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A INCRÍVEL HISTÓRIA DOS HOMENS E SUAS RELAÇÕES SOCIAIS - LIVRO


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A INCRÍVEL HISTÓRIA 
DOS HOMENS E SUAS 
RELAÇ(JES SOCIAIS 
Wilma Colonia Mangabeira 
Leila Maria Alvarenga Barbosa 
História é a ciência que nos permite conhecer o nosso passado, 
entender bem o nosso presente, para transformá-lo em um futuro 
melhor. A História se interessa por todas as atividades do ho.­
mem, por tudo aquilo que os homens em grupo fazem durante 
suas vidas. Mas História não é apenas isso. 
Veremos, ao longo deste livro, como esse conceito é mais amplo: 
A História é o estudo do homem em processo de constante trans­
formação. O livro foi escrito para uma ampla faixa etária, ser­
vindo para todos aqueles que, à margem da escola, estão interes­
sados em conhecer a Ciência da História. As autoras consideram 
importante que a sua leitura seja feita em grupo, pois possibilita 
um espaço maior de discussão e crítica. 
As autoras: 
Wilma C. Mangabeira, graduada em Educação Artística pela UNI­
RIO e em Ciências Sociais pela UFRJ. Professora de 1º e 29 graus, 
com experiência pedagógica em comunidades populares do Gran­
de Rio. 
Leila Maria Alvarenga Barbosa, graduada em História pela PUC/RJ. 
Professora de 1° e 29 graus e de cursos de formação de pro­
fessores. 
ATENDEMOS PELO REEMBOLSO POSTAL 1534·2 
A INCRÍVEi. HISTÓRIA 
.DOS HOMENS E SUAS 
RELAÇÕES SOCIAIS 
Leila Maria �. Barbosa 
Wilma C. Mangabeira 
-
E 
Leila Maria Alvarenga Barbosa 
Wilma Colonia Mangabeira 
A INCRÍVEL HISTÓRIA 
DOS HOMENS 
E SUAS RELACÕES SOCIAIS 
� 
Ilustrações 
Clemente Souza de Carvalho Borges 
Petrópolis 
1982 
li i 1 
l 
© 1 982, Editora Vozes Ltda. 
Rua Frei Luís, 1 00 
25600 Petrópolis RJ 
Brasil 
Para ltiberê 
.Para Mauro 
nossos companheiros 
r 
L 
SUMÁRIO 
Algumas Palavras, 9 
PARTE O Que é História?, 17 
PARTE li Como Estudar Histór ia?, 57 
PARTE Ili Modo de Produção, um Conce ito Dinâm ico, 67 
PARTE IV Modo de Produção Asiát ico, 81 
Bibliograf ia Gera l , 109 
Bibl iog raf ia Específ ica , 111 
r 
ALGUMAS PALAVRAS ... 
A idéia deste trabalho surgiu a partir da nossa prática como 
professoras. Como outros companheiros, nos deparamos com uma série 
de dificuldades. 
Uma delas, por exemplo, é o conteúdo a ser «dado» no pro­
cesso de escolarização. 
No 19 Grau, encontramos, em geral, a preocupação em «passar» 
conteúdo, do qual faz parte praticamente toda a História do Mundo, 
dividida em unidades, temas etc., que devem ser «encaixados» rigoro­
samente em cada série. 
Quando chegam ao 2Q Grau, os alunos recomeçam seu apren­
dizado em História como se jamais tivessem tido contato com esta 
Ciência. 
Este mesmo processo acontece também na educação de adultos. 
Ora, a História é uma Ciência e, como tal, deve ser ensinada. 
É: evidente que nada disto é por acaso. A eséola não é neutra, 
desprovida de ideologia e, como tal, reproduz a ideologia dominante. 
Entendemos que o que está por detrás desta prática é a ten­
tativa de tornar o aluno incapaz de se apropriar dos conceitos funda­
mentais desta Ciência, ou seja, dos instrumentos necessários para que 
ele articule as informações que recebe, tornando-se crítico diante da 
realidade. 
Uma das justificativas desta prática diz que a pessoa que não 
esteja na Universidade - que não seja um adulto letrado - não pode 
ter acesso aos «segredos» específicos desta Ciência. 
Isto significa que o conhecimento é visto como um processo 
acumulativo de fatos, onde a pretensão máxima é que o aluno seja 
capaz de distinguir «Causas e conseqüências» de fatos estanques, não 
articulados. 
Mas o questionamento existe: 
«Existem professores que, em condições assustadoras, tentam 
voltar-se contra a ideologia dominante, contra o sistema e contra as 
9 
práticas que os aprisionam»', mas suas experiências esbarram em inú­
meras dificuldades: 
Em primeirn lugar, a própria solidão em que se encontram nas 
Instituições onde o tspaço de discussão e crítica ainda é muito pequeno. 
Em segundo lugar, a falta de material adequado. Encontramos, de um 
lado, «OS livros didáticos» e, por outro, trabalhos importantes e com­
prometidos, mas escritos numa linguagem que torna difícil sua leitura 
para adolescentes e adultos «não letrados». 
Acreditamos que o processo de conhecimento se dá em vários 
níveis. Mesmo que numa primeira aproximação os conceitos não sejam 
plenamente compreendidos, ao estudarmos através de conceitos, simul­
taneamente nos apropriamos de instrumentos para pensar, permitindo 
que o aprofundamento ocorra ao longo do processo. 
Nesta perspectiva, nos colocamos a tarefa de escrever um texto 
que pudesse ser utilizado na escola e, ao mesmo tempo, servisse para 
todos aqueles que estão interessados em conhecer a Ciência da História. 
Foi, sem dúvida, um desafio pretensioso. Esbarramos em inú­
meros problemas como, por exemplo, o de escrever numa linguagem 
coloquial, sem esvaziar a complexidade dos conceitos. 
Ao escrever esse trabalho, pensávamos em incluir exercícios 
que realizamos em sala de aula e que permitem uma maior dinâmica 
aos cursos. No entanto, corríamos o risco de relatar apenas experiência 
acabada e não o processo criativo vivenciado pelo grupo. Além disso, 
acreditamos que existe um espaço próprio de criação dentro do tra­
balho teórico. 
Indicamos, neste sentido, algumas leituras específicas, como as 
de Augusto Boal, para aqueles que se interessarem por este tipo de expe­
riência. É, sel"Tl dúvida, uma bibliografia limitada, mas, se seguíssemos 
o outro caminho inicialmente pensado, teríamos que entrar necessaria­
mente numa ampla discussão a respeito da Arte/Educação em geral e 
da sua possível prática em uma disciplina específica. 
Outro problema refere-se à complexidade de alguns campos 
que levantamos. Resolvemos deixar de lado algumas discussões, como, 
por exemplo: 
• Ciência - problemas da produção científica, sua socialização. 
• Ideologia - problemática do saber e da cultura popular, problemas 
levantados por Althusser, Marilena Chaui, entre outros. 
• Modo de Produção - problema da metáfora espacial, modo de pro­
. dução socialista etc., 
na medida em que é um trabalho de iniciação. O leitor, em seu pro­
cesso de estudo, poderá desenvolver melhor estas questões. 
Utilizamos a ilustração, pois acreditamos na possibilidade crí­
tica deste recurso. Escolhemos o desenho do humor, pois « ( ... ) ajuda 
esse processo de apreensão, na medida em que ele justamente não 
1. Louis Althusser. Aparelhos Ideológicos de Estado. ln· Posições 2, 
Editora Graal, Rio de Janeiro. 
1 0 
r 
é seno, sisudo, circunspecto como costumam ser, infelizmente, as coisas 
da educação e da pedagogia»'. 
É um livro, ao nosso ver, para uma ampla faixa etária. En­
tendemos como importante que a sua leitura seja feita em grupo, pois 
possibilitaria um espaço maior de discussão e crítica. 
Esperamos que ele dê continuidade às novas propostas polí­
tico-pedagógicas que estão surgindo e que, através dele, outras práticas 
sejam sistematizadas. 
Gostaríamos verdadeiramente que as críticas e sugestões che­
gassem até nós 3, na medida em que acreditamos que este trabalho só 
alcançará seu objetivo em um processo prático de aprendizagem. 
Por último, gostaríamos de agradecer a todos que direta ou 
indiretamente colaboraram neste trabalho, especialmente à professora 
Nara Saletto, que leu e comentou a versão inicial, e a todos os com­
panheiros que desde o cafezinho até as críticas teóricas nos ajudaram 
a concluir este trabalho. Todos, no entanto, estão isentos de qualquer 
responsabilidade quanto aos possíveis e ·prováveis equívocos contidos 
neste trabalho. 
Rio de Janeiro, setembro de 81 
Leila Maria A. Barbosa 
Wilma C. Mangabeira 
2. Claudius Ceccon. Com Humor, uma nova linguagem da comuni­
cação social. ln Vivendo e Aprendendo, equipe do IDAC, Editora 
Brasiliense, São Paulo, 1980. 
3. Escrever para a Editora Vozes. 
11 
r 
Canción por la unidad 
de Latinoamérica 
E quem garante que a História 
E carroça abandonada 
Numa beira de estrada 
Ou numa estação inglória 
A história é um carro alegre 
Cheiode um povo contente 
Que atropela indiferente 
Todo aquele que a negue 
E um trem riscando trilhos 
Abrindo novos espaços 
Acenando muitos braços 
Balançando nossos filhos 
Já foi lançada uma estrela 
Pra quem souber enxergar 
Pra quem quiser alcançar 
E andar abraçado nela 
(Música de Chico Buarque) 
I' 
1 
1.' ' !1.11 i! 1 
i 
r 
As vezes um texto muito interessante passa desapercebido por­
que não sabemos ler! 
Saber ler não é simplesmente ser alfabetizado. 
Saber ler é poder, junto, pensar com o autor. Compreendê-lo 
e criticá-lo. 
Anotamos aqui um roteiro que usamos quando lemos um texto. 
Esperamos que ele lhe seja útil: 
Ler uma vez com atenção 
Anotar as palavras que não conhecemos 
Procurar no dicionário seu significado 
Reler o texto 
Sublinhar as idéias mais importantes 
Anotar as críticas e observações 
Discutir com os companheiros 
,r: ---
PARTE 1 
o que é história ? 
O QUE É HISTÓRIA? 
Você provavelmente já estudou ou ouviu falar nesta 
C I ÊNC IA em algum momento da sua vida. Mas você sabe o 
que é História? Qual a sua importância? 
Tente escrever alguma coisa sobre esse assunto, res­
pondendo a essas perguntas. 
A sua experiência é im portantíss im a ! 
Responda, tentando s e lem brar das coisas que você 
sabe , viveu e aprendeu. 
1 9 
. í 
: 1 ,, 1 
1. ! 
l ' tlg ! ' . 
' 
.---- O QUE É HISTORIA? 
QUAL A SUA IMPORTANCIA? 
20 21 
História é a ciência que nos permite conhecer o n osso 
passado, entender bem o nosso p resente, para transformá- lo 
em u m futuro m e lhor. . 
A História se interessa por todas as atividades do 
homem, por tudo aquilo que os homens em grupo fazem du­
rante suas vidas. 
Mas a História não é apenas isso. 
Veremos, ao longo do livro, como esse conceito é 
mais amplo. 
22 
A HISTóRlA É O ESTUDO DO HOMEM EM 
PROCESSO DE CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO ! 
TODOS OS HOMENS TÊM VALOR 
PARA A HISTóRIA! 
