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A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURIDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Natassya Nikita Westephalen Matos
A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS
CURITIBA 2013
Natassya Nikita Westephalen Matos
A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Mestre Vitório Sorotiuk
CURITIBA 2013
TERMO DE APROVAÇÃO
Natassya Nikita Westephalen Matos
A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS
Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi julgado e aprovado para a obtenção do grau de Bacharel em Direito no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, 	de 	de 2013.
Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite
Coordenador do Núcleo de Trabalhos de Conclusão de Cursos Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador:		 Prof. Mestre Vitório Sorotiuk
Universidade Tuiuti do Paraná
Prof. Dr.
Universidade Tuiuti do Paraná
Prof. Dr.
Universidade Tuiuti do Paraná
RESUMO
Este trabalho tem como tema de base a reflexão sobre a responsabilidade penal das pessoas jurídicas em relação aos problemas do meio ambiente. Para se enfrentar o tema discorreu-se inicialmente sobre o desenvolvimento sustentável e a tutela jurídica para proteção, preservação, conservação e reparação dos danos causados ou que venham a se tornar um risco ao patrimônio ambiental nacional. O eixo em torno do qual gravita o estudo é a demonstração de que os riscos do desenvolvimento estão sempre presentes, e as ações judiciais a disposição da sociedade podem ser a Ação Popular e a Ação Civil Pública, esta última a cargo do Ministério Publico. No entanto, o problema do equilíbrio entre desenvolvimento e meio ambiente vai além da simples reparação ou ressarcimento de danos, indo na verdade merecer um tipo de tutela inibitória que seja capaz de preservar os elementos que integram o patrimônio ambiental humano.
Palavras-chave: Direito ambiental, Direito Penal, Pessoa Jurídica, Responsabilidade penal.
CARVALHO, Érika Mendes de. Tutela Penal do Patrimônio Florestal Brasileiro. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 1999.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	05
MEIO AMBIENTE, DIREITO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE	08
ECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL	08
Riscos ligados ao ambiente ecológico	08
Medidas para o desenvolvimento sustentável	11
DIREITO AMBIENTAL, PRINCIPIOS E INSTRUMENTOS JURIDICOS	14
PROTEÇÃO AMBIENTAL E OS PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS	14
TUTELA JUDICIAL	15
Tutela inibitória	15
Lei nº. 9.605/98 e as sanções penais e administrativas	20
Ação civil pública	23
Ação popular	23
CRME AMBIENTAL E RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURIDICA.. 27 4.1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL	27
RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURIDICA. TEORIAS	28
PENALIZAÇÃO	30
O caso da União Européia	32
CONSIDERAÇÕES FINAIS	37
REFERENCIAS	38
1 INTRODUÇÃO
O tema deste Trabalho de Conclusão de Curso é a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos casos de crimes ambientais. Portanto, optou primeiramente por fazer uma ampla abordagem da questão do Direito Ambiental e da finitude dos recursos naturais e ambientais, para em seguida tomar o tema base em uma perspectiva já apurada.
O Direito ambiental é um ramo relativamente novo do Direito, incluído em razão da mudança na concepção de ambiente em razão do escasseamento de recursos importantes a sobrevivência humana no planeta.
Por Direito Ambiental Carvalho1 define “conjunto de regras e princípios destinados à proteção do meio ambiente, que inclui medidas de caráter administrativo e judiciais, visando a reparação econômica e financeira dos danos causados ao meio ambiente e aos ecossistemas”. No entanto, neste estudo se verificou que a questão da sustentabilidade e do desenvolvimento social deve ir além da mera reparação, dado que há leis que suportam a demanda judicial de proteção antecipada, preventiva de danos. E, nesse sentido há que se lançar mão do recurso da tutela inibitória como forma de evitar do dano e não apenas de repará-lo.
O meio ambiente, conforme dispõe a Constituição de 1988, se trata de um bem coletivo, um patrimônio nacional que pertence ao povo. A Constituição conferiu titularidade do meio ambiente a todos os cidadãos brasileiros de forma indiscriminada, de modo que a condição para que ocorra a tutela judicial é a quebra ou violação das normas ambientais, que no Brasil são modernas.
O direito ambiental ou direito ecológico é um ramo novo do Direito que tem princípios e normas próprias e estas seguem a lógica de que inicialmente é necessário
1 CARVALHO, Carlos Gomes de. Direito ambiental: perspectivas no mundo contemporâneo. Revista de Direito Ambiental. São Paulo, ano 5, v. 19, p. 201 – 208, jul./set. 2000.
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prevenir os danos com o estimulo a proteção, manutenção, preservação e ampliação se possível dos recursos e do meio ambiente. Esta questão é especialmente importante quando se pensa no meio ambiente cultural e artístico que tem a característica de se deteriorar naturalmente.
As providências e medidas inibitórias são comuns dentro do tema da proteção ao meio ambiente, em razão do caráter predatório e destrutivo das ações que alcançam o meio ambiente, como o desmatamento, o desvio de fontes de água, a poluição entre muitos outros exemplos. Tratando-se de atos ilícitos sempre, cabe ao Estado o papel de proteção através da inibição dessas ações que violam disposições constitucionais sobre o direito ao bem estar, a dignidade e a garantia de proteção ao ambiente ecológico, aos ecossistemas e recursos naturais principalmente os não renováveis.
Assim, primeiramente será necessário oferecer informações sobre o problema do meio ambiente e sobre a finitude dos recursos, para em seguida afirmar a necessidade de se garantir a sustentabilidade ambiental.
Para garantir essa sustentabilidade além das ações no plano econômico, político e social, é necessário que o Estado garanta a tutela aos direitos inseridos no artigo 225 da Constituição.
Além de examinar as disposições constitucionais sobre o tema da proteção ambiental, é essencial que sejam avaliados os instrumentos jurídicos adequados a esta tutela. Não se pode deixar de mencionar que importantes documentos vêm sendo produzidas ao nível internacional que visam subsidiar ações de várias ordens, como políticas, econômicas e mesmo jurídicas.
A responsabilidade penal da pessoa jurídica é um tema ainda pouco desenvolvido na literatura. A melhor fonte que se encontra em termos de regulamentação é a Constituição Federal, onde este trabalho terá inicio. Primeiramente por ser a Carta Magna, o que de pronto indica a relevância e a pertinência das reflexões em torno do tema do crime cometido por pessoa jurídica, ou seja, há previsão expressa
no artigo 173, parágrafo 5º e no artigo 225, parágrafo 3º, ambos da Constituição Federal.
A pesquisa monográfica neste ponto será uma proposta de revisão da literatura doutrinária sobre a questão da capacidade penal da pessoa jurídica e um exame da jurisprudência e da legislação infraconstitucional sobre o tema.
