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Resumo construçaõ do Eu na modernidade Hist. Psi

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A CONSTRUÇÃO DO EU NA MODERNIDADE
1) INTRODUÇÃO
Quais condições levaram ao surgimento da Psicologia, no final do século XIX?
Como foi se dando a história do pensamento humano e a construção do mundo psicológico? 
Estudaremos as expressões humanas, que traduzem o espírito da época: dos hábitos à arquitetura, da música à visão de si mesmo.
Quais motivos levaram ao surgimento de um profissional psicólogo, dentro dos moldes da ciência? 
1) O surgimento da noção de subjetividade privada: as pessoas são indivíduos livres, indivisíveis, independentes uns dos outros e donos de seus destinos.
2) Esta concepção de sujeito entra em crise! Gera um sujeito em crise de identidade. Surge então a necessidade de um profissional que pudesse lhe restituir a estabilidade, a identidade perdida. 
CAPÍTULO 2: A PASSAGEM DA IDADE MÉDIA AO RENASCIMENTO
	Concepção atual do que seja o “eu”, não era 
 possível.
Idade Média 	 Reina o Teocentrismo: Deus onipresente e 
 onisciente. Não há lugar para a liberdade 
 humana. Não há privacidade. Proibido pecar, 
 mesmo que em pensamento. 
 Tudo fazia parte de um plano maior, de um todo 
 perfeito, disposto e controlado por Deus e por seus 
 representantes na terra: a Igreja e a Biblia. A noção de 
 justiça é a da colocação de cada ser no lugar que lhe é 
 próprio. Há a ideia de que o homem é predestinado. 
 
Música - Canto Gregoriano: canto em uníssono, todos cantam exatamente a mesma coisa. Sua letra é um texto sagrado e já conhecido pelos ouvintes: é a reafirmação do já sabido. Não há propriamente uma melodia, não há refrão ou passagens bruscas e o ouvinte não consegue “segurar-se” em nada. Ele não pode se localizar e não deve “prestar atenção” ao que ouve. A leve melodia liga-se ao que há de mais espiritual – o sopro da voz, o sublime. Retira-se da música todos os seus elementos rítmicos, inclusive os instrumentos de acompanhamento 
EXPRESSÕES
 HUMANAS 	
Literatura: absolutamente controlada pela Inquisição (tribunal eclesiástico destinado a reprimir a heresia). Tudo que pudesse ser empecilho para a verdade de Deus e da Igreja, era queimado ou trancafiado. (Corpo Social, obra que é um ex. clássico da época e, retrata bem a rigidez de um mundo concebido como hierarquizado por uma ordem superior. Não cabe ao homem questioná-la ou pretender escolher ou mudar o lugar que lhe cabe; pg.18)
Pintura: Criada para exaltar Deus e os santos católicos As obras têm aspecto ornamental, com formas estilizadas. Predominam temas bíblicos, e a simetria é a base das composições.
O tamanho dos personagens depende de sua importância social ou religiosa. Muitos dos trabalhos retratam cenas de pecado e tentação, recorrendo à utilização de figuras simbólicas complexas, originais, imaginativas e caricaturais.
A arte mais desenvolvida na época, foi a arquitetura, com a construção de inúmeras Igrejas. 
NOÇÃO DO EU EM TAL PERÍODO: Comparado ao lugar que o “eu” ocupa hoje – em que o excesso dele é justamente o problema (individualismo) – o “eu” da Idade Média era quase inexistente: como não havia a liberdade de se optar pelos rumos de sua vida, o homem não seria, assim, propriamente sujeito. Percebe-se então que o “eu” nem sempre foi soberano; a afirmação do “eu” foi construída gradativamente. 
	
CAPÍTULO 3: O HUMANISMO NO RENASCIMENTO (séc. XV e XVI)
A partir dos seguintes acontecimentos, vamos pensar como tais mudanças influenciaram a vida das pessoas, a visão que tinham do homem e do mundo. 
- a diminuição do poder da igreja 	 
 O homem perde seus referenciais! Afinal
 Deus e a igreja, assim como o sistema feudal, 
 eram para ele, referências totais. O homem 
 renascentista não havia perdido a fé em Deus, porém,
 Deus já não era mais o centro em volta do que tudo 
 girava; era como se ele tivesse ido para o céu 
 deixando o mundo sob a responsabilidade dos homens. 
 Se por um lado, na Idade Média não havia a 
 liberdade, por outro era 
 - a crise do sistema feudal fácil compreender o mundo, pois as referências 
 eram claras: o certo e o errado já estavam bem 
 delimitados, cabendo aos homens somente segui-los.
- o nascimento das cidades O homem começa a viajar pelo mundo, conhecer 
 e rotas de comércio outras culturas, entrar em contato com a diversidade.
 Percebe que existem “outros modos de se viver”, 
- a expansão marítima outras realidades. O mundo começa a se abrir e,de 
 certa forma, a se misturar. A liberdade o invade!! 
Humanismo Valorização do homem: uma grande e 
 importante mudança na concepção do lugar do homem no mundo.
 O teocentrismo cede lugar ao antropocentrismo, passando o homem a ser o 
 centro dos interesses. É um conjunto de ideais e princípios que valorizam as 
 ações humanas e valores morais (respeito, justiça, honra, amor, 
 liberdade, solidariedade, etc). Para os humanistas, os seres humanos são os 
 responsáveis pela criação e desenvolvimento destes valores, e não Deus. 
	 
Com a valorização do homem, ele tem que buscar uma formação, se constituir enquanto humano. Não se pensa mais o destino dos homens enquanto predestinado; ele tem que, agora, se educar e cuidar de si o melhor possível. 
Cessa a interferência da Igreja na ciência e na literatura: agora se podia estudar o corpo humano a fundo, os astros e a natureza e tudo o mais que o homem se arriscasse a querer conhecer e dominar.
 O HOMEM SENTE-SE LIVRE MAS ESTÁ PERDIDO
 
Ele tenta descobrir, definir o que é bom e mal; assim se cria o campo da moral. O homem começa a julgar-se como Deus – todo poderoso – e é como se achasse que o mundo estava a seu dispor: as coisas (inclusive o corpo humano) começam a ser vistas e tratadas como objetos. 
 Há uma ambivalência: ao mesmo tempo em que se sente livre para se tornar o que quiser, o centro de tudo, ele não é nada!! Há uma negatividade rondando, o mundo já não é fechado, certo, estável. O homem tem que tornar-se, constituir-se,mover-se! Assim, advém a ilusão, o erro, as incertezas e as suspeitas... 
 TODOS ESTES FATORES CONTRIBUEM PARA QUE ELE ENTRE EM CRISE 
 
 CAPÍTULO 4: O ENCONTRO COM A MULTIPLICIDADE 
A abertura do mundo propiciou o conhecimento de novas civilizações, com seus 
 diferentes costumes, línguas, hábitos alimentares, crenças etc. (pg.25)
Bom exemplo da diversidade da época são as “feiras de rua”. Elas já existiam na Idade Média, mas em tal período, não reuniam a diversidade cultural do mundo. Somente no Renascimento, com o surgimento das rotas de comércio e da expansão marítima que foi possível o contato com novos mundos e diferentes culturas.
Imaginemos as feiras renascentistas:
- alimentos diferentes, desconhecidos; novos sabores assim como exóticos temperos.
- novos tecidos e tinturas influenciam as roupas e a arte local.
- são trazidos animais e pessoas de diferentes lugares do mundo (negros; asiáticos).
 
