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Estratégias para incremento de desempenho do par vaca bezerro da pré concepção à desmama

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA 
 
 
 
 
 
 
Estratégias para otimização do desempenho do par vaca/bezerro: da 
pré-concepção a desmama. 
 
 
Jurandy Mauro Penitente Filho. 
Médico Veterinário, M.Sc., Doutorando 
em Zootecnia, Área de Fisiologia e 
Reprodução Animal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIÇOSA-MG 
2012 
 
 
 
 
Sumário 
 
1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1 
2 – EFICIÊNCIA REPRODUTIVA ............................................................................................. 2 
2.1 – Estação de Monta ............................................................................................................. 3 
2.1.1 – Data do parto: ........................................................................................................... 5 
2.2 – Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF): .............................................................. 6 
2.2.1 – Princípios básicos da IATF: ..................................................................................... 7 
2.2.2 – Protocolos de IATF: .................................................................................................. 9 
2.2.3 – Estratégias para incrementar a taxa de concepção à IATF: .................................. 11 
2.3 – Idade à Puberdade e à Primeira Cria: ............................................................................. 12 
2.4 – Manejo e Intervalo entre Partos: .................................................................................... 12 
2.5 – Controle Sanitário: ......................................................................................................... 13 
2.6 – Nutrição e Reprodução: .................................................................................................. 13 
2.6.1 – Formação e Manejo de Pastagens: ......................................................................... 14 
2.6.2 – Suplementação em Épocas Críticas: ....................................................................... 14 
2.6.3 – Flushing: ................................................................................................................. 15 
3 – Otimização do par vaca:bezerro durante a Gestação:............................................................ 15 
3.1 – Programação Fetal: ......................................................................................................... 16 
3.1.1 – Crescimento e desenvolvimento fetal bovino: ......................................................... 17 
3.1.2 – Causas de retardamento do crescimento fetal bovino: ........................................... 17 
3.1.2.1 – Capacidade uterina e RCIU: ............................................................................. 18 
3.1.2.2 – Subnutrição e RCIU: ........................................................................................ 19 
3.1.2.3 – Efeitos pós-natais do RCIU: ............................................................................. 20 
3.1.3 – Mecanismos da Programação Fetal: ...................................................................... 21 
3.1.4 – Programação fetal e desenvolvimento do músculo esquelético: ............................. 23 
3.1.4.1 – Desenvolvimento do músculo esquelético em bovinos: ................................... 24 
3.1.4.2 – Efeitos da programação fetal sobre o desenvolvimento da musculatura 
esquelética em bovinos: .................................................................................................. 26 
3.1.4.3 – Efeitos da programação fetal sobre o desenvolvimento do marmoreio: .......... 28 
3.1.4.4 – Programação fetal e precocidade sexual: ......................................................... 30 
3.1.5 – Programação Fetal e Produção de Bovinos: .......................................................... 32 
3.2 – Suplementação da Vaca Prenhe: .................................................................................... 35 
4 – Manejo do par vaca/bezerro após o parto:............................................................................. 37 
 
 
4.1 – Creep Feeding ................................................................................................................ 37 
4.2 – Creep Grazing ................................................................................................................ 39 
4.3 – Recuperação do estado nutricional das matrizes: ........................................................... 40 
5 – Considerações Finais: ............................................................................................................ 41 
6 – Referências Bibliográficas: ................................................................................................... 43 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
 
1 – INTRODUÇÃO 
 
A bovinocultura de corte experimenta iniciativas de otimização da capacidade 
produtiva dos sistemas e da unidade de produção, calcada em arranjos produtivos 
compatíveis com a realidade regional. Assim, a bovinocultura de precisão, delineada 
com base em metas produtivas bem definidas, requer o gerenciamento da variabilidade 
espacial e temporal dos recursos produtivos. A análise dos ambientes com suas 
características e limitações próprias e o entendimento dos pontos relevantes antecedem 
a escolha de tecnologias que permitam programar ajustes e adequações dos sistemas de 
exploração em função das diversidades e especificidades regionais e de cada 
propriedade. Há um amplo leque de tecnologias que suportam a lógica da bovinocultura 
de precisão em pastagem e são múltiplos os sistemas de produção que combinam as 
diferentes técnicas de produção (PAULINO et al., 2006). 
 A bovinocultura brasileira passa por uma fase de reconhecimento da 
importância do uso de tecnologias no setor produtivo, principalmente no segmento de 
corte, com grande participação das raças zebuínas (Bos taurus indicus), como a raça 
Nelore, e também das raças taurinas (Bos taurus taurus) de origem europeia e seus 
cruzamentos. A perspectiva de retorno financeiro por meio da eficiência nos sistemas de 
produção pode ser intensificada com o uso de eficientes técnicas de manejo e 
biotecnologias aplicadas à reprodução animal. A adoção da estação de monta com uso 
de animais selecionados e a inseminação artificial são importantes ferramentas que 
auxiliam no melhoramento genético e no aumento da produtividade no setor 
(VISHWANATH, 2003). 
A pecuária de corte exige dos produtores máxima eficiência para garantia de 
retorno econômico. Um aspecto relevante a ser mensurado é o estabelecimento de 
índices reprodutivos que permitirão identificar claramente os pontos fortes e fracos do 
sistema e apontar as áreas que podem ser melhoradas (FARIA & CORSI, 1997). 
Usando os índices reprodutivos e produtivos como indicadores de desempenho do 
rebanho, é possível antecipar, calcular, organizar e melhorar os eventos ligados à 
reprodução do rebanho (FERREIRA, 1991; FARIA & CORSI, 1997). 
Assim, elevados índices de produção, associados à alta eficiência reprodutiva, 
devem ser metas que norteiam os técnicos e criadores a alcançarem maior produtividade 
e satisfatório custo-benefício na atividade. Neste contexto, a otimização da mão de obra 
 
 
2 
 
e a manutenção da eficiência reprodutiva são os principais fatores que contribuem para 
a melhoria do desempenho produtivo e da lucratividade dos rebanhos comerciais 
(VASCONCELOS & MENEGHETTI, 2006). 
Segundo Archer et al. (1999) a eficiência do par vaca:bezerro está intimamente 
correlacionado com a eficiência do sistema de produção. A produtividade do sistemade 
cria poderia ser aumentada com o uso de tecnologias, como cruzamento entre raças. No 
entanto, a busca da heterose levou ao uso indiscriminado de touros Bos taurus taurus e 
F1 em determinadas regiões do país (PINEDA, 2000). Embora o cruzamento represente 
a união da rusticidade, fertilidade e adaptabilidade dos zebuínos com a precocidade, 
qualidade de carne e acabamento das raças europeias (LUCHIARI FILHO, 2006), o 
maior potencial de produção dos animais que resultam dos programas de cruzamento é 
positivamente correlacionado às exigências de mantença (FERREL, 1985, citado por 
CALEGARE, 2007). 
As biotecnologias aplicadas à reprodução animal, como inseminação artificial, 
associadas a um manejo adequado do rebanho, têm sido implementadas por técnicos e 
produtores, visando aumentar a qualidade e a quantidade de bezerros genética e 
fenotipicamente superiores (TORRES JUNIOR et al., 2009). 
 
2 – EFICIÊNCIA REPRODUTIVA 
 
Em qualquer sistema de produção de gado de corte, a reprodução é um 
componente de grande importância para um desempenho econômico lucrativo. Várias 
são as citações regularmente publicadas em revistas especializadas sobre a contribuição 
da reprodução para a rentabilidade da pecuária de corte. Embora a ênfase quase sempre 
tenha sido dada à seleção para desempenho ponderal, os criadores de gado de corte 
conhecem os benefícios potenciais da seleção para características reprodutivas (DIAS et 
al., 2000). 
A estação de monta é uma das primeiras medidas de manejo a ser implantada em 
uma fazenda quando se quer melhorar a eficiência reprodutiva. O primeiro impacto 
desta prática é permitir, ao final da estação, o conhecimento da real situação reprodutiva 
de cada vaca, tornando fácil para o técnico o planejamento e a eliminação das 
reprodutoras indesejáveis, isto é, aquelas que nas mesmas condições das outras não 
 
 
3 
 
ficaram prenhas. A isto se chama seleção de fertilidade e, sem dúvida, é a maior 
vantagem da estação de monta (MARQUES et al., 2005). 
Como no sistema de criação extensivo de bovinos de corte a fertilidade do 
rebanho apresenta variações vinculadas às condições climáticas, o estabelecimento de 
uma estação de monta limitada é uma decisão importante e de grande impacto na 
fertilidade. Ela possibilita um melhor controle sobre o rebanho de cria, adequando o 
período de maior exigência nutricional (lactação) com o fim da estação seca e início das 
águas (SANTOS, 2003 citado por MARQUES et al., 2005). 
 
2.1 – Estação de Monta 
Estação de monta definida permite: 
 Concentração dos trabalhos com a inseminação artificial. 
 Concentração da estação de nascimento e desmama. 
 Melhor avaliação dos produtos. 
 Melhor tomada de decisão de descarte de vacas menos férteis e menos 
produtivas. 
Deve ser implantada na fase do ano mais adequada para os eventos reprodutivos 
sem se desconsiderar a melhor época do nascimento das crias. É importante que as 
fêmeas a serem inseminadas sejam examinadas em tempo hábil para o início da fase 
reprodutiva e para o diagnóstico de prenhez após a cobertura. Fêmeas que não 
apresentarem bom desempenho reprodutivo deverão ser eliminadas do programa de 
inseminação artificial. Também é importante o estabelecimento de uma estação de 
monta diferenciada para novilhas, uma vez que estas, após o primeiro parto, encontram 
dificuldades para retornarem aos eventos reprodutivos. Diante de tais evidências, a 
duração da estação de monta para vacas deve ser de, no máximo, 120 dias e das 
novilhas, de 90 dias, iniciando-se 30 dias antes da das vacas e terminando 
consequentemente 60 dias antes (FARIA, 1999). 
O objetivo principal da estação de monta é aumentar a eficiência reprodutiva. O 
segredo dessa condição está na palavra sincronismo. O que a estação de monta pretende 
é sincronizar o período de maior requerimento nutricional da vaca, que é o período de 
lactação. Com isso pode-se conseguir melhores índices reprodutivos (ROCHA et al., 
2005). 
 
