Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO CIVIL V Teoria Geral dos Contratos Profa. Teresa Mazzotini 4º semestre PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO CONTRATUAL 2 Profa. Teresa Mazzotini 3 1. Função Social do Contrato Art. 421, CC Princípio social pautado na dignidade da pessoa e no valor social da livre iniciativa; Objetiva-se a proteger os efeitos externos do contrato, que podem repercutir na esfera de terceiros; Prevalência dos valores coletivos sobre os interesses dos contraentes, controlando as eventuais desigualdades havidas entre a partes dentro de um contrato; É princípio de ordem pública; É cláusula geral imposta por lei, devendo ser aplicada a todos os contratos em geral. Profa. Teresa Mazzotini 4 2. Autonomia da Vontade Trata-se da liberdade de escolha das partes, de querem contratar ou não; inclusive de escolherem quem será o outro contratante; As partes escolhem as obrigações , conteúdo e efeitos contratuais; Se os contratos serão típicos ou atípicos. Profa. Teresa Mazzotini 5 3. “Pacta sunt servanda” Regra: força obrigatória dos contratos Exceção: flexibilização - cláusula “rebus sic stantibus” Profa. Teresa Mazzotini 6 4. Relatividade dos Contratos Contrato só atinge àqueles que dele participaram e ao objeto pactuado Efeitos internos (regra geral) Eventualmente podem atingir a terceiras pessoas.Ex. estipulação em favor de terceiros (art. 436 a 438); convenções coletivas de trabalho Efeitos externos (exceção) Profa. Teresa Mazzotini 7 5. Boa fé contratual (art. 422) Dever de as partes agirem de forma correta, ética, antes, durante e depois do contrato; Para fins e apuração da boa fé leva-se em conta as condições em que o contrato foi firmado, nível sócio cultural dos contratantes, momento histórico e econômico; Tem cunho interpretativo; Divisão: Boa fé subjetiva: incutida no sujeito, que crê que sua conduta é correta. Boa fé objetiva: incutida nos aspectos sociais; regras de conduta – padrão social Profa. Teresa Mazzotini INTERPRETAÇAO DOS CONTRATOS 8 Não só a lei deve ser interpretada mas também os negócios jurídicos em geral. Profa. Teresa Mazzotini 9 1. Interpretação Contratual Busca-se, por meio da interpretação, identificar e fixar o verdadeiro SENTIDO e ALCANCE de uma manifestação de vontade. Numa relação jurídica contratual encontramos duas ou mais vontades manifestadas, de modo que devemos buscar o sentido que as partes procuraram para gerar os efeitos determinados e por elas pretendidos. Elementos que integram a manifestação de vontade: Externo – declaração contratual (define a extensão da complexidade da interpretação contratual). Trata-se da vontade declarada. Interno – representa o que foi pensado, raciocinado e pretendido pelos contratantes. Trata-se da vontade real. O ideal é que o elemento externo coincida com o interno: o que foi desejado pelas partes foi efetivamente manifestado. Profa. Teresa Mazzotini 10 1. Interpretação Contratual E se a linguagem contratual não for exata? Ex.: Partes escolhem índice de reajuste contratual que vem a ser extinto. Solução: primeiro interpreta-se o elemento externo para, então, se chegar ao elemento interno (psiquismo dos contratantes). Leva-se em conta, nesta atividade interpretativa, o princípio da boa-fé objetiva (art. 113, CC), os usos e costumes do local e a função social do contrato. Devem ser utilizadas as regras gerais de interpretação literal, sociológica, sistemática, histórica, entre outras. Não havendo entendimento entre as partes = recorre-se ao juiz, que poderá se utilizar dos métodos de integração do direito (lei, analogia, costumes, PGD ou equidade). Profa. Teresa Mazzotini 11 2. Princípios Básicos da Interpretação Princípio da boa-fé: art. 113, CC Princípio da conservação ou aproveitamento do contrato: se uma determinada cláusula contratual permitir duas interpretações distintas, prevalecerá o entendimento que trouxer algum efeito para o contrato. III Jornada de Direito Civil, promovida pelo CJF – Enunciado 176: Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual. Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Profa. Teresa Mazzotini 12 3. Interpretação e o CC/02 Art. 112: Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciadas do que o sentido literal da linguagem. O intérprete NÃO DEVE FICAR PRESO SOMENTE À LETRA FRIA DAS PALAVRAS, pois elas podem não se amoldar ao pensamento pretendido; podem das margem a entendimentos dúbios e falta de compreensão. Ex.: Ação de consignação em pagamento. Seguro de vida em grupo. Morte do segurado. Valor indenizatório. Dúvida sobre o beneficiário. Esposa apontada como beneficiária. Separação Judicial ocorrida após a contratação. Indenização a ser paga às filhas do segurado. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas contida do que no sentido literal da linguagem (TJSC – Acórdão Apelação Cível 2010.069338-7). Profa. Teresa Mazzotini 13 3. Interpretação e o CC/02 Art. 113: Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. O intérprete deve presumir que os contratantes procedem com LEALDADE, de modo que o contrato foi celebrado com a maior razoabilidade possível. Ex.: Ação de Cobrança. Fornecimento de combustível. Notas fiscais firmadas pelos motoristas do réu. Validade. Usos e costumes locais. Inteligência do art. 113 do CC. Restando clara a boa-fé das partes e o costume de fornecer combustível e assinar vale para depois efetuar o pagamento, considera-se válido o negócio jurídico, porque interpretado conforme o art. 113 do CC. (TJSC – Acórdão Apelação Cível 2009.038510-1). Profa. Teresa Mazzotini 14 3. Interpretação e o CC/02 Art. 