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HISTÓRIA DO DIREITO 1 O importante da educação não é apenas formar um mercado de trabalho, mas formar uma nação, com gente capaz de pensar. "(José Arthur Giannotti) APRESENTAÇÃO 2 Professor: Msc - Wellington Moisés de Oliveira Mestre em Ciência Política; Pós graduado em Direito Constitucional; Pós graduado em Gestão Pública; Pós graduado Docência do Ensino Superior; Advogado Livro Escrito CPI BRASIL, Análise da real efetividade de uma investigação parlamentar. www.institutocpibrasil.org.br www.ferrazoliveira.adv.br wellingtonadv@gmail.com 1 - INTRODUÇÃO 3 Quando construímos uma casa, é importante fazermos um bom alicerce com ferro e concreto para depois edifica-la. Da mesma forma serve a História do Direito para o curso de Direito. Para chegarmos às disciplinas tradicionais, como Direito Civil e Direito Penal, há necessidade de fazermos um bom alicerce, e esse alicerce é dado, dentre outras disciplinas, pela História do Direito. Reta histórica de nosso estudo 4 Seguiremos uma reta imaginária sobre a história do Direito e abordaremos os seguintes pontos: Direito Hebraico, Direito Egípcio, Direito Mesopotâmico, Código de Hamurábi, Código de Manu, Direito Grego, Direito Romano, Direito Muçulmano, Direitos na Idade Média, Direito Inglês e Leis Portuguesas. Na abordagem dos temas, procuraremos sempre fazer uma ligação do Direito da época com o Direito atual. 2 - DIREITO HEBRAICO 5 1. ORIGEM. Os HEBREUS eram povos nômades da família semítica, ou seja, semitas (babilônio sírios, hebreus, fenícius, cartagineses, Árabes, assírios e egípcios), que viviam em tribos, originalmente habitando a Palestina. Eles atravessaram a Palestina, em direção ao Egito, na época em que Hamurabi reinava na Babilônia. Durante quase cinco séculos os Hebreus conviveram com egípcios: ganharam dinheiro com o comércio e cargos importantes no governo do Egito (Ex. José, filho de Jacó, foi ministro do Faraó ). 6 No entanto, por volta de 1580 a .C os egípcios passaram a maltratar, humilhar e escravizar os hebreus. Então, o hebreu Moises, que nasceu no Egito, recebeu mensagem divina para retirar o seu povo do cativeiro e retornar à Palestina (êxodo). Diante da recusa do Faraó em permitir a saída do seu povo, Moises lançou 10(dez) pragas sobre o Egito, até que com a última a morte dos primogênitos obteve a permissão. Entretanto, quando estava caminhando com o seu povo, o Faraó mandou um exercito persegui-los, mas este foi tragado pelas águas do mar vermelho, que fechou logo após a passagem dos israelitas. Iniciou-se, então, a fase sedentária e legislativa do reino de Israel por volta de 1400 a 1300 a .C, quando surgiu o último dos cinco livros do antigo testamento, DEUTERONÔMIO (segunda lei).Trata- se de regras religiosas e jurídicas aplicadas aos hebreus e vigorou, em parte, até a queda do reino de Judá, em 586 a.C. 7 O reino de Israel encontra seu apogeu em Davi (1005-966 a. C) e Salomão, seu filho (966-926 a .C). Contudo, em 721 a.C., divergências internas provocam a divisão em dois reinos: reino de Israel e reino de Judá: o primeiro foi destruído pelos Assírios; o segundo, apesar de dominado pelos Persas e Babilônicos, permanece, como já mencionamos, até 586 a.C. vale lembrar, que o Rei da Babilônia Nabucodonosor deportou o rei de Judá Joaquim para Babilônia e, em seguida, o seu exercito incendiou e destruiu o templo de Jerusalém. Por fim , os romanos ocuparam a palestina e promoveram a diáspora, em 70 d. C, ocorrendo a dispersão dos Hebreus, mas estes exerceram profunda influencia moral, religiosa e jurídica no ocidente. 8 2. CARACTERÍSTICAS 2.1. O direito hebraico é um direito religioso(Religião Monoteísta). Trata-se de um Código jurídico e religioso, onde as normas morais, religiosas e jurídicas se confundem. 2.2. Todo crime é um pecado, pelo qual o homem é responsável perante Deus, e não perante o Estado. 2.3. O Código de Hamurabi tinha um conteúdo mais jurídico, enquanto o DEUTERONÔMIO apresenta um caráter mais RELIGIOSO, embora tenha havido influências daquele neste. 2.4. Influenciou o direito romano, direito medieval, direito canônico, direito muçulmano, direito germânico e a cultura jurídica ocidental. No trigésimo sétimo ano do cativeiro de Joaquim, o rei de Babilônia Evil-Merodac concedeu-lhe a liberdade e um trono mais elevado que os dos reis da Babilônia. E, até o fim de sua vida, Joaquim comia à mesa do rei de Babilônia (Cf. Deuteronômio 2:27) 9 3. FONTES DO DIREITO A Bíblia é um livro sagrado que contém a LEI revelada por DEUS aos israelitas. 10 3.1 PENTATEUCO. Para os Judeus PENTATEUCO tem o nome de TORA, que significa LEI ESCRITA, revelada por DEUS. Trata-se da parte principal do VELHO TESTAMENTO, que compreende 5 (cinco) livros: a) GÊNESIS (livro das origens) b) ÊXODO (saída do Egito) c) LEVÍTICO (regras religiosas sobre culto e rituais) d)NÚMEROS (permanência dos hebreus no deserto 12 tribos ou clãs) e)DEUTERONOMIO. (livro religioso e jurídico) 11 3.2. DEUTERONÔMIO. É um livro da lei, que estabelece normas de direito público, direito privado, direito de família, direito do trabalho, direito penal e processual. A ideia central do DEUTERONÔMIO é a EXORTAÇÃO À OBEDIÊNCIA (4: 2-5); RELEMBRA O DECÁLOGO (5: 1 A 10). Moises utilizou método de persuasão semelhante ao Rei Hamurabi, como líder religioso e político. 12 3.3. DECÁLOGO. Ditado à Moises no Monte Sinai por Jeová, encontra-se no Êxodo (XX, 2-7) e no DEUTERONÔMIO (V, 6-18), contém, regras de caráter moral, religioso e jurídico: Tu não matarás; Tu não levantarás falso testemunho contra o teu próximo; Não cometereis adultério; Não roubaras etc... 13 4. ALGUNS INSTITUTOS JURÍDICOS (DEUTERONÔMIO) 4.1. ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA (16:18) 4.2. PERÍODO DE DESCANSO DA JORNADA DE TRABALHO (5:12-13-14) 4.3.ESCRAVIDÃO POR DÍVIDA (15:12-13-14) 4.4. TESTEMUNHA (19:15) 4.5. FALSO TESTEMUNHO (19:16-18-21) 4.6. PODER FAMILIAR (21:18 A 21) 4.7. CRENÇAS E CULTOS RELIGIOSOS (17:3 E 7) 4.8. CASAMENTO (22:13-14-20~28) 4.9. ADULTÉRIO (22:22) Obs: Comparar com as instituições e institutos jurídicos do direito moderno. 