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Produção Textual Escola Nova Escola Popular

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Universidade Federal da Paraíba; Campus João Pessoa.
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.
Fundamentos Sócio Históricos da Educação (Ciências Sociais 2015.1)
PRODUÇÃO TEXTUAL:
ESCOLA NOVA E EDUCAÇÃO POPULAR
ALEXANDRE DA SILVA OLIVEIRA
João Pessoa
 2015.
ESCOLA NOVA E ESCOLA POPULAR
Escola Nova
Quando pensamos no título escola nova, remetemos logicamente a uma ideia de renovação no que se refere a uma proposta de escola que tenha seus conceitos transformados agregando valores e elementos educacionais não contidos na escola tradicional.
Para entendermos de fato a proposta da Escola Nova, teremos que voltar ao ano 1932, onde se inicia o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
Primeiramente o Manifesto dos Pioneiros surgiu com a proposta de uma nova pedagogia que atendesse as demandas de desenvolvimento do país, tais como na ciência, tecnologia, economia, dentre outros processos de desenvolvimento humano.
Nesse momento, surgem os conflitos entre a representação da igreja católica na educação com seu tradicionalismo e as ideias inovadoras dos pioneiros, que tinham como representantes, políticos, intelectuais e educadores.
Era um período dramático, pois o processo de modernização fomentou a superestimação da educação como redentora do país, que a mesma resolveria os problemas sociais, econômicos e políticos da sociedade. Todos valorizavam o papel que a educação deveria cumprir para sua realização, coerentemente com esse horizonte ideológico. Logicamente uma suposição salvacionista, que coloca a reforma da sociedade a partir das mudanças na educação e no ensino.
De um lado, a Igreja e seu enorme poder de influência sobre a população e de pressão sobre o próprio governo, onde o papel da igreja através da educação, era tida como formadora de indivíduos ideais para a sociedade, além de ter como ideologia uma contribuição patriota, cívica e moralista; de outro, os que queriam implantar novos conceitos educacionais e seu prestígio como "educadores" na sociedade brasileira.
Mas o país necessitava de algo além dos conceitos impostos pela igreja na educação e pelo próprio sistema governamental. Era preciso que a educação fosse liberta de dogmas, e de sistemáticas arcaicas de desenvolvimento humano. E partindo de ideais de libertação e reconstrução social da educação que os pioneiros irão se mobilizar em almejo a Escola Nova.
O modelo pedagógico da Escola Nova
Os primeiros grandes inspiradores da Escola Nova foram os escritores Jean Jacques Rousseau, Heinrich Pestalozzi, Friedrich Froebel e John Dewey. No Brasil, o escritor que mais teve influência sobre a educação foi John Dewey, que mais tarde teria como “seguidor” o educador Anísio Teixeira.
O educador norte-americano John Dewey (1859-1952) foi o primeiro a formular o novo ideal pedagógico e afirma que a “Escola Nova deve se dar pela ação e não pela instrução. Para ele essa concepção tem que ser uma experiência concreta, ativa e produtiva em cada um”
Para Adolphe Ferriére (1879-1960), o ideal de Escola Nova “é a atividade espontânea, pessoal e produtiva. Em resumo, ela seria integral (intelectual, moral e física); ativa; prática (com trabalhos manuais obrigatório, individualizadora); autônoma (campestre em regime de internato e coeducação)” (GADOTTI, 1996, p. 143).
Observando essa passagem de Gadotti, observamos que a experiência educacional não deve ser entendida como um produto final, e sim, um conjunto de processos que norteará ao um objetivo de realização não apenas individual, mas principalmente coletiva de reconstrução social não através da educação, mas com a educação. A ação exercida pelo indivíduo experimentado dos novos conceitos pedagógicos será a base de redefinição da escola.
A educação nova tem sua finalidade alargada para além dos limites das classes, assumindo feição mais humana, assumindo sua função social, no intuito de formar a “hierarquia democrática” pela “hierarquia das capacidades” com oportunidades iguais de educação, com objetivo de organizar, desenvolver meios de ações com o fim de dirigir o desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma de suas etapas de crescimento (CAMURRA, 2008, p.03).