Assim, a feira contém um elemento de festa popular, desordem e gritaria diante de uma abundância de mercadorias nunca antes vistas! 
O difícil e significativo deste momento, era a atribuição de valor a cada coisa:
- Quanto vale um cocar indígena? Que valor ele tinha em seu contexto original? Quanto vale uma estátua que representa uma divindade de certa cultura? Como crer na fidedignidade do produto oferecido?
Difícil encontrar referencias seguros! O que pensar diante dos relatos dos viajantes sobre as coisas incríveis que viram? Outros Países? Povos? Culturas? Como distinguir relatos confiáveis de outros fantasiosos e mentirosos? A descrição de um tamanduá parecerá tão absurda ou possível quanto a de um dragão do mar!
 Quais efeitos o encontro com a multiplicidade e com a diversidade no Renascimento, 
 causaram no homem? 
 
 O AUTO- QUESTIONAMENTO
 - Afinal: quem sou eu? (o “eu” descobre o “outro”)
 - O que é certo? O que é errado? 
 - Vivo da melhor forma? 
Isto se agrava ainda mais quando o homem se depara com novas crenças e religiões! 
 
 Duas atitudes básicas são adotadas:
1ª) Se o outro pensa de maneira diferente da minha, ele está errado. 
 
 Vamos catequizá-lo, conduzi-lo à verdade!
	
 Caso ele se recuse? Meios mais efetivos poderiam ser usados! (a conquista da América e a catequização dos índios são bons exemplos do extermínio massivo de culturas.)
2ª) Atitude auto-crítica perante o confronto com outras crenças 
	
Questiona-se a própria verdade, não para substituí-la, mas para tomá-la não mais como única, mas como uma dentre as possíveis. 
 
 Ou ambas as verdades são válidas ou ambas inválidas.
Todorov: para ele, tanto os espanhóis quanto os nativos, tinham uma enorme incapacidade de entrar em contato um com o outro. Cada um tomava o outro de modo auto-referente. Por exemplo, os Astecas julgavam Cortez sendo um Deus e imperador, cujo retorno estava previsto. E os espanhóis julgavam os nativos como objeto desumanizado, a ser escravizado ou morto. 
A vitória dos espanhóis teria se dado por sua maior habilidade em entender o modo de pensar do outro, tirando proveito disso. O mais importante fator de dominação do europeu sobre o mundo foi sua capacidade de dissimulação e de mentir. 
EXPRESSÕES ARTISTICAS:
Música Polifonia 
		O termo significa “muitas vozes” (é como se o coro em uníssono do gregoriano se tivesse estilhaçado): cada voz canta uma melodia diferente e por vezes, até mesmo uma letra diferente! Podem ser quatro ou mais vozes, que geram um efeito ruidoso, pouco musical. Bastante influenciada pelas feiras e diversidade existente. Através dos séculos, cresce a capacidade dos compositores de harmonizá-las. 
Pintura Bosch e Arcimboldo 
 arte retrata a diversidade e os efeitos da 
 fragmentação, onde a ordem das coisas não parece mais possível. (pg 29). 
Leonardo daVinci 	Os pintores começaram por se concentrar na possibilidade de individualização: ou seja, pintam rostos. Os pormenores eram registrados fielmente. Surgem os “retratos”. Mona Liza é o melhor exemplo.
Literatura François Rabelais
 Percebe-se a valorização do riso e de toda forma de prazer corporal, em confronto com a tendência nascente ( e que dominará o século XVII) de só se respeitar a seriedade, a contenção e a mente. Ao mesmo tempo, vemos a valorização renascentista da cultura greco-romana. (pg. 31 e 35).
 CAPÍTULO 5: OS PROCEDIMENTOS DE CONTENÇÃO DO EU
	
Auto-controle É necessário CONTER o EU. O mundo está disperso e 
 fragmentado, sem referenciais seguros. Ao mesmo tempo, o ser 
 humano está sendo valorizado e, é agora responsável por se construir, 
 por estabelecer valores que o guiem. É imposto ao homem, escolher o 
 seu caminho! Essa escolha implica em uma construção de identidade e isto 
 exige um esforço brutal!
 
 Irão surgir mecanismos para o domínio e formação do eu. É justamente na formação destes novos modos de ser, que poderemos começar a reconhecer os rumos que levarão à Psicologia (pg. 36). “as experiências subjetivas (... ) que se converteram em objeto de um saber e intervenção psicológicos, devem sua emergência tanto ás vivências de diversidade e ruptura, como às tentativas de ordenação e costura”. Ou seja, o individuo surge, “nasce da dispersão e traz uma cisão interior inscrita em sua natureza” (liberdade/submissão). 
Santo Inácio de Loyola teve papel fundamental em propiciar ao homem 
 renascentista, ordem, contenção: a constituição de uma 
 identidade coesa, que não se deixasse levar pela dispersão. 
 Fez o pensamento religioso adaptar-se aos tempos, produzindo 
 procedimentos para a afirmação da identidade sobre a dispersão 
 do sujeito, guiando-o de volta para Deus.
Exercícios Espirituais: o homem é livre para ser o que quiser, mas está perdido! Ele precisa reencontrar o caminho do bem, dirigindo sua livre vontade para ele. Mas ele não sabe como fazer isso. Então, ele precisa de um manual de instruções, uma técnica para dirigir sua ação. Escreve os Exercícios Espirituais , em que propõe uma série de procedimentos, com a duração de 28 dias, cujo cumprimento rigoroso deverá levar o praticante à Iluminação. (Militar antes de se converter...)
 