14 NO BRASIL como regra geral não há pena de morte. Temos uma exceção: em caso de guerra declarada pode existir esta pena (por fuzilamento) 3 – DIREITO EGÍPCIO 15 1. AS CRENÇAS Os períodos de cheia (recuo das águas do Nilo são previsíveis e estáveis; em se tratando de povos de credo politeísta, é comum a associação entre as divindades e os fenômenos da natureza. Assim, a regularidade do ciclo das águas do Nilo trazia, aos habitantes do Egito antigo, urna sensação de continuidade, de evasão da passagem do tempo, que acabou por ser associada a um rito de imortalidade: o culto a Osíris. 16 2. A POLÍTICA *Forma de Governo: Monarquia; Desde a consolidação da unificação dos reinos do Sul e do Norte (c. 3100 a.C.) até o final dos períodos de predomínio persa (525-404 e 343-332 a.C.) e início da dominação romana (30 a.C.), consolidou-se uma monarquia unificada, com um poder central bastante definido, o faraó, e com uma capital instalada em determinada cidade do reino (que podia ser Mênfis, Tebas, Sais, entre outras). O papel conferido aos soberanos: Por influência da regularidade nas manifestações da natureza - especialmente das águas do Nilo -, e a criação de um rito de imortalidade a ser cumprido pelo faraó, consagrou-se a concepção de que o monarca não era um simples representante divino na Terra. Ele era o próprio deus - fenômeno intitulado teofania. 17 3 . O DIREITO O faraó é a própria encarnação da divindade, e dele emanam todas as normas, não será possível conceber qualquer decisão política que vincule o soberano pelo seu simples poder temporal. O direito terá de se originar num plano superior: a revelação divina. O princípio de justiça divina: um princípio de justiça que é simbolizada pela figura da maat. “Os egípcios acreditavam numa lei reguladora e organizadora, numa noção de eterna ordem das coisas e do Universo, a maat, de grande importância na estruturação e funcionamento da própria realeza. Pode-se afirmar que é o elemento basilar do Estado egípcio. 18 4. A APLICAÇÃO DO DIREITO Estava subordinada, então, à incidência de um critério divino de justiça; Ao faraó, que tinha atributos de divindade, incumbia velar pela vigência do princípio de justiça simbolizado pela deusa maat; A maat possui um conteúdo e uma vertente social, ética e cósmica que confere direta e expressamente ao faraó a responsabilidade de estabelecer a Justiça, a Paz, o Equilíbrio e a Solidariedade social e cósmica da sociedade terrena. A função real devia estar conforme aos desígnios da maat. 4 – DIREITO MESOPOTÂMICO 19 1. AS CRENÇAS; A cheia e recuo das águas do Tigre e do Eufrates possui um caráter pouco regular e previsível “têm comportamento muito menos uniforme que o Nilo. Os habitantes da antiga Mesopotâmia eram obrigados a enfrentar variações climáticas, ventos cortantes, chuvas torrenciais e enchentes devastadoras, que escapavam a seu controle” DIFERENTEMENTE DO EGITO... ...disso decorria a impossibilidade de credo em um ritual de fundo cíclico quanto à vida e à morte. “Na Mesopotâmia a monarquia representava a luta de uma ordem humana para se integrar ao Universo”. Essa variação no sistema de crenças terá reflexos na política e na economia desses povos do Oriente próximo. 20 2. POLÍTICA *Forma de Governo: Monarquia Desde seus primórdios, essa civilização optou pela fundação de cidades - comumente designadas cidades-estado - com alto grau de independência. Cada cidade tinha seu governante, seus órgãos políticos, e, muitas vezes, seu próprio exército. 21 3 . AS CIDADES-ESTADO Logo, na região da Suméria havia as cidades de Ur, Uruk, Lagash e Larsa, entre outras; na Babilônia, além da cidade do mesmo nome, podem ser mencionadas Kutha, Kish, Borsipa; na região da Acádia, além da capital homônima, as cidades de Eshnunna e Sippar. E, por fim, na Assíria, as cidades de Nínive, Assur e Nuzi tinham algum destaque. Todas essas cidades possuíam soberanos e divindades próprios. É nítido o contraste entre unidade do exercício do poder político, no antigo Egito, e a fragmentação desse poder entre as várias cidades da Mesopotâmia. 22 Com a fragmentação do poder político entre vários monarcas (os quais, frequentemente, guerreavam entre si), era simplesmente impossível fundar a dominação do rei com base na assunção de uma divindade. A monarquia, nas cidades do Tigre e do Eufrates, assumiu um caráter mais humano. O rei era um representante de deus (a divindade escolhida pela cidade) na terra. E e s t a v a s u b m e t i d o a l i m i t a ç õ e s e contingências típicas de qualquer ser humano. 23 4 . O DIREITO A justiça, no fundo, identifica-se à vontade dos deuses, cujas razões escapam à compreensão dos homens: e estes não devem julgá-la”. 24 4.1. Código de Ur-Nammu Promulgado em alguma data situada entre 2140 e 2004 a.C.: sua estrutura geral - e dos outros que lhe sucederão pode ser descrita como um meio-termo entre o direito fortemente concreto das sociedades arcaicas (pensado e manifestado exclusivamente para o caso em discussão) e as formas abstratas e gerais que caracterizam o direito moderno. As n o r m a s q u e s u b s i s t i r a m l i g a m - s e predominantemente ao domínio do direito penal e às penas pecuniárias; 25 4.2. Códigos de Eshnunna e Lipit-Ishtar Contêm um prólogo, epílogo e 43 artigos. O Código de Eshnunna, mais extenso e completo (possui sessenta artigos), traz uma simbiose entre matérias civil e penal; já contempla institutos conexos à responsabilidade civil, ao direito de família e à responsabilização de donos de animais por lesões corporais seguidas de morte. 