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UCAM - UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

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Prévia do material em texto

MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA JURÍDICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 
UNIDADE 1 – A CIÊNCIA DO DIREITO ..................................................................... 7 
UNIDADE 2 – HISTÓRIA DO DIREITO .................................................................... 11 
2.1 FORMALISMO DO DIREITO ARCAICO ..................................................................... 14 
2.2 DIREITO EGÍPCIO ................................................................................................ 14 
2.3 DIREITO BABILÔNIO (CÓDIGO DE HAMURABI) ........................................................ 16 
2.4 DIREITO HEBRAICO ............................................................................................. 18 
2.5 DIREITO INDIANO (CÓDIGO DE MANU) .................................................................. 19 
2.6 DIREITO GREGO CLÁSSICO ................................................................................. 20 
2.7 DIREITO ROMANO ............................................................................................... 21 
2.8 DIREITO NA IDADE MÉDIA .................................................................................... 24 
2.9 DO DIREITO MODERNO AO DIREITO CONTEMPORÂNEO ........................................... 27 
UNIDADE 3 – NORMAS, LEIS E FONTES DO DIREITO......................................... 30 
3.1 NORMA JURÍDICA (PROCEPTUM JURIS) ................................................................. 31 
3.2 INTERPRETAÇÃO DA NORMA JURÍDICA .................................................................. 33 
3.3 AS FONTES DO DIREITO....................................................................................... 35 
As fontes materiais ............................................................................................. 35 
As fontes formais ............................................................................................... 38 
Hierarquia das fontes formais ............................................................................ 39 
3.4 AS FONTES ESTATAIS DO DIREITO ........................................................................ 42 
A Constituição .................................................................................................... 43 
A lei .................................................................................................................... 44 
Regulamento ...................................................................................................... 47 
Decreto-lei .......................................................................................................... 48 
Medida Provisória .............................................................................................. 48 
UNIDADE 4 – DIVISÕES E APLICAÇÕES DO DIREITO......................................... 50 
4.1 DIREITO PRIVADO ............................................................................................... 53 
4.2 DIREITO MISTO................................................................................................... 54 
4.3 DIREITO INTERNO E DIREITO INTERNACIONAL ........................................................ 54 
UNIDADE 5 - CÓDIGO DE ÉTICA COMENTADO ................................................... 57 
5.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL.................................................................................. 58 
5.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO ........................................................... 61 
 
 
3 
 
5.3 O ESTATUTO DA ADVOCACIA ............................................................................... 63 
5.4 O CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA ....................................................................... 64 
5.5 O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ........................................................................... 65 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68 
ANEXOS ................................................................................................................... 72 
 
 
 
4 
 
INTRODUÇÃO 
 
A ciência do Direito, como sistemática jurídica, tem caráter dogmático, o que 
justifica uma das suas denominações (dogmática jurídica) e consiste em que, 
quando o jurista realiza atividade estritamente científica, aceita a regra jurídica como 
um dogma à semelhança do teólogo que, diante do preceito canônico, deve apenas 
aceitá-lo e interpretá-lo (SOUZA, 1988). 
Caracteriza também a ciência do Direito em ser reprodutiva, no sentido de 
que, tendo por objeto normas, não as cria, mas reproduz. 
Enquanto a Ciência do Direito tem em mira o estudo do sistema de Direito 
positivo de um determinado Estado, num dado momento histórico-cultural, como o 
Direito romano, o Direito brasileiro, o Direito francês, entre outros, a Teoria Geral do 
Direito dedica-se ao estudo dos Direitos positivos existentes, atuais ou passados, 
com vistas a identificar as suas semelhanças e, pelo método de indução, generalizar 
princípios fundamentais, de caráter lógico, válidos para todos eles (SOUZA, 1988; 
REALE, 1990). 
Oportuno registrar o que nos diz EROS ROBERTO GRAU (2003): não existe 
apenas uma Ciência do Direito, mas, sim, uma gama de Ciências do Direito, dentro 
de cujo contexto encontram-se a Filosofia do Direito, a Teoria Geral do Direito, a 
História do Direito, a Sociologia do Direito, a Dogmática Jurídica, entre outras, todas 
elas dotadas de linguagens próprias que se denominam metalinguagens. 
A Ciência do Direito ou Jurisprudência possui caráter científico, sob rigorosa 
perspectiva epistemológica, notadamente por ser um conhecimento sistemático, 
metodicamente obtido e demonstrado, dirigido a um objeto determinado, que é 
separado por abstração dos demais fenômenos. E mais, nela avulta a 
sistematicidade como argumento eloquente para afirmar a cientificidade do 
conhecimento jurídico (DINIZ, 1991). 
Ao longo desta apostila, procuraremos fazer uma breve explanação sobre a 
ciência do direito, passaremos por sua história, bem como apresentaremos as fontes 
e normas que a regem e suas divisões clássicas. Não esquecemos, evidentemente, 
de focar e apresentar comentários sobre o Código de Ética do Advogado. 
Os diversos códigos de ética regulam as mais diversas profissões e, no caso 
da Ciência Jurídica, ele regula os deveres do advogado para com a comunidade, o 
cliente e o outro profissional, além de regular a publicidade, a recusa do patrocínio, o 
 
 
5 
 
dever de assistência jurídica, o dever de urbanidade e os respectivos procedimentos 
disciplinares. Ressalta-se, porém, que a conduta do advogado deve sempre pautar-
se além do Código, do Estatuto ou do Regulamento Geral, ou seja, deve também 
atender aos princípios da ética e da moral individual, social e profissional. 
Como em toda profissão, o advogado deve seguir alguns pressupostos, 
dentre eles a independência, que é um dos mais expressivos perante a advocacia, 
sendo condição necessária para o regular funcionamento do Estado de Direito, já 
que a independência foi instituída no interesse de todos os cidadãos da sociedade e 
do próprio Estado. Sem independência não há rigorosamente advocacia, já que a 
Ordem não se vincula nem se subordina a qualquer poder Estatal, Econômico ou 
Político. 
Estudar a independência do Advogado e sua ética profissional exige distinção 
de alguns conceitos, os quais nos levam a outros caminhos de verdades já 
conhecidas, como a do Advogado que atua como parte indispensável na 
Administração da Justiça, trazido no artigo 133da nossa Constituição Federal. 
O Advogado na sua atividade cotidiana tem a seu favor não só os direitos e 
prerrogativas, mas também os deveres para que sua liberdade profissional seja 
preservada. No geral, a liberdade do profissional está ligada totalmente à sua 
determinação, porém que pode ser limitado a algumas normas e conduta definidas 
na ética profissional (KAZMIERCZAK, 2006). 
Em paralelo à independência está a responsabilidade disciplinar, já que este 
profissional responde civilmente pelos danos que causar ao cliente, em virtude de 
dolo ou culpa. Na verdade, a responsabilidade é a contrapartida da liberdade e da 
sua independência. Será responsabilizado solidariamente com o seu cliente, aquele 
profissional do direito que agir com o objetivo de causar danos ou lesar a parte 
contrária na relação jurídica. Poderá ser também responsabilizado por danos, aquele 
profissional que agir sem o consentimento do seu cliente, inclusive nos casos em 
que houver acordo com o advogado da outra parte na relação jurídica, sem a sua 
anuência. 
Essas responsabilidades, bem como atitudes de respeito, de condutas éticas, 
valem também para os demais profissionais que atuam em defesa do outro, 
portanto, discorrer sobre ética e moral é perfeitamente coerente com os objetivos 
deste curso. 
 
 
6 
 
Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se 
fazem necessárias: 
1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas 
efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da 
World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao 
acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira 
para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo 
da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 
2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo 
original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que 
têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também 
reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser 
deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos 
estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de 
comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado 
pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 
3) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições 
ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento 
crítico. 
4) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou 
seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para 
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que 
os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicos. 
Por fim: 
5) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para 
consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última 
está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl + 
clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis 
complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material 
impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 
 
1
 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou 
similares. 
 
 
7 
 
UNIDADE 1 – A CIÊNCIA DO DIREITO 
 
Em linhas gerais à Ciência do Direito, cabe a exposição sistemática do Direito 
Positivo e o exame dos problemas ligados à sua apreciação, portanto, seu objeto é 
sempre o Direito Positivo. 
PAULO DOURADO DE GUSMÃO (2015, p. 3) define a Ciência do Direito 
como: 
 
os conhecimentos, metodicamente coordenados, resultantes do estudo 
ordenado das normas jurídicas com o propósito de apreender o significado 
objetivo das mesmas e de construir o sistema jurídico, bem como de 
descobrir as suas raízes sociais e históricas
2
. 
 
Isso significa, segundo Souza (2007), que ela estuda a norma positiva de 
maneira esgotada e sistemática, mas, como a regra jurídica não é somente objeto 
de saber teórico, porque seu fim é essencialmente prático, ao seu aspecto expositivo 
outro se acrescente, o técnico ou prático, pelo qual se consideram os problemas 
ligados à sua aplicação. Cabe-lhe, principalmente, construir o sistema jurídico, 
também denominado ordenamento jurídico, ou seja, a ordenação das normas do 
direito de um país (brasileiro, francês, entre outros), bem como formular conceitos e 
teorias jurídicas. 
As ideias dos juristas que a construíram, isto é, dos jurisperitos, ou, como são 
conhecidos entre seus pares, jurisconsultos, como, por exemplo, as de Clóvis 
Bevilácqua ou de Pontes de Miranda, muitas vezes tornaram-se fontes de decisões 
judiciais. Nesse sentido, os juristas desde Roma são autoridades jurídicas. 
Outro ponto de discussão é a natureza da ciência jurídica, bem como a sua 
própria possibilidade. Compreensível essa dúvida por se tratar de problema cultural 
que não comporta resposta definitiva (GUSMÃO, 2015). 
Divergência há também quanto ao seu objeto, porém, em um ponto há 
acordo: são as normas jurídicas, dado concreto que faz parte da realidade histórico-
social, ou, se quisermos, da realidade cultural, em que se acham também as obras 
 
2
 O termo ciência do direito corresponde à jurisprudentia dos romanos, mais restrito do que 
jurisprudence dos anglo-americanos, mais próximo de Teoria Geral do Direito acrescida de Filosofia 
do Direito. Denomina-se em alemão Rechtswissenschaft. Devido ao sentido restrito em que 
usualmente é empregado o termo jurisprudência na Europa continental e na América Latina, como 
conjunto uniforme e reiterado de decisões judiciais, deve-se evitá-lo para afastar confusões, 
preferindo-se “ciência do direito” quando se tratar de conhecimento científico do direito, e 
“jurisprudência” quando se tratar de julgados uniformes dos tribunais. 
 