A técnica de pesquisa empregada em todo o trabalho pode ser classificada como bibliográfica; uma vez que tem como objetivo reunir os dados necessários à descrição e avaliação dos principais aspectos a serem considerados na avaliação do conceito de sustentabilidade e na pesquisa acerca da problemática avançada da responsabilidade empresarial em relação ao ambiente natural e a comunidade humana.
Desse modo, a pesquisa será realizada em livros e revistas especializadas, trabalhos acadêmicos reconhecidos e publicados e artigos de especialistas encontrados em meio digital, uma vez que os trabalhos quesão publicados atualmente na internet tem a grande vantagem de apresentarem dados recentes sobre os problemas, além de indicarem novas fontes de pesquisa.
MEIO AMBIENTE, DIREITO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE
ECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Riscos ligados ao ambiente ecológico.
Entender o problema da finitude dos recursos naturais significa compreender como se produzem os riscos associados ao uso e ao consumo de bens naturais.
A multiplicação dos riscos, segundo Jacobi (2005) indicam os limites e as conseqüências das atuais práticas sociais e levam a uma reflexão necessária, a de que a sociedade produz os riscos e pode se tornar também um tema para ela mesma levar adiante, promovendo reflexões constantes.
Dentre esses riscos, aqueles que afetam o desenvolvimento social pela degradação dos recursos naturais são os mais preocupantes, e vem sendo entendidos como um conjunto de fatos naturais e humanos que reduzem as possibilidades de sobrevivência social.
O conceito de risco se tornou fundamental para o conhecimento na medida em que traz em si soluções e limites absolutamente necessários para sustentar a vida no planeta e o desenvolvimento socioeconômico.
Elucidar os conceitos envolvidos nos riscos implica em se aproximar da idéia conceitual de sustentabilidade e nesse sentido tem importância conhecer os principais argumentos dos defensores do desenvolvimento seguro.
Os riscos têm sido classificados segundo as determinações de sua ocorrência, assim são originados da ação humana, do desgaste natural, do fato de que alguns não são renováveis nem mesmo pela criação de instrumentos substituíveis ou, ainda, pela má gestão ambiental.
A fim de facilitar o estudo desses termos, elabora-se o quadro a seguir que
mostra quais são esses termos e quais são as idéias e conceitos ligados a eles:
QUADRO I – Termos e conceitos relativos ao estudo dos riscos ambientais Risco	Definição	Efeitos ou Afetamento
Alterações nas propriedades do ambiente (físicas, químicas, biológicas, geográficas, econômicas, sociais, políticas, entre outras)
Decorrente da ação humana, diretamente ou indiretamente, que vem a afetar o bem estar da coletividade, a biota, o funcionamento social ou a economia, as condições de vida dos homens sejam sanitárias ou estéticas e a qualidade dos recursos naturais.
O uso racional se realiza a partir de uma ampla conscientização sobre os riscos de utilização dos recursos de forma não orientada, sobre a forma de conservação e preservação destes, e sobre um manejo adequado, prevenindo a ação nociva dos homens e permitindo a renovação natural.
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Decorre da necessidade de encontrar alternativas humanas para a escassez ou perda de recursos naturais.
A forma de evolução do conceito tem o sentido de ampliar alternativas para os homens com a reciclável dos recursos não-renováveis e criação de instrumentos que viabilizem o máximo aproveitamento dos recursos.
São os acontecimentos que indicam que a retirada de elementos naturais de seu local de origem, de seu habitat, com transformação de sua estrutura para servir a interesses supérfluos, mas que reduzem a proporção dos elementos retirados da natureza, sem preocupação com sua reposição.
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Caracterizados pela reduzida ou nenhuma capacidade de renovação pela natureza ou pela aplicação de instrumentos criados pelos seres humanos.
Riscos de grande monta para a sobrevivência humana no planeta (Ex. a água)
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Não há consciência dos riscos da atividade, não há preocupação com o futuro, não há solidariedade, nem idéia da implicação da atividade para o desenvolvimento social.
Na área oceânica e de costas se tem verificado a composição dos solos próximos à costa e identificam-se como recursos costeiros minerais aqueles que ocorrem em ambiente rochoso (fluorita), em sedimentos (praias, lamas) como os minerais pesados que existam na areia das praias e dunas e o calcáreo dos recifes. Estes são alguns exemplos de recursos não renováveis.
Diz respeito a valorização do meio ambiente como forma de controle social e preservação dos recursos essenciais à sobrevivência humana.
Indica ainda formas de redução da diferença entre interesses do Estado e interesses privados, regulação e regulamentação da proteção ambiental.
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No ano de 2000 foi aprovado o Código de Conduta para a Alta Administração Federal como uma forma de tornar manifestas as regras éticas da conduta das autoridades federais a fim que a sociedade possa avaliar e participar do processo decisório do governo (CCAAF, art. 1º, inciso I).
Na esfera da Administração Pública está vinculada a CRFB/88, art. 37º, que determina aos órgãos da Administração a observação da concepção constitucional sobre a fiscalização e ações em defesa dos interesses sociais.
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Na esfera privada tem relação com o crescimento econômico e empresarial ao lado da preservação ambiental de resultados positivos para a vida social e para a qualidade de vida.
Schenini e Nascimento (2002) o consideram como "sinônimo de eco desenvolvimento e desenvolvimento sustentado, se firma em três pilares básicos que são o crescimento econômico, a eqüidade social e o equilíbrio ecológico, todos sob o mesmo espírito holístico de harmonia e responsabilidade comum." 1
1 (SCHENINI & NASCIMENTO, 2002:7).
Importa comentar brevemente acerca da legislação constitucional brasileira que possui apenas um único artigo (art. 225) que garante a instrumentalização da proteção ao ambiente natural, regulamentando processos físicos e químicos que afetam a biosfera.
CRFB/88, art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Parágrafo 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
– preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
– preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; (...)
A intenção do legislador nesse caso foi a defesa das futuras gerações, segundo Moraes (2007). O dispositivo afirma o direito da coletividade (direito difuso) de usar os recursos disponíveis, e segue indicando o princípio da Responsabilidade que nos incisos I e II.
Há no artigo um estímulo e um comando para que os órgãos da Administração Pública participem através de programas de preservação e restauração do meio ambiente, inclusive com a previsão de penalidades aos causadores dos danos.
Medidas para o desenvolvimento sustentável .
Publicado em 1987, o Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, é considerado o documento de base que introduziu a idéia de sustentabilidade ligada ao desenvolvimento. A Comissão está inserida nas iniciativas da Agenda 212.
Neste documento sustentável é todo desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades atuais da sociedade que não comprometa a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias.
No entanto, antes mesmo do inicio dos anos 1980 já se desenhava a preocupação de vários países com questões relativas ao ambiente e ao uso dos recursos naturais.