4 – CÓDIGO DE HAMURÁBI 26 1. INTRODUÇÃO Por conta de sua importância, far-se-á um estudo deste instituído jurídico dos povos mesopotâmicos em um capítulo à parte. Assim, um lugar onde quase tudo que consideramos civilizado nasceu, ex. escrita, tijolo , cerveja. O crescente fértil, onde está hoje o Iraque e uma parte do Irã. Tem esse nome por causa da fertilidade do Rio Tigre e do Rio Eufrates e ambos dão um formato de uma lua crescente de cabeça para baixo. Uma sociedade há +/- 3.000 anos e rica. 27 No final de 1901, uma expedição francesa de arqueologia encontrou um apedra “estrela” com aproximadamente 2,5 m de altura contendo um número de 282 de Leis, Artigos que chamamos de Código de Hamurabi, porque foi escrito a mando do rei Hamurabi na Babilônia 1m 1750 a.C. 28 2. SOCIEDADE DA BABILÔNIA DO REI HAMURABI Era dividida em três camadas sociais, e representantes por uma pirâmide de cabeça pra baixo: 1ª – Awilum, homens livres com todos os direitos de cidadão, era o maior e tinha na sua composição tanto ricos como pobres; 2ª – Muskênum – camada intermediária entre os Awilum e escravos, era formado por funcionários públicos – serviam a realeza; 3ª – Escravos – prisioneiros de guerra e minoria da população; 29 3. ALGUNS ARTIGOS DO CÓDIGO DE HAMURABI OU ALGUNS TÓPICOS: Talião (a pena de Talião) Idéia da Equivalência – exemplificado na Bíblia com a seguinte frase: “olho por olho, dente por dente...” Não é uma Lei, é uma idéia que indica que a pena do delito é equivalente ao dano causado neste: “Se João cegou Antonio, João terá o mesmo sofrimento que teve Antonio; ficará cego”. Dá uma idéia de equivalência, a idéia da proporcionalidade. Artigo 229 e 230 – Talião: Art. 229 – “Se o construtor edificou uma casa para o homem livre (Awilum), mas não reforça o seu trabalho, e a casa, que construir, cair e causar a morte do dono da casa, esse construtor será morto”. Art. 230 – “Se causou a morte do filho da casa, matarão o filho do construtor”. O Código Hamurabi utiliza esse princípio no tocante a danos físicos. 30 NO BRASIL É um crime previsto no CP a conduta do agente que “faz justiça com as próprias mãos”. – Art. 345 CP; 31 3.1 Falso Testemunho Era tratado com severidade pelos povos antigos notadamente na Babilônia, porque a prova material era de difícil constatação (prova pela fala), restando somente a prova testemunhal (aquela ocular) dos fatos. A prova testemunhal era a “Rainha das Provas”; - Art. 3º - CH – “Se um Awilum apresentou-se em um processo com testemunho falso e não pode comprovar o que disse: se esse processo é um processo capital (processo principal) esse Awilum será morto”. 32 NO BRASIL, o correspondente – Art. 342 do CP Reclusão – Penitenciária Detenção – Colônia Penal Agrícola ou Industrial “Nemo tenutuk se detegere” (prova contra si mesmo) - Art. 6º - CH – “Se um Awilum roubou um bem de propriedade de um deus ou do palácio, esse Awilum será morto; e aquele que receber de sua mão o objeto roubado será morto”. - Art. 22 - CH – “Se um Awilum cometer um assalto (roubo / subtração com violência) e for preso, esse Awilum será morto”. * roubo – com violência * furto – sem violência 33 NO BRASIL, o roubo é a subtração de coisa alheia móvel com violência ou grave ameaça a uma pessoa, com pena de 4 a 10 anos de reclusão, mais multa – Art. 157 CP; o furto é amera ou simples subtração de coisa alheia – Art. 155 CP – Pena de 1 a 4 anos de reclusão, mais multa; • Receptação – Art. 180 CP. 34 3.2. Estupro O estupro sem pena alguma para a vítima, era previsto neste código somente para “virgens casadas”, ou seja, mulheres que embora tiveram contrato de casamento firmado, ainda não coabitavam com os maridos. - Art. 130 – CH – “Se um Awilum amarrou a esposa de um (outro) Awilum, que (ainda) não conheceu nenhum homem e mora na casa de seu pai, dormir em seu seio, e a surpreenderam, esse Awilum será morto, mas a mulher será libertada”. 35 NO BRASIL (Art. 213 CP trata de estupro), pela Lei 12015/09 de 07/08/2009 o Art. 213 do CP tem uma nova redação através da Lei supra citada, determinando que o estupro é a conjugação carnal com violência, e também a prática de qualquer outro ato libidinoso com violência. É hediondo – Art. 1º L 8072/90. Se no estupro resultar gravidez a mulher poderá abortar, interromper a gravidez – Art. 128 CP 36 3.3. Adultério Somente a mulher cometia crime de adultério, e o homem, era no máximo, cúmplice, desta forma, se um homem (saísse) com uma mulher casada, ela seria acusada de adultério e ele de cúmplice do adultério, e se a mulher fosse solteira não comprometida não havia crime, porque esse era um povo que permitia o concubinato. - Art. 129 – CH – “Se a esposa de um Awilum for surpreendida dormindo com outro homem, eles os amarrarão e os lançarão na água. Se o esposo deixar viver sua esposa, também deixará viver o seu servo”. O perdão do marido traído era estendido ao cúmplice. 37 NO BRASIL o adultério foi crime por mais de 60 anos (Art. 240 CPP, porém no dia 28/03/2005 através da L 11106/05, o adultério foi banido da nossa legislação, ocorrendo a Abolitio Criminis (os efeitos penais da sentença são apagados, mas o efeito civil permanece). Hoje no Brasil o adultério é causa de quebra de dever de fidelidade (Art. 1573, I CC/02) 38 3.4. Defesa do consumidor Na Babilônia haviam leis que protegiam cidadãos dos maus prestadores de serviços. - Art. 233 – CH – “Se um pedreiro construir uma casa para um Awilum e não executou adequadamente e o muro ameaça cair, esse pedreiro deverá reforçar o muro as suas custas”. 39 NO BRASIL – Art. 20 do CC – Segundo CDC assim abre- se para o consumidor três hipóteses de forma al ternada: 1) Refazer o serviço; 2) Ressarcimento; 3) Desconto no preço. Para acidente de consumo – Art. 14 do CDC. 5 – CÓDIGO DE MANU 40 1. INTRODUÇÃO A Índia era uma região isolada entre o Himalaia (a mais alta cadeia de montanhas do mundo) e O Oceano Índico ao sul, o que dificultava a comunicação com outros povos, isto é, sem influência externa. 41 2. A SOCIEDADE HINDU A sociedade Hindu era dividida em castas e as regiões onde o hinduísmo permanece está inalterado até hoje. O sistema de castas não admite mudanças (ao menos em vida), portanto, nascer numa casta significa crescer nela, casar, ter filhos e morrer nela. A mistura de castas é considerado algo repulsivo, horroroso, hediondo, pois esta divisão foi feita na criação do mundo pelo deus BRAHMA. 42 3. O CÓDIGO DE MANU SE REFERE AS CASTAS SUPERIOR DOS BRAHMANES Varsyas ou Vaixás – era a casta dos comerciantes, muito ricos e poderosos como os brâmanes, na criação do mundo saíram da perna do deus Brahma. Sudras – era a casta inferior, sendo considerados uma praga, na criação do mundo saíram do pé do deus Brahma, quem eram: os pedreiros, os agr icul tores, cozinheiros, aqueles que trabalhavam para os outros. 43 3. O CÓDIGO DE MANU SE REFERE AS CASTAS SUPERIOR DOS BRAHMANES Brâmanes – era a casta superior, considerada a ma is pura f i s i camente e p r inc ipa lmente espi r i tualmente. Na cr iação do mundo é representada pela cabeça do deus Brahma. Ex de Brâmanes: médicos, líderes espirituais e administradores; Ksatryas – era a casta dos guerreiros, na criação do mundo era representada pelo braço do deus Brahma, representavam a força, os reis saíram desta casta. 