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NORMA FERNANDES PINTO DOS SANTOS


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I
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE 
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A importância e a necessidade do lúdico 
na Educação Infantil 
 
 
 
 
 
 Norma Fernandes Pinto dos Santos 
 
 
 Orientador: Luiz Cláudio Lopes Alves D. Sc 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, 28 de Julho de 2007. 
 
 
 
 II
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE 
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A importância e a necessidade do lúdico 
na Educação Infantil 
 
 
 
 
Objetivos: 
Monografia apresentada à 
disciplina de orientação e 
metodologia da pesquisa 
científica como parte dos 
requisitos básicos para a 
conclusão do curso de pós-
graduação em Psicopedagogia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Norma Fernandes Pinto dos Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 III
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 A Deus, 
 Porque por seu amor existimos. 
 
 A meus pais, 
 As honras desta conquista. 
 
 Aos verdadeiros mestres, 
 Que com grande dedicação, amizade, compreensão e 
esforço, nos transmitiram seus conhecimentos e experiências de 
vida, agradeço com profundo sentimento de gratidão. 
 
 Aos colegas, 
 Nossa eterna lembrança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 IV
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A todas as crianças que dão a 
esse mundo um tom colorido através 
de seu sorriso, sua alegria e sua luz e 
em especial ao meu netinho Daniel, 
minha fonte de inspiração e minha 
esperança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 V
BRINCANDO EU APRENDO... 
 
O Direito de brincar 
 
Brincar é trabalho da criança... 
É uma forma de expressão, de criação... 
Se pega papel, retalho ou jornal: 
Recorta, cola, enrola, monta bonecos e contando suas estórias, 
brinca sério, faz teatro... 
E com música e poesia, através da fantasia, 
Vai mostrando seu aprendizado... 
Para um mundo tão conturbado! 
 
 
Norma Fernandes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 VI
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO 1 
 
CAPÍTULO I 
 
Por que a criança brinca? 4 
 
1.1 – As atividades lúdicas e a Educação 6 
 
1.2 – Estágios para a evolução do jogo na criança 9 
 
CAPÍTULO II 
 
As atividades lúdicas 13 
 
CAPÍTULO III 
 
Quando a criança não brinca 22 
 
CONCLUSÃO 26 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 29 
 
ANEXOS 31 
 VII
INTRODUÇÃO 
 
 O objetivo deste estudo é o de refletir como as atividades lúdicas 
realizadas por crianças na faixa etária de 2 a 6 anos facilitam o 
desenvolvimento cognitivo, afetivo, físico, motor, social e como elas auxiliam e 
ao mesmo tempo conduzem a aprendizagem, dentro de um contexto 
educacional. 
 
 O jogo é considerado uma atividade social completa que implica em 
movimento e contribui para o desenvolvimento da criança como um todo, além 
de desenvolver também o espírito de grupo, possibilitando muitas outras 
vantagens, devendo ser usado como recurso na Educação, dentro e fora da 
escola. 
 
 As crianças dedicam grande parte de seu tempo às brincadeiras e por 
isso, torna-se muito interessante conhecer o papel das mesmas e o seu 
desenvolvimento de modo geral. Contudo, a realidade escolar trata as 
atividades lúdicas apenas como preenchimento do tempo restante das demais 
atividades relacionadas aos conteúdos trabalhados durante o ano. Essas 
atividades devem ser levadas a sério pelos profissionais que atuam 
principalmente na Educação Infantil, pois torna-se importante conhecer a 
função do lúdico no desenvolvimento infantil, uma vez que tratam-se de 
brincadeiras que educam e formam, acompanhando a evolução física e mental 
da criança, contribuindo para o seu amadurecimento, assim como utilizá-lo de 
maneira mais adequada. 
 
 Sob influência do jogo, a criança é conduzida a auto-expressão, a 
socialização, ao desenvolvimento dos sentidos, aos movimentos como 
necessidade primordial ao seu melhor desempenho e ainda servindo de 
motivação para facilitar sua aprendizagem, despertando um interesse ainda 
maior no decorrer de suas atividades. 
 
 VIII
 Segundo Jean Piaget, uma boa pedagogia é aquela que apresenta 
situações nas quais a criança experimenta até chegar as conclusões: 
manipulando objetos, criando, recriando, descobrindo, redescobrindo, 
buscando respostas às indagações, relacionando novos conhecimentos e 
outros anteriores. 
 
 O jogo tem, na teoria piagetiana, uma função poderosíssima na 
aprendizagem, tanto na fase que ele denomina pré-operatória, quanto na fase 
das operações concretas e formais. 
 
 A motivação lúdica e exploratória da criança é muito importante para a 
aprendizagem das habilidades necessárias na vida adulta e ela ocorre num 
período relativamente longo de desenvolvimento e na ausência de riscos para 
o indivíduo (ambiente “protegido” pelos adultos). Mas, ela não termina na vida 
adulta, perdura porque o homem é essencialmente lúdico, criativo e pronto 
para (re) descobertas e (re) invenções ao longo de sua vida. 
 
 No capítulo I apresento a pergunta: “Para a criança o que é realmente a 
brincadeira?”. E tentando buscar uma resposta, aponto algumas atividades e 
as fases de evolução da criança de acordo com os jogos de exercícios, jogos 
simbólicos e os jogos de regras. 
 