 
8 
 
de Arte, a Literatura, a Filosofia, a Ciência, entre outras. Por isso, a ciência jurídica é 
ciência que trata de realidades, desde que se faça a distinção da realidade físico-
natural (natureza), independente da ação humana, da realidade criada ou 
modificada pelo homem, contida em suas obras (cultura). Por isso, na ciência 
jurídica não é empregável o método das ciências dos fenômenos naturais, pois, 
sendo conhecimento de normas, depende de interpretação, e não de descrição, 
salvo quando versar sobre o direito como fenômeno social ou fato histórico-social. 
A ciência jurídica serve-se de vários métodos, inclusive da intuição. Utiliza-se 
do método sociológico quando indaga as raízes sociais do direito ou quando o 
estuda como fenômeno social; do método histórico, ao tratar de suas origens 
históricas; do método comparativo sempre, além dos métodos lógicos, dentre os 
quais o analógico, e da compreensão (interpretação), para descobrir o sentido 
objetivo da norma jurídica. Sentido não alcançado com métodos das ciências físico-
naturais e nem com o sociológico ou o histórico que, no entanto, podem facilitar 
apreendê-lo. Dito isso, concordamos com Gusmão (2015): “é preciso perguntar pela 
sua natureza”. 
A problemática da ciência do Direito reside justamente na questão do seu 
método e de seu objeto de conhecimento, pois para alguns juristas, a ciência do 
Direito é uma atividade intelectual que tem por objeto o conhecimento racional e 
sistemático dos fenômenos jurídicos, enquadrando-se então num conhecimento 
unívoco e não variado. É este, portanto, o conceito de ciência do Direito que se 
encontra nos mais variados manuais estudados, ou seja, de uma ciência dogmática, 
estática, chamada dogmática jurídica. Porpossuir essas características, seu papel 
seria somente avaliar o que está contido basicamente nas leis e nos códigos. Não é 
de natureza crítica, isto é, não penetra no plano da discussão quanto à conveniência 
social das normas jurídicas (SPAREMBERGER, 2012). 
A natureza do direito estaria no campo da ciência cultural, caso fosse 
constituída por obras humanas, materializadas em papel, fita gravada, CD-ROM ou 
em textos, necessitando de interpretação. Mas, se focalizarmos o direito por outro 
ângulo, como fenômeno social (político: como revoluções, guerra, golpe de Estado e 
suas consequências; social: criminalidade, miséria; econômico: inflação, deflação; 
moral: família, divórcio, adultério, entre outros) que é, acabaremos definindo-a como 
uma das ciências sociais. Tanto uma como a outra não estão erradas e não se 
excluem por não se conflitarem, porque, depois de Max Weber e de Sorokin, o 
 
 
9 
 
estudo do social como coisa, na forma preconizada por Durkheim, não é mais aceito. 
A Sociologia, hoje, parte de dados fornecidos pela realidade social para o sentido 
objetivo das ações e dos fatos sociais que lhes dão origem. 
Enfim, essa discussão que envolve natureza, objeto e método poderia se 
estender, mas pensemos no físico que na maioria das vezes faz Física sem se 
interessar em saber se ela é ou não ciência. Igualmente, o jurista deve se interessar 
em conhecer o Direito, torná-lo eficaz, sem se preocupar com essa questão 
acadêmica oriunda da época em que o conceito de Ciência se confundia com o das 
ciências físico-naturais, hoje abandonado. 
Só para finalizarmos, lembremos que o Direito também pode ser estudado 
como uma Ciência Jurídica Teórica, que formula conceitos e princípios gerais do 
Direito, a conhecida ‘Teoria Geral do Direito’, síntese do conhecimento jurídico de 
uma época, e Ciência Jurídica particularizada, ou Ciência do Direito positivo (leis, 
códigos, jurisprudência, costumes, entre outros), também denominada dogmática3 
jurídica, que, versando sobre o conteúdo das normas jurídicas, interpretando-as e 
sistematizando-as, subdivide-se em tantas ciências quantos forem os ramos do 
Direito (Ciência do Direito Penal, Ciência do Direito Constitucional, entre outros) 
(GUSMÃO, 2015). 
Caso o jurista use os resultados do estudo histórico (pela via do método 
comparativo) para compará-lo com o Direito atual ou confrontar direitos de países 
diferentes, tempos diferentes buscando por semelhanças, para propor unificações 
de legislações ou para abrir o horizonte jurídico graças à doutrina e à experiência 
jurídica de outros povos, estará fazendo Direito Comparado. Se encarar o direito 
como fato social, fará Sociologia Jurídica. Mas, se, com os resultados e auxílio do 
Direito Comparado, da História do Direito e da Sociologia Jurídica, entregar-se-á à 
crítica construtiva do direito vigente, com o objetivo de propor reformas jurídicas, 
dedicar-se-á à Política Jurídica ou Crítica do Direito. Aqui sim, o jurista toma posição 
em relação ao direito vigente, fundado em valores ou na realidade social, com o 
objetivo de indicar reforma da legislação. 
 
3
 “Dogmática”, por ser o seu objeto (lei, precedente judicial) de antemão estabelecido, e não por ser 
dogma para o jurista, como nos séculos XVIII e XIX foi compreendido pela Escola da Exegese (§§ 
137, 196 e 199). Por outro lado, quando o jurista indaga as origens históricas dessas normas ou de 
todo o sistema jurídico, verificando os seus efeitos históricos, ou seja, considerando-os como fato 
histórico, fato que não é mais atual, mas que já produziu os seus efeitos, faz História do Direito. 
 
 
10 
 
Enfim, são inúmeras as possibilidades de vias que o jurista pode vir a tomar, 
em todas estará fazendo ciência e somando conhecimentos para o futuro. 
 
 
11 
 
UNIDADE 2 – HISTÓRIA DO DIREITO 
 
Sendo o Direito um produto da História, evidentemente que precisamos 
estudar um pouco dessa História Geral que estuda o Direito como fenômeno 
histórico e cultural ao longo dos tempos. 
Ter uma visão crítica das normas, códigos, leis, sentenças, obras jurídicas, 
bem como das instituições jurídicas para estabelecermos conexões com o direito 
atual é outra justificativa para estudarmos a evolução do direito ao longo dos 
tempos. 
O Direito, nos primeiros tempos, manteve-se vigente graças à memória dos 
sacerdotes que foram os primeiros juízes, e que guardavam em segredo as regras 
jurídicas. Depois, vigorou nas decisões do conselho dos mais velhos. Transmitiu-se 
oralmente a princípio. Era então uma tradição sagrada. Cada caso a rememorava e 
devia ser decidido fielmente como o antecedente. Nesse tempo, inexistiam códigos 
ou leis. Secreto era o conhecimento do Direito, guardado com muito zelo pelos 
sacerdotes ou pelos mais velhos, que assim mantinham as suas posições sociais e 
privilégios. 
Com o tempo, o Direito tornou-se o conjunto de decisões judiciais, casuístico, 
mantido ainda em segredo. Muito depois, tais decisões, sendo ininterruptamente 
repetidas, tornaram-se costumeiras. Surge assim da sentença o costume jurídico. 
Mas, em algumas comunidades, a indiscrição de um escriba revela o segredo 
guardado pelos juízes (sacerdotes), tornando-o público, como ocorreu em Roma 
com o Jus Flavianum, direito dos pontífices revelado em 304 a.C. pelo escriba Gneo 
Flavio. Então, das sentenças surgiu a lei, ou melhor, o código e o direito passa então 
a resultar de um ato de vontade (GUSMÃO, 2015). 
 Finalmente, em outras comunidades, reis-legisladores-sacerdotes reduziram 
a escrito as principais sentenças imemoriais, como fizeram Hamurabi e os reis 
sumerianos anteriores. Nesses códigos, nota-se perfeitamente a origem casuística 
de seus preceitos. Aí também da sentença provém a lei. 
Assim, no entendimento de PAULO DOURADO DE GUSMÃO (2015) é que o 
direito inicialmente foi casuisticamente estabelecido, formulado em decisões 
judiciais, proferidas pelos iniciados em uma ciência jurídica secreta. Aparece 
primeiro como sentença, que, repetida, dá origem ao costume, a mais antiga fonte 
do direito. 
 
