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A INCRÍVEL HISTÓRIA DOS HOMENS E SUAS RELAÇ(JES SOCIAIS Wilma Colonia Mangabeira Leila Maria Alvarenga Barbosa História é a ciência que nos permite conhecer o nosso passado, entender bem o nosso presente, para transformá-lo em um futuro melhor. A História se interessa por todas as atividades do ho. mem, por tudo aquilo que os homens em grupo fazem durante suas vidas. Mas História não é apenas isso. Veremos, ao longo deste livro, como esse conceito é mais amplo: A História é o estudo do homem em processo de constante trans formação. O livro foi escrito para uma ampla faixa etária, ser vindo para todos aqueles que, à margem da escola, estão interes sados em conhecer a Ciência da História. As autoras consideram importante que a sua leitura seja feita em grupo, pois possibilita um espaço maior de discussão e crítica. As autoras: Wilma C. Mangabeira, graduada em Educação Artística pela UNI RIO e em Ciências Sociais pela UFRJ. Professora de 1º e 29 graus, com experiência pedagógica em comunidades populares do Gran de Rio. Leila Maria Alvarenga Barbosa, graduada em História pela PUC/RJ. Professora de 1° e 29 graus e de cursos de formação de pro fessores. ATENDEMOS PELO REEMBOLSO POSTAL 1534·2 A INCRÍVEi. HISTÓRIA .DOS HOMENS E SUAS RELAÇÕES SOCIAIS Leila Maria �. Barbosa Wilma C. Mangabeira - E Leila Maria Alvarenga Barbosa Wilma Colonia Mangabeira A INCRÍVEL HISTÓRIA DOS HOMENS E SUAS RELACÕES SOCIAIS � Ilustrações Clemente Souza de Carvalho Borges Petrópolis 1982 li i 1 l © 1 982, Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 1 00 25600 Petrópolis RJ Brasil Para ltiberê .Para Mauro nossos companheiros r L SUMÁRIO Algumas Palavras, 9 PARTE O Que é História?, 17 PARTE li Como Estudar Histór ia?, 57 PARTE Ili Modo de Produção, um Conce ito Dinâm ico, 67 PARTE IV Modo de Produção Asiát ico, 81 Bibliograf ia Gera l , 109 Bibl iog raf ia Específ ica , 111 r ALGUMAS PALAVRAS ... A idéia deste trabalho surgiu a partir da nossa prática como professoras. Como outros companheiros, nos deparamos com uma série de dificuldades. Uma delas, por exemplo, é o conteúdo a ser «dado» no pro cesso de escolarização. No 19 Grau, encontramos, em geral, a preocupação em «passar» conteúdo, do qual faz parte praticamente toda a História do Mundo, dividida em unidades, temas etc., que devem ser «encaixados» rigoro samente em cada série. Quando chegam ao 2Q Grau, os alunos recomeçam seu apren dizado em História como se jamais tivessem tido contato com esta Ciência. Este mesmo processo acontece também na educação de adultos. Ora, a História é uma Ciência e, como tal, deve ser ensinada. É: evidente que nada disto é por acaso. A eséola não é neutra, desprovida de ideologia e, como tal, reproduz a ideologia dominante. Entendemos que o que está por detrás desta prática é a ten tativa de tornar o aluno incapaz de se apropriar dos conceitos funda mentais desta Ciência, ou seja, dos instrumentos necessários para que ele articule as informações que recebe, tornando-se crítico diante da realidade. Uma das justificativas desta prática diz que a pessoa que não esteja na Universidade - que não seja um adulto letrado - não pode ter acesso aos «segredos» específicos desta Ciência. Isto significa que o conhecimento é visto como um processo acumulativo de fatos, onde a pretensão máxima é que o aluno seja capaz de distinguir «Causas e conseqüências» de fatos estanques, não articulados. Mas o questionamento existe: «Existem professores que, em condições assustadoras, tentam voltar-se contra a ideologia dominante, contra o sistema e contra as 9 práticas que os aprisionam»', mas suas experiências esbarram em inú meras dificuldades: Em primeirn lugar, a própria solidão em que se encontram nas Instituições onde o tspaço de discussão e crítica ainda é muito pequeno. Em segundo lugar, a falta de material adequado. Encontramos, de um lado, «OS livros didáticos» e, por outro, trabalhos importantes e com prometidos, mas escritos numa linguagem que torna difícil sua leitura para adolescentes e adultos «não letrados». Acreditamos que o processo de conhecimento se dá em vários níveis. Mesmo que numa primeira aproximação os conceitos não sejam plenamente compreendidos, ao estudarmos através de conceitos, simul taneamente nos apropriamos de instrumentos para pensar, permitindo que o aprofundamento ocorra ao longo do processo. Nesta perspectiva, nos colocamos a tarefa de escrever um texto que pudesse ser utilizado na escola e, ao mesmo tempo, servisse para todos aqueles que estão interessados em conhecer a Ciência da História. Foi, sem dúvida, um desafio pretensioso. Esbarramos em inú meros problemas como, por exemplo, o de escrever numa linguagem coloquial, sem esvaziar a complexidade dos conceitos. Ao escrever esse trabalho, pensávamos em incluir exercícios que realizamos em sala de aula e que permitem uma maior dinâmica aos cursos. No entanto, corríamos o risco de relatar apenas experiência acabada e não o processo criativo vivenciado pelo grupo. Além disso, acreditamos que existe um espaço próprio de criação dentro do tra balho teórico. Indicamos, neste sentido, algumas leituras específicas, como as de Augusto Boal, para aqueles que se interessarem por este tipo de expe riência. É, sel"Tl dúvida, uma bibliografia limitada, mas, se seguíssemos o outro caminho inicialmente pensado, teríamos que entrar necessaria mente numa ampla discussão a respeito da Arte/Educação em geral e da sua possível prática em uma disciplina específica. Outro problema refere-se à complexidade de alguns campos que levantamos. Resolvemos deixar de lado algumas discussões, como, por exemplo: • Ciência - problemas da produção científica, sua socialização. • Ideologia - problemática do saber e da cultura popular, problemas levantados por Althusser, Marilena Chaui, entre outros. • Modo de Produção - problema da metáfora espacial, modo de pro . dução socialista etc., na medida em que é um trabalho de iniciação. O leitor, em seu pro cesso de estudo, poderá desenvolver melhor estas questões. Utilizamos a ilustração, pois acreditamos na possibilidade crí tica deste recurso. Escolhemos o desenho do humor, pois « ( ... ) ajuda esse processo de apreensão, na medida em que ele justamente não 1. Louis Althusser. Aparelhos Ideológicos de Estado. ln· Posições 2, Editora Graal, Rio de Janeiro. 1 0 r é seno, sisudo, circunspecto como costumam ser, infelizmente, as coisas da educação e da pedagogia»'. É um livro, ao nosso ver, para uma ampla faixa etária. En tendemos como importante que a sua leitura seja feita em grupo, pois possibilitaria um espaço maior de discussão e crítica. Esperamos que ele dê continuidade às novas propostas polí tico-pedagógicas que estão surgindo e que, através dele, outras práticas sejam sistematizadas. Gostaríamos verdadeiramente que as críticas e sugestões che gassem até nós 3, na medida em que acreditamos que este trabalho só alcançará seu objetivo em um processo prático de aprendizagem. Por último, gostaríamos de agradecer a todos que direta ou indiretamente colaboraram neste trabalho, especialmente à professora Nara Saletto, que leu e comentou a versão inicial, e a todos os com panheiros que desde o cafezinho até as críticas teóricas nos ajudaram a concluir este trabalho. Todos, no entanto, estão isentos de qualquer responsabilidade quanto aos possíveis e ·prováveis equívocos contidos neste trabalho. Rio de Janeiro, setembro de 81 Leila Maria A. Barbosa Wilma C. Mangabeira 2. Claudius Ceccon. Com Humor, uma nova linguagem da comuni cação social. ln Vivendo e Aprendendo, equipe do IDAC, Editora Brasiliense, São Paulo, 1980. 3. Escrever para a Editora Vozes. 11 r Canción por la unidad de Latinoamérica E quem garante que a História E carroça abandonada Numa beira de estrada Ou numa estação inglória A história é um carro alegre Cheiode um povo contente Que atropela indiferente Todo aquele que a negue E um trem riscando trilhos Abrindo novos espaços Acenando muitos braços Balançando nossos filhos Já foi lançada uma estrela Pra quem souber enxergar Pra quem quiser alcançar E andar abraçado nela (Música de Chico Buarque) I' 1 1.' ' !1.11 i! 1 i r As vezes um texto muito interessante passa desapercebido por que não sabemos ler! Saber ler não é simplesmente ser alfabetizado. Saber ler é poder, junto, pensar com o autor. Compreendê-lo e criticá-lo. Anotamos aqui um roteiro que usamos quando lemos um texto. Esperamos que ele lhe seja útil: Ler uma vez com atenção Anotar as palavras que não conhecemos Procurar no dicionário seu significado Reler o texto Sublinhar as idéias mais importantes Anotar as críticas e observações Discutir com os companheiros ,r: --- PARTE 1 o que é história ? O QUE É HISTÓRIA? Você provavelmente já estudou ou ouviu falar nesta C I ÊNC IA em algum momento da sua vida. Mas você sabe o que é História? Qual a sua importância? Tente escrever alguma coisa sobre esse assunto, res pondendo a essas perguntas. A sua experiência é im portantíss im a ! Responda, tentando s e lem brar das coisas que você sabe , viveu e aprendeu. 1 9 . í : 1 ,, 1 1. ! l ' tlg ! ' . ' .---- O QUE É HISTORIA? QUAL A SUA IMPORTANCIA? 20 21 História é a ciência que nos permite conhecer o n osso passado, entender bem o nosso p resente, para transformá- lo em u m futuro m e lhor. . A História se interessa por todas as atividades do homem, por tudo aquilo que os homens em grupo fazem du rante suas vidas. Mas a História não é apenas isso. Veremos, ao longo do livro, como esse conceito é mais amplo. 