 No capítulo II, as atividades são mostradas como uma maneira da 
criança aprender e se socializar mais rapidamente enfocando um pouco a 
motivação como facilitadora da aprendizagem para despertar o interesse no 
decorrer das atividades propostas. 
 
 IX
 No capítulo III, é comentada a situação de crianças, que por não 
desenvolverem o hábito de brincar, não conseguem domínio sobre o mundo 
exterior. 
 
 No IV e último capítulo do referido estudo, tem-se uma orientação 
voltada à reflexão por parte dos educadores a respeito do que deve ser 
observado com certa atenção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 X
CAPÍTULO I 
POR QUE A CRIANÇA BRINCA? 
 
 Ao observar crianças brincando percebe-se que elas despertam 
interesses por vários tipos de brincadeiras de sua idade e sexo. O brinquedo 
permite às crianças deixarem fluir suas fantasias e imaginação, possibilitando-
lhes expor suas emoções, estimulando a criatividade. 
 
 Muitas vezes os adultos desconhecem e não aceitam que as crianças 
destruam seus brinquedos, por ignorarem que o fazem pela curiosidade de 
conhecer o que está por dentro, como funciona, etc. Os adultos normalmente 
associam esta curiosidade ao instinto destrutivo. 
 
 É importante que as crianças criem seu próprio brinquedo, pois assim 
elas aprendem a trabalhar e transformar materiais em objetos que serão 
utilizados em suas atividades lúdicas, desenvolvendo sua criatividade e 
expressão através de atividades que lhe proporcionam prazer. A criatividade 
manifesta-se no ato da criação de um brinquedo, mas também quando a 
criança recria um novo significado para o mesmo. 
 
 Em minha prática pedagógica, observando alunos, que estão na faixa 
etária de 2 a 6 anos, pude perceber que muitas vezes as crianças utilizavam o 
livro de história de maneira lúdica, transformando-se nos próprios personagens. 
Esta é a brincadeira do faz-de-conta. Estas crianças, segundo Piaget (1975), 
encontram-se no estágio simbólico.Através dessas brincadeiras há a 
possibilidade da construção de uma identidade infantil autônoma, cooperativa e 
criativa. 
 
 XI
 As brincadeiras para as crianças permitem que elas repitam situações 
prazerosas e dolorosas. Através das brincadeiras a criança expressa seus 
medos, angústias e problemas internos. 
 
 Vejamos o que Lebovici (1998) afirma quanto a importância do 
brinquedo: 
 
 Pode-se formular uma equação para sintetizar a importância do 
brinquedo dizendo que “o trabalho está para o adulto assim como o 
brinquedo está para a criança”. A presença do brinquedo ativo e 
espontâneo é sinal de saúde mental e sua ausência, um sintoma de 
doença física ou mental. O modo como a criança brinca é um 
indicativo de como ela está e de como ela é. 
 
 Através destas idéias, podemos notar a grande importância que tem o 
brincar para as crianças, assim como através de observações de crianças 
brincando, podemos entender mais de seu mundo interno como pensamentos, 
angústias, sentimentos, etc. 
 
 Nas brincadeiras, as crianças (re) criam papéis sociais, vivem situações 
do cotidiano. Na maioria das vezes elas desempenham papéis que consideram 
importantes: podem ser a mãe de alguma boneca ou mesmo de outras 
crianças, podem ser a professora, dramatizando acontecimentos do cotidiano. 
 
 A brincadeira é um tempo de atividade lúdica que inclui o jogo e ações 
não necessariamente competitivas, desenvolvidas individualmente ou em 
grupo, que inclui os jogos e também outras ações, como o mexer com areia ou 
com água, a tentativa de saltar um grande número de degraus. Por meio da 
brincadeira, a criança conhece o mundo a sua volta. A criança aprende 
brincando, o brincar é uma necessidade da criança para melhor assimilar o que 
lhe foi passado, é considerado como uma libertação, onde a criança vive em 
 XII
um outro mundo, que não é dos adultos onde ela se solta, correndo, pulando, 
fazendo uso de sua imaginação. Através da brincadeira da criança pode-se 
entender como ela vê e constrói o mundo e quais são as suas preocupações. 
 
 Percebemos que a criança brinca para aprender a se expressar no 
mundo em que vive, aprende novas coisas, convive com outras crianças e isto 
tudo lhe possibilita uma diversidade de novos conhecimentos que auxiliam em 
seu desenvolvimento de modo geral. 
 
 As brincadeiras são atividades que despertam grandes interesses nas 
crianças, seus conteúdos são retirados de tudo que a criança vive: a família, a 
escola, a televisão, tudo isso tem influência nas brincadeiras. As crianças 
brincam para elaborar seus conflitos, criando e recriando papéis sociais, 
desenvolvendo assim sua criatividade. Com o grande interesse que as 
brincadeiras despertam podemos notar que estas são facilitadoras da 
aprendizagem. 
 
1.1 – As atividades lúdicas e a Educação 
 
 Os desenhos, os jogos, os brinquedos e todas as brincadeiras podem 
ser associadas a natureza lúdica do homem, como também envolvem as 
atividades de inventar a narrar, ouvir e ler histórias. 
 