 
4 
 
O método de monta mais utilizado no Brasil Central é aquele em que o touro 
permanece com o rebanho durante o ano todo. Como consequência, os nascimentos se 
distribuem ao longo do ano, apesar de uma maior concentração durante os meses de 
julho a setembro. A ocorrência de nascimentos em épocas inadequadas prejudica o 
desenvolvimento dos bezerros, devido à maior incidência de doenças e de parasitos, ou 
à menor disponibilidade de pastagens para as matrizes, durante o período de lactação. A 
maior desvantagem, entretanto, que limita a utilização da monta durante todo o ano, diz 
respeito à dificuldade do controle zootécnico e sanitário do rebanho, devido à falta de 
uniformidade (idade e peso) dos animais. Estes fatores acabam por prejudicar a seleção 
dos bovinos de maior potencial reprodutivo, em detrimento da fertilidade do rebanho 
(EMBRAPA, 2005). 
Como resultado da estação de monta as fêmeas terão tempo e condições 
suficientes para se recuperarem, fisiologicamente, até a monta subsequente. A 
concentração dos nascimentos na época mais adequada do ano resulta em lotes 
uniformes de bezerros e permite a adoção de diferentes práticas de manejo, que visam à 
redução da mortalidade e ao aumento do peso a desmama. Desta forma, os esquemas de 
vacinação, de vermifugação, castração e desmama de bezerros, ocorrerão nas idades e 
épocas corretas. Essa concentração de parições, além de disciplinar as referidas 
atividades rotineiras de manejo reprodutivo, facilita também a adoção de outras práticas, 
tais como o desmame precoce, a suplementação dos bezerros, a sincronização dos cios e 
a inseminação das matrizes. Em última análise, lotes uniformes de bezerros 
proporcionam facilidade na comercialização dos animais, ou para a recria na própria 
fazenda (SANTOS, 2003 citado por MARQUES et al., 2005). 
A escolha da estação de monta depende de diversos fatores, tais como condições 
climáticas, disponibilidade de pastagens, mão de obra, época adequada para o 
nascimento dos bezerros e finalidade da produção, isto é, animais puros ou comerciais 
(MARQUES et al., 2005). 
Partindo desses fatos, a implantação de uma estação de monta na propriedade 
tem por objetivo racionalizar a atividade reprodutiva tanto no aspecto biológico como 
prático (MARQUES et al., 2005). 
Para o Brasil Central, a estação de monta mais recomendada para sistemas de 
criação extensiva a pasto é a de novembro a janeiro (três meses), por apresentar as 
seguintes características: parição ocorre na época mais propícia do ano para os 
nascimentos dos bezerros (agosto a outubro), quando é baixa a incidência de doenças, 
 
 
5 
 
como a pneumonia, e de parasitos como carrapatos, bernes, moscas e vermes. A estação 
de monta coincide com a época de melhor qualidade e maior disponibilidade de 
forragem, o que proporciona condições adequadas para o restabelecimento da atividade 
reprodutiva de fêmeas e reprodutores, resultando em maiores índices de prenhez. O 
diagnóstico de gestação realizado em abril ou maio, antes do início da seca, permite 
identificar os animais improdutivos (ROCHA et al., 2005). 
O desmame dos bezerros aos 6-7 meses de idade, efetuado de fevereiro a abril, 
elimina o estresse da amamentação durante a seca. O descarte de vacas vazias 
(identificadas durante o diagnóstico de gestação) e de baixo potencial produtivo 
(bezerros leves a desmama), antes da seca, além de liberar o pasto para as fêmeas 
prenhes, possibilita a seleção de matrizes para melhor eficiência reprodutiva. Como o 
intervalo parto-concepção é maior em novilhas de primeira cria, recomenda-se que o 
início e o término da estação de monta para novilhas nulíparas sejam antecipados em 
pelo menos 30 dias,em relação ao das vacas, a fim de proporcionar maior tempo para o 
restabelecimento da atividade reprodutiva. Recomenda-se também que o peso mínimo à 
primeira monta deve ser de 280 kg, para não prejudicar seu desenvolvimento 
(EMBRAPA, 2005). 
De acordo com Pineda (2001), a idade de puberdade em fêmeas é avaliada pelo 
primeiro cio fértil. É necessário que o criador dê oportunidade às novilhas para que esta 
característica seja expressa, utilizando duas estações de monta curtas, a primeira no 
outono denominada “desafio da fertilidade” e decalada de alguns meses da estação de 
monta normal, quando as novilhas estão com 16-18 meses de idade. As novilhas vazias 
nessa primeira estação de monta teriam uma segunda chance na estação de monta 
normal na fazenda e as prenhes dessa primeira estação de monta formariam um núcleo 
precoce de seleção parindo fora da época normal da fazenda e chegando a segunda 
estação de monta com o primeiro bezerro desmamado e com uma melhor condição 
corporal, resolvendo dessa forma o grande problema de emprenhar a vaca primípara 
(MARQUES et al., 2005). 
 
2.1.1 – Data do parto: 
A produção de leite das vacas é influenciada pelo nível nutricional pós-parto, 
afetando diretamente o desenvolvimento do bezerro. Normalmente, vacas que parem 
mais cedo na estação de parição desmamam bezerros mais pesados (Tabela 01), em 
 
 
6 
 
função das maiores produção de leite e persistência do pico de lactação da matriz e 
consumo de forragem verde, tenra e suculenta pelo bezerro, permitidos pela maior 
disponibilidade e qualidade da forragem no início da rebrota das pastagens (PAULINO 
et al., 2002). 
 
 Tabela 01 – Efeito da data de parto sobre o peso a desmama (kg) de bezerros 
(PAULINO et al., 2002): 
 
 
2.2 – Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF): 
Várias são as vantagens em utilizar a inseminação artificial em rebanhos de 
corte, destacando: 
 Melhoramento genético do rebanho em menor tempo e a um baixo custo através 
da utilização de sêmen de reprodutores comprovadamente superiores para a 
produção de carne; 
 Controle de doenças; 
 Permite ao criador cruzar fêmeas zebuínas com touros de raças europeias e vice-
versa, através da utilização de sêmen; 
 Aumenta o número de descendentes de um reprodutor superior; 
Os resultados da inseminação artificial vão depender basicamente do manejo 
existente na fazenda, da qualidade do sêmen utilizado e da eficiência do inseminador. 
Um bom manejo exige uma boa assistência técnica. Possíveis falhas que 
porventura possam vir a ocorrer devem ser corrigidas a tempo, a fim de se evitar um 
prejuízo maior. É importante que as fêmeas inseminadas tenham identificação numérica 
individual e que a fazenda disponha de um bom sistema computacional de 
gerenciamento do rebanho que permita obter informações precisas sobre o status 
reprodutivo e produtivo de cada animal, permitindo uma melhor seleção daqueles 
animais mais produtivos (FARIA, 1999). 
 
 
 
 
 
7 
 
2.2.1 – Princípios básicos da IATF: 
A sincronização de estro é a biotécnica reprodutiva que permite manipular o 
ciclo estral, com a utilização de substâncias hormonais. A diferença entre sincronização 
e indução de estros é que a sincronização consiste em encurtar ou prolongar o ciclo 
estral pela utilização de hormônios ou associações hormonais que induzam a luteólise 
ou prolonguem a vida do corpo lúteo, ao passo que, a indução consiste em induzir o 
estro em fêmeas que estejam em anestro, por meio também, do emprego de hormônios 
ou práticas de manejo. Assim, são processos distintos e aplicáveis a diferentes 
categorias de animais (MORAES et al., 2001). 
A utilização de protocolos de sincronização de estro visa encurtar o período para 
ocorrência da primeira ovulação, por induzir o crescimento folicular e posterior 
ovulação em fêmeas que se apresentem em anestro (OLIVEIRA et al., 2011). Vários 
protocolos são descritos na literatura, os quais apresentam resultados variáveis, 
dependendo da condição sanitária e nutricional das fêmeas. Para a escolha do protocolo, 
devem ser analisadas as condições individuais de cada rebanho, levando-se em 
consideração as condições citadas anteriormente, além da relação custo/benefício de seu 
uso (MORAES et al., 2001). 
Os principais hormônios utilizados na indução do estro e/ou ovulação são 
progestágenos e GnRH, os quais muitas vezes são utilizados em associação com outros 
hormônios, como PGF2α (e seus análogos sintéticos), estradiol, eCG ou FSH. Estas 
associações visam manipular tanto a dinâmica folicular como o corpo lúteo 
(MAPLETOFT et al., 2000), aumentar a fertilidade do estro induzido e aumentar a 
precisão do momento da ovulação e qualidade do oócito, quando se utilizam protocolos 
de inseminação artificial em tempo fixo (IATF). 
O crescimento dos folículos ovarianos nas fêmeas bovinas se dá em ondas, 
geralmente duas ou três por ciclo. Cada onda pode ser dividida em 3 fases: 
Recrutamento: quando vários folículos primários passam a se desenvolver 
concomitantemente. Esta fase é dependente do FSH (Hormônio Folículo Estimulante). 
Seleção e dominância: na qual um folículo cresce mais que os outros, tornando-
se dominante e inibindo o crescimento dos demais (subordinados). Esta fase é 
dependente também do LH (Hormônio Luteinizante). 
Ovulação ou atresia: O folículo dominante ovula após um pico de liberação de 
LH. No entanto, se houver um corpo lúteo ativo, os níveis de progesterona estarão altos 
(fase luteal) inibindo a liberação de LH (feedback negativo) e, então, o dominante entra 
 
 
8 
 
em atresia e uma nova onda de crescimento folicular se inicia. A última onda folicular 
de cada ciclo culmina com a regressão do corpo lúteo (induzida pela prostaglandina F2α 
liberada no útero). Com a diminuição dos níveis de progesterona, cessa-se a inibição 
sobre o LH, que é liberado em pulsos e induz o crescimento final do folículo, a 
ovulação e posterior luteinização na formação do novo corpo lúteo (OLIVEIRA et al., 
2011). Este processo é ilustrado nas Figuras 1 a 3. 
 
