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Mineralogia I Projeções Cristalográficas Universidade Federal de Sergipe Departamento de Geologia Professor: Carlos Marques de Sá Sumário Introdução Projeção Esférica Projeção Estereográfica Projeção Gnomónica Cálculo Cristalográfico 2 Introdução • Uma projeção cristalográfica consiste na representação de um poliedro cristalino num plano. • Um dos tipos mais comuns é aquele em que o cristal é representado em perspetiva, que se designa de projeção clinográfica. • Nela se mantém o paralelismo entre arestas do cristal permitindo o fácil reconhecimento de zonas. 3 Introdução • Em Cristalografia são no entanto muito mais importantes as projeções planas, porque além de porem em evidência as zonas e a simetria do cristal, conservam os valores angulares nelas medidos. • Esta é uma condição indispensável ao estudo analítico dos cristais. • A projeção que melhor satisfaz esses requisitos é a projeção estereográfica. 4 Projeção Esférica • Na Projeção Esférica supõem-se uma esfera de raio arbitrário centrada na origem do sistema de eixos coordenados do cristal a projetar. • Imaginamos o cristal dentro de uma esfera transparente e marcamos os pólos das faces nessa esfera. • A partir do centro baixam-se normais aos planos das faces do cristal. Os pontos em que essas normais intersectam a superfície esférica designam-se por pólos das faces. • Assim, numa representação esférica cada face é representada por um ponto na superfície esférica e o cristal é um conjunto desses pontos. 5 Projeção Esférica • Representação de uma projecção esférica com normais através dos pólos das faces. • Os pólos das faces tautozonais definem círculos máximos. 6 Projeção Esférica • O eixo da zona é o diâmetro da esfera de Miller (esfera imaginária) normal ao plano do referido círculo máximo. • Os pontos extremos desse diâmetro designam-se por pólos da zona. 7 Os pólos axiais são os pontos em que qualquer eixo (de simetria ou coordenado) intersecta a esfera de Miller. Projeção Esférica • A posição de um dado pólo pode ser definida mediante coordenadas angulares, à semelhança da localização de qualquer ponto no globo terrestre. • A projeção do pólo da face vai ser dada por uma normal ao pólo da face. 8 A projeção esférica à semelhança do globo terrestre. Projeção Esférica • As coordenadas definidoras de um pólo P são: • Azimute ou longitudes: arco do equador medido no sentido retrógrado a partir do pólo de (010) até ao meridiano do pólo considerado. • Distância polar: inclinação ou co- latitude – arco do meridiano do pólo considerado, medido a partir de um dos pólos da esfera até àquele pólo. 9 Definição de coordenadas de um pólo de face P Projeção Esférica • Neste tipo de projeção preservam-se as relações angulares determinadas no poliedro projetado. • Três polos de faces definem um triângulo esférico. Os lados desse triângulo esférico, cujos vértices são os polos das faces, são iguais aos ângulos definidos pelas normais àquelas faces. 10 Projeção Esférica • Os ângulos nos vértices de um triângulo esférico definido pelos pólos de três faces de um poliedro são os complementos dos ângulos definidos pelas arestas de interseção dessas faces, duas a duas. 11 Projeção Esférica • Coordenadas esféricas: • A posição de um ponto numa esfera é dada por uma latitude e uma longitude. • No exemplo ρ é a co-latitude, a latitude é 90° - ρ. • A longitude é φ. • Uma normal a uma face é indicada pelas coordenadas esféricas ρ e φ dessa normal. 12 Projeção Estereográfica • A projeção esférica não é prática… • A Projecção Estereográfica é uma representação derivada da projecção esférica em que é representada num plano um dos hemisférios da projecção esférica. 