 Cadermartori (1991, p. 58), salienta que a criança vê o mundo e ouve a 
língua, antes de detê-la e escrevê-la, dizendo: 
 
“A manipulação lúdica dos sons da língua pela criança, fruição do 
sonoro independente do significado, constitui-se em parte 
fundamental do desenvolvimento lingüístico. Do mesmo modo que o 
conhecimento da realidade exterior não se dá sem a atividade de 
exploração dos objetos, o conhecimento lingüístico não prescinde de 
 XIII
uma atividade com a língua na qual esta é tratada como objetivo 
material. Aceito este ponto de vista, o ludismo sonoro deixa de ser 
visto como uma inconseqüência infantil, à qual se pode ser 
indiferente, para ser visto como parte específica da habilidade da 
espécie para aprender a língua. 
 
 A criança toma conhecimento da realidade, do mundo a sua volta, 
através de atividades lúdicas e explorativas, onde tudo tem seu valor, sejam as 
atividades lingüísticas primárias: ouvir e falar, sejam as atividades lingüísticas 
fundamentais: jogos verbais e leituras nos textos, nas histórias ou na poesia, 
como também dramatizações, coro falado e leituras teatralizadas. 
 O brinquedo constitui uma proposta educacional dirigida para a 
formação de um cidadão autônomo e transformador, porque a criança age 
como agente ativo, não possibilitando a ela qualquer brinquedo, porém 
possibilita-lhe aquele que melhor atende as características infantis, suas 
necessidades e idades. 
 
 É brincando que a criança executa suas forças novas e adestra sua 
imaginação, portanto exercita os seus músculos, descobre e constrói os 
mecanismos lógicos. São atividades sociais já examinadas e catalogadas. 
 
 O lúdico verbal desempenha um papel interessante no estímulo à 
expressão verbal, seja nas brincadeiras juntando os fonemas ou nos jogos 
mais organizados de formação de palavras, constituindo muitas outras, pois 
são brincadeiras espontâneas, visto que não tem intervenções embaraçosas. 
 
x Atividades lúdicas: Exemplos 
 
a) Brinquedos individuais: 
 Velocípede, carrinho de empurrar e puxar. 
 
 XIV
b) Brinquedos coletivos: 
 Bola, casa da boneca, brincadeiras de roda, cabana de índios. 
 
c) Atividades em aparelhos recreativos: 
 Balanços, gangorras, escorrega, rodinha, carrossel. 
 
d) Jogos motores: 
 Deslocamento, corridas e saltos, tipo de jogos que exigem movimentos 
variados por parte dos participantes. 
 
e) Brincadeiras de roda: 
 Lenço-atrás ]As crianças fazem uma roda. Uma delas fica de fora e anda 
em torno da roda, com um lenço na mão. Depois de algumas voltas, joga o 
lenço atrás de alguém e sai correndo, sempre em volta da roda. A “escolhida” 
deve pegar o lenço e correr para alcançá-la, antes que ela complete a volta e 
tome o seu lugar. O mais importante é que todas as crianças participem da 
brincadeira. 
 
 Coelhinho-sai-da-toca ] Duas crianças formam a “toca”, onde fica 
escondido um “coelhinho”. Faz-se uma roda de tocas e no meio dela sobra um 
“coelhinho” que pergunta: “seu lobo está aí?” os outros dizem: “não”. Coelhinho 
sai da toca. Então, todos os coelhinhos trocam de toca e o que sobra vai para o 
meio da roda. 
 
f) Brincadeiras de salão: 
 Cabra-cega, passa-anel, cabo-de-gerra, amarelinha, caracol, estátua, 
elástico, etc... 
 
g) Brincadeiras de classe: 
 Trava-línguas, parlendas, dança do jornal, mímica, caras e caretas e dança 
das cadeiras. 
 
h) Brincadeiras ao ar livre 
 XV
 Esconde-esconde, queimada, pula-corda, chicotinho queimado, 
garrafão, pique-bandeira, pique-cola, bandeirinha, morto vivo, pirulito que bate-
bate e batatinha frita. 
 
x Desenvolvimento da motricidade: 
 Pular num pé só, pula-sela, equilibrar um saquinho, jogo da amarelinha e 
etc. 
 
x Coordenação viso-motora: 
 O laço do vaqueiro; amassar papel; equilíbrio; brinquedo dramatizado. 
 Brincadeiras para sala de aula: desenhos, recortes, colagens, 
montagens de varal, mural e painel, modelagem com argila, com massinha, 
com sabão, está frio ou quente, quatro contos e dobraduras. 
 
1.2 – Estágios para a evolução do jogo na criança 
 
 Valorizando acentuadamente a prática lúdica para o harmonioso 
desenvolvimento infantil, Piaget (1975) propôs uma seqüência de três estágios 
para a evolução do jogo na criança: (a) estágio dos jogos de exercício – de 
zero a 2 anos; (b) estágio dos jogos simbólicos – 2 a 7 anos e (c) estágio dos 
jogos de regras – a partir dos 7 anos. 
 
 O estágio dos “jogos de exercícios”, chamados de “jogos funcionais” 
(prazer funcional), engloba movimentos simples, como estender e recolher 
braços e peruas, imprimiroscilações em objetos, tocá-los, produzir sons. 
 