44 Fora da Pirâmide – 0 – Fora das castas nós temos as pessoas consideradas o RESTO, nada, que eram os parias, não eram considerados casta, ex. sapateiros, coveiro, limpa-fossa e os curtidores. Na criação do mundo eram representados pela poeira debaixo do pé do deus Brahma. 0 –Dalits. Em 1950 baniu o sistema de castas, que dificilmente corroborou para esquecer. 45 4. ALGUNS ARTIGOS DO CÓDIGO DE MANU: 4.1. Testemunhas Uma testemunha não pode de maneira alguma ficar calada, pois isto é considerado o equivalente a um falso testemunho (silêncio = mentira); Art. 13 do CM – “É preciso ou não vir ao Tribunal ou falar segundo a verdade: o homem que nada diz, ou profere uma mentira, é igualmente culpado”. O testemunho de uma mulher não era bem visto, só era aceito em último caso, vejamos a regra: 46 4. ALGUNS ARTIGOS DO CÓDIGO DE MANU: Art. 54 do CM – Mulher só podia prestar testemunho para mulheres, eram considerados inconveniente, por causa da inconstância na fala. A pena para o falso testemunho era a precipitação no abismo – Art. 79 do CM – “Com a cabeça para baixo será precipitado no abismo mais tenebroso do inferno, a testemunha que, num inquérito judicial der depoimento falso”. 47 NO BRASIL Código Penal, Art. 342: Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou in térprete em processo jud ic ia l , ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 48 4.2. Divórcio O divórcio na Índia só poderia ocorrer se a deficiência fosse da esposa, ou seja, era só o marido que decidia a separação. 49 Causas do divórcio - embriaguez da esposa; - desobediência ao marido; - prodigalidade (a gastona); - enfermidade incurável; - tagarelice; - esterilidade; - dar a luz somente a filhas, - mau caráter; Tais causas beneficiavam somente ao marido, o único possuidor do direito ao repúdio; Art. 494 do CM – “durante um ano inteiro que o marido suporte a aversão de sua mulher (indiferença), mas depois de um ano se ela continuar a odiá-lo, que ele tome o que ela possui em particular (tomar seus bens e riquezas), lhe dê somente o que subsistir e vestir-se (comida e roupa) e deixe de habitar com ela”. 50 NO BRASIL (mudou em 2007) – Inicialmente o casamento era indissolúvel, não existia a Lei do Divórcio. Em 1977 houve uma emenda constitucional número 9, e o casamento passou a ser dissolúvel e o legislativo aprovou a Lei 6515 (a LD). 51 4.3. Adultério A pena era aplicada no caso de adultério da seguinte forma (só da mulher): - Art. 368 do CM – “Se a mulher, orgulhoso de sua família e de suas qualidade, é infiel (se trai) ao seu esposo, que o rei faça devorar por cães em um lugar bastante frequentado’’. 52 NO BRASIL foi abolido embora havia o Sid Crime por mais de 60 anos, em 11106/05 – Abolitio Criminus – L. 11/06/05. 53 4.4. Defloração A defloração no CM era definida como sendo feita SEM O USO DO ÓRGÃO GENITAL e era punido severamente. Além da pena física era necessária uma recompensa financeira e em dinheiro. - Art. 364 do CM – “O homem que, por orgulho, que macula violentamente uma rapariga (mulher virgem) pelo contato do seu dedo, terá dois dedos cortados imediatamente e merece além disso uma multa de 600 panos”. 54 NO BRASIL A defloração era o antigo crime de sedução que também foi banido pela L. 11106/05 55 4.5. Juros O CM legisla sobre juros inclusive impondo diferença entre as castas, vejamos as regras: - Art. 140 do CM – “Que ele receba 2% de juro, por mês de um Brahma, 3% de um Ksastrya, 4% de uma Varsya e 5% de um Sudra, segundo a ordem direta das castas, isto é, das classes”. 56 NO BRASIL É proibido o empréstimo de dinheiro a juros por pessoa física, com percentuais superiores a taxa permitida por Lei (Art. 4º - Usura – L. 1521/51 – Lei de Crimes Contra a Economia Popular). Uma pessoa física pode emprestar dinheiro para outra pessoa física, desde que aplique a taxa legal de juro. As pessoas jurídicas podem emprestar dinheiro desde que tenha autorização do Banco Central. 57 4.6. Roubo e Furto O CM explica a diferença entre esses dois crimes. - Art. 329 – “A ação de tirar uma coisa com violência, à vista do proprietário, é um roubo, em ausência do proprietário é furto”. 58 NO BRASIL O furto é subtrair coisa alheia móvel, podendo ser na presença ou não do proprietário, e o roubo no Brasil é tipificado no Art. 157 – é subtrair coisa alheia móvel, mediante violência ou falsa ameaça. 6 – DIREITO GREGO 59 1. JANELA HISTÓRICA Ao lado da Itália está a Grécia e suas Ilhas próximas. Impossível estudar a História do Direito sem atenção à Grécia, berço cultural da humanidade, componente juntamente com Roma da História Clássica, construíram para a filosofia do Direito Sócrates, Platão, e Aristóteles e também para a mitologia Grega. Aqui nasceu a democracia. Filósofos e Matemáticos ficaram eternizados pelos seus conhecimentos: Tales de Mileto e Pitágoras, ambos para a matemática, Hipócrates para a medicina, Aristóteles para o Direito. 60 2. CIDADE ESTADO Conceito: Era a associação religiosa e política das famílias e das tribos com seus dialetos. Veremos duas cidades estado, Esparta e Atenas, consideradas protótipos da civilização grega. 61 2.1. – Esparta Era uma cidade fechada com instituições arcaicas baseadas no conservadorismo e na aristocracia, militarista; Licurgo foi estadista responsável pelas Leis de Esparta. Vejamos o procedimento do jovem espartano para se transformar em um soldado. 