Quando nos deparamos com uma educação que instrumentaliza o homem, tornando-o puramente objeto de construção capitalista, e mantenedor do capital burguês, percebemos de fato que, a exploração do pensamento crítico e de desenvolvimento sócio-cultural é ocultada pelas forças de criação de uma educação que só transforma o homem em ferramenta de reprodução e não fonte de disseminação de saberes para as esferas da vida, seja pessoal, social, política, econômica. E dentre outras instituições humanas que não agregam ao ser aquilo que lhe é importante e sim o que é necessário para atender as exigências da sociedade.
Abaixo poderíamos seguir de forma simples e sistemática a proposta da Escola Nova.
Livre expressividade versus incumbência intelectual
(...) Na escola tradicional a iniciativa cabia ao professor que era, ao mesmo tempo, o sujeito do processo, e elemento decisivo e decisório (...) na pedagogia nova a iniciativa desloca-se para o aluno, situando-se o nervo da ação educativa na relação professor aluno, portanto a relação interpessoal, intersubjetiva... (SAVIANI, 1995, p.24).
Nesta nova pedagogia a busca pela criatividade de forma livre, ou seja, à livre expressão do aluno, gera a falta de cuidados com o conhecimento intelectual.
Pregando a individualidade de expressão e autoconhecimento do aluno, as propostas de uma educação diferenciada do tradicionalismo de antigos moldes educacionais, acaba se resumindo mais ao lado afetivo, do que, intelectual do indivíduo. O que acabou sendo visto como espontaneísmo.
Quando Jean Piaget (1896-1980) propõe o método de observação da criança, e critica a escola tradicional por não ensinar a desenvolver pelo próprio pensamento e copiar o que lhe foi passado. É possível que ele acreditasse que este choque de livre expressão criativa versus formação intelectual não surgiria. Pois ambos os elementos concernem para o desenvolvimento completo. Partindo do que é despertado subjetivamente e o que é atribuído pelo sistema educacional como complemento da formação do indivíduo.
Parafraseando Piaget: “O objetivo da educação deveria ser aprender por si próprio a conquista do verdadeiro”. Então vem a questão: Até que ponto o respeito pelas etapas de desenvolvimento humano devem ser mantidas e qual o momento em que devem ser intervencionadas para orientar o que é necessário a vida como um todo? Pois se pensarmos de maneira mecânica, introduziremos no individuo a necessidade de sobrevivência e subsistência pelo que produz. Se pensarmos organicamente veremos que a produção do indivíduo será baseada na expressividade (afeto) do que o mesmo achar necessário pra si, que de certa forma seria egoísta e acarretaria num elemento não contribuinte em sociedade. No fim temos que criar uma mediação entre o desenvolvimento mecânico e o orgânico para tentar chegar a um ponto de harmonização.
A Educação Popular
Quando falamos de educação muitas personalidades que contribuíram no campo educacional podem ser citadas, mas quando falamos em educação popular lembramos do Educador Paulo Freire.
Compreendendo as dimensões dos problemas educacionais e de desenvolvimento popular junto a educação, Paulo Freire captou os valores contidos nos indivíduos que são excluídos da sociedade por não participarem historicamente com seus saberes. Em busca de uma educação que resgate a dignidade e inclusão desses sujeitos estigmatizados e criando assim um novo discurso sobre a educação para o povo.
A educação popular não pode ser considerada como algo realizado como um acontecimento situado e datado, caracterizado por um esforço de ampliação do sentido do trabalho pedagógico a novas dimensões culturais, e a um vínculo entre a ação cultural e a prática política. A educação popular foi e prossegue sendo uma sequência de ideias e depropostas de um estilo de educação em que tais vínculos são reestabelecidos em diferentes momentos da história, tendo como foco de sua vocação um compromisso de ida – e – volta nas relações pedagógicas de teor político realizadas através de um trabalho cultural estendido a sujeitos das classes populares compreendidos como não beneficiários tardios de um “serviço”, mas como protagonistas emergentes de um “processo” (BRANDÃO, 2002, pp.141-142).
A proposta de uma educação popular estava além de uma qualificação de classe, estava também guiada para uma ressignificação das classes não privilegiadas devido a um distanciamento do conhecimento do adquirido pela elite.