Figura 1 – Fases do crescimento folicular: recrutamento (dependente de FSH); Seleção e 
dominância (dependente de LH); Ovulação ou atresia (na dependência da presença o não do 
pico pré-ovulatório de LH; Fonte: TECNOPEC 
 
 
Figura 2 – Esquema de ciclo estral com 2 ondas foliculares. A primeira onda culmina com a 
atresia do dominante por falta do pico pré-ovulatório de LH (fase luteínica). A segunda onda 
culmina com a ovulação (fase folicular, baixa progesterona e pico pré-ovulatório de LH; Fonte: 
TECNOPEC 
 
 
9 
 
 
Figura 3 – Esquema de ciclo estral com 3 ondas foliculares. A primeira e a segunda onda 
culminam com a atresia dos dominantes por falta do pico pré-ovulatório de LH (fase luteínica). 
A terceira onda culmina com a ovulação (fase folicular, baixa progesterona e pico pré-
ovulatório de LH; Fonte: TECNOPEC 
 
Os programas de IATF se tornaram possíveis graças aos esforços de muitos 
pesquisadores que descobriram métodos farmacológicos de controle de cada fase do 
ciclo estral, em diferentes estágios do ciclo reprodutivo dos animais. Trabalhos 
mostraram que é possível: 
 Sincronizar a emergência de uma nova onda folicular, através da indução da 
ovulação (GnRH) ou da atresia folicular (progesterona + estradiol). 
 Controlar a duração da fase luteal, usando luteolíticos análogos à Prostaglandina 
F2α ou simulando uma fase luteal, fornecendo progesterona por meio de 
dispositivos de liberação lenta. 
 Induzir a ovulação na fase folicular com GnRH, LH ou estrógeno. 
 Induzir o crescimento folicular em animais em anestro, utilizando gonadotrofinas 
(FSHou eCG). 
 
2.2.2 – Protocolos de IATF: 
A seguir, estão apresentados alguns dos principais protocolos de IATF utilizados 
em bovinos de corte e suas peculiaridades. 
 
 
 
 
 
 
10 
 
Protocolo IATF Tecnopec – BE no D9 – Vacas de corte 
 
Este protocolo é usualmente indicado para gado de dupla aptidão (corte e leite), 
com fêmeas na fase de lactação e para fêmeas cruzadas leiteiras. Durante a produção de 
leite, há um maior fluxo sanguíneo pelo fígado e consequentemente ocorre uma maior 
metabolização hormonal hepática. Com isso, recomenda-se o uso do RIC-BE
®
 
(Benzoato de Estradiol) 1 dia após a retirada do Primer
®
 (Progesterona), para permitir 
que o aumento nas concentrações de estrógeno, responsável pela indução da ovulação, 
ocorram na ausência de progesterona circulante. 
 
Protocolo IATF Tecnopec – BE no D8 – Vacas de corte 
 
Programas de execução simples, exigindo menor mão-de-obra e que provoquem 
menos estresse nos animais são requisitos importantes para viabilizar o programa IATF 
em condições de campo. A aplicação do Benzoato de Estradiol (RIC-BE
®
) na retirada 
do dispositivo de progesterona (D8) diminui um manejo, ou seja, os animais são 
fechados no curral uma vez a menos, que os programas mais usuais. 
 
 
11 
 
 
Protocolo IATF Tecnopec – GnRH no D10 – Vacas de corte 
 
A indução da ovulação com Gestran Plus
®
 (GnRH) é rápida e eficiente, 
permitindo sua administração no momento da IA e também diminuindo uma passagem 
dos animais pelo tronco, durante os protocolos IATF. A Tecnopec comprovou sua 
eficácia também na associação com RIC-BE
®
 (Benzoato de Estradiol). O uso dos 
estrógenos, ao final dos protocolos, facilita o processo de inseminação, em especial nas 
fêmeas primíparas, e a sincronização das ovulações ocorre de forma mais precisa com o 
Gestran Plus
®
. 
 
2.2.3 – Estratégias para incrementar a taxa de concepção à IATF: 
Estratégias que visam melhorar a taxa de concepção e que podem ser utilizadas 
concomitantemente à IATF, pois podem incrementar os resultados. Deve-se, no entanto, 
avaliar o custo benefício das técnicas dentro da realidade de cada propriedade. 
• Aplicação de análogo de GnRH, 7 dias após a IA. 
Esse manejo induz a ovulação do folículo dominante da 1ª onda de 
desenvolvimento folicular, que se inicia um dia após a ovulação ocorrida na IA. Esse 
manejo gera um corpo lúteo acessório, aumenta a produção de progesterona, podendo 
melhorar as taxas de prenhez, por diminuir os índices de perda embrionária. 
• Suplementação alimentar com Ácidos Graxos Omega 3. 
A ingestão de 10 gramas/dia de ácidos graxos Omega 3, durante o período 
reprodutivo, melhora a taxa de concepção na IA, diminuindo o índice de perda 
embrionária motivada pela regressão precoce do corpo lúteo. Os ácidos graxos Omega 3 
 
 
12 
 
mudam a cadeia de degradação do ácido araquidônico, resultando em prostaglandinas 
do tipo E (ao invés de PGF2α), que não são ativas na lise do corpo lúteo. 
• Administração injetável de estimulante hormonal desde a parição até o início 
do protocolo de IATF. 
Pode estimular a eficiência das glândulas relacionadas com a reprodução, 
podendo levar à maior síntese e liberação de hormônio liberador de gonadotrofinas 
(GnRH), hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH). 
• Administração de rbST (Somatotropina recombinante bovina). 
Eleva as concentrações plasmáticas de IGF-I e de insulina, exercendo efeito 
sobre maturação dos ovócitos por efeito direto ou pela estimulação das células da 
granulosa, além de poder agir nos estádios iniciais do desenvolvimento embrionário. 
• Administração de flunixin meglumine no momento do reconhecimento 
materno da gestação. 
Inibe a ciclo-oxigenase e, portanto, impede a conversão do ácido araquidônico 
em PGF2α (OLIVEIRA et al., 2011). 
 
2.3 – Idade à Puberdade e à Primeira Cria: 
O primeiro aspecto importante na reprodução das fêmeas é a idade em que 
atingem a puberdade, e a extensão na qual esta idade se relaciona à fertilidade na 
primeira estação de monta e ao subsequente desempenho reprodutivo nas futuras 
estações. Puberdade se relaciona ao desenvolvimento pré e pós desmama. De acordo 
com a literatura, existe uma relação direta entre idade, peso e eficiência reprodutiva em 
novilhas de corte, refletindo na manifestação da puberdade dessas novilhas e 
consequentemente no aparecimento do primeiro cio fértil e idade ao primeiro parto. A 
resposta à seleção por idade ao primeiro parto está fortemente condicionada pelos níveis 
nutricionais, influenciando no peso e na fertilidade das novilhas no início da vida 
reprodutiva (FARIA, 1999). 
 
2.4 – Manejo e Intervalo entre Partos: 
Segundo Faria (1999), o intervalo entre partos tem sido tradicionalmente usado 
para se avaliar a eficiência reprodutiva em animais adultos. Em programas de 
inseminação artificial, a correta observação de estro com o uso de rufiões ou rufionas 
androgenizadas, pessoal treinado e o momento da inseminação são essenciais para não 
 
 
13 
 
haver elevação do período de serviço e, consequentemente, elevação no intervalo entre 
partos. Muitas pesquisas têm demonstrado que a presença da cria ao pé da mãe, como 
ocorre no manejo tradicional, pode exercer um efeito negativo sobre o retorno à 
atividade reprodutiva, prolongando o período de serviço e diminuindo a eficiência 
reprodutiva. Trabalhos realizados no Brasil demonstram que a racionalização do manejo 
de amamentação (1 ou 2 mamadas diárias) após o período puerperal trouxe resultados 
significativos sobre o período de serviço, diminuindo-o, e reduzindo o intervalo entre 
partos (Tabela 02). 
 
Tabela 02 – Efeito dos Períodos de Serviço e Gestação sobre o Intervalo entre Partos e 
Taxa de Nascimentos (FONSECA, 1991): 
 
2.5 – Controle Sanitário: 
De nada adianta a vaca manifestar o estro até 60 dias pós-parto e conceber, caso 
posteriormente tenha a gestação interrompida por morte embrionária, aborto ou 
natimorto. O intervalo entre partos continuará longo. Doenças infecto-contagiosas que 
provoquem morte embrionária, aborto e/ou natimorto, tais como: Brucelose, 
Tricomonose, Campilobacteriose, Listeriose, Sarcosistose, Diarréia Bovina a Vírus, 
Rinotraqueite infecciosa, etc., não devem estar presentes no rebanho (FARIA, 1999). 
 
2.6 – Nutrição e Reprodução: 
Entre tantos outros fatores que afetam o desempenho reprodutivo de vacas de 
corte, o manejo nutricional é o que tem maior impacto, sendo a energia o principal 
nutriente requerido para a reprodução de fêmeas bovinas (FERREIRA, 2000). A 
insuficiente ingestão de energia está correlacionada com inferior desempenho 
 
 
14 
 
reprodutivo, refletindo num maior intervalo parto e 1.º cio / ovulação pós-parto e/ou 
menor taxa de concepção em fêmeas bovinas de corte (SANTOS & AMSTALDEN, 
1998; DE VRIES & VEERKAMPF, 2000). 
É importante salientar também, que em relação à proteína, tanto sua deficiência 
como o excesso podem prejudicar o desempenho reprodutivo. Vacas de corte 
alimentadas com pastagem de baixa qualidade ingerem dieta com déficit protéico, e 
nesses casos podem apresentar comprometimento da fermentação ruminal, com menor 
consumo de matéria seca e menor digestibilidade da fibra. Desse modo a ingestão de 
energia será limitada devido à maior ingestão de fibra, associada ao baixo conteúdo de 
proteína na dieta (SANTOS & AMSTALDEN, 1998). Quando a proteína é ingerida em 
excesso (condição mais rara) pode ocorrer aumento do N uréico no sangue e leite, 
alteração da atividade tubária e endometrial, maior custo energético (gasto de ATP para 
transformação de NH3 em uréia paraser eliminada) e uma possível supressão do sistema 
imunológico (FERREIRA, 2000). 
 
