processo voluntário. 3) Processo: consiste na arbitragem do litígio por terceiro desinteressado em seu objeto. Pode ser: a) voluntário: quando as partes escolhem quem vai julgar o conflito (árbitro); b) obrigatório: quando o julgamento do conflito é feito pelo Estado, através do Poder Judiciário. Unidade 2 - Evolução do direito processual A codificação mais antiga de que se tem notícia é o código de Hamurabi. Ele ordenou que um grupo de assessores registrasse as leis vigentes na época. Estas leis foram escritas em bronze e atualmente temos aproximadamente 80% conservada. Parte dessa lei é dedicada às normas processuais. Ler: Código de Hamurabi. O direito escrito por Hamurabi era muito mais antigo. O direito processual é muito antigo. O nosso sistema jurídico é o romano-germânico e por esse motivo, não vamos recuar tanto no tempo. Vamos estudar a história do direito processual a partir de Roma, por causa da nossa herança romana. Os romanos não criaram o direito processual, ele é muito anterior a Roma. Os romanos aprimoraram o direito processual. Para estudarmos o direito processual romano, temos que fazer uma recordação dos períodos da história política de Roma. 17/02/2011 No código de Hamurabi já existiam normas processuais. Nossa cultura jurídica é romana, por isso, não vamos estudar a legislação processual de povos mais antigos. Nos iremos estudar a história do processo a partir de Roma (que não criou o direito processual, apenas o aprimorou). Para estudarmos a história do direito processual em Roma, precisamos recordar a sua história política, que é dividida em três períodos. 13 A cidade de Roma está praticamente no centro da Itália, se considerarmos norte e sul. Roma fica próxima ao mar, próxima à Grécia. Os romanos tinham muito contato com os gregos. Período monárquico: 754 a.C. até 510 a.C. A fundação de Roma, como toda cidade antiga, está envolvida em um mito. Próximo a Roma existiam templos em que virgens serviam às divindades. Em um templo daqueles havia uma vestal (virgem) que ficou grávida e não pode continuar no templo. Terminada a gravidez, ela deu a luz a dois filhos : Rômulo e Remo. Os recém nascidos são abandonados em uma cesta ás margens do rio Tibre. O mito começa quando os dois recém nascidos, chorando de fome, são visitados por uma loba. Naturalmente, na visão da loba, estavam ali dois alimentos. Como o mito é antinatural a loba os amamentou. Algum tempo depois, um pastor encontrou as crianças e as levou para sua casa, onde sua mulher os criou. Posteriormente, os dois fundaram a cidade de Roma. Não existe nenhum vestígio concreto da existência de Rômulo e Remo. Na região de Roma, haviam vários povos. Os Sabinos eram os vizinhos mais próximos. Os romanos promoveram uma festa e convidaram os Sabinos, que compareceram com as suas famílias. No meio da festa, os romanos embriagaram os Sabinos, mataram eles e ficaram com suas mulheres. Estes homicidas e estupradores vão se tornar a classe nobre de Roma, os patrícios (pais da pátria, que se diziam descendentes dos fundadores da cidade). Os romanos viviam em guerra com os Etruscos. Nos primeiros tempos,os romanos, que tinham seu território cercados por outros povos, que eram governados por reis, também adotaram um rei, por isso, o período chama-se monarquia. Pelos nomes dos primeiros reis de Roma, pode-se dizer que muitos deles eram Etruscos. No ano de 510 a.C., os romanos, que estavam suficientemente fortes, expulsaram o último rei Etrusco e inauguram um novo período, que vai de 510 a.C. até 27 a.C. Devido a proximidade com os povos gregos, eles copiaram o modelo ateniense, portanto, o segundo período chama-se república (coisa pública). Vale lembrar que povo se refere apenas aos patrícios (nobres). Os romanos foram geniais ao criar uma instituição, o senatus (senado), instituição que atravessou os tempos e chegou aos nossos dias. Senatus vem de senectus, que significa o homem mais velho (a mulher não participava). O senatus era composto pelos homens mais velhos da comunidade, sempre patrícios. Em Roma não havia eleição, o nobre, ao atingir certa idade, era integrado ao senado. O senado governava a cidade. Enquanto Roma foi uma cidade relativamente pequena, o senado governava sem problemas, porém, ao expandir o território (através de guerras), e aumentar a população, os senadores começaram a precisar de auxiliares para governar as cidades. Os auxiliares eram chamados pretores (comparando com a atualidade, seriam equivalentes aos ministros de estado, com a diferença de que atualmente o presidente escolhe os ministros, na Roma antiga os pretores eram eleitos em uma assembleia anual).Os pretores eram nobres e ficavam no cargo por um ano, podendo ser reeleitos. Chega um momento em que é necessário criar uma pretoria para a justiça (existia o pretor da guerra, das estradas, etc.), que foi a que permaneceu. 