E A SUA HISTóRIA? VOCÊ A CONHECE? 
De onde você veio? E os seus pais de onde vieram? 
Talvez você não saiba mu ita coisa d e seu passado. 
É d if íc i l lembrar as coisas que aconteceram h á mu ito tempo 
atrás. Procure em sua casa todas as FONTES de informação 
sobre a sua h i stória, sobre a orig em de sua famí l ia . Pergunte 
a seus avós! Converse com seus t ios! Procure roupas que você
· 
u sou quando criança, fotografias, brinquedos etc. e , juntos, 
d iscutam os resu ltados de sua pesquisa. 
O que fo i que você conseguiu? 
Por onde você começou a pesqu isa? 
Você teve alguma d ificu ldade? Que tipo de d ificu l-
dade? 
Discuta com os seus companheiros. ·Provavelmente 
muitos de vocês tiveram as mesmas d ificu ldades de pesqu isar 
nas fontes. Tentem descobrir jun tos um meio de superá-las. 
TODOS OS REGISTROS DA PRESENÇA 
DO HOMEM SAO CHAMADOS 
«FONTES HISTóRICAS». 
23 
Tente escrever o que você descobriu com a pesqu isa. 
MINHA HISTóRIA 
i ' 
1' l 
1 1 ' ,1 
1 ,,, 1 24 
Qual é a h istór ia d e seu s companhei ros? É seme ­
lhante à sua ou completam ente diferente? 
Ser ia interessante conhecer bem cada companheiro. 
É bom também ser conhec ido por eles . Contem todos a sua 
h i stória ! 
Ser ia interessante d iscut i r a exper iência de v ida de 
cada um . Tentem perceber qua is os pontos que vocês têm 
em comum uns com os outros. Organ ize um m u ral com estas 
questões. Você terá, ass im, um «QUADRO DE V I DA CO­
LETIVO». 
Certam ente, fazendo o quadro, alguns pontos d esper­
taram maior interesse. Esco lha um desses pontos e tente co­
n hecê-lo melhor. Todas as coisas têm uma razão de ser ! A 
h istória se interessa por tudo aqu ilo que o homem cr ia e 
transforma. 
A História é a at iv idade dos homens vivendo em 
sociedade. 
TODOS OS HOMENS FAZEM A HISTóRIA ! 
VOCÊ FAZ A HISTóRIA ! 
Para podermos compreender profu ndam ente os pro­
cessos h istóricos, devemos começar estudando a forma. pela 
q ual os homens produzem os me ios mater ia is . 
· · · 
Mas o que é o HOMEM? O SER HUMANO? O que 
o d istingue dos outros S-eres v ivos? O que o d i ferenc ia dos 
ANIMAIS? -···· · , 
Você poderia d izer que estas 12e�rgt,Jnta.s são m u ito fá­
ceis de serem respond idas : o ser humano é d iferente dos an i ­
ma is porque pensa, raciocina , tem sentimentos relig iosos, ca ­
pacidade de esc:_olher entre uma coisa e outra; e os anima is 
25 
não têm estas �apacidades, s implesmente são gu iados por 
seus inst intos. - - -------� 
i-Estâ
. 
certo . Todos estes pontos realmente d iferem os 
homens dos an imais . ----------- Mas
--e o -homem pr im itivo? Os pr ime i ros homens? 
Como estes se d iferenciaram dos an ima is? 
26 
f I 
Como você já deve ter ouvido fa­
lar, nossos �mtepassadQs foram o re­
sultado de Q1utações ocorridas em 
�l'ltr()póides_ (macacos que se asseme· 
lhavam aos homens). 
Estes antropóides moravam nas 
árvores e viviam em manadas. A 
maioria desses macacos 
'útüfia
�am-se 
das mãos e dos p�s para andar. Apoia­
vam no solo os dedos e, encolhendo 
as pernas, faziam avançar o cor12._o por 
entre seus·· braços como, aliás, fazem 
os m�cacos até hoje. 
Mas, em conseqüência dessa sua 
'Li.c:lª- nas árvores, essa vida de sobe e 
desce, alguns dos seus b_ápitos foram 
mudando� Suas _mãos, ao trepar nas 
árvores, tinham que desempenhar fun­
ções �iferentes das dos pés. Estes ma­
cacos foram-se acostumando· a não 
precisar das mãos ao caminhar pelo 
chão e começaram a aciotar-
-êãdà vez 
mais a posição ereta. 
27 
I' i l ,'.[, ' ,,, 
', : 
Foi o passo decisivo para a tran­
sição, do macaco ao homem. 
Em 1891 foi encontrado, em 
Java, um fóssil deste antropóide, 
que viveu há cerca de 500.000 
anos atrás: o pitecantropo ereto. 
Este nosso antepassado conquis­
tou uma grande vitória: a posi­
ção ereta! Andava de pé! 
28 
Com os braços agora Evres, 
começaram a executar as mais 
variadas funções ligadas à sua 
própria §Obrevivência. 
As @ªQ§. servem agora não 
só para subir em árvores, e, sim, 
servem principalmente para re­
colher e segurar os alimentos. 
Mas isso qualquer macaco faz! 
Inclusive alguns chipanzés chegam a 
construir telhados entre os ramos das 
árvores para defenderem-se do mau 
tempo! 
Durante muitos milhares de anos 
os nossos antepassados foram adap� 
t,an�o. �ouco a pouco as suas funções. No m1c10 estas funções eram extrema­
mente simples: colher alimentos nas 
árvores, defenderem-se dos inimi�os 
jogando pedras, etc. 
__ ._,_ ·· · 
Mas, lentamente, a mão do ho­
mem ia se §!daptan.c:lg a novas e no­
vas funções. Estas n��as habilidades 
transmitidas de pai para -filho, ian; 
transformando seus mi;i.�c;:ulos e liga­
mentos, o que permitia que a mão do 
homem se aperfeiçoasse cada vez 
mais e pudesse vencer novos desa­
fios, cada vez mais complicados. 
29 
A mão do homem, aperfeiçoada, 
assim, pelo trabalho, durante cente­
nas de milhares de anos, atingiu um 
grau de perfeição que, finalmente, ele 
foi capaz de, utilizando-se da natureza, 
construir seus primeiros instrumentos 
de trabalho! 
Foi fundamental para a história do ser humano o momento er:i 
que ele percebeu que po_��_riJ�"' utilizar a própria �atur�za para construir 
seu instrumento do trabalho, que não dependia unicamente do seu 
corpo, que já possuía os meios de trabalho, objetos que o ajudavam 
a produzir! . 
Agora poderia valer-se do instrumento para transformar os objetos 
de acordo com o seu desejo! 
Isto nenhum animal jamais pôde fazer! Agora o homem tin�a .º 
seu prod�to! O próprio homem começa a se ç!Jferenciar dos anima.is 
através do trabalho, a partir do momento em que começa a produzir. 
30 
VOCÊ JÁ PENSOU NISSO? 
Nós d issemos que o próprio homem começa a se d i­
ferenciar dos animais a partir do momento em que começa 
a produz ir. 
Você pode ter pensado : «mas a abelha não produz 
a sua colméia? a aranha, a sua teia? o passarinho, o seu 
n inho?» 
O texto abaixo pode responder essas dúvidas. Leia-o 
atentamente e discuta com seus companheiros. 
«0 trabalho é, em primeiro lugar, um processo entre 
a natureza e o homem, processo em que esté real iza, regula 
e contro la , m ed iante sua própria ação, seu intercâmbio com 
a natureza. N este processo o homem se defronta com u m 
poder natura l , com a matéria da natureza . Põe em ação a s 
forças natura is que formam seu corpo, seus braços e pernas, 
cabeça e mãos, para poder assim assimilar, de forma útil para 
sua própria v ida , a matéria oferecida pela natureza exterior. 
E transforma, igua lmente, sua própria natureza , desenvolven­
do suas potenc ia l idades latentes e submetendo o jogo de suas 
forças à sua própria d isc ip l ina. ( . . . ) Partimos aqui da supo­
sição da existência do trabalho modelado segundo uma forma 
pertencente exclus ivamente ao homem. Uma aranha executa 
operações semelhantes àque las levadas a cabo pelo tecelão ; 
a construção dos favos de mel pelas abelhas poderia enver­
gonhar, pe la sua perfe ição , muitos mestres de obras. Há u m 
aspecto, contudo, em que este último supera a melhor das 
31 
abelhas : é o fato de que , antes da construção, ele e labora o 
objeto em sua mente. ( . . . ) ' 
Podemos d i zer, então, que os homens se d i feren­
ciam dos an imais pr incipa lmente porque PRODUZEM. Produ­
zem através do TRABALHO e, através do trabalho, se relac io­
nam com a NATUREZA e com outros HOMENS. 
As r iquezas naturai s de nada servem sem o trabalho 
do homem. Sem o trabalho dos pescadores, o mar não entre­
garia seus peixes. Sem o traba lho dos camponeses, a terra 
nao entregaria seus frutos. 
1 . Anna Maria de Castro e Edmundo F. Dias. Introdução ao pensa­
mento sociológico. Editora Eldorado, RJ, 1 978, p. 1 69-1 70. 
32 
r l 
ATRAVÉS DO TRABALHO O HOMEM 
CONSEGUE O SEU PRODUTO 
Todo produto tem um fim determ inado, n inguém 
produz alguma coisa da qua l não necessita. 
Mas tudo aqu ilo de que o homem necessita é adqu i­
r ido através do trabalho? Os homens têm vários t ipos de ne­
cess idades, mas nem sempre trabalham para satisfazê- las.· 
Respi rar, por exemplo, é uma necess idade b io lóg ica e sua sa­
tisfação é ind ispensável à v ida . No entanto, o ar que respi ra­
mos é d i retam ente fornecido pe la ·natureza . 
É c laro que nem tudo é ass im tão s imples ! 
Em geral, temos que transformar os recursos ofere­
cidos pela natureza em objetos materia i s que necessitamos. 
MAS QUE OBJETOS SÃO ESSES? 
Esses objetos são os produtos da at iv idade humana, 
que consiste em , através do trabalho, transformar a natureza 
para atender às necessidades do hom em . 
A essa atividade chamamos PRODUÇÃO. 
O homem ut i l iza seus recursos de acordo com suas · 
necessidades. Mas estas necessidades não são sempre as 
mesmas. Elas se mod if icam de acordo com o local , a época, 
e com o t ipo de vida dos homens em soc iedade. 
O homem que viv ia em uma reg ião mu ito quente 
não faria uma vestimenta de peles, pois , af inal, quem i r ia 
usá- la? 
Todo objeto que corresponde a uma necess idade hu­
mana determ inada (b iológica ou social) , possu i um VALOR 
DE USO. 
33 
li 
11 
. 
1 : 
1 i 
O PRODUTO, portanto, é um valor de uso, pois , se-
não, para que produzi-lo? , Mas, como já v imos, nem todo valor de uso e um 
produto. O ar que respiramos, por exemplo, é um val�r de 
uso mas não é um produto. Responde a uma necessidade 
h u�ana, mas não sofre nenhum processo de transfo rmação 
para ser consum ido. 
O HOMEM TRANSFO RMA A NATUREZA 
SOZINHO? 
Os homens não estão sós e iso lados no processo de 
transformação da natureza. Ao transformar a nature
_
za, es�a­
belecem entre si determ inadas relações de co laboraçao e aju­
da mútua, ou relações de exploração. 
COMO SE ORGANIZAM OS HOMENS PARA 
PRODUZIREM O QUE N ECESSITAM? 
