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Exportação focada em commodities cria problemas, diz Ipea Segundo o instituto, setores tecnológicos não estão na pauta exportadora. Exportação gera riqueza 'nem sempre distribuída para a sociedade'. 22/02/2011 12h40 O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, na manhã desta terça-feira (22), a pesquisa “O Comércio Internacional e a Sustentabilidade Socioambiental no Brasil”, que faz parte da série de estudos “Eixos do Desenvolvimento Brasileiro”. O levantamento constata que houve expansão das exportações dos produtos primários e commodities minerais e agrícolas, com “pequena participação dos setores intensivos em tecnologia na pauta exportadora do país”. Em consequência, a pesquisa afirma que a inserção internacional do Brasil, “fortemente calcada no fornecimento de commodities”, gera uma série de impactos negativos do ponto de vista ambiental e social. O estudo faz uma crítica ao fato de que a exportação de produtos brutos, ou pouco beneficiados, do ponto de vista econômico e da inovação tecnológica, tem menor potencial de geração de riqueza, criação de emprego e arrecadação tributária do que se tais recursos naturais fossem beneficiados no país. “Essa exportação gera divisas importantes para o país, embora nem sempre essa riqueza seja distribuída para a sociedade”, afirma o levantamento. “Em outras palavras, aprofundou-se a dependência da exportação de commodities minerais e agrícolas como fonte de moedas fortes necessárias para a aquisição de produtos de maior intensidade tecnológica”, conclui. Problemas ambientais e sociais A pesquisa do Ipea cita problemas ambientais e sociais causados pelas monoculturas cultivadas em larga escala, e pelas “características inerentes aos setores intensivos em recursos naturais”. Além disso, a forma como algumas empresas ligadas a estes setores atuam no país também é criticada. Segundo o estudo, há grandes impactos sobre a biodiversidade brasileira, causados pelo grande cultivo de, por exemplo, cana-de-açúcar, soja ou eucalipto. Além disso, o uso de agrotóxicos contribui para a contaminação do solo e dos recursos hídricos, enquanto que a produção de ferro-gusa e aço, bem como as queimadas, são altamente poluidores da atmosfera. O levantamento também critica a falta de fiscalização e regulação das autoridades e órgãos responsáveis, e afirma que existe uma “limitação institucional do Estado em garantir que as atividades se deem de maneira sustentável socioambientalmente”. De acordo com a pesquisa, vários problemas sociais também são causados por esse modelo agrícola, como o êxodo rural e a contaminação de trabalhadores e comunidades rurais por agrotóxicos. “A colheita de cana-de-açúcar e a produção de carvão vegetal apresentam muitas vezes condições inadequadas de trabalho”, afirma o estudo. No setor siderúrgico, problemas de saúde são identificados pela exposição de trabalhadores e comunidades a diferentes poluentes atmosféricos. Estudo sugere respeito à legislação e menos dependência de recursos naturais Na conclusão, a pesquisa sugere três estratégias para a melhoria dos problemas citados: respeito à legislação ambiental e trabalhista; estimulação da exportação de bens manufaturados; construção de um novo modelo de inserção internacional a ser adotado pelo Brasil, que não seja tão dependente de recursos naturais. O estudo afirma que há situações em que a relação de poder entre empresários e comunidades locais ou trabalhadores “é muito desigual”, e que há empresas que não cumprem a lei. Por isso, o levantamento enfatiza a necessidade de fortalecer as instituições de monitoramento e controle, “seja das agências ambientais, seja das agências ligadas às relações trabalhistas ou de saúde do trabalhador”. A pesquisa também identificou que muitas empresas acabam optando por exportar minério de ferro e soja em grãos, em vez de produtos beneficiados a partir dessas commodities. De acordo com o estudo, caso as indústrias escolhessem manufaturar os recursos primários, essa atitude teria maior potencial de gerar mais empregos e fomentar o desenvolvimento tecnológico no país. Para isso, segundo o levantamento, seria importante que o sistema de incentivos, inclusive tributários, fosse debatido e revisto. No setor agrícola, os mercados de produtos orgânicos e com certificação verde, de acordo com a pesquisa, apresentam “dinamismo muito maior do que mercados tradicionais” e oferecem grandes perspectivas de crescimento. “É esperado que a venda de produtos agrícolas certificados seja multiplicado por cinco até 2020, e por mais de vinte até 2050”, afirma o levantamento. A pesquisa conclui que é importante a sociedade brasileira se questionar sobre o quanto é desejável, do ponto de vista econômico, aumentar a participação das atividades baseadas na produção e extração de recursos naturais. E finaliza com a sugestão: “seria preferível dedicar esforços para o desenvolvimento de setores que tenham menos impactos negativos sobre o meio ambiente e a população”.
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