Para Sto Inácio, a liberdade humana é reconhecida enquanto causadora da perdição humana. Então, a salvação humana só se dará se o homem abrir mão dessa liberdade, transferindo-a a autoridade religiosa, com toda boa vontade, determinação e disciplina. A submissão do sujeito deve ser total; esse é o preço a se pagar pelo repouso numa certeza sem conflitos.
Através dos Exercícios Espirituais, que o praticante realizará durante 28 dias, ele chegará à salvação. Se ao final do 28º dia, ele não alcançar a iluminação isso não se deve a uma falha nos métodos, mas sim à pouca fé e à fraqueza da vontade do exercitante.
 Percebe-se ForteRelação entre
 Santo Inácio de Loyola 
 X 
“Psicologia de Auto-Ajuda”:
 
 A crença na liberdade humana absoluta, que diz que podemos atingir qualquer que seja nosso objetivo, envolve um forte sentimento de culpa. Se somos o que fazemos de nós, a infelicidade na qual nos encontramos foi produzida por nós, nós a merecemos. Pensemos em um título: “Só é gordo quem quer”. Nele podemos perceber que, o único determinante que parece ser levado em conta, é a vontade, o desejo do sujeito. Eles desconsideram todos os outros determinantes, como o histórico, o social, o genético, etc. 
Maquiavel Seguia também o procedimento de afirmação do sujeito, mas de 
 forma mais cruel. Foi tomado como imoral e desumano (de seu nome 
 deriva o adjetivo “maquiavélico”). Mas para entendê-lo um pouco 
 melhor, é necessário inserirmos seu discurso no contexto de crise da fé 
 em um poder transcendente e entendermos o medo da dissolução, que 
 assolava o homem da época. (pg.44 e 45).
 Em sua obra “O Príncipe”, ele parte do principio de que o mundo (o povo) é volúvel, egoísta, mau. Sua grande preocupação é a fragmentação da Itália e sua invasão por bárbaros. Por isso, é necessário que se façam homens fortes, corajosos, destemidos. O governante deve se afirmar mesmo que à força, para evitar a dispersão. O poder tem que ser centralizado. Para tanto, vale tudo, mesmo que matar a quem quer que represente uma ameaça ao poder. O princípio exaltado é o da afirmação do poder.
Semelhanças entre Maquiavel
 X
 Santo Inácio: Um afirma o valor do humano e o outro, o retorno a Deus, mas ambos 
 crêem na necessidade de afirmação do sujeito através de procedimentos 
 radicais e estreitos. A diferença essencial é que: Sto Inácio pensa sua obra 
 acessível a todos os homens, enquanto Maquiavel, ao menos nessa obra, refere-se a afirmação de um único sujeito, em detrimento dos demais. Com Maquiavel estamos diante de um mundo sem ideal não há apenas o elogio do homem, como no inicio. 
 CAPÍTULO 6: A POSIÇÃO DE CRÍTICA A APARÊNCIA
A tendência à glorificação do eu não é absoluta. A Modernidade contém tanto procedimentos para a construção do eu quanto para a sua desconstrução. Esta posição possui relações complexas com o humanismo. Em um sentido, afirma-o, em outro, arrasa-o.
 
 Montaigne Diante da instabilidade e insegurança de tudo, acaba por fazer 
 renascer o ceticismo. Não podendo confiar ou acreditar em nada, ele se 
 retira da vida social e isola-se, passando a escrever durantes anos até o fim 
 de sua vida, sua famosa obra Ensaios. Não se trata apenas de um livro, mas 
 da própria formação do sujeito Montaigne. Ele descreve a si e às suas 
 experiências pessoais, copia e cita trechos de seus autores favoritos e afirma 
 que escreve o livro apenas para si e seus amigos. A escrita é um momento de 
 interiorização, de digestão de suas experiências. É como se Montaigne 
 sentisse que já não faz mais parte do mundo; ele se torna – ou pensa como 
 se fosse – um ponto de vista alheio, do qual é possível realizar a crítica do 
 mundo, nele não se incluindo propriamente. Este seria um dos pontos mais 
 altos de autonomia a que poderia aspirar o “eu”. Ele também admite a 
 diversidade, buscando-se afirmar enquanto ser particular.
 
Surge assim, o que chamamos de mundo interno ou privacidade; o universo de nossos pensamentos, fantasias, projetos, “encanações”, auto-tormento, etc...
Esta introspecção – conversa proveitosa consigo mesmo – é considerada uma das grandes 
 características da Modernidade ocidental. 
 
Shakespeare: Em 1600, surge uma das obras mais importantes já escritas: Hamlet. O livro é recheado de monólogos que expressam uma característica essencial da Modernidade: a interioridade. A consciência de si traz ao homem a consciência de sua vaidade e um distanciamento melancólico da experiência imediata. Hamlet coloca-se também em uma posição alheia ao coletivo, ao que se espera de um príncipe; ele se recusa a ocupar o papel que lhe é reservado, preferindo ser autor de si mesmo. Temos ao mesmo tempo crítica e construção do homem da Modernidade.
Outro exemplo, seria Erasmo de Rotterdam, em seu livro O Elogio da Loucura. Nele, o autor, que é ligado à Igreja, tinha a intenção de fazer um apelo por reformas na burocratização e hipocrisia da Igreja. Mas ele vai além. O texto arrasa qualquer idealismo sobre a bondade humana e seu amor pelos demais. Se não conhecêssemos o autor, nós o imaginaríamos como o 1º ateu confesso. (p.50 e 51)
Usando o humor, Rotterdam vai desconstruindo todo um sistema de valores tomado como óbvio. Desnaturaliza os costumes tomados como naturais. Seus textos também arrasam qualquer idealismo sobre a bondade humana e seu amor pelos demais, o casamento etc... Ele também escreve um manual de boas maneiras, aconselhando-nos a como lidar com a glutonice, a necessidade de arrotar, soltar gazes, etc... 
Nosso riso frente à leitura desses velhos manuais nos mostra o quanto o principio que os rege foi eficaz e age em nós; as normas que nos indicam que as funções corporais devem ser ocultas são absolutamente automatizadas.
Esta modelagem dos comportamentos ocorreu entre os séculos XVI e XVII, quando se produziram códigos de inserção social e seu não cumprimento era acompanhado pelas acusações de “doença”, “crime”, levando à exclusão do convívio social. 
 CAPÍTULO 7: O DISCURSO DO MÉTODO
 DESCARTES (SÉC.XVII) 
 
