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Direito e Psicologia nas Varas de Família

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Faculdade de Direito de Varginha – FADIVA
Disciplina: Psicologia
Prof. Sílvio Memento Machado 
A INTERLOCUÇÃO COM O DIREITO À LUZ DAS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS EM VARAS DE FAMÍLIA
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INTRODUÇÃO
A prática da Psicologia nas Varas de Família exige o conhecimento básico dos códigos jurídicos que regulam a família no Brasil.
Os arranjos familiares e amorosos com que os operadores do direito se surpreendem hoje em dia levam a uma interlocução do Direito com outros saberes. 
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INTRODUÇÃO
Em contrapartida, de nada adianta o psicólogo se restringir à especificidade do seu campo, se ele desconhece, por exemplo, os critérios jurídicos que norteiam a decisão de uma guarda ou os deveres e direitos parentais.
Da mesma forma, é comum que no seu atendimento o psicólogo se depare com argumentos cujos valores já foram revistos e substituídos em lei. 
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DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 AO ESTATUTO DA MULHER CASADA
No Brasil do Império, a legislação sobre a família era regulada pelo Código Civil Português, que, por sua vez, era inspirado no Código das Ordenações Filipinas (1603). Essa legislação permaneceu em vigor até 1916.
Essa legislação só se aplicava ao casamento dos católicos. Protestantes e Judeus não poderiam ter seus casamentos reconhecidos pelo Estado, tão pouco as uniões extraconjugais. 
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DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 AO ESTATUTO DA MULHER CASADA
Apenas em 1890, através do decreto 181, aboliu-se a jurisdição eclesiática, julgando-se como único casamento válido o realizado perante as autoridades civis. 
Com o Código Civil Brasileiro de 1916, consolida-se a definição de família como sendo a união legalmente constituída pela via do casamento civil. 
Repúdio ao concubinato. 
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DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 AO ESTATUTO DA MULHER CASADA
No Código de 1916, a família é vista como núcleo fundamental da sociedade, legalizada através da ação do Estado, composta por pai, mãe e filhos (família nuclear) e, secundariamente, por outros membros ligados por laços consanguíneos ou de dependência (família extensa). Ao mesmo tempo, ela se organiza num modelo hierárquico que tem o homem como o seu chefe (família patriarcal). 
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DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 AO ESTATUTO DA MULHER CASADA
A mulher casada era considerada relativamente incapaz, em oposição à situação jurídica da mulher solteira maior de idade. Essa incapacidade retira da mulher o poder de decisão sobre a prole e o patrimônio, cuja competência pertence ao homem. A mulher casada precisava de autorização do seu marido para exercer profissão, para comerciar, além de estar fixada ao domicílio decidido por ele. Os compromissos que assumia sem autorização marital não tinha eficácia jurídica.
Somente na falta ou no impedimento do pai que caberia à mulher a função de exercer o pátrio poder. 
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DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 AO ESTATUTO DA MULHER CASADA
No que tange à separação do casal, o Código de 1916 prevê apenas a separação de corpos por justa causa, conhecido por desquite, preservando assim a indissolubilidade do casamento. A separação não desfaz o vínculo matrimonial.
Com o desquite, delega-se ao inocente no processo de separação o direito de ter os filhos consigo e ao cônjuge culpado, o direito de visita. 
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DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 AO ESTATUTO DA MULHER CASADA
Durante muito tempo, as regulamentações visavam reforçar os padrões de moralidade já previstos no Código Civil, tais como: a valorização do casamento legal e monogâmico, o incentivo ao trabalho masculino e a dedicação da mulher ao lar, o temor higienista dos casamentos consanguíneos e do uso da sexualidade feminina e, em suma, a defesa da harmonia e dos costumes da família. 
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DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 AO ESTATUTO DA MULHER CASADA
No período de 1946 a 1964, caracterizado politicamente como democrático, destacam-se a lei de reconhecimento de filhos ilegítimos e o “Estatuto da mulher casada” de 1962, que outorga capacidade jurídica plena à mulher.
 Com o “Estatuto”, a decisão sobre a prole e o patrimônio deixa de ser exclusividade do homem. Ele também revoga a incapacidade da mulher casada. 