 
12 
 
O direito mais antigo foi exclusivamente consuetudinário, tendo por origem, 
geralmente, a “decisão tomada um dia por um chefe ou uma sentença, conhecida ou 
não como tal” (DECLAREUIL s.d. apud GUSMÃO, 2015). 
No começo, as contendas que eram resolvidas com as armas na mão, no 
caso dos povos nômades, passa a ser decididas pelo chefe da tribo, pelo pai de 
família ou pela pessoa mais velha e mais respeitada. 
A primeira fonte do direito é, pois, a sentença do juiz. Como se vê, antes de 
existirem os costumes e as leis, existiam as sentenças dos chefes. A repetição de 
decisões, legitimada pela autoridade do chefe que as prolataram, tornaram-nas 
precedentes, obrigatórias, surgindo assim o costume. À medida que as relações 
jurídicas multiplicaram-se, tornando-se complexas, e que as sociedades 
pluralizaram-se, tornaram-se incertos os costumes, sendo então compilados por 
sacerdotes ou por determinação real. Tal é a origem dos antigos códigos, como, por 
exemplo, o de Hamurabi. 
O direito primitivo era respeitado religiosamente, não só pelo temor às suas 
sanções draconianas e desumanas, como, também, por medo da ira de divindades 
que poderia se manifestar por epidemias, secas, chuvas, entre outros, como 
acreditavam os povos das primitivas culturas. Por isso, o direito primitivo tinha 
caráter religioso, era sagrado. Eis a razão de, como disse Gusmão, serem os 
sacerdotes os primeiros juristas. 
A maioria dos legisladores antigos declarava, diga-se de passagem, o que é 
muito condizente à maioria e maneira dos povos antigos, ter recebido as suas leis de 
uma divindade. Os códigos sumerianos, dentre os quais o de Hamurabi, eram 
apresentados como transmitidos pela divindade da cidade à qual pertencia o rei-
legislador. Daí o ilícito se confundir com o pecado, istoé, com o desrespeito à 
divindade que as ditou. Neles não há distinção entre direito civil e direito criminal, 
podendo-se dizer que do direito penal surgiu o direito civil. 
A noção de culpabilidade lhe é estranha, respondendo o criminoso pelos seus 
atos, independente de culpa, juntamente com sua família, sendo destruídos os seus 
pertences e tudo o que ele houver tocado com suas mãos. Da mesma forma, débito 
não pago significava pecado, sendo o devedor faltoso sacrificado pela prestação não 
executada. O juramento dava segurança aos negócios. Predominava a crença de 
que não honrá-lo ofendia aos deuses. Se tal ocorresse, o grupo poderia sofrer as 
consequências da ira divina, salvo se o faltoso fosse exemplarmente punido. 
 
 
13 
 
Os sacerdotes-juízes ou os reis-juízes invocavam divindades para saber com 
quem estava a verdade, a fim de que, com sua intervenção, fosse apontado o 
criminoso para ser exemplarmente punido, protegido, assim, o inocente. 
Procedendo-se assim, acreditavam esses povos antigos, a paz social estava 
restabelecida. 
Os julgamentos de Deus (ordálio), sob a forma de prova do fogo, de veneno 
ou de duelo, eram empregados para descobrir o responsável pela falta. Quando 
esse sistema de julgamento foi implantado, o Direito já havia evoluído muito, tendo 
ultrapassado a fase da justiça privada, isto é, da “Lei de Talião” (“dente por dente, 
olho por olho”), impondo represália igual à ofensa (pena privada). 
A vingança, tornando-se fonte de insegurança e de intranquilidade, acabou 
substituída pela composição pecuniária, a princípio maior que o prejuízo, em regra, o 
dobro, inicialmente com caráter facultativo (pena privada), como prescrevia, por 
exemplo, o Código de Ur-Namu, descoberto depois da última guerra, contido na 
“tabuinha de Istambul”, muito anterior ao de Hamurabi (GUSMÃO, 2015). 
O formalismo, o cerimonial, caracteriza o direito arcaico, prevalecendo a 
forma, os atos simbólicos, os gestos, as palavras sagradas e os rituais sobre o 
conteúdo de atos ou de ações. O formalismo era sua marca registrada. As pessoas 
não tinham direitos, que praticamente pertenciam ao grupo. Pertencer ao grupo 
importava ter deveres, e não direitos. O contrato era celebrado entre grupos. Os 
direitos individuais e os contratos individuais só tardiamente apareceram no Egito e 
na Mesopotâmia. 
Daí a procedência da lei de Maine: a evolução jurídica se processou pela 
passagem do regime de status para o regime de contrato. Em Roma, a princípio, só 
os chefes de família tinham direitos. No seio da família, a vontade do pater famílias 
era a lei, ou seja, a vontade do chefe de família tinha autoridade absoluta sobre os 
seus membros, sobre os escravos e também sobre todas as coisas a ela 
pertencentes. Cabia-lhe, igualmente, julgar e punir os membros faltosos. 
Foi esse direito que permitiu a coesão e sobrevivência do grupo social. 
Tivemos de esperar os romanos para termos a autonomia do direito em relação à 
Moral e à Religião. 
Além dessa ótica de Gusmão para contar a história do Direito, existem 
autores que preferem focar nos avanços e retrocessos, ou ainda, enquanto disciplina 
 
 
14 
 
obrigatória dos cursos jurídicos. Enfim, são muitos os caminhos para contarmos a 
história, o importante é sabermos que história e direito caminham juntos. 
O direito está indissociável da história, uma vez que ele surge junto com a 
história da própria sociedade como um condutor de normas a serem seguidas para 
que a sociedade possa viver em paz e harmonia (BRANDÃO, 2010). 
 
2.1 Formalismo do Direito Arcaico 
Desde as sociedades antigas até o período romano prevaleceu entre as 
sociedades um verdadeiro formalismo, modelo que a forma predomina sobre o 
fundo, ou seja, independente da intenção do autor do ato, o que se observa para a 
produção dos efeitos jurídicos são as formalidades preestabelecidas. 
Em outras palavras, é a prevalência de um certo automatismo, repetição de 
fórmulas de natureza normativa, de um rito, de atos simbólicos, de palavras 
sagradas, de gestos solenes, sem contestação. O resultado geralmente era 
previamente conhecido. Não havia investigação do sentido (WOLKMER, 2014; 
GUSMÃO, 2015). 
Como diz PAULO DOURADO DE GUSMÃO (2015), as palavras eram 
sagradas, devendo ser repetidas corretamente para que fossem produzidos os 
efeitos jurídicos desejados. Devido a isso, o direito arcaico é constituído de formas e 
fórmulas sagradas, religiosamente conservadas, pelo receio de serem perdidas. 
Nesse formalismo jurídico encontramos como seus componentes, os atos e 
as palavras. A princípio, o ato destaca-se; depois são mais importantes as palavras 
fielmente pronunciadas. Da palavra surgiu o direito; da fórmula, a ação judicial. 
Com o tempo, a palavra e as fórmulas perderam o significado arcaico, sendo 
mantidas pelo uso. Tardiamente, o homem delas se libertou, não totalmente, pois 
até hoje, sem caráter sagrado, algumas fórmulas e formas são usadas em atos 
legislativos e em certos atos e negócios jurídicos, como, por exemplo, o 
compromisso no casamento ou a forma (escritura pública) na compra e venda de 
imóvel (GUSMÃO, 2015). 
 
2.2 Direito Egípcio 
A influência do elemento religioso dá a tônica no direto egípcio como nas 
demais teocracias da Antiguidade, mas ainda é um estudo difícil devido à 
 
 
15 
 
precariedade de fontes primárias, afinal, são poucos os papiros que sobreviveram ao 
tempo. 
Ao passo que as instituições dos gregos, dos romanos e dos hebreus nos são 
familiares há milênios, até aproximadamente cem anos atrás, nada se sabia do 
Direito Egípcio e dos Direitos Cuneiformes (LIMA FILHO, 2009). 
O mais antigo papiro que se conhece é o Papiro de Berlim, da VI Dinastia 
(2420-2294). Luta-se assim no estudo desse direito com a deficiência de fontes. 
Sabe-se que as terras eram de propriedade do rei, podendo as castas privilegiadas 
usufruí-Ias, pagando tributos altíssimos à Coroa. Compra e venda de terras não era 
conhecida, reduzindo-se o direito de propriedade e dos contratos a locações de 
serviço e a transações com bens móveis, objetos de propriedade privada. 
As obrigações a serem cumpridas no futuro eram assumidas mediante 
juramento, com invocação do nome (não de deuses) do Faraó, como garantia de 
sua observância. Em virtude da crença na continuidade da vida depois da morte, era 
comum haver contratos em que a parte que sobrevivesse obrigava-se a levar 
oferendas periódicas ao túmulo da que morresse primeiro. Tais contratos são 
equiparados às donationes pro anima medievais, ou seja, ao compromisso de uma 
pessoa mandar celebrar missa pela alma de outra. No casamento, uma das formas 
de contrato, a mulher mantinha a propriedade de seus bens. O divórcio só o marido 
podia obtê-la. Mais tarde, ao tempo dos Ptolomeus, a mulher conquistou esse 
direito. A autoridade do marido e o pátrio poder eram absolutos. O testamento, 
desconhecido. Entretanto, permitia o direito egípcio que, por ato inter vivos, pudesse 
ser feita a doação de bens móveis a outrem, produzindo efeitos após a morte do 
doador. O doador, para se garantir, retinha em seu poder o documento que a 
comprovava, que com sua morte era entregue ao donatário. A posse desse 
documento transferia a propriedade dos bens doados. Era comum o ato jurídico ser 
celebrado em “documento duplo” sendo um deles, o original, selado, fechado, 
lacrado e arquivado; a cópia circulava; o original era aberto em Juízo quando fosse 
posta em dúvida a autenticidade da mesma. Os atos jurídicos eram celebrados com 
observância de formulários preestabelecidos. Havia atos solenes, celebrados por 
escribas (funcionários), na presença de testemunhas, autenticados com o selo real. 
Os tribunais, cujos juízes eram os dignitários locais, julgavam em nome do Faraó, 
orientados por um funcionário da corte, que dirigia o julgamento (GUSMÃO, 2015). 
 