 EUCHEGA AO PONTO MÁXIMO DE AFIRMAÇÃO
 
Ao eu será atribuída uma posição transcendente ao mundo material; com isso, nascerá o projeto da produção de um conhecimento objetivo, neutro, independente da subjetividade: a ciência.
O séc. XVII tentou organizar racionalmente a desordem do século anterior. Os filósofos procuram criar um método para a compreensão do mundo em sua totalidade. Dada a insegurança do ceticismo, é necessário encontrar algum ponto de referência confiável sobre o qual edificar a existência. A razão humana buscará encontrar a ordem das coisas para dominá-las e, sobretudo, dominar a si mesma. 
Assim como Santo Inácio, Descartes acredita que o caminho para a verdade é acessível a qualquer pessoa, pois todos são livres para dirigir sua vontade ao caminho correto. A diferença é que:
Em Santo Inácio: a verdade é Deus e o caminho a meditação.
Em Descartes: ele refere-se à verdade enquanto tal e o caminho encontra-se no uso correto das leis matemáticas e geométricas.
DESCARTES
- O filósofo mais expressivo e um dos fundadores da Modernidade.
- Seu pensamento associa-se a origem do Iluminismo e, posteriormente, da ciência.
- Há críticos que o tomam como o criador de um racionalismo exagerado.
- Juntamente com Platão, é o maior representante da filosofia da representação, que exclui o corpo e seus impulsos, pretendendo que o mundo seja totalmente racionalizável, submetido a séries de causa-efeito.SEU CONTEXTO DE VIDA
- Nasce em 1596, no meio da efervescência, do caos do Renascimento.
- Com dez anos, ingressa em um colégio de jesuítas, ou seja, sob a orientação do pensamento de Santo Inácio. 
- Para onde quer que olhasse, tudo o que via era desordem e dúvida. Passa a vida toda em busca de uma referência segura, sem tê-la encontrado. (Cada filósofo dizia uma coisa, sem nunca entrar em acordo com outros; cada livro informava diferentemente; cada cultura tinha suas leis próprias, e algo que fosse considerado certo aqui, poderia ser considerado errado em uma cidade vizinha).
A PARTIR DE TANTA INCERTEZA,
- Encontra uma solução: inicia um processo de dúvida metódica, ou seja, ele se propôs a refletir sobre cada coisa que há no mundo, procurando saber se ela lhe poderia fornecer uma verdade segura. Uma vez encontrado um ponto de referência, tudo mais deveria vir por dedução. Para distinguir o certo do errado, fez o seguinte: àquilo que fosse falso, ele consideraria falso; àquilo que fosse incerto, ele consideraria igualmente falso. Apenas algo realmente seguro poderia passar por seu crivo.
- Queria chegar ao conhecimento verdadeiro! Para isso interrogou tudo e todos: os especialistas, as leis e regras morais, a si mesmo (seus órgãos do sentido, seus sentimentos, suas sensações de ter certeza sobre algo) e viu que não podia confiar verdadeiramente em nada. Quando tudo levava a crer que ele ficaria tão cético quanto Montaigne, ele dá seu “pulo do gato”. (pg 64) 
- Depois de duvidar de tudo, diz que, todas as coisas que tomou como objeto de seu pensamento eram de fato, incertas, mas que algo lhe parecia indubitável: enquanto duvidava, seguramente existia ao menos a atividade de duvidar e se havia esta ação, ela deveria ter um sujeito, um eu pensante. Assim ele conclui: diante de toda a dúvida do mundo, o único ponto de segurança e referência que temos é o de um “eu”, não enquanto corpo, pois sua existência também foi colocada em dúvida, mas um eu puramente pensante, uma alma racional capaz de produzir representações corretas do mundo. Daí a famosa frase: “EU PENSO, LOGO EXISTO” (pg.65 e 66).
 
O PONTO MÁXIMO DO HUMANISMO 
enquanto valor do homem no mundo e sua
 posição enquanto centro.
 O HOMEM JÁ ERA CONSIDERADO O CENTRO DO MUNDO; AGORA ELE MESMO TEM UM CENTRO SUA RAZÃO, SUA AUTOCONSCIÊNCIA
Posição de Descartes em relação a Deus:
Sendo imperfeitos, devemos ter sido originados de um ser perfeito, em muito superior a nós. Assim, ele deduz a existência de Deus, de nossa imperfeição. Mas Deus já não é o fim do caminho, para onde tudo tende, mas ele seria um passo em meu caminho, uma garantia para as idéias evidentes que tenho em mim. É no eu que tudo se encerra.
CONCLUINDO
O eu será a única referência estável e dará origem a todo o projeto científico. O homem sente-se agora seguro para alcançar um conhecimento objetivo do mundo. A verdade não será mais procurada nas escrituras sagradas ou em iluminações místicas. O lugar da verdade é o eu e não mais textos ou representantes do sagrado. A Modernidade se ergue diante da descrença progressiva da possibilidade de acesso imediato a qualquer transcendência. Só poderá ser considerado verdadeiro aquilo que passou pelo crivo da observação e razão humanas. 
 
 CAPÍTULO 8: O EU E O NÃO EU 
 Estudaremos aqui, o surgimento de uma zona de exclusão representável pela loucura ou pela natureza animal do homem.
séc. XVII
 
 
 Surge nossa forma atual de relação com a loucura: é como se a loucura tivesse surgido a partir de tal século. Isso não significa que, antes disso, não houvesse pessoas que alucinavam ou que fossem descontroladamente violentas; a questão é que antes do séc. XVII, a forma de se compreender o que se passava com essas pessoas, era diferente.
Antes do 
Séc. XVII
	
Não havia o medo que temos hoje do louco. Não havia a ideia de que isso fosse doença e, principalmente, não existia a ideia de que ele devesse ser afastado do convívio social e isolado em um hospício.
Em determinadas culturas, o louco foi tomado como um visionário: como aquele que transcende a experiência imediata e entra em contato com outras dimensões da verdade, comunicando-a aos demais. Foi ainda considerado possuído pelo demônio ou simplesmente como alguém bobo.
O principal é observar que, até o séc. XVII, a perda da razão por um homem não produzia o efeito de medo que passou a gerar nas pessoas a partir de então.
 Por que surgiu o medo da loucura?
 Parece que o seguinte aconteceu: no mundo medieval, a garantia sobre a ordem do mundo e de todas as coisas, era dada por Deus. Se o homem perdia a razão, via coisas que ninguém mais via, ou pensava o que ninguém mais pensava este era um problema dele e somente dele; isto não afetava as outras pessoas! Achavam que ele poderia ter sido possuído pelo demônio. As pessoas tinham medo de ser possuídas também, mas a loucura não afetava a crença em Deus e as verdades sustentadas na época.
 Depois de 
 Descartes
 
 A situação mudou completamente: Ele introduz a ideia 
 de que, a única garantia e referência do homem, é a sua crença 
 em um “eu pensante”, objetivo e consciente. A partir desse 
 momento, qualquer coisa que pudesse pôr em questão a estabilidade 
 e a lucidez do eu, era considerada altamente ameaçadora.
	