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DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 AO ESTATUTO DA MULHER CASADA
Um exemplo dos efeitos jurídicos do “Estatuto”: na hipótese de desquite judicial, em que ambos os cônjuges são considerados culpados, os filhos menores ficam com a mãe, diversamente do que ocorria no regime anterior, em que os filhos varões, acima de seis anos, ficavam com o pai.
 A despeito de uma certa liberalização em relação ao casamento e ao regime de bens, o “Estatuto” não rompe algumas premissas básicas. 
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DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 AO ESTATUTO DA MULHER CASADA
Se o modelo jurídico da família nuclear, com laços extensos, patriarcal, fundada na assimetria sexual e geracional permanece inalterado do período autoritário ao democrático, as práticas sociais se afastam cada vez mais do tipo ideal da doutrina jurídica. 
O final dos anos 60 e a década de 70 foram fecundos nesse sentido. 
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NOVOS ARRANJOS E A DIFUSÃO DAS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS
Fatores que colocaram em xeque o modelo familiar preconizado pelas legislações:
O movimento feminista, a introdução da mulher no mercado de trabalho, a pílula anticoncepcional, a liberação sexual, o “milagre econômico”, o desenvolvimento industrial urbano e a abertura para o consumo. 
Esses fatores irão se refletir nas decisões jurisprudenciais e nas
propostas de reformulação do Código Civil. 
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NOVOS ARRANJOS E A DIFUSÃO DAS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS
“Nesta nova família, cabe à dona de casa buscar uma certa independência do marido, ter sua renda própria, seu próprio carro, além de procurar abandonar o ar de matrona ao qual os filhos e o casamento a condenavam” (Russo, 1987:195)
O homem desvincula-se, ao menos idealmente, do papel tradicional de “machista”, cuja relação privilegiada com o trabalho fora de casa e com os próprios interesses sexuais deixa de ser exclusividade de seu gênero. 
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NOVOS ARRANJOS E A DIFUSÃO DAS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS
A tradição e a rede familiar cedem lugar às individualidades e seus prazeres correlatos, de modo que se torna necessário o exame de si mesmo para que as relações entre homens e mulheres, maridos e esposas, pais e filhos possam ser negociadas a todo e qualquer momento.
É nesse contexto que explode o sucesso das práticas terapêuticas. 
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NOVOS ARRANJOS E A DIFUSÃO DAS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS
Todo esse panorama de mudança nos anos 70 torna extremamente frágil não apenas os deveres correlatos entre os sexos, mas também o ideal de indissolubilidade do casamento. 
Sobre o fim do casamento: pressão política dos militares (pag. 60). 
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DA LEI DO DIVÓRCIO À CONSTITUIÇÃO
Lei do divórcio: 26 de dezembro de 1977. Regulamenta a dissolução da sociedade conjugal e do casamento.
Essa lei abole o termo “desquite” e estabelece a possibilidade de somente um divórcio por cidadão, para aplacar a oposição da Igreja Católica. 
Quanto à guarda dos filhos no caso de divórcio, ela é conferida a apenas um dos genitores, cabendo ao outro o direito à visitação e ter os filhos em sua companhia. 
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DA LEI DO DIVÓRCIO À CONSTITUIÇÃO
A guarda dos filhos menores fica com o cônjuge “inocente” na separação, mantendo o sistema vigente de definição de guarda a partir da “falta conjugal”.
Se pela separação forem responsáveis ambos os cônjuges, os filhos menores ficam em poder da mãe, a não ser que ela tenha comportamento reprovável do ponto de vista moral.
O privilégio da maternidade, acabava gerando dificuldades para o exercício da paternidade, ou afastando o homem da esfera de influência sobre os filhos. 
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DA LEI DO DIVÓRCIO À CONSTITUIÇÃO
Com a Constituição Federal de 1988, o concubinato passa a adquirir proteção do Estado, na condição de união estável.
O conceito de família se amplia na medida em que passa
a legitimar a diversidade de uniões existentes no contexto brasileiro. 
A constituição elimina também a chefia familiar, determinando a igualdade de direitos e deveres para ambos os cônjuges. 
