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CENTRO UNIVERSITÁRIO FIAM FAAM ARQUITETURA E URBANISMO CAIQUE FAQUINETTI GUYLHERME HENRIQUE JENIFER DOMINGUES SERGIO RODRIGUES TRANSFORMAÇÕES DAS VILAS OPERÁRIAS: UM ESTUDO SOBRE A INDUSTRIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO URBANO São Paulo 2016 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO FIAM FAAM ARQUITETURA E URBANISMO CAIQUE FAQUINETTI GUYLHERME HENRIQUE JENIFER DOMINGUES SERGIO RODRIGUES TRANSFORMAÇÕES DAS VILAS OPERÁRIAS: UM ESTUDO SOBRE A INDUSTRIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO URBANO Trabalho da disciplina de Laboratório de Arquitetura e Urbanismo no curso de Arquitetura e Urbanismo da instituição Centro Universitário Fiam Faam. Orientadoras: Maria Albertina Jorge Carvalho e Carolina Fidalgo. São Paulo 2016 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................. 4 1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO SURGIMENTO DAS VILAS OPERÁRIAS NO SÉCULO XIX .................................................................................... 5 2. RAZÕES DA CRIAÇÃO DA VILA MARIA ZÉLIA ..................................... 8 2.1 O VALOR DO OPERÁRIO ....................................................................... 9 2.2 JORGE STREET, DE MÉDICO Á INDUSTRIAL REVOLUCIONÁRIO ... 10 3 A CONCEPÇÃO URBANA DA VILA E SUAS CARACTERÍSTICAS ............. 11 4 UNIDADES HABITACIONAIS NA VILA ........................................................ 13 4.1 EDIFICAÇÕES DA VILA MARIA ZÉLIA ................................................. 13 CONCLUSÃO .................................................................................................. 15 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 16 4 INTRODUÇÃO Este trabalho visa fornecer um panorama de diferentes visões sobre vilas operárias em São Paulo, como a Vila Maria Zélia, que pode ser considerada a vila operária mais famosa de São Paulo através de um completo histórico que aborda os motivos de seu surgimento e outros aspectos da década de 1930. O tema é desenvolvido de acordo com 4 tópicos que abrangem os aspectos históricos,culturais,urbanísticos e construtivos das vilas e de como era a moradia social durante esse período. A primeira parte faz referência a questões econômicas, sociais e políticas de São Paulo no período do final de século XIX até a segunda década do século XX. A segunda parte se concentra nas razões da criação da vila operária. A terceira e quarta parte dedicam-se a apresentar um panorama sobre a morfologia urbana e como se relaciona com o desenho urbano do entorno e as tipologias e sistemas construtivos das unidades projetadas. Utilizamos imagens e tabelas para exemplificar os aspectos relacionados à vila estudada. A pesquisa foi feita a partir de livros e buscou apresentar o que de fato eram as vilas operárias e a ideia de moradia para os proprietários e, de outro lado, para os operários. Após a visita a essas vilas nos demos conta de como a história de nossa cidade é rica e como ela foi desenhada no campo arquitetônico e urbanístico. Com a ajuda de textos reflexivos sobre a relação empregado-fábrica, vida do trabalhador, mudanças na cidade, a concepção urbana na vila e razões de seu surgimento pretendemos analisar e exemplificar o que foi esse período de extrema importância na cidade de São Paulo. 5 1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO SURGIMENTO DAS VILAS OPERÁRIAS NO SÉCULO XIX Transformações econômicas e sociais colaboraram com a industrialização e com o desenvolvimento urbano acelerado nas décadas finais do século 19. O mercado do café se expande. Devido a proibição do tráfico de escravos, vemos o aparecimento de imigrantes que serão a mão de obra assalariada. O foco do processo de imigração foi garantir trabalhadores para a cafeicultura, o que apresentou aumento considerável na população. É nesse período também que percebemos que morar e trabalhar são dimensões