 
16 
 
O tribunal só podia iniciar o julgamento coma presença desse funcionário. A 
tortura era meio de prova usualmente empregado não só aos acusados, como, 
também, às testemunhas. As penas eram cruéis e draconianas. Para o homicídio, 
pena de morte; para o parricídio, a morte na fogueira; para o adultério, mutilações e 
vergastadas (GUSMÃO, 2015). 
Apesar das descrições acima, não é possível reconstituir, integral e 
detalhadamente, esta época. O estudioso da matéria pode tentar captar os traços 
gerais da organização política, social e familiar, sem ter a vã pretensão de mover-se 
com a segurança que lhe é permitida quando se cogita, por exemplo, da Grécia ou 
de Roma. Afortunadamente, no entanto, eram os antigos egípcios um povo 
conservador por excelência, daí a permanência marcar as suas instituições (LIMA 
FILHO, 2009). 
 
2.3 Direito Babilônio (Código de Hamurabi) 
O Código de Hamurabi é um código gravado em enorme bloco cilíndrico de 
pedra negra, de 2,25m de altura, com 2m de circunferência, encontrado, em 1902, 
na cidade persa de Susa, para onde fora levado, por volta de 1175 a.C., como 
despojo de guerra. É a “estela de Hamurabi” que se encontra no Museu de Londres. 
Diz a história que os babilônios acreditavam que o deus Solo teria confiado a 
Hamurabi, tornando-o “rei do direito”, com a missão de decidir com equidade e 
“disciplinar os maus e os mal-intencionados e impedir que o forte oprima o fraco”. 
O código não é o mais antigo do mundo, como se supunha até 1948, pois na 
“tabuinha de Istambul”, descoberta em 1952, encontra-se um código mais antigo, o 
Código de Ur-Namu, também mesopotâmico. Mas, não sendo o mais antigo, é o 
mais famoso. É precedido de um prólogo de grande beleza literária. 
Não é um código especializado, pois contém todo o ordenamento jurídico da 
cidade: organização judiciária, direito penal, processual, contratos, casamento, 
família, sucessões, direito de propriedade. É, assim, código civil, código penal, 
código de processo, código comercial e de organização judiciária, com 282 artigos, 
em aproximadamente 3600 linhas de texto. Não tem ordem sistemática, pois é uma 
coletânea de julgados ou de hipóteses acompanhadas de decisões. O casuísmo 
caracteriza-o, sendo muito minucioso no que concerne às punições. Os artigos 
apresentam um caso concreto acompanhado de sua solução jurídica (WOLKMER, 
2014; GUSMÃO, 2015). 
 
 
17 
 
Os seus preceitos estão formulados em breves sentenças, como, por 
exemplo, esta: “A esposa que mandar assassinar o marido por gostar de outro 
homem será empalada”. Talvez seja a compilação de decisões judiciais 
consuetudinariamente consolidadas. As proposições iniciam-se assim: “admitindo-se 
que ...”. Enunciam casos hipotéticos, como, por exemplo, o seguinte: “Quando um 
filho disser a seu pai: - Vós não sois meu pai, deverá ser marcado a ferro em brasa 
com o sinal dos escravos, acorrentado e vendido”. 
No terreno dos contratos, exige a forma escrita, reveladora da preocupação 
pela segurança das relações jurídicas. Deveriam ser celebrados na presença de 
testemunhas. 
No campo do direito de propriedade, as normas são precisas, protegendo a 
propriedade, não só a imobiliária, como, também, a dos bens móveis e a dos 
escravos equiparados às coisas. Prevê castigos cruéis para quem der ajuda ao 
escravo fugitivo. Poderia ser o escravo dado em penhor ou em depósito. O 
proprietário era responsável pela conservação dos canais de irrigação que 
passassem em suas terras. No que concerne à reparação de danos, a pena de 
talião, “dente por dente, olho por olho”, era aplicada no caso de a vítima ser homem 
livre, mas, se escravo, a pena era pecuniária. 
No direito de família, a procriação era a finalidade precípua. Por isso, a 
esterilidade da mulher era caso de divórcio, ou, então, de o marido ter uma escrava, 
como concubina, para ter descendentes, ou, ainda, esposa secundária para o 
mesmo fim, colocada em segundo plano no lar. 
No que concerne à sucessão, os filhos herdam todos os bens pertencentes à 
esposa, pois o marido, pela morte da mulher, a eles não tem direito. Igualmente, no 
caso de morte do marido, são seus herdeiros os descendentes, por não ser meeira a 
esposa. Enfim, como dito o código não era especializado, mas previa ordenamento 
minucioso. 
Comparado com o direito babilônico, o direito assírio, apesar de muito 
posterior ao Código de Hamurabi, era involuído. Previa penas cruéis para pequenos 
delitos, desproporção entre o delito e a sanção, sendo esta muito superior àquela. Já 
o direito hitita era mais evoluído, a multa e a indenização eram preferidas à Lei de 
Talião (dente por dente, olho por olho). Igualmente, o direito persa era mais 
humanizado, devendo ter sofrido a influência do babilônico. Ciro, o Grande, baniu a 
 
 
18 
 
vingança privada, entregando a punição dos culpados aos tribunais (GUSMÃO, 
2015). 
 
2.4 Direito Hebraico 
O forte na lei israelita são preceitos morais e religiosos (principalmente rituais 
escritos em vários livros sob forma de sentenças, salmos, provérbios), sem focar 
matéria jurídica, propriamente dita. 
O Deuteronômio, atribuído pela Bíblia ao rei de Judá, Josias (621), era tido 
como o “Livro da Lei encontrado na casa de Yahvé (Jeová), pelo sumo-sacerdote”. 
Yahvé era o deus universal. A lei mosaica foi condensada na Torá; sofreu a 
influência do direito babilônico. Tinha objetivo certo: proteger o “povo eleito”. Por 
isso, proibia o casamento com estrangeiros. Vedava o empréstimo a juros entre os 
compatriotas, permitindo-o, entretanto, ao estrangeiro. Foi formulada com espírito 
ético: “Quando teu inimigo tomba não te alegres” ou se “teu inimigo tem fome dá-lhe 
de comer; se tem sede, dá-lhe água para beber”. Os humildes e os fracos eram 
protegidos contra a exploração dos poderosos (PALMA, 2009; GUSMÃO, 2015). 
Nota-se nas prescrições das leis hebraicas a preocupação com a justiça, 
como, por exemplo, nesta sentença: “tem mais valor fazer justiça do que observar 
todos o mandamentos”, porque “justiça e paz estão juntas”. Para que o juiz assim 
julgasse deveria ser “sábio, equitativo, piedoso, modesto” (GUSMÃO, 2015). 
A lei hebraica previa os contratos de compra e venda, empréstimo, locação de 
coisas e serviços e o de depósito. Disciplinou o direito de vizinhança, estabelecendo 
distâncias que deveriam ser guardadas entre os prédios. A vingança privada não era 
permitida. Mas quem matava deveria morrer. Os filhos não respondiam pelos crimes 
dos pais, e nem estes pelos daqueles. Admitia a lei hebraica a reparação do dano. 
Mas a Lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, estava prevista no Levítico. 
Ao falso testemunho correspondia a mesma pena que deveria sofrer o 
culpado inocentado ou a sofrida pelo inocente sentenciado. No que diz respeito às 
sanções, não havia distinção entre ricos e pobres: todos poderiam sofrê-las. 
Vale guardar que o Direito Civil Israelita sofreu largas influências dos povos 
vizinhos a Israel, principalmente dos semitas que tinham costumes imemoriais de 
vida em sociedade (PALMA, 2009). 
 
 
 
19 
 
2.5 Direito Indiano (Código de Manu) 
O direito da Índia antiga também era de fundo religioso, destinando-se a 
proteger e a consolidar o regime de castas, então dominante. O nascimento 
marcava a posição social do homem até a morte; era, pois, inalterável. O Código de 
Manu, escrito em versos, é, apesar de ter fundamento religioso, mais jurídico do que 
os anteriores. Ele se divide em Religião, Moral e Leis civis. 
Cada regra consta de dois versos cuja metrificação, segundo os indianos, 
teria sido inventada por um santo eremita chamado Valmiki, em torno do ano 1500 
a.C. 
Os hindus consideram Manu como progênie de Brahma e como o mais antigo 
legislador do mundo; a data de promulgação de seu Código não é certa, alguns 
estudiosos calculam que seja aproximadamente entre os anos 1300 e 800 a.C. 
Lembramos que o Código de Hammurabi é mais antigo que o de Manu em pelo 
menos1000 a. Porém, não é um verdadeiro código no sentido técnico da palavra, 
mas uma coletânea de normas que abrange vários assuntos e preceitos (ARAÚJO; 
PINTO, 2011, p.17). 
Nesse código, os contratos, principalmente o de compra e venda, decorridos 
três dias, tornavam-se irrevogáveis. O credor poderia escolher entre senhorear-se 
do devedor relapso, transformando-o em escravo temporário, obrigando-o a 
trabalhar até pagar a dívida, ou chamá-lo a Juízo. Se não comparecesse para se 
defender, estaria sujeito a penas draconianas. Podia, também, coagir (coação moral 
ou física) o devedor faltoso a pagar a dívida. A usura não era proibida. Como meio 
de prova admitia o ordálio, que consistia em queimar o acusado com ferro em brasa, 
ou a fazê-lo ingerir veneno; resistindo, era considerado inocente. 
Permitia a prova testemunhal. A mulher era venerada: “Não se bate em uma 
mulher nem mesmo com uma flor, qualquer que seja a falta por ela cometida”, 
prescrevia o Código de Manu. Mesmo assim, o homem desfrutava de posição 
privilegiada. A mulher, se solteira, estava sob a autoridade do pai; se casada, sob a 
do marido, e se viúva, sob a do filho mais velho. Não tinha ela direito a divórcio, 
reservado só aos homens. 
No que concerne à herança, só o filho mais velho herdava os bens. No campo 
criminal, as penas eram draconianas, além da de morte, a de mutilação. No campo 
político o rei reinava assessorado por um conselho dos mais sábios (GUSMÃO, 
2015). 
 