Trabalham juntos na m esma coisa? 
As pessoas se d ividem para produz i r, organ izam u ma 
d ivisão de tarefas, uma DIVISÃO D E TRABALHO. 
QUANTO MAIS UMA SOCIEDADE SE 
DESENVOLVE, MAIO R Ê A DIV ISÃO DO 
TRABALHO, MAIOR Ê A ESPECIALIZAÇÃO. 
Ditas estas co isas, podemos então aprofundar o c�n ­
ce ito de História: ·a H istór ia é a c iência que estuda as :oc1e­
dades humanas em processo de constante transformaçao. 
34 
� D\ �e. pOJ),c,_ � . 
J OJt, (À, f"A ·'V\,... CV\.t::Jtru:i.. 
YV\.•'"JL o� 
itét-0 . " 1 
MAS EM QUE SE BASEIAM ESTAS 
TRANSFORMAÇôES? 
As causas ú lt imas de todas as transformações socia is 
não devem ser buscadas na cabeça dos homens, na sua cres­
cente compreensão da verdade e da justiça eterna , pois não 
podemos parti r do que os homens d izem , se representam ou 
se imag inam. Temos que parti r dos homens de carne e osso, 
dos hom ens reais , que agem, que atuam e produzem m ate­
r ia lmente. Em toda soc iedade que se apresenta na H i stór ia , a 
produção, a d istr ibu ição dos p rodutos, e , com e la , a a rt icu lação 
dos homens em c lasses ou grupos sociais , se o rientam pelo 
que se produz e pela forma como se produz , ass im como pelo 
modo de perm uta do que fo i produz ido . 
A compreensão ú l t ima dos p rocessos históricos deve 
ser buscada na forma pela qual os homens· produzem os 
meios materia is. 
Pensamos que seria interessante, para conhecer his­
tór ia , com eça rmos estudando a SOCI EDADE P RIMIT IVA. 
I sso porque , quem fo i à escola , sabe que sempre se 
com eça da í , com o nome de «Pré -H istória». 
Esse não é necessar iamente o cam inho que devemos 
tri l har para chegarmos a compreender a sociedade de hoje , a 
soc iedade CAPITALISTA, mas achamos importante começar 
ass im, como se faz na esco la , e repensar a mane i ra como 
aprendemos. Ser ia errado continuar ut i l i zando o termo « Pré­
H i stór ia» , pois , se a H istór ia é a h istór ia do Homem, a H istór ia 
ex iste desde o momento que o homem ex iste. 
SEM HOMEM, NÃO HÁ H ISTóRIA. 
Começaremos, então, pelo estudo das COMUN IDA­
DES PRIMITlV AS. 
QUANTO MAIS UMA SOCIEDADE SE 
DESENVOLVE, MAIOR É A D IVISÃO DO _ 
TRABALHO, MAIOR É A ESPECI ALIZAÇAO. 
Ao estudarmos a lgum as sociedades primitivas qu
e 
surgiram h á milênios atrás, podemos percebe.r q
ue, em geral, 
a d ivisão do traba lho é feita por sexo e por idade .
 
Nas comunidades onde a caça e a co leta de frutos e
 
raízes são as principais atividades econômicas, a ta
r�fa da co­
leta pertence às m ulheres, enquanto que a caça 
e traba lho 
dos homens . . 
Esta divisão parece ter sido assim organ izada porqu
e 
as m u lheres, tendo que cuidar das crianças peque
nas, ª'.11ª.
­
mentá- las, não podiam deixá- las por muito tempo
 e sa!f a 
procura de caça . 
Sendo assim , a caça era uma tarefa executada pelos
 
homens . 
Entre 0 homem e a m u lher existia uma relação 
de 
igualdade, pois ambos participavam da produção .
 
36 
L 
OS CAÇADORES E COLETORES NÃO 
PRATICAVAM A AGRICULTURA 
N EM A P ECUÁRIA. 
PROCURAVAM E RECOLHIAM DA NATUREZA 
SUA ALIMENTAÇÃO. 
Além da d ivisão do traba lho baseada no sexo, as ta ­
refas também eram d iv id idas de acordo com a idade. 
Mas tudo o que os ma is velhos sabiam, sobre como 
executar as tarefas necessárias à sobrevivência , era ensinado 
aos ma is novos. Os instrumentos de trabalho , feitos de pedras 
e ossos, eram s imples, fáceis de serem fe itos. Com esses ins­
trumentos, eles iam à caça de an ima is selvagens ou desen-
terravam as ra ízes a l iment ícias. 
· 
TODOS TRABALHAM E TODOS T!::M ACESSO 
AOS FRUTOS DE SEU TRABALHO. 
Os caçadores e co letores se organ izavam socia lmen­
te da forma mais s imples que se tem not íc ia . A essa organ i­
zação damos o nome de HORDA. A horda era, geralmente, 
composta no m áximo por 100 pessoas. 
A horda é uma sociedade igua l itár ia . 
NESTA ÉPOCA O HOMEM AINDA NÃO 
EXPLORA O TRABALHO DO SEU SEMELHANTE 
·E N EM SE APROPRIA DOS FRUTOS 
DO TRABALHO ALHEIO. 
37 
Nesta soç:iedade' igua l itár ia , a lguns m embros se des­
tacam por sua habi l idade e m u itas vezes assumem a d ireção 
da horda. 
A d i reção pode ser assum ida pelo mais háb i l nas 
d iversas atividades rea l izadasna comunidade: o melhor ca­
çador, o melhor coletor, o mais hábi l na prática re l ig iosa ou , 
a inda , pe lo ma is idoso. 
Não existe nenhuma desigualdade que se baseie na 
função que cada u m exerce na comun idade. 
EXERCER A FUNÇAO DE CHEFE NAO 
SIGNIFICA A POSSE DO PODER ECONôMICO 
E, SIM, DE PREST íGIO E RESPEITO 
DOS MEMBROS DA HORDA. 
Era possível a todos os componentes da horda o 
acesso à terra, à água e à a l imentação. 
O poder de chefe é temporár io , podendo ser assu ­
m ido por outra pessoa. Como a chefia não passa de pa i para 
f i lho , não se desenvolvem desigualdades duradouras. 
Veja um exemplo do papel do chefe de uma horda, 
em uma sociedade concreta. 
«Assim, entre os Esqu imós lg lu l ik, há uma regra qu� 
d iz competir a utn homem idoso, que goza do respei to dos 
outros, dec id i r em que momento é preciso deslocar-se para 
38 
I 
um ou tro centro de caça , quando é que se começa a caça, 
com o é que se reparte a caça , quando é que se a l im entam 
os cães etc. Chamam - lhe isuma itoq ( aque le que pensa ) . Nem 
sempre é o ma is ve lho , mas é um homem idoso , que é um 
caçador astucioso, ou exerce um grande poder como chefe 
de uma g rande fam í l ia . Não se pode d izer que seja um chefe, 
e não se é obr igado a segu i r os seus conselhos. Mas as pes­
soas seguem -nos o mais das vezes, em parte porque se ba ­
seiam na sua exper iência e em parte porque convém esta r de 
boas relações com ele» ' 
Mas a vida do homem não parava de se transformar . 
O homem estava sempre exper imentando e descobr indo coi ­
sas novas. Aprendendo com seus erros e acertos . Com eçaram 
a util i zar o fogo que achavam junto aos vu lcões e nos incên­
d ios das f lorestas. Ma is tarde aprenderam a obter o fogo pelo 
atr ito, usando, por exemplo , a pedra. 
· 
Seu s instrum entos de traba lho também vão se aper­
feiçoando - ut i l izam -se da pedra, mas de mane i ra d i ferente . 
Passam a po l i - l?ts, transformando-as em facas, pontas de 
f lechas e dardos. 
1IL 
Através de mu ito tem po de observação da natureza, 
os homens vão exper imentando e descobr indo novas formas 
de re lac ionar-se tom e la. 
A lguns g rupos de caçadores gostavam de levar, pa ra 
seus acampamentos, f i l hotes de an ima is que caçavam, pa ra 
serem cr iados pelas cr ianças. Os prime i ros an ima is que vive­
ram perto qo hom em foram cães de caça. Com o tem po, aves, 
porcos, ove lhas, eqü inos , bovinos , foram também traz idos. 
Agora o homem não prec isava sa i r para caçar todos os d ias. 
Seu a l imento estava bem mais perto . O homem descobre 
a pecuária ! 
2. Jean C�pans (e outros) . Antropologia - Ciência das sociedades 
primitivas? p. 164. 
39 
E A AG RICULTURA, COMO COMEÇOU? 
Esta parece ter s ido uma descoberta que devemos 
às mu lheres. Como já sabemos , a coleta de ra ízes e frutos era 
tarefa da m ulher . Logo , foram as m u lheres a perceberem pr i ­
meiro que a lgum as sementes largadas no chão, por acaso, se 
transformavam em novos frutos. Descobriram que pod iam 
plantar ! Começaram a fazer agr icu ltu ra ! 
A invenção da agr icultura e da pecuár ia s ign if icou 
uma g rande transformação na vida da comun idade. ls!o por­
que a criação da agricu ltu ra s ign if icou um desenvolvimento 
das forças produtivas, i sto quer d izer que se transformou , em 
n ível de qua l idade, a relação que os homens t inham com a 
natureza, transformando assim , de forma profunda, a relação 
dos homens com os outros hom ens, dentro e fora da 
produção. . . . . 
O desenvolv imento da agr icu ltura s1gmhcou tambem 
o surg imento de um excedente (parte da produção para a lém 
das necessidades dos produtores) . 
A invenção da agricu ltura traz, junto com ela , a cr ia- · 
ção de novos instrum entos de trabalho e o surg imento de 
novas relações entre os homens . 
40 
r 
-·: . 
·, . 
i. 
E A DIVISÃO DO TRABALHO? 
Nas soc iedades dos caçadores e coletores, a d ivisão 
do trabalho era apenas por sexo e idade. 
E nas soc iedades dos agr icu ltores e cr iadores de gado? 
A divisão do traba lho não é ma is s im ples . Ela se 
torna mais complexa. 
A PRODUÇAO A INDA É COLETIVA ! TODOS 
TRABALHAM E TE:M ACESSO AOS FRUTOS DO 
SEU TRABALHO. MAS, AGORA, OS HOMENS 
NAO Tt::M MAIS A MESMA FUNÇÃO 
N A PRODUÇÃO. 
Vejamos um exemplo concreto: 
«0 corte in ic ia l das á rvores na floresta é tarefa de 
um grupo de homens, que traba lham co letivamente. A l im­
peza da vegetação raste i ra é traba lho de um g rupo de mú-
41 
l heres. A construção da policoba, que protege os qu inta i s dos 
an ima is , é obra de outro g rupo de homens. As operações_ para 
p lantar o qu inta l e co lher os tubércu los são tarefas ind ivi­
dua is , rea l i zadas por mu lheres» '. 
Quando pensamos nas re lações entre operár io e ca­
p ita l i sta, na soc iedade de hoje , percebemos que esta não está 
de forma a lguma l igada aos laços re l ig iosos, po l í t icos ou fa ­
m i l iares, que estas duas c lasses possam ter entre si. A relação 
entre estas duas c lasses é pu ram ente econôm ica e se concre­
t iza através do traba lho . 
Nas soc iedades pr im it ivas, a s ituação é m u ito d i -
ferente. 