Segundo a diretiva adotada na Agenda 21, os países industrializados e as nações em desenvolvimento tem que se voltar para os riscos do uso irresponsável dos recursos naturais, e por uso irresponsável se entende a superação da capacidade dos ecossistemas de suportar a demanda.
Na idéia de suportabilidade estácontida, então, a demanda por um equilíbrio entre os padrões de produção e consumo e a existência de um limite desse uso e consumo no que respeita aos recursos naturais e ambientais.
Conseqüentemente diz respeito a questão do desenvolvimento industrial em
2 A Agenda 21 é um programa de ação, baseado num documento de 40 capítulos, que constitui a mais ousada e abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
Trata-se de um documento consensual para o qual contribuíram governos e instituições da sociedade civil de 179 países num processo preparatório que durou dois anos e culminou com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, no Rio de Janeiro, também conhecida por ECO-92.
Além da Agenda 21, resultaram desse processo cinco outros acordos: a Declaração do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, o Convênio sobre a Diversidade Biológica e a Convenção sobre Mudanças Climáticas. (Retirado de EcolNews, Rev Eletronica, disponível no site:< http://www.ecolnews.com.br/agenda21/>. Acesso em 03 ma 2010.
primeira mão, e a partir daí o conceito migrou para o próprio modo de funcionamento das empresas e para o ambiente interno e externo dessas organizações, como reflexo das novas pautas de conduta empresarial impostas pela legislação e pelas normas existentes em acordos e tratados internacionais de proteção ambiental.
De acordo com o Relatório em exame, várias medidas seriam essenciais para que os países promovessem o desenvolvimento sustentável.
Estas medidas teriam que começar pela organização da sociedade e pelo equilíbrio entre população e recursos utilizáveis, conforme o seguinte enquadre:
QUADRO II – MEDIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MUNDIAL AMBITO INTERNO DOS PAÍSES	AMBITO INTERNACIONAL
Adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de desenvolvimento (órgãos e
Limitação do crescimento populacional.	instituições internacionais de financiamento).
Garantia	de	recursos	básicos	(água, alimentos, energia) em longo prazo.
Preservação	da	biodiversidade	e	dos
Proteção dos ecossistemas supra-nacionais como a Antártica, oceanos, etc, pela comunidade internacional
ecossistemas.	Banimento das guerras
Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis.
Aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas.
Implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores.
Atendimento	das	necessidades	básicas
(saúde, escola, moradia).
Fonte: Relatório Brundtland.(cit.)
Observa-se que desde o inicio o conceito de sustentabilidade já abrange vários aspectos da vida humana, não apenas sua feição biológica.
Pode-se assim afirmar então que, Sustentabilidade é um conceito multideterminado, cuja origem está ligada de modo estreito a experiência da vida humana no planeta.
Como a vida no mundo é uma experiência coletiva e organizada, a sociedade está implicada na sustentabilidade desde sua origem, de modo que o arcabouço operacional do conceito é coletivo e está vinculado ao uso racional e a preservação do mundo para as gerações futuras, isto é, à responsabilidade coletiva.
O conceito de desenvolvimento sustentável se apresenta para o desenvolvimento empresarial como uma nova forma de produzir em equilíbrio com o meio ambiente, estendendo essa nova perspectiva a todos os níveis da organização para que seja formalizado um processo de identificação do impacto da produção da empresa no meio ambiente e, ainda, para que dessa relação equilibrada resulte a execução de ações de produção e preservação ambiental, com uso de tecnologia adaptada.
DIREITO AMBIENTAL. PRINCIPIOS E INSTRUMENTOS JURIDICOS
3.1	PROTEÇÃO AMBIENTAL E OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
Primeiramente é necessário afirmar a natureza pública desta tutela ao meio ambiente, uma vez que se trata de um tema de interesse coletivo e difuso, que tem repercussões sobre a esfera cotidiana da vida em sociedade.
A tutela ao meio ambiente pertence, assim, a categoria de direitos transindividuais.
A tutela desses direitos pode se apresentar de maneira tão essencial que o próprio Poder Público pode exercer atos ex officio que visem a agir em defesa do ambiente ou contrariamente a qualquer ação predatória. Trata-se do princípio da natureza pública do direito ambiental, que marca a necessidade de se entender como sendo de interesse público o equilíbrio e preservação do meio ambiente e dos ecossistemas. Trata-se, portanto, de um direito difuso que pode ser amparado, por exemplo, por uma ação coletiva de iniciativa de uma Organização Não Governamental
– ONG que tenha por objeto a proteção ambiental.
O artigo 225 da Constituição Federal de 1988 indica claramente que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado corresponde a um dever do Estado de defender e preservar o meio ambiente, principalmente para as gerações futuras. Destaca-se, assim, uma interpretação do direito que abriga normas infraconstitucionais qu sejam norteadoras para o cumprimento desse dever.
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura um direito difuso, dado que pertence a coletividade de maneira geral e deve ser garantido com instrumentos que disciplinam essa categoria de direitos, como a Ação Popular e a Ação Civil Pública. Trata-se, portanto de tutela coletiva que visa concretizar os interesses sociais na proteção ao meio ambiente e ao uso racional dos recursos naturais, bem como preservar o patrimônio ambiental brasileiro.
A ação é o instrumento colocado pelo Estado à disposição das partes para que elas demandem judicialmente, ou seja, o principio do acesso a justiça começa pela quebra da inércia em relação ao Estado-juiz. O ingresso em juízo através do exercício do direito de ação não está apenas na esfera individual, mas também se coloca para toda a sociedade através de instrumentos jurídicos especiais.
TUTELA JUDICIAL
Tutela inibitória
O processo civil brasileiro possui uma classificação trinaria das ações (Marinoni e Arenhart)3 que se baseia em provimentos declaratórios, constitutivos ou condenatórios. Essa é uma posição que não corresponde a uma tutela efetiva no caso em exame.
Segundo os autores:
A ação inibitória se volta contra a possibilidade do ilícito, ainda que se trate de repetição ou continuação. Assim, é voltada para o futuro, e não para o passado. De modo que nada tem a ver com o ressarcimento do dano e, por conseqüência, com os elementos para a imputação ressarcitória – os chamados elementos subjetivos, culpa ou dolo. Além disso, essa ação não requer nem mesmo a probabilidade de ilícito (ato contrário ao direito). (MARINONI, s.d., s.p.)
No que respeita à tutela ambiental a efetividade do processo judicial é maior quando o sistema de proteção dos direitos transindividuais se complementa por leis esparsas, relativas a situações especificas como, por exemplo, a Lei de Abuso do Poder Econômico (Lei nº. 8.884/94).
