Buscar

Lei de Tortura comentada para concursos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
 
Lei de Tortura – Lei n. 9455/97 
COMENTADA POR ALLAN FRANCIS DA COSTA SALGADO 
ACESSE NOSSO CANAL: 
https://www.youtube.com/channel/UCaGmsBMAUlZadt0nUFaaj2g 
Acesse a vídeo aula desta matéria: 
https://www.youtube.com/watch?v=ez43c-U6q_c 
 
Pessoal no nosso canal ministramos o curso do novo cpc inteiramente 
gratuito e comentamos leis penais, informativos e passamos macetes 
de concursos. 
 
 
 
 
Introdução: 
Após a 2ª Grande Guerra Mundial, nasce um movimento mundial de 
repudio a tortura. São criados vários tratados, alguns ratificados pelo Brasil, 
como a Convenção contra a tortura ou tratados cruéis e Convenção 
interamericana para prevenir e punir a tortura. Posteriormente, advém a 
Constituição de 1988 dizendo expressamente que “ninguém será submetido a 
tortura”. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
III* - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou 
degradante; 
 
Sabemos que, em regra, nenhum direito ou garantia fundamental, até 
mesmo a vida, é absoluto. A garantia de não submissão à tortura, contudo, não 
comporta nenhuma forma de exceção no ordenamento jurídico brasileiro. 
 2 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
Até então, só havia carta de intenções repudiando a prática de tortura. 
Então, em 1990, o legislador promulgou a Lei 8069/90 e criou um tipo especial 
de tortura tendo como vítima criança e adolescente. Após, veio a Lei 9455/97, 
intitulada Lei de Tortura, revogando o art. 233 do ECA. 
A lei 8072/90 previu crimes hediondos e equiparou a eles o crime de 
tortura. 
Os documentos internacionais definem tortura como crime próprio, ou 
seja, que só pode ser praticado por agente do Estado. A lei 9455/97 reconhece 
crime de tortura praticado por pessoa comum, não representante do Estado, não 
exigindo qualidade do sujeito ativo. 
 
(Im)prescritibilidade 
Ordinariamente, os crimes, por graves que sejam, são prescritíveis. 
Figuram como exceções constitucionais a prática do racismo (Art. 5º, XLII) e a 
ação degrupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional eo 
Estado democrático (Art. 5º, XLIV) 
 
Constituição Federal e Tratados Internacionais de 
Direitos Humanos ratificados com quórum qualificado. 
Tortura prescreve 
 
Tratados internacionais de Direitos Humanos ratificados 
com quórum simples são infraconstitucionais, mas 
supralegais. 
Tortura não prescreve 
 
Lei ordinária 
Tortura prescreve 
 
Correntes: 
 3 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
1ª) Considerando que a CF/988 rotulou a tortura como um delito 
prescritivo; Considerando que os Tratados Internacionais que tornam a tortura 
imprescritível são infraconstitucionais, deve prevalecer a Constituição. Gilmar 
Mendes já se pronunciou a respeito do tema, entendendo que, na época da 
ditadura, o legislador quis claramente não tipificar a tortura como crime 
imprescritível. 
 2ª) Considerando que no conflito entre a CF/88 e os Tratados 
Internacionais de Direitos Humanos deve prevalecer a norma que melhor atende 
os Direitos Humanos (princípio pro homine), os tratados internacionais, na 
questão da prescritibilidade da tortura de prevalecer sobre a Constituição 
Federal. O STJ, no REsp 816.209/RJ decidiu que são imprescritíveis as ações de 
reparação de dano em decorrência de perseguição, tortura e prisão, por motivos 
políticos, durante o regime militar. Fundamentou no princípio da dignidade da 
pessoa humana, se podendo extrair nas entrelinhas o pro homine. 
 3ª) a imprescritibilidade trazida pelos tratados é incompatível com o 
Direito Penal Moderno e com o Estado Democrático de Direito. 
 