diretamente conectadas ao capitalismo. Tabela referente ao crescimento populacional do munícipio de São Paulo de 1836 até 1980. (Fonte: BLAY,Eva Alterman. Eu não tenho onde morar: vilas operárias na cidade de São Paulo.) Durante esse processo a população paulistana era caracterizada basicamente por operários, no caso imigrantes e a forma dominante de morar da população era a casa de aluguel. Após 1930 houve também um êxodo rural (migração do campo por seus habitantes, que partem em busca de melhores condições de vida), devido à crise do café e que conforme podemos observar no gráfico acima houve um aumento populacional. A problemática habitação da época eram as más condições de moradias, sendo assim as indústrias passam a fornecer casas para os operários. As empresas passam a entender que podiam aumentar a economia não só trazendo os estrangeiros como 0 2000000 4000000 6000000 8000000 10000000 1 8 3 6 1 8 7 2 1 8 8 6 1 8 9 0 1 9 0 0 1 9 2 0 1 9 3 4 1 9 4 0 1 9 5 0 1 9 6 0 1 9 7 0 1 9 8 0 P O P U LA Ç Ã O ANO CRESIMENTO POPULACIONAL DO MUNÍCIPIO DE SÃO PAULO DE 1836 A 1980 ANO POPULAÇÃO 6 utilizando os terrenos para lucros imobiliários, assim começam a surgir as vilas operárias. As fábricas localizam-se em bairros centrais como: Santa Efigênia,Brás,Mooca,Sé,Consolação,Luz,Belém e Bom Retiro. Originalmente essas vilas são construídas pelas próprias indústrias ou são compradas já prontas. O surgimento, no cenário urbano, das vilas operárias é parte do processo de industrialização e constitui etapa da formação do operariado. (BLAY,Eva Alterman,1980, p.146). No caso da Vila Maria Zélia que sempre esteve próximo ao Rio Tietê podemos observar que o desenvolvimento era como o de um feudo, onde a renda era concedida por um senhor a um vassalo em troca de serviços e onde a vila se isola dentro da cidade, ou podemos fazer uma ligação entre vilas e senzalas, uma vez que o proprietário destinava parte de sua construção para a senzala, onde ele mantinha e protegia sua mercadoria. Segundo Eva Blay (1985, p. 167) “Embora se possa afirmar que a vila é um modo de atrair a força de trabalho, garantir a permanência de um certo contingente e de ter à disposição um trabalhador qualificado 24 horas do dia, sob este prisma, a casa aparece como fator de reforço da dominação estabelecida entre a fábrica e o empregado”. Sendo assim a moradia representa uma forma de reduzir o salário, aumentar a acumulação de riquezas e induzir o trabalhador a permanecer no emprego. Umas das forças políticas importantes da época foi o anarquismo que lutou para a melhoria das condições de trabalho dos operários no século XIX. Nesse período de falta de moradia podemos notar a ausência de infraestrutura, segurança do imóvel, incêndio e nas ruas temos o acúmulo de lixo e condições péssimas de higiene. Assim começam a surgir os cortiços que se tornam uma das habitações mais comuns na época (casa que serve de habitação coletiva para a população pobre; casa de cômodos). Esses cortiços e vilas operárias ficavam próximas as fábricas, enquanto os donos das fábricas e a parte da elite cafeeira se localizava na parte alta, que atualmente é Avenida Paulista e Jardins. Os cortiços aparecem em um período onde há muitoshabitantes em São Paulo e isso exige moradias de baixo custo, podemos dizer então que é um período de produção rentista da habitação. Haviam quatro tipos de moradias:hotel-cortiço,casas de cômodos,cortiços improvisados e cortiços-pátio.(Bonduki,Nabil,1985,p.24-25). O grande problema desses cortiços eram a falta de ventilação e a umidade e devido à falta de saneamento temos uma grande epidemia de cólera e febre amarela, o que faz com que os higienistas passem a atuar nessas áreas para conter os surtos. 7 Naquele período estabeleceram-se três tipos de ação: as normas legais,a realização das redes de água/esgoto e saneamento e controle efetivo das edificações.O modelo desejado para “habitação operária higiênica” é a Vila Operária, baseada na casa unifamiliar, que ganhou incentivo fiscal e passou a ser disseminada por São Paulo. 