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Gestao da Cadeia de Suprimentos Logistica Humanitaria

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LOGÍSTICA HUMANITÁRIA: Conceitos, caraterísticas e práticas 
 
INTRODUÇÃO 
Uma porção significativa da população mundial tem sofrido nos últimos anos com o 
resultado de desastres naturais e artificiais. A resposta humanitária aos diferentes 
desastres, tais como, tsunamis, terremotos, furacões e a propagação da AIDS na África 
não têm conseguido ser eficaz nem eficiente. As razões são muitas, mas são em parte 
decorrentes da dimensão e do alcance de tais desastres. Uma resposta eficaz e eficiente 
humanitária depende da capacidade da logística para adquirir, transportar e receber o 
material no local de um esforço de ajuda humanitária. 
De acordo com o Centro de Investigação sobre a Epidemiologia dos Desastres 
(CRED/ONU), na última década somente o continente americano sofreu 922 desastres 
naturais, matando mais de 247 mil pessoas, afetando outros 82 milhões e causando pelo 
menos U$ 487 bilhões de dólares em prejuízos econômicos. 
 
Ainda segundo dados divulgados pela ONU, o Brasil, na última década foi atingido, em 
média, por seis desastres naturais por ano: seis secas atingiram dois milhões de pessoas; 
37 enchentes deixaram 4,5 milhões de vítimas, sendo 1,2 mil fatais; cinco deslizamentos 
mataram 162 pessoas; cinco tempestades atingiram 15,7 mil pessoas, sendo 26 fatais; 
epidemias afetaram 606 brasileiros e mataram 203; um terremoto afetou 286 pessoas; e 
três incidentes de temperaturas extremas mataram 39 pessoas. Ainda, o Relatório de 
Clima do INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE) destaca que 
eventos extremos de precipitação podem se tornar mais frequentes, gerando enchentes e 
alagamentos mais severos no país. Esses constantes desastres chamam a atenção para a 
necessidade de se estruturar procedimentos que tornem mais eficientes as ações de 
atendimento à região atingida. Como principal foco desse processo está à assistência à 
população diretamente atingida pelo desastre e, em paralelo, uma imediata implantação 
de medidas para reduzir a extensão dos impactos no contexto geográfico. 
 
 
Dessa forma, a assistência à população envolve a arrecadação e distribuição de itens 
básicos, como, alimentos, roupas, abrigos, além de equipamentos para implantação de 
acampamentos visando o desenvolvimento de atividades básicas e atendimento médico. 
Para tal é necessário a obtenção de recursos que possibilitem a aquisição desses itens. A 
maioria desses recursos é canalizada pelas Nações Unidas (ONU) ou por organizações 
não-governamentais (ONG), que recebem 90% dos recursos destinados à ajuda 
humanitária. O processo de arrecadação e distribuição desses itens tem a 
característica de uma cadeia de suprimentos, ou seja, deve ser tratado com 
enfoque logístico. A logística é um aspecto crítico para o sucesso de uma operação 
humanitária, posto que 90% dos esforços de uma operação de mitigação a desastres se 
destinam a atividades logísticas. A logística de atendimento à população impactada 
na região do desastre vem sendo chamada de Logística Humanitária (LH). 
 
I. GESTÃO DE DESASTRES 
 
Com o aumento populacional e a instabilidade socioambiental, tem aumentado a 
presença e a divulgação de fenômenos naturais nas últimas décadas, fazendo com que o 
gerenciamento de desastres atraia a atenção e relevância mundial. Desastre é o resultado 
de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema 
vulnerável, causando danos humanos, materiais e ambientais e consequentes prejuízos 
econômicos e sociais. Já a gestão de desastres pode ser definida como o conjunto de 
atividades destinadas a manter o controle sobre as situações de desastre e 
emergência e fornecer uma estrutura para ajudar pessoas em risco, para evitar ou 
recuperar os efeitos do evento danoso. Essa gestão trata de situações que ocorrem 
antes, durante e depois do desastre. Seus objetivos são: evitar ou reduzir as perdas 
humanas, físicas e econômicas sofridas pelas pessoas, pela sociedade e pelo país em 
geral; reduzir o sofrimento dos indivíduos; acelerar a recuperação da área afetada. 
Em termos gerais a gestão de desastres pode ser definido como o conjunto de 
atividades destinadas ao gerenciamento de situações de emergência e desastre, 
visando estruturar o auxílio a pessoas em situação de risco ou mesmo evitar ou 
recuperar os danos causados pelo desastre. 
 