13 Projeção Estereográfica • Para passar de uma projeção esférica para uma projeção estereográfica é preciso definir dois elementos: • O plano de projeção; • Projectantes, que são retas cujas interseções com o plano da projeção são as projeções dos pólos esféricos. 14 Projeção Estereográfica • Na projeção estereográfica o plano de projeção é o plano equatorial da esfera de Miller. • A esta circunferência onde se situam as projeções chama-se círculo fundamental. • As projetantes são definidas a partir de um dos pólos N ou S da esfera de Miller e são rectas em direção ao pólo esférico da face, que projectam um pólo P da face no plano fundamental. • Tomando como referência o pólo sul são apenas projetáveis os pólos das faces situadas no hemisfério norte e vice-versa. 15 Projeção Estereográfica • A projeção estereográfica completa de um poliedro exige assim duas projeções. • Mas num cristal com centro de simetria apenas uma é suficiente porque a outra será simétrica da primeira. 16 Ilustração de projeção de arcos de circunferência no plano equatorial de uma esfera de Miller. Arcos de circunferência que contenham o ponto de vista projetam-se segundo retas. Projecção Estereográfica • O ponto de vista da projecção é o “pólo sul” da projecção esférica. 17 Projecção Estereográfica A cinzento temos o Plano Equatorial. Neste plano faz-se a representação a duas dimensões dos polos das faces projectados da projecção esférica original. Esta é a projecção estereográfica. 18 Projecção Estereográfica Exemplo: D e E são os pólos da projecção esférica. D' e E' são os pólos da projecção estereográfica <ODS = <OSD <ODS+<OSD = <NOD = r Logo <OSD = r/2 ; OS = r tan r/2 = OD’/r OD' = r tan r/2 19 Projeção Estereográfica 1. Coloque o cristal no centro de uma esfera. O eixo c é vertical, o b aponta para Este. 2. Desenhe uma normal a cada face. Desloque a normal até esta interceptar o centro C da esfera. 3. Marque a intersecção D da normal N com a esfera. 4. Conecte a intersecção do ponto D com o pólo Sul da esfera. 5. A intersecção (P) da linha de conexão PS com o plano equatorial da esfera representa a projecção estereográfica da face. 20 Down (S) Up (N) D P C equator plane W E Como se faz? Projecção Estereográfica • Em vez da normal a uma face, a própria face pode ser projetada no plano equatorial. • A face é primeiro expandida de modo a intersectar a esfera de projeção. • A face expandida é movida até que ela passe no centro da esfera. 21 Projeção Estereográfica • A linha de intersecção da face ampliada com a esfera é então projetada no plano equatorial, ligando cada ponto das projectantes com o pólo sul. • Conectando esses pontos no plano equatorial temos a face projetada. 22 Projeção Estereográfica • Voltando à figura já mostrada verifica- se que (111) (100) (11-1) (01-1) (-100) são coplanares, ou seja são polos de faces que pertencem a uma zona e por isso se encontram no mesmo círculo maior. 23 Projeção Estereográfica 24 Tipos de zonas segundo a sua projeção estereográfica. Projeção estereográfica num plano normal a Z (001). Como vimos as faces de uma dada zona têm os seus pólos esféricos ao longo de círculos máximos. Projecção Estereográfica • Para facilitar o trabalho de projeção utiliza-se a rede de Wulff (rede estereográfica equatorial). • Com esta rede, impressa em papel,e papel vegetal por cima podem projetar-se os pólos das faces. 25 Projeção Estereográfica • As circunferências maiores dispõem-se na rede de Wulff de 10° em 10°, conforme mostra a figura: • (nota, na figura faltam algumas circunferências) 26 Projeção Estereográfica • Circunferências menores correspondem aos ângulos entre dois pontos numa circunferência maior, ou seja o ângulo entre duas linhas coplanares. 