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Mineralogia I
Cristalografia Descritiva (Isométrico); Maclas;
Hábito dos Cristais
Universidade Federal de Sergipe
Departamento de Geologia
Professor: Carlos Marques de Sá
Sumário
Introdução
Isométrico
Maclas
Hábito dos Cristais
Leis dos Hábitos
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Introdução
• Na aula de hoje vamos terminar o tema das 32
classes de simetria pontual, com o único sistema
que falta – o isométrico (ou cúbico).
• Vamos também falar de maclas (ou geminações)
que correspondem a combinações de dois ou
mais cristais segundo uma lei de simetria.
• E de hábitos dos cristais, que são os aspetos
morfológicos que cristais de uma determinada
espécie assumem.
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Isométrico
• Sistemas
monométricos:
• Sistemas onde
a relação axial é
de 1:1:1.
• Apenas o
sistema cúbico
é monométrico.
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diferentes formas simples ocorrentes no sistema isométrico.
Isométrico
• São cúbicas as classes de simetria
correspondentes a associações de eixos de
simetria de grau superior a dois.
• Os eixos cristalográficos são sempre três eixos
de simetria 2, -4 ou 4 normais entre si.
• Todas as formas simples que ocorrem nas
classes do sistema cúbico são fechadas.
• Cada uma dessas formas tem um nome
específico, representado no slide anterior.
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Isométrico
• Projeção estereográfica dos pólos das faces
das mais importantes formas simples cúbicas
e das zonas que elas definem.
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Ex: (110) – dodecaedro
rômbico; (210) – tetraexaedro
ou dodecaedro pentagonal;
(221) trioctaedro ou dodecaedro
deltóide; (211) icositetraedro
deltóide ou tritetraedro; (321)
hexaoctaedro ou hexatetraedro
ou didodecaedro ou
icositetraedro ou dodecaedro
pentagonal assimétrico.
Isométrico
• Classe 4/m-32/m:
classe
hexaoctaédrica
• Operadores de
simetria nesta
classe e projeção
estereográfica de
um hexaoctaedro.
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Isométrico
• Isométrico 4/m-32/m
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Formas:
Cubo {001};
Octaedro {111};
Rombododecaedro
{011}; Tetrahexaedro
{0kl}; Trapezoedro
{hhl}; Trioctaedro
{hll}; Hexaoctaedro
{hkl}
Isométrico
• Formas: Isométrico 4/m-32/m
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Isométrico
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Diamante Fluorita
Galena Granada (rd)
Halita
Minerais: inúmeros…
Analcima (trapezo)
Isométrico
• Classe -43m – Classe hexatetraédrica
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Operadores de
simetria e
estereograma
para o
hexatetraedro
32 Classes de Simetria
• Isométrico -43m
• Formas:
• Tetraedro {111} e {1-
11}; Tritetraedro {hhl}
{h-hl};
deltoidetetraedro {hll}
{h-ll}; hexatetraedro
{hkl} {h-kl}.
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Isométrico
• Minerais:
• Tetraedrite-tenantite
• Esfalerita
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Isométrico
• Classe 2/m-3 – Classe diploédrica
• Operadores de simetria e projeção
estereográfica de um diploedro.
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Isométrico
• Isométrico 2/m-3
• Formas: Piritoedro{h0l} {0kl}; diploedro {hkl} {khl}.
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32 Classes de Simetria
Minerais:
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Pirita
Skutterudita Gersdorfitta
Sperrylita (diplo)
32 Classes de Simetria
• Isométrico 2 3
• Formas: Tetartoedro positivo e
negativo {hkl} {khl} {h-kl} {k-hl}.
• Minerais: Cobaltita
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Maclas
• Maclas ou geminações são um tipo particular de
imperfeição estrutural que ocorre em alguns
minerais.
• São formas cristalinas não homogéneas,
constituídas por duas ou mais porções
homogéneas da mesma espécie mineral,
justapostas de acordo com leis bem definidas.
• Os operadores de simetria podem ser: centro de
macla; eixo de macla binário; plano de macla.
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Maclas
• Existem associações casuais de cristais e existem
maclas. A existência de uma relação de orientação
bem definida e constante, distingue entre as duas.
Essa relação é dada pela lei de Macla ou de
geminação.
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Associação de
cristais de barita
e Macla em cruz
latina da
estaurolita
Maclas
• A justaposição das partes homogéneas que
constituem uma macla corresponde a uma
região em que a estrutura cristalina ideal é
perturbada.
• Na macla cada individuo deve ter uma posição
que resulte de uma operação de simetria
aplicada a um outro.
