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DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.” O direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, já que se constitui em pré- requisito à existência e exercício de todos os demais direitos. A Constituição Federal proclama, portanto, o direito à vida, cabendo ao Estado assegurá-lo em sua dupla acepção, sendo a primeira relacionada ao direito de continuar vivo e a segunda de se ter vida digna quanto à subsistência. O início da mais preciosa garantia individual deverá ser dado pelo biólogo, cabendo ao jurista, tão-somente, dar- lhe o enquadramento legal, pois do ponto de vista biológico a vida se inicia com a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, resultando um ovo ou zigoto. Assim a vida viável, portanto, começa com a nidação, quando se inicia a gravidez. Conforme adverte o biólogo Botella Lluziá, o embrião ou feto representa um ser individualizado, com uma carga genética própria, que não se confunde nem com a do pai, nem com a da mãe, sendo inexato afirmar que a vida do embrião ou do feto está englobada pela vida da mãe. A constituição, é importante ressaltar, protege a vida de forma geral, inclusive uterina. (Informativo STF nº 385) O direito à vida desdobra-se em várias esferas: Direito à existência: consiste no direito de estar vivo e lutar para permanecer vivo. Direito à existência digna: aspectos de natureza moral e material servem de argumento para distinguir equiparação de doentes terminais; viciados artificialmente. Direito à integridade física: constitui bem vital e revela um direito fundamental do indivíduo – art 5º XLIX. A Constituição proíbe a tortura ou tratamento desumano (art 5º, III). Pena de morte: art. 5º, XLVII, a; art. 84, XIX (guerra declarada); CPM art. 355 e 356 da Traição; Cláusula pétrea (art. 60, §4º, IV) Aborto: protege a vida desde a concepção do nascituro, conforme definido em lei infraconstitucional. O STF, em julgamento da ADI 3510, entendeu como constitucional a realização de pesquisas com células-tronco embrionárias, sem que isso significasse violação do direito à vida. Também, no julgamento da ADPF 54, o STF declarou a inconstitucionalidade de qualquer interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é crime tipificado no Código Penal. Liberdade objetiva: liberdade de fazer, liberdade de atuar; é objeto do direito positivo. Desdobramentos da liberdade Da pessoa física: locomoção circulação; de pensamento: (de opinião de religião, informação, artística, comunicação, do conhecimento). Expressões coletivas: de reunião de associação; ação profissional (livre escolha e exercício de trabalho, ofício e profissão); de conteúdo econômico e social (liberdade econômica, livre iniciativa). A manifestação do pensamento é livre e garantida em nível constitucional, não aludindo a censura prévia em diversões e espetáculos públicos. Entretanto, os abusos porventura ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensamento são passíveis de exame e apreciação pelo Poder Judiciário com a consequente responsabilidade civil e penal de seus autores, decorrentes inclusive de publicações injuriosas na imprensa, que deve exercer vigilância e controle da matéria que divulga. Caso haja dano na manifestação de pensamento, acarretando dano moral, material ou à imagem, assegura-se o direito de resposta e indenização. Exemplos: Utilização de denúncia anônima para instaurar processo investigatório; Livre manifestação de pensamento (art.287,CP); EC 45 – indenizações JT. A CF/88 prevê que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa fixada em lei. A abrangência do preceito constitucional é ampla, pois sendo a religião o complexo de princípios que dirigem os pensamentos, ações e adoração do homem para com Deus, acaba por compreender a crença, o dogma, a moral, a liturgia e o culto. OBS: Nem sempre a liberdade de culto foi garantida nas CF’s brasileiras, sendo apenas autorizado a plena liberdade de crença. Assim, os cultos apenas eram permitidos em locais particulares ou casas, sem forma de Templo. Somente na CF de 24/02/1891 foi consagrado a amplitude de tais direitos, sendo seguida por todas as demais Constituições. Ressalte-se que a liberdade de convicção religiosa abrange inclusive o direito de não acreditar ou professar nenhuma fé, devendo o Estado respeito ao ateísmo. Estado Laico Estado Teocrático Ambíguo ou sem dados A