Entre os agricu l tores e cr iadores de gado, as relações 
de parentesco entre ind iv íduos e g rupos regu lam o traba l ho: 
as formas de cooperação, de d iv isão do traba lho , de ut ili zação 
do solo e até a d i str ibu ição e o consumo dos produtos. 
O fraco desenvolv imento das forças produtivas, nas 
soc iedades pr im it ivas, faz com que a cooperação entre -os ho­
mens se torne ind i spensável para assegura r as cond ições m a­
ter ia i s necessá r ias à v ida em comun idade . Sendo ass im , o re­
presentante de um grupo de parentesco, quando necessár io , 
faz ape lo a parentes, ou , então, a g rupos que são seus a l ia­
dos - por' terem , por exemplo , casado com a lguém do 
seu grupo . 
Dessa mane i ra, o traba lho produtivo organiza-se com 
a ajuda de serv iços prestados, em nome de suas relações fa­
m i l i a res, po l í t icas ou re l i g iosas . 
N ESTE CASO, AS RELAÇõES DOS HOMENS 
NA PRODUÇAO N AO SAO SEPARADAS 
DAS RELAÇõES SOCIAIS, RELIGIOSAS 
E DE PARENTESCO. 
Nas soc iedades pr im it ivas, o trabalho como at iv idade 
puramente econôm ica não ex iste . O traba lho é ao mesmo 
tem po um ato econôm ico , po l í t ico e relig ioso. 
3. Jean Copans. Op. cit. p. 262. 
42 
O homem prim itivo é um homem completo, seu tra­
ba lho não é separáve l do seu ser socia l . 
. ·,.2,fxo lii.�t&A\.HO 
--
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Nós já sabemos que os agricu l tores e cr iadores pro­duzem , com seu traba lho , um excedente. 
Mas como são d istribu ídos estes excedentes? 
Em gera l , nas tr ibos - comun idades m a is h ie ra rqu i ­zadas, próprias desse t ipo de produção - os excedentes são entregues aos chefes que os red istribuem de vár ias mane i ras. 
Mu itas vezes estes excedentes são acumu lados para 
serem consum idos em g randes festas, da qua l part icipam 
todos os membros da tribo. 
43 
AS SOCIEDADES DOS AGRICULTORES E 
CRIADORES DE GADO S E O RGANIZAM, COMO 
JÁ VIMOS, EM TRI BOS - GRUPOS MUITO 
MAIORES, QUE VIVEM SOB UMA 
ORGAN IZAÇÃO SOCIAL MAIS COMPLEXA, 
MAIS H IERARQUIZADA. 
Esta organização surge na med ida em que existe 
a lgo
· em com u m a todos os homens da tribo - o fato de rea­
l izarem a agricu l tu ra . 
A terra é o grande laboratório, o arsena l que propor­
ciona tanto os m eios e os objetos de traba lho , como a loca­
l i zação - base da comun idade. Os homens se cons ideram 
membros de uma comunidade que se produz e se reproduz
 
pelo trabalho vivo . 
A tribo não é mais um conjunto de famí l ias l igadas 
pela descendência ou pela a l iança, como na horda , mas s im
 
um aglomerado de vár ios conjuntos de fam í l ias . 
· Todas as pessoas da tribo estãoun idas por laços de 
parentesco e estes laços regulçim a v ida soc ia l . Além d iss
o, 
existem regras próprias à tribo como um todo, que , juntand
o­
se aos laços de parentesco, desempenham papel importan
te 
na integração socia l , regu lando desigua ldades que surge
m 
entre os d iversos g rupos que compõem · a tribo. 
44 
TODOS OS MEMBROS ADQUIREM D IREITOS 
E DEVERES ATRAVÉS DO MESMO PROCESSO, 
NO QUAL APRENDEM A UNGUA E SE 
TORNAM HERDEIROS DO PATRIMôNIO 
CULTURAL COMUM. 
L 
Pouco a pouco, os homens em mu itas reg iões do 
m undo, onde a ag ricu l tura era praticada, foram aumentando 
o número de p lantas cu lt ivadas, adotando métodos de traba­
l�o e in
.
strum entos ma is ef icazes para o preparo do solo des­
t inado as lavouras . As inovações ma is importantes foram a 
descoberta da técn ica de i rrig·ação e adubagem do solo . Além 
di�so, o uso �o arado e de veícu los de roda, ambos de tração 
ammal , perm i te que o homem produza ma is a l imentos, tendo 
cada vez ma is fartu ra nas colhe itas . 
TODA NOVA FORÇA P RODUTIVA TRAZ, COMO 
CONSEQüt::NCIA, NOVO DESENVOLVIMENTO 
NA DIVISÃO DO TRABALHO. 
Já sabemos, a .gora , que a d iv isão do traba lho se 
torna ma is com plexa. A lgumas pessoas espec ia l izam -se na 
p rod ução artesana l e ocu pam com esta at iv idade todo o seu 
tem po. Outras ded icam-se inteiramente à produção de a l i ­
mentos. 
Os artesãos podem ded icar-se tota lmente à sua arte , 
porque as novas invenções (arado, técn ica de i rr igação e tc . ) , 
o desenvolv im ento das forças produtivas, poss ib i l itam a cria­
ção de um excedente de a l im entos suf ic iente para a l im entar 
tanto aquele que permanece traba lhando a terra, quanto o 
artesão . 
Agora os homens não têm ma is exatamente a mes­
ma função na produção. Os homens vão se espec ia l izando 
naqu i lo que fazem . 
Os homens com eçam a se d i ferenciar uns dos outros 
de acordo com a sua função na produção. . 
A ex istência do excedente , e a especia l ização no tra­
ba lho , tornam possível a TROCA. 
No in íc io a troca tem como f ina l idade apenas a manu ­
tenção do produtor e de sua comun idade. 
Na sociedade de agricu l tores e criadores, o d i re i to à 
terra é com un itário e oferece a todos os ind ivíduos u m a ga­
rantia de acesso a este recurso fundamenta l , ass im como é 
garantido também às gerações futuras . Um chefe «Yorubá», 
ao ser questionado sobre a propr iedade de u m determ inado 
vale, respondeu : «Esta terra, eu acred ito que pertença a uma 
grande fam í l ia , da qua l m u itos m embros estão mortos, a lguns 
vivos, e a g rande ma ior ia a inda está para nascer» '. 
4. Eduardo Homem e Sônia Correia. Moçambique, primeiras Ma­
chambas. 
45 
l 
Tendo a terra uma d imensão sagrada, aque les que 
possuem os poderes mág icos mais fortes (que «garantem» a 
ferti l idade da terra e dos an ima is, exercem u m contro le sobre 
a terra e os bens ma is preciosos de· sua tribo. 
Esse contro le não s ign i fica propriedade ·como enten­
demos e , s im, que uma m inor ia organ iza a produção, controla 
a terra , baseada em seus poderes mágicos. 
O poder desses g rupos é um poder de função, não 
um poder econôm ico. Nestas soc iedades, nem a terra , nem o 
trabalho humano - a força de traba lho - tinham se trans­
formado em mercadorias que se podem adqu ir i r em troca 
de outras. 
O importante é saber que , em cada tr ibo, há um 
.grupo soc ia l com mais d i re itos sobre a terra do que os outros 
- apesar de que a inda era possível a todos o acesso à terra 
produtora de a limentos. 
No estudo de casos concretos, percebemos que o 
p restígio, l igado ao exerc íc io de uma função, se transforma 
em poder . E o contro le dos meios de produção, pr incipa lmen­
te da terra , acaba por fazer com que o interesse part icu lar se 
sobreponha ao interesse coletivo . 
É a í que entra uma questão fundamenta l , que 
preocupa todos os c ientistas socia i s : expl icar como uma m i­
nor ia soc ia l consegue person if icar os interesses comuns da 
sociedade e transformar pouco a pouco o seu poder de funç�o 
em poder de exploração econôm ica e soc ia l . 
Vejamos um exemplo de comun idade concreta : a Co­
mun idade Célt ica Ir landesa. Até o sécu lo VI d.C . , os celtas 
eram cr iadores de gado que se . de's locavam à procu ra de al i ­
mentos. No sécu lo VI, começaràm a estabe lecer-se em a lde ias 
sedentárias e a prat icar agricu ltura . Cada a lde ia era com posta 
de três ou quatro g rupos fam i liares, dP. vinte a tr inta pessoas, 
que resid iam em aglomerados separados dentro da mesma 
a lde ia . A própria a ldeia , os cu rra is de gado e os qu inta is cons­
t ituíam um espaço chamado FAlCHTE, que era a propr iedade 
de cada uma das fam í l ias . A terra cu lt ivada , a f loresta , os 
prados em redor da a lde ia , eram propriedade comum. O tra ­
ba lho era pratica
.
do em comu m . A partir do sécu lo VII, ver i ­
f ica -se que os chefes de clã , que até então admin istravam a 
terra em com um em nome do c lã , transformaram pouco a 
pouco uma parte desse patrimônio comu m em propriedade 
sua . O clã já não era apenas um grupo de parentes, mas in ­
c lu ía escravos, homens l ivres adotados de outros grupos fa-
46 
r 
r 
m il iares etc. Havia-se, portanto , estabelec ido uma d iferencia­
ção na comun idade entre r icos e pobres, a qua l formava a base 
de uma nova estratif icação socia l •
. 
. Hoje todos nós entendemos muito bem o que s ign i-f ica s�r ou não ser proprietár io . Sabemos, por exemplo, que 
possu i r u�a g rande extensão de terra s ign if ica r iqueza, · capi­
ta l , ou seja , poder econôm ico. 
. Para o homem prim itivo, a terra onde planta não ex iste separada do seu ser soc ia l . Não é des ligada da sua v i ­
vência rel ig iosa, sua relação de parentesco, enf im , de todos 
os aspectos que fazem parte da sua ex istência . A relação entre 
o homem prim it ivo e a terra tem sempre uma d imensão sa­
g rada, o que impede de ver a terra como um recu rso m era­
mente econôm ico. A própria noção do que seja propriedade é 
completamente d i ferente. Por exemplo , entre os SIAN ES da 
N OVA GUIN É : 
« - um ind ivíduo tem d i re i tos d e t ipo MERAFO
. 
sobre um_ objeto .se é , em relação a esse objeto, como um pa i e� relaçao aos f i lhos. É responsável por e le perante a comu­
n idade e os seus antepassados. É essa a regra de apropriação 
da . terra, das plantas sagr�das, dos conhecimentos r ituais , bens Cuja tutela lhe pertence e que não pode transfer ir ou a l ienar· 
. ind_
ivíduo tem d i re i to ANFONKA sobre u m objet� 
se esse objeto e como a sua sombra. Esses objetos podem ser 
as roupas, os porcos, as á rvores p lantadas, os utensíl ios, as 
armas. Esses bens são apropriados pessoa lmente e podem ser 
transferidos» •. 
Nas sociedades pr im it ivas , as formas e os m eios de co�s�o, de regu lação soc ia l , fazem -se, em pr incípio , em be­
neficio do co�junto soc ia l . O progresso das forças produtivas e
. 
o desenvolv imento da des igua ldade social perm item 0 nas­
c imento de g rupos que não podem mais assegu rar a coesão e a reg _u lação social , a não ser assegu rando a sua própria re­
produçao: Sendo ass im, começa a existi r uma c lara separação entre os interesses deste g rupo e o interesse co letivo . 