22 A HISTóRlA É O ESTUDO DO HOMEM EM PROCESSO DE CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO ! TODOS OS HOMENS TÊM VALOR PARA A HISTóRIA! E A SUA HISTóRIA? VOCÊ A CONHECE? De onde você veio? E os seus pais de onde vieram? Talvez você não saiba mu ita coisa d e seu passado. É d if íc i l lembrar as coisas que aconteceram h á mu ito tempo atrás. Procure em sua casa todas as FONTES de informação sobre a sua h i stória, sobre a orig em de sua famí l ia . Pergunte a seus avós! Converse com seus t ios! Procure roupas que você · u sou quando criança, fotografias, brinquedos etc. e , juntos, d iscutam os resu ltados de sua pesquisa. O que fo i que você conseguiu? Por onde você começou a pesqu isa? Você teve alguma d ificu ldade? Que tipo de d ificu l- dade? Discuta com os seus companheiros. ·Provavelmente muitos de vocês tiveram as mesmas d ificu ldades de pesqu isar nas fontes. Tentem descobrir jun tos um meio de superá-las. TODOS OS REGISTROS DA PRESENÇA DO HOMEM SAO CHAMADOS «FONTES HISTóRICAS». 23 Tente escrever o que você descobriu com a pesqu isa. MINHA HISTóRIA i ' 1' l 1 1 ' ,1 1 ,,, 1 24 Qual é a h istór ia d e seu s companhei ros? É seme lhante à sua ou completam ente diferente? Ser ia interessante conhecer bem cada companheiro. É bom também ser conhec ido por eles . Contem todos a sua h i stória ! Ser ia interessante d iscut i r a exper iência de v ida de cada um . Tentem perceber qua is os pontos que vocês têm em comum uns com os outros. Organ ize um m u ral com estas questões. Você terá, ass im, um «QUADRO DE V I DA CO LETIVO». Certam ente, fazendo o quadro, alguns pontos d esper taram maior interesse. Esco lha um desses pontos e tente co n hecê-lo melhor. Todas as coisas têm uma razão de ser ! A h istória se interessa por tudo aqu ilo que o homem cr ia e transforma. A História é a at iv idade dos homens vivendo em sociedade. TODOS OS HOMENS FAZEM A HISTóRIA ! VOCÊ FAZ A HISTóRIA ! Para podermos compreender profu ndam ente os pro cessos h istóricos, devemos começar estudando a forma. pela q ual os homens produzem os me ios mater ia is . · · · Mas o que é o HOMEM? O SER HUMANO? O que o d istingue dos outros S-eres v ivos? O que o d i ferenc ia dos ANIMAIS? -···· · , Você poderia d izer que estas 12e�rgt,Jnta.s são m u ito fá ceis de serem respond idas : o ser humano é d iferente dos an i ma is porque pensa, raciocina , tem sentimentos relig iosos, ca pacidade de esc:_olher entre uma coisa e outra; e os anima is 25 não têm estas �apacidades, s implesmente são gu iados por seus inst intos. - - -------� i-Estâ . certo . Todos estes pontos realmente d iferem os homens dos an imais . ----------- Mas --e o -homem pr im itivo? Os pr ime i ros homens? Como estes se d iferenciaram dos an ima is? 26 f I Como você já deve ter ouvido fa lar, nossos �mtepassadQs foram o re sultado de Q1utações ocorridas em �l'ltr()póides_ (macacos que se asseme· lhavam aos homens). Estes antropóides moravam nas árvores e viviam em manadas. A maioria desses macacos 'útüfia �am-se das mãos e dos p�s para andar. Apoia vam no solo os dedos e, encolhendo as pernas, faziam avançar o cor12._o por entre seus·· braços como, aliás, fazem os m�cacos até hoje. Mas, em conseqüência dessa sua 'Li.c:lª- nas árvores, essa vida de sobe e desce, alguns dos seus b_ápitos foram mudando� Suas _mãos, ao trepar nas árvores, tinham que desempenhar fun ções �iferentes das dos pés. Estes ma cacos foram-se acostumando· a não precisar das mãos ao caminhar pelo chão e começaram a aciotar- -êãdà vez mais a posição ereta. 27 I' i l ,'.[, ' ,,, ', : Foi o passo decisivo para a tran sição, do macaco ao homem. Em 1891 foi encontrado, em Java, um fóssil deste antropóide, que viveu há cerca de 500.000 anos atrás: o pitecantropo ereto. Este nosso antepassado conquis tou uma grande vitória: a posi ção ereta! Andava de pé! 28 Com os braços agora Evres, começaram a executar as mais variadas funções ligadas à sua própria §Obrevivência. As @ªQ§. servem agora não só para subir em árvores, e, sim, servem principalmente para re colher e segurar os alimentos. Mas isso qualquer macaco faz! Inclusive alguns chipanzés chegam a construir telhados entre os ramos das árvores para defenderem-se do mau tempo! Durante muitos milhares de anos os nossos antepassados foram adap� t,an�o. �ouco a pouco as suas funções. No m1c10 estas funções eram extrema mente simples: colher alimentos nas árvores, defenderem-se dos inimi�os jogando pedras, etc. __ ._,_ ·· · Mas, lentamente, a mão do ho mem ia se §!daptan.c:lg a novas e no vas funções. Estas n��as habilidades transmitidas de pai para -filho, ian; transformando seus mi;i.�c;:ulos e liga mentos, o que permitia que a mão do homem se aperfeiçoasse cada vez mais e pudesse vencer novos desa fios, cada vez mais complicados. 29 A mão do homem, aperfeiçoada, assim, pelo trabalho, durante cente nas de milhares de anos, atingiu um grau de perfeição que, finalmente, ele foi capaz de, utilizando-se da natureza, construir seus primeiros instrumentos de trabalho! Foi fundamental para a história do ser humano o momento er:i que ele percebeu que po_��_riJ�"' utilizar a própria �atur�za para construir seu instrumento do trabalho, que não dependia unicamente do seu corpo, que já possuía os meios de trabalho, objetos que o ajudavam a produzir! . Agora poderia valer-se do instrumento para transformar os objetos de acordo com o seu desejo! Isto nenhum animal jamais pôde fazer! Agora o homem tin�a .º seu prod�to! O próprio homem começa a se ç!Jferenciar dos anima.is através do trabalho, a partir do momento em que começa a produzir. 30 VOCÊ JÁ PENSOU NISSO? Nós d issemos que o próprio homem começa a se d i ferenciar dos animais a partir do momento em que começa a produz ir. Você pode ter pensado : «mas a abelha não produz a sua colméia? a aranha, a sua teia? o passarinho, o seu n inho?» O texto abaixo pode responder essas dúvidas. Leia-o atentamente e discuta com seus companheiros. «0 trabalho é, em primeiro lugar, um processo entre a natureza e o homem, processo em que esté real iza, regula e contro la , m ed iante sua própria ação, seu intercâmbio com a natureza. N este processo o homem se defronta com u m poder natura l , com a matéria da natureza . Põe em ação a s forças natura is que formam seu corpo, seus braços e pernas, cabeça e mãos, para poder assim assimilar, de forma útil para sua própria v ida , a matéria oferecida pela natureza exterior. E transforma, igua lmente, sua própria natureza , desenvolven do suas potenc ia l idades latentes e submetendo o jogo de suas forças à sua própria d isc ip l ina. ( . . . ) Partimos aqui da supo sição da existência do trabalho modelado segundo uma forma pertencente exclus ivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes àque las levadas a cabo pelo tecelão ; a construção dos favos de mel pelas abelhas poderia enver gonhar, pe la sua perfe ição , muitos mestres de obras. Há u m aspecto, contudo, em que este último supera a melhor das 31 abelhas : é o fato de que , antes da construção, ele e labora o objeto em sua mente. ( . . . ) ' Podemos d i zer, então, que os homens se d i feren ciam dos an imais pr incipa lmente porque PRODUZEM. Produ zem através do TRABALHO e, através do trabalho, se relac io nam com a NATUREZA e com outros HOMENS. As r iquezas naturai s de nada servem sem o trabalho do homem. Sem o trabalho dos pescadores, o mar não entre garia seus peixes. Sem o traba lho dos camponeses, a terra nao entregaria seus frutos. 1 . Anna Maria de Castro e Edmundo F. Dias. Introdução ao pensa mento sociológico. Editora Eldorado, RJ, 1 978, p. 1 69-1 70. 32 r l ATRAVÉS DO TRABALHO O HOMEM CONSEGUE O SEU PRODUTO Todo produto tem um fim determ inado, n inguém produz alguma coisa da qua l não necessita. Mas tudo aqu ilo de que o homem necessita é adqu i r ido através do trabalho? Os homens têm vários t ipos de ne cess idades, mas nem sempre trabalham para satisfazê- las.· Respi rar, por exemplo, é uma necess idade b io lóg ica e sua sa tisfação é ind ispensável à v ida . No entanto, o ar que respi ra mos é d i retam ente fornecido pe la ·natureza . É c laro que nem tudo é ass im tão s imples ! Em geral, temos que transformar os recursos ofere cidos pela natureza em objetos materia i s que necessitamos. MAS QUE OBJETOS SÃO ESSES? Esses objetos são os produtos da at iv idade humana, que consiste em , através do trabalho, transformar a natureza para atender às necessidades do hom em . A essa atividade chamamos PRODUÇÃO. O homem ut i l iza seus recursos de acordo com suas · necessidades. Mas estas necessidades não são sempre as mesmas. Elas se mod if icam de acordo com o local , a época, e com o t ipo de vida dos homens em soc iedade. O homem que viv ia em uma reg ião mu ito quente não faria uma vestimenta de peles, pois , af inal, quem i r ia usá- la? Todo objeto que corresponde a uma necess idade hu mana determ inada (b iológica ou social) , possu i um VALOR DE USO. 33 li 11 . 1 : 1 i O PRODUTO, portanto, é um valor de uso, pois , se- não, para que produzi-lo? , Mas, como já v imos, nem todo valor de uso e um produto. O ar que respiramos, por exemplo, é um val�r de uso mas não é um produto. Responde a uma necessidade h u�ana, mas não sofre nenhum processo de transfo rmação para ser consum ido. O HOMEM TRANSFO RMA A NATUREZA SOZINHO? Os homens não estão sós e iso lados no processo de transformação da natureza. Ao transformar a nature _ za, es�a belecem entre si determ inadas relações de co laboraçao e aju da mútua, ou relações de exploração. COMO SE ORGANIZAM OS HOMENS PARA PRODUZIREM O QUE N ECESSITAM? Trabalham juntos na m esma coisa? As pessoas se d ividem para produz i r, organ izam u ma d ivisão de tarefas, uma DIVISÃO D E TRABALHO. QUANTO MAIS UMA SOCIEDADE SE DESENVOLVE, MAIO R Ê A DIV ISÃO DO TRABALHO, MAIOR Ê A ESPECIALIZAÇÃO. Ditas estas co isas, podemos então aprofundar o c�n ce ito de História: ·a H istór ia é a c iência que estuda as :oc1e dades humanas em processo de constante transformaçao. 