 Esses jogos se caracterizam pela satisfação das necessidades básicas. 
O jogo consiste em rituais ou manipulações de objetos em função dos desejos 
e hábitos motores da própria criança. Aos poucos a criança vai ampliando seus 
esquemas adquirindo cada vez mais prazer através de suas ações. O prazer é 
que traz significado para as suas ações. 
 
 XVI
 Os “jogos simbólicos”, integrantes do estágio subseqüente, que tem 
início com a função simbólica, ao final do primeiro ano de vida e início do 
segundo. Ao término da primeira infância, os “jogos simbólicos” predominam 
sobre os demais. Esses estágios encerram atividades em que objetos 
transfiguram em sua função, como por exemplo: uma vassoura pode virar um 
cavalo, e ao brincar com as bonecas ela pode representar o papel da mãe. É a 
fase do faz-de-conta, da representação, do teatro, onde uma coisa simboliza 
outra. 
 
 Os jogos simbólicos têm características que lhes são próprias: liberdade 
de regras, desenvolvimento da imaginação e fantasia, ausência de objetivos, 
ausência de uma lógica da realidade, adaptação da realidade aos seus 
desejos. 
 
 O terceiro estágio, “jogos de regra”, exibe necessariamente um equilíbrio 
delicado entre a assimilação ao eu, inicio de todo jogo e da vida social. Nesse 
estágio é solicitado, portanto, um certo nível de socialização que a criança, 
geralmente, só vai atingi-lo no período de suas primeiras atividades escolares. 
Mesmo assim os “jogos de regras” começam de forma rudimentar, ainda na 
primeira infância através da imitação dos “jogos de regras” dos mais velhos. 
Nesse período, os “jogos de regras” estendem-se por todas as fases da vida 
passando por momentos em que, como modalidades esportivas, ocuparão 
maior destaque. 
 
 Wallon (1979), analisando o estudo dos estágios propostos por Piaget, 
evidencia o caráter emocional em que os jogos se desenvolvem, e os seus 
aspectos relativos à socialização, particularmente pelo processo de descoberta 
e da relação com o “outro” que o jogo é capaz de proporcionar. O interesse 
pelas relações sociais infantis, nos momentos os jogos é formado quando a 
criança concebe o grupo em funções das tarefas que pode realizar, dos jogos 
que pode integra-se com os seus colegas de grupo e também das 
 XVII
contestações e dos conflitos que podem aparecer nos jogos onde há duas 
equipes opostas. 
 
 Ana Freud (1971), situa os jogos em grupo numa terceira etapa do 
desenvolvimento da criança, após passar pela fase da perspectiva egoísta e 
pela relação com outras crianças tratadas como objetos inanimados. A autora 
parece ser partidária do exercício preparatório, ao afirmar que “a aptidão lúdica 
converte-se em aptidão para o trabalho, quando um certo número de 
faculdades adicionais foi adquirido” (p.76). Os valores construtivos do jogo 
infantil, além da capacidade de estimular o desenvolvimento de planos 
preconcebidos e de proporcionar a transição entre o princípio da realidade e do 
ego, são considerados um processo essencial para o êxito do trabalho futuro. 
 
 Elman (1998), aponta as etapas do brinquedo da criança: 
 
“A primeira etapa do brinquedo da criança é a sensório-motora, 
caracterizada pela exploração repetitiva do seu corpo, bem como o 
corpo dos outros que possui como função o seu autoconhecimento e 
a diferenciação com o meio ambiente. Seu brinquedo é solitário, 
independentemente de outras crianças”. 
 Da fase sensório-motora, a criança passa o brinquedo paralelo, 
em que brincar ao lado de outras, mas com o brinquedo não se 
realiza com elas. Ela passa a brincar com objetos junto a outras 
crianças, sem haver interação entre elas. 
 A fase seguinte é a do brinquedo associativo, em que brinca 
com outras em tarefas conjuntas, divide os materiais e as crianças 
imitam-se umas as outras. Nessa fase o jogo é mais imitativo do que 
cooperativo. 
 No brinquedo cooperativo, a quarta fase do desenvolvimento, a 
criança apresenta contribuições ao brinquedo conjunto, ela é um 
membro de um grupo que chega a um produto comum. Nessa etapa, 
a criança desempenha papéis, já distinguindo a realidade da fantasia 
nos seus jogos.” (p. 6) 
 
 XVIII
 Na imaginação da criança, suas fantasias podem mudar tudo que é real, 
existente em seu universo que é o mundo ambiental lúdico tão importante na 
união de brincar e aprender, que unificando o desenvolvimento e a 
aprendizagem, serão aproveitados muito bem pelo professor. 
 
 Combinando etapas e normas, determinando limites na participação das 
crianças e dando liberdades aos menores, restringindo os maiores, elas vão 
assimilando em sua imaginação o que devem fazer ou agir no convívio com 
outros em sociedade. 
 
 Um tipo especial de jogo está associado ao nome de Maria Montessori. 
Trata-se dos jogos sensoriais. Baseada nos “Jogos Educativos” pensados por 
Frobel, jogos que auxiliam a formação do futuro adulto, Montessori, elaborou os 
“Jogos Sensoriais”, destinados a estimular cada um dos sentidos. Para atingir 
esse objetivo, Montessori necessitou pesquisar uma série de recursos e 
projetou diversos materiais didáticos para possibilitar a aplicação do seu 
método. 
 