2.6.1 – Formação e Manejo de Pastagens: 
O consumo de forragem é o principal fator que determina o seu valor nutritivo. 
De nada adianta uma forragem rica em nutrientes, mas que por deficiência de manejo, 
tenha baixo consumo. Pastagem pouco densa, além de proporcionar pouca forragem, 
dilata o tempo de pastejo, pelo aumento do número de bocados e, consequentemente, 
maior gasto de energia para obtenção do alimento. Essa é, portanto, uma das principais 
causas do insucesso em sistemas de pecuária de corte (FARIA, 1999). 
 
2.6.2 – Suplementação em Épocas Críticas: 
A proteína se constitui em sério problema no período da seca, onde seus teores 
nas pastagens estão abaixo do mínimo requerido pelos microrganismos ruminais que é 
de 7%. Além desta redução, ocorre o aumento das constituintes fibrosos da planta, 
diminuição dos minerais, o que concorre para a menor digestibilidade da forragem e 
assim, menos consumo de pasto, interferindo de forma negativa no início da atividade 
reprodutiva em novilhas e no intervalo entre partos em vacas que chegam muito magras 
à estação de parição. Este cuidado deve ser observado principalmente em fêmeas de 1ª 
cria (FARIA, 1999). Surge daí a necessidade de uma suplementação protéica, na época 
 
 
15 
 
do ano caracterizada pela seca, para diminuir influência destes problemas na eficiência 
reprodutiva em matrizes bovinas (FONSECA, 1991; Figura 04). 
 
 
Figura 04 – Condição Corporal ao Parto e Incidência de Cio Pós-Parto (FONSECA, 1991). 
 
2.6.3 – Flushing: 
Durante a estação de monta pode ser apropriado fornecer altos níveis de 
nutrientes em tempo curto para dar partida (servir de gatilho) aos eventos 
endocrinológicos ou para fornecer substratos nutricionais (lipogênicos, glucogênicos ou 
aminogênicos) durante períodos críticos. Assim, visualiza-se o uso de suplementos 
múltiplos, em caráter estratégico, como estímulo à atividade ovariana, especialmente 
viabilizando o consumo de altas concentrações de energia metabolizável durante 
períodos de estresse por calor, relativamente normal nos períodos de estação de monta 
no Brasil. O impacto deste sistema não está associado a mudanças substanciais em peso 
ou escore corporal (PAULINO et al., 2004). 
 
3 – Otimização do par vaca:bezerro durante a Gestação: 
 
A produção de bovinos em pastagem envolve as interconexões entre os vários 
elementos abióticos e bióticos do sistema, tais como o ambiente (clima, solo), a planta 
forrageira, o animal, os microorganismos e o manejo adotado pelo gerenciador do 
sistema. Qualquer alteração nos fatores de produção que influenciem um dos 
 
 
16 
 
subsistemas ou suas interações afetará o desempenho animal e o rendimento por 
unidade de área (PAULINO et al., 2006). 
A satisfação dos requerimentos de nutrientes de fêmea bovina prenhe é 
importante para assegurar um adequado suprimento de nutrientes para crescimento e 
desenvolvimento apropriado do feto e assegurar que a fêmea esteja em condição 
corporal adequada para parir e amamentar e ser coberta novamente dentro de 80 dias 
após o parto, e prover, no caso da primípara de dois (2) ou três (3) anos de idade, 
nutrientes adequados para crescimento continuado (PAULINO et al., 2004). 
Os picos de requerimentos de nutrientes da matriz bovina ocorrem no fim da 
gestação até o pico de lactação. O fato que os requerimentos de nutrientes são 
dinâmicos sugere que as estratégias de alimentação podem, também, serem dinâmicas 
(PAULINO et al., 2004). Uma alternativa preconizada é o uso de suplementos múltiplos 
para recuperação de escore corporal de matrizes durante o período de seca que antecede 
a estação de parição (PAULINO et al., 2001). 
 
3.1 – Programação Fetal: 
A programação fetal, ou programação do desenvolvimento, é o conceito de que 
um estímulo materno ou lesão ocorrida em um período sensível do desenvolvimento 
fetal pode ter efeitos de longo prazo sobre a saúde e sobre a eficiência de crescimento de 
um indivíduo após o nascimento (HESS, 2008). 
A programação é um fenômeno biológico já bem conhecido. Por exemplo, em 
ratas, uma única dose de testosterona, aplicada no período crítico do desenvolvimento, 
programa o cérebro a desenvolver um padrão de comportamento masculino depois da 
puberdade, apesar de não alterar a função da pituitária e dos ovários (LENDRO et al., 
2009). 
O conceito de programação fetal pode ser estendido para incluir a origem fetal 
do desempenho do crescimento pós-natal, porque o processo depende tanto das taxas 
quanto da eficiência das transformações metabólicas dos nutrientes, que são 
influenciadas por perturbações metabólicas, endócrinas e cardiovasculares (WU et al., 
2006). 
 
 
 
17 
 
3.1.1 – Crescimento e desenvolvimento fetal bovino: 
A maior parte do crescimento do feto bovino ocorre durante o trimestre final da 
gestação (PRIOR & LASTER, 1979) e a captação de nutrientes pelo feto torna-se 
quantitativamente importante apenas na segunda metade da gestação (FERRELL et al., 
1983). Ainda que as características placentárias possam ser alteradas pela nutrição 
durante o início e meio da gestação sem afetar de forma significativa o tamanho do feto 
(RASBY et al., 1990) ou o peso ao nascer (PERRY et al., 2002), o desenvolvimento e 
crescimento de órgãos vitais precede o desenvolvimento de ossos, músculos e gordura 
(Figura 5). 
A massa de tecidos da carcaça de maturação relativamente tardia é geralmente 
considerada como mais susceptível aos efeitos da nutrição durante o período mais tardio 
da prenhez, quando a nutrição tem impacto maior sobre o crescimento fetal. Podem 
ocorrer efeitos mais sutis sobre o desenvolvimento de órgãos e tecidos devidos à 
nutrição durante o início da prenhez, com potencial para consequências em longo prazo 
sobre a saúde do animal (WU et al., 2006). 
 
 
Figura 5 – Cronologia do crescimento fetal e desenvolvimento bovino. 
 
3.1.2 – Causas de retardamento do crescimento fetal bovino: 
O ambiente intra-uterino do concepto pode alterar a expressão do genoma fetal e 
ter consequências ao longo da vida. Este fenômeno, chamado de programação fetal, 
 
 
18 
 
levou à recente teoria da origem fetal, ou de desenvolvimento, da doença de adultos 
(BARKER & CLARK, 1997). Ou seja, alterações do estado nutricional e endócrino do 
feto podem resultar em adaptações de desenvolvimento que alteram permanentemente a 
estrutura, fisiologia e metabolismo da prole, o que predispõe os indivíduos a doenças 
metabólicas, endócrinas e cardiovasculares na vida adulta. Como o desempenho do 
crescimento, que depende das taxas e da eficiência do metabolismo de transformação de 
nutrientes, é também uma das principais preocupações na pecuária, a teoria da 
programação fetal pode ser estendida para incluir origens fetais de retardo de 
crescimento pós-natal, redução da eficiência alimentar e qualidade da carne reduzida 
(WU et al., 2006). 
O retardamento do crescimento intra-uterino (RCIU) pode ser definido como o 
comprometimento do crescimento e desenvolvimento do embrião ou do feto de 
mamífero ou de seus órgãos durante a gestação. Por ser de fácil aferição, o peso fetal ou 
o peso ao nascer em relação à idade gestacional é frequentemente usado como critério 
para detecção de RCIU. 
De ocorrência natural ou ambiental (desnutrição, estresse por calor, doenças e 
toxinas), o RCIU já foi bem documentado em animais de produção (incluindo bovinos, 
caprinos, cavalos, porcos e ovelhas) e pequenos mamíferos (cão, camundongo e rato; 
WU et al., 2006). 
O resultado das condições estressantes no útero depende da sua natureza, dagravidade, da fase de gestação, e da duração do estresse. Assim, vários fatores regulam 
o crescimento do concepto e contribuem para o RCIU. Capacidade uterina insuficiente e 
nutrição materna inadequada são dois dos principais fatores que prejudicam o 
crescimento fetal (WU et al., 2006). 
 
3.1.2.1 – Capacidade uterina e RCIU: 
Embora o genoma fetal desempenhe um papel importante no potencial de 
crescimento no útero, evidências sugerem que o ambiente intra-uterino é um 
determinante do crescimento fetal (WILSON, 2002). 
Além disso, em animais domésticos (incluindo bovinos e equinos), quando o 
embrião de uma doadora geneticamente maior foi transferido para uma receptora com 
menor capacidade uterina, o RCIU foi um resultado da gestação (Tabela 03; FERRELL, 
1991; ALLEN et al., 2002). 
 