34 � D\ �e. pOJ),c,_ � . J OJt, (À, f"A ·'V\,... CV\.t::Jtru:i.. YV\.•'"JL o� itét-0 . " 1 MAS EM QUE SE BASEIAM ESTAS TRANSFORMAÇôES? As causas ú lt imas de todas as transformações socia is não devem ser buscadas na cabeça dos homens, na sua cres cente compreensão da verdade e da justiça eterna , pois não podemos parti r do que os homens d izem , se representam ou se imag inam. Temos que parti r dos homens de carne e osso, dos hom ens reais , que agem, que atuam e produzem m ate r ia lmente. Em toda soc iedade que se apresenta na H i stór ia , a produção, a d istr ibu ição dos p rodutos, e , com e la , a a rt icu lação dos homens em c lasses ou grupos sociais , se o rientam pelo que se produz e pela forma como se produz , ass im como pelo modo de perm uta do que fo i produz ido . A compreensão ú l t ima dos p rocessos históricos deve ser buscada na forma pela qual os homens· produzem os meios materia is. Pensamos que seria interessante, para conhecer his tór ia , com eça rmos estudando a SOCI EDADE P RIMIT IVA. I sso porque , quem fo i à escola , sabe que sempre se com eça da í , com o nome de «Pré -H istória». Esse não é necessar iamente o cam inho que devemos tri l har para chegarmos a compreender a sociedade de hoje , a soc iedade CAPITALISTA, mas achamos importante começar ass im, como se faz na esco la , e repensar a mane i ra como aprendemos. Ser ia errado continuar ut i l i zando o termo « Pré H i stór ia» , pois , se a H istór ia é a h istór ia do Homem, a H istór ia ex iste desde o momento que o homem ex iste. SEM HOMEM, NÃO HÁ H ISTóRIA. Começaremos, então, pelo estudo das COMUN IDA DES PRIMITlV AS. QUANTO MAIS UMA SOCIEDADE SE DESENVOLVE, MAIOR É A D IVISÃO DO _ TRABALHO, MAIOR É A ESPECI ALIZAÇAO. Ao estudarmos a lgum as sociedades primitivas qu e surgiram h á milênios atrás, podemos percebe.r q ue, em geral, a d ivisão do traba lho é feita por sexo e por idade . Nas comunidades onde a caça e a co leta de frutos e raízes são as principais atividades econômicas, a ta r�fa da co leta pertence às m ulheres, enquanto que a caça e traba lho dos homens . . Esta divisão parece ter sido assim organ izada porqu e as m u lheres, tendo que cuidar das crianças peque nas, ª'.11ª. mentá- las, não podiam deixá- las por muito tempo e sa!f a procura de caça . Sendo assim , a caça era uma tarefa executada pelos homens . Entre 0 homem e a m u lher existia uma relação de igualdade, pois ambos participavam da produção . 36 L OS CAÇADORES E COLETORES NÃO PRATICAVAM A AGRICULTURA N EM A P ECUÁRIA. PROCURAVAM E RECOLHIAM DA NATUREZA SUA ALIMENTAÇÃO. Além da d ivisão do traba lho baseada no sexo, as ta refas também eram d iv id idas de acordo com a idade. Mas tudo o que os ma is velhos sabiam, sobre como executar as tarefas necessárias à sobrevivência , era ensinado aos ma is novos. Os instrumentos de trabalho , feitos de pedras e ossos, eram s imples, fáceis de serem fe itos. Com esses ins trumentos, eles iam à caça de an ima is selvagens ou desen- terravam as ra ízes a l iment ícias. · TODOS TRABALHAM E TODOS T!::M ACESSO AOS FRUTOS DE SEU TRABALHO. Os caçadores e co letores se organ izavam socia lmen te da forma mais s imples que se tem not íc ia . A essa organ i zação damos o nome de HORDA. A horda era, geralmente, composta no m áximo por 100 pessoas. A horda é uma sociedade igua l itár ia . NESTA ÉPOCA O HOMEM AINDA NÃO EXPLORA O TRABALHO DO SEU SEMELHANTE ·E N EM SE APROPRIA DOS FRUTOS DO TRABALHO ALHEIO. 37 Nesta soç:iedade' igua l itár ia , a lguns m embros se des tacam por sua habi l idade e m u itas vezes assumem a d ireção da horda. A d i reção pode ser assum ida pelo mais háb i l nas d iversas atividades rea l izadasna comunidade: o melhor ca çador, o melhor coletor, o mais hábi l na prática re l ig iosa ou , a inda , pe lo ma is idoso. Não existe nenhuma desigualdade que se baseie na função que cada u m exerce na comun idade. EXERCER A FUNÇAO DE CHEFE NAO SIGNIFICA A POSSE DO PODER ECONôMICO E, SIM, DE PREST íGIO E RESPEITO DOS MEMBROS DA HORDA. Era possível a todos os componentes da horda o acesso à terra, à água e à a l imentação. O poder de chefe é temporár io , podendo ser assu m ido por outra pessoa. Como a chefia não passa de pa i para f i lho , não se desenvolvem desigualdades duradouras. Veja um exemplo do papel do chefe de uma horda, em uma sociedade concreta. «Assim, entre os Esqu imós lg lu l ik, há uma regra qu� d iz competir a utn homem idoso, que goza do respei to dos outros, dec id i r em que momento é preciso deslocar-se para 38 I um ou tro centro de caça , quando é que se começa a caça, com o é que se reparte a caça , quando é que se a l im entam os cães etc. Chamam - lhe isuma itoq ( aque le que pensa ) . Nem sempre é o ma is ve lho , mas é um homem idoso , que é um caçador astucioso, ou exerce um grande poder como chefe de uma g rande fam í l ia . Não se pode d izer que seja um chefe, e não se é obr igado a segu i r os seus conselhos. Mas as pes soas seguem -nos o mais das vezes, em parte porque se ba seiam na sua exper iência e em parte porque convém esta r de boas relações com ele» ' Mas a vida do homem não parava de se transformar . O homem estava sempre exper imentando e descobr indo coi sas novas. Aprendendo com seus erros e acertos . Com eçaram a util i zar o fogo que achavam junto aos vu lcões e nos incên d ios das f lorestas. Ma is tarde aprenderam a obter o fogo pelo atr ito, usando, por exemplo , a pedra. · Seu s instrum entos de traba lho também vão se aper feiçoando - ut i l izam -se da pedra, mas de mane i ra d i ferente . Passam a po l i - l?ts, transformando-as em facas, pontas de f lechas e dardos. 1IL Através de mu ito tem po de observação da natureza, os homens vão exper imentando e descobr indo novas formas de re lac ionar-se tom e la. A lguns g rupos de caçadores gostavam de levar, pa ra seus acampamentos, f i l hotes de an ima is que caçavam, pa ra serem cr iados pelas cr ianças. Os prime i ros an ima is que vive ram perto qo hom em foram cães de caça. Com o tem po, aves, porcos, ove lhas, eqü inos , bovinos , foram também traz idos. Agora o homem não prec isava sa i r para caçar todos os d ias. Seu a l imento estava bem mais perto . O homem descobre a pecuária ! 2. Jean C�pans (e outros) . Antropologia - Ciência das sociedades primitivas? p. 164. 39 E A AG RICULTURA, COMO COMEÇOU? Esta parece ter s ido uma descoberta que devemos às mu lheres. Como já sabemos , a coleta de ra ízes e frutos era tarefa da m ulher . Logo , foram as m u lheres a perceberem pr i meiro que a lgum as sementes largadas no chão, por acaso, se transformavam em novos frutos. Descobriram que pod iam plantar ! Começaram a fazer agr icu ltu ra ! A invenção da agr icultura e da pecuár ia s ign if icou uma g rande transformação na vida da comun idade. ls!o por que a criação da agricu ltu ra s ign if icou um desenvolvimento das forças produtivas, i sto quer d izer que se transformou , em n ível de qua l idade, a relação que os homens t inham com a natureza, transformando assim , de forma profunda, a relação dos homens com os outros hom ens, dentro e fora da produção. . . . . O desenvolv imento da agr icu ltura s1gmhcou tambem o surg imento de um excedente (parte da produção para a lém das necessidades dos produtores) . A invenção da agricu ltura traz, junto com ela , a cr ia- · ção de novos instrum entos de trabalho e o surg imento de novas relações entre os homens . 40 r -·: . ·, . i. E A DIVISÃO DO TRABALHO? Nas soc iedades dos caçadores e coletores, a d ivisão do trabalho era apenas por sexo e idade. E nas soc iedades dos agr icu ltores e cr iadores de gado? A divisão do traba lho não é ma is s im ples . Ela se torna mais complexa. A PRODUÇAO A INDA É COLETIVA ! TODOS TRABALHAM E TE:M ACESSO AOS FRUTOS DO SEU TRABALHO. MAS, AGORA, OS HOMENS NAO Tt::M MAIS A MESMA FUNÇÃO N A PRODUÇÃO. Vejamos um exemplo concreto: «0 corte in ic ia l das á rvores na floresta é tarefa de um grupo de homens, que traba lham co letivamente. A l im peza da vegetação raste i ra é traba lho de um g rupo de mú- 41 l heres. A construção da policoba, que protege os qu inta i s dos an ima is , é obra de outro g rupo de homens. As operações_ para p lantar o qu inta l e co lher os tubércu los são tarefas ind ivi dua is , rea l i zadas por mu lheres» '. Quando pensamos nas re lações entre operár io e ca p ita l i sta, na soc iedade de hoje , percebemos que esta não está de forma a lguma l igada aos laços re l ig iosos, po l í t icos ou fa m i l iares, que estas duas c lasses possam ter entre si. A relação entre estas duas c lasses é pu ram ente econôm ica e se concre t iza através do traba lho . Nas soc iedades pr im it ivas, a s ituação é m u ito d i - ferente. Entre os agricu l tores e cr iadores de gado, as relações de parentesco entre ind iv íduos e g rupos regu lam o traba l ho: as formas de cooperação, de d iv isão do traba lho , de ut ili zação do solo e até a d i str ibu ição e o consumo dos produtos. O fraco desenvolv imento das forças produtivas, nas soc iedades pr im it ivas, faz com que a cooperação entre -os ho mens se torne ind i spensável para assegura r as cond ições m a ter ia i s necessá r ias à v ida em comun idade . Sendo ass im , o re presentante de um grupo de parentesco, quando necessár io , faz ape lo a parentes, ou , então, a g rupos que são seus a l ia dos - por' terem , por exemplo , casado com a lguém do seu grupo . Dessa mane i ra, o traba lho produtivo organiza-se com a ajuda de serv iços prestados, em nome de suas relações fa m i l i a res, po l í t icas ou re l i g iosas . N ESTE CASO, AS RELAÇõES DOS HOMENS NA PRODUÇAO N AO SAO SEPARADAS DAS RELAÇõES SOCIAIS, RELIGIOSAS E DE PARENTESCO. Nas soc iedades pr im it ivas, o trabalho como at iv idade puramente econôm ica não ex iste . O traba lho é ao mesmo tem po um ato econôm ico , po l í t ico e relig ioso. 3. Jean Copans. Op. cit. p. 262. 