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DA LEI DO DIVÓRCIO À CONSTITUIÇÃO
Na constituição se encontra pela primeira vez no Brasil os direitos da criança (art. 227) a partir do conceito de proteção integral e do entendimento da criança como sujeito de direitos.
No mesmo artigo, ficam proibidas discriminações entre filhos havidos dentro e fora do casamento e na adoção.
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DA CONVENÇÃO INTERNACIONAL AO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Aprovada no Brasil pelo Congresso Nacional e promulgada em 1990, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança é um instrumento jurídico, pois obriga os países que a assinam a adaptar suas legislações às suas normas e apresentar periodicamente um relatório sobre suas aplicações. No mesmo ano, a legislação nacional é alterada pela publicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
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DA CONVENÇÃO INTERNACIONAL AO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Os dois instrumentos consideram que a separação do casal não deve conduzir à dissolução dos vínculos entre pais e filhos, contrapondo-se ao entendimento que poderia se ter, a partir da Lei do Divórcio, de que não cabem preocupações com o cotidiano infantil ao genitor que não detém a guarda.
Ainda assim, pesquisas mostram que a guarda atribuída a um dos pais contribui para o afastamento do genitor descontínuo (pais de fim de semana). 
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DA CONVENÇÃO INTERNACIONAL AO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O direito de a criança manter um relacionamento pessoal com seu pai e sua mãe não resulta da autoridade e sim da responsabilidade parental em preservar o vínculo de filiação. Há, assim, a divisão entre Parentalidade e Conjugalidade. 
Na medida em que os códigos jurídicos passam a priorizar o melhor interesse da criança, tal critério deve se sobrepor ao de falta conjugal em toda decisão judicial a respeito da guarda de filhos de pais separados e divorciados. 
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DA CONVENÇÃO INTERNACIONAL AO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O interesse da criança, portanto, é um critério usado juridicamente sempre que a situação da mesma requer a intervenção do magistrado, visando a lhe assegurar um desenvolvimento adequado.
Para respaldar suas avaliações, o juiz solicita subsídios da Psicologia, entre outras áreas, cujos estudos correm o risco de estarem atrelados a uma certa noção padrão de normalidade. 
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A CRIANÇA ENVOLVIDA NO CONFLITO E OS MALEFÍCIOS DA PERÍCIA
A disputa da guarda num divórcio litigioso está baseada numa lógica adversarial em que um genitor tenta não somente mostrar que é mais apto para cuidar e educar os filhos, como também expor as falhas do outro para tal função. 
No litígio, a prevalência dos interesses de um implica em não atendimento aos interesses do outro. À medida em que os interesses se contrapõem, o juiz tem que decidir qual pretensão das partes está mais amparada na lei. 
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A CRIANÇA ENVOLVIDA NO CONFLITO E OS MALEFÍCIOS DA PERÍCIA
Abre-se um leque infindável de acusações de uma parte contra outra, cujas faltas morais teriam sido, como ambos argumentam, responsáveis pelo conflito. O que antes fazia parte do cotidiano do casal são agora práticas “bizarras” de um estranho que, por razões “desconhecidas”, foi outrora objeto de investimento amoroso (se o litígio persevera, é porque há ainda um vínculo entre um e outro). 
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A CRIANÇA ENVOLVIDA NO CONFLITO E OS MALEFÍCIOS DA PERÍCIA
Em face desse panorama, é comum o psicólogo ser requisitado a responder à difícil demanda de apontar o genitor mais qualificado ou analisar o impedimento de visitas de um ou de outro (papel bastante complicado). 
A definição de um guardião pode fazer com que alguns pais, sentindo-se impotentes com o papel de coadjuvantes, esbarrem nas decisões unilaterais de suas ex-esposas a respeito da vida dos filhos, assim como há mães que se sentem sobrecarregadas com o ex-marido que mal visita as crianças. 
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A CRIANÇA ENVOLVIDA NO CONFLITO E OS MALEFÍCIOS DA PERÍCIA
O laudo ou parecer psicológico pode acabar servindo de combustível para o fogo da desavença familiar, reacendido a cada decisão judicial. Se o psicólogo auxilia o magistrado a decidir o “melhor” guardião, por um lado, por outro, ele fornece um poderoso instrumento (ao relatar defeitos e virtudes de um e do outro) para as famílias darem prosseguimento aos processos judiciais. 