• O operador de simetria que define a lei de
macla chama-se elemento de macla.
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Maclas
• A operação de simetria associada ao elemento
de macla tem de ser compatível com a
estrutura reticular dos cristais.
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Agrupamento paralelo
de cristais –
estruturalmente
homogéneo - é um
cristal único.
Agrupamento de dois
cristais – não
homogéneo – dois
cristais justapostos
aleatoriamente.
Macla – não
homogéneo – dois
cristais justapostos de
forma simétrica.
Maclas
• Os operadores de macla conhecidos são:
• Centro de macla (-1); eixo de macla binário
(2); e plano de macla (m).
• Conforme a presença de um destes
operadores vamos ter:
• Macla por inversão
• Macla por reflexão
• Macla por rotação
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Maclas
• Numa dada espécie cristalina poderão ocorrer
geminações de acordo com mais do que uma lei
de macla. Por outro lado a mesma lei de macla
pode ocorrer em minerais diferentes.
• A caracterização de uma macla faz-se indicando:
• A orientação dos elementos de macla e a sua
simetria.
• A natureza regular ou irregular e orientação da
superfície de junção dos indivíduos geminados.
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Maclas
• Frequentemente as maclas que
ocorrem em certos minerais são
designadas por nomes específicos:
A - macla em cauda de andorinha
(gesso); b- macla do japão (quartzo);
c- macla da cruz latina (estaurolite);
d- macla da cruz de Stº André
(estaurolite); h- macla do joelho de
estanho (cassiterite).
• Outras vezes é a lei da macla que,
independente do mineral em que se
observa, recebe uma designação
específica: e- macla polissintéctica;
f- macla lei da Albita; g- macla
cíclica; i- macla de Carlsbad.
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Maclas
• Se o elemento de macla for um eixo pode ser:
• Paralelo a uma fila reticular do cristal
(Racional).
• Normal a um plano reticular (Irracional) –
neste caso o eixo é uma direção de fila
reticular perpendicular ao plano.
• Irracional mas existente num plano reticular e
perpendicular a uma fila desse plano.
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Maclas
• A superfície de contacto dos indivíduos
maclados chama-se superfície de composição.
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• Essa superfície pode ser
praticamente plana ou um
conjunto de superfícies
planas ou uma superfície
irregular.
• No primeiro caso a macla
diz-se de justaposição, nos
outros casos a macla diz-se
de penetração.
Maclas
• Temos ainda que uma macla constituída apenas
por dois indivíduos se diz simples e uma macla
constituída por mais de dois indivíduos se diz
múltipla.
• Assim:
• Maclas por justaposição – superfícies de contacto
planas;
• Maclas por penetração – superfícies de contacto
irregulares;
• Maclas simples – dois indivíduos;
• Maclas múltiplas – mais do que dois indivíduos.
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Maclas
• Maclas de contacto:
28
Maclas
29
• Maclas
octaedrais em
espinélio.
• Macla segundo
{0001} na calcita.
• Macla do Japão
no quartzo.
Maclas
• Maclas por penetração:
30
Maclas
• Macla da cruz-de-
ferro na pirita.
• Maclas da cruz latina
e da cruz de Stº André
na estaurolita.
31
Maclas
• Maclas de carlsbad, baveno e manebach no
ortoclásio:
32
Carlsbad
Baveno
Manebach
Maclas
• Quando no edifício cristalino se definem duas
ou mais leis de macla distintas a geminação
diz-se complexa ou compósita.
• Diz-se lamelar uma macla múltipla constituídapor indivíduos lamelares.
• Se estas lamelas forem muito finas e
numerosas temos o que se chama uma macla
polissintética.
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Maclas
• geminação lamelar
(vários indivíduos)
• geminação lamelar
fina - geminação
polisintética
• geminação
polisintética em
plagioclásio segundo
a lei de albita
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Maclas
• A macla polissintética é muito característica dos
feldspatos, nomeadamente do microclínio e dos
plagioclásios. Nas fotos combinações lamelares de
maclas de carslbad-albite em plagioclásio.
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Maclas
• A observação de maclas características de certos
minerais e do seu aspecto pode contribuir para
conclusões petrológica, como no exemplo da foto abaixo
em que se observa stress tectónico no plagioclásio
(NaAlSi3O8).
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• Neste caso a
geminação foi
gerada por
deformação da
rede cristalina –
geminação
secundária.
Maclas
• O mesmo acontece na calcita (CaCO3).