Essa sistemática de conjugação de dispositivos legais soe pertencer ao direito
3 MARINONI,	Luiz Guilherme; ARENHART,	Sérgio	Cruz.	Manual	do	Processo	de Conhecimento. 5ª. edição. São Paulo: RT, 2006.
nacional em relação a proteção de qualquer direito transindividual, além daqueles outros cuja tutela adequada dos direitos diz respeito às características das sociedades de massa.
O Direito nacional segundo Marinoni e Arenhart4 admite três diferentes categorias de direito: difusos, coletivos e individuais homogêneos, que podem ser tutelados através da ação coletiva, reconhecendo-se nesta a efetividadeinstrumental do direito material (acesso a justiça).
A tutela efetiva, entretanto não se consubstancia apenas na sentença, embora não se admita sua protelação. O processo tem uma evolução que pode chegar até mesmo a corrigir certos problemas de lentidão processual. Assim, a tutela inibitória ambiental pensada em termos de efetividade do processo pode ser considerada uma forma melhor de tutela processual do meio ambiente.
Na Constituição o legislador consagrou um capitulo especial ao meio ambiente incumbindo diretamente ao Poder Público: a preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais, a preservação da diversidade e a integridade do patrimônio genético do país, fiscalizando as entidades de pesquisa e manipulação de material genético, a criação de espaços territoriais para proteção especial através de leis, o estabelecimento de exigências para obras ou atividades que possam causar degradação ao meio ambiente, com exigência de estudo prévio sobre o impacto ambiental, o controle da produção, comercialização e emprego de técnicas e métodos que geram risco ao meio ambiente, promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino, conscientização da população sobre a preservação do meio ambiente e a proteção da fauna e da flora, sendo proibidas as práticas que coloquem em risco a unção ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
A própria CRFB já prevê sanções a essas condutas prescritas, conforme se
4 Marinoni e Arenhart, obra cit., p. 723.
encontra nos parágrafos do artigo 225.
No parágrafo 2º5 do artigo em comento se trata de entender que a exploração dos recursos minerais supõe a recuperação do meio ambiente degradado, mas não se trata de qualquer recuperação, mas sim especificamente daquela que exige o órgão público, e na forma da lei.
No parágrafo 3º 6 já se encontra uma norma penal que sujeita aqueles que infringem a legislação ambiental, sejam pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas.
Enquanto no parágrafo 4º 7 se trata de considerar o patrimônio nacional ambiental circunscrito à Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, permitindo apenas o uso em condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
O parágrafo 5º 8 torna indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, devido a ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. E, por fim, o parágrafo 6º9 define que a localização de reatores nucleares é de
5 § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
6 § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
7 § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato- Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
8 § 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
9 § 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
competência de lei federal, impedindo sua instalação em caso de lacuna.
Assim, trata-se de uma base constitucional que prevê sanções e, portanto, a tutela deve ser feita por legislação infraconstitucional e em alguns casos por lei federal por expressa determinação constitucional.
A Lei 6.938, de 81 trata da Política Nacional do Meio Ambiente, em seu art. 3º, inciso I, definiu em consonância com a Constituição o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Esta definição abrangente também permite que se entenda meio ambiente dentro de contextos diferentes. De modo que o temo meio ambiente tanto pode ser o meio ambiente ecológico, como também o meio ambiente de trabalho, dado que segundo a lei o meio ambiente “permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Nessa medida, o ambiente natural ou físico, e também o ambiente artificial o trabalho abriga relações humanas em um ambiente controlado pode ser objeto de demanda judicial em caso de descumprimento desses princípios constitucionais e legais.
No artigo 9º a PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente definiu alguns instrumentos para suas ações, a saber:
“ I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II - o zoneamento ambiental, através de regulamento.
- a avaliação de impactos ambientais;
- o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;
- os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
- a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
- o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
- o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;
- as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.
- a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA;
- a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
- o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.
- instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão
ambiental, seguro ambiental e outros”
As garantias da PNMA são o repasse de recursos a programas do Executivo e ações independentes, e os objetivos visados são a proteção e o estimula a preservação.
No que respeita aos meios jurídicos de proteção o legislador entendeu que cabe tanto ao poder público quanto a população essa responsabilidade, e sendo o meio ambiente um bem de uso comum do povo o acesso ao judiciário é a primeira garantia efetiva do Estado.
Sendo assim, segundo Milare 10 além do principio do Desenvolvimento Sustentável também o principio da prevenção e do poluidor-pagador são informadores da conduta da população.
(...) sendo o meio ambiente um bem de uso comum do povo, insuscetível de apropriação por quem quer que seja, não bastava, para a sua eficaz tutela, apenas se erigir cada cidadão num fiscal da natureza, com poderes para provocar a iniciativa do Ministério Público, mas era de rigor assegurar-se o efetivo acesso ao Judiciário dos grupos sociais intermediários e do próprio cidadão em sua defesa.
Para Milare (2007) o acesso ao Judiciário se faz mediante o manuseio dos instrumentos legais, entre os quais atualmente se tem Ação Popular Ambiental, da Ação Civil Pública Ambiental, do Mandado de Segurança Coletivo Ambiental e Mandado de Injunção Ambiental.
10 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: a gestão ambiental em foco. 5 ed. ref., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 1073.
Lei nº. 9.605/98 e as sanções penais e administrativas
No âmbito da legislação ordinária, a Lei 9.605/98 instituiu a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Fundamentada no art. 225 §3°, que determina sanções penais e administrativas contra condutas e atividadesque visam lesar o patrimônio ambiental, contando com Delegacias de proteção e vigilância ao meio ambiente. A lei 9.605/98 impõe penas tanto a pessoas físicas quanto a pessoas jurídicas, que são graduadas segundo o grau de risco ou de gravidade do fato.
De acordo com o art. 2° da lei, o sujeito ativo do crime ambiental é quem executa ou determina a execução do ato tipificado como crime:
Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a este cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
Nesse sentido é o entendimento do Supremo Tribunal Federal, 2ª Turma Habeas Corpus 97.484, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 23-6-09, DJE de 7-8- 09:
“O art. 2º da Lei nº 9.605/98 prevê expressamente a responsabilidade do administrador da empresa que de qualquer forma concorre para a prática de crimes ambientais, ou, se omite para tentar evitá-los.”
Observa-se ainda, que os crimes ambientais também podem ser cometidos por omissão pelo diretor, administrador, membro do conselho e órgão técnico, auditor, gerente , preposto ou mandatário de pessoa jurídica que permitiram que o crime ocorresse, podendo agir para evitá-lo.