A ativid��e po l ítica de ixa de ser a função que 0 g rupo 
exerce em benef1c10 de toda a comun idade (o rganização eco­
nôm ica, d istribu ição de bens etc., para se tornar um organis-
5. Jean Copans. Op. cit. 
6. Jean Copans. Op. cit 
47 
mo preocupado em defender os interesses desse grupo em 
detr imento dos outros grupos. 
Se a terra não é ma is propr iedade de toda a comu ­
n idade, s e s ó algumas pessoas possuem a terra , o q u e acontece 
com aquelas que não têm terra? Para mu itas dessas pessoas, 
a vida começa a se torna r m a is d if íc i l . A terraé um MEIO 
D E P RODUÇÃO. Sem e la não se pode produz i r . Por isso, os 
que consegu iram apropr iar-se destes m eios e conservá- los em 
suas mãos, podem obrigar os que não os possuem a subme­
ter-se às cond ições de traba lho que esses proprietár ios esco· 
Ihem. OS DONOS DOS MEIOS DE P RODUÇÃO EXPLO­
RAM OS QUE NÃO POSSUEM ESTES MEIOS. Por exemplo : 
o camponês sem terra, para não morrer de fome , tem que 
aceitar ps cond ições de traba lho que os donos da terra lhe 
oferecem. 
48 
l 
Os modos de exploração que su rg iram, depo is que 
a terra de ixou de se r uma propr iedade de toda a com un idade, 
foram mu ito var iados. Modos d i fe rentes de exploração acon­
tec iam ao mesmo tem po nos ma is remotos cantos da terra . 
Até hoje os h i stor iadores estudam estes m odos. Há mu ita 
discussão sobre o assunto, mu itas op in iões d i ferentes. 
Além d isso, a passagem de uma sociedade sem clas­
ses para uma soc iedade com classes não aconteceu de um 
d i a para o ou tro ! 
O processo fo i mu ito longo ! 
Os cam inhos desta m udança foram mu ito d iferentes. 
É por isso que os h istor iadores d i scutem o assunto 
até hoje e , a cada d ia , ocorrem novas descobertas. 
Mas ex iste um ponto que todos aqueles que estudam 
a C I ÊNCIA DA H ISTóRIA concordam : a h i stória em seu mo­
v imento, os hom ens na sua ação, transformaram a lguns dos 
povos que viv iam numa soc iedade sem classes para uma so­
c iedade de c lasses. 
Você deve ter percebido como as modi ficações eco­
nôm icas transformaram a vida do Homem . Cada vez que se 
transformava a sua mane ira de produz i r, o homem se trans­
formava tam bém ! Transformava, por exemplo, a forma de 
organ ização da soc iedade, suas reg ras , a sua mane i ra própria 
de entender o meio em que vivem . 
Você se lembra como eram as relações soc ia is na comu ­
n idade de caçadores? Com o organ izavam sua vida fam i l iar e 
grupal, e mantinham o sent imento de fidelidade? Como se 
governavam? 
Como podemos observar, tudo isso se modificou! 
As modificações econôm icas vão influenciar a orga­
nização pol ít ica ex istente até então. 
49 
i i 
,:l i: .. 111!1 • ; 1. 
,. 
MAS O QUE É POLíTlCA? 
A pol ítica seria o conjunto dos mecanismos regu la­
dores da tota l idade soc ia l enquanto ta l . A natureza e a forma 
desses mecanismos dependem da própria tota l idade social e 
do tipo de grupos que a compõem. 
TODAS AS SOCIEDADES SAO POUTICAS. 
A NATUREZA E A FORMA DA ORGANIZAÇÃO 
POUTICA ESTÁ SEMPRE LIGADA AO MODO 
COMO OS HOMENS SE RELACIONAM 
PARA PRODUZI R. 
O progresso das forças produtivas traduz-se por u ma 
diferenciação socia l cada vez mais acentuada. A partir da di­
visão do trabalho, estabelecem-se d istinções sociais, que to­
mam a forma de desigua ldades entre os indiv íduos e os 
g rupos. 
QUANTO MAIS COMPLEXAS SE 
TORNAM AS RELAÇõES SOCIAIS , MAIS 
COMPLEXAS TAMBÉM SE TORNAM AS 
ORGANIZAÇõES POUTICAS. 
Nas sociedades prim itivas, os mecan ismos regu lado­
res âa tota l idade social não surgem separados da rel ig ião , das 
relações de parentesco etc. São as relações de parentesco que 
definem âs formas e os m eios de coesão socia l , além de re-
50 
l 
partir os poderes e as auto ridades. As relações de parentesco 
funcionam como sistemas de autoridade e , por isso, como re­
lações políticas : autoridade dos mais velhos sobre os mais 
novos, dos maridos sobre as mu lheres, dos pais sobre os fi lhos 
- formas de autoridade que perm item que o processo de 
produção se real ize regu larmente e a vida social se organ ize. 
Não existe uma autonom ia do pol ítico em relação 
aos outros aspectos que com põem a tota l idade socia l . Isto só 
acontece a partir da passagem da sociedade sem classes à 
sociedade de classes. 
O POUTlCO ADQUIRE A SUA AUTONOMIA 
SOB A FORMA DE ESTADO. 
Se q ueremos entender a POUTICA dos povos pri­
mitivos, não podemos partir do que hoje entendemos por po­
l ít ica e, s implesmente, «Sa ir procu rando as or igens» dos s iste ­
mas pol íticos atua is nas comun idades primitivas. 
Se fizermos ass im, jama is seremos capazes de per­
ceber a orig ina l idade pol í tica das sociedades que não se orga ­
n izam a partir dos modelos ocidenta is e, tam pouco , entende­
remos a real dimensão das lutas pol íticas travadas atua lm ente 
nas sociedades capita l istas. 
51 
TODOS OS HOMENS PROCURAM EXPLICAR 
SEUS ATOS ATRAVÉS DE IDÉ IAS, DE CRENÇAS 
QUE EXPLICAM SUAS EXPERIÊNCIAS E 
OS ORIENTAM EM SUAS AÇõES. 
Os m itos, a rel i gião , foram, em pr inc1p10 , a forma 
que 0 homem encontrou para tentar expl icar a or �gem da 
terra , sua própria or igem . É através das crenças e m itos 
que 
0 homem prim it ivo passa a sua cu l tura para seus descend
en­
tes, a lém de ut i l i zá - los como uma forma de manter o g r
upo 
un ido f ie l a suas trad ições. O cu lto aos mortos, aos ante
pas­
sados
' 
é um bom exemplo do que tentamos exp l icar. Vejam 
bem : 
'
na medida em que todos os mem bros de uma soc iedade 
se sent iam f ié is ao mesmo ancestra l , entend iam que to
dos 
t inham uma origem comu m , aumentava seu sent imento
 de 
un idade. 
Além d i sso, o respeito às trad ições de ixadas pelos 
antepassados permitem que a tr ibo organ iz� o comportame�­
to do grupo, fazendo com que todos respeitem as reg
ras ba­
sicas, para que a tribo possa sobreviver . Por exen:plo
: para o 
homem TONGA ( tr ibo afr icana do su l de Moçambique)
, a l�u ­
ma coisa de ru im pode lhe acontecer , caso não tenha c
umpn�o 
devidamente os ritos determ inados pela trad ição com 
reJaçao 
aos seus antepassados. Se procurar um feit ice i ro para
 acon ­
se lhá -lo , este certamente d i rá : «Teu antepassado . re
clari;a .º 
rito que não foi cumprido» . Para este homem, a 1mpo
rtanc 1a 
do seu antepassado é tão grande, é tão pr�sente er:i su� 
mente, que m u ito provavelmente o r ito c.u m
pndo so luc ionara 
0 seu problema. Ele se sentirá melhor, po is seu antep
assado o 
52 
r 
r 
perdoou . Ele agora está integrado ao seu grupo novamente'. 
Os m itos dos povos prim itivos estão cheios de sa-
bedoria . 
Alguns deles nos dão hoje a expl icação correta sobre 
o t ipo de plantas que podem ser usadas para a a l imentação, 
quais podem ser usadas na m ed ic ina , a lém de nos re latar a 
or igem de vários grupos, suas trad ições e sua h istór ia . 
Durante mu ito tempo, os homens modernos despre­
zaram os m itos e as rel ig iões do povo pr im it ivo. Achavam que 
todo homem que não vivesse dentro de uma sociedade mo­
derna não devia ser levado «a sério» . 
Entend iam sua re l i g ião , seus ritos, apenas como uma 
mane i ra prim itiva de «botar para fora» as suas angústias e 
m edos d iante de uma natureza desconhecida e , por isso, 
ameaçadora. 
Demorou mu ito para que os h i stor iadores e outros 
pesqu isadores de nossa época percebessem que o homem pri­
m it ivo, associando os seus conhec imentos prát icos, cu l to aos 
antepassados e mag ia , exprim iam um conhecimento sobre a 
sua rea l idade, os homens e a natu reza . 
Fo i mu ito d if íc i l pa ra o homem moderno entender 
que podia aprender mu ito com as crenças e m itos do homem 
pr im it ivo. Foi d i f íci l perceber que , para entender como viviam , 
era preciso entender a fundo sua re l ig ião . Esta tarefa fo i mu ito 
d if icu ltada pelos pa íses que exploravam os povos que viv iam 
em uma organ ização socia l igual i tária , seja na América, sefa 
na Áfr ica. Estes justif icavam sua dom inação, d izendo que 
todas as man i festações destes grupos, assim como e les pró­
prios , eram selvagens, pr im i tivos, ignorantes, · incapazes de 
construí rem por s i só o seu cam inho . Por outro lado , os pes­
qu isadores e outros c ient istas, que não aceitavam a domina­
ção e exploração exerc ida contra estes grupos, na tentativa de 
denunciar os «civi l izados» e mostrar que estes não passavam 
de exploradores, eque seu ún ico interesse em relação a estas 
comun idades era uti l i zá - las para se enr iquecer cada vez ma is , 
acabavam por ca i r em outro extremo : ana l isavam a vida soc ial 
e pol í t ica destes g rupos como sendo um verdadei ro para í so ! 
Sem problemas, confl itos ou injustiças, e que tudo d e errado, 
que quebrava a harmonia perfe ita dos povos prim itivos, t inha 
s ido traz ido pelo invasor. 
Ora , jamais ex istiu uma soc iedade ass im , sem con -
f l i tos ! 
7 . Eduardo Homem e Sônia Correia. Op. cit. 
53 
É importante lembrar que se, por um 
lado, as cren­
ças representavam conhecimentos sob
re a rea l idade que per­
m it iam ao homem relac ionar-se com 
a natu reza e entre s i , 
por outro lado, a lgumas crenças e r i to
s , por estarem l igados 
a contrad ições soc ia is profun das, ou 
a a lguns fenômenos na­
tu ra is que atemorizavam aos homen
s , ao invés de perm it ir 
que o homem cada vez mais u ltrap
assasse os desafios que 
surg iam , o impediam , colocando r
egras respeitadas m u itas 
vezes pelo medo, que o homem a
ceitava sem jamais ques-
t ioná- las . 
Os m itos e crenças, de que fa lamos
, são formas que 
o homem pr im itivo encontrou para 
expl icar , regu lar e manter 
o seu mundo . O mundo do home
m pr im itivo . Neste t ipo de 
soc iedade, onde não há a exploração
 do homem pelo homem , 
e a d iv isão do traba lho está pouco
 desenvolvidã , as expl ica­
ções que os homens fazem do seu 
mundo estão l igadas à sua 
vida. Não há separação entre o tr
abalho e a cu ltura , o tra­
ba lho e o prazer etc . Mas todos os 
homens procu ram expl icar 
o m undo em que vivem . E a man
e i ra pela qua l constroem 
esta expl icação va i var iar de época 
para época. As idé ias que 
os homens . produzem , as expl icaçõ
es do mundo que e labo­
ram , estão l igadas à sua ativ idade mater ia
l , à m ane i ra pela 
qual o homem se organ iza para so
brev iver na sua relação 
com outros homens . 