14 Neste primeiro período, o Estado romano se expandiu (com a expansão vem a riqueza, pois quem vencia a guerra saqueava os povos perdedores e os escravizava). Quem fica rico com as novas conquistas são os nobres. Onde há riqueza há corrupção e isto não agradava aos generais, pois quem corria o risco na guerra eram os soldados. Foi criando um clima de revolta, até que, pouco antes do ano de 27 a.C aconteceu uma revolta mais séria. O general vencedor tinha direito de uma homenagem pública em Roma. Próximo a Roma havia um rio, e o general deveria deixar a tropa e atravessar o rio sozinho. Terminada a homenagem, o general voltava, pegava sua tropa e ia para outra guerra. Próximo ao ano 27, um general descumpriu a lei, atravessou o rio com sua tropa e tomou o poder. Este general estava apoiado por mais dois generais. Inicialmente, os três se tornaram governantes, houve um triunvirato (associação política entre três homens em pé de igualdade). Posteriormente, um general matou os outros e se tornou imperador. Com isso, inicia-se o período imperial (27a.C até 476 d.C). No final do império (395 d. C.), um imperador com 2 filhos que não se entendiam dividiu o território em duas partes (uma para cada filho, o imperador pensou que depois o império se reunificaria). O período imperial que nos interessa, o do ocidente, vai de 27a.C até 476 d.C. O império romano do oriente durou por mais tempo (até 1453, queda de Constantinopla). No auge do império, os imperadores precisaram dividi-lo, pois o senado começou a não ter força política e ser desmoralizado (existe a história de um imperador que nomeou seu próprio cavalo como senador). O império foi dividido em províncias. Em 476, com a deposição do último imperador, desaparece o império romano do ocidente. Os três períodos políticos da história do império romano geram três períodos na história do direito processual (com datas não coincidentes). 1) Legis actiones (754 a. C. até 149 a. C.) 2) Per formulas (149 a. C. até 294 d. C.) 3) Cognitio extraordinaria (294 d. C. até cerca de 476 d. C.) 1) Legis actiones (754 a. C. até 149 a. C - toda a monarquia e uma parte da república.): baseava-se na Lei das XII Tábuas e era mesclado de direito religioso além de extremo rigor formal. Dividia-se em duas fases: 1.1) in iure (pública): desenvolvia-se perante o magistrado-sacerdote e o autor deveria levar o réu, ainda que a força, até a presença do magistrado, para que fosse deduzida a pretensão; se o sacrifício religioso fosse propício, era concedida a ação. 1.2) in iudicio (privada): desenvolvia-se perante o arbiter (escolhido por acordo entre as partes) ou o iudex (escolhido pelo autor dentre uma lista de iudicis). Novamente o autor deveria levar o réu, mesmo a força. era deduzida a pretensão, oposta a resistência, colhidas as provas e proferida a sentença. O Estado não executava a decisão mas o vencedor tinha ius vitae ac necis (direito de vida e morte) sobre o perdedor e sua família. Bem no início de Roma, foi elaborada a lei das XII tábuas (lei fracionada em 12 partes - o que chamamos atualmente de livros, era chamado de tábuas). Esta lei previa cinco ações para todos os conflitos (legis actiones - ações da lei). A lei das XII tábuas era fortemente influenciada pelo direito religioso, pois, originalmente, a população romana era analfabeta, inclusive os nobres (o importante era fazer guerra) e os poucos que sabiam ler e escrever eram sacerdotes, que influíam, criando o direito religioso. 15 Roma era politeísta e muito tolerante em relação às religiões (só não admitia religiões que pudessem colocar o Estado em risco). Ao longo da história religião sempre influiu, no caso de Roma, os romanos eram tolerantes, desde que não colocasse o estado em risco. Eles eram politeístas devido à proximidade com a Grécia. Todas as religiões tinham seus templos e em seus templos os sacerdotes, que, em geral, eram alfabetizados. Rigor formal: obediência cega a determinadas formas. No processo romano, uma palavra errada, uma vírgula fora do lugar, anulava o processo. Típico de populações analfabetas, que precisam de rituais para memorizar. Ex.: Houve um período em Roma em que, a pessoa, para se tornar proprietária deveria caminhar em torno da propriedade. Com o crescimento do imóvel isso ficou mais difícil e a solenidade passou a ser apenas colocar o pé direito na parte mais alta do imóvel (se a pessoa tiver o pé direito amputado, o que era comum em uma época em que haviam muitas guerras, ela precisaria nomear alguém para cumprir o ritual por ela). No processo era tudo extraordinário. O processo, em Roma, dividia-se em duas fases: A primeira fase do processo era perante ao estado, fase em que o autor buscava a autorização para iniciar o processo. Quem representava o Estado era o sacerdote, pessoa que sabia ler e escrever. O autor (pessoa que tem uma pretensão que sofreu resistência) procurava o sacerdote da sua religião. O autor precisaria levar o réu (pessoa que resistiu), até o templo. Caso o réu resistisse, se o autor conseguisse, ele poderia leva-lo a força. Se o autor não tivesse força para levar o réu, ele procurava leva-lo pela desmoralização. O réu tinha que chegar em dia em que o sacerdote estivesse atendendo (dies factus). Se chegasse em dia de atendimento, o sacerdote ouvia o autor, o réu e depois fazia um sacrifício religioso, que variava de acordo com a religião. Depois de ouvir a pretensão e a resistência, na maioria dos casos, um animal era sacrificado. Em cada religião o sacrifício era feito de uma forma. No momento do sacrifício, o sacerdote iria consultar a divindade, para ver se ela queria o processo. A consulta à divindade era feita de forma puramente subjetiva e arbitrária. O sacerdote