.	Assim, decidiu o Rel. Min. Gilmar Mendes, em Habeas Corpus	83.554 julgado em 16-8-05, DJ de 28-10-05:
“Habeas Corpus. Responsabilidade penal objetiva. Crime ambiental previsto no art. 2º da Lei n. 9.605/98. Evento danoso: vazamento em um oleoduto da Petrobrás. Ausência de nexo causal. Responsabilidade pelo dano ao meio ambiente não-atribuível diretamente ao dirigente da Petrobrás. Existência de instâncias gerenciais e de operação para fiscalizar o estado de conservação dos 14 mil quilômetros de oleodutos. Não-configuração de relação de causalidade entre o fato imputado e o suposto agente criminoso. Diferenças entre conduta dos dirigentes da empresa e atividades da própria empresa. Problema da assinalagmaticidade em uma sociedade de risco. Impossibilidade de se atribuir ao indivíduo e à pessoa jurídica os mesmos riscos”
As pessoas jurídicas são responsabilizadas administrativa, civil e penalmente nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade (Artigo 3º). Mas a responsabilização das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas autoras, co-autoras ou partícipes do fato delitivo.
As sanções incluem indenização ou condenação na restauração do que foi destruído e segundo o artigo 4º da Lei 9.605/98 a pessoa	jurídica pode sofrer desconsideração da personalidade jurídica de modo a alcançar o patrimônio dos sócios.
A gradação das penas se encontra nos artigos 7º e 8º que dispõem que são penas autônomas e substitutivas em relação às privativas de liberdade e são: prestação de serviços à comunidade; interdição temporária de direitos; suspensão parcial ou total de atividades; prestação pecuniária; recolhimento domiciliar.
Há previsão de condições atenuantes e agravantes. Entre as agravantes estão:
Lei 9.605/98. Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
- reincidência nos crimes de natureza ambiental; II - ter o agente cometido a infração:
para obter vantagem pecuniária;
coagindo outrem para a execução material da infração;
afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente;
concorrendo para danos à propriedade alheia;
atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso;
atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;
em período de defeso à fauna;
em domingos ou feriados;
à noite;
em épocas de seca ou inundações;
no interior do espaço territorial especialmente protegido;
com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;
mediante fraude ou abuso de confiança;
mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;
atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes;
facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.
Verifica-se que várias das situações que se encontram no Código Penal como agravantes se reproduzem na lei de proteção ambiental e são especialmente penalizados aqueles que possuem alguma ligação com o meio ambiente ou ocupa cargo na Administração Pública.
Quanto às penas restritivas de direito da pessoa jurídica estão: suspensão parcial ou total de atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. (Artigo 22, Lei 9.605/98).
De acordo com o artigo 26 da mesma Lei 9.605/98 a ação penal é publica incondicionada, o que significa que o Ministério Público (MP) pode agir independentemente de queixa.
Se for o crime de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade. (Artigo 27, Lei 9.605/98).
Os crimes descritos na Lei de proteção ambiental se dividem em: crimes contra a Fauna (Capitulo, V, Seção I, artigos 29 a 37), crimes contra a Flora (Capítulo V, Seção II, artigos 38 a 53), crime de poluição e outros crimes (Capitulo V, Seção III, artigos 54 a 61); crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural (Capitulo V, Seção IV, artigos 62 a 65), crimes contra a Administração Ambiental (Capitulo V, Seção V, artigos 66 a 69-A).
Alem desses crimes, a lei prevê ainda a infração administrativa ambiental que é toda ação ou omissão que viola as regras de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente (Lei 9.605/98, artigo 70). O auto de infração ambiental é de competência dos funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.
O auto de infração é obrigatório para a autoridade assim que ela tiver conhecimento de sua existência, e está obrigada a agir de imediato para apuração, mediante processo administrativo próprio. A inação ou postergação implica em responder o agente público pela co-responsabilidade.
Ação civil Pública
O legislador ao editar a Lei 7.347/85 que regula a ação civil pública para a tutela de interesses difusos, não deixou espaço para dúvidas e discussões a respeito da amplitude do conceito de meio ambiente. Dispõe o diploma legal que o meio ambiente se rege pelos dispositivos da lei e conta com a ação civil pública para a defesa, entre outros diplomas legais, do meio ambiente (inciso I) e de bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (inciso III), acrescentando, na seqüência, também, a proteção da ordem urbanística (Lei 10257/01).
Ação Popular
A lei 4.717/65, a Lei da Ação Popular é outro instrumento importante na defesa dos direitos difusos e no artigo 1º, dispõe que qualquer cidadão pode pleitear anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, Distrito Federal, Estados ou Municípios, além de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições oufundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.
No § 1º do mesmo artigo define o que seja o patrimônio público, in verbis:
Lei 4.747/65, Art. 1º. (...)
§ 1º Consideram-se patrimônio público para os fins referidos neste artigo, os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico.
Por fim, se quer incluir a tutela inibitória que também é uma forma de tutela ao meio ambiente de caráter preventivo. A tutela inibitória deve ser capaz de impedir eventos danosos ao meio ambiente, impedir a repetição do ilícito ou sua continuidade, sendo que ela se materializa em tipos diferentes de ação (de fazer ou não fazer).
Segundo Grisani (2006):
(...) para que seja possível uma tutela voltada contra o ato contrário ao Direito isso implicaria a quebra do dogma de que a única e verdadeira tutela contra o ilícito é a reparação do dano, ou a chamada tutela ressarcitória, ainda que na forma específica. Assim a tutela inibitória foi construída para
dar maior efetividade a situações em que se impõe a alguém uma obrigação de fazer ou não fazer, tutelando interesses difusos, em especial o meio ambiente, que não encontravam respostas satisfatórias para a sua efetividade na antiga relação estabelecida entre ilícito e dano. Na abordagem processual da tutela inibitória, analisou-se o procedimento de cognição plena e exauriente, complementado pelas sentenças da classificação trinária, concluindo-se que são absolutamente incapazes de propiciar uma tutela preventiva, adequada e tempestiva.11
Assim, a tutela que propõe é aquela que tenha fundamento no artigo 462 do CPC e no artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), e que deve ser mais acertadamente indicada como tutela inibitória antecipada ou tutela de remoção do ilícito antecipada.
O Mandado de Segurança Coletivo Ambiental é outro instrumento a disposição que a Constituição não estabeleceu diretamente, mas que se origina do Mandado de Segurança Coletivo previsto na Constituição no artigo 5º, inciso LXIX e LXX.12
Entenda-se que a Constituição estabeleceu o Mandado de Segurança Coletivo como fórmula geral que se aplica a situações várias.
O Mandado de Segurança é uma garantia tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas, órgãos com capacidade postulatória, ou universalidade reconhecida pela lei para proteção de direito liquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data e que tenha sofrido ou esteja na iminência de sofrer lesão por parte de autoridade ou abuso de poder; entendidas estas situações no caso do mandado de segurança coletivo ambiental como cometimento de atos ou omissões caracterizadas
11 GRISANI, André. Direito Ambiental: Tutela Inibitória. Monografia apresentada como requisito parcial de Conclusão de Curso para obtenção do grau de bacharel em direito, sob orientação da Prof. Gilmara Pesquero Fernandes Mohr Funes, Presidente Prudente, SP, 2006. Exemplar copiado.