Constituição Federal assegura o livre exercício do culto religioso, enquanto não for contrário à ordem, tranquilidade e sossego públicos, bem como compatível com os bons costumes. Dessa forma, a questão das pregações e curas religiosas deve ser analisada de modo que não obstaculize a liberdade religiosa garantida constitucionalmente, nem tampouco acoberte práticas ilícitas. Obviamente, assim como as demais liberdades públicas, também a liberdade religiosa não atinge grau absoluto, não sendo, pois, permitidos a qualquer religião ou culto atos atentatórios à lei, sob pena de responsabilização civil e criminal. Exemplo: sacrifício de animais. Destaca-se uma dupla garantia constitucional. Primeiramente, não se poderá instituir nas escolas públicas o ensino religioso de uma única religião, nem tampouco pretender-se doutrinar os alunos a essa ou àquela fé. A norma constitucional pretende, implicitamente, que o ensino religioso deverá constituir-se de regras gerais sobre religião e princípios básicos da fé. Em segundo lugar, a Constituição garante a liberdade das pessoas em matricularem-se ou não, uma vez que, conforme já salientado, a plena liberdade religiosa consiste também na liberdade ao ateísmo. A previsão constitucional do inciso VII, do art. 5.° ("é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva"), encerra um direito subjetivo daquele que se encontra internado em estabelecimento coletivo. Assim, ao Estado cabe, nos termos da lei, a materialização das condições para a prestação dessa assistência religiosa, que deverá ser multiforme, ou seja, de tantos credos quanto aqueles solicitados pelos internos. Tem como objetivos: fornecer maior amparo espiritual às pessoas que se encontram em situações menos favorecidas, afastadas do convívio familiar e social; a melhor ressocialização daquele que se encontra em estabelecimento de internação coletiva em virtude de sua natureza pedagógica. Exemplo: Forças Armadas, instituições prisionais. É livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação, independentemente de censura ou licença. OBS: - veda-se a censura de natureza política, ideológica (art. 220, §2º), porém lei federal deverá regular. Exemplo: programas e propagandas de televisão. O texto constitucional repele frontalmente a possibilidade de censura prévia. Essa previsão, porém, não significa que a liberdade de imprensa é absoluta, não encontrando restrições nos demais direitos fundamentais, pois a responsabilização posterior do autor e/ou responsável pelas notícias injuriosas,difamantes, mentirosas sempre será cabível, em relação a eventuais danos materiais e morais. A Constituição assegura a liberdade de exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações que a lei estabelecer. OBS: Norma constitucional de eficácia contida. Exemplos: exame de ordem; jornalista. É assegurado o acesso à informação e, ainda, resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional. Trata-se do direito de informar e de ser informado. O Art. 5º, XXXIII estabelece que todos têm o direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, coletivo ou geral. Ressalva-se aqueles cujo sigilo é imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Em tempo de paz, o direito de locomoção no território nacional é assegurado, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou sair com seus bens. Somente em caso de flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, poderá ser cerceado tal direito. Exceções à liberdade de locomoção: Estado de Defesa (art.136, §3º, I) - prisão por crime de Estado Estado de Sítio (art. 139, I) Guerra declarada Agressão armada estrangeira (art. 137, II) A Constituição Federal garante que todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente, tratando-se, pois, de direito individual o coligar-se com outras pessoas, para fim lícito. Este prévio aviso é fundamental para que a autoridade administrativa tome as devidas providências relacionadas à organização (a regularização do trânsito, a garantia da segurança e da ordem pública, o impedimento de realização de outra reunião). O direito de reunião é um direito público subjetivo de grande abrangência, que compreende não só o direito de organizar a reunião e convocá-la, como o de total participação ativa. Paolo Barile qualifica o direito de reunião como, simultaneamente, um direito individual e uma garantia coletiva, pois consiste tanto na