8 2. RAZÕES DA CRIAÇÃO DA VILA MARIA ZÉLIA Com a crescente industrialização paulistana no início do século XX, O cenário urbano havia mudado, a movimentação de capital e crédito, a mão-de-obra estrangeira, o transporte ferroviário e a expansão do comércio do café, foram os requisitos para a criação da indústria manufatureira. Que foi responsável pela geração do trabalhador urbano, o operário. São Paulo já não era mais a mesma, a população crescia, e o problema habitacional crescia na mesma proporção. O sonho da classe operaria era de se ter um lugar para morar que vinha de encontro com o ideal progressista de Jorge Street, que acabou por construir a Vila Operária Maria Zélia, na região do Belenzinho, na rua dos Prazeres, próxima a Celso Garcia, (Importante eixo viário para a região leste da cidade, na época.), e do Rio Tietê. Um ótimo local para a construção de sua fábrica e vila, que abrigou cerca de dois mil e cem funcionários de sua fábrica. A vila, em pouco tempo tornou-se um referencial para as demais, podemos tomar como referência as próprias palavras de Street, publicadas na Revista Legislação do Trabalho, em junho de 1937: A vila nasceu a partir de um ideal higienista, vivido naquela época, praticado apenas entre as classes mais favorecidas. As cerca de 200 residências unifamiliares, faziam uso de água encanada e energia elétrica, além de todas elas serem projetadas no objetivo de receberem durante o dia, a luz do sol, abrindo as janelas nas ruas travessas. Na busca da solução de problemas como salubridade, no qual eram recorrentes em cortiços da época, na qual seus funcionários moravam anteriormente. “[...] Trabalhei sempre no número dos industriais que não se limitaram a dirigir dos seus escritórios o movimento dos seus negócios, mas que tinham especial prazer em manter com os operários íntimo contato na sua vida de trabalho. Esse prazer aliava- se a um sentimento íntimo e instintivo de dever, que me fazia visitar diariamente as fábricas, percorrendo todas as suas seções e assistindo mesmo muitas e muitas vezes a entrada e a saída dos operários. Tive, como é natural em tais condições, ocasião de os ver também nas suas tristes moradas. A impressão que dessas visitas trazia era desoladora, tal a promiscuidade e as condições moral e higienicamente inadmissíveis que em geral ali existiam. Nasceu daí a minha tentativa de procurar dar aos que comigo trabalhassem condições melhores de existência. [...] Resolvi pois tomar pessoalmente a direção da organização a vir e que aos meus olhos não ia constituir nenhuma obra de caridade, mas sim uma obra de justiça e de direito social.” 9 Figura 1 - Rua 6, Vila Maria Zélia ( Fonte: Lembrança Villa Scarpa, 1926.) O empresário oferecia também, além de boa morada, um conjunto de serviços coletivo para facilitar a vida de sua classe operária. Como, farmácia, escolas, igreja, médico, dentista, açougue, armazém. O aluguel das residências, a taxa para o uso da água, e as compras no armazém, açougue, farmácia eram descontadas na folha de pagamento, apenas a eletricidade era paga de modo individual pelas unidades. Mas ainda assim, por mais que de alguma forma Jorge Street apresentava ideias progressistas e que favoreciam a melhora da classe operária, não devemos esquecer que, ao oferecer todos estes serviços, utilizando como argumento a melhoria de vida aos seus operários, na verdade, o propósito principal era de criar condições para fiscalizar seus trabalhadores até mesmo em seu âmbito pessoal. Além de que, oferecer todos estes serviços como troca de mão-de-obra, funcionava como um instrumento para reprimir futura greves vinda dos funcionários. 