Com o surg imento da soc iedade de c
lasses, e a d i -
v i são entre os que produzem e os q
ue não produzem , a un i­
dade entre o pensar /saber e faze
r vai aos poucos desa-
parecendo. 
«A produção de idé ias , de representa
ções e da cons­
c1encia está em pr imeiro lugar , d i re
ta e int imamente l igada 
à ativ idade m ateria l e ao comércio m ater ia l 
dos homens ; é a 
l inguagem d a v ida real» . 
«As idé ias da c lasse dom inante são i
dé ias dom inan­
tes em cada época ; em outros termo
s, a c lasse que exerce o 
poder materia l dominante n a soc ieda
de é , ao m esmo tem po , 
seu poder espir itua l dom inante. A c la
sse que tem à sua d is­
pos1çao os m eios para a produção m
ater ia l d i spõe com isso, 
ao mesmo tem po , dos m eios para a p
rodução espir i tual» · . 
8 . Karl Marx. A ideologia alemã. p . 5. 
9 . Anna Maria de Castro_. Op. cit., p . 1 66-1 67 . 
54 
r 1 
L 
A c lasse dom inante tem d · 
iT}teresses como os . t d 
e « representar» os seus 
. d d 
m eresses e todos os membros d 
c 1e a e - tem d d . 
.d , . , 
a so-
e representá - l a 
e a r as s�a� ' e 1as a forma de un iversa l idade 
- . , � coi:io as umcas rac iona is e vá l idas . 
As
_ 
1 de 1as, a mora l , à re l ig ião, aos 
m amos de ideolog ia . 
costum es etc. cha-
A ideologia faz com q "d . . 
ções soc ia is e , · 
ue as 1 e ias exp l iquem as rela-
idé ias só são 
pohi
_
ic?s, 
_
tornando impossível perceber que ta is 
da po l í t " 
exp icave1s pela própria forma de sociedade e 
1ca . 
55 
r ' 1 i 
PARTE II 
como estudar história ? 
L 
r 1 
1 
L 
COMO ESTUDAR HISTóRIA? 
No in íc io da parte 1 do nosso l ivro, perguntamos a 
você : O que é a h istór ia? 
Apresentamos tam bém a nossa def in ição : «H istór ia é 
a c 1encia que nos perm ite conhecer o nosso passado, en ­
tender bem o nosso presente, para que possamos formá- lo 
em um futu ro melhor». 
Agora podemos fazer uma nova pergunta : Como 
estudá- la? 
59 
Como conhecer profundamente uma sociedade? s:a 
organ ização , suas re lações internas e com o resto do mun o , 
d . - ? suas contra 1çoes · _ 
· 
· de outras come-T odas estas questoes, e uma serie , 
ho d "d o secu lo X IX , na Eu ropa , por -çaram a ser .retp��s�v=� :m estudar a soc iedade do passado , mens que se m er 
até tornar-se a soc iedade co-como evo lu iu , desenvo lveu -se, . - era apenas . les Mas todo este interesse nao nhec1da por e · . de preocupação em mente : cur ios idade. E l�s _
tmh�m 
�Xiª l:ª�asse traba lhadora, transfor­a lterar as co��1çoes e.dv 1 d m i lhares de pessoas que traba­mar as cond 1çoes de v 1 a e 
sar d isso morr iam de fome lhavam de sol . a so l , mas qu% ª�a�ário tão � iserável , que não e doenças , pois ganhavam t entar suas fam í l ias . Entre esses cons�gu iam
M
nem se
E
q
n
u
g
e;l sª t1:tavam entender o porquê dessa estud iosos, arx e 
situação. 
Mas as expl icações que encontravam não os sa-
t isfaz iam . 
·am ne-Dos h i stor iadores de sua época não consegu i 
nhuma r�féo�t�tão a h istória contada por mu itos não passava 
hado de fatos, onde os heróis eram sempre os de um emaran . . a i um súd i to r ico e poderoso. r.nesmos : os reis , as ram h�� o
l
u 
pr�duz iam todas as r iquezas Os trabalhadores,. que .ª ma . segundo plano , corn o destes mesmos remos, so aparec iam em 
personagens sem importância . 
- . Nessa h i stória de reis e ra inhas, a expl.oraçao e a m­não eram sequer citadas, que d i rá questionadas .. justiça 
Nessa h i stória , mu itas questões importantes f icavam 
sem resposta :-
d d · f t ? Por que exist iam tantas soc ieda es i eren es . 
Como as soci edades se transformavam? . t Esses homens queriam transformar. s�a rea l idade . -Transformar em uma sociedade mais Justa , o:ide nao 
houvesse a propriedade privada dos meios de produçao, onde 
não houvesse a exploração do homem pelo homem . 
Com essa intenção, Marx e Enge ls começaram , desde 
jovens, a estudar e a pesqu i sar, tenta�do �ncontrar as respos-
tas para todas estas questões que os mqu 1etavam. . t Conversaram com mu itas pessoas, leram mu � os 
mu .1 tos países, pesqu isaram em m u itos livros , v isitaram 
documentos. 
Aos poucos, 
que os h istor iadores 
60 
foram descobrindo que, ao contrário do 
de sua época acred itavam, os homens 
r 1 
pod iam transformar a sua rea l idade ! Marx e Engels segu iam estudando e sistematizando seus estudos. 
Constru í ram uma teor ia c ientíf ica para compreender o que é uma sociedade e d ist ingu i r um tipo de sociedade da outra . 
Marx e Enge ls souberam passar da descrição de u m a sociedade ao conhecimento das causas e le is que regem sua ex istência , transformação e substitu ição por um novo t ipo de sociedade. 
Apesar de seus estudos terem s ido fe i tos no sécu lo passado , suas descobertas c ientíf icas são tão importantes que as ut i l izamos hoje para conhecer a rea l idade e estudar as so­c iedades passadas. 
Para estudarmos a rea l idade de uma determ inada sociedade, usamos um conceito que os perm ite pensar, i sto é, conhecer de forma c ientíf ica uma determ inada sociedade. Como já d issemos, este conce ito fo i constru ído a partir de mu itos anos de estudos e pesqu isas, de g rande observação. Buscando sempre os dados da rea l idade . 
Para estudarmos uma sociedade, usamos um con­ceito: o MODO DE PRODUÇAO. À prime i ra vista, poderíamos correr o r isco de confund i r seu s ign if icado. 
Parece que e le se refere un icamente ao aspecto eco­nôm ico: modo de produção, maneira, «jeito» de produz ir . Mas o conceito de modo de produção não se refere un icamente à econom ia . Ele é mu ito ma is amplo ! Modo de produção é o conceito que nos perm i te co­nhecer uma sociedade. Conhecer realmente , e não s imples­m ente ser capaz de descrever a lguns fatos . Vejamos um exemplo : «0 Bras i l - Quem já teve a fel ic idade de percorrer o Bras i l d e Norte a Su le de Leste a Oeste observou , por certo, como é cheio de contrastes a natu ­reza de nosso país . ( . . . ) E m contato com essas tão var iadas paisagens, acabaram os bras i le i ros por fazer nascer outras d i ­ferenças ao povoar o pa ís , ao cr iar ag lomerados u rbanos e ao . ded icar-se às ma is d iversas atividades econôm icas. Povos de mu itas or igens aqu i se f ixaram , convivendo em completa har­monia : brancos de or igem européia e de or igem asiát ica, negros, amarelos , como também pelos índ ios pr im itivos, donos d e nossa terra . ( . . . ) Ao lado dessas d i ferenças, outras ex is­tem também criadas pe lo homem: ag lomerados u rbanos de todos os t ipos ( . . . ) , reg iões em pleno desenvo lvimento eco­nôm ico, s ituadas não mu ito longe de reg iões subdesenvo lvi ­das ( . . . ) . É assim o Bras i l de nossos d ias: repleto de con­traste . Mas, fe l i zmente , um país com p lena juventude, sem 
61 
4 l 
!;:.' '. : 
ódios a separar seus habitantes unidos pelas mesmas tradições 
h istóricas, como pela re l ig ião e pela l íngua que falamos» "'. 
Podemos fac i lmente descrever uma sociedade, per­
ceber se e la tem ou não tem indústrias, se possu i ou não 
campos cultiváveis , escolas, le is, rel ig ião etc. 
Mas será que, com a s imples constatação da existên­
c ia desses e lementos, consegu iremos entender como relacio­
nam-se entre s i? Por quê? Como? Nos parece que não ! 
Na comparação de duas sociedades, uma das d if i ­
culdades que teríamos de enfrentar ser ia perceber a d iferença 
entre elas. 
Vejam bem : 
A URSS tem indústrias , os EUA também. A U RSS 
possui campos cultiváveis , pol íc ia , rel ig iões etc. É lóg ico que os 
EUA também as têm . Então estas duas sociedades são iguais? 
Evidente que não . Uma é socia l ista, a outra é capital ista . 
Sendo assim , percebemos que, se formos capazes de 
organizar estes d iversos e lementos em d iferentes n íve is : eco­
nômico , pol ítico e ideo lóg ico e de determ inar o papel que 
cada u m desses n íveis desempenha na sociedade, poderemos 
então passar da descrição ao conhecimento de uma soc iedade . 
Todo MODO DE PRODUÇAO constitu i -se em : 
í Econômico ( relação de produção) 
NIVEIS �l Político ( le is, estado etc . ) e Ideológico ( idéias, cos­
tum es, rel ig ião etc . ) . 
1 0 . Aroldo de Azevedo. O Brasil e suas regiões. Cia. Editora Nacio­
nal, 1 971 , p. 1 -3. 
62 
r 
1 1 
QUAL A DI FERENÇA ENTRE CONHECE'R E 
DESCREVER UMA SOCIEDADE? 
Esta é uma questão mu ito importante ! 
. Ao longo do l ivro tentamos mostrar a vocês os ins­
trume�tos necessários para que possam conhecer rea lmente 
as sonedades. 
Qualq.uer sociedade, e não só aquelas que estamos estudando aqu i . 
É _ importante estar atento às informações que che­
gam a voces. 
É importante ser crítico para esco lher um bom ma­
teria l de estudo ! 
Na es�ola , como é que você aprende história? 
d . . 
:5ugenmos que vocês observem vários l ivros d idáticos 
.e hi_
s�ona e esc?Jham textos que não apresentam uma visãd 
c1entif 1ca da rea l tdade, que sejam meras descrições e outros 
que . . 
rea lmente os ajudem a conhecer c ientificam
1
ente esta 
rea l idade. 
J� �abe.mos que para compreender o que é a socie­da?e, e d.1st1��u 1r um t ipo de sociedade de outra, usamos 0 metodo c 1�ntif 1co de expl icar e entender por me io de concei­
tos. Atraves �o conceito de MODO DE PRODUÇAO, conhe­
cemos as sociedades em sua tota l idade. 
Nós já sabemos também que : 
A f�rma como os homens produzem os bens materia is, e 
as r� laçoes qu� se estabelecem entre eles no processo de pro­
duçao, determ inam as suas idé ias. 
As mod if icações econôm icas produzem g randes transfor­
mações na soc iedad e como um todo . 