analisava subjetivamente o sacrifício religioso e se dizia porta voz da divindade. A última dificuldade que o autor tinha que enfrentar nessa fase era a interpretação favorável do sacrifício religioso. É fácil imaginar que o sacerdote poderia ser subornado pelas partes. Se o autor conseguisse uma interpretação favorável, era concedida a ação. Se concedida a ação (sacrifício religiosopropício), passava-se a segunda fase. Fase privada, em que os envolvidos no conflito poderiam escolher quem iria julgar (um arbiter). Esta pessoa não podia integrar o Estado. Nem sempre se conseguia o acordo. Quando não ocorria o acordo, era escolhido o iudex (escolhido pelo autor em uma lista de voluntários existente em Roma - lista dos iudicis). O árbitro ou o juiz, decidia onde ele ia atender e o autor, novamente, tinha que conseguir levar o réu com ele. Se não conseguisse levar o réu, não existia processo. Se conseguisse, era ouvida a pretensão, a resistência, colhidas as provas e o julgamento era feito. Quem ganhasse não podia contar com o Estado, salvo em caso de pena de morte (em que o estado executava a pena). O ganhador tinha que ter força para fazer o perdedor cumprir a sentença. 16 O Estado não fazia nada pelo ganhador, porém, ele tinha o ius vitae ac necis (direito de vida e morte sobre o perdedor e sua família). Nem sempre esse direito era utilizado, pois era preferível receber a dívida a matar o devedor. Era mais inteligente do que matar escravizar. Matar era exceção. O ius vitae ac necis começa a desaparecer muito tempo depois desse período, quando os romanos conquistam a Grécia e, posteriormente, com o cristianismo, o ius vitae ac necis acaba de vez. Nesta época não havia a limitação da obrigação (toda a família podia responder pela dívida). O estado, embora ainda fraco, começa a limitar a autodefesa. A utilidade do processo era poder empregar força com legitimamente. A sentença legitimava o emprego da força para obter a satisfação. Sem processo, o emprego da força era criminoso. No período da república Roma cresceu muito, obteve muitas conquistas. Roma era tolerante a religião dos conquistados (desde que não prejudicasse o estado). Por ter se tornado uma cidade muito importante, nesse período de expansão, no império romano, haviam 3 tipos de direito: a) Ius civile: (direito civil, direito do cidadão romano (filho de um homem romano) - a cidadania romana era patrilinear, isto é, obtida pela linha paterna. Filho de pai romano, sem levar em conta a mãe era romano. Filho de mãe romana não necessariamente era romano). b) Ius gentium: Direito de estrangeiros e conquistados perante Roma c) Ius loci: Direito local (direito dos conquistados naquilo que não contrariasse o interesse romano). No direito processual, apenas os cidadãos romanos tinham acesso a justiça, pois Roma não impunha religião aos conquistados (o autor deveria buscar o sacerdote da sua religião). Como não tinha religião imposta, os estrangeiros não tinham religião romana e, por isso não tinham acesso à tutela jurisdicional. 2) Período per formulas: com a edição da Lex Aebutia, em decorrência da expansão do território pelas conquistas, foi criada a Pretoria Peregrina para solucionar os conflitos entre estrangeiros e conquistados. Devido ao sucesso, foi criada, também, a Pretoria Urbana para os romanos. O Pretor era escolhido com mandato de um ano e, antes de iniciar a gestão, deveria escrever o direito a ser observado e as respectivas ações, reunidas num álbum. Cessou o subjetivismo e a arbitrariedade do período anterior quanto à admissibilidade da ação. O processo tinha duas fases, porém, com outras características: a) in iure (pública): desenvolvia-se perante o Pretor. O autor, que deveria levar o réu mesmo a força, examinava o álbum exibido pelo Pretor. Se encontrasse uma ação para o seu conflito, era extraída uma cópia da fórmula (procedimento) para ser entregue ao arbiter ou ao iudex. A crescente complexidade do álbum fez surgir o ad vocatus (chamado para junto de) porque o leigo já não entendia as normas jurídicas tanto materiais quanto processuais. b) in iudicio (privada): desenvolvia-se perante o arbiter (escolhido por acordo entre as partes) ou o iudex (escolhido pelo autor dentre uma lista de iudicis). Novamente o autor deveria levar o réu, mesmo a força. Era deduzida a pretensão, oposta a resistência, colhidas as provas e proferida a sentença, porém, com estrita obediência à fórmula do Pretor. O Estado não executava a decisão. 17 A lex aebutia foi criada para resolver este problema. Esta lei cria mais uma pretoria (a pretoria peregrina, que era utilizada para aplicar o ius getium, enquanto o sacerdote aplicava o ius civile). Neste momento começa o período per formulas (149 a.C até 294 d.C) O sucesso da pretoria peregrina foi grande, pouco tempo depois os romanos quiseram criar uma pretoria para os cidadãos de Roma e retirar do sacerdote a tarefa de exercer a tutela jurisdicional. Para isso, eles criaram o pretor urbano, que exercia o ius civile. O pretor era eleito em uma assembleia anual, por um ano, podendo ser reeleito. O pretor peregrino e posteriormente o pretor urbano tinham uma obrigação a cumprir. Depois da eleição, antes de assumir o cargo, eles deveriam escrever todo o direito material e processual que seria admitido