Lei 9.455/97 
Essa lei não define o que é tortura, mas explica, desde logo, o que constitui 
tortura. 
Passemos a cada uma das espécies: 
 
Tortura-prova, Tortura para fins de cometimento de crimes e 
tortura-preconceito 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-
lhe sofrimento físico ou mental: 
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de 
terceira pessoa; 
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; 
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; 
 
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum) 
 4 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
 Sujeito passivo: qualquer pessoa (crime comum) 
Portanto, o inciso I trata de crime bicomum. 
 Conduta típica: constranger alguém com emprego de violência (desde vias 
de fato até homicídio) ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou 
mental. 
 Finalidade: 
a) obter informação, confissão ou declaração da vítima ou terceira pessoa. 
A doutrina denomina tortura-prova. Exemplos: Credor tortura devedor para 
confessar a dívida; policial tortura cidadão para confessar o crime. O delito de 
tortura se consuma com o constrangimento causador de sofrimento à vítima, 
dispensando efetiva obtenção da informação desejada. É possível a tentativa. 
 b) provocar conduta de natureza criminosa; é a chamada tortura para a 
prática de crime. Exemplo. Torturar a vítima, que, sob coação moral irresistível, 
mata alguém; torturar alguém que, sob coação moral irresistível, mente em 
juízo. Nesses casos, o torturador responderá, em concurso material, pela tortura 
e pelo homicídio/falso testemunho. Esta modalidade de tortura se consuma com 
o constrangimento, dispensando que o torturado pratique a conduta criminosa. 
Ocorrendo o crime visado pelo torturador, caracterizará o concurso de delitos. 
Admite-se tentativa. 
“Conduta de natureza criminosa”: 
1ª corrente: abrange contravenção penal (Mauro Lima); 
2ª corrente: não abrange contravenção penal, evitando-se analogia in 
malam partem. É a que prevalece. 
 c) em razão de discriminação racial ou religiosa: a doutrina denomina 
tortura-preconceito ou tortura-discriminatória. Não exige finalidade específica. 
Não abrange discriminação econômica, social ou sexual. Consuma-se com o 
constrangimento da vítima, sendo perfeitamente possível a tentativa. 
Tortura do art. 1º, inciso I 
Tortura-prova Tortura para a prática 
de crime 
Tortura-preconceito 
 5 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
Finalidade: obter 
informação, confissão 
ou declaração da vítima 
ou terceira pessoa. 
Finalidade: provocar 
conduta de natureza 
criminosa. 
Finalidade: não há 
finalidade específica. 
Consumação: O delito 
de tortura se consuma 
com o constrangimento 
causador de sofrimento 
à vítima. 
Consumação: Consuma-se 
com o constrangimento, 
dispensando que o 
torturado pratique a 
conduta criminosa. 
Consumação: 
Consuma-se com o 
constrangimento da 
vítima. 
Exemplos: Credor 
tortura devedor para 
confessar a dívida; 
policial tortura cidadão 
para confessar o crime. 
Exemplos. Torturar a 
vítima, que, sob coação 
moral irresistível, mata 
alguém; torturar alguém 
que, sob coação moral 
irresistível, mente em 
juízo. 
Exemplos: tortura 
contra judeus, 
muçulmanos. 
Obs. Não abrange 
discriminação 
econômica, social ou 
sexual. 
 
Pena: 2 a 8 anos 
 
Tortura-castigo 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de 
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimentofísico ou mental, como forma 
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. 
 
Sujeito ativo: só pode ser praticado por quem tem a guarda, poder ou 
autoridade sobre a vítima. Crime próprio. 
O policial militar que auxilia a polícia civil na contenção de rebelião em 
estabelecimento prisional, durante a operação, detém, legitimamente, guarda, 
poder ou autoridade sobre os detentos, ainda que momentânea, podendo 
responder pelo crime de tortura-castigo (STJ) 
 6 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
 Sujeito passivo: só pode ser vítima quem se encontra sob a guarda, poder 
ou autoridade do agente. 
 Conduta: submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com 
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, 
como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. É a 
chamada tortura-castigo. 
A intensidade do sofrimento é que diferencia de forma mais clara a tortura 
do delito de maus-tratos. 
 Consumação: ocorre com o constrangimento que causa intenso sofrimento 
físico ou mental da vítima. 
 Pena: 2 a 8 anos 
 
Tortura sem finalidade específica 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida 
de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não 
previsto em lei ou não resultante de medida legal. 
 