 
19 
 
Tabela 03 – Influência da raça da vaca, raça do feto e dia da gestação no peso do feto e 
dos componentes do útero gestante (Adaptado de FERRELL, 1991): 
 
 
3.1.2.2 – Subnutrição e RCIU: 
A qualidade das forragens e volumosos utilizados na bovinocultura de corte é 
muitas vezes deficiente, particularmente em períodos de seca, e é inadequada para uma 
nutrição ótima de crescimento, gestação e lactação para herbívoros (incluindo 
ruminantes e equinos), sem proteínas de alta qualidade e suplementos energéticos. Em 
sistemas extensivos de produção em todo o mundo, há pouco ou nenhum suplemento 
fornecido para ruminantes em pastoreio (FONTANELI et al., 2005). Assim, a 
desnutrição fetal ocorre frequentemente na pecuária, levando à redução do crescimento 
fetal. 
Novilhas gestantes em situações de confinamento, muitas vezes têm ingestão 
inadequada de nutrientes e resultados ruins de gestação (incluindo redução do 
crescimento fetal; KREIKEMEIER & UNRUH, 1993). O encurtamento dos intervalos 
de parto para reprodução, embora seja prática desejável para aumentar o potencial de 
retorno econômico da produção pecuária (FERGUSON, 2005), resulta em depleção 
nutricional materno no início da gravidez (WU et al., 2004). 
A desnutrição fetal bovina muitas vezes ocorre durante fases mais adiantadas da 
gestação, particularmente em vacas multíparas. Em novilhas e vacas adultas, o consumo 
voluntário diminui geralmente em 30 a 35% durante as últimas 3 semanas antes do 
parto (GRUMMER, 1995), quando a taxa absoluta de crescimento fetal é maior 
(FERRELL, 1991). A queda na ingestão de alimentos durante este período de transição 
é agravada por condições tais como gestações gemelares, gestação em primíparas e 
estresse por calor (GRUMMER, 1995) 
Resistência materna à insulina se desenvolve gradualmente em vacas (BELL et 
al., 2000) durante o final de gestação, provavelmente devido à incapacidade do fígado e 
 
 
20 
 
do músculo esquelético em oxidar os ácidos graxos liberados do tecido adiposo, em 
resposta a um balanço energético negativo (FERGUSON, 2005). Um aumento no 
plasma dos níveis de ácidos graxos livres é um fator importante que contribui para a 
ocorrência de resistência à insulina (JOBGEN et al., 2006). 
Considerando que a resistência à insulina na fêmea gestante pode ter o potencial 
para aumentar a disponibilidade de glicose para o feto, a transferência de nutrientes da 
mãe para o feto pode ser prejudicada nessa condição. Visto que a insulina estimula a 
síntese e inibe degradação de proteína muscular, a resistência à insulina aumenta a taxa 
líquida de proteólise do organismo e, portanto, os níveis plasmáticos de metilarginina 
que inibe a síntese de óxido nítrico endotelial (NO; MARLISS et al., 2006). Pelo fato 
do NO ser um regulador importante do fluxo sanguíneo útero-placentário (BIRD et al., 
2003), uma grave resistência à insulina provavelmente comprometerá a troca de 
nutrientes e oxigênio entre útero e placenta ao final da gestação. 
 
3.1.2.3 – Efeitos pós-natais do RCIU: 
O baixo peso ao nascer está associado à morbidade neonatal e a taxas de 
mortalidade elevadas nos animais domésticos, particularmente sob condições climáticas 
adversas (VAN RENS et al, 2005). 
Disfunções intestinais e respiratórias, que ocorrem em neonatos submetidos ao 
RCIU (ROSSDALE & OUSEY, 2002), são os principais fatores que contribuem para a 
mortalidade pré-desmame em animais. Recém nascidos com RCIU que sobrevivem nos 
primeiros dias de vida têm muitas vezes o risco aumentado para doenças neurológicas, 
respiratórias, intestinais e circulatórias durante o período neonatal (WU et al., 2004). 
Neonatos submetidos ao RCIU devido a placentas pequenas ou desnutrição 
grave frequentemente se tornam hipoglicêmicos e hipoxêmicos, e são mais susceptíveis 
à hipotermia fatal em resposta ao estresse pelo frio, devido à deficiência de mecanismos 
termogênicos (tremor e não-tremor) e a reduzidas reservas de energia (MELLOR, 
1983). Além disso, a redução da qualidade (composição de nutrientes e teor de 
imunoglobulina) e quantidade de colostro produzido na época do parto por vacas 
desnutridas durante a gestação também afeta negativamente a sobrevida neonatal 
(WALLACE et al., 2001). 
O RCIU natural ou induzido experimentalmente está associado com alterações 
morfológicas gastrointestinais e disfunção gastrointestinal (TRAHAIR et al., 1997) e 
 
 
21 
 
também prejudica o desenvolvimento do músculo esquelético (Tabela 04; 
GREENWOOD et al., 2000). Essas condições contribuem para uma redução da 
eficiência de utilização dos nutrientes na progênie submetida ao RCIU. 
 
Tabela 04 – Pesos musculares, peso ao nascimento, idade, taxa de crescimento, peso 
vivo (LW) ao abate e peso de corpo vazio (EWB) no abate de cordeiros 
recém-nascidos de baixo (Base-L) e alto (Base-H) peso ao nascimento 
(Adaptado de GREENWOOD et al., 2000): 
 
 
3.1.3 – Mecanismos da Programação Fetal: 
Deficiências nutricionais durante um período crítico da gestação podem ter um 
efeito permanente sobre a descendência, ao longo da vida pós-natal. Há também 
evidências de que a desnutrição fetal devido à insuficiência placentária compromete a 
função vascular em duas gerações de ratos (ANDERSON et al., 2006). Há evidências 
crescentes de que o estado nutricional materno ou fetal pode alterar o estado epigenético 
 
 
22 
 
do genoma fetal e a expressão de genes (por exemplo, Igf2 e H19), onde a metilação do 
DNA e proteínas desempenha um papel crucial. 
Alterações epigenéticas (ou seja, alterações estáveis da expressão gênica por 
meio de modificações covalentes de DNA) em embriões podem ser transportadas para 
fases posteriores do desenvolvimento (WATERLAND & JIRTLE, 2004). Dois 
mecanismos mediando efeitos epigenéticos são a metilação do DNA (que ocorre em 
posições 5' de resíduos de citosina no dinucleotídeo CpG no genoma dos mamíferos) e 
modificação das histonas (acetilação, metilação, etc; JAENISCH & BIRD, 2003; 
OOMMEN et al., 2005). A metilação CpG pode regular a expressão de genes através da 
modulação da ligação de proteínas ao DNA, afetando assim a conformação da 
cromatina. Modificações de histonas podem alterar o posicionamento das interações 
DNA-histonas e a afinidade de ligação ao DNA pela histona, afetando assim a 
expressão gênica (JAENISCH & BIRD, 2003). 
As metilações do DNA e proteínas são catalisadas por metiltransferases 
específicas, com a S-adenosilmetionina (SAM) sendo a doadora de metil em tais 
reações (JAENISCH & BIRD, 2003). A S-adenosilmetionina é sintetizada a partir da 
metionina e ATP pela metionina adenosiltransferase, e sua concentração placentária é 
maior quando o crescimento da placenta é mais rápido (WU et al., 2005). Além de 
reações de metilação, a SAM é utilizada para a síntese de espermidina e espermina a 
partir da putrescina através da geração de SAMdescarboxilado (Figura 6). 
 
Figura 6 – Funções dos nutrientes na prestação de doadores do grupo metila, bem como a 
metilação do DNA e proteínas. Os aminoácidos e vitaminas desempenham um papel crucial no 
fornecimento de S-adenosilmetionina para a metilação do DNA e proteínas, bem como a síntese 
de creatina, cisteína, taurina, e poliaminas. As enzimas que catalisam as reações indicadas são: 1 
– metionina S-adenosiltransferase; 2 – N-guanidinoacetato metiltransferase; 3 – DNA 
 
 
23 
 
metiltransferase; 4 – proteína metiltransferase; 5 – S-adenosilhomocysteína hidrolase; 6 – 
betaína:homocisteína metiltransferase; 7 – N5-metiltetrahidrofolato:homocisteína 
metiltransferase; 8 – serina hidroximetiltransferase; 9 – N5,N10-metilenotetrahidrofolato 
redutase; 10 – folato desidrogenase; 11 – enzimas de degradação de proteínas (incluindo 
calpaínas, proteases ubiquitina-dependente, proteassoma e proteases lisossomais); 12 – enzimas 
de síntese protéica; 13 – S-adenosilmetionina descarboxilase; 14, espermidina sintase e 
espermina sintase; 15 – colina desidrogenase; 16 – enzimas de síntese da taurina (cisteína 
dioxigenase e cisteínasulfinato descarboxilase); 17 – enzimas de formação do N5-formimino-
tetrahidrofolato (histidase, urocanase, imidazolonapropionase, e glutamato 
formiminotransferase); 18 – formiminotetrahidrofolato ciclodeaminase; e 19 – 
metilenotetrahidrofolato redutase. B6 = vitamina B6; B12 = vitamina B12; CH3-DNA = DNA 
metilado; CH3-proteína = proteína metilada; DCAM = S-adenosilmetionina descarboxilada; 5-
FTF = N
5
- formimino-tetrahidrofolato; GA = guanidinoacetato; Glu = glutamato; Gly = glicina; 
His = histidina; 5-MTF = N
5
-metil-tetrahidrofolato; 5,10-MTF = N
5
,N
10
-metileno 
tetrahidrofolato; MTHF = N
5
,N
10
-meteniltetraidrofolato; Ser = serina; SPD = espermidina; SPM 
= espermina; e THF = tetrahidrofolato. (WU et al., 2006). 
 
A síntese de creatina é quantitativamente o caminho mais importante para a 
utilização do SAM e, portanto, é um importante regulador da disponibilidade de 
doadores de metil no organismo (STEAD et al., 2001). Quando a dieta é deficiente em 
cisteína e/ou taurina ou contém excesso de metionina, um aumento da síntese de cisteína 
e/ou taurina a partir da metionina consome uma grande quantidade de SAM. O 
metabolismo de carbono, que depende de serina, glicina, histidina, colina e vitaminas do 
complexo B (incluindo ácido fólico, vitamina B12 e vitamina B6), além de metionina, 
desempenha um papel importante na regulação da disponibilidade de SAM (Figura 6). 
Assim, a metilação do DNA e as modificações das histonas podem ser alteradas pela 
disponibilidade global de aminoácidos e micronutrientes (OOMMEN et al., 2005). A 
epigenética pode fornecer um mecanismo molecular para o impacto da nutrição materna 
sobre a programação fetal do desempenho de crescimento pós-natal e suscetibilidade a 
doenças. 
 