I.1 MODELO PARA GESTÃO DE DESASTRES 
 
 
“Modelo das Três Fases” para Gestão de Desastres 
 
1) Preparação - abrange atividades de planejamento que antecedem a ocorrência do 
evento e objetivam melhorar a capacidade de resposta operacional durante uma 
emergência, visando à prevenção do desastre; 
2) Resposta – refere-se ao evento em progresso, a qual abrange a coordenação dos 
recursos disponíveis de forma imediata antes, durante ou após a emergência, visando 
reduzir perdas materiais e humanas; 
3) Recuperação – caracteriza-se pelo restabelecimento dos sistemas afetados e o 
retorno às atividades no nível anterior ao desastre, se possível com melhorias. 
 
Cabe destacar que o desempenho de qualquer resposta ao desastre depende do nível 
de preparação, ou seja, da fase de pré-desastre. Segundo um modelo de simulação 
criado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), as pequenas despesas 
relativas à preparação para as catástrofes diminui significativamente o tempo e o 
custo da logística de resposta. 
 
Uma vez que uma melhor prevenção e mitigação1 dos desastres podem e devem fazer 
parte da etapa de reconstrução e desenvolvimento, o Modelo das Três Fases pode ser 
convertido em um ciclo contínuo de gestão de desastres, conforme segue: 
 
 
Ciclo Contínuo de Gestão de Desastres 
 
I.2 IMPORTÂNCIA DA COORDENAÇÃO DAS RELAÇOES ENTRE OS 
STAKEHOLDERS 
 
Considerando-se que um mesmo desastre pode atingir diferentes localidades ao mesmo 
tempo, faz-se necessária a coordenação entre os Stakeholders no gerenciamento do 
referido desastre. Além disso, como pode ocorrer um mesmo desastre mais de uma vez 
em local já atingido, ou também desastres em áreas ainda não atingidas, o 
gerenciamento de desastres, trata-se de um planejamento constante no longo prazo. 
 
1 Cabe aqui destacar que alguns autores, expõem mais uma fase ao modelo das três fases, a qual se trata 
da Mitigação, que se refere à adoção de medidas com o propósito de reduzir ou eliminar a vulnerabilidade 
ao perigo de longo prazo, prevenir futuros desastres. 
 
 
 
Relações entre os stakeholders na gestão de desastres 
 
As possíveis relações entre os Stakeholders ilustradas na configuração da cadeia 
logística humanitária são descritas a seguir: 
1. Regulamentação e Políticas Públicas (transporte, energia, assistência à saúde, entre 
outros). 
2. Gestão de recursos físicos, financeiros e assistenciais. 
3. Alocação de recursos físicos. 
4. Expectativa da Comunidade / Continuidade de Operação de Infraestrutura Crítica 
(sob a ótica do poder público). 
5. Expectativa da Comunidade / Continuidade de Operação de Infraestrutura Crítica 
(sob a ótica da iniciativa privada), e, 
6. Recursos físicos e financeiros sob embargo público. 
 
II. CONCEITO DE LOGÍSTICA HUMANITÁRIA 
 
Em termos de conceito, a LH pode ser entendida como o processo de planejamento, 
implantação e controle do fluxo eficiente e eficaz de bens e serviços do ponto de origem 
ao ponto de consumo, a fim de aliviar o sofrimento de pessoas vulneráveis. Dessa 
forma, LH engloba, além de planejamento, suprimento, transporte, armazenamento, 
rastreamento, monitoramento e desembaraço alfandegário em resposta a catástrofes. De 
modo geral, a LH propõe o uso efetivo dos conceitos logísticos adaptados às 
especificidades da cadeia de assistência humanitária. Esses conceitos podem ser o 
grande diferencial no sentido de maximizar a eficiência e o tempo de resposta à situação 
deemergência. 
 
 
 
Fluxos logísticos dentro da cadeia humanitária 
 
Para a Cruz Vermelha, a LH trata dos processos e sistemas envolvidos na mobilização 
de pessoas, recursos e conhecimento para ajudar comunidades vulneráveis, afetadas por 
desastres naturais ou emergências complexas. Nesse sentido, a mesma busca à pronta 
resposta, visando atender o maior número de pessoas, evitar falta e desperdício, 
organizar as diversas doações que são recebidas nestes casos e, principalmente, atuar 
dentro de um orçamento limitado. 
 