 Toda a estabilidade do mundo morava na identidade do eu. Era preciso criar mecanismos para afirmá-lo e defendê-lo de qualquer coisa que pudesse ameaçá-lo em sua estabilidade.
A partir do séc. XVII
 
 A sociedade vai afastar o louco do convívio social; este afastamento 
 parece servir mais aos outros, ditos normais, do que aos loucos. Não há qualquer perspectiva de tratamento: eles eram isolados por medo da loucura ser contagiosa. 
Foucault conta que os primeiros hospícios eram os antigos leprosários remanescentes da Idade Média, o que nos leva a perceber a estreita associação feita com aquele mal terrível e contagioso.
COMO O LOUCO SERÁ TRATADO?
- Será tratado como um animal,
- Como alguém que perdeu sua alma, pois esta se identifica com o eu e sua racionalidade.
- Não se pode pensar em um “eu louco”; se há loucura, o eu submergiu. 
- Se há loucura o eu não pode ser responsabilizado pois então, já não existia mais eu.
- A loucura aniquilava o eu.
- Não havia razão relativa: ou se era são e dono de seu eu, ou se era louco e alienado 
 absolutamente. 
Pode-se concluir que a representação moderna de loucura é relativa ao momento de maior afirmação do eu, enquanto sujeito consciente e livre para conhecer a verdade.
TOMAS HOBBES
 Este filósofo, em sua obra Leviathan, sistematiza 
 ideias a respeito da natureza humana e do Estado. Assim como 
 Descartes ele acredita que o homem deve seguir o caminho da 
 racionalidade. O “eu social” impõe-se sobre a natureza humana que 
 deve ser dominada totalmente. Ele se diferencia dos demais 
 filósofos da época por sua visão assustadora da natureza humana. 
No livro “Do cidadão”, ele traça um perfil do que seria o homemfora da sociedade, em um virtual estado de natureza. Neste estado “puro”, ou seja, na ausência de um poder ou de compromissos entre os homens que determinassem o que pertence a quem, todo homem teria direito de fazer e de ter tudo o que bem quisesse, pois a natureza “deu a cada um o direito a tudo”. E o que o homem naturalmente buscaria? 
 
 Ele procuraria o que é bom para ele, evitando o que fosse mau. (pg. 70).
 A busca de um bem para si mesmo
 
 A busca não é pelo bem comum. Com a progressiva importância atribuída ao eu, a busca agora é a do bem para si. Para Hobbes, o homem é egoísta e é movido pela busca do prazer e pela fuga dos perigos da morte. Isto faz com que ele seja violento e promova guerras, impondo-se sobre os demais. 
Alguns homens se contentariam em ter apenas o que lhes fosse necessário, permitindo aos outros o mesmo. Mas, outros, movidos pela vanglória e ganância, procurariam sobrepor-se aos demais, provocando inevitavelmente o conflito e a vontade de ferir.
Acredita que o homem teria eternamente, inclinação para aumentar o seu poder: 
- No 1º homem, esta inclinação serviria à sua auto-defesa, à qual todos tem direito.
- No 2º homem, serviria à sua vanglória. 
Assim, ele conclui que por esses motivos, teríamos sempre, uma eterna guerra de todos contra todos. 
Ele nos mostra um paradoxo fundamental entre as duas máximas da natureza humana: 
 sobreviver 
 X
 o desejo de apropriar-se de tudo por vanglória
Explica que a sociabilidade não faz parte da natureza humana. E que os motivos que levam o homem ao convívio social, seriam os seguintes:
1) Através deste convívio é almejada a obtenção de algo proveitoso para si (ou seja, por interesse em algo que o outro tenha ou possa propiciar a quem se une a ele) 
2) E pelo medo recíproco que sentem uns dos outros. 
Por que os animais convivem em harmonia, mesmo não tendo um governante?
Explica:
 		
Diz ele: nos homens há disputa por honra 
e precedência – vanglória, o que gera 
ódio e inveja. 
 Nos animais, o bem-comum não se diferencia do particular, justamente por não poderem utilizar-se da razão e, assim, não serem aptos em distinguir dano ou injúria, o que faz com que não censurem ou critiquem seus semelhantes. Diferente dos homens que, por poderem utilizar a razão e a arte da palavra, podem fazer maus usos destas habilidades e assim, promover a discórdia e a guerra.
Esta análise de Hobbes é surpreendente!!! Pois,
Aquilo que caracteriza a natureza humana – sua razão, sua fala e sua ânsia por glória, são justamente o que o torna inapto para a vida social.
 
 
Por isso, para Hobbes, uma paz duradoura só pode ser conquistada por um esforço metódico da razão – que teria de ser mais forte do que as paixões – e, a constituição de um poder centralizado e coercitivo que pudesse reprimir as inclinações individuais.
Para isso, é preciso uma lei clara: que os homens renunciem ou transfiram seus direitos a todas as coisas, para que se possa chegar à paz. Mesmo que não haja um Estado constituído, é possível a realização de acordos entre indivíduos. Transferir significa declarar a outro que não se vai mais resistir a ele naquilo de que se trate.
“O ato de dois, ou mais, que mutuamente se transferem direitos, chama-se contrato”. 
 Assim Hobbes cria o conceito de 
 contrato
 
Isto pode estabelecer a paz entre algumas pessoas, mas é insuficiente para a garantia de uma paz generalizada. Por isso é necessária a constituição de um ESTADO CIVIL
	
 Para que haja a instituição do Estado, é necessário que a maior 
 parte dos homens transfiram seu direito natural a tudo, a um soberano, ou a
 uma assembleia, que terão a função de juiz e legislador, e definirão o que é
 bom ou mau e o que cabe a cada homem. 
	
Em um Estado assim constituído, não há lugar para vontades (ações) particulares. Ao Estado cabe a função de conter as vontades individuais, como as margens de um rio contém suas águas, evitando que elas se dispersem. 
 Hobbes x Descartes, Apesar de terem pontos em comum, sobretudo a crença na possibilidade de um autodomínio completo pela razão, o princípio de Hobbes é justamente o de não desprezar a animalidade do homem. (pg. 74). 
 CAPÍTULO 9: OS MORALISTAS DO SÉCULO XVII
 A valorização do eu livre e indeterminado
 Impõe a tarefa de sua formação. Sua educação 
 implicará no aprendizado e adaptação a determinadas normas de 
 conduta. O comportamento humano passa a ser alvo de uma 
 observação rigorosa.
Na medida em que a referência moral vai gradativamente deixando de ser a Igreja,
		
 É na própria sociedade que se produzirão normas e mecanismos 
 de vigia sobre seu cumprimento.
	