Parafraseando Michael W. Apple (Ideologia e Currículo-2006), o poder da escola na educação vai além das pessoas, sendo uma ferramenta de controle social que legitima o que é conhecimento ideal que “todos devem ter”. E é a partir desse ponto que percebemos que a educação tardia de sujeitos desfavorecidos, torna ainda mais emergente a qualificação e classificação que dará representatividade dos indivíduos de elite. Coisa que Paulo Freire, através da educação popular queria mudar e dar o real significado a estes sujeitos desfavorecidos.
Althusser (1985), admite que a ideologia das camadas dominantes, está em luta constante para assegurar o seu poder, e há uma resistência por parte das camadas dominadas que indica uma possibilidade de uma educação popular.
...uma educação comprometida com os segmentos populares da sociedade cujo objetivo maior deve ser o de contribuir para a elaboração de sua consciência crítica, do reconhecimento de sua condição de classe das potencialidades transformadoras e inerente à essa condição. (VALE, 1996, p.57)
Para Paulo Freire a educação popular jamais se separa do ensino dos conteúdos e torna visível o que se tornou escondido, que é a realidade.
As transformações sociais e o equilíbrio das camadas populares não podem ser regidas unicamente pela capacidade da educação como única fonte de mudança. Mas sim, observarmos com atenção que, a mesma é um meio importante para constituir caminhos de formação crítica, despertando a consciência coletiva, para assim gerar a transformação necessária.
A pedagogia da Educação Popular
A proposta pedagógica inicialmente pensada por Paulo Freire, não se baseava em seleção, ou seja, não era um processo de formação que classificaria o indivíduo como objeto a ser selecionado. Era um método que encaminharia os sujeitos a conquistar seu espaço e o poder do conhecimento, e quebrar a hegemonia deste poder exclusivista do que seria o conhecimento elitista.
“Educação Popular é um fim em si mesma. É uma prática de pensar a prática e é uma das situações variadamente estruturadas de produção de um conhecimento coletivo popular, mesmo que ninguém saia alfabetizado dela. Esta é a razão pela qual se pode pensar a educação popular como um trabalho coletivo e organizado pelo próprio povo, a que o educador é chamado a participar para contribuir, com o aporte de seu conhecimento “a serviço” de um trabalho político que atua especificamente no domínio do conhecimento popular.” (BRANDÃO, 2006)
Outro ponto importante que deve ser esclarecido, é que a proposta da educação popular não tem caráter salvacionista, como se pensava a escola com a educação nos anos 30, no papel de redentora social. A educação popular é tida como um instrumento que contribui de forma significativa para alicerçar as classes excludentes do conhecimento, no tocante de seu objetivo histórico cultural na sociedade e como agente capaz de mudanças e não apenas um reprodutor social.
Trazer o indivíduo a participar desse conjunto físico estrutural, que compreende e zela pela história, cultura, e as manifestações humanas na sua essência, é de fato um rompimento das tradições sócios-culturais seletivas capitalistas. Isso com certeza gera a resistência elitista, pelo desfalecimento de uma projeção de poder oligárquico que antes era impensado.
 
Conclusão
Tanto a Escola Nova quanto a Educação Popular possuem em essência uma ideologia de mudança que tenta romper com os parâmetros seletivos do tipo de educação que todos devem ter. Assim o que gera uma divisão de classes é a formação que o currículo propõe para as classes burguesa e futuro indivíduo proletário que será reprodutor das lógicas de produção capitalista.
Os temas em questão também se configuram na tentativa de trazer o homem excluído das camadas elitistas para um patamar onde sua voz será ouvida e discursada como igual a qualquer outro. 
Freire, particularmente sob minha ótica foi feliz em propor um método que vai além da alfabetização. Pois se concentra também em um processo de conscientização. Assim não muito diferente Anísio Teixeira, também buscava o desenvolvimento da intelectualidade do homem e sua capacidade crítica de julgar. Uma educação de qualidade para todos sem distinção de classe, disse ele: “Sou contra a educação como processo exclusivo de formação de uma elite, mantendo a grande maioria da população em estado de analfabetismo e ignorância.”
Apesar de ambas as formas de representação de uma nova sistemática de desenvolvimento educacional, não serem totalmente perfeitas, por suas limitações e até inconsistências no que se refere ao desenvolvimento da formação do ser como um todo, ambas emergem com um propósito em comum, que é a libertação do homem das amarras elitistas e o renascimento de um novo homem, crítico, e consciente de sua realidade e força para transformá-la.

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