 
20 
 
2.6 Direito Grego Clássico 
ANTÔNIO CARLOS WOLKMER (2014) fala com propriedade que o estudo do 
Direito grego é um tanto etnocêntrico, o que é verdade, afinal de contas, foi em 
Atenas que a democracia e o direito melhor se desenvolveram na Grécia. 
Segundo PAULO DOURADO DE GUSMÃO (2015), o direito da Grécia Antiga, 
particularmente o de Atenas, era bem diferente do direito do Egito e do direito da 
Mesopotâmia; apesar de conter elementos religiosos e morais, não era considerado 
como expressão da vontade da divindade da cidade-Estado. 
Em suas origens, não era escrito, do conhecimento exclusivo de aristocratas- 
juízes, em regra, proprietários. Depois, foi codificado. A partir do século VI a.C., as 
leis de Atenas diferençavam-se das demais leis dos povos da Antiguidade por serem 
democraticamente estabelecidas. Não eram decretadas pelos governantes, mas 
estabelecidas livremente pelo povo na Assembleia depois de debates. Resultavam, 
pois, da vontade popular. 
Entretanto, o enriquecimento dos que não eram aristocratas, criou conflitos 
com a classe dirigente, beneficiada pelo direito por eles criado. Para solucioná-los 
dois legisladores, lendários, foram chamados a estabelecer um novo direito: Drácon, 
mais ou menos em 600 a.C., e Sólon, mais ou menos em 500 a.C. A codificação 
criada pelo segundo, mais moderada e mais justa, atendeu a todas as duas classes. 
A partir daí evoluiu o direito grego (GUSMÃO, 2015). 
Devemos aos gregos parte de nossa terminologia jurídica, que passou para o 
direito romano, empregada até nossos dias, como, por exemplo, “sinalagmático” 
(vínculo contratual que obriga reciprocamente as partes) ou “quirografário” (ato 
escrito do devedor). Outros termos poderiam ser lembrados, como “enfiteuse”, 
“anticrese” ou “hipoteca”. 
Os gregos são considerados os pais dos contratos, aperfeiçoando o contrato 
de permuta dos egípcios e dos babilônicos. Disciplinaram a propriedade privada, 
bem como construíram, principalmente com Platão, uma teoria da pena. Em regra 
draconiana eram as penalidades, tendo largo emprego a pena de morte ou de 
desterro. A propriedade, a princípio, era familiar; só tardiamente individualizou-se 
(GUSMÃO, 2015). 
O casamento, monogâmico; o concubinato, tolerado. A mulher infiel era 
severamente punida; mas o adultério do marido, tolerado. Na ausência de filhos, o 
pai podia apelar para a adoção. O direito de vida e morte em relação aos filhos era 
 
 
21 
 
em Esparta exercido no caso de recém-nascido deformado, doente ou aleijado. Na 
família, a mulher tinha condição inferior, submetida à autoridade do pai, depois de 
casada, a do marido, e, quando viúva, a do filho mais velho; enviuvando, ficava sob 
a de um tutor. Era, pois, incapaz. Não tinha direito à escolha de marido, pois ao pai 
competia escolhê-lo. Entretanto, no recesso do lar desempenhava relevante papel: 
administrava a casa, cuidava dos filhos e participava do culto familiar. O divórcio era 
admitido, mas só os homens dele se beneficiavam. No que concerne à sucessão, os 
ascendentes eram excluídos, não herdavam dos descendentes. Estes eram os 
únicos herdeiros, primeiro os filhos, pois as filhas só herdavam se não houvesse 
varões (GUSMÃO, 2015). 
O forte dos atenienses não foi o direito privado, mas o direito público. Foram 
eles que lançaram as bases da democracia4, (governo do povo, demos + kratein) 
que nos aproximam do mundo antigo. Devemos a eles o princípio do primado da lei, 
incorporado à Cultura Ocidental. Para eles, as leis, sejam as tradicionais (Thesmoi) 
sejam as históricas (Nomoi), eram sagradas. Promulgada a lei, impunha-se a todos, 
igual e uniformemente, sejam governantes ou governados. A justiça, pode-se dizer, 
era a meta do direito grego, confundida sempre com o bem da polis (GUSMÃO, 
2015). 
 
2.7 Direito Romano 
Sabemos que a vocação jurídica reinou em Roma, principalmente por 
distinguir o direito da Moral e da Religião. 
Enquanto os demais povos tiveram inúmeras leis, Roma é que conseguiu 
organizá-las, mas entendemos que suas origens vêm dos costumes, decisões e 
direito de outros povos. 
A importância do direito civil romano pode ser justificada pelo fato de que ele 
perdurou durante mais de doze séculos de evolução e continua vivo em algumas 
instituições liberais individualistas contemporâneas, principalmente naquelas que 
correspondem ao direito de propriedade e ao direito das obrigações. Como 
 
4 Até então o poder encontrava-se nas mãos de um número restrito de famílias proprietárias de 
escravos e de vastas quantidades de terra, cuja riqueza lhes permitia assumir o controle militar e 
político da cidade, eram os aristocratas, termo que significa “governo dos melhores” (aristos + 
kratein). O princípio de sucessão era o dinástico, assim, assegurava-se que a perpetuação do poder 
fosse legitimada através da invocação de uma relação especial com os deuses (MOSSE, 1997). 
 
 
22 
 
exemplos podemos citar diversos tipos de contratos, como a compra e venda, o 
penhor e a hipoteca. 
Uma das maiores expressões desse direito foi o Código de Justiniano, que 
após a compilação de quatro livros: Institutas (manual escolar), Pandectas (reunião 
das constituições promulgadas após Justiniano), Digesta (compilação dos iura) e 
Codex (compilação das Leges), feita por uma comissão de juristas a serviço do 
Império Romano do Oriente; foi chamado de Corpus Júri Civilis por Denis Godefroid 
(VÉRAS NETO, 2014). 
A “Lei das XII Tábuas” (Lex duodecim tabularum) que codificou o direito 
romano primitivo, exclusivo do cidadão romano (jus quiritum), afasta o direito da 
religião, contém direito público, direito processual, direito penal e delitos privados. 
Não indicava a ação para proteção dos direitos. Draconiana, impunha a “Lei de 
Talião” (“dente por dente, olho por olho”) e penas severíssimas para leves culpas 
(retaliação, exílio, pena de morte, entre outras), bem como estava dominada por 
formalismo obscuro, em que o gesto e as palavras eram sagrados. Dessa lei, até o 
fim da República, o direito foi se aprimorando mais por obra de juristas do que do 
legislador. As obscuridades e lacunas dessa lei e o desenvolvimento dos negócios 
levaram à criação, em 367 a.C., do praetor (pretor), que em seus éditos indicava a 
ação cabível, a ser instruída pelas partes, com produção de provas, julgada por um 
árbitro (iudex privatus). 
O édito tomava menos draconiana,menos severa, a lei, e preenchia lacunas, 
a princípio estabelecido para o caso submetido ao pretor, adquiriu, depois, força de 
lei, não podendo ser modificado nem mesmo pelo que o baixou e, muito menos, por 
seus sucessores (Edictum perpetuum). Forma-se, assim, o ius praetorium ou ius 
honorarium, que, a pretexto de interpretar a Lei das XlI Tábuas, a corrigiu, a ampliou 
e a simplificou, tomando-a menos formalista e menos obscura. Dos éditos do praetor 
urbanus (pretor da cidade), competente para apreciar litígios entre cidadão romanos, 
resultou o ius civile (direito do cidadão romano), enquanto dos éditos do praetor 
peregrinus (pretor para estrangeiros), criado em 242 a.C., competente para litígios 
entre estrangeiros e entre estes e os romanos, nasceu um direito novo, fruto da 
equidade, desprovido de formalismo, ojus gentium. 
Roma cresceu, evoluiu economicamente, criando situações e relações 
jurídicas novas, para as quais a Lei das XII Tábuas não continha solução, nem 
tampouco os éditos dos pretores. Tornou-se, então, necessário o concurso de 
 
 
23 
 
técnicos do direito para resolvê-las. Surgiu, então, nos séculos II e III, a praxe de 
solicitar a um jurista a solução para o caso não previsto na lei ou quando 
obscuramente prescrito. Os pareceres desses juristas (responsa prudentium), 
principalmente os de Papiniano (Papinianus), Ulpiano (Ulpianus) e de Gaio (Gaius), 
tinham, no século XII d.C., força de lei; remodelaram o direito romano, criando a 
Ciência Jurídica. 
Augusto deu força de lei à opinião dos eminentes jurisconsultos citados, (ius 
publice respondendi ex auctoritate prudentium). No período bizantino, no Baixo-
Império, esses pareceres foram por três vezes compilados, culminando com a 
Codificação de Justiniano (530 d.C.). É o Corpus Juris Civilis Romanorum. 
Prevaleceu em Roma o princípio da territorialidade do direito, submetendo 
todos, romanos e estrangeiros, ao direito romano; os romanos, ao ius civile, os 
estrangeiros, ao jus gentium. 
Segundo Gusmão (2015), o direito romano, legislado desde a Lei das XII 
Tábuas, aperfeiçoado pelos pretores e pelos juristas romanos, codificado no Corpus 
Iuris de Justiniano, constitui o marco inicial do direito europeu, consequentemente do 
latino-americano. 
Os romanos deram sentido jurídico ao vocábulo “pessoa” (persona); deram ao 
chefe de família e ao marido plenos poderes. A mulher era incapaz, estando na 
dependência jurídica do pai, do marido ou de um tutor. O casamento dependia do 
pai, mas, entre os plebeus o concubinato vinculava os concubinários. O escravo era 
equiparado à coisa; a propriedade (dominium) era entendida como o direito de usar 
e dispor da coisa sem limites. Reconheceram os romanos o direito de ser mantida e 
usada a coisa por quem não tem domínio, ou seja, a posse (possessio), bem como 
admitiram que a posse mansa e pacífica da coisa pudesse gerar domínio (usucapio). 
Contrato, delito (dano causado intencionalmente), quase-contrato (celebração de 
negócios lucrativos em benefício de outrem sem sua prévia autorização) e quase-
delito (dano causado por culpa) eram fontes de obrigações. 
A culpa, por mais leve que fosse, conduzia à reparação do dano. A 
escravização por dívida foi a princípio substituída por trabalho forçado a favor do 
credor até o montante do débito; depois, no tempo de César, desapareceu, 
passando então a responder os bens do devedor por suas dívidas. A “Lei de Talião” 
foi aos poucos posta de lado, dando lugar à composição (preço do dano), e, depois, 
à reparação do dano, sempre na dependência de culpa (GUSMÃO, 2015). 
 