 Surgem assim os: 
MORALISTAS: pessoas dedicadas à observação do comportamento humano Trata-se de uma série de autores que, através de uma observação apurada sobre os costumes e motivações humanas, procuram codificar as regras de conduta do ser humano. O termo ainda se aplica a autores que denunciam as hipocrisias e farsas na ação de muitos homens.
 
No que diz respeito ao controle do comportamento, que mantém alguma relação com os procedimentos de controle a que nos referimos através de Santo Inácio e aos manuais de boas maneiras criados no século XVI. 
Vamos exemplificá-los, através de dois moralistas que eram bastante diferentes entre si: 
LA 
FONTAINE 
	Conhecido como ‘fabulista’ mas, atualmente, sua obra 
t tem sido associada, de forma errônea, à literatura infantil. Isto 
 pois ele pretendia com suas fábulas, atingir adultos também. Suas 
 fábulas sempre contêm uma ‘moral da história’, de conteúdo 
 exemplar. Ele mostra como comportamentos considerados bons moralmente (hoje diríamos politicamente corretos) são recompensados, enquanto que os maus são punidos. Assim, podemos perceber que, por trás de sua obra existe uma determinada concepção de certo e errado que ele vai transmitindo e impondo. É nesse sentido de formação moral que ele passou a ser lido para crianças. (pg.77 e 78)
É bastante visível o tom de crítica irônica presente nas fábulas, mas La Fontaine é cuidadoso, não denuncia frontalmente ninguém; bem diferente do próximo moralista... 
LA
 ROCHEFOUCAULD
 Leva suas críticas a pontos cruciais. Ele escrevia em forma 
 de “máxima”, um texto pequeno, em geral de um único 
 parágrafo, que funciona como um provérbio. Escreve centenas delas, mas suas ideias acabam todas retornando a um mesmo tópico: a vaidade humana – considerada por ele, o motor da vida de todos os homens. Em outras palavras, o amor a seu próprio eu. Neste sentido, o eu não seria neutro, como pretende Descartes, mas sempre interessado e desejante, o que colocaria em cheque o projeto científico. 
Ele seguea mesma linha de Rotterdam e Shakespeare; alguém que denuncia com humor irônico, o quanto o eu é pretensioso e iludido sobre si. Suas denúncias são arrasadoras, mas altamente divertidas. Sua principal obra, “Máximas e reflexões diversas”, era uma das leituras favoritas de Nietzsche. (pg. 79, 80).
Em conclusão:
Podemos considerar o séc. XVII como o primeiro e aquele em que mais é apresentado como tema a afirmação e construção do eu, quer para levá-lo a seu ponto mais alto (com Descartes), quer para denunciar esse novo soberano (Hobbes e La Fontaine, de modo mais sutil e La Rochefoucauld, descaradamente).
 
 CAPÍTULO 10: O PÚBLICO E O PRIVADO
Séc. XVII Considerado o século da inauguração da Modernidade, o “eu” foi 
 considerado como centro do mundo.
Séc. XVIII Partamos de um tema clássico na história deste século:
 A relação entre as esferas pública e privada.
 
Séc. XVIII o eu deixa de ser tomado como totalidade e, cada vez mais, tomará o
 aspecto de uma apresentação social, uma auto-imagem cultivada e civilizada
 que encobre, no entanto, algo mais que habita e constitui as pessoas, mas que elas 
 procuram manter em segredo.
	
Ou seja, este será o espaço da privacidade, (possível quando termina a crença no Deus onipresente e onisciente).
A esfera privada abarcará todo um universo de desejos e pensamentos anti-sociais, que devem ser ocultos pelas boas maneiras e pela etiqueta. Ao mesmo tempo em que é considerado o século das luzes, com os desdobramentos do racionalismo cartesiano, ele é também o século do artifício: por exemplo, as roupas da corte eram altamente rebuscadas, cheias de adereços e armações, de forma que dificilmente podia-se saber como era o aspecto real do corpo que o vestia. A etiqueta e as regras de condutas também estavam em alta, e serviam como hierarquia entre as pessoas.
Na esfera pública o respeito é desejável e esperado pelos homens. Deve-se saber manter segredos e se preservar a privacidade e a intimidade, a todo custo. Isto principalmente para que a imagem social possa ser mantida imune.
Na História da vida privada, há exemplos hilariantes de como se pode pagar um preço alto, quando a esfera privada vem à tona, tornando-se pública. (Asouade: festa popular de execração pública destinada aqueles que deixaram vazar sua privacidade em público.) 
Sade (Marquês de Sade) expressa bem o espírito da época, com uma obra que revela o fim da possibilidade de se buscar uma fundamentação para a moral apoiando-se na fé ou na crença em um Deus transcendente. “De sua sexualidade ele fez uma ética, esta ética ele manifestou em uma obra literária (...)” (Definição de Simone de Beauvoir – pg 85).
 viveu no séc XVIII O séc das luzes – no qual a razão, livre de Sade
 qualquer influência moral ou religiosa, estendeu-se sobre todo e
 qualquer objeto, inclusive sobre si mesma.
Um homem de seu tempo, mas, que em certo sentido, foi além: questionou a moral a tal ponto, que se projetou nos séculos seguintes como um pensador ainda original.
Apenas duas de suas obras serão analisadas: “A Filosofia na Alcova” e “Os infortúnios da virtude”. (Pg 86)
Todo principio moral universal é uma grande bobagem, pois como não acredita em Deus, não há para ele ninguém que sustente uma conduta necessária. Se a virtude se apoia na religião, então ela não se apoia em nada, uma vez que não há Deus. 
Ele acredita que só podemos nos basear na natureza, à qual o homem pertence, exatamente como todos os outros animais e a nada além disso.
 A IMAGINAÇÃO PARA SADE
 A felicidade, para ele, não pode ser buscada em uma 
 referência externa, mas sim nos “caprichos da imaginação”, 
 contra os quais nenhum limite possui legitimidade para impor-
 se. Como ele escreve em seu livro: “Fôda, Eugénie, Fôda pois, 
 meu caro anjo; teu corpo pertence só a você; não ninguém além
 de você no mundo que tenha o direito de gozar dele e o fazer 
 gozar como bem te pareça” 
Acredita que o homem só pode ser feliz seguindo sua imaginação. Realiza uma clara distinção entre fantasia (sinônimo para ele, de imaginação) e o objeto em que ela se realiza. A fantasia ocupa um lugar privilegiado na obtenção de prazer. É na fantasia que a particularidade dos apetites se apresenta, ela é a “natureza” de cada um. É a fantasia tornada ato que produz o gozo. (pg. 88)
A partir disso tudo, poderíamos pensar que Sade pregasse uma revolução nos costumes, já que não haveria mais qualquer fundamento legítimo para a moral. Mas não é isso que vai acontecer; Sade diz que: 
Se saíssemos por aí mostrando todos os nossos íntimos desejos para o mundo, seríamos presos ou mortos, o que seria uma grande estupidez. Assim, ele prega uma hipocrisia social: quando estamos em público, devemos jogar o jogo social, manter as aparências; pagar impostos, cumprir com as obrigações civis e mantermos um comportamento adequado aos padrões de nossa cultura: porém, quando retirados à vida privada, aí sim poderíamos fazer o que bem entendêssemos, realizando todos as nossas fantasias.
 