1º passo – se a criança nasceu saudável, ficava sob a supervisão da cidade de Esparta – supervisão pública; 2º passo – aos 7 anos as crianças eram afastadas das mães e ingressavam num grupo militar para fazer ginástica e para marchar; 3º passo – dos 12 aos 17 anos, iam para o campo e deveriam se sustentar com o seu próprio esforço; 62 4º passo – com 17 anos passavam para KRIPTIA (prova de fogo) onde eram municiados com lanças e punhais, os quais deveriam ser usados para matar feras ferozes e degolar escravos. Se saísse vivo tornava-se adulto e recebia um lote de terra, devendo viver em um quartel recebendo uma refeição por dia. Não podiam casar antes dos 30 anos. Aos 60 anos se aposentavam do exército e podiam fazer parte do Conselho dos Anciãos. As mulheres recebiam os mesmos treinamentos físicos para que pudessem ser boas mães. Lei de Licurgo – determinava a educação dos jovens pelo Estado à partir dos 7 anos, desde que fossem saudáveis; 63 NO BRASIL A educação é dever do Estado e da família – Art. 205 a 214 da CF/88; 64 2.2. Atenas – Drácon e Sólon – “Todo homem livre que reside em Atenas é um cidadão”, foi ele que idealiza a EUNOMIA (= igualdade). Atenas possuía um regime mais desenvolvido e mais aberto que Sparta. Era pólo comercial dos vários gregos, atraindo comerciantes de toda parte do mundo de então. Destacam- se as figuras de Drácon e Sólon (legisladores) – Drácon (621 a.C.) foi o primeiro legislador de Atenas. É famoso até hoje pela severidade de suas leis (a maioria determinava a Pena de Morte – ele não tinha proporção, desde um crime simples e um outro pior e até mesmo uma opinião – Pena de Morte – Lei Draconiana = lei severa, austera e dura). 65 ATENAS BRASIL 1. Lista Draconiana d o s m a u s p a g a d o r e s “caloteiros) 1 . L i s ta SPC / SERASA 2 . L i s t a d o s C u l p a d o s p o r delitos ou crimes em Atenas, para q u e f i c a s s e r e g i s t r a d o i n p e r p e t u a r e i memoria 2. Rol dos Culpados – CP / CPP Art. 91 e ss De Drácon herdamos as seguintes listas: 66 Sólon (590 a.C.) foi o legislador que abrandou, suavizou as Leis de Drácon. É responsável pela EUNOMIA, isto é, a igualdade de todos perante a Lei, igualdade esta que está presente na maioria dos artigos que ele escreveu. É atribuída a ele a seguinte frase; “todo homem livre, domiciliado em território atiço será considerado cidadão ateniense”. Ele criou distritos eleitorais baseado nos domicílios do eleitor. Além disso concedeu anistia (perdão) geral para todos os crimes políticos (crime de opinião, delitos de opinião). 67 NO BRASIL a EUNOMIA – a palavra conhecida é ISONOMIA (igualdade) ou princípio da igualdade, que está presente na nossa Constituição no Art. 5º, Caput I da CF/88 – “Todos são iguais perante a Lei”, inciso I – “Homens e Mulheres são iguais em direito e obrigações”. 6 – DIREITO ROMANO 68 1. INTRODUÇÃO Período +/- 800 a.C. Acima do continente africano e do Mar Mediterrâneo, temos a Europa. Um pouco a direita aparecerá a Itália conhecida como “Bota” pelo seu formato geográfico. Conta a lenda que Roma foi fundada em 754 a.C. após o encontro de dois meninos, Rômulo e Remo, por uma loba que os teria amamentado salvando-os de morrerem afogados no Rio Tigre. Esses irmãos foram os iniciadores do Império Romano – Rômulo mata Remo. 69 Nossa ligação com os romanos e o Direito Romano (Flávio Lopes de Castro) do Livro “História do Direito geral e Brasil”. “Somos romanos até quando falamos, nossa língua é filha do latim, somos romanos na nossa noção urbana, somos romanos em nossa literatura, somos romanos mesmo quando temos uma noção de patriotismo. Somos romanos política e administrativamente, mas, principalmente, somos romanos quando falamos em direito, quando fundamos nossa sociedade em um Estado de Direito. Direito este sistematizado pelos romanos antigos”. 70 Observação: a maior relação do direito romano entre nós e com o nosso direito civil, cerca de 80% dos artigos do código civil foram confeccionados de forma direta (texto literal) e indiretamente das fontes jurídicas e romanas. 71 2. PARTICULARIDADES DE ROMA Tudo em Roma era superlativo, o Império Romano era composto por toda volta do Mediterrâneo, e eles chamavam este mar, o “Mare Nostrum”. Consideravam-se a “Cabeça do Mundo”, daí nasceu à expressão “caput mundi”. Roma tinha 1 milhão de habitantes por volta d o séc. I a.C. É considerado o maior imperador romano JULIS CAESAR (59-44 a.C.), ganhou muitas batalhas e ficou famoso pela formação de seu exército. Para o Direito ficou famoso o pensador romano MARCUS TULIUS CICERO (106-42 a.C.). Segundo Cícero havia dois tipos de Lei: Leis da Natureza e Leis feitas pelos homens; 72 Ex. - Leis da Natureza – Direito Natural – A vida; - Leis feitas pelos homens – Direito Posto – Direito Positivo (Leis das 12 Tábuas, Digesto, Institutas, Novelas e Fontes Jurídicas Romanas). Definição de Direito para os Romanos: “Viver honestamente, não lesar ninguém e dar a cada um o que é seu” (Digesto Item 1, “10” - *Digesto é a reunião de pareceres de jurisconsultos, dividido em 50 livros. Períodos do Direito Romano: - Pré-Clássico; - Clássico (apogeu); - Pós-Clássico (decadência). 73 Pré-Clássico – da fundação de Roma 754 a.C. até o séc. II a.C. – Fica caracterizado pelo formalismo, pela rigidez e pela ritualidade do direito. A família era o centro do direito. O maior marco desta época – “lei das Doze Tábuas”, que á codificação das regras da família e considerada a principal fonte do Direito Romano. 74 Clássico – do séc. II a.C. até séc. II d.C. Foi o auge do Império Romano e do direito. Neste período o poder do estado foi centralizado entre duas pessoas – Pretores e Jurisconsultos (hoje os juristas – doutrinadores), seriam os administradores da justiça – (juiz, hoje o ministro da justiça). Os jurisconsultos eram conhecidos como “prudentes, isto é, eram os estudiosos que davam pareceres e seus pareceres tinham força de Lei, tinham a mesma autoridade de um príncipe, e de um rei”. Daí nasceu a jurisprudência que para os romanos era o conhecimento das instituições divinas e humanas. OS PRETORES: Eram os magistrados que deveriam fazer justiça e, além disso, administrava (julgar e administrar). Existiam duas espécies: a) urbano – julgava as coisas relacionadas à cidade de Roma, ex. direito de vizinhança; b) peregrino – julgava as coisas do campo e julgava os estrangeiros, ex. usucapião rural, posse de uma terra em virtude de recurso de um prazo. 75 NO BRASIL o jurisconsulto tem o nome de jurista e o seu parecer não tem força da Lei, pode influenciar o julgador, o juiz. Jurisprudência – É a decisão reiterada ou repetida dos tribunais (isto é um colegiado, não é de uma pessoa). É considerada fonte do direito e princípio geral (Art. 4º LICC – Lei de Introdução do Código Civil) – “Quando a Lei foi omissa o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do Direito”. 