2.1 O VALOR DO OPERÁRIO Os migrantes, tem seu valor apenas por sua mão-de-obra barata, caso contrário seriam considerados intrusos e “ladrões de emprego”. Além de que quanto maior o número de pessoas na família, maior seria o número de funcionários para trabalhar nas fábricas. Direitos trabalhistas não haviam naquela época, apesar de todos benefícios aos trabalhadores que Street proporcionava, ficava evidente que a intenção principal, na verdade, era de manter os funcionários próximo a fábrica, os deixando de modo indireto sempre à disposição da empresa. Visualizando assim o trabalhador apenas como mão- de-obra, força de trabalho, e usando a residência e todos os serviços, como uma espécie de produto, como moeda de troca pela mão-de-obra exercida na fábrica. Apesar do ideal revolucionário, e de sempre passar a ideia aos seus funcionários de serem parte uma grande família, Jorge Street, ainda se encontrava em débito com seus trabalhadores, ao qual dizia ser parte de sua família. Haviam ainda alguns direitos 10 a serem conquistados, como um contrato de trabalho verbal, adicional noturno, licença saúde, seguro a acidente de trabalho, descanso remunerado, férias e entre outros. 2.2 JORGE STREET, DE MÉDICO Á INDUSTRIAL REVOLUCIONÁRIO Carioca, nascido em 22 de dezembro de 1863, filho pai austríaco e mãe brasileira. Street cursou humanidade na Alemanha, formou-se médico pela escola de Medicina do Rio de Janeiro em 1886, além de fazer cursos de especialização anos seguintes na Franca, Berlim e Viena. Trabalhou como médico por um pequeno período, alegando que não podia cobrar o serviço dos pobres, pois não tinham dinheiro para paga-los, e nem dos ricos. Em 1894, recebeu de seu pai as ações da fábrica de sacaria de juta no Rio de Janeiro. Dando início assim a sua vida industrial. Em 1904, fez as primeiras negociações para fazer a compra da fábrica de sacaria da juta Santana, na qual o dono era o Conde Penteado, e assim iniciou a expansão da Companhia Nacional de Juta. Em 1912, começou a construção da fábrica e da Vila Maria Zélia. Em 1919, defendeu o direto de greve. Foi eleito presidente do Centro dos Industriais de Fiação e Tecelagem de São Paulo em 1926. Em 1927, fundou a Companhia de Tecidos de Algodão, no bairro da Mooca. E em 1931, foi nomeado diretor geral do Departamento Nacional de Industria e Comércio, do Ministério do trabalho. Já em 23 de fevereiro de 1939 veio a falecer em São Paulo, deixando seu império industrial como lembrança de suas ideias progressistas e revolucionários. “[...] ao redor da fábrica mandei construir casas para a moradia dos trabalhadores com toda a comodidade e o conforto da vida social atual [...] depois de um grande parque com coreto para concertos, salão para representações e baile; escola de canto corale música, um campo de Football; uma grande igreja com batistério; um grande armazém com tudo o que o operário possa ter necessidade para a sua vida, [...] uma sala de cirurgia-modelo e uma grande farmácia [...] uma escola para os filhos de operários e creches para lactantes [...]. Quis das ao operário [...] a possibilidade de não precisar sair do âmbito da pequena cidade que fiz construir a margem do rio, nem para a mais elementar necessidade da vida [...]. ” 11 3 A CONCEPÇÃO URBANA DA VILA E SUAS CARACTERÍSTICAS A Vila Maria Zélia foi a pioneira no Brasil na sua concepção, o poder público que veio a promover e estimular este modelo de habitação operária através da iniciativa privada, com incentivos e isenções de impostos, visando a vila como modelo de habitação econômica e higiênica. Jorge Street veio a seguir este padrão de habitação unifamiliar, que além de satisfazer as necessidades dos trabalhadores, privilegiava também os empreendedores. Mapa cidade de São Paulo,Sara Brasil 1930,Recorte Fábrica e Vila Maria Zélia.