 
24 
 
Esse direito, considerado ser a “razão escrita”, resultante de éditos dos 
pretores e da opinião de juristas, codificado por Justiniano, manteve-se vivo, mesmo 
depois do colapso de Roma, como direito comum na Alemanha até 1900, e no sul da 
França até 1804. As Ordenações que regeram o Brasil Colonial (Afonsinas; 
Manuelinas e Filipinas5) sofreram a sua influência, e a Lei da Boa Razão, de 
18.08.1769, mandava o juiz recorrer ao direito romano no caso de lacuna. Assim, a 
secular árvore do direito romano cresceu em várias direções, com vários ramos, 
introduzindo suas raízes até em terras desconhecidas dos romanos (GUSMÃO, 
2015). 
 
2.8 Direito na Idade Média 
O pluralismo de ordens jurídicas caracteriza a Idade Média. Temos o direito 
romano vulgar6 no sul da França e Itália, direito consuetudinário na Inglaterra, direito 
bárbaro, direito dos senhorios, direito das corporações de mercadores ou de ofícios, 
direito das cidades e direito canônico, vigentes muitas vezes no mesmo território. 
PAULO DOURADO DE GUSMÃO (2015) explica que esse pluralismo é 
resultado da política jurídica adotada pelos germânicos impondo o princípio da 
personalidade das leis, segundo o qual a “nacionalidade” da pessoa determina o seu 
estatuto jurídico: germanos, direito germânico; latinos, direito romano vulgar, e 
clérigos, direito da Igreja. Esse pluralismo foi agravado pelo fato de não ter unidade 
o direito germânico: havia tantos direitos quanto o número de tribos germânicas, 
portanto, para preservá-los foram codificados sem qualquer sistema. Essas 
compilações, que datam do século V, a princípio tratavam do direito penal, depois do 
direito privado, sob a influência do direito romano vulgar. 
Eis as principais compilações do direito germânico: Lex Wisigothorum, dos 
gados; Lex Borgundionum, dos burgundos; Lex Alamannorum, dos alemães, e Lex 
 
5 As ordenações contavam com livros que versavam sobre o Direito dos Eclesiásticos, o Direito Civil, 
Comercial e Penal, entre outros. As Ordenações Afonsinas (1466) foram a primeira grande 
compilação das leis esparsas em vigor... As Ordenações Manuelinas, de 1521, foram a obra da 
reunião das leis extravagantes promulgadas até, então, com as Ordenações Afonsinas... 
Promulgadas em 1603, as Ordenações Filipinas compuseram-se da união das Ordenações 
Manuelinas com as leis extravagantes em vigência, no sentido de, também, facilitar a aplicabilidade 
da legislação (CRISTIANI, 2014). Elaboradas estas últimas por Filipe II de Espanha (Felipe I de 
Portugal), durante o domínio castelhano. Ao fim da União Ibérica (1580-1640), o Código Filipino foi 
confirmado para continuar vigendo em Portugal por D. João IV. 
 
6
 Direito romano modificado pelos costumes, adaptado pelos juristas à sociedade medieval, era o 
direito, sem unidade, aplicável aos latinos, variando de lugar para lugar. 
 
 
25 
 
Salica, dos francos. O pluralismo reinava também no terreno judiciário, pois havia o 
tribunal dos senhorios em seus castelos, o das cidades, o da Igreja, o das 
corporações de mercadores, e os do próprio Rei, como última instância. 
O direito germânico admitia, no caso de delito, a vingança por parte da família 
da vítima, renunciável em troca de uma boa compensação (Whergeld); reconhecia a 
propriedade coletiva do solo e a familiar dos demais bens. O direito penal germânico 
tinha caráter privado, visando desfazer o prejuízo, preocupado com o preço do 
delito, pago pelo agressor de acordo com uma tabela, enquanto o direito processual 
admitia os “juízos de Deus”, reveladores do culpado através do duelo, do veneno, do 
mergulho em uma tina com água fervente, da internação em gaiola, entre outros. 
Vencedor no duelo ou escapado da morte quando submetido a essas provas 
bárbaras, era considerado inocente (GUSMÃO, 2015). 
Sobre o direito romano vulgar, temos que casamentos entre latinos e 
germânicos, bem como negócios jurídicos por eles celebrados, criaram problemas 
jurídicos a respeito da legislação aplicável: romana ou germânica. Para resolvê-las 
foram estabelecidas algumas regras: em matéria de família, a lei do marido; 
contratos, a lei do devedor; propriedade, a lei do proprietário, e no campo penal, a lei 
do acusado. 
O comércio florescente, exigindo flexibilidade jurídica, não atendidapelo 
formalismo do direito romano e pelo tradicionalismo do direito consuetudinário, 
necessitava de direito especializado. As corporações de mercadores criaram-no em 
parte por convenção, em parte consuetudinariamente. Era flexível, desprovido de 
formalismos. Esse direito, não oficializado, criado na feira de mercadores, compilado 
em 1056, em Gênova e, posteriormente, em Pisa e em Milão, não era, por isso, 
reconhecido pelos tribunais das cidades, que não o aplicavam. Em razão disso, 
tornou-se necessária a criação de cortes nas corporações nas quais era aplicado 
para solucionar litígios entre mercadores, e entre eles e sua clientela. As decisões 
dessas cortes eram respeitadas pelos mercadores. Transformaram-se, com o tempo, 
em costumes, vigorando nas feiras, no mercado, entre outros. Depois foram 
compilados. Essas cortes eram conhecidas como courts of piepowders (tribunais dos 
pés poeirentos) (GUSMÃO, 2015). 
Das decisões dessas cortes, dos costumes respeitados pelos mercadores e 
das convenções celebradas pelas corporações, surgiu, no mundo medieval, o direito 
mercantil, direito da classe de mercadores, bem diferente do direito romano. 
 
 
26 
 
As cidades-livres (não submetidas ao poder dos senhores feudais), a partir do 
século X, desenvolvendo-se por força do comércio, disciplinado pelas corporações, 
tiveram de valer-se desse direito, conciliando-o então com o direito consuetudinário 
nelas dominante, e com fragmentos do direito romano, originando, gradualmente, 
graças às decisões de juízes, um direito mais adequado à vida urbana. E foi assim 
que cada cidade, constituindo-se em sociedade política, teve o seu direito (direito 
das cidades). 
O direito criado nas cidades medievais impunha, muitas vezes, aos citadinos 
a renúncia de seus direitos de origem (germano ou romano), submetendo-os ao 
império de direitos nelas vigente. Do século X ao Xl foi esse direito compilado. A 
primeira compilação é o Liber iurium republicae Januensis de Gênova. 
Fora da cidade dominava outro direito, com jurisdição própria, o dos 
senhorios, aplicável a servos e vassalos. A jurisdição senhorial não se encontrava 
submetida à soberania do rei, que por conveniência a reconhecia. Das decisões das 
cortes constituídas de nobres (possuidores de terras) nasceram os direitos 
consuetudinários territoriais ou senhoriais. Direito desigualitário, com privilégios, 
fundado no princípio de hierarquia e de subordinação, em que o contrato tinha 
importância fundamental. 
Nessa ordem jurídica, o feudo (propriedade) dos senhorios, militarmente 
centralizado no castelo-fortaleza (símbolo da dominação), garantia a subordinação e 
a servidão; dava, porém, proteção a vassalos e servos, que em troca o cultivavam, 
pagavam impostos e prestavam serviços aos senhorios. Admitia esse direito 
técnicas cruéis para obtenção da confissão dos acusados e penas severíssimas. 
Esse era o direito feudal dominante nos domínios dos senhorios, em regra, 
consuetudinário, salvo na França meridional que era escrito e romanizado. 
O pluralismo jurídico resultante dos direitos das cidades, dos direitos feudais e 
dos direitos consuetudinários constituía grave ameaça para a unidade política do 
que restava de reinos, artificialmente divididos, e de nações em gestação. 
Casualmente, foi encontrada a solução para esse problema com a descoberta, no 
século XI, em Amalfi, no sul da Itália, de um texto completo do Digesto (Pandecta) 
de Justiniano. 
Era o direito que faltava à Europa medieval, para organizar a vida social em 
bases mais estáveis. Irnério, gramático erudito da Universidade de Bolonha, que 
viveu na segunda metade do século XI, entregou-se ao estudo desse texto, 
 
 
27 
 
formulando interpretações (glosas) do mesmo. Glosas que, no século XII, eram 
numerosas, formuladas nas entrelinhas do texto (glosa interlinear), e depois, à 
margem dos mesmos (glosa marginal) adaptando-o ao mundo medieval. Inicia-se, 
então, com os Glosadores de Bolonha, o renascimento do direito romano na Idade 
Média. 
Do trabalho dos glosadores resultou novo direito romano adaptado à 
sociedade medieval cristianizada que, na Idade Moderna, se transformou em direito 
comum por ser vigente em toda a Europa. Foi vigente até o fim do século XIX, como 
ratio scripta (razão escrita), ou seja, direito por excelência (GUSMÃO, 2015). 
Não podemos esquecer do Direito Canônico, direito da Igreja Católica, 
influenciado pelo direito romano, estabelecido por vários decretos. 
O direito canônico teve uma importância crucial na formação e manutenção 
das instituições e da cultura jurídica ocidental. Toda a reorganização da vida jurídica 
europeia, com o desenvolvimento das cortes, dos tribunais, e das jurisdições tem 
influência do direito da Igreja (MADEIRA, 2010). 
Todos, direito romano, direito canônico, costumes mercantis mediterrâneos, 
doutrina do direito natural contribuíram para o posicionamento jurídico moderno. 
 