em suas gestões. Um pretor sempre queria superar seus antecessores, por isso houve grande evolução no direito romano nesse período. No caso do direito processual, além de dizer o que era direito, o pretor tinha que dizer quantas e quais ações ele ia admitir. A grande novidade é que para cada ação ele tinha que escrever um roteiro, a ser observado pelo árbitro ou pelo juiz. No período anterior, o juiz ou o árbitro elaboravam o processo como eles bem entendessem. O Roteiro é a receita (procedimento) de como o processo deveria ser feito. Como o juiz e o árbitro procederiam fazendo o processo. Ações e roteiros eram reunidos em um livro, chamado álbum. Isto acaba com o subjetivismo do sacerdote, do juiz e do árbitro. Agora não se interpreta mais sacrifício religioso, procura-se no álbum se existe ou não ação correspondente para aquele conflito. O processo continua com duas fases, a reforma não foi integral. A fase pública era ainda perante o estado, mas agora, o estado é representado pelo pretor. O autor continua tendo que levar o réu com ele. Esta dificuldade continuou, porém neste período o réu tem que ser levado até a pretoria e o pretor atendia quase todos os dias, enquanto o sacerdote, atendia apenas em alguns dias do ano. Chegando à pretoria, o autor expunha ao pretor a sua pretensão e o réu era ouvido. Agora não tem sacrifício religioso. O pretor entrega o álbum ao autor e pede que ele procure a ação para o conflito. Agora não é mais subjetivo. Se esta no álbum tem processo, se não está no álbum não tem processo. A população continuava analfabeta e mesmo o leigo sabendo ler, ele não conseguia interpretar o álbum. O autor, leigo e muitas vezes analfabeto, não conseguia interpretar o álbum, por isso ele levava alguém com ele, o ad vocatus (alguém que tinha conhecimento e era chamado para ajudar o autor). Com o tempo o ad vocatus passou a ajudar também o réu. O ad vocatus era um nobre, geralmente com pretensões políticas. Aqui começa a abstração da norma. Se o autor encontrasse a ação, ele falava com o pretor, que mandava um auxiliar fazer uma cópia do roteiro daquela ação. O roteiro era a fórmula, que deu nome ao período (per formulas). A fórmula é uma pequena forma (a forma era o álbum inteiro). A cópia da ação era a fórmula. O pretor entregava a fórmula para o autor, autorizando o processo. Terminou a fase pública. Agora é a fase privada. Se não for encontrada ação não tem processo. A fórmula limitou a forma de se fazer o processo. Juiz e árbitro não fazem o processo como querem. Eles tem que seguir a fórmula. O ad vocatus sempre foi um patrício, em geral nobre, com aspirações políticas, pois esse era um modo de ele ser reconhecido na sociedade. Livros: História da vida privada (1º volume). Não confundir com a história da vida privada no Brasil. A obra indicada é francesa. Veite Valentin - História universal (1º volume) 18 22/02/2011 Na fase privada,autor e réu poderiam combinar um árbitro e caso não houvesse o acordo o autor escolhia um juiz em uma lista estatal. O réu tinha que ser levado até o local onde o árbitro ou juiz estava. Tudo ocorria da mesma forma que nos períodos anteriores. O estado continua inerte. A diferença é que neste período (per formulas) era tudo feito de acordo com a fórmula do pretor. Este período, (per formulas) abrande o final da república e uma parte de império. Neste momento, Roma encontra-se no auge da sua expansão, mas pouco depois começa o declínio. Chega um momento (final do século II) em que faltam romanos até para garantir o território, os soldados diminuem. Daí vem a necessidade de contratar soldados mercenários, que começaram a ver as fraquezas do império. Além disso, ocorre a divisão do império. A pretoria peregrina ficava originalmente em Roma, mas ela foi criada para os estrangeiros e conquistados. Em cada província, havia um representante do pretor peregrino (o Procurador). Por volta do ano 30, cristo foi preso pelos sacerdotes (segundo o ius loci). Os sacerdotes tinham muito medo dos Romanos. Eles mandaram cristo para o representante do pretor peregrino (Pilatos). Cristo foi interrogado e segundo o ius gentium, cristo não tinha feito nada contra Roma. Pilatos falou que não viu culpa em cristo. Pilatos quis acalmar o povo, torturando cristo e mostrando ele machucado. Pilatos devolveu cristo para o sinedrium. Cristo foi julgado segundo o ius loci. Os sacerdotes tentaram deslocar o julgamente para o ius gentium, mas Pilatos não o condenou. Pena de morte não era permitido que os conquistados executassem, portanto, quem executou cristo foram soldados Romanos. O primeiro julgamento de um conquistado (Cristo) foi feito segundo o ius loci (direito dos conquistados, naquilo que não contrariasse o Estado romano). O apóstolo Paulo era filho de pai romano e mãe grega, portanto, ele era romano. Ele foi preso na região da judeia, acusado de atentar contra Roma. Ele foi levado ao tribunal local (sinedrium) e invocou a condição de cidadão romano (o julgamento de romano era só em Roma - o pretor urbano não tinha representantes). Ele queria ser levado até Roma para ter mais notoriedade e difundir as suas ideias. Ele sabia que condenado a morte ele seria (pelo menos como soldado desertor). Paulo sabia que ele ganharia mais notoriedade pregando em Roma. Ao ser levado