(Fonte Acervo Biblioteca FAUUSP). As Vilas industriais tinham como principal característica, muitas casas que enfileiradas formavam uma espécie de “grade”, que geralmente ficavam diretamente sobre as calçadas ou obtinham um pequeno recuo para o interior do lote, haviam pequenas oficinas que se espalhavam ao longo dos quarteirões e alguns armazéns pelos vários cruzamentos. Nesse modelo de concepção destacava-se na paisagem urbana apenas as fábricas e os equipamentos de grande “utilidade” como igrejas e escolas. O projeto da Vila Maria Zélia foi idealizado pelo Arquiteto francês Paul Pedarrieux, localizada no bairro do Belenzinho, o terreno ocupava uma área que se estendia do rio Tiete à avenida celso Garcia, ficava em meio as fábricas daquele bairro e a linha férrea, além de ter sido construída na área de várzea do rio Tiete, a vila em si foi planejada 12 para conter diversos equipamentos básicos de convívio diário dos operários tais como, equipamentos de suporte à saúde, educação, alimentação e recreação, tudo pensado para que os moradores obtivessem um maior conforto e de não necessitarem de um deslocamento da área para ter acesso à esses equipamentos. Em sua concepção original a vila possuía 220 casas unifamiliares térreas, higiênicas e confortáveis, com água encanada e energia elétrica. Com cerca de 75 a 110 m², com todas as fachadas voltadas para as ruas principais. Algumas apresentavam uma espécie de recuo frontal que possibilitava que algumas das mesmas possuíssem pequenos jardins. Implantação da Vila Maria Zélia(Fonte:http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/b6d7c_mapa_2.jpg) A vila Maria Zélia com seu modelo “inovador” abriu as portas para que outras vilas operarias fossem construídas, e contribuiu consideravelmente com o crescimento da cidade de São Paulo especialmente nos bairros do Brás e Belenzinho. 13 4 UNIDADES HABITACIONAIS NA VILA Após a época das construções de taipa de pilão em São Paulo, tivemos uma evolução dos primeiros materiais utilizados nas residências, devido a era do café que proporcionou um crescimento da cidade principalmente com a questão das ferrovias, nesse período do Século XIX foi que o tijolo começou a ser utilizado e junto com ele recebemos os benefícios da tecnologia construtiva dos imigrantes. Com esse crescimento da cidade, as vilas operárias que acabavam de surgir começavam a obedecer um certo padrão. Após o código legislado pela câmara em 1886 que estipulava normas referentes a casas operárias cortiços e cubículos, passaram a haver algumas restrições e também acabaram por caracterizar as residências das vilas operárias, dentre essas restrições tínhamos que: as casas deviam possuir pé direito de 4,0m; cada habitação deveria possuir pelo menos três cômodos (Característica que depois viria a se tornar a principal das casas operárias); todos os cômodos deveriam ter janelas para maios ventilação e iluminação; devido a humidade emanada do lençol freático os soalhos deveriam ser afastados 0,50m do solo; deveria haver uma latrina para cada duas habitações e cada dependência deveria ter a área mínima de 10 metros quadrados entre outras regras. Catorze anos após o primeiro Código já era obrigatório o uso de uma latrina para cada habitação. Além das normas, algo que também caracterizou o estilo das residências operárias foi a forte influência de arquitetura europeia, uma vez que a contribuição dos imigrantes não se limitou só ao processo construtivo, mas também as características finais de cada habitação, era comum por exemplo vermos em plantas da época fornos de pizza, mostrando a forte influência italiana, outro exemplo é a Vila Maria Zélia que possui forte influência inglesa em suas construções. 4.1 EDIFICAÇÕES DA VILA MARIA ZÉLIA Foram edificadas 198 casas divididas em seis tipologias características semelhantes. Todas eram térreas e geminadas organizadas em quarteirões de um mesmo seguimento e voltadas para as ruas principais, como podemos observar na imagem abaixo. 