2.9 Do Direito moderno ao Direito contemporâneo 
As descobertas marítimas dos Europeus para o Atlântico (século XVI), o 
declínio cultural e comercial do Mediterrâneo são marcos que levaram a um 
aumento do comércio marítimo e, claro, necessidade de um direito codificado que 
desse segurança às relações jurídicas, que não podiam ficar à mercê de um direito 
fragmentário, fundado em costumes, romanizado. 
Surgiu, então, por força de necessidades do comércio, a vocação europeia 
para a codificação, manifestada, primeiro, pelos motivos que citamos ao tratar do 
direito comercial. 
No campo do direito civil, na França, na região romanizada, ocorreu o declínio 
do direito romano, fortalecido, entretanto, na Alemanha. Isso não significou o 
princípio do fim do direito romano porque o direito comum (ius comune), de natureza 
consuetudinária, tinha por base o corpus iuris civilis7 na forma interpretada pelos 
juristas medievais. Foi esse direito que, a partir do século XIII, dominou e vigorou na 
 
7
 Nome dado à codificação de Justiniano, em 1583, cunhada por Dionísio Godofredo. 
 
 
28 
 
França até o século XIX, enquanto na Alemanha até o começo do século XX. No 
campo do direito constitucional, no século XVIII, o documento jurídico mais 
importante que marca a Era das Revoluções é a Constituição norte-americana 
(1787), a primeira Constituição moderna que instituiu o presidencialismo como forma 
de governo e o federalismo como forma de Estado, e que exerceu profunda 
influência no Brasil (GUSMÃO, 2015). 
A Revolução Francesa, acabando com o Antigo Regime, necessitou de leis 
rígidas e intocáveis, estatuídas para o futuro, que mantivessem e impusessem os 
princípios revolucionários de “igualdade” e de “fraternidade”, formulados na 
“Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” (1789). Com a codificação 
napoleônica inicia-se a fase do direito sistematicamente ordenado, unificado e 
uniforme, estabelecido em uma única lei. 
Pode-se dizer que a partir daí a segurança jurídica e a certeza do direito 
tornou-se maior, mas o século XXI ainda nos reservava surpresas e novidades na 
ordem econômica, com a globalização da economia, desconhecendo as fronteiras 
políticas, internacionalizando o capital, trazendo de volta as leis do mercado 
financeiro (sem regulamentação jurídica), fragilizando o Estado; novidades de ordem 
tecnológica, com a robotização da indústria e a revolução eletrônica (Internet, entre 
outros); de ordem biológica, graças à Engenharia Genética, revolucionando, todas 
elas, o direito civil, principalmente o direito de família, e o direito comercial; 
novidades geopolítico-econômicas: regionalismos, sejam econômicos, sejam 
políticos, dos quais a União Europeia é a única que está consolidada e tem moeda 
própria (Euro). 
Considerando a União Europeia, pode-se dizer (exclusivamente em relação a 
ela), haver três sistemas jurídicos: o direito nacional, o direito comunitário(supranacional) ou europeu, estabelecido por convenções, e o direito internacional, 
hierarquicamente integrados. 
Em pé de igualdade, os direitos nacionais dos países que a integram; acima 
deles, os da Comunidade; independente e acima de ambos, o Internacional. Fora da 
União Europeia, temos, no momento, o sistema de direitos nacionais (brasileiro, 
norte-americano, argentino, turco, entre outros) e o do direito internacional. 
A interdependência econômica, a desnacionalização do capital financeiro, 
com a globalização da economia, a multiplicação de multinacionais, de 
transnacionais e a crise econômica parecem conduzir o mundo a se dividir em 
 
 
29 
 
regiões político-econômicas organizadas, umas mais pobres, outras mais ricas. 
Organizações criadas para competir com o poderio econômico dos Estados Unidos, 
como é o caso da União Europeia. Se essa trajetória histórica continuar, 
forçosamente os direitos nacionais terão de se integrar e de se adaptar ao direito 
comunitário (supranacional) dessas organizações. Além disso, a globalização 
continuará a exigir modificações na ordem econômico-financeira e, como 
consequência, na ordem jurídica, como diz PAULO DOURADO DE GUSMÃO 
(2015), problemas jurídicos surgirão e surpresas nos aguardam. 
 
 
30 
 
UNIDADE 3 – NORMAS, LEIS E FONTES DO DIREITO 
 
A palavra direito provém do latim directu, que suplantou a expressão jus, do 
latim clássico, por ser mais expressiva. Em Roma havia o jus e o faz: 
 o jus é o conjunto de normas formuladas pelos homens, destinadas a dar 
ordem à vida em sociedade; 
 o faz é o conjunto de normas de origem divina, religiosa, que regeriam as 
relações entre os homens e as divindades. 
No mundo moderno, direito em seu sentido objetivo, seria um conjunto de 
regras dotadas de sanções que regem as relações dos homens que vivem em 
sociedade, ou seja, o jus romano. Já no sentido didático, poderíamos entender o 
direito como sendo a ciência das regras obrigatórias que presidem às relações dos 
homens em sociedade. 
Para LIMONGI FRANÇA (1994), o direito pode ser entendido sobre quatro 
aspectos: 
1º. como o justo – os jurisconsultos romanos já ensinavam que - jus est a justitia 
appellatum, isto é, que o direito provém da justiça. A criação do direito não 
tem e não pode ter outro objetivo senão a realização da justiça; 
2º. como regra de direito – é a ordem social obrigatória estabelecida para regular 
a questão do meu e do seu (Direito Objetivo); 
3º. como poder de direito – é o conjunto de faculdades que as pessoas têm, 
conferido pela regra de direito (Direito Subjetivo); 
4º. como sanção de direito – é onde se discute o fato de existir ou não direito 
sem sanção, isto é, sem a força do poder público ou dos grupos sociais que o 
torna obrigatório. 
Entretanto, para MIGUEL REALE (s.d. apud MARIA DE FÁTIMA 
ALCÂNTARA DE OLIVEIRA, 1998), apenas as três primeiras perspectivas para a 
compreensão da palavra direito, exprimem mais a realidade, uma vez que ao 
entendermos estes três conceitos, teríamos aí a verdadeira concepção 
tridimensional da experiência jurídica. Mais uma vez o direito num plano 
tridimensional, ou seja, o elemento valor como intuição primordial; o elemento 
norma como medida de concreção da conduta social; e, finalmente, o elemento 
fato, como condição da conduta. 
 
 
31 
 
Definimos direito, agora tomemos rapidamente a definição de ciências, como 
a busca permanente e constante pela verdade, e que pelo fato dela não ser unívoca, 
não há como se designar um tipo específico de conhecimento, não existindo um 
critério único que determine sua extensão, natureza ou caracteres, devido ao fato de 
que vários critérios têm fundamentos filosóficos que extravasam a prática científica. 
Essa é uma constatação da pluridimensionalidade deste objeto que chamamos 
“Ciência”. 
A questão aqui não é a conceituação ou a interpretação literal das palavras, 
mais sim, como diz Oliveira (1998), a nossa visão do direito como ciência, que para 
nós nada mais é que a valoração de um fato (de cunho natural ou social) que por 
força de sua interpretação, gera uma norma jurídica aplicável. 
O direito como ciência, valoriza, qualifica, atribui consequências a um 
comportamento. Não em função de critérios filosóficos, religiosos ou subjetivos, mas 
em função da utilidade social. Para o direito, a conduta é o momento de uma relação 
entre pessoas, e não o momento da relação entre pessoas e divindade e entre 
pessoa e sua consciência, ou seja, o direito não se limita apenas na verificação 
simples dos atos ou dos acontecimentos, muito pelo contrário, eles são analisados 
pelas consequências que produzem. 
Portanto, o direito como ciência se preocupa antes e principalmente com a 
ordem e a segurança da sociedade. São as necessidades sociais e a vontade do 
homem que atuam na interpretação dessas necessidades e transformam as regras 
que essas necessidades impõem naquilo que se denomina direito positivo 
(OLIVEIRA, 1998). 
 
3.1 Norma Jurídica (proceptum juris) 
 “É o preceito de direito transformado em lei, que por sua vez é uma norma de 
direito tornada obrigatória pela força coercitiva do Estado”. 
Pela própria acepção da palavra, norma quer dizer regra, regra de direito, e 
como toda regra, é imperativa, impondo dever e fixando a conduta dos homens em 
sociedade. 
Segundo MARA HELENA DINIZ (1985), toda norma jurídica é autorizante, 
porque só ela autoriza o lesado pela sua violação a exigir seu cumprimento ou a 
reparação do mal sofrido, de modo que é a autorização a sua diferença específica, 
 
 
32 
 
e, por fim, a norma advém no confronto dos fatos com os valores, feitos pelo seu 
elaborador. 
No entendimento de PAULO DOURADO GUSMÃO (2015), a norma jurídica é: 
 a proposição8 normativa inserida em uma fórmula jurídica (lei, regulamento, 
tratado internacional, entre outros); 
 garantida pelo poder público (direito interno) ou pelas organizações 
internacionais (direito internacional); 
 tem por objetivo principal a ordem e a paz social e internacional. 
As normas do direito das sociedades letradas e evoluídas caracterizam-se por 
serem dotadas de generalidade9 não tendo por objeto situações concretas (casos), 
enquanto as do direito arcaico são dominadas pelo casuísmo, disciplinando casos. 
As normas jurídicas disciplinadoras de conduta são bilaterais, sendo, 
portanto, a bilateralidade10 é sua nota específica. 
Geralmente, a sua forma típica é imperativa, geral e abstrata. Compõe-se, em 
sua maioria, de preceito e sanção. Exemplo: “Aquele que, por ação ou omissão 
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, 
fica obrigado a reparar o dano” (art. 186 e 187 do Código Civil – Lei nº 10.406/2002). 
Nesse exemplo, o preceito estabelece as condições da responsabilidade civil, 
ou seja, da sanção, que consiste em reparar o dano. Na norma penal, é evidente 
essa estrutura, pois conta de preceito que define o crime, e de sanção, que 
estabelece a pena. 
Diversos autores, estudiosos do direito, abordam o tema sobre vários 
aspectos e/ou segmentos, há aqueles que entendem a norma jurídica como a única 
constituidora da própria expressão formal da norma do direito; outros, de que ela é 
bilateral, imperativa e coercitiva, ou seja, em seu mecanismo, alguém dispõe, os 
demais obedecem, cuja inobservância acarretará a aplicação da sanção pelos 
 
8
 Proposição que pode disciplinar ações ou atos (regras de conduta), como pode prescrever tipos de 
organizações, impostos, de forma coercitiva, provida de sanção. 
 