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A CRIANÇA ENVOLVIDA NO CONFLITO E OS MALEFÍCIOS DA PERÍCIA
A perpetuação do embate familiar, via poder judiciário, é um modo de dar continuidade ao trabalho de luto da separação, às vezes até mesmo da perda do objeto amado, ou é simplesmente um meio de manter o vínculo com o ex-companheiro. 
Para agravar a situação, os filhos são usados como instrumento de vingança e constrangimento, não havendo bom-senso que faça apelo ao fim do conflito. 
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A CRIANÇA ENVOLVIDA NO CONFLITO E OS MALEFÍCIOS DA PERÍCIA
É certamente impróprio indagar à criança com quem ela deseja ficar, cuja decisão pode acarretar, num outro momento, graves sentimentos de culpa por rejeitar um dos genitores.
Além do mais, é comum a fantasia da criança de que os pais voltarão conviver harmoniosamente. Muitas preferem o casamento infeliz dos pais ao divórcio. Pedir que a criança se posicione em relação ao divórcio, contraria seus interesses. 
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A CRIANÇA ENVOLVIDA NO CONFLITO E OS MALEFÍCIOS DA PERÍCIA
Dolto afirma que a criança deve ser ouvida pelo juiz, o que não pressupõe a escolha dos genitores e seguir o que ela sugere. Escutar a criança tem como significado o fato de ela ser membro da família e ter vontade de falar sobre o que se passa com ela, assim como tirar dúvidas sobre tal situação. Ao final, é importante a criança saber que “o divórcio dos pais foi reconhecido como válido pela justiça e que, dali por diante, os pais terão outros direitos, mas que não são liberáveis de seus deveres de parentalidade”.
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A CRIANÇA ENVOLVIDA NO CONFLITO E OS MALEFÍCIOS DA PERÍCIA
Ainda segundo Dolto, as crianças devem ouvir do juiz algumas palavras a respeito de seus deveres filiais, a saber, a preservação das relações pessoais com as famílias de ambas as linhagens. 
Não é difícil a criança se sentir culpada pelo divórcio, cuja existência é imaginada como um peso para os pais. 
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A CRIANÇA ENVOLVIDA NO CONFLITO E OS MALEFÍCIOS DA PERÍCIA
Mesmo que a criança ou o adolescente insista verbalizar com quem deseja ficar, não se pode perder de vista que há uma tendência nas situações de litígio de os filhos fazerem aliança com um dos genitores e perceberem o outro como “vilão” da separação. Essa aliança, normalmente, é feita com quem detém a guarda.
A lógica adversarial favorece o aumento de tensão entre os ex-cônjuges, sem desfazer o entendimento habitual de que ao final do processo há sempre vencidos e vencedores. 
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A CRIANÇA ENVOLVIDA NO CONFLITO E OS MALEFÍCIOS DA PERÍCIA
A sugestão do psicólogo ao juiz deve contar, o máximo possível, com a participação da família, retirando-as do papel passivo a que são frequentemente relegadas no processo de perícia. Para tanto, deve se privilegiar os recursos subjetivos, seja a partir da temática do sujeito, seja a partir do sistema relacional da família, para a orientação e o encaminhamento dos impasses. 
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A INTERVENÇÃO PSICANALÍTICA: A IMPORTÂNCIA DA FALA, O LAÇO CONJUGAL, A QUESTÃO DO DESEJO 
Envolvimento dos valores do julgador na objetividade dos atos e fatos jurídicos:
“O julgador, quando sentencia, coloca ali, para a solução do conflito, não só os elementos da ciência jurídica e da técnica processual, mas também toda uma carga de valores, que é variável de juiz para juiz.” (PEREIRA: 2001:250) 
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A INTERVENÇÃO PSICANALÍTICA: A IMPORTÂNCIA DA FALA,
O LAÇO CONJUGAL, A QUESTÃO DO DESEJO 
Pereira contrapõe à moral sexual a necessidade de repensar os paradigmas do Direito a partir da Psicanálise a partir dos conceitos de sujeito, sexualidade e desejo. 