42 O homem prim itivo é um homem completo, seu tra ba lho não é separáve l do seu ser socia l . . ·,.2,fxo lii.�t&A\.HO -- AFETo • ·,, .L-----z"';:-�i.'- - ... -... - -==-=--=-=-... ............. � ,_, .. -.. , / \) 1'1A ! / /t � j - - --- Nós já sabemos que os agricu l tores e cr iadores produzem , com seu traba lho , um excedente. Mas como são d istribu ídos estes excedentes? Em gera l , nas tr ibos - comun idades m a is h ie ra rqu i zadas, próprias desse t ipo de produção - os excedentes são entregues aos chefes que os red istribuem de vár ias mane i ras. Mu itas vezes estes excedentes são acumu lados para serem consum idos em g randes festas, da qua l part icipam todos os membros da tribo. 43 AS SOCIEDADES DOS AGRICULTORES E CRIADORES DE GADO S E O RGANIZAM, COMO JÁ VIMOS, EM TRI BOS - GRUPOS MUITO MAIORES, QUE VIVEM SOB UMA ORGAN IZAÇÃO SOCIAL MAIS COMPLEXA, MAIS H IERARQUIZADA. Esta organização surge na med ida em que existe a lgo · em com u m a todos os homens da tribo - o fato de rea l izarem a agricu l tu ra . A terra é o grande laboratório, o arsena l que propor ciona tanto os m eios e os objetos de traba lho , como a loca l i zação - base da comun idade. Os homens se cons ideram membros de uma comunidade que se produz e se reproduz pelo trabalho vivo . A tribo não é mais um conjunto de famí l ias l igadas pela descendência ou pela a l iança, como na horda , mas s im um aglomerado de vár ios conjuntos de fam í l ias . · Todas as pessoas da tribo estãoun idas por laços de parentesco e estes laços regulçim a v ida soc ia l . Além d iss o, existem regras próprias à tribo como um todo, que , juntand o se aos laços de parentesco, desempenham papel importan te na integração socia l , regu lando desigua ldades que surge m entre os d iversos g rupos que compõem · a tribo. 44 TODOS OS MEMBROS ADQUIREM D IREITOS E DEVERES ATRAVÉS DO MESMO PROCESSO, NO QUAL APRENDEM A UNGUA E SE TORNAM HERDEIROS DO PATRIMôNIO CULTURAL COMUM. L Pouco a pouco, os homens em mu itas reg iões do m undo, onde a ag ricu l tura era praticada, foram aumentando o número de p lantas cu lt ivadas, adotando métodos de traba l�o e in . strum entos ma is ef icazes para o preparo do solo des t inado as lavouras . As inovações ma is importantes foram a descoberta da técn ica de i rrig·ação e adubagem do solo . Além di�so, o uso �o arado e de veícu los de roda, ambos de tração ammal , perm i te que o homem produza ma is a l imentos, tendo cada vez ma is fartu ra nas colhe itas . TODA NOVA FORÇA P RODUTIVA TRAZ, COMO CONSEQüt::NCIA, NOVO DESENVOLVIMENTO NA DIVISÃO DO TRABALHO. Já sabemos, a .gora , que a d iv isão do traba lho se torna ma is com plexa. A lgumas pessoas espec ia l izam -se na p rod ução artesana l e ocu pam com esta at iv idade todo o seu tem po. Outras ded icam-se inteiramente à produção de a l i mentos. Os artesãos podem ded icar-se tota lmente à sua arte , porque as novas invenções (arado, técn ica de i rr igação e tc . ) , o desenvolv im ento das forças produtivas, poss ib i l itam a cria ção de um excedente de a l im entos suf ic iente para a l im entar tanto aquele que permanece traba lhando a terra, quanto o artesão . Agora os homens não têm ma is exatamente a mes ma função na produção. Os homens vão se espec ia l izando naqu i lo que fazem . Os homens com eçam a se d i ferenciar uns dos outros de acordo com a sua função na produção. . A ex istência do excedente , e a especia l ização no tra ba lho , tornam possível a TROCA. No in íc io a troca tem como f ina l idade apenas a manu tenção do produtor e de sua comun idade. Na sociedade de agricu l tores e criadores, o d i re i to à terra é com un itário e oferece a todos os ind ivíduos u m a ga rantia de acesso a este recurso fundamenta l , ass im como é garantido também às gerações futuras . Um chefe «Yorubá», ao ser questionado sobre a propr iedade de u m determ inado vale, respondeu : «Esta terra, eu acred ito que pertença a uma grande fam í l ia , da qua l m u itos m embros estão mortos, a lguns vivos, e a g rande ma ior ia a inda está para nascer» '. 4. Eduardo Homem e Sônia Correia. Moçambique, primeiras Ma chambas. 45 l Tendo a terra uma d imensão sagrada, aque les que possuem os poderes mág icos mais fortes (que «garantem» a ferti l idade da terra e dos an ima is, exercem u m contro le sobre a terra e os bens ma is preciosos de· sua tribo. Esse contro le não s ign i fica propriedade ·como enten demos e , s im, que uma m inor ia organ iza a produção, controla a terra , baseada em seus poderes mágicos. O poder desses g rupos é um poder de função, não um poder econôm ico. Nestas soc iedades, nem a terra , nem o trabalho humano - a força de traba lho - tinham se trans formado em mercadorias que se podem adqu ir i r em troca de outras. O importante é saber que , em cada tr ibo, há um .grupo soc ia l com mais d i re itos sobre a terra do que os outros - apesar de que a inda era possível a todos o acesso à terra produtora de a limentos. No estudo de casos concretos, percebemos que o p restígio, l igado ao exerc íc io de uma função, se transforma em poder . E o contro le dos meios de produção, pr incipa lmen te da terra , acaba por fazer com que o interesse part icu lar se sobreponha ao interesse coletivo . É a í que entra uma questão fundamenta l , que preocupa todos os c ientistas socia i s : expl icar como uma m i nor ia soc ia l consegue person if icar os interesses comuns da sociedade e transformar pouco a pouco o seu poder de funç�o em poder de exploração econôm ica e soc ia l . Vejamos um exemplo de comun idade concreta : a Co mun idade Célt ica Ir landesa. Até o sécu lo VI d.C . , os celtas eram cr iadores de gado que se . de's locavam à procu ra de al i mentos. No sécu lo VI, começaràm a estabe lecer-se em a lde ias sedentárias e a prat icar agricu ltura . Cada a lde ia era com posta de três ou quatro g rupos fam i liares, dP. vinte a tr inta pessoas, que resid iam em aglomerados separados dentro da mesma a lde ia . A própria a ldeia , os cu rra is de gado e os qu inta is cons t ituíam um espaço chamado FAlCHTE, que era a propr iedade de cada uma das fam í l ias . A terra cu lt ivada , a f loresta , os prados em redor da a lde ia , eram propriedade comum. O tra ba lho era pratica . do em comu m . A partir do sécu lo VII, ver i f ica -se que os chefes de clã , que até então admin istravam a terra em com um em nome do c lã , transformaram pouco a pouco uma parte desse patrimônio comu m em propriedade sua . O clã já não era apenas um grupo de parentes, mas in c lu ía escravos, homens l ivres adotados de outros grupos fa- 46 r r m il iares etc. Havia-se, portanto , estabelec ido uma d iferencia ção na comun idade entre r icos e pobres, a qua l formava a base de uma nova estratif icação socia l • . . Hoje todos nós entendemos muito bem o que s ign i-f ica s�r ou não ser proprietár io . Sabemos, por exemplo, que possu i r u�a g rande extensão de terra s ign if ica r iqueza, · capi ta l , ou seja , poder econôm ico. . Para o homem prim itivo, a terra onde planta não ex iste separada do seu ser soc ia l . Não é des ligada da sua v i vência rel ig iosa, sua relação de parentesco, enf im , de todos os aspectos que fazem parte da sua ex istência . A relação entre o homem prim it ivo e a terra tem sempre uma d imensão sa g rada, o que impede de ver a terra como um recu rso m era mente econôm ico. A própria noção do que seja propriedade é completamente d i ferente. Por exemplo , entre os SIAN ES da N OVA GUIN É : « - um ind ivíduo tem d i re i tos d e t ipo MERAFO . sobre um_ objeto .se é , em relação a esse objeto, como um pa i e� relaçao aos f i lhos. É responsável por e le perante a comu n idade e os seus antepassados. É essa a regra de apropriação da . terra, das plantas sagr�das, dos conhecimentos r ituais , bens Cuja tutela lhe pertence e que não pode transfer ir ou a l ienar· . ind_ ivíduo tem d i re i to ANFONKA sobre u m objet� se esse objeto e como a sua sombra. Esses objetos podem ser as roupas, os porcos, as á rvores p lantadas, os utensíl ios, as armas. Esses bens são apropriados pessoa lmente e podem ser transferidos» •. Nas sociedades pr im it ivas , as formas e os m eios de co�s�o, de regu lação soc ia l , fazem -se, em pr incípio , em be neficio do co�junto soc ia l . O progresso das forças produtivas e . o desenvolv imento da des igua ldade social perm item 0 nas c imento de g rupos que não podem mais assegu rar a coesão e a reg _u lação social , a não ser assegu rando a sua própria re produçao: Sendo ass im, começa a existi r uma c lara separação entre os interesses deste g rupo e o interesse co letivo . A ativid��e po l ítica de ixa de ser a função que 0 g rupo exerce em benef1c10 de toda a comun idade (o rganização eco nôm ica, d istribu ição de bens etc., para se tornar um organis- 5. Jean Copans. Op. cit. 6. Jean Copans. Op. cit 47 mo preocupado em defender os interesses desse grupo em detr imento dos outros grupos. Se a terra não é ma is propr iedade de toda a comu n idade, s e s ó algumas pessoas possuem a terra , o q u e acontece com aquelas que não têm terra? Para mu itas dessas pessoas, a vida começa a se torna r m a is d if íc i l . A terraé um MEIO D E P RODUÇÃO. Sem e la não se pode produz i r . Por isso, os que consegu iram apropr iar-se destes m eios e conservá- los em suas mãos, podem obrigar os que não os possuem a subme ter-se às cond ições de traba lho que esses proprietár ios esco· Ihem. OS DONOS DOS MEIOS DE P RODUÇÃO EXPLO RAM OS QUE NÃO POSSUEM ESTES MEIOS. Por exemplo : o camponês sem terra, para não morrer de fome , tem que aceitar ps cond ições de traba lho que os donos da terra lhe oferecem. 