Buscar

Coleções Taxonômicas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Fernando A. Silveira – Introdução à Sistemática Biológica 
15/06/12 
 
Coleções Taxonômicas 
 
Definição 
Coleções taxonômicas são conjuntos de espécimes mortos (ou partes de espécimes 
ou produtos resultantes de suas atividades – ninhos, pegadas etc), devidamente 
preservados e documentados. 
 
Funções 
As coleções taxonômicas são registros da variação morfológica, geográfica e temporal 
dos organismos, constituindo a fonte básica de informação para os trabalhos de 
taxonomia e biogeografia. Além disto, elas são importantíssimas como depositárias de 
espécimes testemunhos de pesquisas taxonômicas e de outros campos da biologia. Elas 
garantem, desta forma, que se possa checar os exemplares estudados por outros 
autores previamente, mantendo a acuidade e atualidade das associações entre 
conhecimento biológico e os nomes dos organismos envolvidos. 
 
Tipos de Coleções. 
Grandes coleções gerais. Procuram abrigar espécimes de um grande número de 
táxons, representando as biotas de grandes regiões ou de todo o mundo. Em geral, estas 
coleções encontram-se nos grandes museus de história natural ou grandes 
universidades. 
Coleções regionais. Procuram representar a biota de uma dada região política ou 
biogeográfica. Embora possuam acervo limitado quanto à representação geográfica, 
freqüentemente abrigam importantes séries de elementos endêmicos, muitas vezes 
raros em outras coleções. Normalmente se encontram em universidades, institutos de 
pesquisa e museus estaduais de história natural. 
Coleções sinópticas ou de referência. Não têm o objetivo de guardar grandes séries 
representativas de toda a diversidade geográfica das espécies. Sua finalidade é servir de 
apoio ao trabalho de identificação. Os espécimes são empregados para comparação com 
outros exemplares que se pretende identificar, normalmente para se confirmar a 
identificação obtida com o emprego de chaves. Normalmente se encontram em 
laboratórios ou instituições de pesquisa. 
 
As coleções taxonômicas não devem ser confundidas com, nem utilizadas como 
mostruário para o público leigo ou coleções didáticas. Estas cumprem outras finalidades, 
devem ter outra organização e estarem sujeitas a diferentes normas de uso. 
Coleções taxonômicas podem ser institucionais (públicas ou privadas) ou 
pertencerem a particulares. As coleções particulares, normalmente, restringem-se a um 
ou poucos grupos taxonômicos. Freqüentemente, essas coleções podem se tornar muito 
importantes, reunindo, em seu acervo, exemplares de espécies raras ou de áreas pouco 
representadas nas coleções públicas. Elas normalmente são doadas ou vendidas a 
instituições públicas, contribuindo, dessa forma, para o enriquecimento do patrimônio 
científico das mesmas. 
Fernando A. Silveira – Introdução à Sistemática Biológica 
15/06/12 
 
Coleções particulares são eticamente inaceitáveis quando mantidas por indivíduos 
empregados nas coleções públicas, uma vez que, neste caso, interesses público e 
particular freqüentemente estarão em conflito. 
Atualmente, no Brasil, sua existência está virtualmente fora da lei, já que as licenças 
para coleta de espécimes da fauna e flora nativas só podem ser fornecidas a 
pesquisadores associados a instituições de pesquisa e/ou ensino superior, devidamente 
reconhecidas. 
 
O Acervo 
As coleções taxonômicas são como bibliotecas nos seus objetivos, funções e 
organização: devem ser cuidadas de forma a preservar indefinidamente seu acervo; 
devem ser organizadas de forma a facilitar a localização e utilização de seus espécimes e 
deve facilitar o acesso ao seu acervo das pessoas qualificadas a utilizá-lo. O conjunto de 
atividades relacionadas à obtenção, manutenção, identificação e organização dos 
espécimes no acervo é chamado de curadoria. Essas atividades, dependendo do 
tamanho e recursos da instituição mantenedora das coleções, são executadas por ou sob 
a supervisão de curadores. 
 