27 Projeção Estereográfica • As circunferências maiores são as projeções estereográficas de um plano inclinado de um ângulo ρ. • As circunferências maiores são a projeção de um plano inclinado que corta a esfera de Miller e correspondem à união de todos os pontos projetados no plano equatorial pelas projetantes definidas de um pólo à interseção do plano. 28 Projeção Estereográfica • A rede de Wulff combina os grandes círculos e os pequenos círculos em incrementos de 2°. 29 Projeção Estereográfica • Propriedades da projeção estereográfica: 1. Arcos de circunferência projectam-se estereograficamente segundo arcos de circunferência, salvo quando são diâmetros do círculo fundamental. 2. A projecção estereográfica é isogónica, isto é, os ângulos projetam-se em verdadeira grandeza. 3. Planos contendo o ponto de vista da projeção estereográfica e o pólo de uma zona determinam no círculo fundamental e nessa zona arcos iguais. 30 Projecção Estereográfica • Rede de Wulff (ou estereográfica) – para se projectar estereograficamente um plano, a longitude e latitude têm que ser projectadas no plano equatorial. As longitudes são as grandes circunferências “verticais” e as latitudes as pequenas circunferências “horizontais”. 31 Usando a rede de Wulff = 60° r = 40° 1. E Desenho o círculo do equador no papel vegetal e marque as direcções principais (neste caso basta o E) 2. E Coloque uma marca a 60º do E no círculo primitivo marcando assim = 60° Projecção Estereográfica Exemplo - dados os ângulos da face: 32 Usando a rede de Wulff (continuação) 4. Rodando o vegetal novamente para a posição inicial o ponto marcado apresenta-se na posição que representa a sua projecção estereográfica de coordenadas esféricas r = 40° e = 60° 3. Rode o papel vegetal posicionando a marca de dos 60º na posição em que estava o E. Marque 40º desde o centro da circunferência em direcção à posição E agora ocupado por . = 60° r = 40° E = 60° r = 40° Projecção Estereográfica 33 Para se fazer uma projeção estereográfica de um poliedro cristalino pode utilizar-se um goniómetro de contacto para medir os ângulos das faces. Projecção Estereográfica 34 Projeção Estereográfica • Sistema Isométrico • Eixos cristalográficos – neste sistema os eixos têm todos o mesmo comprimento e formam todos ângulos rectos entre si, sendo portanto intermutáveis e todos designáveis pela letra a. • Um dos eixos a encontra-se orientado na horizontal num sentido perpendicular a outro também horizontal, ambos sendo perpendiculares a um outro vertical. • Como Projetar então um modelo do sistema cúbico? • Tome-se como exemplo o ilustrado anteriormente: 35 Projeção Estereográfica • Projeção esférica dos pólos das faces. 36 Zonas Projeção Estereográfica • Projeção Estereográfica no plano equatorial (circunferência primitiva) 37 Projeção Estereográfica • Projetamos (100) (001) (010) (110) (101) (011), marcando com ponto a cheio (.) a metade superior e ponto aberto (o) a metade inferior. • Como projetar (111)? a) Projete (110) e em seguida projete (111) entre (110) e (001); (110)<(111) = 36,5° b) Sem medições: (111) tem que se encontrar entre (110) e (001) assim como (100) e (011). A interseção dos dois círculos maiores definidos pelas zonas destes conjuntos de faces cruza no pólo (111). 38 Projeção Estereográfica • Projeção Estereográfica do cristal isométrico 39 Projecção Estereográfica Pólos das faces zonas principais Operadores de Simetria Finalmente obtém-se as projecções: 40 Projeção Estereográfica • Projeção estereográfica de um cristal ortorrômbico de forsterite 41 Face hkl ρ φ a (100) 90° 90° b (010) 90° 0° c (001) 0° 0° m (210) 90° 22,8° d (101) 51,5° 90° k (031) 63,3° 0° e (212) 72,8° 22,8° Projeção Estereográfica • Projeção estereográfica de cristal de forsterita: 1. Marque os eixos na rede de Wulff de acordo com a configuração padrão para cristais ortorrômbicos, em que o eixo c é perpendicular ao círculo primitivo, a é um eixo paralelo ao eixo N-S e b é um eixo paralelo a E-W. 2. Marque todos os pólos das faces usando os ângulos ρ e φ previamente medidos. 