3.1.4 – Programação fetal e desenvolvimento do músculo esquelético: 
A carne dos animais é desenvolvida para a musculatura esquelética. O estágio 
fetal é fundamental para o desenvolvimento do músculo esquelético, porque não há 
aumento líquido do número de fibras musculares após o nascimento (ZHU et al, 2004). 
 
 
24 
 
Portanto, uma diminuição no número de fibras musculares devido à programação fetal 
reduz permanentemente a massa muscular e afeta negativamente o desempenho animal. 
O marmoreio (a gordura intramuscular) é importante para a palatabilidade da 
carne, e a vida fetal é uma etapa importante para a geração de adipócitos 
intramusculares (TONG et al., 2009), que fornecem os locais para o acúmulo de gordura 
intramuscular ou formação de marmoreio durante a engorda. Assim, a programação 
fetal também afeta o grau de marmoreio em bovinos. 
 
3.1.4.1 – Desenvolvimento do músculo esquelético em bovinos: 
O desenvolvimento do músculo esquelético é iniciado durante a fase 
embrionária (COSSU & BORELLO, 1999). Uma porção de células-tronco 
mesenquimais dá origem à linhagem miogênica, como resultado de sinais recebidos de 
tecidos vizinhos (KOLLIAS & McDERMOTT, 2008). Sinais como Wingless e Int 
(Wnt) e Sonic hedgehog (Shh) regulam a expressão de genes (KASSAR-DUCHOSSOY 
et al., 2005), que, então, iniciam a expressão dos fatores de regulação miogênica (MRF) 
(PETROPOULOS & SKERJANC, 2002). Posteriormente, as células proliferam e 
sofrem diferenciação, um processo que inclui a retirada do ciclo celular e expressão de 
genes músculo-específicos. Mioblastos também iniciam a expressão de outro MRF, a 
miogenina, que é necessária para a formação de miotubos multinucleados. Juntos, os 
vários MRF cooperam para regular a miogênese, formando uma fibra muscular madura 
(KOLLIAS & McDERMOTT, 2008). 
A sinalização Wnt age por meio de mecanismos autócrinos ou parácrinos 
influenciando o desenvolvimento de vários tipos de células (JOHNSON & 
RAJAMANNAN, 2006). Os sinais de Wnt podem causar a proliferação celular, 
diferenciação, ou a manutenção de células precursoras (NOVAKOFSKI, 2004). 
A principal via de sinalização Wnt, uma via β-catenina-dependente, é chamada 
sinalização Wnt/β-catenina. A Wnt ativa proteínas denominadas Dishevelled (DSH). As 
DSH, quando ativadas, inibem um complexo de proteínas que inclui axina, glicogênio 
sintase quinase-3 β (GSK-3β), e complexo anáfase-promotor (APC), levando a um 
acúmulo de β-catenina (KATANAEV et al., 2005). Sem a estimulação Wnt, o 
complexo axina/GSK-3β/APC promove a degradação da β-catenina, assim, como 
resultado da inibição do complexo de destruição da β-catenina, um pool de β-catenina 
citoplasmática se forma, e parte da β-catenina entra no núcleo e interage com fatores de 
 
 
25 
 
transcrição para ativar genes-alvo específicos (HECHT & KEMLER, 2000). Portanto, a 
β-catenina desempenha um papel essencial na regulação do crescimento embrionário, 
pós-natal, e oncogênicos de muitos tecidos. No músculo esquelético, a β-catenina regula 
a expressão de fatores de transcrição Pax3. A expressão do MRF é controlada por sinais 
como Wnts e Sonic hedgehog (Shh) via Pax3 e Pax7 (KASSAR-DUCHOSSOY et al., 
2005). O bloqueio da via β-catenina reduz o número total de miócitos (YAMANOUCHI 
et al., 2007). 
As miofibras primárias formam-se durante o estágio inicial da miogênese no 
desenvolvimento embrionário. As miofibras secundárias formam-se durante a segunda 
onda de miogênese na fase fetal (Figura 7) e representam a maioria das fibras 
musculares esqueléticas. O crescimento muscular pós-natal é devido principalmente ao 
aumento no tamanho das fibras musculares sem formação de novas fibras. As células 
satélite estão localizadas entre a lâmina basal e o sarcolema das fibras musculares 
maduras, sua proliferação e fusão com as fibras musculares já existentes são cruciais 
para o crescimento muscular pós-natal. As células satélite são um grupo de células com 
diferentes graus miogênicos. Uma pequena porcentagem dessas células são 
multipotentes e podem se diferenciar em adipócitos e fibroblastos, em vez de células 
miogênicas (DU et al., 2010). 
 
 
Figura 7 – Efeitos da nutrição materna no desenvolvimento do músculo esquelético fetal 
bovino. As datas são estimadas baseadas principalmente em dados de estudos em ovinos, 
roedores e seres humanos, e representam a progressão através dos vários estágios de 
 
 
26 
 
desenvolvimento. A restrição de nutrientes durante o meio da gestação reduz o número de fibras 
musculares, enquanto a restrição durante o final da gestação reduz o tamanho das fibras 
musculares e a formação de adipócitos intramusculares (DU et al., 2010). 
 
3.1.4.2 – Efeitos da programação fetal sobre o desenvolvimento da musculatura 
esqueléticaem bovinos: 
O desenvolvimento muscular durante a fase fetal é vulnerável a muitas 
perturbações, incluindo a deficiência de nutrientes, visto que a maior parte da formação 
fibras musculares ocorre durante essa fase. A formação das miofibras secundárias 
coincide parcialmente com a formação de adipócitos e fibroblastos intramusculares. 
Juntos, esses três tipos de células, miócitos, adipócitos e fibroblastos, produzem a 
estrutura básica do músculo esquelético. A maioria dos miócitos, adipócitos e 
fibroblastos no músculo fetal são provenientes da mesma fonte de células-tronco 
mesenquimais no músculo fetal, assim, definir os mecanismos que regulam a 
diferenciação de células mesenquimais no músculo fetal é fundamental para a melhoria 
da eficiência da produção animal (DU et al., 2010). 
O músculo esquelético tem uma prioridade menor na partição de nutrientes 
durante o desenvolvimento fetal quando comparado aos órgãos, como cérebro, coração 
e fígado. Como resultado, o desenvolvimento do músculo esquelético é particularmente 
vulnerável a disponibilidade de nutrientes (ZHU et al., 2006). 
No feto bovino, as fibras musculares primárias se formam dentro dos primeiros 
2 meses pós-parto (RUSSELL & OTERUELO, 1981). No entanto, como apenas um 
número muito limitado de fibras musculares é formado durante este estágio, a nutrição 
materna tem um efeito pequeno no desenvolvimento fetal precoce do músculo 
esquelético. A maioria das fibras musculares formam-se na fase fetal entre 2 meses e 7 
ou 8 meses de gestação em bovinos (RUSSELL & OTERUELO, 1981) e a redução na 
formação de fibras musculares durante esta fase possui efeitos fisiológicos negativos 
irreversíveis para a prole (DU et al., 2010). A restrição de nutrientes para 50% das 
exigências do NRC a partir de 28 a 78 dias de gestação em ovinos reduz o número total 
de fibras musculares secundárias e reduz o peso dos fetos (Figura 8; ZHU et al., 2004). 
 
 
 
27 
 
 
Figura 8 – Proporção de miofibras secundárias em relação às primárias no músculo fetal ovino. 
O número de miofibras primárias e secundárias foi contado em 10 diferentes campos 
microscópicos de cada amostra, e as médias dos dados foram utilizados para análise estatística 
(n = 5 por grupo). Média e desvio-padrão estão relatados. * P<0,05. 
 
A deficiência de nutrientes entre o início e meados da gestação em ruminantes 
reduz o número de fibras musculares e a massa muscular, afetando negativamente o 
desempenho do crescimento da prole (DU et al., 2010). 
O músculo esquelético se torna maduro ao final da gestação em ovinos (105 dias 
de gestação) e bovinos (210 dias de gestação), e a restrição de nutrientes após esta fase 
não tem grande impacto no número de fibras musculares (DU et al., 2010). 
Ao se comparar o crescimento muscular fetal de ovelhas com gestação simples e 
gemelar, a competição entre a ninhada por nutrientes durante o final da gestação tem 
impactos na massa muscular esquelética fetal, mas apenas limita a hipertrofia da fibra 
muscular e não a hiperplasia (McCOARD et al., 2000). Um plano de baixa nutrição 
materna durante os últimos dois terços da gestação reduz o peso do bezerro recém-
nascido (Tabela 05; FREETLY et al., 2000), provavelmente como resultado da redução 
no tamanho das fibras musculares. 
 
 
 
28 
 
Tabela 05 – Peso (Kg) de bezerros nascidos de vacas submetidas ou não a restrição 
alimentar durante a gestação (Adaptado de FREETLY et al., 2000): 
 
H-H-H = Vacas sem restrição nutricional; L-H-H = Vacas com restrição nutricional durante o 
segundo trimestre de gestação com recuperação do peso durante o terceiro trimestre; L-L-H = 
Vacas com restrição nutricional a partir do segundo trimestre de gestação com recuperação do 
peso aos 28 dias de lactação. 
 