para Roma, ele foi julgado segundo o ius civile. Foi condenado a morte e executado, mas foi segundo o ius civile. Romano era julgado em Roma, não romano era julgado em qualquer lugar. Ler: O julgamento de cristo - Cohen. O Estado romano está em franca decadência e no ano de 216. Neste período o imperador se chamava Caracala. Caracala reforma o direito material numa tentativa de evitar o colapso do império. Na época de Caracala, os soldados mercenários, principalmente os germânicos já estavam tomando partes do território romano. Caracala, em 216, estende a cidadania romana a todos os habitantes do império (a cidadania deixa de ser patrilinear). Começa a discussão sobre se é melhor o ius loci ou o ius sanguinis. Ius sanquinis (cidadania definida pelo direito de sangue). Ius loci (cidadania definida pelo local onde nasce). Acabou a distinção entre romanos e conquistados. Isto leva a unificação do direito material. Já não há mais ius civile e ius gentiun. Agora existe o ius romanun. As pretorias são unificadas. A pretoria peregrina e pretoria urbana se trensformam em pretoria da justiça. A reforma do direito material (unificação do direito romano), feita em 216, gera em 294 a reforma do direito processual. Neste momento começa o último período do processo romano, que é o período da Cognitio extraordinaria (294 d.C até cerca de 476 d.C). 19 Cognitio extraordinaria (294 d. C. até cerca de 476 d. C.): com a unificação do direito material e das pretorias (em 216, pelo Imperador Caracala) o processo passou a ser completamente estatizado, acabando as duas fases. O próprio Estado encarregava-se de levar ao réu a notícia da demanda proposta e executava a decisão. Passou a ser possível a revisão do julgamento mediante recurso. Cognitio extraordinaria (294 d. C. até cerca de 476 d. C.) - institutos: a) citatio: notícia levada ao réu informando a existência de demanda contra ele; b) revelia: como o réu não mais era levado a força, se deixasse de comparecer, os fatos articulados pelo autor eram considerados como verdadeiros; c) appellatio: cessada a faculdade de escolha do iudex, passou a existir o direito de pleitear a revisão do julgamento por órgão judiciário superior. d) executio: o vencedor não mais necessitava obter diretamente a satisfação do direito material reconhecido. Noções básicas de latim Iustitia - O primeiro ti é forte, leia-se ti. O segundo é fraco leia-se çi. As palavras terminadas em io são femininas e em português terminam em ão. A pronúncia do X é sempre KS. As letras, no final, são lidas como elas são. O não vira U. A unificação do direito material leva a unificação do processo, que passa a ser todo estatizado. Não é mais exigido que o autor leve o réu ao juiz e o juiz passa a integrar o Estado. O Estado é que leva a notícia da demanda ao réu. Como o juiz não é mais escolhido, é imposto, o perdedor da demanda não é mais obrigado a aceitar o primeiro julgamento. Ele pode pedir uma revisão do julgamento em um órgão superior. A estatização tem outra novidade, o Estado passa a executar as decisões. O estado é que vai obrigar o perdedor a cumprir. Se o ganhador usar a própria força, ele estará praticando crime. Ou o perdedor cumpre espontaneamente ou o estado obriga o perdedor a cumprir. Neste período foram criados quatro institutos: 1) Citatio (citação): Notícia que um funcionário do Estado leva ao réu, informando que o autor iniciou um processo contra ele. Não confundir com intimatio (intimação), que foi criada antes. Ela é uma notícia que se leva a alguém, parte ou não do processo, para fazer ou deixar de fazer alguma coisa no processo. 20 2) Revelia: Agora o autor não tem mais que levar o réu com ele. Cabe ao Estado a tarefa de levar a notícia do processo ao réu. Nos dois períodos anteriores, como o autor tinha que levar o réu com ele até o juiz ou árbitro, o réu era ouvido neste momento. Se o réu fosse citado e não comparecesse no processo para apresentar a resistência existia o instituto da revelia. Neste caso, tudo o que o autor alegasse, se não fosse impossível, era considerado verdade. O autor alega acontecimentos do mundo da realidade que tenham consequência jurídica. Se o réu não oferece resistência, todos os acontecimentos do mundo da realidade alegados pelo autor passam a ser verdadeiros. Em Roma, a revelia consistia nisso tanto na jurisdição civil quanto na penal. Atualmente, esta presunção só acontece na jurisdição civil. Na jurisdição penal, hoje, também existe revelia, mas o efeito é o juiz nomear um advogado para fazer a defesa do acusado, porque ele não pode ser julgado sem defesa. 3) Appellatio (apelação): Agora o juiz é um membro imposto do Estado, portanto, feito o primeiro julgamento, o perdedor não é obrigado a aceitar o resultado. Ele pode pedir que um órgão judiciário superior faça uma revisão do julgamento. Antes, as partes eram obrigadas a aceitar o julgamento, pelo fato de o árbitro ser escolhido. Atualmente, appellatio é o nome de uma espécie de recurso, tanto na jurisdição civil quanto na penal. 