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1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA 49 U N ID A D E 4 A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL O estudo que faremos agora visa esclarecer as formas de estratificação social que os diversos tipos de sociedades moldaram para se organizarem e suprirem suas necessidades. OBJETIVOS DA UNIDADE: Analisar os variados tipos de estratificação social que se estabeleceram nas diferentes sociedades através dos tempos, avaliando o grau de desigualdades sociais gerados por esses. PLANO DA UNIDADE: • O que é estratificação social? • O sistema de castas • A organização social através dos estamentos • As classes sociais Bons estudos! UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL 50 O QUE É ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL? Os indivíduos, ao viverem em sociedade, ocupam posições diferentes por motivos variados, compondo uma hierarquia social. Esta hierarquia é formada por camadas de indivíduos e grupos superpostas de acordo com os valores atribuídos a elas e é exatamente a esse fenômeno que chamamos de estratificação social. E sendo essa problemática uma constante em todas as sociedades, se torna um objeto de estudo da Sociologia que é analisado por vários autores, resultando daí uma tipologia que nos ajuda a compreender melhor esse fato social. Observando as diferentes formas de sociedade, poderemos verificar como esse fato se expressou produzindo as castas, os estamentos e as classes sociais. O SISTEMA DE CASTAS Existem sociedades nas quais a posição social do indivíduo é definida na ocasião de seu nascimento independentemente de sua vontade e de seu esforço posterior para tentar modificá-la. É uma situação herdada. A sociedade indiana é o exemplo mais característico desse tipo de estratificação social. Esse sistema é considerado muito rígido e fechado, como vimos acima. Não é facultado ao indivíduo transitar de uma casta para outra, ou seja, ele não tem mobilidade social, além de ser endógamo, isto é, os casamentos ocorrem com indivíduos da mesma casta. Seus direitos e deveres são específicos de sua casta. De acordo com esse sistema foram instituídas quatro castas eternas originárias da divindade que são: os brâmanes, os xátrias, os sudras e os vaicias e aqueles que não pertencem a nenhuma casta, pois não seguiram os códigos de suas castas que são os párias. As três primeiras castas são compostas por indivíduos que já reencarnaram ou nasceram “duas vezes”. As castas não podem manter contato entre elas, de acordo com o ritual isto é impuro, deve-se manter distância entre as pessoas de castas diferentes, sendo que em algumas regiões até o contato da sombra de um pária pode ocasionar impurezas. O que os “impuros” tocassem ficava contaminado. Os indivíduos são identificados pelo modo de se vestir, pela qualidade e cor das roupas e pela ocupação. Outra característica dessa sociedade é com referência ao prestígio de cada casta. As castas daqueles “nascidos duas vezes” ou “puros” gozam de maior prestígio do que aqueles que “nasceram uma vez só” ou “impuros”. Os brâmanes são considerados a casta de maior prestígio e o principal critério de status de uma casta é quando esta tem alguma relação com eles. A palavra casta é de origem da língua portuguesa, mas na língua indiana corresponde a varna. os párias - Grande número de- les é composto por pessoas que contraíram matrimônio fora de suas castas. SOCIOLOGIA APLICADA 51 Esse tipo de organização social parte do pressuposto de que os direitos são desiguais por natureza, já que os elementos que os caracterizam foram definidos hereditariamente. Somente os indivíduos considerados puros poderiam exercer cargos públicos. Como as ocupações são hereditárias, salvo algumas exceções, a sociedade apresenta uma divisão funcional do trabalho baseada nesse esquema. A industrialização teve grande impacto nesse sistema, mas este incorporou muitas inovações. Cada casta possui leis específicas e tribunais próprios. Grurye (In: Lakatos, 1985) aponta algumas transgressões que devem ser julgadas pelos tribunais: · comer, beber ou manter atividades com pessoas de outras castas; · tomar por concubina mulheres pertencentes a outras castas; · adultério; · sedução de mulheres casadas; · recusa de cumprimento de promessa de casamento; · recusa de manter uma esposa; · o não pagamento de dívidas; · roubo; · quebra dos hábitos de comércio peculiar à casta; · apropriar-se de clientes de outro e elevar ou reduzir os preços das mercadorias e serviços; · matar uma vaca ou outro animal sagrado; · insultar um brâmane; · desafiar os costumes das castas por ocasião de cerimoniais de casamento e outras. Essas castas podem ser encontradas em qualquer lugar da Índia, apesar de apresentarem diferenciações ocasionadas por vários fatores que deram origem a divisões múltiplas. Algumas dessas subcastas têm caráter nacional, mas outras são encontradas apenas em determinados locais. Desvinculando a casta de seu conteúdo religioso, como ocorre na Índia, alguns autores consideram a existência das castas em outras circunstâncias, tais como: no Antigo Egito, no Japão medieval, na Alemanha nazista. A ORGANIZAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DOS ESTAMENTOS A sociedade feudal européia (séc. IX ao séc. XIV) se organizou através desse sistema, que tinha suas bases apoiadas na tradição que definia seus estratos em nobres, clero e servos. Nobres – dedicavam-se à guer- ra, à caça e a funções jurídicas e administrativas. Clero – dividia-se em alto clero (era uma elite eclesiástica e intelectual e seus membros vi- nham da nobreza); baixo clero que era composto pelos padres originários da população pobre. Servos – trabalhavam a terra para si e para os seus senho- res. UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL 52 Como foi dito anteriormente, era através da tradição que se definia os elementos principais dessa organização que eram a honra, a hereditariedade e a linhagem. Os estamentos ou estados eram semelhantes às castas, porém