HALL, Sean CAPITULO UM

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CAPITULO UM
 
SIGNOS
E FORMAQAO
DE SIGNIFICADO
Os signos estão por toda parte, mas como, exatamente, eles são formados?
Os signos são formados pela sociedade (que os geram), pelas estruturas e pelas fontes geradoras que a sociedade usa. Vamos ver como isso funciona.
Os signos são sempre produzidos e consumidos no contexto de uma sociedade específica. No mundo ocidental vivemos em uma sociedade que em geral é largamente mecanicista e consumista. Então, quando discutimos algum assunto, geralmente usamos metáforas consumistas e mecanicistas que refletem os pontos de vista dominantes em nossa sociedade. Se tomarmos um assunto concreto como a saúde, por exemplo, acabamos descobrindo que iremos falar do assunto usando termos mecanicistas como a guerra contra a AIDS, ou a luta contra o câncer. A mesma coisa acontece quando falamos de assuntos mais abstratos como o tempo. Falamos disso usando termos consumistas mais amplos, como: usar o tempo, perder tempo, ganhar tempo e passar o tempo, como se o tempo fosse uma mercadoria como o dinheiro, e não um processo que se desenrola. Então, os signos são criados de modos diferentes pelas diferentes sociedades.
Os signos que encontramos em cada sociedade são diferentes na superfície, mas parecem ter as mesmas estruturas fundamentais. Parece que todos os seres humanos sentem a necessidade de contar histórias, quer sejam os povos antigos ou os povos modernos. Por isso encontramos o folclore, os contos de fada, as lendas, os provérbios, os ditados e as charadas em todas as sociedades, quer eles se apresentem como anedotas, romances, mitos urbanos, novelas ou corno reality shows de televisão. Mas também há semelhanças estruturais: muitas sociedades tendem a criar hierarquias, realizar rituais, efetuar jogos, aderir a sistemas morais e a se engajar em alguma forma de representação simbólica.
As sociedades têm duas fontes básicas de formação de significado; a primeira fonte é natural, a segunda é convencionada. Por exemplo, sabemos que é natural para os humanos usar roupas em climas frios. Entretanto, o tipo de roupa e o modo como são usadas é uma questão de convenção (i.e., depende de "regras" de uma sociedade em particular, da qual fazemos parte). Considere a questão dos calçados. Os sapatos podem ser práticos e proteger os pés do solo rude, mas também podem adquirir outros significados que tem pouca ou nenhuma relação com a
CAPÍTULO UM
 
SIGNOS E FORMAÇÃO DE SIGNIFICADO
 
praticidade. O uso de saltos altos é um exemplo de um fenômeno tardio. A despeito do fato dos saltos altos não serem nem um pouco funcionais, nas sociedades ocidentais eles tem um significado convencionado muito particular, como símbolos sexuais. (Observe, no entanto, que o uso de saltos altos em outras sociedades pode parecer estranho e excêntrico.)
No devido tempo teremos chance de explorar alguns desses temas com maior riqueza de detalhes. Antes disso, entretanto, devemos fazer duas coisas. Primeiro, devemos
mostrar como uma coisa pode significar outra. Os conceitos que irão nos auxiliar nessa explicação são o significado e o significante, o signo, o ícone, o índice e o símbolo. Estes são os blocos de construção fundamentais da construção do significado. Segundo, precisamos descrever o tipo de jornada que a mensagem faz em sua viagem do emissor até o receptor. A viagem que descreveremos seguirá os padrões estabelecidos nos exemplos abaixo. Os outros conceitos-chave que precisaremos examinar nesta seção são: o emissor, a intenção, a mensagem, a transmissão, o ruído, o receptor e o destino.
Conceitos semióticos fundamentais
Emissor (o quem) Intenção (com que objetivo) Mensagem (diz o que) Transmissão (por qual meio) Ruído (qual interferência) Receptor (a quem) Destino (com qual resultado)
Emissor (o quem) Intenção (com que objetivo) Mensagem (diz o que) Transmissão (por qual meio) Ruído (qual interferência) Receptor (a quem) Destino (com qual resultado)
Emissor (o quem) Intenção (com que objetivo) Mensagem (diz o que) Transmissão (por qual meio) Ruído (qual interferência) Receptor (a quem) Destino (com qual resultado)
A viagem de uma mensagem
Um designer
Deseja projetar um aspirador de pó
Ele desenha um aspirador muito eficiente
O projeto é produzido em plástico e metal
O aparelho é vendido acompanhado de instruções complexas
Um comprador compra o aparelho
O comprador usa o produto seguindo as instruções
Um pintor
Quer pintar um retrato
Ele pinta um retrato que lembra o modelo sentado
O retrato é pintado com aquarela
O retrato é pendurado em uma galeria sob luz artificial, o que altera suas cores
Um espectador vê o retrato e o compra
O observador pendura o quadro sobre a sua lareira, onde ele fica escuro
Um escritor
Quer escrever um texto sobre semiótica
Ele escreve um livro explicando as complexidades do assunto
O livro é publicado
Acontece um erro de impressão
Um leitor lê o livro
O leitor, não detectando o erro de impressão, fica confuso
 
SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO
O QUE A MAÇÃ DESTA PINTURA SIGNIFICA?
QUE A MAÇÃ DESTA PINTURA SIGNIFICA?
Esta pintura de Lucas Cranach (1472-1553) retrata Adão e Eva no Jardim do Eden. A maça representa o fruto da Árvore do Conhecimento. Satã, que assumiu a forma de uma serpente, usa a maçã para tentar Eva. Ela pega a maçã e a oferece a Adão. Com esse primeiro ato Adão e Eva caem em desgraça aos olhos de Deus.
É fácil presumir que a imagem de Eva sendo tentada pela maçã reflete acuradamente a história da Bíblia. Na Bíblia, porém, não há nenhuma referência a uma maçã. Há menção a frutas, mas não a maçãs. Então, a fruta que tentou Eva talvez tenha sido uma laranja. Ou um figo.
O que parece importante na pintura de Cranach é que a maçã (que chamamos "significante") foi a fruta usada para representar a tentação (que chamamos de "significado").
Entretanto, embora a maçã tenha sido escolhida para representar a tentação, alguma outra fruta poderia ter sido escolhida para representar a mesma ideia. A maçã foi usada porque em nossas mentes existe uma conexão bem estabelecida entre o desenho da maçã e a ideia da tentação. É esta conexão que faz com que a pintura seja bem-sucedida em termos de comunicação.
Podem existir várias relações entre o significante e o significado, das quais dois elementos importantes se sobressaem. Primeiro: pode haver vários significados para o mesmo significante. O outro ponto importante é que podemos ter significantes diferentes para o mesmo significado.
Significado
tentação
saúde
fruta
Nos primeiros três exemplos abaixo temos o mesmo significante com diferentes significados:
Significante
Maçã Maçã Maçã
Entretanto, nos três exemplos seguintes, temos diferentes significantes (dependendo se o idioma em que a palavra é lida é o inglês, o francês ou o alemão) que possuem o mesmo significado:
Significado
maçã maçã maçã
Significante
Apple significa
Pomme significa
Apfel significa