 Outra influência que se acrescenta à valorização do jogo como ação livre 
provém de Montessori, apud Kischimoto (1993), que afirma: “É necessário que 
a criança permita o livre desenvolvimento da criança para que a pedagogia 
científica nela possa surgir”.(p. 114) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 XIX
CAPÍTULO II 
AS ATIVIDADES LÚDICAS 
 
 Assim que nasce, o bebê já começa a explorar o mundo ao seu redor e 
os objetos que estão a sua volta. Desde o nascimento até o aparecimento da 
linguagem podemos classificar os jogos realizados por estes bebês, segundo 
Piaget (1975), como jogos de exercícios. Estes jogos têm como finalidade o 
próprio prazer do funcionamento, e estes são mais comuns até dois anos de 
idade, porém reaparecem durante toda a infância. Quando a criança começa a 
falar, os jogos de exercícios vão diminuindo. 
 
 Ao nascer, os pais ou adultos que convivem com o bebê já estimulam a 
brincar, partindo dos jogos funcionais, que são descobertas do bebê quanto ao 
seu corpo. 
 
 Referindo-se aos bebês Aberastury (1992) afirma que: “Muitas de suas 
tentativas de explorar o ambiente construirão a base de sua futura atividade 
lúdica” (p.21). Através desta afirmativa percebemos que os jogos de exercícios 
são as bases para as demais atividades lúdicas. 
 
 Os jogos de exercícios, de acordo com Piaget (1975), diferenciam-se em 
duas categorias; jogo de exercício sensório-motor e jogos de exercício do 
pensamento. 
 
 Com o aparecimento da linguagem, surgem os jogos simbólicos, estes 
estão presentes até aproximadamente 6/7 anos de idade. Normalmente eles 
surgem durante o segundo ano de vida. 
 
 Os jogos simbólicos caracterizam-se pela invenção de uma situação ou 
de um objeto que não está presente. Estes surgem da imaginação das próprias 
 XX
crianças, onde um mesmo objeto pode representar várias coisas, ou seja, pode 
simbolizar o que a criança assim desejar. 
 
 Vejamos o que Friedmann (1996) afirma: 
 
“Os conteúdos são o objeto das atividades da criança e de sua vida 
afetiva, possíveis de ser evocados e pensados graças ao símbolo. O 
símbolo prolonga o exercício, como estrutura lúdica, e não constitui 
em si mesmo conteúdo (p. 29)”. 
 
 Nos jogos simbólicos, os símbolos apenas auxiliam nas atividades 
lúdicas para que as crianças realizem de forma simbólica o que lhes trazem 
alguns significados, que representam muitas vezes situações do seu cotidiano. 
Ao observarmoscrianças brincando, percebemos que nas brincadeiras de faz-
de-conta, as crianças desempenham papéis sociais. Por exemplo, se tornam 
mães ou professoras e notamos que elas reproduzem o comportamento 
apresentado pelos papéis que desempenham nas brincadeiras e até mesmo as 
frases são parecidas com as do “modelo” no qual a criança está imitando (seus 
pais, professores,...). Nestas brincadeiras as crianças elaboram conflitos que 
têm com os adultos que se relacionam com ela. Percebe-se que elas 
desempenham seus papéis nas brincadeiras conforme ocorre em situações de 
sua vida real, porém, muitas vezes os desfechos das histórias são diferentes, 
recreados pelas próprias crianças. 
 
 Para Piaget, por volta de 3 a 4 anos de idade, as crianças em suas 
brincadeiras, manifestam características dos jogos simbólicos. A partir desta 
idade os jogos se tornam combinações simbólicas. Iniciam com combinações 
simples, os jogos simbólicos encontram-se entre a simples transposição da 
vida real no plano inferior, ou seja, ações menos elaboradas e as invenções 
dos seres imaginários sem modelos atributivos, já no plano superior, quer dizer, 
mais subjetivo. As combinações simples são construções de cenas inteiras, 
como exemplo: vestir uma boneca, dar-lhe comida e de modo geral, cuidar de 
uma boneca. 
 XXI
 Diz Friedmann (1996): “Quanto ao conteúdo e a própria vida da criança; 
o jogo de imaginação reproduz todo o vivido por representações simbólicas” 
(p.31). Vimos que as crianças em seus jogos simbólicos representam tudo que 
vivem, porém por representações simbólicas. 
 
 A respeito das combinações simbólicas temos também as combinações 
compensatórias. Comenta Friedmann (1996) a respeito destas: “a criança 
reage contra um medo ou realiza o que não se atreveria a fazer na realidade 
por meio do jogo; a compensação torna-se Catarse”. Muitas vezes pode-se 
notar crianças brincando com morte, doenças, ... Nessas brincadeiras as 
crianças adoecem e melhoram, morrem e revivem, elas estão elaborando seus 
medos e angústias. 
 
 Até aqui, vimos o desenvolvimento dos jogos nas crianças, sendo mais 
voltado para o estágio dos jogos simbólicos; acreditando serem estas 
atividades lúdicas facilitadoras da aprendizagem e do desenvolvimento das 
crianças. Friedmann (1996) afirma a respeito da aprendizagem: “A 
aprendizagem depende em grande parte da motivação: As necessidades e os 
interesses da criança são mais importantes que qualquer outra razão para que 
ela se ligue a uma atividade”. 
 