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Maclas
• Maclas no quartzo
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Macla do delfinado Macla do delfinado
Macla do Brasil
Macla do Japão
Maclas
• Geminação cíclica ou
radial: é um tipo de malha
múltipla em que os
elementos de macla
irradiam de um ponto
central.
• Quando essas geminações
simulam uma simetria
macroscópica mais
elevada que a simetria do
cristal chamam-se maclas
miméticas (ex. aragonita).
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Maclas
• Maclas cíclicas na aragonita e crisoberilo
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Aragonita (CaCO3) Ortorrômbico – a
sua macla cíclica simula a simetria
hexagonal – é uma macla mimética.
Crisoberilo (BeAl2O4) –
Ortorrômbico - Macla
cíclica. As melhores
amostras são do Brasil, MG
e ES.
Hábito dos Cristais
• De uma forma geral cada espécie mineral tem
tendência a ocorrer em um ou num número
reduzido de hábitos característicos.
• O hábito é uma descrição da aparência
morfológica de um cristal. Esta aparência
morfológica resulta do desenvolvimento
proeminente de certas formas cristalográficas
de um cristal de uma dada classe.
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Hábito dos Cristais
• Quanto ao Hábito os cristais podem ser:
• Aciculares
• Capilares
• Tabulares
• Laminares
• Colunares ou prismáticos
• Equidimensionais (cúbico, octaédrico,
tetraédrico, romboédrico, etc.)
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Hábito dos Cristais
• Os agregados de cristais formam agrupamentos:
• Reticulados
• Radiais
• Drusas
• Geodes
• Fibrosos ou Asbestiformes
• etc.
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Hábito dos Cristais
• As massas cristalinas podem apresentar um aspecto:
• Micáceo
• Granular, sacaróide, oolítico
• Terroso
• Concrecionado, globular, reniforme, mamilar,
nodular
• Compacta
• Botrióidal, estalactítico
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Hábito dos Cristais
• Os hábitos são assim morfologias típicas que os
cristais de um dado mineral desenvolvem, de
acordo com as condições físicas atuantes no
momento da sua génese, e que se caracteriza
pelo maior desenvolvimento de certas formas
(faces) de um dado mineral.
• Verifica-se que para além da estrutura interna
dos cristais e dos tipos de ligações entre os seus
átomos e moléculas, as condições p-V-T-x
atuantes no momento da sua gênese irão ser dos
fatores mais importantes para originar o hábito
final de um cristal.
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Hábito dos Cristais
• As leis geométricas que explicam a forma simples
dos cristais não explicam os hábitos porque estes
dependem de factores físico-químicos que não
alteram a geometria da sua estrutura interna.
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Hábitos distintos da calcita
(classe de simetria -3m):
a) Hábito escalenoédrico
(“dente de cão”); b) hábito
romboédrico; c) hábito
prismático; d) hábito em
“cabeça de prego”.
Hábito dos Cristais
• Lei de Bravais: define que uma face é tanto
mais importante quanto maior for a
densidade reticular dos planos a que ela é
paralela.
• Segundo a Lei de Bravais a importância
relativa das diferentes formas simples
depende do modo da sua rede espacial, que
controla o espaçamento dos planos
reticulares.
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Hábito dos Cristais
• Por exemplo nas redes
cúbicas existem os
seguintes modos
possíveis:
• Primitivo (23)
• Cúbico de faces
centradas (F23)
• Cúbico centrado (I23)
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Curvas de variação do hábito
dos cristais de NaCl, formados
em presença de K3Fe(CN)6, com
o grau de sobressaturação e a
concentração da impureza.
Hábito dos Cristais
• O espaçamento dos planos reticulares (hkl) é
dado por: dhkl =
𝑎0
√ℎ2+𝑘2+𝑙2
• Portanto, no modo cúbico primitivo, um plano
é tanto mais importante quanto menor for a
soma (h2 + k2 + l2).
• Nos outros modos isto não é assim pois eles
contêm nós suplementares na malha, sendo
que as distâncias reticulares se reduzem
relativamente a algumas famílias de planos.
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Hábito dos Cristais
• No modo cúbico de faces centradas reduzem-
se a metade as distâncias dos planos em que
os indíces millerianos não seja todos ímpares.
• No modo cúbico centrado reduzem-se a
metade as distâncias dhkl dos planos em que a
soma h+k+l é um número ímpar.
• Exemplo: no modo cúbico de faces centradas
as faces mais importantes são por ordem
{111} {100} {110} {311} {331} {210}.