42 (010) b (100) a (001) c (210) (212) (101) (031) Projeção Estereográfica • Recapitulando: • A esfera é a projeção esférica, em que os pólos das faces são projectados. É uma representação a 3D. • O plano cinzento (plano equatorial) é a nossa representação a 2D em que se projectam os pólos esféricos das faces – é a projeção estereográfica. 43 Fig 6.3 Projeção Estereográfica • D e E são pólos esféricos; • D’ e E’ são pólos estereográficos; • A distância GD’ = f(ρ) • Se ρ = 90° D’ = G • Se ρ = 0° D’ = O 44 Projeção Gnomonica • Utiliza-se na projeção de cristais e para resolução de problemas de radiocristalografia. • A projeção gnomónica pode ser descrita também a partir de uma projeção esférica. • É definida por um plano de projeção e projectantes. 45 Projeção Gnomónica • Propriedades da Projeção Gnomónica: • Círculos máximos da esfera de projeção projetam-se segundo linhas rectas. • Círculos menores da esfera de projeção projectam-se segundo secções cónicas. • A projecção não é isogônica. • Pólos situados no equador da esfera de projeção projectam-se no infinito. 46 Projeção Gnomónica 47 Cálculo Cristalográfico • Objectivos do Cálculo Cristalográfico • Determinação das constantes axiais de um cristal (α, β, γ, e a, b, c); • Determinação dos indíces de Miller das formas simples ocorrentes no cristal. • Como já vimos, considera-se por norma o parâmetro b igual à unidade e com ele se determinam os valores dos outros, resultando na relação axial: a:1:c. 48 Cálculo Cristalográfico • Alguns cálculos resolvem-se melhor através de expressões de cálculo trigonométrico ou vetorial, outros através de redes estereográficas ou combinando os dois métodos. • Expressões gerais: • OA = a/h, OB = b/k e OC = c/l 49 Cálculo Cristalográfico • Se tomarmos os ângulos que a normal à face faz com X, Y e Z, temos: • OP = a/h cos PX = b/k cos PY = c/l cos PZ 50 Cálculo Cristalográfico • Podemos assim determinar a relação axial a:1:c conhecido o símbolo milleriano (hkl), conhecendo os ângulos que a normal a uma face (hkl) faz com os eixos. • a:1:c = ℎ cos 𝑃𝑌 𝑘 cos 𝑃𝑋 : 1 : 𝑙 cos 𝑃𝑌 𝑘 cos 𝑃𝑍 • Determinar o símbolo de Miller de qualquer face ou plano, conhecendo os co-senos da sua normal e a relação axial. • h:k:l = 𝑎 cos 𝑃𝑋 cos 𝑃𝑌 : 1 : 𝑐 cos 𝑃𝑍 cos 𝑃𝑌 51 Cálculo Cristalográfico • A determinação dos ângulos que as normais às faces fazem com os eixos cristalográficos consegue-se mediante projeção estereográfica. 52 Cálculo Cristalográfico • Pode também calcular-se arelação existente entre os parâmetros axiais a, b e c e os ângulos definidos por certas zonas do cristal, bem como outras relações angulares. • Existem também fórmulas específicas para o cálculo em cristais dos vários sistemas. • Para aprofundar este tema e conhecer todo o formulário leia o capítulo 7 do livro “Elementos de Cristalografia” de F.S. Borges (1996). 53 Referências Bibliográficas • Borges, F.S. (1982). “Elementos de Cristalografia”. Pub. Fundação Calouste Gulbenkian. • Hurlbut, C.S. (1959). Dana’s Manual of Mineralogy. John Wiley & Sons Inc., New York, 609p. • Deer, W.A., Howie, R.A., Zussman, J. (1981). “Minerais Constituintes das Rochas – Uma Introdução”. Publicações Fundação Calouste Gulbenkian. • Farndon, J. (2007) “The Complete Guide to Rocks & Minerals”. Hermes House – Anness Publishing Ltd. • Gass, I.G., Smith, P.J., Wilson, R.C.L. (1984) “Vamos Compreender a Terra”. Livraria Almedina Coimbra. • Vanders, I., Kerr, P.F. (1966). Mineral Recognition. John Wiley & Sons, New York, 316p. • http://www.mindat.org/ • http://webmineral.com/ 54 Obrigado pela vossa atenção! 55
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