 Podemos ver que a aprendizagem depende da motivação das crianças e 
estas normalmente gostam de jogos e brincadeiras. Logo se mostram 
motivadas a brincar e interessadas nessas atividades. Através do prazer 
encontrado em tais atividades, as crianças se mostram interessadas e 
concentram-se nas brincadeiras. Muitas vezes, as crianças não demonstram 
interesse pela escola ou pelas atividades propostas pela professora. Através 
das brincadeiras, percebemos que as crianças ficam mais concentradas e nas 
brincadeiras espontâneas as crianças interagem e assimilam novos 
conhecimentos. 
 
 XXII
 Muitos professores utilizam as brincadeiras apenas para despertar 
interesses nos alunos com o objetivo de transmitir algum conteúdo. Nesse 
sentido, muitas vezes, pode obter um resultado positivo, deixando as crianças 
mais interessadas e assim prestarem maior atenção ao que estão fazendo, 
sendo possível à transmissão dos conteúdos através das brincadeiras 
propostas pelo professor. 
 
 Porém, torna-se muito importante e necessário, que haja um tempo 
reservado para as crianças brincarem segundo suas escolhas. Elas devem 
escolher o tema e o conteúdo de suas brincadeiras, porque através destas 
brincadeiras as crianças podem se tornar mais criativas, o que possibilitará 
uma aprendizagem não direcionada, portanto, muito interessante para as 
crianças envolvidas nas brincadeiras. 
 
 Estas brincadeiras espontâneas, consideradas muito importantes para 
as crianças, podem ser realizadas em qualquer ambiente. Porém existem as 
salas de Multimeios, que são ambientes voltados para estas brincadeiras, onde 
há vários tipos de materiais que auxiliam no desenvolvimento da criatividade 
das crianças. 
 
 O multimeio é um local cheio de brinquedos e oportunidades de 
brincadeiras, estimulando os desenvolvimentos intelectuais, sociais e 
emocionais, além de permitir um grande número de variados brinquedos e 
oportunidades de criação. 
 
 Uma importantíssima tarefa para o multimeio: deixar brincar, deixar criar, 
mais e mais, com vários brinquedos e com muita variedade de materiais, 
desafiando e promovendo a inventividade, resgatando assim o direito a 
verdadeira especialidade que é de ser diferente e único. 
 
 XXIII
 A escola deve ter a preocupação de propiciar a todos um 
desenvolvimento integral e dinâmico. Deve permitir o desenvolvimento de 
modo geral, desenvolvendo o cognitivo, o afetivo, físico-motor e o social. 
 As atividades lúdicas realizadas na escola também devem ser atividades 
que facilitam o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, permitindo o 
desenvolvimento integral. 
 
 Através da brincadeira em grupo, cria-se uma zona de desenvolvimento 
proximal (Oliveira, 1995, p. 58-60). Podemos definir zona de desenvolvimento 
proximal, como a distância entre o nível de desenvolvimento real (o que o 
indivíduo realmente já sabe e não há ajuda de outros), que é a solução de 
problemas por conta própria, e o nível de desenvolvimento potencial, que é a 
solução de problemas sob orientação de adulto ou colega mais capaz. Esta 
zona de desenvolvimento proximal tem enorme influência em seu 
desenvolvimento, algo que primeiramente a criança faz com auxílio de algum 
adulto ou algum colega mais capaz e que com seu desenvolvimento, fará um 
dia sozinho. 
 
 Os seres humanos não vivem isolados, eles vivem em uma sociedade, 
onde os seres humanos e o ambiente contribuem para a solicitação de todos, 
inclusive das crianças. 
 
 É importante ao falarmos sobre a socialização buscar uma definição 
para ela, vejamos o que Brougére (1997) afirma a respeito desta: 
 
“Encaramos a socialização como o conjunto dos processos que 
permitem a criança se integrar ao ‘socius’ que a cerca, assimilando 
seus códigos, o que lhe permite instaurar uma comunicação com os 
membros da sociedade, tanto no plano verbal quanto não-verbal 
(p.62-63). 
 
 XXIV
 Dentre desses inúmeros processos podemos incluir as brincadeiras, pois 
elas permitem integração entre as crianças, além da troca de códigos sociais. 
Para que as crianças brinquem em grupo se torna necessário que elas se 
entendam e se comuniquem. 
 
 Ao nascer o bebê já recebe influência da cultura da cultura do seu grupo 
social. Em primeiro lugar, o que influencia uma criança na sua socialização é a 
própria família a qual esta pertence. Em segundo plano vem a escola, que lhe 
permite algumas habilidades cognitivas que lhe auxilia na compreensão de sua 
cultura. 
 
 Sabini (1990) afirma a respeito da representação da pré-escola: “Desta 
forma, a pré-escola representaria um período de transição em que a criança 
aprenderia a ter autocontrole e independência, numa situação quase 
totalmente lúdica” (p.158). 
 