48 l Os modos de exploração que su rg iram, depo is que a terra de ixou de se r uma propr iedade de toda a com un idade, foram mu ito var iados. Modos d i fe rentes de exploração acon tec iam ao mesmo tem po nos ma is remotos cantos da terra . Até hoje os h i stor iadores estudam estes m odos. Há mu ita discussão sobre o assunto, mu itas op in iões d i ferentes. Além d isso, a passagem de uma sociedade sem clas ses para uma soc iedade com classes não aconteceu de um d i a para o ou tro ! O processo fo i mu ito longo ! Os cam inhos desta m udança foram mu ito d iferentes. É por isso que os h istor iadores d i scutem o assunto até hoje e , a cada d ia , ocorrem novas descobertas. Mas ex iste um ponto que todos aqueles que estudam a C I ÊNCIA DA H ISTóRIA concordam : a h i stória em seu mo v imento, os hom ens na sua ação, transformaram a lguns dos povos que viv iam numa soc iedade sem classes para uma so c iedade de c lasses. Você deve ter percebido como as modi ficações eco nôm icas transformaram a vida do Homem . Cada vez que se transformava a sua mane ira de produz i r, o homem se trans formava tam bém ! Transformava, por exemplo, a forma de organ ização da soc iedade, suas reg ras , a sua mane i ra própria de entender o meio em que vivem . Você se lembra como eram as relações soc ia is na comu n idade de caçadores? Com o organ izavam sua vida fam i l iar e grupal, e mantinham o sent imento de fidelidade? Como se governavam? Como podemos observar, tudo isso se modificou! As modificações econôm icas vão influenciar a orga nização pol ít ica ex istente até então. 49 i i ,:l i: .. 111!1 • ; 1. ,. MAS O QUE É POLíTlCA? A pol ítica seria o conjunto dos mecanismos regu la dores da tota l idade soc ia l enquanto ta l . A natureza e a forma desses mecanismos dependem da própria tota l idade social e do tipo de grupos que a compõem. TODAS AS SOCIEDADES SAO POUTICAS. A NATUREZA E A FORMA DA ORGANIZAÇÃO POUTICA ESTÁ SEMPRE LIGADA AO MODO COMO OS HOMENS SE RELACIONAM PARA PRODUZI R. O progresso das forças produtivas traduz-se por u ma diferenciação socia l cada vez mais acentuada. A partir da di visão do trabalho, estabelecem-se d istinções sociais, que to mam a forma de desigua ldades entre os indiv íduos e os g rupos. QUANTO MAIS COMPLEXAS SE TORNAM AS RELAÇõES SOCIAIS , MAIS COMPLEXAS TAMBÉM SE TORNAM AS ORGANIZAÇõES POUTICAS. Nas sociedades prim itivas, os mecan ismos regu lado res âa tota l idade social não surgem separados da rel ig ião , das relações de parentesco etc. São as relações de parentesco que definem âs formas e os m eios de coesão socia l , além de re- 50 l partir os poderes e as auto ridades. As relações de parentesco funcionam como sistemas de autoridade e , por isso, como re lações políticas : autoridade dos mais velhos sobre os mais novos, dos maridos sobre as mu lheres, dos pais sobre os fi lhos - formas de autoridade que perm item que o processo de produção se real ize regu larmente e a vida social se organ ize. Não existe uma autonom ia do pol ítico em relação aos outros aspectos que com põem a tota l idade socia l . Isto só acontece a partir da passagem da sociedade sem classes à sociedade de classes. O POUTlCO ADQUIRE A SUA AUTONOMIA SOB A FORMA DE ESTADO. Se q ueremos entender a POUTICA dos povos pri mitivos, não podemos partir do que hoje entendemos por po l ít ica e, s implesmente, «Sa ir procu rando as or igens» dos s iste mas pol íticos atua is nas comun idades primitivas. Se fizermos ass im, jama is seremos capazes de per ceber a orig ina l idade pol í tica das sociedades que não se orga n izam a partir dos modelos ocidenta is e, tam pouco , entende remos a real dimensão das lutas pol íticas travadas atua lm ente nas sociedades capita l istas. 51 TODOS OS HOMENS PROCURAM EXPLICAR SEUS ATOS ATRAVÉS DE IDÉ IAS, DE CRENÇAS QUE EXPLICAM SUAS EXPERIÊNCIAS E OS ORIENTAM EM SUAS AÇõES. Os m itos, a rel i gião , foram, em pr inc1p10 , a forma que 0 homem encontrou para tentar expl icar a or �gem da terra , sua própria or igem . É através das crenças e m itos que 0 homem prim it ivo passa a sua cu l tura para seus descend en tes, a lém de ut i l i zá - los como uma forma de manter o g r upo un ido f ie l a suas trad ições. O cu lto aos mortos, aos ante pas sados ' é um bom exemplo do que tentamos exp l icar. Vejam bem : ' na medida em que todos os mem bros de uma soc iedade se sent iam f ié is ao mesmo ancestra l , entend iam que to dos t inham uma origem comu m , aumentava seu sent imento de un idade. Além d i sso, o respeito às trad ições de ixadas pelos antepassados permitem que a tr ibo organ iz� o comportame� to do grupo, fazendo com que todos respeitem as reg ras ba sicas, para que a tribo possa sobreviver . Por exen:plo : para o homem TONGA ( tr ibo afr icana do su l de Moçambique) , a l�u ma coisa de ru im pode lhe acontecer , caso não tenha c umpn�o devidamente os ritos determ inados pela trad ição com reJaçao aos seus antepassados. Se procurar um feit ice i ro para acon se lhá -lo , este certamente d i rá : «Teu antepassado . re clari;a .º rito que não foi cumprido» . Para este homem, a 1mpo rtanc 1a do seu antepassado é tão grande, é tão pr�sente er:i su� mente, que m u ito provavelmente o r ito c.u m pndo so luc ionara 0 seu problema. Ele se sentirá melhor, po is seu antep assado o 52 r r perdoou . Ele agora está integrado ao seu grupo novamente'. Os m itos dos povos prim itivos estão cheios de sa- bedoria . Alguns deles nos dão hoje a expl icação correta sobre o t ipo de plantas que podem ser usadas para a a l imentação, quais podem ser usadas na m ed ic ina , a lém de nos re latar a or igem de vários grupos, suas trad ições e sua h istór ia . Durante mu ito tempo, os homens modernos despre zaram os m itos e as rel ig iões do povo pr im it ivo. Achavam que todo homem que não vivesse dentro de uma sociedade mo derna não devia ser levado «a sério» . Entend iam sua re l i g ião , seus ritos, apenas como uma mane i ra prim itiva de «botar para fora» as suas angústias e m edos d iante de uma natureza desconhecida e , por isso, ameaçadora. Demorou mu ito para que os h i stor iadores e outros pesqu isadores de nossa época percebessem que o homem pri m it ivo, associando os seus conhec imentos prát icos, cu l to aos antepassados e mag ia , exprim iam um conhecimento sobre a sua rea l idade, os homens e a natu reza . Fo i mu ito d if íc i l pa ra o homem moderno entender que podia aprender mu ito com as crenças e m itos do homem pr im it ivo. Foi d i f íci l perceber que , para entender como viviam , era preciso entender a fundo sua re l ig ião . Esta tarefa fo i mu ito d if icu ltada pelos pa íses que exploravam os povos que viv iam em uma organ ização socia l igual i tária , seja na América, sefa na Áfr ica. Estes justif icavam sua dom inação, d izendo que todas as man i festações destes grupos, assim como e les pró prios , eram selvagens, pr im i tivos, ignorantes, · incapazes de construí rem por s i só o seu cam inho . Por outro lado , os pes qu isadores e outros c ient istas, que não aceitavam a domina ção e exploração exerc ida contra estes grupos, na tentativa de denunciar os «civi l izados» e mostrar que estes não passavam de exploradores, eque seu ún ico interesse em relação a estas comun idades era uti l i zá - las para se enr iquecer cada vez ma is , acabavam por ca i r em outro extremo : ana l isavam a vida soc ial e pol í t ica destes g rupos como sendo um verdadei ro para í so ! Sem problemas, confl itos ou injustiças, e que tudo d e errado, que quebrava a harmonia perfe ita dos povos prim itivos, t inha s ido traz ido pelo invasor. Ora , jamais ex istiu uma soc iedade ass im , sem con - f l i tos ! 7 . Eduardo Homem e Sônia Correia. Op. cit. 53 É importante lembrar que se, por um lado, as cren ças representavam conhecimentos sob re a rea l idade que per m it iam ao homem relac ionar-se com a natu reza e entre s i , por outro lado, a lgumas crenças e r i to s , por estarem l igados a contrad ições soc ia is profun das, ou a a lguns fenômenos na tu ra is que atemorizavam aos homen s , ao invés de perm it ir que o homem cada vez mais u ltrap assasse os desafios que surg iam , o impediam , colocando r egras respeitadas m u itas vezes pelo medo, que o homem a ceitava sem jamais ques- t ioná- las . Os m itos e crenças, de que fa lamos , são formas que o homem pr im itivo encontrou para expl icar , regu lar e manter o seu mundo . O mundo do home m pr im itivo . Neste t ipo de soc iedade, onde não há a exploração do homem pelo homem , e a d iv isão do traba lho está pouco desenvolvidã , as expl ica ções que os homens fazem do seu mundo estão l igadas à sua vida. Não há separação entre o tr abalho e a cu ltura , o tra ba lho e o prazer etc . Mas todos os homens procu ram expl icar o m undo em que vivem . E a man e i ra pela qua l constroem esta expl icação va i var iar de época para época. As idé ias que os homens . produzem , as expl icaçõ es do mundo que e labo ram , estão l igadas à sua ativ idade mater ia l , à m ane i ra pela qual o homem se organ iza para so brev iver na sua relação com outros homens . Com o surg imento da soc iedade de c lasses, e a d i - v i são entre os que produzem e os q ue não produzem , a un i dade entre o pensar /saber e faze r vai aos poucos desa- parecendo. «A produção de idé ias , de representa ções e da cons c1encia está em pr imeiro lugar , d i re ta e int imamente l igada à ativ idade m ateria l e ao comércio m ater ia l dos homens ; é a l inguagem d a v ida real» . «As idé ias da c lasse dom inante são i dé ias dom inan tes em cada época ; em outros termo s, a c lasse que exerce o poder materia l dominante n a soc ieda de é , ao m esmo tem po , seu poder espir itua l dom inante. A c la sse que tem à sua d is pos1çao os m eios para a produção m ater ia l d i spõe com isso, ao mesmo tem po , dos m eios para a p rodução espir i tual» · . 