II.1 DIFERENÇAS ENTRE LOGÍSTICA EMPRESARIAL E HUMANITÁRIA 
 
 
 
II.2 OS PILARES DA LH 
 
Alguns autores definem alguns pilares que devem ser levados em consideração para que 
a LH possa gerar resultados efetivos: Recursos Humanos, Administração de 
Conhecimento, Logística, Recursos Financeiros e a Comunidade. O ideal é que esses 
pilares estejam interconectados. 
 
 
 
a) Recursos Humanos: Os recursos humanos devem ser compostos de pessoas bem 
selecionadas e adequadamente treinadas. Uma questão frequente para as 
organizações humanitárias é a limitação de funcionários treinados e/ou especialistas 
para atuação em situações emergenciais. Outra questão está ligada à elevada troca de 
funcionários com uma forte dependência de voluntários. Em geral, os incentivos para 
profissionalização são pequenos e assim muito do trabalho é baseado na devoção e 
motivação. 
b) Administração de Conhecimento: Captar e transferir o conhecimento em relação 
às operações logísticas é uma questão crítica para a maioria das organizações que 
sofrem com a alta troca de funcionários. O processo de conhecimento deve ser 
conduzido de forma a permitir que as pessoas possam usar e compartilhar experiências 
de outros eventos. Essa ideia pode estar alinhada com o desenvolvimento de um nível 
mínimo de competência em cada especialidade. Ex.: higiene da água, telecomunicações, 
estoques, etc. 
c) Logística: Requer uma mudança na estrutura organizacional com novas divisões; uma 
nova estratégia (itens padronizados, sistemas de controle de mercadorias, administração 
de inventario, etc.); e funções de maneira a permitir a realização de todo o percurso 
desde a preparação até a administração do desastre. 
d) Recursos Financeiros: Na questão dos recursos financeiros um dos elementos 
fundamentais é a habilidade de arrecadar fundos durante o desastre e 
principalmente para o pós-desastre. Aqui o desafio é ampliar a base de doações e 
garantir a neutralidade da organização sem comprometimentos políticos. 
Internamente, essa área também lida com as obrigações organizacionais. 
e) Comunidade: A Administração pública e todas as organizações envolvidas na 
administração humanitária devem encontrar maneiras efetivas de formar parcerias e 
usar o conhecimento e competência da comunidade. 
 
 
 
II.3 CARACTERÍSTICAS DA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA 
 
Alguns autores apresentam algumas características da LH, as quais servem como 
ferramentas para o desenvolvimento das medidas de melhoria. 
1. Objetivos: O objetivo da LH é salvar vidas e aliviar o sofrimento de pessoas 
vulneráveis, dada uma limitação financeira. O enfoque humanitário tem dois pontos 
principais: o cumprimento da missão e sustentabilidade financeira. 
2. Característica da demanda: O foco da LH são suprimentos e pessoas. A demanda na 
cadeia de assistência humanitária é gerada por eventos aleatórios que são imprevisíveis 
em termos de tempo, local, tipo e tamanho. O conjunto de suprimentos requeridos é 
muito variado e depende de fatores: o tipo de impacto do desastre, características e 
tamanho da população atingida, condições sociais e econômicas da região. Nesse 
sentido, a demanda é estimada após a necessidade da mesma, baseada na avaliação das 
características do desastre. 
- Lead Time: Em situações de natureza emergencial o lead time é praticamente zero 
entre a ocorrência da demanda e a necessidade da mesma. 
- Confiabilidade: O caráter imprevisível da demanda torna difícil estabelecer relações 
confiáveis e específicas de canais de distribuição. A falta de confiabilidade é afetada 
não só pelas características de imprevisibilidade, mas também por instabilidades 
políticas e de infraestrutura da região atingida. 
3. Clientes: na Logística Empresarial os indivíduos ou organizações são os requerentes 
de bens ou serviços. Já na Logística Humanitária os clientes são os necessitados de 
ajuda. 
 
II.4 DESAFIOS DA LH 
 
A seguir apresentam-se alguns fatores, os quais segundo autores são considerados os 
grandes desafios dentro do processo de LH: 
a) Materiais: O que é necessário? Para onde deve ser enviado? Conforme se pode 
perceber em diversos desastres, o acúmulo de doações nas primeiras semanas pode 
gerar desperdícios e avarias, além de ocorrerem chegada de itens inadequados as 
necessidades daquele momento. 
b) Ausência de processos coordenados sejam em relação ao fluxo de informações, 
pessoas e materiais. 
c) Infra Estrutura que na maior parte dos casos encontra-se destruída, dificultando assim 
o acesso, a chegada de recursos e a saída de pessoas. 
d) Recursos Humanos: Excesso de pessoas (voluntários) sem treinamento adequado, 
heróis que agem somente com a emoção, celebridades que desejam “5 minutos de 
fama”, pessoas que vão para o local e não conhecem a magnitude do problema. 
 