9
 A norma jurídica é geral e abstrata por não regular caso regular e por estabelecer modelo aplicável 
a vários casos, enquadráveis no tipo nela previsto. Uma consequência dessa generalidade é a 
flexibilidade da norma e, por conseguinte, em razão dessa generalidade, podemos dizer que todos 
são iguais perantea lei. Por outro lado, uma exceção à generalidade da regra de direito é o privilégio, 
que confere direito ou vantagem a uma pessoa não atribuídos às demais na mesma situação. 
 
10
 Isto quer dizer que por enlaçar o direito de uma parte com o dever de outra, por disciplinar uma 
relação social entre duas ou mais pessoas, na qual uma parte tem a faculdade de exigir a 
observância do dever jurídico imposto pela norma à outra parte, ela se porta como bilateral. 
 
 
33 
 
órgãos do poder público. É imperativa porque prescreve as condutas devidas e os 
comportamentos proibidos. A relação entre norma e conduta é de subordinação, não 
de causalidade. A essência da norma jurídica se constitui simplesmente imperativo, 
autorizante. 
De uma certa forma, estamos diante da teoria tridimensional, ou seja, a norma 
prevê, de forma geral e abstrata, hipóteses de fato, devidamente classificadas por 
tipo, a que imprime valoração jurídica. Sobre essa valoração, o Prof. REIS FRIEDE 
(1995), assim se manifesta: 
 
(...) a valoração implícita da norma jurídica repousa sempre na própria ideia 
que a inspira, indiretamente manifesta, por seu turno, na verdadeira 
estrutura orgânica que a mesma obrigatoriamente apresenta – sem 
qualquer exceção –, dentro do contexto específico de sua inerente 
complexidade. 
 
Diante dessa complexidade, encontramos a norma inserida dentro de três 
diferentes planos. O primeiro, o normativo, no qual a norma é elaborada pelo poder 
competente; o segundo, o ontológico, que corresponde à realidade social; e, por fim, 
o político, que corresponde às tendências políticas dominantes. 
De uma certa forma, a norma jurídica não é uma arbitrariedade, apenas 
corresponde a necessidades de ordem, de equilíbrio, de harmonia, de justiça, cujas 
raízes se afundam numa determinada realidade social, logo não pode ser criação 
arbitrária da imaginação humana ou da fantasia do Poder de que emana. 
Em síntese, a norma jurídica é um produto humano que tende realizar certos 
valores, tais como: ordem, segurança, justiça. É também, norma de conduta posta 
pelo governo, com o intuito de regular seu comportamento social, com o objetivo de 
se chegar à justiça. 
 
3.2 Interpretação da Norma Jurídica 
Interpretar, em seu conceito fundamental, é explicar, esclarecer; dar o 
significado de vocábulo, atitude ou gesto; reproduzir por outras palavras um 
pensamento exteriorizado; mostrar o sentido verdadeiro de uma expressão; extrair, 
de frase, sentença ou norma, tudo o que na mesma se contém. 
Cabe ao intérprete, extrair o real conteúdo da norma jurídica expressa no 
texto da lei que a vincula. Examinar o texto em si, o seu sentido, o significado de 
 
 
34 
 
cada vocábulo, fazendo depois, uma comparação com outros dispositivos da mesma 
lei, e com os de leis diversas. 
Existem vários métodos de interpretação, quanto aos órgão de que emana, 
pode ser: autêntica, judicial e doutrinal. 
 Autêntica – é aquela que emana do próprio poder que fez o ato cujo sentido e 
alcance ela declara, ou seja, a que procede do próprio legislador, sob forma 
de outra lei e, portanto, com caráter obrigatório. 
 Judicial – a que deriva dos órgão judiciários (juízes e tribunais). Não tem 
caráter obrigatório senão para o caso em concreto, mas serve de diretriz para 
a solução dos casos similares (as chamadas jurisprudências). 
 Doutrinal – a que é feita pelos escritores do direito, nos seus comentários às 
leis escritas. Não é jamais obrigatória, mas dispõe também ela, de relevante 
prestígio. 
Para o mestre CARLOS MAXIMILIANO (1981), só o método doutrinal merece 
o nome de interpretação, no sentido técnico do vocábulo, porque esta deve ser, na 
essência, um ato livre do intelecto humano. 
Quanto à maneira de realizar-se, a interpretação pode ser: gramatical, lógica, 
histórica, científica e sistemática. 
 Gramatical, literal ou “ad litterem” – aquela que atende ao texto da lei, à sua 
redação, à significação exata das palavras. 
 Lógica – a que, pela análise meticulosa do texto da lei, procura penetrar em 
seu espírito e identificar-se com o pensamento do legislador na ocasião em 
que a elaborou. Segundo Ihering (apud OLIVEIRA, 1998), a interpretação 
lógica consiste em procurar o pensamento da lei na alma do seu autor, 
passando por cima das palavras. 
 Histórica – a que se apoia no estudo da evolução do direito através dos 
tempos, para se chegar a uma justa aplicabilidade da norma legal. 
 Científica – que se confunde com a lógica, a que no dizer de Paula Batista 
(s.d apud OLIVEIRA, 1998), “presta as premissas e dados para, por meio de 
legítimas consequências não só atingir o sentido moral e sem defeitos, como 
também, adotar entre os sentidos possíveis, aquele que exprimir com a maior 
sequência possível a vontade do legislador”. 
 Sistemática, consiste em comparar o dispositivo sujeito a exegese, com 
outros do mesmo repositório ou leis diversas, mas referentes ao mesmo 
 
 
35 
 
objeto, ou seja, consiste, ainda, em resolver eventuais conflitos de normas 
jurídicas, examinando-as sob a ótica de sua localização junto ao direito que 
tutela (OLIVEIRA, 1998). 
Quanto ao resultado, uma corrente doutrinária (adeptos à escola 
tradicionalista ou clássica), classifica a interpretação como sendo declarativa, 
extensiva e restritiva. Entretanto, outra corrente, não mais admite essa divisão, pois 
é conceito firmado que toda interpretação é declarativa do conteúdo da lei e não 
pode ampliar nem restringir esta. 
Diante dessas diversas formas de se chegar a uma interpretação de um texto 
legal, cabe ao intérprete, não só traduzir em linguagem clara o que o autor disse, 
mais esforçar-se para entender mais e melhor do que aquilo que se acha expresso, 
buscar o que inconscientemente o autor quis na realidade dizer (OLIVEIRA, 1998). 
O que se busca é definir, de modo preciso, o caráter especial da norma e a 
matéria de que é objeto, porque, como nós vimos, existem diversos modos de 
interpretação, bem como, existem diversos ramos do direito, variando desta forma o 
critério de interpretação, conforme a espécie jurídica de que se trata. 
Verba cum effectu, sunt accipienda: “Não se presumem, na lei, palavras 
inúteis”. Literalmente: “Devem-se compreender as palavras como tendo alguma 
eficácia” (OLIVEIRA, 1998). 
 
3.3 As fontes do Direito 
As fontes do direito podem ser materiais e formais e, embora seja comum 
confundi-las, elas são bem diferentes. 
Segundo PAULO DOURADO DE GUSMÃO (2015), no sentido próprio de 
fontes, as únicas fontes do direito são as materiais (fatos econômicos, fatos sociais, 
problemas demográficos, clima, entre outros), pois fonte, como metáfora, significa a 
origem do direito, ou seja, de onde ela provém. 
As fontes materiais é que dão o conteúdo das normas jurídicas e não as 
fontes formais que dão as formas de que se revestem as primeiras (leis, costumes, 
entre outros). 
 
As fontes materiais 
As fontes materiais são as constituídas por fenômenos sociais e por dados 
extraídos da realidade social, das tradições e dos ideais dominantes, com as quais o 
 
 
36 
 
legislador, resolvendo questões que dele exigem solução, dá conteúdo ou matéria 
às regras jurídicas, isto é, às fontes formais do direito (lei, regulamento, entre 
outros). 
Tais fontes se confundem com os fatores sociais do direito e, portanto, com a 
realidade histórico-social. Estes fatores sociais são de várias espécies, dentre os 
quais destacamos o econômico, o geográfico, o moral, o religioso, o técnico, o 
histórico e até o ideal predominante em uma época (valores). 
No que concerne ao fator econômico, a sua influência é enorme no direito 
privado, principalmente no direito comercial, no direito dos contratos e no direito de 
propriedade. Ripert (s.d. apud GUSMÃO, 2015) demonstrou a influência da regra 
moral nos contratos e no exercício do direito de propriedade, em que maior é o 
impacto do econômico.

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