O pensamento de Sade é amoral (não possui nenhum critério moral), pois desqualifica toda tentativa de fundamentar um critério absoluto de moral. Depois dele, a moral passou a ser fundamentada em valores propriamente ligados à convivência humana (e não mais nos indivíduos).
Monzani, n vestudioso de Sade, busca retirar o estigma que ronda a obra de Sade, demonstrando que ele fez parte de uma outra corrente da Modernidade, que não a cartesiana. Monzani diz que “o homem da Modernidade é dominado por seu desejo”. O homem sempre buscou o bem para si: na Idade Média, o bem era identificado com os ideais religiosos, únicos para todos. Com a perda destes valores, a busca do bem perde seu objeto absoluto e passa a ser a procura de um bem para si e ela toma a forma de busca pelo prazer. Esta seria outra via para entender o nascimento do individualismo e da valorização absoluta do “eu”. 
Para ilustrar musicalmente a oposição entre mundo público e mundo privado, pensemos em MOZART
Boa parte de suas obras é composta por peças leves, gostosas, facilmente recordáveis; ele compunha para a corte e devia fazer músicas agradáveis. Por outro lado (e Mozart tem vários), sua obra possui também momentos de inspiração profunda e densa, quase romântica. Peças essas que exigiam maior concentração do público e não se prestam a concertos em parque. Nelas, está contida a vida mais íntima, privada, de Mozart. 
 CAPÍTULO 12: A AUTO-CRÍTICA DA RAZÃO
No interior do próprio Iluminismo, surge um movimento de auto-crítica às possibilidades da razão alcançar o conhecimento, a verdade plena: ela se tornará objeto de investigação (será posta em cheque). 
 razão
 
 IMANNUEL
 KANT
 	 Grande filósofo; faz com que o próprio pensamento seja 
 tomado como objeto de investigação: neste movimentoreflexivo (a razão pensando sobre si própria), ele quer
 investigar as possibilidades, os limites da razão, impostos por sua própria constituição, 
Em sua principal obra, Crítica da razão pura, chega a conclusão de que o pensar é organizado por categorias, estruturas que organizam tudo o que nos chega do mundo. Exemplo: a categoria da relação “causa e efeito”, leva o pensamento a crer que, quando um evento é seguido por outro, o 1º é a causa do 2º, mesmo que eles sejam independentes. 
Neste sentido, todo o nosso conhecimento sobre o mundo seria condicionado e “formatado” por nossas estruturas cognitivas; pelo que somos capazes de aprender. Assim, ele conclui que nunca temos acesso à coisa em si, mas apenas a fenômenos.
	
 O mundo tal como somos capazes de apreendê-lo, 
 como se dá para nós. Kant não duvida da existência das 
 coisas em si, exteriores ao homem, mas diz que o eu 
 pensante jamais poderia ter acesso a elas. 
Isso não significa que a razão é inútil ou que se deva deixar de procurar compreender o mundo. Mas sim, que a razão deve aprender a manter-se em seus limites, dentro dos quais poderá produzir um conhecimento confiável. A razão deve abster-se de questões transcendentais, como a existência de Deus e da alma; deve manter sua área de ação no limite dos fenômenos, àquilo de que temos uma apreensão direta.
Sua tarefa deve ser mais humilde; ao invés de chegar à verdade absoluta, ela deve procurar produzir hipóteses, modelos teóricos através dos quais seja possível organizar e dar sentido aos fenômenos. 
Pensando assim, conclui que:
Toda teoria é necessariamente uma criação humana provisória, que a qualquer momento pode ser superada por outra que abarque e dê conta de um maior número de fenômenos; este movimento é infinito. 
 
Os princípios a que se chega não possuem o caráter de absoluto. Eles são relativos, ou melhor, provisórios, e apontam para um limite circunstancial da razão, que poderão ser abandonados e ultrapassados. O eu encontra-se em Kant, com uma visão positiva de suas possibilidades, mas já não onipotente. 
 
 CAPÍTULO 11: TEMPESTADE E ÍMPETO: O ROMANTISMO
ILUMINISMO Reconhece na razão a essência do homem e na cultura a sua maior realização.
 X
ROMANTISMO
A natureza passional seria a essência humana; percebemos assim, a ânsia pelo retorno ao 
mundo natural.
 FINAL DO SÉC. XVIII
 A vida social – urbana e civilizada – será acusada de afastar o 
 homem de sua verdadeira natureza. O EU passa a ser tomado como 
mascara que encobre a verdade. Lembremos do capítulo o “Público e o Privado” que mostra 
 bem o aspecto das “mascaras sociais”. 
CONTRA ESTA TENDENCIAROMANTISMO
 SURGE O 	Uma espécie de saudosismo de 
 um estado natural (sua verdadeira 
 natureza) perdido pelo homem, que 
 eles anseiam reencontrar.
	
 Esta natureza a que se referem é altamente 
 idealizada; as pinturas clássicas deste período 
 retratam bem o que estamos falando: podemos 
 contemplar uma natureza amena e acolhedora, com 
 características referentes ao jardim do Éden. As pinturas 
 mostram passeios no campo que acontecem sempre em um 
 clima ideal, ensolarado, sem insetos ou outras interferências. 
Neste sentido, 
O Romantismo surge como um movimento de crítica à Modernidade, mais especificamente como uma crítica ao Iluminismo e ao seu exacerbado racionalismo. Assim, eles rejeitam o princípio cartesiano – segundo o qual o homem se caracteriza como um ser pensante – ressaltando que a essência humana está em sua natureza passional.
	 Formato delicado, bucólico, amistoso (o mais 
 comumente retratado e familiar quando pensamos Romantismo tem as mais diversas formas
 no movimento Romântico.
	E uma natureza com aspectos violentos, que 
 ultrapassa a vontade consciente. O eu é invadido por aquilo 
 que ele procura excluir (mundo privado). Da literatura de 
 Goethe à pintura de Turner percebe-se tal aspecto.
 