114: Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam- se estritamente. O intérprete deve levar em consideração que benéficos ou gratuitos são os que envolvem uma LIBERALIDADE (um dos contratantes se obriga e o outro aufere um benefício) e que a RENÚNCIA DE DIREITOS deve ser interpretada estritamente. Ex.: Ação de Cobrança. Fornecimento de combustível. Notas fiscais firmadas pelos motoristas do réu. Validade. Usos e costumes locais. Inteligência do art. 113 do CC. Restando clara a boa-fé das partes e o costume de fornecer combustível e assinar vale para depois efetuar o pagamento, considera-se válido o negócio jurídico, porque interpretado conforme o art. 113 do CC. (TJSC – Acórdão Apelação Cível 2009.038510-1). Profa. Teresa Mazzotini 15 3. Interpretação e o CC/02 Art. 423:Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. O intérprete deve levar em consideração que, nos contratos de adesão, o ADERENTE É TRATADO COMO SENDO O HIPOSSUFICIENTE DA RELAÇÃO JURÍDICA CONTRATUAL. O redator da cláusula contratual deve ser sempre claro, pois se não for, a ambiguidade opera contra ele. Vide arts.47 e 54, pars. 3º e 4º do CDC Ex.: Cláusula que prevê a indenização por danos morais e pessoais e em outro momento o contrato declara que não se indenizarão pelos danos morais; uso de siglas no contrato de adesão. Profa. Teresa Mazzotini 16 3. Interpretação e o CC/02 Art. 819: A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva. O intérprete deve levar em conta que a fiança NÃO ADMITE INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA, ou seja, não se admite alargamento interpretativo não presente no negócio jurídico. Assim, não pode o fiador ser obrigado a garantir obrigações adicionadas a contrato originário, se não tiver a sua anuência. Ex.: TRF-3 - AGRAVO DE INSTRUMENTO AI 41782 SP 2009.03.00.041782-9 (TRF-3) Data de publicação: 14/03/2011 - Ementa: PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROGRAMA DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL. FIADOR. INTEGRALIDADE DO CONTRATO. ADITAMENTO. ANUÊNCIA. RESPONSABILIDADE. 1. O artigo 819 do Código Civil (Lei nº 10.406 , de 10 de janeiro de 2002) estabelece que: "A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva". Daí decorre que a responsabilidade do fiador se restringe aos termos do pactuado no contrato. 4. A fiança é prestada relativamente à integralidade do contrato, o qual, apesar de exigir aditamentos a cada semestre, não constitui contrato por prazo indeterminado. 5. Exonerar a fiadora da responsabilidade que assumiu deixaria o credor desprovido da garantia exigida pela própria Lei nº 10.260 /01. 6. Agravo de instrumento provido. Profa. Teresa Mazzotini 17 3. Interpretação e o CC/02 Art. 843: A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos. O intérprete deve levar em conta que, por se tratar a transação uma concessão mútua em que importa sempre uma renúncia de algum direito, uma vez renunciado o direito descabe qualquer interpretação ampliativa. Profa. Teresa Mazzotini 18 3. Interpretação e o CC/02 Art. 1.899: Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador. O intérprete deve buscar atingir a vontade real do testador. Este artigo transplanta para o direito testamentário a regra contida no art. 112, CC (intenção da vontade manifestada) Ex.: Se o autor da herança era viúvo, não tinha herdeiros necessários e dispôs da totalidade dos seus bens em testamento, ressalvando, inclusive a hipótese de estar viúvo na data da abertura da sucessão, não havia razão para que fosse reduzida a participação patrimonial dos legatários pela metade, devendo ser cumprida a vontade do testador. Assim, ele deixava a sua parte para os legatários e, se sua esposa morresse antes, ele, por igual mantinha a disposição testamentária. Profa. Teresa Mazzotini 19 4. Interpretação e o CDC Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. Trata-se de norma que contempla regra de interpretação e as garantias do prévio conhecimento e entendimento do conteúdo do contrato. Profa. Teresa Mazzotini 20 4. Interpretação e o CDC Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. § 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor. § 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. Vide comentários – slide 09 Profa. Teresa Mazzotini 21 5. Regras Interpretativas – Dicas! A melhor maneira de apurar a intenção dos contratantes é verificar o modo pelo qual vinham executando o contrato, de comum acordo; Deve-se interpretar o contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa para o devedor; As cláusulas contratuais devem ser interpretadas de forma sistemática, ou seja, em conjunto com as demais – evitar a interpretação isolada; Qualquer obscuridade é atribuída a quem redigiu a estipulação, pois, o redator pode ter perdido a oportunidade de ter sido claro; A cláusula suscetível de dois sentidos, interpretar-se-á em atenção ao que pode ser exequível. Fonte: Carlos Roberto Gonçalves. Profa. Teresa Mazzotini 22 6. Pactos Sucessórios Art. 426: Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Trata-se do chamado Pacta Corvina – sucessão contratual, vedado em nosso ordenamento jurídico, uma vez que ninguém pode dispor sobre herança de pessoa viva.. A legislação brasileira prevê dois tipos de sucessão: a legítima e a testamentária. Exceção – art. 2.018, CC – podem os pais, por ato entre vivos, partilhar o seu patrimônio entre os descendentes (antecipação de herança). A razão da proibição dos pactos sucessórios é o fato de ser imoral vincular um ato jurídico à morte de alguém. Poderia produzir no beneficiário um interesse na morte do outro contratante. Profa. Teresa Mazzotini
Compartilhar