O sujeito do Direito é aquele que age consciente de seus direitos e deveres e segue leis estabelecidas pelo ordenamento jurídico. Para a Psicanálise o sujeito está assujeitado às leis regidas pelo inconsciente. 
A sexualidade para o Direito tem sido sempre genitalizada – “conjunção carnal”. Para a Psicanálise a sexualidade é da ordem do desejo, da satisfação.
 
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A INTERVENÇÃO PSICANALÍTICA: A IMPORTÂNCIA DA FALA, O LAÇO CONJUGAL, A QUESTÃO DO DESEJO 
Por ser a Psicanálise um experiência discursiva, propõe-se que se devolva a fala à pessoa e aos processos inconscientes que subjazem ao processo judicial. Fazer falar o sujeito e não seus porta-vozes tão somente (o advogado), a fim de que não se leve à cronificação do conflito. 
 O simples encaminhamento para o estudo psicológico, dá estatuto psicológico a algo que é vivido pelas partes como um problema meramente jurídico, concreto e externo a cada um deles. 
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A INTERVENÇÃO PSICANALÍTICA: A IMPORTÂNCIA DA FALA, O LAÇO CONJUGAL, A QUESTÃO DO DESEJO 
Num processo litigioso, o sujeito não fala o que lhe vem à mente (regra da Psicanálise), mas sim o que pode favorecer a sua causa, tornando difícil alguma retificação na sua posição.
O que se pretende, numa escuta orientada pela Psicanálise, é que se promova alguma retificação subjetiva em que o sujeito deixa de se queixar do outro para reconhecer sua participação no conflito. Tenta-se que o sujeito passe de um estado de vítima para o de responsável por seus atos e palavras. 
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A INTERVENÇÃO PSICANALÍTICA: A IMPORTÂNCIA DA FALA, O LAÇO CONJUGAL, A QUESTÃO DO DESEJO 
A inscrição da Psicanálise no campo jurídico produz uma diversidade de efeitos: a re-significação do conflito, a resolução dos aspectos processuais, a dissolução das queixas ou, na pior das hipóteses, nada acontece e continuam-se as disputas familiares. 
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A MEDIAÇÃO FAMILIAR
A mediação tem o objetivo de devolver ao casal a competência para gerar a própria solução do conflito. 
Em certas áreas judicativas, o tradicional processo litigioso não é o melhor meio para a reivindicação efetiva dos direitos. Entende-se então que o movimento de acesso à justiça encontra razões para caminhar em direção a formas alternativas de resolução de conflitos, entre eles, a mediação. 
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A MEDIAÇÃO FAMILIAR
A prática da mediação pelo mundo: Estados Unidos (1974), Canadá (desde os anos 70), China (1949). O recurso da mediação também é desenvolvido na França, Israel, Austrália, Japão. Na América do Sul, Colômbia, Bolívia e Argentina antecederam o Brasil no emprego das resoluções alternativas de disputa. 
Somente no início dos anos 90, a mediação ingressou do sul do nosso país. 
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A MEDIAÇÃO FAMILIAR
A mediação pode envolver todos os pontos do divórcio ou se limitar somente às questões da guarda da criança e de sua visitação. A mediação pode também ser pública, privada ou ambos. Alguns programas de mediação excluem os advogados das partes, enquanto outros estimulam essa participação. Algumas práticas são liberais e não diretivas, enquanto outras são mais restritivas e condutoras. 
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Diferenças entre Negociação, Conciliação, Mediação, Arbitragem e Litígio com Resolução Judicial 
NEGOCIAÇÃO: quando os acordos são espontâneos e diretos sem auxílio de um terceiro.
CONCILIAÇÃO: Quando algum impasse dificulta a negociação e um terceiro auxilia a mantê-la ou a restabelecê-la, reduzindo tensões e animosidades, opinando e sugerindo alternativas. O conciliador atua diretamente no conflito. 
 
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Diferenças entre Negociação, Conciliação, Mediação, Arbitragem e Litígio com Resolução Judicial 
ARBITRAGEM: quando um terceiro, escolhido pelas partes (árbitro), decide, segundo critério de merecimento ou não, sobre as questões que envolvem o litígio. 
LITÍGIO COM RESOLUÇÃO JUDICIAL: quando um terceiro (juiz), não decidido pelas partes, determina, segundo critério legal ou de merecimento, sobre as questões das partes. 