63 
1 1 
Achamos que você já é capaz de nos responder 
qual é o e lemento fundamenta l que determ ina a organ ização 
da sociedade : 
É O N íVEL ECONôMICO QUE DESEMPENHA 
O PAPEL FUNDAMENTAL DENTRO DA 
SOCIEDADE. É O N íV EL ECONôMICO A BASE 
NA QUAL SE LEVANTA TODO O 
«ED IF íC IO SOCIAL». 
Os homens, que dentro de uma soc iedade são os 
donos dos meios de produção, têm nas suas mãos o p
oder 
econôm ico e , como são senhores desse poder, contro lam
 tam ­
bém outros aspectos da soc iedade. 
Os donos dos me ios de produção, tendo em suas 
mãos o poder econôm ico, têm nas suas mãos o exérc
ito, a 
pol íc ia , o Estado. Têm nas suas m ãos, portanto, o PO
DER 
POLíT ICO. . 
Além d i sso , a classe que é propr ietár ia dos meios de 
produção (como, por exemplo , na nossa sociedade, propr ie ­
tár ia de fábricas etc . ) va i ter à sua d isposição os meios para 
a produção das idé ias . Atua lmente, por exem plo , os don?s dos 
meios de produção controlam as mais im portantes em is
so ras 
de rád io , de jorna is , de televisão etc . , isto é , os m eios de
 co­
mun icação de massa. E tam bém controlam o conteúdo 
dos 
programas de ens ino em todos os n íve is . . 
Portanto , a c lasse que é proprietár ia dos me ios de 
produção possu i tam bém o PODER I DEOLóGICO - pr
odu­
zem a ideolog ia dom inante, que se coloca sobre outras, co
mo 
« A VERDADE». 
Apesar d isso tudo, ex istem outras formas d i ferentes 
de pensar, de expressar a rea l idade . 
Na classe que não possu i os meios de produção en­
contramos idé ias, que são d i ferentes das idéias dom ina�tes . 
Estas idé ias vêm de pessoas que vêem a sociedade de outra 
mane i ra; que não se contentam com as expl icações de mundo 
fila c lasse dom inante . Buscam outras expl icações, assim como 
aconteceu com Marx e Enge ls na época deles . 
Vejam um exemplo do que estamos fa lando ; este 
pequeno depoim ento nos ajuda a exempl i f icar como funciona 
o poder da ideolog ia ! 
e_ , 
. 
_ «Antes eu v!via em estado d e ser-
c--�qp L � r! v1dao, mas eu nao sabia d isso. Eu pen-
e:::_-\ ) J sava que o. mundo era assim mesmo. !/ Eu não sabia que Moçambique era nos­�1) so país . Os l ivros d iz iam que nós éramos 
portugueses . . . Então, em 1 961 , eu co­
mecei a ouvir outras coisas . . . Os l íde­
res expl icavam-nos a verdade, mostra­
vam-nos a nossa própria força e nós 
percebemos c laramente como Moçam­
bique, que pertence a nós e não a Por­
tuga l , teria s ido dom inado» ". 
Depo im ento de um moçambicano sobre por que co­
m eçou a partic ipar da luta de l ibertação do povo de ·Moçambi­
que contra a dom inação colon ia l portuguesa . 
Em toda sociedade concreta, em qua lque_r modo de 
produção, d istingu imos três n íveis fundamenta is : o econômi ­
co, o pol í tico e o ideológ ico. É o n ível econôm ico a base sobre 
a qua l se levanta todo o ed if íc io socia l . Por is.so, chamamos 
INFRA-ESTRUTURA ao n ível econôm ico e SUPERESTRUTU­
RA ao n ível pol ítico e ideológico. 
Agora vocês já podem responder à pergunta que fi­
zemos, quando in ic iamos a II parte de nosso l ivro : COMO 
ESTUDAR A HISTóRIA? 
Podemos perceber que a primeira questão que for­
m ularemos, ao estudarmos um determ inado modo de pro­
dução, será : como se organ izam os homens para a sua sobre­
vivência? São l ivres? Escravos? Como vivem os traba lhadores? 
Como é mantida a ordem? Que ideo log ia leg it ima o poder 
pol í tico? 
· 
TODOS OS HOMENS FAZEM HISTóRIA ! 
voei:: FAZ A HISTóRIA ! 
1 1 . Eduardo Homem e Sônia Correia. Op. cit. 
64 65 
; : 
PARTE Ili 
modo de produção, 
um conceito dinâmico 
1� : 
1 
l 
.MODO DE PRODUÇÃO, 
UM CONCEITO DINÃ.MICO 
Como já d issemos, Marx e Engels estavam preocupa­
dos em me lhorar as cond ições de v ida da c lasse traba lhadora . 
Não concordavam com a op in ião de mu itos, que 
achavam que a m iséria em que v iv iam os traba lhadores acon­
tec ia porque era o «destino daquelas pessoas», « porq ue o 
m undo é ass im mesmo», ou outras exp l icações como estas . 
Marx e Engels ·q uer iam saber o porquê daqu ela s i tua ­
ção tão injusta para poderem transformá- la . 
E les percebiam quenem sempre o mundo fora as­
s im, que o mundo se transformava sem pre e i r ia se transfor­
mar ma is uma vez . 
O n egócio era descobr ir como o mundo se transfor­
mava, o que fazia com que as co i sas mudassem . 
Não viam a h istória h.umana como um romance in­
terminável , cheio de re is , intrigas e tratados, que acontec iam 
quase que por acaso. 
Não concordavam que os fatos iam acontecendo 
como se uma força extraterrena comandasse a v ida dos ho­
mens, d ia após d ia , ano após ano , sécu lo após sécu lo . 
E les t inham razão ! 
Na vida nada é assim ! 
N inguém pode d izer de si mesm o : «Hoje, d ia 22 de 
agosto de 1 980, f iquei adu lto, já não sou mais cr iança» . A 
infância não acaba em u m d ia . Para que a matu ridade chegue , 
ex iste uma época de transição, na qua l nós temos caracte­
r ísticas de adu lto e criança ao mesmo tempo . Por exemplo : 
quando somos adolescentes, a inda gostamos de a lgumas br in ­
cadeiras que faz íamos quando pequenos, mas, ao m esmo 
69 
i 1 1 . 1 
tempo, começamos a nos interessar por coisas novas que até 
então eram «Coisas de adu lto». No nosso próprio corpo sen­
t imos bem as duas forças opostas : se é adu l to e cr iança ao 
m esmo tempo, até que as característ icas de adu l tos são ma io­
res que as de cr iança. 
Assim é n a h istór ia da human idade : ex istem forças 
dentro de uma sociedade que a vai transformando, trazendo 
a lgo de novo. 
Uma nova sociedade sempre nasce da velha so-
ciedade. 
Já sabemos, portanto , que, para conhecermos cien­
t if icam ente uma sociedade , ut i l i zamos o conce ito de MODO 
DE P RODUÇÃO. Mas devemos observar o segu inte : este con­
ce ito refere-se a um objeto abstrato - não se encontra em 
estado puro na rea l idade. 
O que s ign if ica isso? 
S ign if ica que , enquanto um conce ito abstrato, não 
nos dá nenhum conhecimento concreto , mas nos dá os m eios 
( instrumentos de traba lho inte lectua l ) que nos perm item a l ­
cançar um conhecimento c ientíf ico dos objetos concretos . 
Quando fa lamos em objetos concretos, q ueremos d izer u m a 
soc iedade h istor icamente determ inada . 
Expl icaremos melhor : 
Quando estudamos uma rea l idade socia l h istor ica­
m ente determ inada, como, por exemplo, quando estudamos a 
real idade bras i le i ra ou a sociedade eg ípc ia , empregamos o 
conceito de FORMAÇAO SOCIAL. 
O conceito de MODO DE P RODUÇÃO refere-se a 
uma tota l idade soc ia l abstrata . 
Fa lamos em MODO DE P RODUÇÃO ASIÁTICO, 
MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL, 
MODO DE PRODUÇAO CAPITALISTA. 
O conce ito de FORMAÇÃO SOCIAL refere-se a uma 
tota l idade socia l concreta. É uma ind iv idua l idade h istór ica que 
corresponde a u m determ inado pa í s ou uma série de países 
que tenham característ icas semelhantes e uma h istór ia em 
comu m . 
Fa lamos em FORMAÇÃO SOCIAL B RASILEI RA, 
FORMAÇÃO SOCIAL AFRICANA etc. 
COMO O MUNDO SE TRANSFORMA? 
COMO SE TRANSFORMA O MODO 
DE P RODUÇÃO? 
70 1 
L 
QUAL É O MOTOR DESTA TRANSFORMAÇÃO? 
Os m odos de produção não permanecem invari áve is Não permanecem estáticos , parados. No curso do d esenvolv i � m ento da Histór ia , os modos de produção encontram -se em constante processo de transformação. 
Todo modo 
in ício com as forças 
rior . E m cada modo 
d u çã o anterior e os 
de produção, em uma determinada é poca, teve 
produtivas
_ 
criad�s pelo modo de produção ante­
de
. 
produ�a? 
. 
ex iste m vestígios do modo de p ro-
germ es, o 1 r nc 1 0 do modo de produção do futuro. 
VlJ)P FEUDAL 
F PE T IC 
ft?,(- CA�/1ALi6NO 
McRCAN .L !°&NO 
"" 
Em toda sociedade de c las­
ses existe m forças que se opõe m . 
Estas forças estão e m constante 
processo de luta. 
MCY' CA TAliSíA 
MDP 60c-iAL iSTA 
-..... 
71 
Marx descobriu a grande · Lei que rege a marcha da 
H istória . 
Descobriu que todas as lu­
tas que existem na socieda°'e, as 
lutas políticas, rel igiosas, fi tosófi­
cas e outras, �ão na realidade a 
ex pressão de lutas entre as clas­
ses sociais. 
A luta entre as classes ex iste 
porque elas têm interesses opos­
tos. É impossível haver harmonia 
entre a classe que explora e a 
classe que é ex plorada. 
72 
Quando as comunidades pri­
mitivas se desintegram, e não 
existe mais a igualdade, quando 
a sociedade começa a se dividir 
em classes, A LUTA DE CLAS­
SES SE I N ICIA. 
1 
É a luta de classes que cons­
titui o motor da História, o mo­
tor da transformação. 
A luta de classes é determi­
nada pela luta entre as relações 
de produção e as forças pro­
dutivas. 
Nós já estudamos o que são relações de produção. 
Mas o que são forças produ tivas? As forças produtivas de uma 
sociedade crescem, desenvo lvem -se e se aperfe içoam no 
transcurso da H istór ia . 
Podemos util i zar um exemplo da comunidade primitiva : a 
sagem dos instrumentos de pedra 'para os de metal permitiu 
aumento importante da prod utividade do trabal ho dos homens 
t i vos. 
pas ­
u m 
prim i-
73 
Podemos d izer que , quando o homem prim itivo pas­
sou a traba lhar com instrumentos de meta is , houve um desen­
volvimento das FORÇAS P RODUTIVAS. 
O desenvo l v i m e n to d a s forças p r o d u t i v a s d e p e n d e , e n t re o u tros 
e l e m entos, das re l a ções d o s t ra b a l h a d o res entre s i . 
" 
1 / 
1 ,-
1 _-_ _ _ _ _ _ 
/ 
( 
E d a s re l a ções d o s tra ba l h a d o res com os m e i o s d e p rod u ç ã o . 