 Como vimos nesta afirmação, maioria das situações de aprendizagem 
na educação infantil está ligada ou deveria estar ligada ao lúdico e este 
assume um papel muito importante como instrumento socializador. Como as 
crianças passam grande parte de seu tempo brincando, ou pelo menos 
deveriam, parece que muitos colégios estão preocupados em permitir à criança 
o domínio da leitura e da escrita, esquecendomuitas vezes que as crianças 
necessitam de brincar e que somente através destas brincadeiras elas trocam 
códigos sociais, aprendem novas coisas, expressam seus sentimentos. Tudo 
isto é muito importante nesta fase (3 a 6 anos). 
 
 Como afirma Oliveira (1984): “No brinquedo infantil, práticas e 
interpretações sociais estão representadas” (p.13). Como vimos nesta 
afirmação através das brincadeiras as crianças desempenham papéis sociais e 
comportamentos preestabelecidos pela própria sociedade. Através destas 
 XXV
práticas e interpretações, torna-se mais fácil a inserção destas crianças na 
sociedade em que vivem. 
 
 Percebemos que nas brincadeiras muitas vezes as crianças interpretam 
as situações do dia-a-dia, fazem uma apropriação da cultura de sua sociedade 
e ao mesmo tempo, estas podem ser um lugar de conforto ou divergência. É 
muito importante que as crianças brinquem em grupo, pois elas aprendem que 
existem certas regras e as assimilam. 
 
 Quanto ao bebê, aos poucos se integra aos membros de sua família. 
Primeiramente explora o seu corpo, brinca consigo mesmo e com o passar do 
tempo, começa a perceber os outros e se interessar pelos que o rodeiam. 
 
 Por volta dos três ou quatro anos a criança já começa a brincar com 
alguém, já é capaz de compartilhar, se torna bastante comum brincadeiras de 
pai e filho, professor e aluno. Nesta fase as crianças dão vida aos brinquedos, 
conversam com eles,... Muitos adultos não compreendem estas atividades das 
crianças por pensarem diferente. Para os adultos fantasias e mentiras se 
misturam. Para as crianças, fantasia seria um universo ao qual ela deu vida e 
para elas este universo realmente existe. Através desta fantasia, que para a 
criança é real, ela muitas vezes projeta as relações umas com as outras. Na 
sua fantasia a criança experimenta também a competição com o adulto. 
 
 As brincadeiras permitem às crianças uma aprendizagem de modo geral, 
não apenas de conteúdos trabalhados na escola, mas um aprendizado da vida, 
desenvolvendo habilidades necessárias ao seu viver diário, assim como 
possibilita o aprendizado do convívio social. 
 
 XXVI
 Portanto, o ato de brincar é importante, é terapêutica, é prazeroso, e o 
prazer é ponto fundamental da essência do equilíbrio humano. Logo, podemos 
dizer que a ludicidade é uma necessidade interior, tanto da criança quanto do 
adulto. Por conseguinte, a necessidade de brincar é inerente ao 
desenvolvimento. No brincar e no jogar. Quanto mais papéis a criança 
representar, mais ampliará sua expressividade, entendida como uma 
totalidade. A partir do brincar e do jogar, ela constrói os conhecimentos através 
dos papéis que representa, desenvolve ao mesmo tempo dois vocabulários – o 
lingüístico e o psicomotor – além do ajustamento afetivo emocional que atinge 
na representação desses papéis. 
 
 A criança brinca porque tem um papel, um lugar específico na 
sociedade, e não apenas porque o faz-de-conta – como o brincar de cavalo, 
em que a criança se utiliza o cabo de vassoura – faz parte da natureza de tal 
criança. O jogo é a forma que as crianças encontram para representar o 
contexto em que estão inseridas. 
 
 Além disso, o ato de brincar pode incorporar valores morais e culturais 
em que as atividades lúdicas devem visar à auto-imagem, à auto-estima, ao 
autoconhecimento, à cooperação, porque estes conduzem à imaginação, à 
fantasia, à criatividade, à criticidade e a uma porção de vantagens que ajudam 
a moldar suas vidas, como crianças e como adultos. E sem eles a criança não 
irá desenvolver suficientemente o processo de suas habilidades. 
 
 O modo como ela brinca e joga revela o mundo interior da mesma, 
proporcionando o aprender fazendo, entendido aqui por aquelas ações 
concretas da criança: o brincar de médico, por exemplo. Implica apropriar-se de 
algumas características do ato da realidade. É a reprodução do meio em que a 
criança está inserida. 
 
 XXVII
 Através do lúdico, a criança realiza aprendizagem significativa. Assim, 
podemos afirmar que o jogo e a brincadeira propõem à criança um mundo do 
tamanho de sua compreensão. No qual ela experimenta várias situações, entre 
elas o fazer comidinha, o limpar a casa, o cuidar dos filhos, etc. 
 
 O ato de brincar (jogo, brinquedo, brincadeira) proporciona às crianças 
relacionarem as coisas umas com as outras, e ao relacioná-las é que elas 
constroem o conhecimento. Esse conhecimento é adquirido pela criação de 
relações e não por exposição a fatos e conceitos isolados, e é justamente 
através da atividade lúdica que a criança o faz. 
 
 Brincar e jogar são meios de expressão e crescimento da criança. Além 
de proporcionar prazer e diversão, podem representar um desafio e provocar o 
pensamento reflexivo da criança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 XXVIII
CAPÍTULO III 
QUANDO A CRIANÇA NÃO BRINCA! 
 