 
III. CASE: DESASTRE CLIMÁTICO NA REGIÃO SERRANA 
FLUMINENSE 
 
A tragédia climática no estado do Rio de Janeiro afetou diretamente 20 municípios e 90 
mil pessoas. Foram 30 mil desabrigados e desalojados, bem como 916 vítimas fatais de 
enchentes, deslizamentos e desabamentos ocorridos entre 11 e 12 de janeiro de 2011. 
Esse desastre foi considerado o maior da história do país e o décimo pior 
deslizamento do mundo na última década. A cidade com mais vítimas da tragédia foi 
Nova Friburgo, seguida por Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do 
Rio Preto e Bom Jardim. Foram apontadas como causas do desastre a geologia da 
região, a ocupação irregular do solo (em encostas e áreas de várzea) e as chuvas de 
grande intensidade concentradas em períodos de 15 minutos. Contudo, observa-se um 
histórico de calamidades que ocorrem no Estado do Rio de Janeiro todos os anos, entre 
os meses de novembro e abril, devido a estes mesmos motivos. Logo, fica evidente o 
baixo investimento em prevenção e mitigação de desastres no Rio de Janeiro. Em 2010, 
o valor investido (R$ 80 milhões) para a reconstrução de locais atingidos pela chuva foi 
dez vezes superior ao valor aplicado (R$ 8 milhões) para a prevenção de catástrofes. 
 
III.1 Análise da operação humanitária 
 
Os atores envolvidos na operação humanitária em resposta ao desastre das enchentes na 
região serrana fluminense foram: o governo do estado, as prefeituras das cidades 
atingidas, a Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, a Força Nacional de Segurança, o 
Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, a Marinha e a Aeronáutica e 
Exército Brasileiro, além de ONGs. Esses órgãos de apoio foram gerenciados pelo 
Centro de Gerenciamento de Crises, entidade do Sistema Nacional de Defesa Civil. 
A participação das Forças Armadas na operação humanitária se deu por decisão do 
ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional. A missão do Exército Brasileiro 
na fase de resposta ao evento consistia em apoiar os órgãos de Defesa Civil dos 
municípios afetados, executando tarefas logísticas, como: distribuição de donativos, 
transporte de desabrigados, evacuação de feridos, tratamento e distribuição de água em 
locais de difícil acesso, remoção de carros inundados (desobstrução de vias), 
abastecimento de combustível (viaturas), assistência religiosa. Como esta pesquisa tem 
como foco analisar as operações da logística humanitária na fase de resposta imediata 
ao desastre, o estudo baseou-se na ação do Exército Brasileiro. A partirde agora, 
apresenta-se a análise da fase de resposta imediata da operação humanitária nas 
enchentes da região fluminense em janeiro de 2011, que foi estruturada a partir de 
alguns fatores: acesso e logística; saúde; água, saneamento e higiene; alimentos; e 
abrigos e suprimentos não relacionados à alimentação. 
 