74 
T 
N a n ossa soc i e d a de , a soc i e d a d e c a p i t a l i sta , a L u ta d e C l a sses é a Luta e n t re os Ca p i ta l i sta s ( o s p ro p r i et á r i o s dos m e i o s d e p ro d u ção ) e os t raba l h a d o res ( os n ã o - p ro p rietár ios d o s m e i o s d e p rod u çã o ) . 
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Mas vocês aprenderam no l ivro que a H istória não é 
uma coisa l inear, aprenderam que vár ios Modos de Produção 
ex istem ao mesmo tempo, em várias reg iões do mundo . A 
descoberta de Marx e Engels não se l im ita a oferecer um novo 
método de per iod ização através do conceito de MODO DE 
P RODUÇÃO - essa descoberta imp l ica numa transformação 
completa na mane i ra de ver e colocar o p rob lema. A teoria 
marx ista da H istór ia é um estudo c ient íf ico da sucessão des­
contínua dos d iferentes modos de produção . 
Os vários nomes, que aqu i levantamos, provave lmen­
te a inda não d izem nada para você. Nós os colocamos para 
você ter uma idéia dos vár ios modos de produção q u e i remos 
estudar . Antes de estudarmos as característ icas de cada um 
deles, é importante que sa ibamos s i tuá- los no tem po e no 
espaço . 
Como vivemos no mundo ocidenta l , a inf luênc ia do 
cr istian ismo entre nós fo i , e a inda é, enorm e . Por isso costu ­
mamos d iv id i r a h istória d a human idade em do is grandes pe­
r íodos : antes de Cr isto (a .C . ) e depois de Cr isto ( d .C . ) . 
Mas esta d ivisão é ampla dema is . Sendo ass im , cos­
tumamos d iv id i r a h istória da human idade em períodos me­
nores. Esta d ivisão pretende demarcar épocas nas qua is a v ida 
do homem é;ipresenta característ icas comuns . 
NUNCA É DEMAIS LEMBRAR QUE ESTA 
DIV ISÃO DA H ISTORIA FOI BASEADA 
NA MANEIRA COM QUE O HOMEM OCI DENTAL 
ENTENDE A H ISTORIA. 
O per íodo in ic ia l da evolução do homem va i ma is ou 
m enos até o sécu lo XXX a .C . , e é conhecida gera lmente como 
PRÉ-H ISTORIA. Os h istor iadores costumam chamar de pré­
h istória, ou seja , «antes da h istór ia» , o período no qual o ho-
mem não conhecia a escrita . Considerando então que a h is ­
tória se in ic ia quandoo homem começa a se expressar através 
da l inguagem escrita. 
Este termo não nos parece mu ito fe l i z porque , af inal , 
todo m undo sabe m u ito bem que a l inguagem escr i ta não é 
a ún ica l inguagem ex istente, a ún ica forma de expressão 
possível . 
E se pensarmos desta mane i ra , vamos achar que os 
índ ios não têm h istór ia , ass im como as 
·
tr ibos afr icanas. 
Se a h i stória é a h i stór ia do hom em , a história existe 
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1 i 
desde o momento que o homem existe. Sem o homem não 
há h istór ia . 
O t ipo de re lação de produção que encontramos 
neste per íodo, e que o caracter iz<i , é o que encontramos na 
organ ização das COMUNI DADES PRIMITIVAS. 
Quer d izer então que , depois do sécu lo XXX a .C . , 
não encontraremos ma is nenhum povo que se organ izasse 
desta mane ira? Não . Apesar desta organ ização ser caracterís­
t ica desta época, vamos encontrá - la em d iversos períodos da 
h i stór ia da human idade. 
O per íodo que se segue é conhecido como I DADE 
ANTIGA. Esta se d iv ide em ANTI G U I DADE ORI ENTAL e 
ANTIGO I DADE OCI DENTAL. 
Marx estudou o período da Ant igü idade Or ienta l , es­
tudou m u ito com o na índ ia e na Ch ina os homens se organ i ­
zavam na econom ia , na po l í t ica e a importânc ia d e sua ideo­
log ia . Através deste estudo, pôde constru i r seu conce ito de 
MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO. 
Ho je sabemos que não fo i só na índ ia e na Ch ina que 
os homens se organ izaram da forma percebida por Marx , e 
chamada por e le de MODO DE P RODUÇÃO ASI ÁTICO. Em 
outros lugares, bem d istantes da Ásia, como na Áfr ica e na 
América , por exemplo , encontramos formações soc ia i s seme­
lhantes, que podemos estudar como modo de produção as iá ­
t ico . Apesar d isso , a inda usamos o termo as iát ico para �e­
s igná- las . 
Na ANTIGU I DADE CLÁSSICA, encontramos o MO­
DO DE PRODUÇÃO ANTIGO e o MODO DE PRODUÇÃO 
ESCRAVI STA. Este per íodo é m u ito importante para a com­
preensão do m undo ocidenta l , o nosso m undo, po is fo i o pe­
r íodo da democrac ia grega, do I mpério Romano, que tanto 
inf luenc iou a nossa cu ltu ra, a nossa mane ira de entender o 
m undo, a nossa ideo log ia . 
O MODO DE PRODUÇÃO G ERMÂN ICO e o MODO 
DE P RODUÇÃO FEUDAL foram os modos de produção en­
contrados na Idade Méd ia , ou per íodo med ieval . Os homens 
na Europa v iv iam no campo, a serv idão é a forma de explo­
ração do camponês. Nesse per iodo, que se in ic iou no sécu lo 
V d .C . e va i até o sécu lo XV, o cr ist ian ismo possu i uma grande 
importânc ia e a I g reja Cató l ica torna-se uma inst itu ição pode­
rosa . O sécu lo XV marca o in íc io da Idade Moderna que vai 
até o sécu lo XVI I I . É a época da expansão do comércio , dos 
g randes descobr imentos. Esta é uma fase fundamenta l para 
nós, pois é nesta fase que os portugueses chegaram à nossa 
terra, a terra dos índ ios, que os portugueses chamaram B ras i l . 
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E, f ina lmente, a nossa época, a época contemporâ­
�ea; E �a se i n ic ia no sécu lo XVI I I . É a fase da formação das 
mdustnas, do surg im ento das fábricas, do operar iado. Dos 
modos de produção característ icos de nossa época : o modo 
de produção capi ta l i sta e o modo de p rodução socia l i sta . 
Estamos no sécu lo XX, as transformações não aca­
bara m . 
O que você espera do m undo de amanhã? 
O que você pode fazer para transformá- lo, 
VOCÊ É A H I STóR IA ! 
VOCÊ FAZ A H ISTó R I A ! 
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1 
PARTE IV 
modo de produção 
asiático 
1 
l 
MODO DE PRODUÇAO ASIÁTICO 
Nós já sabemos que Marx, ao estudar como na índ ia 
e na Ch ina os homens se organ izavam na economia , na po­
l í t ica e ideo log ia , constru iu o conceito de Modo de Produ ção 
Asiát ico. 
Hoje sabemos que não fo i só na índ ia e na Ch ina 
que os homens se organ izaram da forma perceb ida por Marx. 
Em outros lugares bem d istantes da Ásia , na Áfr ica e na Amé­
r ica , por exemplo , encontramos soc iedades sem elhantes q u e 
podem ser ana l isadas com o Modo de Produção Asiát ico . 
Atua lm ente os h i stor iadores e outros c ientistas so­
cia is estão in teressados em aprofundar o estudo deste conce ito . 
Os novos descobr imentos arqu eológ icos (em m u itas 
reg iões da África e da própr ia Ásia foram descopertas c idades 
enterradas na are ia ; e os arqueó logos continuam encontran ­
do-as cada vez em ma ior número) trouxeram novas informa­
ções interessantes . E os exemplos de soc iedades, que pode­
r iam ser ana l isadas através do conce i to constru ído por Marx, 
se m u lt ip l icaram ! 
É ev i dente q ue Marx e Enge ls não poder iam prever 
estas novas ut i l i zações para o conceito de Modo de Produ­
ção Asiático . 
QUAIS SÃO AS SOCI EDADES QUE 
PODEM SER ANALISADAS COMO MODO 
D E PRODUÇÃO ASIÁTICO? 
Podemos ut i l i zar este conce i to para com preender re­
a lm ente várias sociedades que ex ist i ram em ÉPOCAS E LU-
83 
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1 
GARES DI FERENTES. Por exemplo : os re inos m 1cerncos ou 
etru scos, du rante a época ant iga na Europa , como também o 
nascimento do reino Bamum na África , durante o sécu lo 
X IX, a lém da organ ização dos I ncas e outros povos na América . 
Provave lmente você deve estar pensando : Mas qua is 
serão as caracterí st icas comuns que podemos encontrar em 
lugares tão d iferentes? Por que os h istor iadores e outros c ien­
t i stas soc ia is estão interessados neste estudo? 
Por que o Modo de Produção Asiático é assim tão 
im portante? 
Achamos que podemos responder estas perguntas : 
Os h istor iadores estão interessados em estudar o 
Modo de Produção Asiát ico porque e le nos ajuda a entender 
vários pontos important íss imos no estudo do processo de 
constante mudança na evolução da Human idade . Este estudo 
nos ajuda a entender a TRANSIÇAO de uma sociedade sem 
classes (comun idade prim itiva ) para uma sociedade de c lasses. 
E assim consegu iremos saber como e por que a or­
gan ização pol í tica baseada nos laços de parentesco, na f ide­
l idade a um ancestra l comum, acaba por se transformar em 
uma organ ização po l í tica tão ma is complexa e poderosa : 
O ESTADO. 
É por isso que o M0do de Produção Asitático é ass im 
tão im portante, é por isso que os cient istas soc ia is estão tão 
interessados em debatê- lo , na tentativa de aprofundar cada 
vez mais os estudos in ic iados por Marx e Engels . 
O Modo de Produção Asiát ico é a ú lt ima forma de 
sociedade sem classes e a primei ra forma de sociedade de 
classes. 
Nesta fase já ex iste a exploração do homem pelo 
homem, sem que haja a inda a ex istênc ia da propriedade pri­
vada da terra . Ou seja , as terras de cu ltivo permanecem en­
tregues à ut i l i zação das comun idades loca is . I sso tudo parece 
m u ito estranho ! 
Como pode exist ir a exploração do homem pelo 
homem, se a terra continua entregue à ut il ização das co­
mun idades? 
ESTE É EXATAMENTE O X DA QUESTAO ! 
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Apesar da organ ização comun itár ia cont inuar exist in­
do, su rge uma m inor ia que acaba por explorar o trabalho de 
toda a comunidade, benefic iando-se cada vez mais dos frutos 
do trabalho comun itár io . 
Esta m inor ia se organiza , pouco a pouco, formando 
um Estado forte e a l tamente centra l izado, podendo ass im 
exercer um grande poder de contro le e dom inação de toda 
a comun idade. 
Mas por que será que a MAIORIA ( toda a comun i ­
dade) se de ixou dominar por esta MINORIA que compunha 
o ESTADO? 
Esta é uma longa h istór ia ! 
Vamos tentar expl icá - la para você. 
O ESTADO não surg iu «por acaso» . . . 
A cr iação do · Estado está l igada às cond ições rea is , 
concretas, da própria soc iedade onde e le aparece. 
Ex istem basicamente duas vias de nascimento do 
Estado. 
Uma está l igada às necessidades de organ ização do 
trabalho econôm ico, tão compl icado e g rand ioso, que as co­
mun idades iso ladas