não eram tão fechados. A mobilidade social era difícil, mas não impossível. Este tipo de hierarquização social está ligado a um determinado momento histórico com suas características econômicas e políticas. E como se comportavam as pessoas nesse tipo de organização social? Cada uma se comportava de acordo com o seu estamento porque os privilégios também eram desiguais, pois aqueles que se encontravam no topo da pirâmide social (nobres e clero) possuíam maiores privilégios. As atividades guerreiras, sacerdotais e a administração pública eram reservadas aos estamentos dominantes. Para manter seus privilégios, esses estamentos criavam certas resistências à penetração de outros através de monopólios de determinadas funções e da endogamia. Os servos trabalhavam nas terras dos senhores feudais e estes os protegiam. Um servo que não estivesse ligado a um senhor feudal estava desprotegido perante a lei. A propriedade e o uso da terra, no sistema feudal, determinavam uma série de obrigações que estavam ligadas por relações de reciprocidade e de fidelidade. Existiam também, nesse tipo de organização social, os vassalos, que eram aqueles que serviam a um senhor. Possuíam obrigações de ajudar nas guerras, guardar os castelos, prestar serviços de criadagem doméstica, entre outros. Como foi dito acima, o senhor também tinha obrigações de proteger os seus vassalos. Os senhores feudais, por sua vez, também eram vassalos do rei, que estava no topo desta hierarquização e ao qual todos estavam subordinados. Esse tipo de organização social é chamado de patrimonialista, pois está ligado diretamente à propriedade da terra, que era o maior patrimônio que alguémpoderia ter. Dessa forma, se definia a organização política da sociedade feudal. Os nobres que não possuíam terras e usavam as de outro nobre subordinado a eles. O clero também possuía terras e, com isso, muitos nobres estavam subordinados a ele. O poder estava nas mãos daqueles que detinham a propriedade das terras, daí a nobreza e o clero estarem no topo da pirâmide social e, conseqüentemente, os cargos públicos estavam vinculados a esse esquema de tradição e fidelidade. Os valores dessa sociedade eram difundidos pela Igreja Católica e os indivíduos aceitavam que determinadas pessoas eram portadoras desses privilégios pela hereditariedade, pela honra e pela linhagem. Senhor – o proprietário das ter- ras, também denominado de suserano. Marx foi o primeiro estudioso a utilizar esse conceito, “clas- ses sociais”, apesar de não tê- lo definido com precisão. SOCIOLOGIA APLICADA 53 AS CLASSES SOCIAIS A sociedade capitalista produz uma hierarquização social própria que se configura no sistema de classes sociais, ou seja, essas classes expressam como se organiza tal tipo de sociedade. Dessa forma, uns são capitalistas – proprietários dos meios de produção e outros possuem apenas a sua força de trabalho - operários. Esses dois grupos dão origem às classes sociais que sustentam todo o sistema e como resultado dessa relação surgem os interesses opostos, os antagonismos. Quando falamos que as classes que sustentam o sistema capitalista são duas, não quer dizer que existam apenas essas duas. Outras classes intermediárias foram surgindo ao longo do desenvolvimento do capitalismo. Historicamente, desde o nascimento do sistema capitalista com a queda do sistema feudal, essas classes são consideradas antagônicas tanto no que diz respeito ao aspecto econômico quanto ao aspecto político. Economicamente, no que diz respeito à apropriação/expropriação e politicamente no que diz respeito à dominação que a classe capitalista exerce sobre as demais. Essa divisão da sociedade em classes sociais não é um fato opcional, isto é, os homens não escolhem participar de uma ou de outra classe, pois elas são produzidas socialmente. Contudo, a mobilidade social é possível nesse sistema, um indivíduo pode ir de uma classe para outra dependendo de seu êxito nas relações de produção. O operário não pode dizer que não vai mais trabalhar para o capitalista e o capitalista não pode dizer que não precisa mais do operário, pois estariam abrindo mão de sua própria existência. As classes sociais só se estabeleceram no sistema capitalista, porque estão relacionadas a esse sistema. Como vimos, anteriormente, no sistema feudal a hierarquização dos estratos estava baseada em estamentos. Por que isso acontece? Porque a forma de organização do trabalho é diferente e a forma de propriedade também. Na sociedade capitalista, o trabalho é livre e assalariado e a cada dia requer uma divisão mais especializada. Isto se faz necessário porque no capitalismo existe a necessidade de se gerar sempre excedentes que são comercializados e geram os lucros dos capitalistas. Quanto à distribuição do prestígio, este está associado às relações entre as pessoas e os elementos da produção, os proprietários dos meios de produção sempre gozam de maior prestígio social do que os trabalhadores. Quanto à distribuição de poder, também não é diferente, possuem maior poder aqueles que detêm os meios de produção. Antagônicas – que possuem interesses contrários, opostos. UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL 54 Vimos que o fenômeno da estratificação social está intimamente relacionado às desigualdades sociais, pois ele é a própria expressão dessa desigualdade. Portanto, ao examinarmos os diversos tipos de estratificação social, podemos concluir que não é possível compreendê-la sem antes compreender como os homens organizam sua produção econômica e como distribuem o poder político. Agora, procure fazer uma nova leitura, observando os aspectos das desigualdades sociais e da mobilidade social em cada um dos tipos de estratificação social. LEITURA COMPLEMENTAR: LAKATOS, E. M. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 1985. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! No próximo capítulo, trataremos da sociedade capitalista atual, suas características e sua inclinação para mudanças contínuas.
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