4) Executio (execução): é o Estado obrigando o perdedor a cumprir. Ou o perdedor cumpre espontaneamente ou o ganhador não pode empregar sua força própria. O vencedor da demanda deve recorrer ao Estado para fazer valer o seu direito. (Atualmente: arts. 660 e 661 CPC). Em 476 foi deposto o último imperador do ocidente. Acaba o império romano do ocidente e termina a história do processo romano. Agora, o nosso interesseé pela península ibérica, pois fomos colonizados por portugueses. Sugestão de leitura: Revista história viva - Bárbaros. Quando o império ocidental se esfacelou, houve o caos na península ibérica e vários povos passaram por lá, saquearam e foram para outras regiões. Não se fixaram. Os Vândalos e os Unos, que não tiveram contato com os romanos, eram os mais bárbaros. Os Visigodos, que tiveram muito contato com os romanos, eram bastante civilizados. No ano de 506, um Visigodo (Alarico) editou uma lei que alterou o processo romano. Esta lei, em homenagem a ele, ganhou o nome de Breviarium Alaricianum, que trouxe para a península ibérica instititos processuais romanos. O instituto bom, o das decisões colegiadas (entre os germânicos, era comum resolver os conflitos com o julgamento das pessoas mais velhas da comunidade). Decisão monocrática: decisão feita por um Decisão colegiada: decisão feita por mais de um. Roma não conheceu decisão colegiada. Os casos eram sempre julgados por um só juiz ou árbitro. O instituto ruim surgido foi o das ordálias: entre os germânicos as ordálias, também chamadas juízos de Deus, eram comuns. Eles acreditavam que deus protege quem fala a verdade e pune o mentiroso. Se havia dúvida quando a veracidade dos fatos, vinha esse juízo de Deus (Ex.: Pede-se para o acusado escolher entre duas direções, uma representa a vida e outra a morte. Eles acreditavam que Deus protegeria o acusado se ele estivesse falando a verdade e, portanto, neste caso ele escolheria pelo lado que Deus pensasse ser o mais justo). Este instituto desapareceu. 21 A tortura legal, na maioria das ordens jurídicas, não existe mais. O ano de 506 marca a primeira data importante no processo na península ibérica, pois é quando ocorreu a primeira alteração importante do direito processual romano. 01/03/2011 No ano de 506, os Visogodos estavam ocupando a península ibérica de forma mais estável. Alarico, em 506, começa a modificar o processo romano, trazendo elementos germânicos. As decisões colegiadas e as ordálias foram incorporadas ao direito. As decisões colegiadas continuam atém os dias atuais, pois são um instituto bom. As ordálias (provas obtidas mediante tortura) desapareceram. No ano de 528, o imperador do império romano do oriente era Justiniano. Ele encomendou a uma comissão de juristas que juntassem em uma só obra todo o direito vigente. Estes juristas elaboraram o corpus iures civiles. Havia direito material e direito processual. Em direito material o corpus iures interferiu. Em direito processual não houve influencia do corpus iures, pois o direito germânico era melhor. Codex Iuris Visigothorum ou Fuero Juzgo (como julgar no forno) (editado em 693): representou a consolidação das normas processuais germânicas introduzidas no Breviário de Alarico. Um pouco antes de 693, no oriente médio, nasceu Maomé, que ficou órfão cedo e foi criado por um caravaneiro (atualmente pode ser comparado ao dono de uma grande transportadora). Maomé conseguiu unir as tribos árabes (que eram politeístas) e implantou o monoteísmo. Maomé pregava a guerra santa (jihad), que era guerra de conquista religiosa. Estes árabes, recém unidos, tinham uma energia guerreira muito grande. Maomé morreu por volta de 640, mas a guerra santa se espalhou. Em 714, a jihad atinge a península ibérica. Em 714, os árabes atravessam o estreito de Gibraltar e invadem o sul da Espanha. Em pouco tempo, eles ocupam a Espanha quase toda e uma parte de Portugal. Os Árabes não deixaram nenhuma contribuição para o direito processual. Os Árabes só não conseguiram conquistar o norte de Portugal, porque era um reduto de Visigodos (que era um povo guerreiro). Os árabes permaneceram na península ibérica até 1453. O período em que os árabes permaneceram na península Ibérica deixou grande influência na cultura local, mas não influiu no direito processual. Certamente, o direito processual romano, alterado pelos Visigodos era superior ao direito processual árabe. A partir da invasão, os papas estimularam os reis ibérios a lutar para reconquistar os territórios perdidos. Os reis da Ibéria começaram a se preocupar com guerras e, consequentemente, pararam de legislar. Tivemos um período sem nenhuma legislação processual importante. A Espanha era dividida em vários reinos, entre eles estava o reino de Castela. Este reino era dividido em condados. Um dos condados era o condado portucalense. No ano de 1118 ou 1139 o condado portucalense adquire independência (formação do estado nacional português). 