3.1.4.3 – Efeitos da programação fetal sobre o desenvolvimento do marmoreio: 
A gordura intramuscular, ou marmoreio, é importante para a palatabilidade da 
carne, visto que o marmoreio contribui para o sabor e suculência. A quantidade de 
gordura intramuscular é determinada pelo número e tamanho dos adipócitos 
intramusculares. Como discutido anteriormente, as células do músculo esquelético e os 
adipócitos são derivadas do mesmo agrupamento de células-tronco mesenquimais, 
durante a fase fetal. No entanto, uma pequena parte destas células no músculo 
esquelético fetal diferenciar-se-á em adipócitos para formar os locais para o acúmulo de 
gordura intramuscular que produzem o marmoreio na prole (TONG et al., 2009). 
A adipogênese é iniciada no meio da gestação em ruminantes 
(MUHLHAUSLER et al., 2007), que coincide com o período de miogênese secundária 
(Figura 04). Assim, o manejo nutricional materno, que aumenta o número de células 
mesenquimais comprometidas com a adipogênese irá aumentar o número de adipócitos 
intramusculares e, portanto, o marmoreio. Esta fase do desenvolvimento fetal também 
está associada à fibrogênese. Fibroblastos desenvolvidos durante esta fase sintetizam 
tecido conjuntivo que forma o endomísio, perimísio e epimísio no músculo esquelético 
fetal. 
A adipogênese é regulada por fatores de transcrição, incluindo CAAT/proteínas 
ligantes potenciadoras (C/EBP) e receptor γ PPARγ (peroxisome proliferator-activated 
γ). Durante a primeira fase da adipogênese, C/EBPα é ativada e se liga diretamente ao 
promotor do PPARγ para induzir a sua expressão. A expressão do PPARγ promove 
 
 
29 
 
ainda mais a expressão do C/EBPα, proporcionando feedback positivo regulatório. A 
diferenciação terminal de um adipócito necessita da ação combinada de PPARγ e 
C/EBPα. A ativação do PPARγ promove a diferenciação terminal dos adipócitos através 
da indução de um conjunto de genes importantes para a absorção e armazenamento de 
triglicérides, tais como a proteína de ligação de ácido graxo (aP2), acil-CoA sintetase, 
proteína transportadora de ácidos graxos 1, lipoproteína lipase e outros (DU et al., 
2010). 
A adipogênese também está sob o controle de sinalização Wnt. A atividade do 
PPARγ é regulada pela GSK3 e β-catenina (MOLDES et al., 2003). Se a atividade da 
GSK3 é atenuada, a β-catenina escapa da degradação, inibindo assim a expressão de 
genes-alvo PPARγ. A ativação da via de sinalização Wnt aumenta miogênese e inibe 
adipogênese em culturas de células-tronco mesenquimais derivadas da medula óssea 
(Figura 6; DU et al., 2010). Além disso, a sinalização Wnt pode ter um papel na 
regulação da distribuição da gordura corporal. Em resumo, a sinalização de Wnt é 
crucial tanto para a miogênese quanto para a adipogênese no músculo fetal (Figura 9). 
 
Figura 9 – Sinalização Wingless e Int (Wnt) no desenvolvimento fetal do músculo esquelético. 
Upregulation da sinalização Wnt promove a miogênese, enquanto a down-regulation promove a 
adipogênese (DU et al., 2010). 
 
 
30 
 
A sinalização Wnt aumenta durante o início e meados de gestação, quando 
miogênese ocorre em animais ruminantes, e é inibida no final da gestação, quando 
adipogênese está ativa. 
A nutrição materna possui impactos sobre a adipogênese dentro do músculo 
esquelético fetal. Os novilhos nascidos de vacas alimentadas com 70% da exigência de 
nutrientes, com suplementação de proteínas do dia 60 ao dia 180 de gestação, tiveram 
baixos escores de marmorização em comparação com novilhos cujas mães foram 
alimentadas com 100% das necessidades, a espessura de gordura subcutânea também foi 
menor (DU et al., 2010) 
 
3.1.4.4 – Programação fetal e precocidade sexual: 
Os dados disponíveis na literatura indicam que o efeito da nutrição no início da 
vida sobre a capacidade reprodutiva subsequente pode ser exercido sobre uma série de 
estágios de desenvolvimento. Algumas dasprimeiras indicações de um efeito da 
desnutrição sobre o feto foram obtidas a partir da observação de uma associação entre o 
ambiente de criação, e, portanto, estado nutricional e o desempenho da vida reprodutiva 
(RHIND et al., 2001). 
A restrição nutricional placentária pode prejudicar o desenvolvimento do eixo 
hipotálamo-hipófise-gonadal fetal e retardar o aparecimento da puberdade, indicando 
que os efeitos exercidos sobre o feto em desenvolvimento podem ser expressados tão 
tarde quanto o início da puberdade (DA SILVA et al., 1998; DA SILVA et al., 2001; 
Figura 10). 
Gallaher et al. (1998) mostraram que os efeitos exercidos durante um período de 
desenvolvimento podem colidir com respostas aos fatores ambientais durante um 
período posterior. Esses autores observaram que a desnutrição materna de ovelhas de 60 
dias antes da concepção até 30 dias após a concepção não teve efeito durante o final da 
gestação sobre as concentrações do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF) ou 
suas proteínas de ligação (IGFBPs). No entanto, quando uma segunda janela de 
desnutrição foi aplicada durante o terceiro trimestre de gestação, houve uma redução 
significativa no plasma fetal de IGFBP-3 e IGF-I em fetos que foram desnutridos no 
momento anterior. Estes resultados indicam que os efeitos observados de programação 
não podem ser atribuídos a efeitos exercidos em apenas uma etapa da gestação, mas 
pode representar uma resposta às múltiplas influências que interagem. 
 
 
31 
 
 
 
 
Figura 10 – Pesos vivos semanais da semana 12 a 43 de idade para o crescimento de cordeiros 
do sexo feminino (a) e do sexo masculino (b) com restrição (círculos pretos) e normalmente 
desenvolvidos (círculos brancos). Feminino: n = 14; masculino: n = 7 até a semana 25 e n = 5 
depois). Setas indicam o tempo médio de início da puberdade (DA SILVA et al., 2001). 
 
Uma observação mais detalhada da ontogenia de mamíferos, usando a espécie 
ovina como exemplo, revela uma série de estágios de desenvolvimento potencialmente 
significativos (RHIND et al., 2001; Figura 11). 
 
 
Figura 11 – Ontogenia das gônadas de fetos ovinos (RHIND et al., 2001). 
 
Em fetos de ambos os sexos, o desenvolvimento do eixo hipotálamo-hipófise e a 
síntese de gonadotrofinas são potencialmente sensíveis a influências nutricionais. No 
feto de ovelha, os sistemas neuronais de GnRH desenvolvem-se entre os dias 35 e 85 da 
gestação, momento em que eles são muito semelhantes aos sistemas de GnRH neuronal 
de adultos (CALDANI et al., 1995). 
A subnutrição fetal mostrou afetar negativamente a maturação do crescimento 
axonal e neurocircuitos (MORGANE et al., 1993), mas atualmente não há informações 
 
 
32 
 
sobre os efeitos da desnutrição sobre o sistema neuronal de GnRH (RHIND et al., 
2001). 
Brooks & Thomas (1995) demonstraram o papel essencial da secreção pulsátil 
de LH pela hipófise fetal para o desenvolvimento normal dos testículos. O bloqueio dos 
pulsos de GnRH e LH com buserelina resultou em uma redução significativa nas 
concentrações de FSH da hipófise, uma redução de 40% da massa do testículo ao 
nascimento e uma redução semelhante no número de células de Sertoli (Figura 12). A 
redução da massa testicular foi associada com a produção de testosterona reduzida após 
a puberdade, indicando que a função reprodutiva pode ter sido permanentemente 
comprometida com o tratamento durante a gestação. 
 
 
Figura 12 – concentração média (±SE) de FSH da hipófise (ng mg-1 proteína), massa testicular 
(mg kg
-1
 de peso corporal) no momento do nascimento e número de células de Sertoli por 
testículo em cordeiros tratados com o agonista de GnRH, buserelina, a partir do dia 70 de 
gestação até o nascimento (barra escura) e em cordeiros controle (barra clara). ** P <0,01; *** 
P <0,001. (BROOKS & THOMAS, 1995). 
 
3.1.5 – Programação Fetal e Produção de Bovinos: 
Devido à sazonalidade do manejo reprodutivo da vaca de corte na maioria dos 
sistemas produtivos, vacas em sistema de produção a pasto frequentemente passam por 
deficiência de nutrientes durante a gestação, devido à disponibilidade limitada de 
 
 
33 
 
forragem, baixa qualidade da forragem, e porque a suplementação nutricional é 
raramente empregada, durante o início e meados da gestação (JENSEN et al., 2002). 
Em contraste, a suplementação nutricional das vacas é frequentemente aplicada ao final 
da gestação (60-90 dias antes do parto). 
A limitada disponibilidade de forragem e/ou seu baixo teor de proteínas afetam 
a eficiência global da produção de ruminantes. Como discutido anteriormente, os 
períodos de deficiência de nutrientes, durante o desenvolvimento do músculo 
esquelético na vida fetal, reduzem potencialmente o número de fibras musculares e de 
gordura de marmoreio. A suplementação de nutrientes em vacas de corte durante o 
início e meados da gestação tem o potencial de melhorar o desenvolvimento muscular e 
a eficiência global de produção. A suplementação de proteína durante os dias 60 a 180 
de gestação levou a um maior crescimento de carne magra nos bezerros (DU et al., 
2010). 
Uma abordagem para aumentar a adipogênese no músculo fetal é melhorar a 
condição da pastagem. Underwood et al. (2008) desenvolveram um estudo em que 
vacas foram mantidas em pastagens melhoradas (8,9% PB) e em pastagens nativas 
(6,7% PB) durante a gestação. O teor de gordura do músculo longissimus dorsi na 12ª 
costela foi maior em novilhos nascidos de vacas mantidas em pastagem melhorada em 
relação aos os novilhos nascidos de vacas mantidas em pastagem nativa (Tabela 06). 
Embora esses resultados precisem ser confirmados e ampliados, eles indicam que a 
adipogênese intramuscular e a formação de marmoreio podem ser aumentadas através 
do plano de nutrição durante a gestação, por meio da melhoria da condição da pastagem. 
 