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum) 
 Sujeito passivo: pessoa presa (sob prisão provisória, definitiva, disciplinar 
e civil) ou sujeita a medida de segurança (em internação ou tratamento 
ambulatorial). Prevalece abranger também adolescentes infratores internados 
ou em semiliberdade. É, portanto, crime próprio. 
 Conduta: submeter pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a 
sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em 
lei ou não resultante de medida legal. 
Cuidado: não exige emprego de violência ou grave ameaça. 
No §1º, diferentemente do que ocorre nos incisos I e II, o dolo não exige 
a finalidade especial animando o agente. 
Exemplos: colocar uma adolescente infratora para cumprir MSE junto com 
homens; colocar preso em cela insalubre e escura; população linchando um 
furtador. 
 7 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
 Consumação: ocorre com a submissão da vítima a sofrimento físico ou 
mental, sendo possível a tentativa. 
Tipo 
Penal 
Sujeitos Modo de 
Execução 
Resultado Finalidade 
 
Art. 1º, 
inc. I 
Qualquer 
pessoa 
(Crime 
bicomum) 
Emprego de 
violência ou 
grave ameaça 
Sofrimento 
físico ou 
mental 
a) tortura-prova 
b) tortura para a 
prática de crime 
c) tortura-
preconceito 
Art. 1º, 
inc. II 
Sujeitos ativo 
e passivo 
próprios 
(crime 
próprio) 
 
Emprego de 
violência ou 
grave ameaça 
Intenso 
sofrimento 
físico e 
mental 
Aplicar castigo ou 
medida de 
caráter 
preventivo 
Art. 1º, 
par. 
único 
Sujeito ativo 
comum, mas 
sujeito 
passivo 
próprio (preso 
ou sujeito a 
medida de 
segurança) 
 
 
 
Prática de ato 
ilegal 
 
 
Sofrimento 
físico ou 
mental 
 
 
 
------------- 
 
Tortura-omissão 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de 
evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. 
 
Tortura-omissão imprópria: 
O agente tinha o dever de evitar a tortura 
Sujeito ativo: garante ou garantidor do art. 13, §2º CP (crime próprio) 
 8 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
Sujeito passivo: qualquer pessoa (crime comum) 
Pena: 1 a 4 anos. Alguns doutrinadores criticam porque fere o que prevê 
o art. 13, §2º CP. 
Correntes: 
§2º é inconstitucional §2º é constitucional §2º é constitucional 
(prevalece) 
Logo, a pena será de 2 
a 8 anos 
Logo, a pena é de 1 a 4 
anos 
Pena de 1 a 4 anos 
Logo, o crime é 
equiparado a hediondo 
Forma culposa pois a 
tortura dolosa é punida 
da com pena de 2 a 8 
anos 
Crime não equiparado a 
hediondo (vide art. 7º da 
lei em comento) 
 
Tortura omissão própria: o agente que tinha o dever de apurar 
Sujeito ativo: agente com dever de apurar (crime próprio) 
Sujeito passivo: qualquer pessoa (crime comum) 
Conduta o agente tolera, é condescendente com a tortura pretérita. 
Pena: 1 a 4 anos. Alguns doutrinadores criticam porque fere o que prevê o art. 
13, §2º CP. 
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de 
reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis 
anos. 
 
O dispositivo traz a figura da tortura qualificada e não se confunde com o 
art. 121, §2º, inciso III do CP (homicídio qualificado por tortura). 
Art. 1º, §3º Lei 9455/07 Art. 121, §2º, inciso III do CP 
Tortura: fim (doloso) 
Morte: resultado culposo 
Conclusão: delito preterdoloso 
Morte: fim (doloso) 
Tortura: meio 
Conclusão: crime doloso 
Juiz singular Júri popular 
 
 9 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
A qualificadora do §3º (lesão grave, gravíssima, morte) se aplica a todas 
as espécies de tortura? 
1ª corrente (LFG): aplica aos incisos I e II, ao §1º e ao 2º, neste último 
caso somente na omissão imprópria; 
2ª corrente (Paulo Juracic): aplica aos incisos I e II e ao §1º. 
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: 
I - se o crime é cometido por agente público; 
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, 
adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; 
III - se o crime é cometido mediante seqüestro. 
 
Esse dispositivo traz hipóteses de causas de aumento de pena quando o 
crime de tortura for cometido: 
- por agente público: a regra deve ser interpretada à luz do art. 327 do 
Código Penal. 
Cuidado: para ocorrer o aumento, é necessário que o agente atue nessa 
qualidade ou em razão dela. 
 - contra criança ou adolescente (a regra deve ser extraída do ECA), 
gestante, portador de deficiência ou maior de 60 anos (esquecendo do idoso de 
60 anos de idade) 
Cuidado: tais condições das vítimas devem ingressar no dolo do agente, 
para evitar responsabilidade penal objetiva. 
 - mediante sequestro: abrangendo cárcere privado (que consiste em 
privação da liberdade com confinamento). 
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a 
interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. 
 