possibilidade de determinados agrupamentos de pessoas reunirem-se para livre manifestação de seus pensamentos, quanto na livre opção do indivíduo de participar ou não dessa reunião. ELEMENTOS DA REUNIÃO Pluralidade de participantes: a reunião é considerada forma de ação coletiva. Finalidade: a reunião pressupõe a organização de um encontro com propósito determinado, finalidade lícita, pacífica e sem armas. OBS: O fato de alguma pessoa estar portando armas não será motivo para dissolução da reunião. Nesses casos, a polícia deverá desarmar ou afastar tal pessoa, prosseguindo-se a reunião, normalmente, com os demais participantes que não estejam armados. Tempo: toda reunião deve ter duração limitada, em virtude de seu caráter temporário e episódico. Lugar: a reunião deverá ser realizada em local delimitado, em área certa, mesmo que seja um percurso móvel, desde que predeterminada. Assim, as passeatas, os comícios, os desfiles, os cortejos estão englobados no direito de reunião. ATENÇÃO!!! Nas hipóteses excepcionais do Estado de Defesa (art. 136, § 1.°, I, a) e do Estado de Sítio (art. 139, IV) poderá haver restrições ao direito de reunião, ainda que exercida na sede da associação, permitindo-se inclusive, neste último caso, a própria suspensão temporária deste direito individual. Tutela do direito de reunião A tutela jurídica do direito de reunião se efetiva pelo mandado de segurança, e não pelo habeas corpus, pois nesses casos, a liberdade de locomoção, eventualmente atingida, é simples direito-meio para o pleno exercício de outro direito individual, o de reunião. É plena a liberdade de associação para fins lícitos, apenas vedada a de caráter paramilitar. Portanto, ninguém poderá ser compelido a associar-se e, uma vez associado, será livre para decidir se permanece associado ou não. A criação das associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, vedada a interferência estatal em seu funcionamento, tendo elas autonomia para formular seus estatutos. O direito de associação, embora atribuído a cada pessoa (titular), somente poderá ser exercido de forma coletiva, com várias pessoas. Finalidade lícita Observe-se que a ilicitude não está ligada somente às normas de direito penal, pois a ordem jurídica pode reprovar dados comportamentos sem chegar ao ponto de cominar-lhes uma sanção de natureza penal. Caráter paramilitar Deverá ser analisado se as associações, com ou sem armas, se destinam ao treinamento de seus membros a finalidades bélicas. Entretanto, a nomenclatura de seus postos e a utilização ou não de uniformes, por si só não afastam de forma absoluta o caráter paramilitar de uma associação, devendo-se observar a existência de organização hierárquica e o princípio da obediência. Vedação de interferência estatal A interferência arbitrária do Poder Público no exercício deste direito individual pode acarretar responsabilidade tríplice de natureza: (a) penal, constituindo, eventualmente, crime de abuso de autoridade (Lei n.° 4.898/65); (b) político-administrativa, caracterizando-se, em tese, crime de responsabilidade (Lei n.° 1.079/50); e (c) civil, possibilitando aos prejudicados indenizações por danos materiais e morais. Dissolução das associações As associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado. Dessa forma, qualquer ato normativo editado pelos poderes Executivo ou Legislativo, no sentido de dissolução compulsória, será inconstitucional. A CF limita a atuação do Poder Judiciário, autorizando-o à dissolução somente quando a finalidade buscada pela associação for ilícita. Representação dos associados As entidades associativas devidamente constituídas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente, possuindo legitimidade ad causam para, em substituição processual, defender em juízo direito de seus associados, nos termos do art. 5.°, XXI, da Constituição Federal, sendo desnecessária a expressa e específica autorização, de cada um de seus integrantes, desde que a abrangência dos direitos defendidos seja suficiente para assumir a condição de interesses coletivos. Dessa forma, não haverá sempre necessidade de prévia autorização, no caso concreto, dos associados para que as associações represente-os judicial ou extrajudicialmente, desde que a mesma exista de forma genérica na própria lei que criou a entidade, ou em seus atos constitutivos de pessoa jurídica.
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