Obtenção de material. Uma boa coleção taxonômica deve abrigar boas séries 
taxonômicas. Séries taxonômicas são representações da diversidade de cada espécie ou 
população que se acredita existir na natureza. Elas devem, idealmente, incluir a variação 
local, geográfica e temporal. 
Para que uma coleção mantenha seu valor para a pesquisa científica, é necessário que 
seu acervo esteja sendo sempre enriquecido com a adição de novos exemplares ou 
séries. Existem três formas básicas de fazer isto: 
1. Expedições de coleta. São viagens programadas a determinados locais ou regiões 
com a finalidade específica de se coligir material para a coleção. Podem durar de 
um dia a meses. Normalmente são dirigidas a áreas pouco exploradas 
previamente. 
2. Permuta. É uma prática freqüente entre coleções. Normalmente, envolve a troca 
de duplicatas ou exemplares de grandes séries. É uma forma relativamente barata 
de se enriquecer o acervo de uma coleção. Às vezes é conveniente se manter 
disponível uma coleção paralela de exemplares não tombados (retirados de 
grandes séries) para permutas. 
3. Retenção. É uma prática comum. Mediante aquiescência prévia, um taxonomista 
retém na coleção de sua instituição parte dos exemplares recebidos de outras 
instituições ou pesquisadores para identificação. 
4. Doações e depósitos de material testemunho. As coleções podem receber doação 
de material de coleções privadas. Mais freqüente, é o depósito de exemplares 
testemunhos de pesquisas em outras áreas da biologia e ciências correlatas 
(ecologia, parasitologia, agronomia etc). Especialmente importantes, 
recentemente, tem sido o material testemunho dos Estudos de Impacto Ambiental 
que, por lei, deve ser depositado em coleções públicas. Este material é 
especialmente interessante porque frequentemente é coletado em: a) áreas 
Fernando A. Silveira – Introdução à Sistemática Biológica 
15/06/12 
 
pertencentes a grandes empresas privadas, a que o acesso de pesquisadores é 
normalmente restrito; b) áreas remotas, de difícil acesso, e, portanto, pouco 
amostradas; e c) áreas que vão ser destruídas ou fortemente impactadas por 
grandes empreendimentos econômicos (neste caso, as amostras coletadas nos 
EIAs representam a última possibilidade de se conhecer a fauna original dessas 
áreas). 
 
Registro do acervo. A utilidade de uma coleção é proporcional à facilidade com que é 
possível localizar em seu acervo o material que se deseja estudar. Um fator 
determinante da facilidade de acesso aos exemplares é a forma com que eles são 
registrados ao serem incluídos na coleção. 
Na realidade, o cuidado com isto já deve começar no campo. Todo coletor deve ter 
um caderno de campo, em que são lançados, no momento das coletas, todos os dados 
relevantes sobre os organismos (ou lotes de organismos) capturados. São informações 
importantes: localidade (município, estado, país), local específico (nome da fazenda, 
reserva, serra, lugarejo – preferencialmente acompanhado de coordenadas geográficas), 
data de coleta e nome do coletor. Outros dados relevantes são detalhes do habitat e 
comportamento do organismo que possam facilitar o encontro daquela população por 
futuros pesquisadores (margem de rio; sob rochas; na serapilheira, em campo rupestre 
etc.). 
Estas informações têm de ser, de alguma forma, associadas aos espécimes, ainda no 
campo. Exsicatas de plantas ou exemplares de animais de porte médio a grande podem 
receber etiquetas contendo estas informações ou números de acesso a ela nos cadernos 
de campo. 
Ao se incluírem os exemplares na coleção, essas informações são transferidas para 
um livro de tombo. Nele, são atribuídos um número de coleção a cada lote ou exemplar 
e transcritos os dados de procedência. 
O acesso às informações contidas nos livros de tombo e cadernos de campo muitas 
vezes era facilitado por fichários organizados por espécie, por região geográfica, em 
casos especiais,por hospedeiro etc. Atualmente, há uma tendência a se substituir os 
livros de tombo e fichários por bancos de dados computadorizados. Estes bancos de 
dados, acoplados a sistemas de informação geográfica, potencialmente podem agilizar 
muito a inclusão e recuperação de dados sobre o acervo de uma coleção. Vários desses 
sistemas têm sido desenvolvidos mas sua utilização vem sendo implementada apenas 
lentamente. 
 