Trata de efeito extrapenal (que não desaparece, nem mesmo por meio da 
abolitio criminis ou anistia) consistente na perda do cargo, função ou emprego 
público. 
Vale lembrar que o art. 92 do Código Penal trata de efeito não automático 
da condenação. E na lei de tortura? Os efeitos do §5º são automáticos? 
 10 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
1ª corrente: o parágrafo único do art. 92 do CP deve ser observado 
também na Lei de Tortura, por analogia in bonam partem. 
2ª corrente (prevalece, a exemplo do HC 92.247/STJ): trata-se de efeitos 
automáticos, aplicando-se o princípio da especialidade. 
 Ademais, após cumprir a pena, o agente ficará impedido de ocupar cargo, 
função ou emprego pelo dobro de tempo da pena aplicada. 
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. 
 
O dispositivo trata da inafiançabilidade e da proibição de graça ou anistia. 
 Inafiançabilidade e liberdade provisória (questão controvertida dentro do 
STF): 
1ª corrente: a proibição da liberdade provisória nos processospor tortura 
está implícita na inafiançabilidade (corrente defendida pela Min. Ellen Grace, 
hoje aposentada). 
2ª corrente: cabe liberdade provisória para tortura. Quem deve decidir se 
o benefício é possível ou não é o magistrado, na análise do caso concreto, e não 
o legislador, que analisa somente a gravidade em abstrato (corrente defendida 
por Celso de Mello). 
 
Graça ou anistia: 
CF/88 – proíbe graça e anistia; 
Lei 8072/90 proíbe graça, anistia e indulto; 
Lei 9455/07 proíbe graça e anistia; 
 1ª corrente: A lei 9.455/07 revogou tacitamente a proibição de indulto na 
lei 8072/90. 
2ª corrente (STF e Nucci): A proibição de indulto também está presente 
da Lei 9455/97, eis que implícita na vedação da graça (em sentido amplo). 
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará 
o cumprimento da pena em regime fechado. 
 
Art. 1ª, incisos I e II e §1º Art. 2º 
Regime inicial fechado Regime inicial aberto ou semiaberto 
 11 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
 
Vale observar que, de 1997 até 2007, a Lei 9072/90 trazia regime 
integralmente fechado para crimes hediondos e equiparados, proibindo a 
progressão. 
No entanto, a lei 9455/97 fazia menção a regime inicial fechado, 
permitindo a progressão com 1/6, para o crime de tortura, que é equiparado a 
hediondo, prevalecendo, à época, o entendimento de que não se estendia a 
norma aos demais crimes previstos na lei 8072/90. 
Nesse sentido o teor da súmula 698 do STF, que hoje perdeu o sentido: 
não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão 
no regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura (princípio da 
especialidade) 
A lei 11.464/07, então, trouxe possibilidade de progressão, mas com 2/5 
(primário) ou 3/5 (reincidente). 
Pergunta: as frações trazidas pela 11464/07 aplicam-se aos crimes de 
tortura? Sim. Pode-se dizer que a referida lei alterou a 9455/97, tornando mais 
gravosa a progressão de regime. 
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido 
cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o 
agente em local sob jurisdição brasileira. 
 
O dispositivo trata da extraterritorialidade. 
Art. 7º CP Art. 2º da Lei de Tortura 
Inciso I – extraterritorialidade 
incondicionada 
Inciso II, §3º - extraterritorialidade 
condicionada (crime contra brasileiro 
ou agente em jurisdição brasileira) 
Extraterritorialidade incondicionada. 
 
Tortura praticada contra brasileiro no exterior: análise da aplicação da 
lei penal no espaço e da competência 
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014 
 12 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
Dois brasileiros estavam fazendo pesca esportiva no Uruguai quando foram abordados, 
presos e torturados por policiais uruguaios. 
Após serem libertados, voltaram ao Brasil e noticiaram o caso às autoridades brasileiras. 
 
Pode ser aplicada a lei brasileira na presente situação? 
A Justiça brasileira será competente para apurar o crime? 
Trata-se de hipótese de extraterritorialidade condicionada ou incondicionada? 
Qual é o fundamento legal no Código Penal? 
 
SIM. 
 
A lei penal brasileira pode ser aplicada ao caso. 
 
Trata-se de hipótese de extraterritorialidade incondicionada. 
 