12 CRFB, Art. 5º (...)
(...)
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público2;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
partido político com representação no Congresso Nacional;
organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados"3.
como ilegais, ou que sejam cometidas com abuso de autoridade.
O instrumento busca a reparação (que tem caráter repressivo) ou a preservação de interesses transindividuais (coletivos e difusos no caso).
Os legitimados a manusearem o MSCA – Mandado de Segurança Coletivo Ambiental são os partidos políticos com representação no Congresso Nacional, os Sindicados e Organizações sindicais, as entidades de classe e associações legalmente constituídas.
Enfim, o Mandado de Injunção Ambiental (CRFB, Art. 5º, LXXI e LXXVII) se trata de instrumento jurídico processual empregado para garantia do exercício de direitos pelos cidadãos em especial os direitos fundamentais e os direitos sociais.
A Lei nº. 8.038/90 indica a necessidade de edição de lei especifica para regular o Mandado de Injunção o que ainda não foi feito. No entanto, o Supremo Tribunal Federal – STF já pacificou o entendimento de que o disposto no artigo 5º, LXXI da CRFB seja auto-aplicável, portanto, independeria de lei especifica.
A importância deste instrumento é inequívoca uma vez que visa proteger o meio ambiente e amparar ações de desenvolvimento sustentável
CRIME AMBIENTAL E RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURIDICA
PREVISÃO CONSTITUCIONAL
A previsão do crime cometido por pessoa jurídica se encontra na parte da Constituição que trata da atividade econômica; e essa relação de imediato leva a conclusão que este tipo de delito possui conseqüências de ordem econômica e pode trazer prejuízo às empresas, dependendo da extensão do dano causado aos lesados e terceiros.
Esta perspectiva deve ser mais esclarecida, ou colocada em termos mais claros, pois se trata de saber quem é vitimado na hipótese do crime em tela. Será, portanto, imprescindível que a pesquisa se dedique logo de inicio a estabelecer o conceito de crime no contexto do artigo173, § 5º13, da CF.
O crime do artigo em comento foi uma das novidades contidas na Constituição de 1988 juntamente wcom a possibilidade de responsabilização da pessoa jurídica que além de estar contida no artigo 173, § 5º, está prevista no art. 225 §3.
Também se observa no artigo 225, §3º da CF, a possibilidade da responsabilização cumulativa (penal e administrativa) das atividades lesivas ao meio ambiente:
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
A Constituição ao tornar o meio ambiente um bem coletivo também introduziu
13 CF, Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
(...)
§ 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.
no problema do crime cometido por pessoa jurídica a necessária participação do Ministério Público como autor de processos em que o lesado é a sociedade.
O asseguramento desse direito incumbe desde o primeiro momento ao Poder Público a preservação e restauração dos processos ecológicos, o manejo ecológico das espécies e ecossistemas, a preservação da diversidade, a manutenção da integridade das áreas consideradas patrimônio genético do país, além do controle da produção, comercialização e emprego de técnicas ou substâncias que sejam de risco para o meio ambiente, entre muitas outras ações.
RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURIDICA. TEORIAS
A responsabilidade por crimes cometidos se ampliou na perspectiva da Constituição de 1988 e alcançou a pessoa jurídica como autor. Esta ampliação se encontra no artigo 173 §5º14 e incumbe ao Poder Público zelar pelas garantias e tutela dos direitos protegido da ação das pessoas jurídicas sobre a ordem econômica, financeira e contra a economia popular, além também dos danos ao meio ambiente (CF, Art. 225,§3º.).
Importa observar que a pessoa jurídica pode responder tanto no âmbito administrativo, quanto civil e penal. E neste trabalho importa destacar o último aspecto.
Outra observação importante é que se deve notar que a responsabilização da pessoa jurídica não exclui eventuais responsabilidades individuais se estão relacionadas ao crime. (Lei nº. 9.605.98, art. 3º, parágrafo único15)
15 Lei 9605/98. Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
Os dispositivos mencionados possuem ambos, natureza de norma de eficácia limitada, o que significa que mesmo estando a sua previsão constante da Carta Magna, há necessariamente que ser aprovada uma legislação infraconstitucional para tornar estas normas existentes no plano da aplicação de penalidades.
Atualmente se tem a Lei nº. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e que, portanto, reúne tanto a previsão do artigo 173, § 5º quanto a do artigo 225, § 5º 3º, da CF.
Na lei se observa também que há um rol de crimes previstos, contra a flora, crimes de poluição e outros crimes cometidos contra o meio ambiente, como a ocupação predatória, dificultar ou impedir o uso público de praias, lançar resíduos em desacordo com a lei, entre outros.
No exame da doutrina há duas teorias que se aplicam aos crimes cometidos por pessoas jurídicas. A primeira é a doutrina de Savigny que tem fundamento no Direito Romano e preconiza que a pessoa jurídica tem existência abstrata e não há como aplicar penas a ela, pois não há evidentemente vontade manifesta da pessoa jurídica, ou não se pode de outro modo dizer que a pessoa jurídica se conduz de uma forma ou outra. A teoria ficcional de Savigny determina uma interpretação que isenta a pessoa jurídica de responsabilidade penal. (Bittencourt, 1999)
De outro lado, há a teoria da personalidade real desenvolvida pelo alemão Otto Gierke, que indica que a pessoa jurídica é um ente real e possui vontade própria e que está representada pelo seu colegiado decisório. (Marques, 1998; Bittencourt, 1999)
Tem-se, portanto, uma divergência doutrinária em que pesa a impossibilidade de responsabilizar penalmente a pessoa jurídica, e que está fundada nos conceitos de ação e de culpabilidade dos entes coletivos.
De outro lado, e oposta à doutrina ficcional se tem a pessoa jurídica como ente autônomo e capaz de demonstrar sua vontade. Este ente autônomo é diferente da
personalidade dos seus participantes, de forma que permite a aplicação de sanção legal à pessoa jurídica com capacidade penal ativa para cometer atos delitivos e obter vantagens com isso.
PENALIZAÇÃO
Segundo Fernandes (2005) os maiores agressores o meio ambiente são realmente as empresas, que tem grande poder econômico e grande potencial destrutivo. Desta forma, justifica-se a responsabilização das pessoas jurídicas em virtude da magnitude do dano ambiental.
(...) o grande potencial destrutivo que podem causar; o que justifica a necessidade da penalização dessas pessoas, como dito devido ao potencial de destruição, ficaria impossível, para a pessoa física reparar tais estragos. Assim o ordenamento jurídico não pode deixar de punir penalmente (...) (FERNANDES, 2005, p. 457).