III.2 Acesso e logística 
 
O acesso à região serrana do Estado do Rio de Janeiro se dá a partir do transporte 
rodoviário, sendo as principais vias de acesso a BR 040, BR 116, BR 101 e RJ-116. 
Devido aos deslizamentos, alguns trechos dessas vias ficaram bloqueados, sendo 
liberados poucos dias após a enchente. Porém, diversas vias no interior das cidades 
foram obstruídas devido a quedas de barreiras, que isolaram comunidades. Segundo 
dados levantados, um mês após o desastre, o acesso a todas as áreas onde houve vítimas 
já estava restabelecido. Contudo, três meses após as enchentes, ainda havia entulhos 
pelas ruas em Teresópolis. 
Destaca-se o papel do Exército Brasileiro (EB) na desobstrução de vias interditadas por 
meio do emprego de viaturas especializadas dotadas de ganchos. Essa ação foi essencial 
para possibilitar o deslocamento dos meios de socorro. Afinal, nas primeiras setenta e 
duas horas após o desastre, o Corpo de Bombeiros enfrentava grandes dificuldades para 
a realização de buscas e salvamentos. As tropas do EB também atuaram na realização 
de buscas e salvamentos, além de participar na recuperação da mobilidade da população 
por meio dos trabalhos de lançamentos de pontes. Foram montadas duas pontes, uma 
sobre o Rio Grande, na cidade de Bom Jardim, e outra sobre o Rio Paquequer, em 
Sumidouro, permitindo a ligação de áreas isoladas e a circulação normal de linhas de 
ônibus municipais e intermunicipais nestes locais. 
O objetivo principal da operação de resposta imediata consistia em possibilitar o acesso 
à população local para a realização de salvamentos e para a distribuição de suprimentos 
emergenciais. O Exército Brasileiro também desempenhou a distribuição destes 
suprimentos, além do transporte de desabrigados/desalojados e da evacuação de feridos. 
Foi observada a necessidade do controle de tráfego devido às restrições de acesso e a 
grande demanda pelo serviço de distribuição. Afinal, houve um grande volume de 
doações para atender a grande demanda das vítimas. O transporte das doações de outras 
regiões do Brasil para o Rio de Janeiro foi realizada pela Força Aérea Brasileira (FAB), 
que disponibilizou aeronaves, caminhões e carretas. Também foi imprescindível a 
utilização de helicópteros do Comando de Aviação do Exército para o transporte aéreo 
de suprimentos e para o acesso às regiões mais remotas. O Exército contou com o apoio 
de 42 viaturas e quatro helicópteros durante a fase de resposta imediata da operação 
humanitária. 
Uma das dificuldades enfrentadas foi a restrição de veículos e recursos humanos para 
atender tanto ao transporte de gêneros alimentícios e medicamentos quanto ao 
transporte de desabrigados e feridos. Portanto, uma decisão crítica a ser tomada na 
operação se refere ao planejamento eficiente do uso dos recursos disponíveis para 
realizar o transporte de suprimentos e o salvamento de feridos e desabrigados. 
Outra decisão importante envolve o planejamento eficiente dos equipamentos para 
desobstrução dos acessos, uma vez que esses recursos são escassos na fase de 
resposta imediata. 
O Quadro de Engenheiros Militares do EB também atuou no novo mapeamento da 
Região Serrana imediatamente após o desastre, com a finalidade de descobrir o melhor 
acesso às áreas que ainda estavam isoladas, facilitando assim o trabalho de resgate das 
vítimas. Essa medida também facilitou a indicação dos locais que poderiam ser 
ocupados, de modo a evitar novas construções em áreas indevidas. 
 
III.3 Saúde 
 
Os hospitais de campanha das Forças Armadas Brasileiras têm sido a solução no 
atendimento a vítimas de desastres no Brasil, especialmente em casos de enchentes e 
deslizamentos, tal como o evento analisado. Esses hospitais foram essenciais para a 
redução do tempo de espera para o atendimento às vítimas do desastre, dada a 
destruição de parcela dos recursos locais. 
Os hospitais de campanha oferecem atendimentos ambulatoriais em especialidades de 
clínica médica, ortopedia, pediatria, ginecologia e odontologia. Contam com centros 
cirúrgicos, raios-X, laboratórios e leitos para curtos períodos de recuperação. Em casos 
em que fosse necessária a transferência de pacientes, era necessária a evacuação 
aeromédica. Segundo levantamentos do Hospital de Campanha da Marinha Brasileira, 
dos atendimentos realizados nas primeiras setenta e duas horas após o desastre, 75% 
foram casos clínicos, 20% ortopédicos e 5% psiquiátricos. 
Observou-se que, depois de traumas físicos, fraturas e lesões, a maioria dos 
atendimentos envolvia pacientes com problemas psicossomáticos, causados por 
sequelas emocionais. 
Também foi essencial o trabalho médico no controle da leptospirose, doença à qual a 
população fica vulnerável em casos de enchentes e inundações. Outro ponto importante 
para a manutenção do bom estado sanitário envolveu a remoção e sepultamento de 
cadáveres. O Exército Brasileiro apoiou a execução dessas atividades, e ainda 
prestou assistência religiosa com o capelão militar. A partir da experiência nesse 
processo, foi identificada a dificuldade na estimativa dos itens críticos para o 
atendimento das vítimas, uma vez que não há levantamentos sobre os tipos de acidentes 
e traumatismos mais comuns nesses tipos de desastres. Ainda, foram enfrentadas 
dificuldades devido a carências no suprimento de medicamentos e na doação de sangue. 
Logo, a principal decisão tomada se refere à alocação de recursos, como médicos e 
remédios, para maximizar o atendimento. 
 