22 Havia um nobre em Castela, o conde Afonso Henrique, que se casou com a princesa Teresa (filha do rei da Espanha). O condado portucalense foi entregue para o Dom Afonso administrar. Em 1118 ele briga com o sogro e declara a independência do condado. (enquanto a grande potência não reconhecesse não haveria independência. A grande potência da época era a igreja). A igreja só reconheceu a formação do Estado português em 1139 (por este motivo foram apresentadas duas datas para a formação do Estado nacional português). Evolução do direito processual português A partir da independência e antes da edição de leis nacionais, o direito processual castelhano continuou vigorando em Portugal. Os primeiros reis de Portugal estavam envolvidos em duas guerras (guerra de independência - castelhanos tentando reconquistar o condado) e a guerra para reconquistar o sul do pais, que se encontrava dominado pelos árabes. Os reis portugueses não tinham muito tempo para legislar, pois estavam envolvidos em guerras. Na medida em que o rei conquistava um território, ele criava um município e elaborava uma lei para aquele novo município. Cada município tinha a sua legislação, não havia, portanto, uma lei para o pais inteiro. Este período é chamado Folaleiro (ou de direito fragmentado - cada município tinha o seu direito). A lei chamava-se carta de foro ou foral. Esta carta de foro continha o direito material e o direito processual para aquele município. Na parte de direito processual começou a existir influência do direito canônico. A igreja começou a legislar e vários reinos aceitavam alguma influencia do direito canônico. Apesar da fragmentação, em 1290, o rei cria, em Coimbra, a primeira universidade portuguesa. Coimbra estava na linha divisória do domínio árabe. Ora estava com árabes, ora com portugueses, por isso, em vários momentos, a universidade foi transferida para Lisboa. No ano de 1308 a universidade se encontrava em Lisboa (os árabes estavam ameaçando Coimbra) e o rei mandou que fosse elaborado o primeiro estatuto da universidade, que continha normas para a universidade e para o pais inteiro. Uma norma processual importante, que estava no estatuto, é a que determinava o uso obrigatório da língua portuguesa nos documentos oficiais (processo é documento oficial). Até então, os processos eram escritos em latim, uma língua que o povo não falava nem entendia mais. Com o término das guerras da independência e da reconquista, Portugal começa a fazer guerras de conquista. Atravessa o mediterrâneo e começa a conquistar o norte da África. O direito fragmentado já não atende mais. Chegamos ao segundo período, que é o período unificado. O rei, D. Afonso V, em 1446, reúne uma equipe de juristas e ordena que eles elaborem uma lei para o pais inteiro (unifique as leis foraleiras). Em homenagem ao rei, essas ordenações são chamadas Afonsinas. As ordenações Afonsinas tinham como objetivo unificar o direito material e processual de todo o reino. Elas eram divididas em cinco livros e o livro terceiro era só para direito processual. As normas anteriores, que eram espalhadas nos forais, foram reunidas em uma só lei. (Direito romano, modificado pelos Visigodos e pelo direito canônico). Além do foral, em cada município, foram criados costumes judiciais, que agora passaram a integrar o livro terceiro(direito processual), tornando-se leis. 23 Estamos em plena renascença. Na Alemanha, um padre (Martin Lutero) se revolta contra a corrupção na Igreja. Ele não tinha a intenção de fundar uma nova religião, ele queria apenas a moralização. Ele foi duramente reprimido e acabou criando o luteranismo. O protestantismo ganhou rapidamente muitos adeptos. Quem passava para o lado de lutero parava de pagar dízimos. A igreja sentiu a perda de fiéis e resolveu perseguir os adeptos desse novo ramo. O papa insistiu com os reis católicos para que eles também perseguissem os protestantes. O movimento luterano chama-se reforma, a reação da igreja contra reforma. O rei de Portugal atendeu ao papa e reformou a legislação interna para haver uma certa eficiência na perseguição dos protestantes. A igreja utilizou o instrumento inquisição para perseguir os protestantes. Para isso, tinha que haver uma reforma da legislação interna e, em 1521, o rei Manoel manda reformar as ordenações Afonsinas, criando as ordenações Manuelinas, que incluíam as regras processuais canônicas, que permitiam o funcionamento da inquisição. A inquisição era uma caça desenfreada aos hereges e às bruxas. Objetivo das ordenações Afonsinas: Unificar o direito, que era fragmentado (dividido em forais. Cada município possuía um foral). Objetivo das ordenações Manuelinas: Permitir o funcionamento da inquisição, afim de perseguir os protestantes, que eram considerados hereges. Também em 5 volumes, sendo que o livro 3 era direito processual. Portugal havia conquistado muitos territórios e estava vivendo o seu ápice. No entanto, a dinastia reinante estava enfraquecida. Nesta época, Portugal não admitia ser governado por mulheres. Por volta de 1580, o rei D Sebastião, que ainda não era casado, se envolve em uma guerra com os árabes no norte da África. D. Sebastião desaparece. Em Portugal surge o mito do sebastianismo (pregava que D Sebastião iria voltar para resgatar as glórias portuguesas). No Brasil, um sebastianista famoso foi o Antonio Conselheiro (pregava que D. Sebastião voltaria para o sertão da Bahia para salvar canudos). D. Sebastião não tinha filhos e o único representante da dinastia era um tio dele. Um frade, que vivia em um mosteiro, foi retirado do mosteiro e declarado rei. Ele também não tinha filhos e morreu pouco tempo depois, extinguindo a dinastia. A irmã de D Sebastião era casada com um rei da Espanha. Este rei tornou-se rei de Portugal. Portugal passa a pertencer a Espanha. D Felipe, rei da Espanha, reforma a legislação com o objetivo de dominar os descontentes (a nobreza portuguesa não estava contente com a perda da independência). Isto ocorre em 1603. Surgem, portanto, as ordenações Filipinas. As ordenações Filipinas, do mesmo modo que as anteriores era composta por 5 livros, sendo que o livro 3 era destinado ao direito processual. O direito penal passou a ser extremamente severo. Havia pena de morte ou degredo perpétuo para o brasil, caso o crime fosse muito grave. Na legislação processual houve dois aspectos, um positivo e um negativo. Aspecto positivo: Delineou as quatro fases do processo: 1) Postulatória: A pretensão é deduzida, a resistência é o oposta e eventuais terceiros são chamados ao processo. 