76 Pós-clássico – (III d.C. até VI d.C.) – Nesse período o direito romano vivia do passado, isto é, do legado da fase áurea. Houve aqui tentativas de codificar o direito romano, através dos seguintes diplomas legais: Documentos Legais: Codex, Digesto, Institutas e Novelas; Primeiro documento legal do período da decadência – CODEX (tronco de árvore): 77 1º Codex – reúne todo suporte legal romano. Foi criado pelo Imperador Justiniano que resolveu compilar todas as constituições vigentes do Império Romano. O Codex era formado por 12 livros e se perdeu na história, não há o original dessa obra (Código). Regras do Codex: Ninguém é forçado a defender uma causa contra a própria vontade; Ninguém sofrerá penalidades pelo que pensa; 2º Digesto – (segundo diploma legal) – do latim digere – por em ordem, que é a reunião de pareceres dos jurisconsultos, composto por 50 livros, existe no original. Ex de uma regra: “a parte está contida no todo”, no Brasil isto tem significado “o acessório segue o principal”. Ex. na venda de um carro o toca CD segue; regra muito usada na compra de bens; “o bem acessório segue o bem principal”. 3º Institutas – Divididos em 4 livros, eram manuais de direito para estudantes. Na verdade, as Institutas eram uma espécie de resumos do direito romano, e com isso, Justiniano queria que o direito romano fosse estudado, respeitado e aplicado por um número cada vez maior de pessoas. 4º Novelas – eram as publicações das Leis de Justiniano, escritas em grego, voltada paro o Império Romano do Oriente. 78 Leis das XII Tábuas (Período Pré-clássico do séc. VIII a.C. até II d.C.) Introdução: Em Roma as regras eram costumeiras e desconhecidas dos plebeus (povo), no período pré-clássico, portanto “o povo” simplesmente era punido, resolveram então, impor a elite romana (os patrícios) que as regras do direito fossem conhecidas e colocadas por escrito, e o instrumento de pressão usado foi a ameaça de abandonar Roma, deixando a elite sem os seus empregados. Ato contínuo, os patrícios positivaram essas regras através das Leis das XII Tábuas. Com essa participação do povo nasceu a figura do “tribuno da plebe” (hoje representa o deputado). 79 Tábua Primeira – “Chamamento a juízo” - Item n. 10 – “Depois do meio dia, se apenas uma parte comparece, o pretor decidirá a favor daquele que está presente”. Essa regra é a origem da revelia no processo civil, isto é, o não comparecimento do réu ao Processo. 80 NO BRASIL se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos (a história) afirmados pelo autor (Art. 319 CPC); 81 - Item n. 11 – “O pôr do sol será o termo final da audiência” (em Roma só durante o dia). 82 NO BRASIL o Art. 172 CPC determina que os atos processuais realizar-se-ão das 6h00 às 20h00; para o STF dia é o período entre o nascer do sol e o pôr do sol, da aurora ao crepúsculo (Ministro Celso de Mello); 83 Tábua Terceira – “Direito ao Crédito” - Item n. 2 – (Trato de dinheiro a juros) “Se alguém coloca o seu dinheiro a juros superiores a 1% ao ano, que seja condenado a devolver o quádruplo”. 84 NO BRASIL juros Legais – Art. 406 e 407 do CC; Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes. 85 - Item n. 9 – (Como recuperar o dinheiro do devedor?) “Se são muitos os credores, é permitido, depois do terceiro dia de feira, dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quanto sejam os credores, não importando evitar mais ou menos; se os credores preferirem, poderão vender o devedor a um estrangeiro além do Rio Tigre”. 86 NO BRASIL Há possibilidade de punição para o devedor na área civil? – aquele que honra com a sua dívida. R. – aqui como regra geral não há punição para o devedor civil. Havia duas exceções previstas no Art. 5º, I - LXVII da CF88 são elas: devedor ou devedora de pensão alimentícia por atraso de no máximo de três meses; a prisão do depositário ou depositário infiel, por força da Lei, Contrato ou Ordem Judicial. 87 Tratado dos Direitos Humanos, em 1992 – Pacto de São José da Costa Rica – Decreto 698/92 – Surgem um CAN (Conflito Aparente de Normas) – Havia uma dúvida entre a regra do Art. 5º, I – LXVII da CF/88 e a regra do decreto 698/92 no seu Art. 7º. Para o Art. 5º da CF/88 existia duas hipóteses de prisão civil (Devedor de alimentos e Depositário Infiel). Para o Art. 7º do Decreto, a prisão civil só ocorreria para o devedor de alimentos. Até 02/12/08 o STF entendia que valia a norma constitucional por ser superior ao Decreto. Em 03/12/08, quando questionado, o STF, tendo em vista a nova composição, com os novos ministros, decidiu que a prisão civil por dívida prevista na CF, não se aplica ao depositário infiel, pois o direito a liberdade é um dos direitos fundamentais de sua privação, somente pode ocorrer em casos excepcionais, nos quais não se enquadra o depositário infiel. A justificativa é que todo tratado de Direitos Humanos tem natureza jurídica de norma supra legal, estando acima da CF. 7 – DIREITO MUÇULMANO 88 1. JANELA HISTÓRICA O Direito muçulmano é resultante da religião islâmica, que surgiu na Arábia no século VII d.C. Atualmente, é o Direito de aproximadamente um quinto da população muncial, pouco importando a nacionalidade de seus seguidores. Su principal documento legal é o Alcorão. 89 2. COMO FOI FUNDADO O ISLAMISMO? O islamismo teve como fundador Maomé (Muhammad). No ano de 622, Maomé fugiu de Meca para Medina, pois era contrário ao politeísmo que naquela época predominava entre os árabes; essa fuga sagrada é conhecida como hégira e originou o calendário muçulmano. Maomé, então, declarou a jihad (guerra santa) contra os líderes de Meca e a relegião árabe, e fundou o islamismo. 90 3. COMO SURGIU O ALCORÃO? Segundo a história, o Alcorão surgiu por meio de Maomé, que ouviu do anjo Gabriel as palavras de Alá e as transmitiu a seus seguidores. Como Maomé não sabia ler nem escrever, quando pregava, seus seguidores escreviam o que ouviam em peles de cabra ou em pedras. No entanto, foi o sucessor de Maomé, Abu Bakr, aconselhado pelo califa Omar, que resolveu compilar as palavras do profeta, e assim surgiu o Alcorão. O livro foi dividido em 114 capítulos (suras), subdivididos em versículos. Hoje, cerca de 40 países adotam o Alcorão como lei fundamental. 