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Hábito dos Cristais
• Nas figuras
estão à
mesma
escala
planos
reticulares
nos três
modos
cúbicos:
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P F
I
Hábito dos Cristais
• A Lei de Bravais (ou Bravais-Friedel) implica que a
importância relativa dos diferentes planos de
faces depende unicamente da simetria da rede
espacial.
• Donnay e Harker generalizaram a Lei de Bravais
tendo em conta a simetria do motivo das
estruturas cristalinas.
• A presença de operadores de simetria com
componente translativa (eixos helicoidais e
planos de deslizamento) modifica as distâncias
reticulares de certos planos estruturais.
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Hábito dos Cristais
• Excepto as redes primitivas ortorrômbicas,
monoclínicas e triclínicas, todas as outras admitem
eixos helicoidais e planos de deslizamento.
• Esses operadores podem não estar localizados nos nós
da rede e assim transformam, devido à translação, os
nós da rede em outros pontos da rede (equipontos)
que não são nós da rede primitiva, definindo planos
estruturais adicionais.
• Deste modo alguns dos planos reticulares adquirem
um espaçamento efetivo menor, adquirindo uma
importância morfológica maior que a que a Lei de
Bravais-Friedel lhes confere.
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Hábito dos Cristais
• Efeito de um eixo helicoidal – um eixo helicoidal
implica a redução da distância reticular efetiva de
todos os planos que lhe são normais.
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Redução da distância reticular para uma família
de planos normais a um eixo helicoidal 31 ou 32.
Espaçamento constante
para planos oblíquos a
eixo helicoidal.
Hábito dos Cristais
• Efeito de um plano de deslizamento:
• O plano de deslizamento vai modificar as
distâncias reticulares efetivas de alguns dos
planos reticulares normais ao plano de
simetria.
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Efeito de plano de
deslizamento paralelo a
(001). A cheio nós da
rede, em aberto
equipontos.
Hábito dos Cristais
• A Lei de Donnay-Donnay verifica-se quando,
em alguns casos como na halita, se podem
definir subperíodos, malhas menores que a
malha primitiva que reduzem as distâncias
reticulares efetivas.
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O exemplo da halita que
cristaliza com morfologia da
malha primitiva e não da
malha cúbica de faces
centradas. A estrutura é
pseudoprimitiva (porque o
cubo é mais importante que
o octaedro).
Hábito dos Cristais
• A Teoria de Hartman-Perdok aborda
considerações de carater físico-químico na
aplicação das leis geométricasao crescimento do
cristal.
• Postula que as leis anteriores aplicam-se
dependentes das forças de ligação entre as
unidades constituintes do cristal.
• Ex: asbestos – as fibras alongam-se na direção
das cadeias de forças de ligação mais poderosas.
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Hábitos dos Cristais
• Assim o crescimento das faces do cristal vai
obedecer ao binómio forças de ligação vs
geometria, sendo que existem três tipos
estruturais de faces assim caracterizadas:
• Faces F – correspondentes a “estratos” que
contêm duas ou mais cadeias de ligações
periódicas distintas.
• Faces S – correspondentes a “estratos” que
contêm uma única cadeia de ligações periódicas.
• Faces K – Correspondentes a “estratos” que não
contêm qualquer cadeia de ligações periódicas.
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Hábitos dos Cristais
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Representação dos três tipos estruturais de faces.
A cadeia de ligações
fortes entre átomos
que forma cadeia de
ligações periódica
(PBC) vai definir a
maior ou menor
rapidez de
crescimento de
certas faces.
Referências Bibliográficas
• Borges, F.S. (1982). “Elementos de Cristalografia”. Pub. Fundação Calouste
Gulbenkian.
• Hurlbut, C.S. (1959). Dana’s Manual of Mineralogy. John Wiley & Sons Inc., New
York, 609p.
• Deer, W.A., Howie, R.A., Zussman, J. (1981). “Minerais Constituintes das Rochas –
Uma Introdução”. Publicações Fundação Calouste Gulbenkian.
• Farndon, J. (2007) “The Complete Guide to Rocks & Minerals”. Hermes House –
Anness Publishing Ltd.
• Gass, I.G., Smith, P.J., Wilson, R.C.L. (1984) “Vamos Compreender a Terra”. Livraria
Almedina Coimbra.
• Vanders, I., Kerr, P.F. (1966). Mineral Recognition. John Wiley & Sons, New York,
316p.
• http://www.mindat.org/
• http://webmineral.com/
60
Obrigado pela vossa atenção!
61
Pirita com faces de diploedro cristais submilimétricos do jazigo do Palhal, Portugal