 NO ROMANTISMO
Aquilo que escondemos é o que representaria a nossa verdadeira natureza
Aquilo que se mostrava socialmente, é para eles considerado “falso”
 Assim:
O que anteriormente era excluído do eu, no Romantismo se constitui como o mais legítimo e puro em nós.
 	
 O EU DO ROMANTISMO:
Surge a figura de um eu profundo, interior, puro, aquém da corrupção da influência do meio; há a crença em uma individualidade absoluta, irredutível a qualquer explicação ou controle (que pudessem advir da razão).
O Romantismo realiza uma forte crítica à racionalidade, sem escapar ao campo da Modernidade. 
O homem romântico acredita ser único e suas experiências mais profundas parecem-lhe incomunicáveis e radicalmente individuais. Desta concepção de experiência humana, nasce a ideia de “gênio”, entendido como um sujeito especialmente dotado de uma característica que não pode ser transmitida ou aprendida, por pertencer à essência mesma desse indivíduo. Trata-se de um dom, um presente. Este homem não tem opção a não ser viver para a realização de seu destino.
Um bom exemplo seria um músico romântico: Beethoven
	
Ele não se revelou um gênio desde cedo. Foi só quando adulto que sua obra floresceu. Revelado seu talento, sua obra passou a ser o centro de sua existência. Um fato trágico marcou sua vida: ele perdeu gradativamente sua audição. No fim de sua vida, percebe-se através de suas correspondências que a ideia do suicídio lhe ocorreu; porém, esta foi afastada com a justificativa de que ele tinha uma obra a realizar. Assim, como de praxe no Romantismo percebemos através do ocorrido com ele, que o sofrimento do eu é menos importante do que a realização de uma causa, desse dom que ele possuía.
Consta que foi ele quem criou o mito do maestro atormentado, autoritário e totalmente mergulhado na música. É a partir dele que as luzes nos teatros são apagadas e que se exige o mais absoluto silêncio na platéia. O fato dele, um dos maiores compositores já existentes, ter perdido a audição, chega a uma tragicidade patética, acentuada pelo fato dele ter continuado a compor e de forma ainda mais intensa.Suas peças mudam bruscamente de andamento, revezando temas perturbados com melodias suaves; tem-se uma profunda melancolia, de beleza e profundidade incríveis.
O título deste capítulo é também referencia ao movimento cultural e artístico do final do Séc. XVIII – tempestade e ímpeto – do qual Goethe fazia parte e que retratava o que já dissemos acerca do Romantismo: o de seu aspecto introspectivo, passional, amargo, trágico, sofrido, tão bem expressos em sua obra Werther.(p.93)
CAPÍTULO 15: FIGURAS DO ROMANTISMO NO SÉCULO XIX
Séc. XIX o Romantismo assume diversos aspectos, todos parecendo criticar os 
 projetos da Modernidade – como a própria ciência – e remeter a algo 
 maior e anterior ao eu.
Aspectos “anti-humanistas”:
 o eu aparece reduzido diante de um elemento maior, como a paixão, 
 uma causa, uma nação, etc. Ao mesmo tempo, o romantismo foi essencial 
 no desenvolvimento do sentido de interioridade e profundidade da alma 
 humana, constituindo-se em uma das bases do que poderíamos chamar de 
 individualismo. 
Arthur Schopenhauer
	 Em sua obra,
	“O mundo como vontade e representação”
 é constituído por dois elementos
VONTADE: UMA ESSÊNCIA UNIVERSAL, UMA ENERGIA SUBJACENTE (QUE ESTÁ POR BAIXO DE) A TUDO.
REPRESENTAÇÃO: CADA COISA EXISTENTE É UMA MANISFESTAÇÃO (OU REPRESENTAÇÃO) DA VONTADE.
 ELEMENTO
 ANTI-HUMANISTA
O homem, que acreditava ser a obra prima da criação, centro do universo e dono de uma vontade consciente, livre para se tornar o que bem quisesse, vê-se diante de um despojamento total de sua importância: ele não seria mais do que um invólucro que porta a vontade e que pode ser, sem maiores problemas, substituído. Esta essência do mundo escapa totalmente à sua percepção consciente. Teríamos apenas acesso aos fenômenos que a expressam. A existência humana ganha o aspecto de relativa gratuidade, o que faz Schopenhauer ser considerado pessimista. (pg.113) 
Em relação à pintura do séc XIX:
 TURNER
	 Sua obra freqüentemente representa a grandiosidade das forças da 
 natureza diante da impotência humana. As tempestades no mar são um de 
 seus temas mais pintados; De longe, sua tela parece abstrata, composta por 
 borrões coloridos. Ao nos aproximarmos, podemos distinguir uma tempestade 
 no mar agitado e coberto pela neblina; na tempestade, podemos por vezes 
 distinguir um barco, totalmente à mercê das forças que o dominam. Pode-se 
 estabelecer uma relação entre suas pinturas e fragilidade da razão humana 
 diante da fúria da natureza. (pg.112)
 MÚSICA ROMÂNTICA
	 As que contém elementos do amor romântico
		Nacionalistas	Richard Wagner
	
 ÓPERA
O melhor exemplo de como a música era utilizada como forma de ação política. Em sua busca por mobilizar o povo alemão, ele não utilizou o discurso político ou filosófico, mas sim o de um espetáculo denominado por ele como uma “obra de arte total”: a ópera! Nela, unem-se recursos literários, musicais, dramáticos e mitológicos para produzir um efeito de envolvimento e sedução que possa atingir profundamente a platéia. Ele utilizava temas mitológicos germânicos, buscando no fundo da alma de cada homem o apelo do originário. 
	Outro compositor a expressar o nacionalismo e o amor em sua CHOPIN
 música, com suas polonaises e noturnos. Nele, encontramos ainda 
 o paradigma do romantismo como delicadeza.
Literatura:Edgar Alan Poe
		Autor americano, que retrata um aspecto do romantismo 
 que terá repercussão mais imediata e próxima à Psicologia: o da 
 ideia de níveis de profundidade da alma humana. Poe mergulha na alucinação 
 e, de lá, trás a fonte de sua inspiração. O poema de Poe é marcado por uma profunda 
 melancolia. Como era quase típico do artista romântico, ele morre antes dos 40 anos. 
 Um último aspecto referente ao século XIX, diz respeito a ele ter sido marcado pelo 
 conto de terror e pela invasão do lado escuro da alma humana – como em Drácula ou 
 Frankenstein, por exemplo.