8 . Karl Marx. A ideologia alemã. p . 5. 9 . Anna Maria de Castro_. Op. cit., p . 1 66-1 67 . 54 r 1 L A c lasse dom inante tem d · iT}teresses como os . t d e « representar» os seus . d d m eresses e todos os membros d c 1e a e - tem d d . .d , . , a so- e representá - l a e a r as s�a� ' e 1as a forma de un iversa l idade - . , � coi:io as umcas rac iona is e vá l idas . As _ 1 de 1as, a mora l , à re l ig ião, aos m amos de ideolog ia . costum es etc. cha- A ideologia faz com q "d . . ções soc ia is e , · ue as 1 e ias exp l iquem as rela- idé ias só são pohi _ ic?s, _ tornando impossível perceber que ta is da po l í t " exp icave1s pela própria forma de sociedade e 1ca . 55 r ' 1 i PARTE II como estudar história ? L r 1 1 L COMO ESTUDAR HISTóRIA? No in íc io da parte 1 do nosso l ivro, perguntamos a você : O que é a h istór ia? Apresentamos tam bém a nossa def in ição : «H istór ia é a c 1encia que nos perm ite conhecer o nosso passado, en tender bem o nosso presente, para que possamos formá- lo em um futu ro melhor». Agora podemos fazer uma nova pergunta : Como estudá- la? 59 Como conhecer profundamente uma sociedade? s:a organ ização , suas re lações internas e com o resto do mun o , d . - ? suas contra 1çoes · _ · · de outras come-T odas estas questoes, e uma serie , ho d "d o secu lo X IX , na Eu ropa , por -çaram a ser .retp��s�v=� :m estudar a soc iedade do passado , mens que se m er até tornar-se a soc iedade co-como evo lu iu , desenvo lveu -se, . - era apenas . les Mas todo este interesse nao nhec1da por e · . de preocupação em mente : cur ios idade. E l�s _ tmh�m �Xiª l:ª�asse traba lhadora, transfora lterar as co��1çoes e.dv 1 d m i lhares de pessoas que trabamar as cond 1çoes de v 1 a e sar d isso morr iam de fome lhavam de sol . a so l , mas qu% ª�a�ário tão � iserável , que não e doenças , pois ganhavam t entar suas fam í l ias . Entre esses cons�gu iam M nem se E q n u g e;l sª t1:tavam entender o porquê dessa estud iosos, arx e situação. Mas as expl icações que encontravam não os sa- t isfaz iam . ·am ne-Dos h i stor iadores de sua época não consegu i nhuma r�féo�t�tão a h istória contada por mu itos não passava hado de fatos, onde os heróis eram sempre os de um emaran . . a i um súd i to r ico e poderoso. r.nesmos : os reis , as ram h�� o l u pr�duz iam todas as r iquezas Os trabalhadores,. que .ª ma . segundo plano , corn o destes mesmos remos, so aparec iam em personagens sem importância . - . Nessa h i stória de reis e ra inhas, a expl.oraçao e a mnão eram sequer citadas, que d i rá questionadas .. justiça Nessa h i stória , mu itas questões importantes f icavam sem resposta :- d d · f t ? Por que exist iam tantas soc ieda es i eren es . Como as soci edades se transformavam? . t Esses homens queriam transformar. s�a rea l idade . -Transformar em uma sociedade mais Justa , o:ide nao houvesse a propriedade privada dos meios de produçao, onde não houvesse a exploração do homem pelo homem . Com essa intenção, Marx e Enge ls começaram , desde jovens, a estudar e a pesqu i sar, tenta�do �ncontrar as respos- tas para todas estas questões que os mqu 1etavam. . t Conversaram com mu itas pessoas, leram mu � os mu .1 tos países, pesqu isaram em m u itos livros , v isitaram documentos. Aos poucos, que os h istor iadores 60 foram descobrindo que, ao contrário do de sua época acred itavam, os homens r 1 pod iam transformar a sua rea l idade ! Marx e Engels segu iam estudando e sistematizando seus estudos. Constru í ram uma teor ia c ientíf ica para compreender o que é uma sociedade e d ist ingu i r um tipo de sociedade da outra . Marx e Enge ls souberam passar da descrição de u m a sociedade ao conhecimento das causas e le is que regem sua ex istência , transformação e substitu ição por um novo t ipo de sociedade. Apesar de seus estudos terem s ido fe i tos no sécu lo passado , suas descobertas c ientíf icas são tão importantes que as ut i l izamos hoje para conhecer a rea l idade e estudar as soc iedades passadas. Para estudarmos a rea l idade de uma determ inada sociedade, usamos um conceito que os perm ite pensar, i sto é, conhecer de forma c ientíf ica uma determ inada sociedade. Como já d issemos, este conce ito fo i constru ído a partir de mu itos anos de estudos e pesqu isas, de g rande observação. Buscando sempre os dados da rea l idade . Para estudarmos uma sociedade, usamos um conceito: o MODO DE PRODUÇAO. À prime i ra vista, poderíamos correr o r isco de confund i r seu s ign if icado. Parece que e le se refere un icamente ao aspecto econôm ico: modo de produção, maneira, «jeito» de produz ir . Mas o conceito de modo de produção não se refere un icamente à econom ia . Ele é mu ito ma is amplo ! Modo de produção é o conceito que nos perm i te conhecer uma sociedade. Conhecer realmente , e não s implesm ente ser capaz de descrever a lguns fatos . Vejamos um exemplo : «0 Bras i l - Quem já teve a fel ic idade de percorrer o Bras i l d e Norte a Su le de Leste a Oeste observou , por certo, como é cheio de contrastes a natu reza de nosso país . ( . . . ) E m contato com essas tão var iadas paisagens, acabaram os bras i le i ros por fazer nascer outras d i ferenças ao povoar o pa ís , ao cr iar ag lomerados u rbanos e ao . ded icar-se às ma is d iversas atividades econôm icas. Povos de mu itas or igens aqu i se f ixaram , convivendo em completa harmonia : brancos de or igem européia e de or igem asiát ica, negros, amarelos , como também pelos índ ios pr im itivos, donos d e nossa terra . ( . . . ) Ao lado dessas d i ferenças, outras ex istem também criadas pe lo homem: ag lomerados u rbanos de todos os t ipos ( . . . ) , reg iões em pleno desenvo lvimento econôm ico, s ituadas não mu ito longe de reg iões subdesenvo lvi das ( . . . ) . É assim o Bras i l de nossos d ias: repleto de contraste . Mas, fe l i zmente , um país com p lena juventude, sem 61 4 l !;:.' '. : ódios a separar seus habitantes unidos pelas mesmas tradições h istóricas, como pela re l ig ião e pela l íngua que falamos» "'. Podemos fac i lmente descrever uma sociedade, per ceber se e la tem ou não tem indústrias, se possu i ou não campos cultiváveis , escolas, le is, rel ig ião etc. Mas será que, com a s imples constatação da existên c ia desses e lementos, consegu iremos entender como relacio nam-se entre s i? Por quê? Como? Nos parece que não ! Na comparação de duas sociedades, uma das d if i culdades que teríamos de enfrentar ser ia perceber a d iferença entre elas. Vejam bem : A URSS tem indústrias , os EUA também. A U RSS possui campos cultiváveis , pol íc ia , rel ig iões etc. É lóg ico que os EUA também as têm . Então estas duas sociedades são iguais? Evidente que não . Uma é socia l ista, a outra é capital ista . Sendo assim , percebemos que, se formos capazes de organizar estes d iversos e lementos em d iferentes n íve is : eco nômico , pol ítico e ideo lóg ico e de determ inar o papel que cada u m desses n íveis desempenha na sociedade, poderemos então passar da descrição ao conhecimento de uma soc iedade . Todo MODO DE PRODUÇAO constitu i -se em : í Econômico ( relação de produção) NIVEIS �l Político ( le is, estado etc . ) e Ideológico ( idéias, cos tum es, rel ig ião etc . ) . 1 0 . Aroldo de Azevedo. O Brasil e suas regiões. Cia. Editora Nacio nal, 1 971 , p. 1 -3. 62 r 1 1 QUAL A DI FERENÇA ENTRE CONHECE'R E DESCREVER UMA SOCIEDADE? Esta é uma questão mu ito importante ! . Ao longo do l ivro tentamos mostrar a vocês os ins trume�tos necessários para que possam conhecer rea lmente as sonedades. Qualq.uer sociedade, e não só aquelas que estamos estudando aqu i . É _ importante estar atento às informações que che gam a voces. É importante ser crítico para esco lher um bom ma teria l de estudo ! Na es�ola , como é que você aprende história? d . . :5ugenmos que vocês observem vários l ivros d idáticos .e hi_ s�ona e esc?Jham textos que não apresentam uma visãd c1entif 1ca da rea l tdade, que sejam meras descrições e outros que . . rea lmente os ajudem a conhecer c ientificam 1 ente esta rea l idade. J� �abe.mos que para compreender o que é a socieda?e, e d.1st1��u 1r um t ipo de sociedade de outra, usamos 0 metodo c 1�ntif 1co de expl icar e entender por me io de concei tos. Atraves �o conceito de MODO DE PRODUÇAO, conhe cemos as sociedades em sua tota l idade. Nós já sabemos também que : A f�rma como os homens produzem os bens materia is, e as r� laçoes qu� se estabelecem entre eles no processo de pro duçao, determ inam as suas idé ias. As mod if icações econôm icas produzem g randes transfor mações na soc iedad e como um todo . 