O Código Civil definiu no artigo 40 e seguintes as pessoas jurídicas, dividindo- as em pessoas jurídicas de direito público e de direito privado. As pessoas jurídicas de direito público por sua vez, podem ser internas ou externas.
As pessoas jurídicas de direito público interno são: a União, os Estados, Distrito Federal e Territórios, Municípios e as fundações, autarquias e empresas ligadas a Administração Indireta, inclusive associações públicas. As pessoas jurídicas de direito público externo são os Estados estrangeiros e todos aqueles que se regem pelo direito internacional público.
As pessoas jurídicas de direito privado estão elencadas no artigo 44 do Código Civil, a saber:
CC, Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações;
- as sociedades; III - as fundações.
IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos.
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.
Segundo ainda Ferreira (2005) a responsabilidade das pessoas jurídicas em nível internacional tem sido uma preocupação crescente.
A responsabilização da pessoa jurídica vem sendo adotada em diversos países, signatários do sistema common law, como Inglaterra, Estados Unidos e Canadá. Em alguns outros países, somente a pessoa jurídica de direito privado pode ser responsabilizada penalmente, resguardando as de direito público. Em diversos países, vem se tentando instituir e regulamentar responsabilização da pessoa jurídica como, conforme podemos vislumbrar nas palavras de Vladimir Passos de Freitas e Gilberto Passos de Freitas. (FERNANDES, 2005, p. 453)
Fernandes (2005) cita que na Venezuela, a Lei Penal do Ambiente, publicada no Diário Oficial 4.358, de 03.01.1992, admitiu a inovação. No entanto, colocou tantos obstáculos no art. 3º, que a lei não foi jamais aplicada. Da mesma forma na França a reforma do Código Penal se realizou através da Lei de Adaptação de 16.12.1994, introduziu a responsabilidade penal da pessoa moral no art. 121-2. Enquanto na Colômbia a Corte Constitucional em apreciação ao veto do presidente da República rejeitou a reforma do Código Penal que possibilitaria a criminalização da pessoa jurídica. Assim, a Constituição na Colômbia não prevê a responsabilidade da pessoa jurídica na ordem penal.
4.3.1. O caso da União Européia
O Conselho da União Européia preocupado com o aumento das infrações contra o ambiente adotou a Decisão-Quadro 2003/80/JAI, em 27 de janeiro de 2003.
Essa DQ define várias infrações ambientais, estipula sanções que foram discutidas com os Estados-Membros convidados.
A Comissão das Comunidades Européias, representada por J.F. Pasquier e W. Bogensberger, em 15 de abril de 2003 impetrou recurso de anulação da referia medida, requerendo ao Tribunal a declaração de ilegalidade da DQ 2003/80/JAI, além da condenação do Conselho da União Européia nas despesas processuais.
É importante ressaltar que a Comissão das Comunidades Européias apoiou e apóia a iniciativa do Conselho – tanto que apresentou proposta de diretiva sobre o assunto, que hoje está aprovada.
Entretanto, contesta a base jurídica utilizada, a saber, os artigos 29, 31, n. 1,
“e” e 34, n. 2, “b”, do Tratado da União Européia.
Para a Comissão, o Conselho deveria utilizar-se sim do Tratado da Comunidade Européia, artigo 17516, elaborando uma diretiva.
16 Tce, Artigo 175 º
O Conselho, deliberando nos termos do artigo 251.o e após consulta ao Comitê Econômico e Social e ao Comitê das Regiões, estabelece as ações a empreender pela Comunidade para realizar os objetivos previstos no artigo 174.o.
Em derrogação do processo de decisão previsto no n.o 1 e sem prejuízo do disposto no artigo 95.o, o Conselho, deliberando por unanimidade, sob proposta da Comissão e após consulta ao Parlamento Europeu, ao Comitê Econômico e Social e ao Comitê das Regiões, adota:
Disposições de natureza essencialmente fiscal;
As medidas que afetem:
o ordenamento do território,
a gestão quantitativa dos recursos hídricos ou que digam respeito, direta ou indiretamente, à disponibilidade desses recursos,
a afetação dos solos, com exceção da gestão dos lixos;
As medidas que afetem consideravelmente a escolha de um Estado-Membro entre diferentes fontes de energia e a estrutura geral do seu aprovisionamento energético.
O Conselho, deliberandonas condições previstas no primeiro parágrafo, pode definir quais os domínios referidos no presente número que devem ser objeto de decisões a tomar por maioria qualificada.
Noutros domínios, o Conselho, deliberando nos termos do artigo 251.o, e após consulta ao Comitê Econômico e Social e ao Comitê das Regiões, adota programas gerais de ação que fixam os objetivos prioritários a atingir.
O Conselho, deliberando nas condições previstas no n.o 1 ou no n.o 2, consoante o caso, adota as medidas necessárias para a execução desses programas.
Sem prejuízo de certas medidas de caráter comunitário, os Estados-Membros asseguram o financiamento e a execução da política em matéria de ambiente.
Sem prejuízo do princípio do poluidor–pagador, nos casos em que uma medida adotada nos termos do n.o 1
implique custos considerados desproporcionados para as autoridades públicas de um Estado-Membro, o Conselho prevê, no ato de adoção dessa medida, as disposições adequadas sob a forma de:
derrogações de caráter temporário, e/ou
A Comissão entendeu que o legislador comunitário, somente a título do artigo 175 do Tratado da Comunidade Européia seja competente para impor aos Estados- Membros a obrigação de preverem sanções penais para infrações à regulamentação comunitária, em matéria de proteção do ambiente, se e quando esse meio for necessário para garantir a eficácia dessa regulamentação.
Por outro lado, resumidamente, o Conselho alega que, no estado atual do direito, a Comunidade não tem competência para obrigar os Estados-Membros a sancionar penalmente os comportamentos referidos na decisão-quadro.
O acórdão, lavrado em 13 de setembro de 2005, em sede de recurso de anulação entendeu que deveria ser anulada a DQ 2003/80/JAI em função da competência, dado que a sua adoção invadiria a esfera da Comunidade Européia.
Anulando-se a DQ, a competência volta a ser regulada pelo artigo 175 do Tce17, passando, assim, o Conselho a se colocar na posição de decidir sobre ações
um apoio financeiro proveniente do Fundo de Coesão criado nos termos do artigo 161.o.
17 Tce, Artigo 175 º
O Conselho, deliberando nos termos do artigo 251.o e após consulta ao Comitê Econômico e Social e ao Comitê das Regiões, estabelece as ações a empreender pela Comunidade para realizar os objetivos previstos no artigo 174.o.