O fundamento legal não está no Código Penal, mas sim no art. 2º da Lei n.9.455⁄97 (Lei 
de Tortura), que é uma previsão específica. Veja o que diz o dispositivo: 
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em 
território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob 
jurisdição brasileira. 
 
Extraterritorialidade 
Extraterritorialidade significa a aplicação da lei brasileira a fatos que ocorreram fora do 
território nacional, ou seja, no exterior. Daí vem o nome extraterritorialidade (extra = fora). 
 
• Em alguns casos, a lei diz que, se determinado tipo de crime acontecer no exterior, a lei 
brasileira irá ser aplicada sem exigir nenhuma outra condição. A isso chamamos de 
extraterritorialidade incondicionada. Ex: art. 7º, I, do CP. 
 
• Em outros casos, a lei diz que, determinado tipo de crime acontecer no exterior, a lei 
brasileira irá ser aplicada, exigindo-se, no entanto, o cumprimento de certas condições. É o 
que se denomina de extraterritorialidade condicionada. Ex: art. 7º, II, do CP. 
 
Normalmente quando se fala extraterritorialidade lembra-se apenas do art. 7º do CP. No 
entanto, como vimos acima, a Lei de Tortura traz importantíssima previsão de 
extraterritorialidade. 
 13 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
 
Extraterritorialidade na Lei de Tortura 
O art. 2º da Lei de Tortura traz duas hipóteses de extraterritorialidade: 
 
1ª hipótese: Se o crime de tortura tiver sido cometido contra a vítima brasileira. 
Trata-se de hipótese de extraterritorialidade incondicionada. 
Sendo a vítima brasileira, pode ser aplicada a lei brasileira ao caso. 
 
2ª hipótese: Se o agente que praticou a tortura estiver em local sob jurisdição brasileira. 
Aqui há uma polêmica: 
Para alguns, trata-se de extraterritorialidade incondicionada. É o caso de Nucci e Habib. 
Para outros, consiste em extraterritorialidade condicionada. É a posição de Marcelo Azeredo: 
 
“Entendemos que se trata de extraterritorialidade condicionada. A condição não está 
prevista na lei especial nem no Código Penal, mas em duas convenções sobre a tortura: 
Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou 
Degradantes (art. 12) e a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (art. 
5º). Os dispositivos citados condicionam que a lei será aplicada caso não haja extradição. 
Ou seja, se for caso de extradição, não incidirá a lei do país em que o agente se encontrar.” 
(AZEREDO, Marcelo André. Direito Penal. Parte Geral. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 122). 
 
Voltando ao nosso exemplo. Como as vítimas eram brasileiras, trata-se de 
hipótese de extraterritorialidade incondicionada. Logo, a Justiça brasileira poderá 
apurar o fato. De quem será a competência para julgar o crime: Justiça Estadual 
ou Federal? 
 
Justiça ESTADUAL. 
O fato de o crime de tortura, praticado contra brasileiros, ter ocorrido no exterior não torna, 
por si só, a Justiça Federal competente para processar e julgar os agentes estrangeiros. 
 
O crime de tortura praticado em território estrangeiro contra brasileiros não se subsume, 
em regra, a nenhuma das hipóteses de competência da Justiça Federal previstas nos incisos 
IV, V e V-A do art. 109 da CF/88: 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou 
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as 
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; 
 14 
Legislação Penal Especial 
Lei de Tortura 
Intensivo II 
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução 
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; 
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; 
 
Não se enquadra no inciso IV considerando que não se tem dano direto a bens ou serviços 
da União, suas entidades autárquicas ou empresas públicas. 
 
Não é caso do inciso V porque, apesar de a tortura ser um crime previsto em tratados 
internacionais, na situação em tela, o delito foi integralmente praticado em território 
estrangeiro.Não se trata de crime à distância. 
 
Por fim, o deslocamento de competência para a jurisdição federal de crimes com violação a 
direitos humanos exige provocação e hipóteses extremadas e taxativas, nos termos do art. 
109, V-A e § 5º. 
 
Logo, a competência é da Justiça Estadual. 
Uma última pergunta: qual é a competência territorial da Justiça Estadual no caso? 
Em outras palavras, qual comarca será competente para julgar o crime? 
Justiça do Distrito Federal (Vara Criminal de Brasília), nos termos do art. 88 do CPP: 
Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o 
juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver 
residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República.

Outros materiais