2) Instrutória: Instrução significa colheita de provas. As provas são colhidas. 3) Decisória: É a fase de julgamento. O juiz julga e o perdedor, se quiser, interpõe recurso. 4) Executiva: Fase de satisfação do ganhador. O ganhador recebe o que tem direito. 24 Aspecto negativo: Instrução secreta: A instrução secreta significa legalização da tortura. É por esse instituto que os espanhóis dominavam os portugueses. No brasil, o processo mais famoso foi o da inconfidência mineira, que foi feito segundo as ordenações Filipinas. Empregaram largamente a tortura, daí o número grande de condenações. Em 1645, Portugal reconquista a independência. Era previsível que com a nova dinastia (Bragança) as ordenações Filipinas fossem revogadas, porém, os reis da nova dinastia verificaram que as ordenações Filipinas eram boas para dominar o povo e, por isso, não alteraram nada. Estas ordenações continuaram a influir no Brasil até a independência. Mesmo após a independência, estas ordenações continuaram a interferir no Brasil e só foram totalmente eliminadas do ordenamento jurídico brasileiro em janeiro de 2003, com o novo código civil. Evolução do direito processual brasileiro O Brasil tem 2 datas de independência. Uma em 1922 e outra em 1825, ano em que ocorre o reconhecimento inglês. Portugal era um estado endividado e D. Pedro I assumiu a dívida de Portugal com a Inglaterra, em troca do reconhecimento inglês da independência brasileira. Portugal não tinha condições de pagar a sua dívida com a Inglaterra sem o Brasil. Até a independência, vigorava no Brasil, a legislação portuguesa. A constituição de 1824 previa que as leis portuguesas continuariam vigorando no Brasil até que novas leis, nacionais, fossem criadas. A história processual brasileira deve ser dividida em período imperial e período republicano. O período imperial (1822 a 1889) 10 anos após a independência (1832), surge a primeira lei processual importante. O código de processo criminal do império. Este código continha normas processuais civis em um anexo. Isto significa que, na prática, o livro terceiro das ordenações Filipinas foi revogado. A parte penal do livro 3º das ordenações Filipinas já havia sido revogada com a criação do código de 1830. Em 1850, o Brasil adota o código comercial, que tem a parte segunda em vigor até os dias atuais. A aplicação do código comercial exigia uma legislação processual própria, pois os comerciantes queriam criar uma justiça própria (justiça comercial). Em 1850, é editado o regulamento 737, que continha normas processuais comercias. Como a justiça comercial acabou não sendo criada, o regulamento 737 foi adaptado para as causas cíveis. Várias leis processuais civis foram surgindo por falta de um código. Chega um momento em que é necessário reunir estas leis em uma só. Isto acontece em 1876, quando as leis processuais civis são reunidas, consolidadas em uma só. Cria-se a CLPC (consolidação das leis processuais civis). A consolidação é uma reunião de várias leis em uma só, sem preocupação com uma estrutura científica. O código recebe uma estrutura científica. A CLPC é a última lei processual importante do período imperial. Em 1889, com a proclamação da república, inicia-se o período republicano, que dura até os dias atuais. 25 03/03/2011 O período republicano é dividido em três fases: Primeira fase (1889 até 1934) - Proclamação da república até a segunda constituição republicana. Os republicanos eram fanáticos admiradores dos EUA e no dia 15/11/1889, as 21 províncias imperiais foram transformadas em estados pelo decreto nº 1. Foi criada uma federação, que nunca funcionou, pois a tradição brasileira é de Estado unitário. A história dos EUA é diferente (as treze colônias poderiam ter se tornado países independentes). Adotar a federação foi um equívoco. Nos primeiros tempos os erros eram mais sérios, pois ainda havia o temor da volta da monarquia. As províncias, agora transformadas em Estados, ganharam muita autonomia, inclusive autonomia para legislarem sobre direito processual. Eram 21 províncias, que se transformaram em 21 estados, (com o tempo outros estados foram sendo criados até chegarmos ao número que temos hoje). Só os Estados legislavam sobre direito processual, a união não legislava. Os estados, em sua maioria não estavam preparados para legislar, portanto, aconteceram três situações: Alguns estados elaboraram duas leis (código de processo civil e código de processo penal). Até o CPC entrar em vigor permaneceu em vigor a CLPC e até o CPP entrar em vigor permaneceu o Código de processo criminal de 1832. Até as leis estaduais
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