63 1 1 Achamos que você já é capaz de nos responder qual é o e lemento fundamenta l que determ ina a organ ização da sociedade : É O N íVEL ECONôMICO QUE DESEMPENHA O PAPEL FUNDAMENTAL DENTRO DA SOCIEDADE. É O N íV EL ECONôMICO A BASE NA QUAL SE LEVANTA TODO O «ED IF íC IO SOCIAL». Os homens, que dentro de uma soc iedade são os donos dos meios de produção, têm nas suas mãos o p oder econôm ico e , como são senhores desse poder, contro lam tam bém outros aspectos da soc iedade. Os donos dos me ios de produção, tendo em suas mãos o poder econôm ico, têm nas suas mãos o exérc ito, a pol íc ia , o Estado. Têm nas suas m ãos, portanto, o PO DER POLíT ICO. . Além d i sso , a classe que é propr ietár ia dos meios de produção (como, por exemplo , na nossa sociedade, propr ie tár ia de fábricas etc . ) va i ter à sua d isposição os meios para a produção das idé ias . Atua lmente, por exem plo , os don?s dos meios de produção controlam as mais im portantes em is so ras de rád io , de jorna is , de televisão etc . , isto é , os m eios de co mun icação de massa. E tam bém controlam o conteúdo dos programas de ens ino em todos os n íve is . . Portanto , a c lasse que é proprietár ia dos me ios de produção possu i tam bém o PODER I DEOLóGICO - pr odu zem a ideolog ia dom inante, que se coloca sobre outras, co mo « A VERDADE». Apesar d isso tudo, ex istem outras formas d i ferentes de pensar, de expressar a rea l idade . Na classe que não possu i os meios de produção en contramos idé ias, que são d i ferentes das idéias dom ina�tes . Estas idé ias vêm de pessoas que vêem a sociedade de outra mane i ra; que não se contentam com as expl icações de mundo fila c lasse dom inante . Buscam outras expl icações, assim como aconteceu com Marx e Enge ls na época deles . Vejam um exemplo do que estamos fa lando ; este pequeno depoim ento nos ajuda a exempl i f icar como funciona o poder da ideolog ia ! e_ , . _ «Antes eu v!via em estado d e ser- c--�qp L � r! v1dao, mas eu nao sabia d isso. Eu pen- e:::_-\ ) J sava que o. mundo era assim mesmo. !/ Eu não sabia que Moçambique era nos�1) so país . Os l ivros d iz iam que nós éramos portugueses . . . Então, em 1 961 , eu co mecei a ouvir outras coisas . . . Os l íde res expl icavam-nos a verdade, mostra vam-nos a nossa própria força e nós percebemos c laramente como Moçam bique, que pertence a nós e não a Por tuga l , teria s ido dom inado» ". Depo im ento de um moçambicano sobre por que co m eçou a partic ipar da luta de l ibertação do povo de ·Moçambi que contra a dom inação colon ia l portuguesa . Em toda sociedade concreta, em qua lque_r modo de produção, d istingu imos três n íveis fundamenta is : o econômi co, o pol í tico e o ideológ ico. É o n ível econôm ico a base sobre a qua l se levanta todo o ed if íc io socia l . Por is.so, chamamos INFRA-ESTRUTURA ao n ível econôm ico e SUPERESTRUTU RA ao n ível pol ítico e ideológico. Agora vocês já podem responder à pergunta que fi zemos, quando in ic iamos a II parte de nosso l ivro : COMO ESTUDAR A HISTóRIA? Podemos perceber que a primeira questão que for m ularemos, ao estudarmos um determ inado modo de pro dução, será : como se organ izam os homens para a sua sobre vivência? São l ivres? Escravos? Como vivem os traba lhadores? Como é mantida a ordem? Que ideo log ia leg it ima o poder pol í tico? · TODOS OS HOMENS FAZEM HISTóRIA ! voei:: FAZ A HISTóRIA ! 1 1 . Eduardo Homem e Sônia Correia. Op. cit. 64 65 ; : PARTE Ili modo de produção, um conceito dinâmico 1� : 1 l .MODO DE PRODUÇÃO, UM CONCEITO DINÃ.MICO Como já d issemos, Marx e Engels estavam preocupa dos em me lhorar as cond ições de v ida da c lasse traba lhadora . Não concordavam com a op in ião de mu itos, que achavam que a m iséria em que v iv iam os traba lhadores acon tec ia porque era o «destino daquelas pessoas», « porq ue o m undo é ass im mesmo», ou outras exp l icações como estas . Marx e Engels ·q uer iam saber o porquê daqu ela s i tua ção tão injusta para poderem transformá- la . E les percebiam quenem sempre o mundo fora as s im, que o mundo se transformava sem pre e i r ia se transfor mar ma is uma vez . O n egócio era descobr ir como o mundo se transfor mava, o que fazia com que as co i sas mudassem . Não viam a h istória h.umana como um romance in terminável , cheio de re is , intrigas e tratados, que acontec iam quase que por acaso. Não concordavam que os fatos iam acontecendo como se uma força extraterrena comandasse a v ida dos ho mens, d ia após d ia , ano após ano , sécu lo após sécu lo . E les t inham razão ! Na vida nada é assim ! N inguém pode d izer de si mesm o : «Hoje, d ia 22 de agosto de 1 980, f iquei adu lto, já não sou mais cr iança» . A infância não acaba em u m d ia . Para que a matu ridade chegue , ex iste uma época de transição, na qua l nós temos caracte r ísticas de adu lto e criança ao mesmo tempo . Por exemplo : quando somos adolescentes, a inda gostamos de a lgumas br in cadeiras que faz íamos quando pequenos, mas, ao m esmo 69 i 1 1 . 1 tempo, começamos a nos interessar por coisas novas que até então eram «Coisas de adu lto». No nosso próprio corpo sen t imos bem as duas forças opostas : se é adu l to e cr iança ao m esmo tempo, até que as característ icas de adu l tos são ma io res que as de cr iança. Assim é n a h istór ia da human idade : ex istem forças dentro de uma sociedade que a vai transformando, trazendo a lgo de novo. Uma nova sociedade sempre nasce da velha so- ciedade. Já sabemos, portanto , que, para conhecermos cien t if icam ente uma sociedade , ut i l i zamos o conce ito de MODO DE P RODUÇÃO. Mas devemos observar o segu inte : este con ce ito refere-se a um objeto abstrato - não se encontra em estado puro na rea l idade. O que s ign if ica isso? S ign if ica que , enquanto um conce ito abstrato, não nos dá nenhum conhecimento concreto , mas nos dá os m eios ( instrumentos de traba lho inte lectua l ) que nos perm item a l cançar um conhecimento c ientíf ico dos objetos concretos . Quando fa lamos em objetos concretos, q ueremos d izer u m a soc iedade h istor icamente determ inada . Expl icaremos melhor : Quando estudamos uma rea l idade socia l h istor ica m ente determ inada, como, por exemplo, quando estudamos a real idade bras i le i ra ou a sociedade eg ípc ia , empregamos o conceito de FORMAÇAO SOCIAL. O conceito de MODO DE P RODUÇÃO refere-se a uma tota l idade soc ia l abstrata . Fa lamos em MODO DE P RODUÇÃO ASIÁTICO, MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL, MODO DE PRODUÇAO CAPITALISTA. O conce ito de FORMAÇÃO SOCIAL refere-se a uma tota l idade socia l concreta. É uma ind iv idua l idade h istór ica que corresponde a u m determ inado pa í s ou uma série de países que tenham característ icas semelhantes e uma h istór ia em comu m . Fa lamos em FORMAÇÃO SOCIAL B RASILEI RA, FORMAÇÃO SOCIAL AFRICANA etc. COMO O MUNDO SE TRANSFORMA? COMO SE TRANSFORMA O MODO DE P RODUÇÃO? 70 1 L QUAL É O MOTOR DESTA TRANSFORMAÇÃO? Os m odos de produção não permanecem invari áve is Não permanecem estáticos , parados. No curso do d esenvolv i � m ento da Histór ia , os modos de produção encontram -se em constante processo de transformação. Todo modo in ício com as forças rior . E m cada modo d u çã o anterior e os de produção, em uma determinada é poca, teve produtivas _ criad�s pelo modo de produção ante de . produ�a? . ex iste m vestígios do modo de p ro- germ es, o 1 r nc 1 0 do modo de produção do futuro. VlJ)P FEUDAL F PE T IC ft?,(- CA�/1ALi6NO McRCAN .L !°&NO "" Em toda sociedade de c las ses existe m forças que se opõe m . Estas forças estão e m constante processo de luta. MCY' CA TAliSíA MDP 60c-iAL iSTA -..... 71 Marx descobriu a grande · Lei que rege a marcha da H istória . Descobriu que todas as lu tas que existem na socieda°'e, as lutas políticas, rel igiosas, fi tosófi cas e outras, �ão na realidade a ex pressão de lutas entre as clas ses sociais. A luta entre as classes ex iste porque elas têm interesses opos tos. É impossível haver harmonia entre a classe que explora e a classe que é ex plorada. 72 Quando as comunidades pri mitivas se desintegram, e não existe mais a igualdade, quando a sociedade começa a se dividir em classes, A LUTA DE CLAS SES SE I N ICIA. 1 É a luta de classes que cons titui o motor da História, o mo tor da transformação. A luta de classes é determi nada pela luta entre as relações de produção e as forças pro dutivas. Nós já estudamos o que são relações de produção. Mas o que são forças produ tivas? As forças produtivas de uma sociedade crescem, desenvo lvem -se e se aperfe içoam no transcurso da H istór ia . Podemos util i zar um exemplo da comunidade primitiva : a sagem dos instrumentos de pedra 'para os de metal permitiu aumento importante da prod utividade do trabal ho dos homens t i vos. pas u m prim i- 73 Podemos d izer que , quando o homem prim itivo pas sou a traba lhar com instrumentos de meta is , houve um desen volvimento das FORÇAS P RODUTIVAS. O desenvo l v i m e n to d a s forças p r o d u t i v a s d e p e n d e , e n t re o u tros e l e m entos, das re l a ções d o s t ra b a l h a d o res entre s i . " 1 / 1 ,- 1 _-_ _ _ _ _ _ / ( E d a s re l a ções d o s tra ba l h a d o res com os m e i o s d e p rod u ç ã o . 74 T N a n ossa soc i e d a de , a soc i e d a d e c a p i t a l i sta , a L u ta d e C l a sses é a Luta e n t re os Ca p i ta l i sta s ( o s p ro p r i et á r i o s dos m e i o s d e p ro d u ção ) e os t raba l h a d o res ( os n ã o - p ro p rietár ios d o s m e i o s d e p rod u çã o ) . 75 o E 1<( (J.) V E :::J o Cl :e o o � o o. o. "'O E LLJ !O (J.) ·e 1-Cl ·O +" o (/') .!!! "'O o :e !O Cl !O -2 o � Vl :J o (/') E !O !O "'O o "'O Vl LLJ :J •(J.) +" > Vl !O o (J.) ._ +" o. o !O � "'O Vl LLJ e: o 1- � E o O" !O "'O Cl � :J (J.) +" <( +" Vl e: (J.) :e (J.) z: E - !O _J ._ (J.) <( o < _J ...:. 