91 4. ALGUNS PONTOS DO ALCORÃO 4.1. Bebidas e Jogos No tocante a bebidas e jogos, o muçulmano deve, segundo o Alcorão, reservar a maior parte de seus rendimentos para o sustento de sua família. Poderá gastar em jogos ou consumir em bebidas somente o que sobrar (supérfluo). Capítulo II, versículo 219 do Alcorão: “Interrogar-te-ão sobre o vinho e os jogos de azar. Responde: ‘neles, há culpa grave e alguma utilidade’. E perguntarão: ‘o que deveremos gastar?’. Responde: ‘O supérfluo’. Assim Deus esclarece suas revelações. Quiçá reflitais”. 92 No BRASIL O jogo de azar é considerado contravenção penal (art. 50, lei das Contravenções Penais – LCP). A pena é de prisão simples de 3 meses a 1 ano e multa. São jogos de azar aqueles em que tanto o ganho como a perda dependem somente da sorte (ex.: roleta, bingo). O Supremo Tribunal Federal aprovou a Súmula Vinculante 2, que trata de bingos e loterias como o seguinte teor: “É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias”. Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia, é contravenção penal (art. 62, LCP). A pena é de prisão simples de 15 dias a 3 meses ou multa. Não há contravenção penal se a embriaguez for na própria casa do agente ou em ambiente estritamente privado. Prova-se a embriagues por exame de sangue, bafômetro ou prova testemunhal. 93 4.2. Usurpação e Suborno No Alcorão existem a previsão e a proibição de suborno a juízes para a apropriação de bens alheios. Capítulo II, versículo 188 do Alcorão: “Não usurpeis os bens uns dos outros por meios ilícitos, e não os empregueis para subornar os juízes e apoderar-vos, intencional e injustamente, de bens alheios”. 94 No BRASIL O particular que oferece vantagem a funcionário público comete o crime de corrupção ativa (art. 333, CP): “oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determina-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”. A pena é de 2 a 12 anos de reclusão e multa. No Código Penal, a usurpação referente a crimes contra o patrimônio está tipificada nos arts. 161 e 162, e a usurpação e função pública, no art. 328. 95 4.3. Poligamia No Alcorão, há possibilidade de o homem casar-se com mais de uma mulher, Porém o islamismo, atualmente, determina duas condições básicas: 1) o homem só poderá casar com até quatro mulheres; 2) após o casamento, o marido deve tratar a todas igualmente. Capítulo IV, versículo 3 do Alcorão: “...desposai tantas mulheres quantas quiserdes; duas ou três ou quatro. Contudo, se não puderdes manter igualmente entre elas, então desposais uma só ou limitai-vos às cativas que por direito possuis. Assim ser-vos-á mais fácil evitar as injustiças”. 96 No BRASIL Contrair alguém, sendo casado, novo casamento é considerado crime de bigamia (art. 235, CP). A bigamia é considerada crime contra a família. Tanto o homem como a mulher que, sendo casados, contraem um segundo casamento são sujeitos ativos desse crime. A pena é de reclusão de 2 a 6 anos. Aquele que, n~]ao sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção de 1 a 3 anos. 97 4.4. Difamação e Injúria No Alcorão, tanto a difamação como a injúria são condutas que serão punidas com castigo doloroso no dia do Julgamento Final (Juízo Final). Capítulo XIV, versículo 23-24 do Alcorão: “Os que difamam as mulheres honradas, reservadas, crentes serão amaldiçoados neste mundo e no outro e receberão um castigo doloroso no dia em que suas próprias línguas, mãos e pernas testemunharem contra eles”. 98 No BRASIL A difamação e a injúria são crimes contra a honra. A difamação ocorre quando alguém imputa fato ofensivo à reputação de outrem. Tem previsão no art. 139 do Código Penal e a pena é de 3 meses a 1 ano de detenção mais multa. Ex.: dizer que fulano de tal praticou incesto com sua irmã. Já a injúria ocorre quando alguém ofende a dignidade ou decoro de outrem. Tem previsão no art. 140 do Código Penal e a pena é de 1 a 6 meses de detenção ou multa. Ex.: xingar um médico de açougueiro. 8 – DIREITOS NA IDADE MÉDIA 99 1. JANELA HISTÓRICA Ao lado da Itália está a Grécia e suas Ilhas próximas. Impossível estudar a História do Direito sem atenção à Grécia, berço cultural da humanidade, componente juntamente com Roma da História Clássica, construíram para a filosofia do Direito Sócrates, Platão, e Aristóteles e também para a mitologia Grega. Aqui nasceu a democracia. Filósofos e Matemáticos ficaram eternizados pelos seus conhecimentos: Tales de Mileto e Pitágoras, ambos para a matemática, Hipócrates para a medicina, Aristóteles para o Direito. 10 0 2. DIREITO GERMÂNICO O Direito dos germânicos baseava-se nos usos e costumes e não era escrito. A família era o centro de onde partiam as regras, bem como os costumes, sendo eles a fonte do Direito. Na figura do pai havia o poder absoluto, conhecido como mund. Por meio dos usos e costumes germânicos, a família era responsável pelas dívidas, atos ilícitos e erros dos filhos. 10 1 No BRASIL Os pais são responsáveis pela reparação civil dos danos causados pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia (art. 932, I, CC). 10 2 2.1. Fontes do Direito Canônico • Regras da Bíblia (ius divinum); • Determinações dos papas e dos Concílios do Vaticano; • Costumes. 10 3 2.2. Juízos de Deus Os Juízos de Deus eram procedimentos que deveriam ser seguidos para q eu o acusado pudesse provar sua inocência. Acreditava-se que a divindade intervinha a favor do inocente. Destacamos os ordálios e os duelos. Ordálio era o procedimento segundo o qual o acusado se submetia a determinadas provas. Por exemplo: imersão de part5e do corpo em água fervente. Se as queimaduras fossem curadas sem sequelas, o acusado era considerado inocente; caso contrário, culpado. Duelo era o procedimento segundo o qual os acusados duelavam fisicamente (duelo de espadas) ou verbalmente (duelo judiciário), sendo a parte vencedora inocente perante Deus. 10 4 2.3. Inquisição Foi o tribunal especial para julgar e condenar os hereges, as pessoas que faziam oposição aos cânones da Igreja ou que eram acusadas de realizar bruxaria e feitiçaria. O tribunal era conhecido como Tribunal do Santo Ofício da inquisição. 9 – DIREITO INGLÊS 10 5 1. JANELA HISTÓRICA O Direito anglo-saxão surgiu no século VI d.C., com a conversão da Inglaterra ao cristianismo. A principal característica desse Direito é que ele não é codificado nem legislado. Assim, não há Código Penal, Código Civil, etc. No Direito inglês, o juiz, para decidir um processo, analisa o caso concreto e se baseia no precedente judicial. 