Organização. A organização dos exemplares nas coleções obedece a diferentes 
critérios que variam com o grupo taxonômico e a instituição. Em algumas coleções, 
tenta-se dispor as espécies e táxons supra-específicos de acordo com suas afinidades 
filogenéticas. Há dois inconvenientes nesta prática – (1) nosso entendimento das 
relações filogenéticas muda constantemente (e tem mudado muito rapidamente na 
atualidade). Além disto, freqüentemente, há mais de uma hipótese filogenética sendo 
advogada por diferentes taxonomistas em um dado momento. Desta forma, para buscar 
exemplares em várias coleções, o usuário teria que conhecer bem várias destas 
Fernando A. Silveira – Introdução à Sistemática Biológica 
15/06/12 
 
hipóteses para encontrar o material de que ele necessita; (2) as relações filogenéticas 
constituem uma estrutura ramificada e não linear, como é o arranjo das prateleiras e 
gavetas de uma coleção. Assim, as relações filogenéticas nunca podem ser 
representadas fielmente nos armários de uma sala. 
 
Utilização do material. O acervo das coleções taxonômicas é a ferramenta básica de 
trabalho para os pesquisadores das instituições que as mantém. O primeiro passo de 
qualquer trabalho taxonômico é o estudo do acervo da coleção a que o taxonomista está 
associado. Entretanto, nenhuma coleção tem um acervo suficientemente completo de 
um táxon para possibilitar que um trabalho taxonômico abrangente seja executado só 
com base nos exemplares que ela abriga. Por isto, os sistematas estão constantemente 
consultando os acervos de coleções de instituições diversas, freqüentemente em vários 
países. Esta consulta pode se dar em visitas programadas previamente com os curadores 
das coleções a serem estudadas. É comum, também, que exemplares de uma coleção 
sejam emprestados a pesquisadores de outras instituições, o que é uma prática que 
beneficia a própria instituição, já que esta recebe de volta o material emprestado 
organizado e identificado por um especialista do grupo. Em grupos pequenos, em que o 
material preservado não é muito pesado, nem acondicionado em recipientes frágeis, 
como frascos de vidro, o material emprestado freqüentemente é enviado e retornado 
por correio. Esta é uma prática muito comum nas coleções de plantas e insetos, por 
exemplo. Atualmente, é possível acessar informações básicas sobre o acervo de várias 
coleções pela internet. Há um grande esforço por parte de um grande número de 
museus e herbários para informatizar suas coleções, para facilitar esse acesso. A 
informatização permite, ainda, um melhor controle sobre o acervo das coleções por 
parte de seus curadores. 
 
Identificação do material. Para que a organização da coleção se mantenha é 
necessário que o material incorporado ao seu acervo seja identificado. Esta identificação 
pode ser feita, pelo menos em parte, pelos próprios pesquisadores/curadores da coleção 
ou por pesquisadores convidados. A identificação de partes do acervo é obtida, também, 
quando os exemplares são emprestados/disponibilizados para estudo por pesquisadores 
de outras instituições. Assim, por exemplo, alguém envolvido na revisão das espécies de 
um gênero que tenha acesso ao material de uma instituição, retribuirá com a 
identificação confiável do material examinado. 
 
Preservação dos espécimes. Como posto acima, exemplares são depositados em 
coleções na expectativa que permanecerão disponíveis para estudo indefinidamente 
para as gerações futuras. Para que este objetivo seja alcançado, é preciso que eles sejam 
convenientemente preservados, sendo mantidos em ambiente apropriado e protegido. 
Os principais agentes deterioradores dos acervos são a luz, o calor e (no caso de coleções 
preservadas a seco) umidade. A incidência da luz diretamente sobre os espécimes 
provoca o seu descoramento progressivo, devido à destruição de pigmentos. O calor e a 
umidade, por sua vez, aceleram as reações químicas envolvidas na deterioração dos 
Fernando A. Silveira – Introdução à Sistemática Biológica 
15/06/12 
 
espécimes. Além desta ação direta, calor e umidade favorecem a proliferação de 
organismos daninhos, principalmente fungos e insetos. 
Por tudo isto, os exemplares de uma coleção devem ser mantidos em ambiente 
protegido da luz (preferencialmente sem janelas), onde temperatura e umidade possam 
ser controladas (através de equipamentos como condicionadores e desumidificadores de 
ar). É responsabilidade dos curadores e daqueles que trabalham sob sua supervisão 
vistoriar constantemente o acervo em busca de sinais de ataque por organismos 
daninhos. Sempre que esses sinais forem encontrados, os exemplares sob ataque devem 
ser isolados e tratados. 
Graças aos bons cuidados recebidos, exemplares coletados e/ou examinados por 
grandes cientistas do passado como Charles Darwin (há cerca de 150 anos) e Lineu (há 
mais de 250 anos) continuam disponíveis para estudo e, provavelmente, continuarão a 
sê-lo por séculos no futuro. 
 
__________________________________

Outros materiais