'l5. o LV 8 ã3 I" ·;z LI... <C a.. 1.1.l � � a é§ Q.. P-1 � Mas vocês aprenderam no l ivro que a H istória não é uma coisa l inear, aprenderam que vár ios Modos de Produção ex istem ao mesmo tempo, em várias reg iões do mundo . A descoberta de Marx e Engels não se l im ita a oferecer um novo método de per iod ização através do conceito de MODO DE P RODUÇÃO - essa descoberta imp l ica numa transformação completa na mane i ra de ver e colocar o p rob lema. A teoria marx ista da H istór ia é um estudo c ient íf ico da sucessão des contínua dos d iferentes modos de produção . Os vários nomes, que aqu i levantamos, provave lmen te a inda não d izem nada para você. Nós os colocamos para você ter uma idéia dos vár ios modos de produção q u e i remos estudar . Antes de estudarmos as característ icas de cada um deles, é importante que sa ibamos s i tuá- los no tem po e no espaço . Como vivemos no mundo ocidenta l , a inf luênc ia do cr istian ismo entre nós fo i , e a inda é, enorm e . Por isso costu mamos d iv id i r a h istória d a human idade em do is grandes pe r íodos : antes de Cr isto (a .C . ) e depois de Cr isto ( d .C . ) . Mas esta d ivisão é ampla dema is . Sendo ass im , cos tumamos d iv id i r a h istória da human idade em períodos me nores. Esta d ivisão pretende demarcar épocas nas qua is a v ida do homem é;ipresenta característ icas comuns . NUNCA É DEMAIS LEMBRAR QUE ESTA DIV ISÃO DA H ISTORIA FOI BASEADA NA MANEIRA COM QUE O HOMEM OCI DENTAL ENTENDE A H ISTORIA. O per íodo in ic ia l da evolução do homem va i ma is ou m enos até o sécu lo XXX a .C . , e é conhecida gera lmente como PRÉ-H ISTORIA. Os h istor iadores costumam chamar de pré h istória, ou seja , «antes da h istór ia» , o período no qual o ho- mem não conhecia a escrita . Considerando então que a h is tória se in ic ia quandoo homem começa a se expressar através da l inguagem escrita. Este termo não nos parece mu ito fe l i z porque , af inal , todo m undo sabe m u ito bem que a l inguagem escr i ta não é a ún ica l inguagem ex istente, a ún ica forma de expressão possível . E se pensarmos desta mane i ra , vamos achar que os índ ios não têm h istór ia , ass im como as · tr ibos afr icanas. Se a h i stória é a h i stór ia do hom em , a história existe 77 . ' 1 . ' 1 i desde o momento que o homem existe. Sem o homem não há h istór ia . O t ipo de re lação de produção que encontramos neste per íodo, e que o caracter iz<i , é o que encontramos na organ ização das COMUNI DADES PRIMITIVAS. Quer d izer então que , depois do sécu lo XXX a .C . , não encontraremos ma is nenhum povo que se organ izasse desta mane ira? Não . Apesar desta organ ização ser caracterís t ica desta época, vamos encontrá - la em d iversos períodos da h i stór ia da human idade. O per íodo que se segue é conhecido como I DADE ANTIGA. Esta se d iv ide em ANTI G U I DADE ORI ENTAL e ANTIGO I DADE OCI DENTAL. Marx estudou o período da Ant igü idade Or ienta l , es tudou m u ito com o na índ ia e na Ch ina os homens se organ i zavam na econom ia , na po l í t ica e a importânc ia d e sua ideo log ia . Através deste estudo, pôde constru i r seu conce ito de MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO. Ho je sabemos que não fo i só na índ ia e na Ch ina que os homens se organ izaram da forma percebida por Marx , e chamada por e le de MODO DE P RODUÇÃO ASI ÁTICO. Em outros lugares, bem d istantes da Ásia, como na Áfr ica e na América , por exemplo , encontramos formações soc ia i s seme lhantes, que podemos estudar como modo de produção as iá t ico . Apesar d isso , a inda usamos o termo as iát ico para �e s igná- las . Na ANTIGU I DADE CLÁSSICA, encontramos o MO DO DE PRODUÇÃO ANTIGO e o MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVI STA. Este per íodo é m u ito importante para a com preensão do m undo ocidenta l , o nosso m undo, po is fo i o pe r íodo da democrac ia grega, do I mpério Romano, que tanto inf luenc iou a nossa cu ltu ra, a nossa mane ira de entender o m undo, a nossa ideo log ia . O MODO DE PRODUÇÃO G ERMÂN ICO e o MODO DE P RODUÇÃO FEUDAL foram os modos de produção en contrados na Idade Méd ia , ou per íodo med ieval . Os homens na Europa v iv iam no campo, a serv idão é a forma de explo ração do camponês. Nesse per iodo, que se in ic iou no sécu lo V d .C . e va i até o sécu lo XV, o cr ist ian ismo possu i uma grande importânc ia e a I g reja Cató l ica torna-se uma inst itu ição pode rosa . O sécu lo XV marca o in íc io da Idade Moderna que vai até o sécu lo XVI I I . É a época da expansão do comércio , dos g randes descobr imentos. Esta é uma fase fundamenta l para nós, pois é nesta fase que os portugueses chegaram à nossa terra, a terra dos índ ios, que os portugueses chamaram B ras i l . 78 E, f ina lmente, a nossa época, a época contemporâ �ea; E �a se i n ic ia no sécu lo XVI I I . É a fase da formação das mdustnas, do surg im ento das fábricas, do operar iado. Dos modos de produção característ icos de nossa época : o modo de produção capi ta l i sta e o modo de p rodução socia l i sta . Estamos no sécu lo XX, as transformações não aca bara m . O que você espera do m undo de amanhã? O que você pode fazer para transformá- lo, VOCÊ É A H I STóR IA ! VOCÊ FAZ A H ISTó R I A ! 79 l ' 1 PARTE IV modo de produção asiático 1 l MODO DE PRODUÇAO ASIÁTICO Nós já sabemos que Marx, ao estudar como na índ ia e na Ch ina os homens se organ izavam na economia , na po l í t ica e ideo log ia , constru iu o conceito de Modo de Produ ção Asiát ico. Hoje sabemos que não fo i só na índ ia e na Ch ina que os homens se organ izaram da forma perceb ida por Marx. Em outros lugares bem d istantes da Ásia , na Áfr ica e na Amé r ica , por exemplo , encontramos soc iedades sem elhantes q u e podem ser ana l isadas com o Modo de Produção Asiát ico . Atua lm ente os h i stor iadores e outros c ientistas so cia is estão in teressados em aprofundar o estudo deste conce ito . Os novos descobr imentos arqu eológ icos (em m u itas reg iões da África e da própr ia Ásia foram descopertas c idades enterradas na are ia ; e os arqueó logos continuam encontran do-as cada vez em ma ior número) trouxeram novas informa ções interessantes . E os exemplos de soc iedades, que pode r iam ser ana l isadas através do conce i to constru ído por Marx, se m u lt ip l icaram ! É ev i dente q ue Marx e Enge ls não poder iam prever estas novas ut i l i zações para o conceito de Modo de Produ ção Asiático . QUAIS SÃO AS SOCI EDADES QUE PODEM SER ANALISADAS COMO MODO D E PRODUÇÃO ASIÁTICO? Podemos ut i l i zar este conce i to para com preender re a lm ente várias sociedades que ex ist i ram em ÉPOCAS E LU- 83 i �'i 1 1 GARES DI FERENTES. Por exemplo : os re inos m 1cerncos ou etru scos, du rante a época ant iga na Europa , como também o nascimento do reino Bamum na África , durante o sécu lo X IX, a lém da organ ização dos I ncas e outros povos na América . Provave lmente você deve estar pensando : Mas qua is serão as caracterí st icas comuns que podemos encontrar em lugares tão d iferentes? Por que os h istor iadores e outros c ien t i stas soc ia is estão interessados neste estudo? Por que o Modo de Produção Asiático é assim tão im portante? Achamos que podemos responder estas perguntas : Os h istor iadores estão interessados em estudar o Modo de Produção Asiát ico porque e le nos ajuda a entender vários pontos important íss imos no estudo do processo de constante mudança na evolução da Human idade . Este estudo nos ajuda a entender a TRANSIÇAO de uma sociedade sem classes (comun idade prim itiva ) para uma sociedade de c lasses. E assim consegu iremos saber como e por que a or gan ização pol í tica baseada nos laços de parentesco, na f ide l idade a um ancestra l comum, acaba por se transformar em uma organ ização po l í tica tão ma is complexa e poderosa : O ESTADO. É por isso que o M0do de Produção Asitático é ass im tão im portante, é por isso que os cient istas soc ia is estão tão interessados em debatê- lo , na tentativa de aprofundar cada vez mais os estudos in ic iados por Marx e Engels . O Modo de Produção Asiát ico é a ú lt ima forma de sociedade sem classes e a primei ra forma de sociedade de classes. Nesta fase já ex iste a exploração do homem pelo homem, sem que haja a inda a ex istênc ia da propriedade pri vada da terra . Ou seja , as terras de cu ltivo permanecem en tregues à ut i l i zação das comun idades loca is . I sso tudo parece m u ito estranho ! Como pode exist ir a exploração do homem pelo homem, se a terra continua entregue à ut il ização das co mun idades? ESTE É EXATAMENTE O X DA QUESTAO ! 84 l Apesar da organ ização comun itár ia cont inuar exist in do, su rge uma m inor ia que acaba por explorar o trabalho de toda a comunidade, benefic iando-se cada vez mais dos frutos do trabalho comun itár io . Esta m inor ia se organiza , pouco a pouco, formando um Estado forte e a l tamente centra l izado, podendo ass im exercer um grande poder de contro le e dom inação de toda a comun idade. Mas por que será que a MAIORIA ( toda a comun i dade) se de ixou dominar por esta MINORIA que compunha o ESTADO? Esta é uma longa h istór ia ! Vamos tentar expl icá - la para você. O ESTADO não surg iu «por acaso» . . . A cr iação do · Estado está l igada às cond ições rea is , concretas, da própria soc iedade onde e le aparece. Ex istem basicamente duas vias de nascimento do Estado. Uma está l igada às necessidades de organ ização do trabalho econôm ico, tão compl icado e g rand ioso, que as co mun idades iso ladas