Tabela 06 – Crescimento e características de carcaça de novilhos nascidos de vacas 
pastando em área natural (n = 7) ou em pastagem melhorada (n = 8), durante 
o meio e final da gestação (UNDERWOOD et al., 2008): 
 
 
 
34 
 
 
O manejo nutricional para melhorar o marmoreio em bovinos de corte será mais 
eficaz nos estágios iniciais de desenvolvimento, devido à presença de uma quantidade 
abundante de células pluripotentes no músculo esquelético, que tende a desaparecer nos 
animais adultos (DU et al., 2010). Portanto, a eficácia do manejo nutricional na 
alteração do marmoreio é a seguinte: fase fetal > fase neonatal > fase de desmame 
precoce (150-250 dias de idade) > desmama e fases mais avançadas (DU et al., 2010; 
Figura 13). Após 250 dias de idade, a suplementação nutricional torna-se menos eficaz 
em aumentar o número de adipócitos por via intramuscular, devido à depleção de 
células pluripotentes, embora o tamanho de adipócitos intramusculares existentes possa 
ser aumentado e é a principal razão para o aumento no grau de marmoreio durante a 
engorda. 
 
 
Figura 13 – Densidade de células multipotentes e potência adipogênica do músculo esquelético 
de bovinos. As datas são aproximados e representam a progressão através dos vários estágios de 
desenvolvimento. Adipogenia é iniciado em meados da gestação em ruminantes e picos perto do 
prazo. A potência adipogênica declina gradualmente após o parto devido à depleção de células 
multipotentes (DU et al., 2010). 
 
A janela de marmorização, ou o período de tempo em que o manejo nutricional 
do gado pode melhorar o marmoreio, está entre 150 e 250 dias após o nascimento, o que 
corresponde à fase de desmame precoce. Há estudos indicando que o desmame precoce 
e alimentação com grãos, especialmente a dieta à base de milho, aumenta o marmoreio(DU et al., 2010). A suplementação nutricional de bezerros antes dos 150 dias de idade 
é mais difícil devido ao fato de que os bezerros consomem grandes quantidades de leite 
durante este tempo. Por outro lado, o estágio de desenvolvimento fetal fornece uma 
única e, talvez, a melhor janela para o manejo nutricional. Isto é devido a pelo menos 
 
 
35 
 
três vantagens: 1) um pool abundante de células pluripotentes existe no músculo fetal; 
2) os nutrientes fetais são provenientes da circulação materna, permitindo que o 
aumento de nutrientes na alimentação materna seja efetivamente transferido para o feto 
e, assim, promova a adipogênese no músculo fetal; 3) esta fase é uma fase muito 
conveniente para os produtores de vitela gerirem nutricionalmente as suas vacas (DU et 
al., 2010). 
 
3.2 – Suplementação da Vaca Prenhe: 
O intervalo do parto à manifestação do primeiro cio fértil, denominado de 
anestro pós-parto, é o componente mais importante na determinação da eficiência 
reprodutiva e econômica do rebanho de cria. Diversos fatores podem contribuir para 
prolongar esse período de anestro, no entanto, a nutrição adequada no pré-parto é citada 
como o fator de maior importância. Consequentemente, para a otimização do 
desempenho reprodutivo do rebanho, o produtor deve propiciar condições adequadas 
para as vacas prenhes, de modo que estas possam apresentar boas condições corporais 
ao parto e menor período de anestro. Durante o terço final de gestação, os requerimentos 
nutricionais das vacas se elevam a partir do 7
o
 mês, atingindo um máximo no 9
o
 mês, 
quando o feto tem o seu maior desenvolvimento. Em vacas de primeira cria, os 
requerimentos nutricionais são ainda maiores, pois estas ainda estão em crescimento 
(VALLE, 1998). 
A primeira medida a ser tomada é a de assegurar uma reserva de pastagem para 
a seca. Portanto, o manejo adequado das pastagens durante as águas é que vai 
determinar as sobras necessárias para esse período. Outra prática importante é o 
descarte das vacas vazias ao início da seca, para aumentar a disponibilidade de 
forrageiras para as prenhes. Além disso, é conveniente separar as vacas e as novilhas 
prenhes (pasto-maternidade) das demais categorias para evitar danos que possam 
provocar abortos. Isso possibilita também garantir o suprimento de nutrientes 
necessários, registrar a ocorrência de abortos e outras anormalidades e prestar 
assistência ao parto, quando necessária (VALLE, 1998). 
Além dessas medidas, em determinadas circunstâncias, a suplementação 
protéica pode ser necessária para garantir o desempenho reprodutivo no pós-parto. 
Quando o teor de proteína bruta na matéria seca é inferior a 7%, o que ocorre 
principalmente durante a seca, o consumo de forragens é restringido. O resultado é que, 
 
 
36 
 
para atender as demandas nutricionais nessa fase reprodutiva, o animal mobiliza as 
próprias reservas corporais, acentuando a perda de peso corporal, como consequência o 
restabelecimento da atividade reprodutiva é retardado até que essas necessidades sejam 
satisfeitas. Convém salientar que, durante o terço final de gestação, a demanda 
nutricional necessária ao desenvolvimento do feto, em termos de proteína bruta, 
praticamente triplica entre o sétimo e o nono mês de gestação (de 66 para 188 
gramas/dia). Portanto, nessa fase da vida reprodutiva do animal, a suplementação 
protéica tem como objetivo principal suprir a deficiência de proteína necessária ao 
desenvolvimento do feto e ao restabelecimento da atividade ovariana no pós-parto 
(VALLE, 1998). 
O escore de condição corporal nos períodos pré e pós-parto e a idade da vaca 
influencia mais o escore de reprodução, ou seja, o número de parições durante os anos, 
do que a estratégia de suplementação (SANTOS et al., 2009). Estudo realizado por 
Santos et al. (2002) comprovou que as vacas de cria mantidas em pastagem nativa no 
Pantanal apresentaram melhor desempenho quando a dieta continha cerca de 10% de 
proteína bruta e digestibilidade in vitro acima de 60%. As forrageiras com esta 
qualidade e em quantidades apropriadas foram suficientes para manter as vacas em 
condição corporal adequada (acima de 5,0) no período pré-parto. 
 
Tabela 07 - Análise da variância do escore de reprodução1 de vacas de cria nos quatro 
anos pecuários, de 2001 a 2005, na sub-região da Nhecolândia, Pantanal 
(SANTOS et al., 2009) 
 
 
 
 
 
 
37 
 
4 – Manejo do par vaca/bezerro após o parto: 
 
À medida que o bezerro cresce sua dependência do leite materno vai 
diminuindo, aumenta a sua capacidade de pastar e, consequentemente, a partir de 
aproximadamente três meses de idade mais da metade da energia necessária ao bezerro 
de corte provém de outras fontes alimentares que não o leite da mãe. Uma vez que 
animais jovens são altamente seletivos, devem-se estabelecer alternativas de alta 
qualidade nutricional visando à complementação da dieta dos bezerros na bovinocultura 
de curta duração, dentre elas destacam-se o creep feeding e o creep grazing. Estas ações 
possibilitam elevar o ganho de peso potencial de cerca de 800 gramas/animal/dia obtido 
com leite materno e pasto, para mais de 1 kg/animal/dia, limite necessário para uma 
bovinocultura que presume desmame com pesos superiores a 200 kg de peso 
(PAULINO et al., 2006). 
Uma das principais ações para disciplinar o sistema de produção é o 
estabelecimento de uma estação de monta fixa e constante. As pastagens, durante a 
época seca, falhariam em suportar os requerimentos de lactação das vacas, mas podem 
adequadamente satisfazer os requerimentos de vacas secas, prenhez, com uso 
estratégico de suplementos múltiplos para recuperação de escore corporal, de baixo 
consumo, no terço final da gestação (PAULINO et al., 2002). 
 
4.1 – Creep Feeding 
Em sistemas intensivos de produção de bovinos, nos quais o peso a desmama 
dos bezerros (as) tem importância primordial, visualiza-se a suplementação dos bezerros 
em amamentação. Sob a perspectiva do uso de estação de monta, com consequente 
disciplinação dos nascimentos, esta fase coincide com o período das águas. 
O creep feeding consiste em fornecimento de alimentos suplementares aos 
bezerros criados ao pé das matrizes, sem que estas tenham acesso ao suplemento. A 
suplementação dos bezerros no creep feeding tem por finalidade não reduzir o ímpeto 
de crescimento dos bezerros, o que normalmente ocorre após os dois meses de idade 
pela queda na produção de leite da mãe. 
O fornecimento de ração deve ser ad libitum, para ganhos da ordem de 1,0 
kg/animal/dia; o consumo, dos 2 aos 7 meses de idade, deve ser de até 1,0 kg de 
concentrado/cabeça/dia, resultando em uma conversão alimentar média de 2 kg de 
 
 
38 
 
alimento/kg de ganho, considerando o leite e forragem consumidos. Normalmente a 
ração concentrada apresenta 17 a 18% de proteína bruta e 75% a 80% de nutrientes 
digestíveis totais. 
O creep feeding pré-condiciona o animal ao tipo de alimentação que ele vai 
receber na terminação o que beneficia o desempenho do animal. Em relação à produção 
de novilho precoce/superprecoce para o abate, uma vantagem expressiva do creep 
feeding é o ajustamento para o período de recria e terminação que pode ser reduzido, 
uma vez que o peso a desmama atinge 240 kg ou mais (PAULINO et al., 2001). 
 
Tabela 08 – Efeito da suplementação do lactente sobre a idade, o peso de abate e 
características de carcaça (SANCEVERO, 2000): 
 
 
Segundo Silveira et al. (2001) para a formulação da ração de creep feeding 
recomenda-se a utilização de concentrado preparado pela Nutrumin Nutrição Animal 
(25 kg) que deverá ser misturado com milho quebrado (75 kg) ou outro

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