Em derrogação do processo de decisão previsto no n.o 1 e sem prejuízo do disposto no artigo 95.o, o Conselho, deliberando por unanimidade, sob proposta da Comissão e após consulta ao Parlamento Europeu, ao Comitê Econômico e Social e ao Comitê das Regiões, adota:
Disposições de natureza essencialmente fiscal;
As medidas que afetem:
o ordenamento do território,
a gestão quantitativa dos recursos hídricos ou que digam respeito, direta ou indiretamente, à disponibilidade desses recursos,
a afetação dos solos, com exceção da gestão dos lixos;
As medidas que afetem consideravelmente a escolha de um Estado-Membro entre diferentes fontes de energia e a estrutura geral do seu aprovisionamento energético.
O Conselho, deliberando nas condições previstas no primeiro parágrafo, pode definir quais os domínios referidos no presente número que devem ser objeto de decisões a tomar por maioria qualificada.
Em outros domínios, o Conselho, deliberando nos termos do artigo 251.o, e após consulta ao Comitê Econômico e Social e ao Comitê das Regiões, adota programas gerais de ação que fixam os objetivos prioritários a atingir.
O Conselho, deliberando nas condições previstas no n.o 1 ou no n.o 2, consoante o caso, adota as medidas necessárias para a execução desses programas.
Sem prejuízo de certas medidas de caráter comunitário, os Estados-Membros asseguram o financiamento e a execução da política em matéria de ambiente.
Sem prejuízo do princípio do poluidor–pagador, nos casos em que uma medida adotada nos termos do n.o 1
implique custos considerados desproporcionados para as autoridades públicas de um Estado-Membro, o Conselho prevê, no ato de adoção dessa medida, as disposições adequadas sob a forma de:
sobre a CE no que respeita aos objetivos do artigo 174º do Tce18, dado que dispõe ainda o Tce em seu artigo 176º que qualquer medida tomada pelo Estado-membro deverá ser notificada a Comissão.19
O debate em relação às conseqüências da decisão do Conselho coloca em jogo duas diferentes teses: de um lado aqueles que afirmam que a anulação da DQ coloca em risco a posição dos Estados-membros, vez que determinaria o poder punitivo exclusivamente a CE, afetando, assim, a soberania estatal. De outro lado os que defendem que a questão da proteção máxima implica em adotar a posição da CE como centro desse poder punitivo.
Por um lado, tem-se a tese da Comissão que prega que a criação de sanções
penais em matéria ambiental compete à Comunidade e não aos Estados-Membros, isto é, adotando esta idéia, os Estados-Membros perdem a competência nesta matéria e saem fortemente diminuídos, soberanamente raciocinando.
derrogações de caráter temporário, e/ou
um apoio financeiro proveniente do Fundo de Coesão criado nos termos do artigo 161.o.
18 Tce, Artigo 174º
A política da Comunidade no domínio do ambiente contribui para a prossecução dos seguintes objetivos:
a preservação, a proteção e a melhoria da qualidade do ambiente,
a proteção da saúde das pessoas,
a utilização prudente e racional dos recursos naturais,
a promoção, no plano internacional, de medidas destinadas a enfrentar os problemas regionais ou mundiais do ambiente.
A política da Comunidade no domínio do ambiente tem por objetivo atingir um nível de proteção elevado, tendo em conta a diversidade das situações existentes nas diferentes regiões da Comunidade. Baseia–se nos princípios da precaução e da ação preventiva, no princípio da correção, prioritariamente na fonte, dos danos
causados ao ambiente e no princípio do poluidor-pagador.
19 Artigo 176.o
As medidas de proteção adotadas por força do artigo 175.o não obstam a que cada Estado- membro mantenha ou introduza medidas de proteção reforçadas. Essas medidas devem ser compatíveis com o presente Tratado e são notificadas à Comissão.
De outro lado tem-se a tese Conselho, mais conveniente aos Estados- Membros, mas, todavia, menos rígida ao se por em causa a harmonização do direito. Como muito bem frisa a Comissão ao explicar que “a escolha da base jurídica é importante devido às particularidades institucionais do Título VI do Tratado da União que, entre outras, não prevê o equivalente ao processo de incumprimento”, ou seja, caso não haja cumprimento da decisão-quadro, não há meios legais de se exigir de outro Estado o cumprimento de efetiva medida, como preconiza, em sendo adotada uma diretiva – através do artigo 175 do Tratado da Comunidade Européia –, o artigo 226 do Tratado da Comunidade Européia.
Em suma, partindo-se de um ponto garantidor de direitos, a forma “correta” seria atribuir a competência à Comunidade, mas isso traz a conseqüência de perda de soberania, algo, evidentemente, não desejável aos Estados-Membros.
Não há meios legais de exigir-se que os Estados cumpram a medida a não ser reconhecendo a competência da Comunidade Européia, e impondo sanções.
De outro lado, a soberania resta afetada no caso de prosperar a decisão do Conselho. A imposição aos Estados tornaria possível a retaliação e a inoperância da norma.
Mas, considerando os inúmeros e graves problemas ambientais existentes, a imposição de sanções não pode ser descartada, dado que as relações internacionais e os contornos da soberania estão implicados de modo direto nas infrações ao ambiente. Assim, a adoção de uma norma coercitiva pode ser vista como um recurso a mais na luta para defesa do meio ambiente, mas também não há garantias de seu efetivo alcance no sentido de impedir as destruições.
O que se pode considerar ao cabo é que a Comissão adota o que no direito há de ser acolhido, ou seja, que devido às particularidades institucionais do Tratado da União não há que se agasalhar o descumprimentodo que foi acordado entre os Estados-membros, sob pena de se proceder de modo parcial, e deixar aos Estados o cumprimento ou não do que foi acordado na DQ 2003/80/JAI.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A responsabilidade penal a pessoa jurídica tem sido uma preocupação no mundo todo em função do crescimento dos riscos que são reais e que aumentam em ritmo acelerado.
Sem um planejamento global que seja possível e viável a curto prazo, todas as nações agindo politicamente não tem conseguido encontrar meios mais eficientes de conter o dano que vem sendo perpetrado contra o meio ambiente.
As pessoas jurídicas são, indiscutivelmente os maiores agressores e tem também a maior parte da responsabilidade no que se refere a reparação dos danos, em virtude de seu poder econômico.
No entanto, a verdade é que há muita pressão e lobby junto aos governantes e políticos e a responsabilização penal tem sido evitada, minimizada ou mesmo deixada de lado.
Sabe-se, é certo, que apenas o ressarcimento dos danos não tem sido capaz de fazer frente a destruição. Além disso, há claramente uma diferença capital entre dano e crime ambiental, que as legislações não tem conseguido deixar claro.
Sendo assim, entende-se que o tema deve ser aberto e mais bem explorado com o andamento dos problemas, e com a aceleração da degradação ambiental.
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