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Diferenças entre Negociação, Conciliação, Mediação, Arbitragem e Litígio com Resolução Judicial 
MEDIAÇÃO: quando algum impasse dificulta a negociação e um terceiro auxilia a mantê-la ou a restabelecê-la, desde que as partes sejam autores da decisão. Atuando na construção de um ambiente colaborativo e na desconstrução dos impasses, possibilita que um diálogo sobre as questões se estabeleça e decisões consensuais possam ter lugar. O mediador atua mais como facilitador do que como interventor ativo. 
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Diferenças entre Negociação, Conciliação, Mediação, Arbitragem e Litígio com Resolução Judicial 
A figura do mediador busca a resolução das controvérsias de forma pacífica, evitando o litígio e indo ao encontro de acordos que as partes possam compor entre si. O mediador evita fazer imposições e traz à discussão apenas o que o casal quer negociar, orientando e buscando ideias que facilitem a construção de um compromisso favorável ao invés dos antagonismos. 
Trata-se, portanto, na mediação, de devolver à família a responsabilidade pelo desfecho do litígio. 
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Impactos do divórcio, acordos em relação aos filhos e a não burocratização das visitas 
É muito comum a desorientação do casal e da família após a separação, impondo-se a cada um a busca de parâmetros para se situar diante da nova situação.
Os filhos vêem-se com pouco controle sobre as mudanças impostas pelo divórcio. Muitos não têm somente dificuldade para se ajustar a novos locais de residência ou à queda da situação econômica, mas também ao colapso do apoio e da proteção que até então esperavam encontrar na família. Os pais simultaneamente têm diminuída a sua capacidade parental. 
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Impactos do divórcio, acordos em relação aos filhos e a não burocratização das visitas 
Os filhos sentem-se vulneráveis, rejeitados, culpados, solitários, sendo muitas vezes usados, para agravar a situação, como suporte emocional de um ou ambos os genitores. A criança concentra amiúde seus esforços para reverter a decisão do divórcio. 
Diante desse panorama tem surgido vários programas de intervenção breve destinados a proporcionar atendimento psicológico e recomendações sociais e educacionais para famílias em dificuldades para elaborar a situação de divórcio. 
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Impactos do divórcio, acordos em relação aos filhos e a não burocratização das visitas 
Após a separação, alguns genitores acabam desaparecendo da vida dos seus filhos por não suportarem os constantes desentendimentos e não concordarem com o papel de visitantes a que são relegados. Muitos também não suportam pegar os seus filhos na casa que um dia já foi sua.
Convém ao psicólogo promover, junto aos demais profissionais, acordos de visita que possam manter, como é de direito, o estreito relacionamento da criança com seus pais. 
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A guarda compartilhada: o reforço da responsabilidade parental e o fim da falta conjugal e do pátrio poder 
A custódia conjunta é um dispositivo jurídico que está relacionado ao direito inalienável da criança de manter o convívio familiar. A criança tem o direito de ser educada por seus dois pais, salvo quanto o interesse torna necessária a separação. 
A guarda compartilhada ou conjunta tem o objetivo de reforçar os sentimentos de responsabilidade dos pais separados que não habitam com os filhos. Evita-se, assim, a exclusão de um dos pais do processo educativo de sua prole e a consequente sobrecarga do outro. 
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A guarda compartilhada: o reforço da responsabilidade parental e o fim da falta conjugal e do pátrio poder 
Com a vigência do “Novo Código Civil” (2003), o critério da falta conjugal na definição da guarda é definitivamente revogado e a Lei da Guarda
Compartilhada (2008) põe fim à exclusividade da guarda mono-parental. 
O Novo Código Civil também pôs fim ao pátrio poder, cujo conceito cede lugar ao de poder familiar. Com efeito, o poder é estendido à mãe, pressupondo a divisão da responsabilidade na guarda, educação e sustento dos filhos. 
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Referência Bibliográfica
BRANDÃO, E. P. A interlocução com o Direito à luz das práticas psicológicas em Varas de família. In: GONÇALVES, H. G.; BRANDÃO, E. P. (org.). Psicologia jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: NAU Ed., 2004.

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