III.4 Água, saneamento e higiene 
 
Segundo dados da Cruz Vermelha Internacional, a demanda diária de água potável por 
pessoa em casos de desastres varia entre quatro e cinco litros/pessoa/dia, incluindo 
nessa estimativa o consumo do recurso por hospitais e clínicas. A população das cidades 
atingidas pelo desastre da região serrana é de aproximadamente 700 mil habitantes, 
sendo que 30 mil vítimas ficaram desabrigadas. Desse modo foi necessário um mínimo 
de 150 mil litros de água diários para atender a demanda dos desabrigados/desalojados 
pelo desastre. 
A água é um item crítico para a sobrevivência, de modo que o suprimento desse recurso 
foi tratado como uma prioridade nos primeiros dias após o desastre. Empresas e 
população do Rio de Janeiro doaram grande quantidade de água mineral atendendo à 
solicitação dos órgãos de assistência às vítimas com grande divulgação através da mídia 
(televisão e rádio). O Exército Brasileiro participou do tratamento e da distribuição de 
água em locais de difícil acesso. Devido à elevada demanda de suprimento de água e 
ao acesso restrito a locais isolados, foi observada a dificuldade em priorizar a 
distribuição de água na fase de resposta imediata e em como estabelecer o sistema 
de distribuição de água de modo a atender a maior demanda possível. 
 
III.5 Alimentos 
 
Em situações de grandes catástrofes, duas considerações precisam ser observadas 
quanto à alimentação: (i) o atendimento a população impactada; e (ii) o atendimento 
ao conjunto de pessoas, voluntários e profissionais que prestam os serviços à 
população. Especificamente, no caso do Exército, eram servidas 868 refeições por 
dia para alimentar a tropa empregada para prestar apoio em Teresópolis. 
Nesse aspecto, houve necessidade de controlar a distribuição de alimentos com intuito 
de atender todo o contingente. A distribuição de alimentos em casos de operações 
humanitárias é um problema de fluxo de rede com múltiplos modais e múltiplas 
commodities, cujo objetivo consiste em maximizar o atendimento da demanda à medida 
que o tempo deresposta é minimizado. Ressalta-se que o problema se torna ainda 
mais complexo porque, em alguns segmentos da rede viária, o trânsito está 
impedido devido a deslizamentos ou inundações. 
É necessário um reabastecimento constante dos itens de alimentação, porém há uma 
carência de estudos de previsão da demanda dos suprimentos necessários. Também no 
aspecto de alimentação, houve uma resposta imediata de empresas e da população do 
Rio de Janeiro, mas foram enfrentados problemas de armazenagem destas doações. As 
principais decisões a serem tomadas com relação à distribuição de alimentos se 
referem a: (i) transporte das doações até a região do desastre; (ii) locais para 
armazenagem dos suprimentos; (iii) quantidade e localização dos pontos de 
distribuição de alimentos. 
 
III.6 Abrigos e suprimentos não relacionados à alimentação 
 
Foram 30 mil vítimas desabrigadas devido ao desastre. A população desalojada foi 
inicialmente distribuída em escolas e galpões em condições de recebê-la. Os abrigos 
foram necessários para atender a população que precisava de atendimento médico. As 
vítimas também foram alojadas em barracas semelhantes às utilizadas no terremoto do 
Haiti e no tsunami na Indonésia. As barracas, com capacidade para dez pessoas, 
possuem equipamentos de sobrevivência, fogareiros, talheres, panelas, pratos, 
cobertores, purificador e armazenador de água. 
Com relação a suprimentos não relacionados à alimentação, observou-se excesso de 
doações de casacos, calças e camisas. Porém, houve a carência de doações de roupas 
de cama, toalhas e roupas íntimas. Destaca-se a dificuldade em estimar as 
necessidades, de modo que era necessário o recompletamento constante dos itens, 
segundo a evolução dos fatos. 
Portanto, nesse ponto, as principais decisões a serem tomadas se referem à: (i) 
previsão da demanda por abrigos e suprimentos não relacionados à alimentação; 
(ii) como maximizar o atendimento da demanda por esses materiais; (iii) como e 
onde abrigar os desalojados. 
 
IV. AREAS DE ATUAÇÃO E PESQUISA EM LH

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