14 Fonte: Secretaria Municipal do Estado de São Paulo De acordo com Petratti(1990,p.76-77) temos as tipologias divididas da seguinte forma: Tipologia Ambientes Área total Casa Tipo A Jardim,sala,01 dormitório,cozinha,banheiro e área de serviço 74,75 m² Casa Tipo A1 2 dormitórios, jardim,sala, cozinha,banheiro e área de serviço 81,65 m² Casa tipo B Sala,03 dormitórios,cozinha,banheiro 74,75 m² Casa tipo B1 Sala,03 dormitórios,cozinha,banheiro 81,65 m² Casa tipo C Jardim,entrada lateral,sala,dormitórios,cozinha,banheiro e área de serviço 110,40 m² Casa tipo D(Chalés) Varanda,jardim,sala,02 dormitórios,cozinha,banheiro,área de serviço 91,12 m² Há cuidado com a salubridade dos ambientes e instalações sanitárias, havia água encanada e energia elétrica para os chuveiros. O assoalho era de pinho-de-Riga, e as janelas de madeira maciça. A distribuição das casas associava o tamanho do cargo, tempo de serviço na fábrica e número de membros na família. (Petratti,1990, p.76). O sistema construtivo baseava-se em alvenaria de tijolos, mas contava com pilares metálicos.Foi construído ali uma capela, dois armazéns, duas escolas (meninos e meninas separado), um coreto, praça, campo de prática esportiva, salão de festas e ainda ambulatórios e consultórios médicos. 15 CONCLUSÃO A pesquisa aqui apresentada teve como foco apresentar os dados e as características sobre as vilas operárias da década de 1930. O caso analisado foi a Vila Maria Zélia que foi representativa nesse processo de industrialização de São Paulo e na história do operariado. Este estudo possibilitou um grande aprendizado, uma vez que visitamos o local estudado, tivemos contato com moradores e analisamos criteriosamente as razões pelas quais foram criadas as vilas operárias. No primeiro momento há uma sensação de nostalgia em relação as vilas, porque atualmente é quase uma cidade cinematográfica, mas os dados históricos nos levam a conclusões maiores como a grandiosidade da cafeicultura e do operariado naquele período, como os donos das fábricas arquitetavam a forma de atrair colaboradores para suas fábricas e abriga-los como em um feudo. A vila foi inspirada nas construções de vilas europeias das primeiras décadas do século 20, para ser utilizada como moradia dos 2500 funcionários da tecelagem Companhia Nacional de Tecidos da Juta no Belenzinho. Até hoje os moradores enxergam Jorge Street como um ídolo.A evolução da arquitetura é algo ser destacado, olhamos uma cidade com grandes casas, com grandes avenidas e o uso do tijolo sempre presente. Em relação a Vila Maria Zélia percebemos a falha em relação a preservação. Os edifícios apresentam condições precárias e riscos de acidentes. Somente a igreja foi restaurada. Ainda assim a arquitetura é o que mais impressiona na vila, claramente pudemos ver sua importância histórica. O que não podemos negar é que Street foi visionário. Percebemos nos moradores mais antigos um certo orgulho daquele lugar, um saudosismo em relação aquele passado tão significativo, aquela história que não foi apagada junto com suas ruínas. 16 REFERÊNCIAS MORANGUEIRA, Vanderlice de Souza. Vila Maria Zélia: Visões de uma vila operária em São Paulo (1917- 1940). São Paulo: USP, 2006. BONDUKI, Nabil (1982),Origens do problema da habitação popular em São Paulo 1886-1918, in Espaço & Debates, n.° 5, São Paulo. LEMOS, Carlos A. C.Alvenaria Burguesa. São Paulo,1989. BONDUKI, Nabil (1982),Origens do problema da habitação popular em São Paulo 1886-1918, in Espaço & Debates, n.° 5, São Paulo. BONDUKI, Nabil. Origens Da Habitação Social No Brasil. Arquitetura Moderna, Lei Do Inquilinato E Difusão Da Casa Própria. Estação Liberdade, São Paulo; 4ª Edição, 2004. Texto de autoria da Professora Maria Albertina Jorge Carvalho. BLAY, Eva Alterman. Eu não tenho onde morar: vilas operárias na cidade de São Paulo. São Paulo: Nobel, 1985. TEIXEIRA, Palmira Petratti. A Vila Maria Zélia: A fascinante história de um memorial ideológico das relações de trabalho na cidade de São Paulo. Fortaleza: ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História, 2009. TEIXEIRA, Palmira Petratti. A fábrica do sonho: trajetória do industrial Jorge Street. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. SCARPA, Nicolau. Lembranças da Vila Scarpa. [São Paulo: s.e.], 1926.
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