10 6 2. COMMON LAW É o pilar de sustentação do Direito inglês; na verdade, é o direito costumeiro (consuetudinário). No sistema da common law, o juiz, para decidir o caso concreto, se socorre da jurisprudência dos tribunais ingleses (precedente judicial). 10 7 3. MAGNA CARTA DE 1215 Escrita em latim com 67 artigos, foi o mais importante documento do Direito inglês, influenciando vários diplomas legais, dentre eles a atual Constituição brasileira. Na Magna Carta, o rei João Sem Terra se comprometeu a respeitar direitos adquiridos pelos barões ingleses. 10 8 No BRASIL São institutos jurídicos que tiveram origem na Magna Carta inglesa e estão presentes na Constituição Federal de 1988: 11) Júri (art. 5º, XXXVIII): é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência para julgar os crimes dolosos contra a vida; 2) habeas corpus (art. 5º, LXVIII): será concedido sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade e abuso de poder. 10 – LEIS PORTUGUESAS 10 9 1. JANELA HISTÓRICA Chegamos agora a Portugal, no século XI, no reinado de D. Diniz (1279-1325). É importante o estudo de algumas leis portuguesas porque muitas delas foram aplicadas no Brasil Colônia e no Brasil império. Naquela época, o rei português incentivou o estudo do Direito notadamente com a fundação da Universidade de Coimbra (1290). Destacamos, para o estudo da história do Direito, as seguintes leis portuguesas: 11 0 2. LEI DAS SETE PARTIDAS Era uma enciclopédia jurídica, inspirada basilarmente no Direito romano e no Direito canônico. Foi trazida da Espanha por D. Diniz e traduzida para o português, com aplicação obrigatória em Portugal. O nome Sete Partidas se deu por causa da divisão da enciclopédia em sete livros: Livro I – Fontes do Direito e Direito Eclesiástico; Livro II – Composição Política e Militar do Reino; Livro III – Procedimentos Judiciais; Livro IV – Direito de Família; Livro V – Contratos; Livro VI – Sucessões; Livro VII – Delitos e Penas. 11 1 3. ORDENAÇÕES AFONSINAS Esse documento legal foi o primeiro de origem portuguesa, surgido em 1446. Era formado pela reunião de leis portuguesas e das resoluções régias em geral. Recebeu esse nome por causa do rei Afonso V, da dinastia de Avis. Sofreu influência do Direito canônico e da lei das Sete Partidas, bem como compilou os usos e costumes portugueses. As Ordenações Afonsinas foram divididas em cinco livros: Livro I – Direito Eclesiástico, Direito do Rei, Direito da Nobreza e Direito dos Estrangeiros; Livro II – Direito Eclesiástico, Direito do Rei, Direito da Nobreza e Direito dos Estrangeiros; Livro III – Regras do Processo Civil; Livro IV – Direito Civil e Direito Marítimo (Comercial); Livro V – Direito Penal e Processual Penal. 11 2 3.1. Estrutura do Judiciário nas ordenações Afonsinas O Judiciário português, nessa época, era dividido em três graus de jurisdição: 1º Grau: composto pelos juízes singulares; 2º Grau: composto pelos Tribunais Colegiados; 3º Grau: composto pela Casa de Suplicação. Levando em conta a importância para a história do Direito, notadamente a nossa, pois essa estrutura acabou por ser aplicada no Brasil, vamos analisa-la em pormenor. 11 3 1º Grau – Os juízes singulares eram divididos conforme sua especialidade; vale dizer, julgavam matérias determinadas. Eram divididos em sete: • Juízes ordinários: eram eleitos pelos “homens bons (os ricos e honrados da vila); • Juízes de fora: eram nomeados pelo rei e possuíam formação em Direito; • Juízes de órfãos: julgavam os menores; • Juízes de vintena: eram os juízes de paz (realizavam casamento); • Almotacéis: julgavam o direito de vizinhança e funcionários públicos corruptos; • Juízes de sesmaria: julgavam os casos relativos às questões agrárias (terras); • Alvazis (juízes) dos avençais e dos judeus: julgavam querelas entre funcionários do rei e querelas entre judeus. 11 4 2º Grau – os Tribunais Colegiados eram compostos dos seguintes órgãos: • Desembargo do Paço: era o local onde se apreciavam questões cíveis; • Conselho da Fazenda: resolvia os conflitos de arrecadação de tributos; • Mesa de Consciência e ordem: apreciava os recursos dos juízes singulares. 11 5 3º Grau – A Casa de Suplicação era a última instância da Justiça portuguesa, chefiada pelo rei. 11 6 No BRASIL Hoje, os juízes singulares portugueses são os juízes de direito; os Tribunais Colegiados correspondem aos tribunais de Justiça; e a Casa de Suplicação é o Supremo Tribunal Federal. O organograma do Poder Judiciário está previsto no art. 92 da Constituição Federal de 1988. 11 7 4. ORDENAÇÕES MANUELINAS Foi o documento legal que levou o nome de D. Manuel I, o Venturoso, em 1512. Caracterizou-se pela soma das leis extravagantes existentes na época e também por ter reunido as normas das Ordenações Afonsinas. Foram redigidas em forma de decreto. Eram divididas em cinco livros, destacando-se, principalmente, o Direito Marítimo e os contratos mercantis: Livro I – Direito Administrativo e organização Judiciária; Livro II – Direito Eclesiástico, Direito do Rei, Direito da Nobreza e Direito dos Estrangeiros; Livro III – Regras do Processo Civil; Livro IV – Direito Civil e Direito Marítimo (Comercial); Livro V – Direito Penal e Processual Penal. Essas ordenações foram aplicadas no Brasil. 11 8 5. ORDENAÇÕES FILIPINAS Por problemas de ordem sucessória, assumiu o trono português D. Felipe II, rei da Espanha, neto de D. Manuel I, o Venturoso. Nascia, assim, a união |Ibérica (1580-1640). Também surgiram as Ordenações Filipinas, que foram muito aplicadas no Brasil. O Código Civil brasileiro de 1916, no art. 1.807, revogou expressamente essas ordenações, ao determinar: “Ficam revogadas as ordenações, Alvarás, leis, Decretos, Resoluções, Usos e Costumes concernentes às matérias de Direito Civil reguladas neste Código”. As ordenações Filipinas eram divididas em cinco livros: Livro I – Direito Administrativo e Organização Judiciária; Livro II – Direito Eclesiástico, Direito do Rei, Direito da Nobreza e Direito dos Estrangeiros; Livro III – Regras do Processo Civil; ;Livro IV – Direito Civil e Direito Marítimo (Comercial); Livro V – Direito Penal e Processual Penal.
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