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Os primeiros envolvem a posse de um pelame de características altamente reflectantes à radiação térmica e de ondas curtas, conjugado com uma epiderme de elevada emissividade nessas faixas de onda - o que implica em altos níveis de atividade melanogênica. Isso tem sido demonstrado experimentalmente. 103 Já a eficiência da termólise envolve diversas características do pelame (pequena espessura da capa; pêlos curtos, denso e bem assentados) e uma elevada capacidade de sudação. Existe na literatura um número considerável de trabalhos evidenciando a importância do pelame para o relacionamento entre os organismos e o meio ambiente. O exame da espessura do pelame especialmente no verão, deve ser considerado, embora não pareça ter grande influência respiratória, suas relações com os valores sanguíneos parecem ter sido revelados. Tentativas para se relacionarem os dados de espessura do pelame e peso dos pêlos x temperatura retal, frequência respiratória, não oferecem resultados uniformes. Porém a espessura do pelame parece estar correlacionada com os valores sanguíneos (números de glóbulos vermelhos, hematócito e hemoglobina) havendo uma tendência para os animais de maior espessura apresentarem, no verão ou em câmara climática (40ºC), por período de três horas de exposição, valores hemométricos mais baixos. A influência da espessura do pelame parece ser efetiva nas temperaturas mais elevadas do verão e mais intimamente ligada com as quedas nos valores sanguíneos que propriamente com as elevações da temperatura retal e da frequência respiratória. Alguns estudos nos valores hemométricos observados nos meses mais quentes coincide com a maior frequência respiratória e cardíaca. É de supor que essas quedas nos valores hemométricos se relacionam à menor habilidade dos animais em perderem água através da superfície cutânea. Assim sendo, tendo dificuldade para eliminar calor corporal através da eliminação de água pela pele, os animais tenderiam a ter a temperatura corporal, a frequência respiratória e cardíaca elevadas e uma hemohidratação. O zebu, provavelmente, por possuírem características que facilitam essa perda de calor (maior número de glândulas sudoríparas, maior superfície cutânea, pêlos curtos e menor espessura), não só apresentam menores valores de temperatura retal, frequência respiratória e cardíaca, com menor tendência ou quase nenhuma, à hemohidratação, que os bovinos europeus nos climas quentes. Vários trabalhos tem evidenciado cada vez mais a importância da sudação para os processos adaptativos nos bovinos. Na UNESP de Jaboticabal, São Paulo, SILVA vem desenvolvendo nos últimos anos uma linha de trabalho envolvendo os problemas adaptativos dos bovinos, nos seguintes aspectos: a) determinação das características morfofisiológicas associadas à adaptação, que sejam mais relevantes e susceptíveis de serem selecionadas; b) determinação da variabilidade fenotípica e genética dessas características nas populações, assim como as suas correlações entre si e com a produção; c) estudos de comportamento na pastagem e relação desse comportamento com os aspectos adaptativos; d) estudos de alguns fatores ambientais relevantes, particularmente associados à radiação solar; e) avaliação de animais visando seleção para características ligadas à adaptação. 104 Importância da Sudação A importância da evaporação cutânea como mecanismo de termólise nos bovinos é indiscutível. Foi observado que a 38ºC praticamente todo calor orgânico dissipado era por via evaporativa e que, mesmo a 24ºC, mais de 40% desse calor era eliminado por essa via. Vários estudos tem citado a associação entre as glândulas sudoríparas e o seu grau de tolerância ao calor, e trabalhos mais recentes tem evidenciado experimentalmente a importância da taxa de sudação como indicador da resposta termorreguladora dos bovinos. SALINOS acompanhou vacas Jersey e Holandesas malhadas de preto (HPB) e de vermelho (HVB) durante um ano, em São Paulo, determinando sua taxa de sudação a intervalos quinzenais. As vacas Jersey apresentaram as maiores taxas médias de sudação (142,2 + 1,9 g.m-2.h-1), seguindo-se (120,0 + 2,1 g.m-2.h-1) da HVB e (114,8 + 1,9 g.m-2.h-1) da HPB. A variação individual dentro de raças foi considerável, bem como as diferenças entre as relações do ano e estágios de lactação. HOLTZ FILHO & SILVA, trabalhando em São Paulo com vacas da raça Jersey, encontraram um coeficiente de herdabilidade de 0,222 + 0,155 para a taxa de sudação, resultado não muito elevado. Nota-se entretanto, que está bem próximo das estimativas obtidas geralmente para a produção leiteira, cujo melhoramento genético tem obtido sucesso considerável nos últimos 50 anos. Desenvolvendo um estudo a respeito da taxa de sudação, SALINOS observou uma variação considerável nas características do pelame e da pele de vacas Jersey, particularmente no que se refere ao grau de pigmentação melanínica. Com base nessas observações, ARANTES NETO procurou em termos quantitativos a variação de algumas das características do pelame mais importantes para a adaptação a ambientes tropicais, no gado Jersey, incluindo o nível de pigmentação melanogênica. As seguintes características foram consideradas: a) espessura da capa do pelame; b) comprimento dos pêlos; c) ângulo de inclinação dos pêlos; d) pigmentação da epiderme e e) pigmentação do pelame. No que se refere às três primeiras características, vários trabalhos tem evidenciado a sua importância para a eficiência da transferência de calor do organismo para o meio ambiente. ARANTES NETO reporta que o efeito da estação do ano foi a principal fonte de variação da espessura do pelame e da inclinação dos pêlos, que apresentavam valores mais elevados no inverno. O comprimento dos pêlos foi afetado da mesma forma. O nível de pigmentação melanínica, tanto da pele como do pelame, foi significativamente maior no verão. É geralmente suposto que a atividade melanogênica em mamíferos aumenta, quando há exposição a uma maior irradiância ao nível da banda ultravioleta. A idade afetou significativa e negativamente o comprimento e a pigmentação dos pêlos; à medida que aumenta a idade, estes tornam-se mais 105 claros e mais curtos. SILVA supõe que pode tratar-se do resultado de uma seleção natural favorecendo os indivíduos mais aptos à vida em clima tropical, embora tais alterações ocorram sem dúvida ao longo do tempo num mesmo indivíduo. No Quadro 17 acha-se o coeficiente de herdabilidade das características estudadas por ARANTES NETO. QUADRO 17. Coeficiente de herdabilidade de cinco características da pele e do pelame de vacas Jersey. CARACTERÍSTICAS h2 Erro Padrão Espessura do pelame 0,224 + 0,148 Comprimento dos pêlos 0,050 + 0,107 Inclinação dos pêlos 0,400 + 0,164 Pigmentação da epiderme 0,047 + 0,044 Pigmentação do pelame 0,355 + 0,152 Com base nos coeficientes de herdabilidade e na correlações genéticas, fenotípicas e ambientais dos dados referidos por HOLTZ & SILVA e ARANTES NETO, SILVA e colaboradores procuraram determinar os méritos genéticos aditivos (MGA) de touros da raça Jersey, relativamente a algumas características ligadas à adaptação, empregando o método de Melhor Predição Não-Viciada, a fim de poder classificar os touros para fins de seleção. Segundo SILVA, a fim de poder classificar os touros para fins de seleção, houve necessidade de ser estimado o valor do MGA global, isto é, do mérito genético agregado, como recomenda HENDERSON. Não dispondo dos valores econômicos relativos das cinco características da pele e do pelame consideradas, SILVA assumiu os