 Do ponto de vista psicológico, pode-se observar que as crianças que 
não têm oportunidade de brincar não conseguem conquistar o domínio sobre o 
mundo além. 
 
 Além do imaginário, o brinquedo envolve regras, que, embora não sendo 
formalmente estabelecidas, se originam da própria imaginação, mostrando que 
o papel que a criança representa e a sua relação com o papel que a criança 
representa e a sua relação com o objetivo originar-se-á sempre das regras. 
 
 Se a situação imaginária tem de conter regras de comportamento (ainda 
que ocultas), então todo o jogo com regras contém de forma oculta uma 
situação imaginária. 
 
 É enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento da criança, pois 
é durante a atividade que ela aprende a agir em uma esfera cognitiva, e isso 
depende das motivações e tendências internas, e não dos incentivos 
fornecidos pelos objetos externos. Na criança em idade pré-escolar a ação não 
é completamente compreendida e predomina sobre o significado, porque a 
criança ainda não se comporta de uma forma simbólica; ao invés disso, ela 
quer e realiza os seus desejos, ao pensar, acaba agindo. 
 
 Para separar o significado da ação real, a criança tem de ter a 
oportunidade de fazê-lo e isso só é possível através do brinquedo. Quando os 
pequenos vêem no brinquedo o objeto, mas agem de forma diferente em 
relação àquilo que vêem, observa-se que houve um desenvolvimento porque é 
notória a liberdade de ação. Assim, o agir em uma situação ensina a criança a 
dirigir o comportamento, pelo significado dessa situação. 
 XXIX
 Se um primeiro momento, a ação exercia um predomínio sobre o 
significado, na situação imaginária, o significado dirige a ação, isso mostra que 
a criança já está estabelecendo conceitos. 
 
 Separar os significados dos objetos tem conseqüências diferentes de 
separar os significados das ações, pois cria uma nova relação entre o campo 
do significado e o campo da percepção visual, permitindo que se entrelacem 
situações do pensamento com as reais. 
 
 Quando isso ocorre, verifica-se a existência do pensamento abstrato. No 
brincar, portanto, uma ação substitui a outra, da mesma forma que um objeto 
substitui o outro, porém, em ambos os casos, a criança opera com o 
significado. 
 
 Na vida real as crianças brincam co aquilo que estão fazendo, elaboram 
associações que facilitam a execução de ações desagradáveis, criam, portanto, 
áreas de desenvolvimento proximal, porque são capazes de se comportar além 
do habitual para a sua idade. 
 
 Finalmente, de acordo com Vygotsky, o brinquedo fornece a estrutura 
básica para as mudanças das necessidades e de consciência. 
 
 O desenvolvimento da criança é determinadopela ação na esfera 
imaginativa, pela criação de intenções voluntárias, pela formação de planos da 
vida real e pelas motivações volitivas. 
 
 Do ponto de vista psicológico, pode-se observar que as crianças que 
não têm oportunidade de brincar não conseguem conquistar o domínio sobre o 
mundo exterior. O brincar assume, pois, duas facetas: a de passado através da 
 XXX
resolução simbólica de problemas não-resolvidos; e a de futuro na forma de 
preparação para a vida. 
 
 Do ponto de vista pedagógico, muitos educadores falaram sobre o valor 
educativo do jogo. Foebel, por exemplo, explorou o jogo espontâneo da criança 
através das várias etapas da sua evolução, mostrou a importância de propiciar 
experiências adequadas para o desenvolvimento harmônico do pensamento. 
Foram, entretanto, os estudos de Piaget (1976) que trouxeram uma relevante 
contribuição para os educadores no sentido de perceber a importância para o 
desenvolvimento e suas relações com a aprendizagem. 
 
 Para o estudioso suíço, a origem do jogo está na imitação que surge da 
preparação reflexa. Imitar consiste em reproduzir um objeto na presença do 
mesmo. É um processo de assimilação funcional, quando o exercício ocorre 
pelo simples prazer. A essa modalidade especial de jogo, Piaget denominou de 
jogo de exercício. Em suas pesquisas ele mostra que a imitação passa por 
várias etapas até que com o tempo a criança é capaz de representar um objeto 
na ausência do mesmo. Quando isso ocorre, significa que há uma evocação 
simbólica de realidades ausentes, por exemplo, quando uma criança é capaz 
de imitar um macaco sem que o animal esteja presente; há, portanto, uma 
ligação entre e a imagem (significado) e o conceito (significado), capaz de 
originar o jogo simbólico, também chamado de faz-de-conta. Nesse caso 
particular há uma comparação entre o objeto dado e o objeto imaginado, nessa 
modalidade de jogo se exercita a forma particular de pensamento que é a 
imaginação. 
 
 Para Piaget, o símbolo nada mais é do que um meio de assimilar o real 
aos desejos e interesses da criança. Durante a sua realização observa-se 
nitidamente que há uma associação entre o significante e o significado capaz 
de favorecer o desenvolvimento da linguagem, quando a fala acompanha a 
ação. 
 XXXI
 Paulatinamente, o jogo simbólico vai cedendo lugar ao jogo de regras, 
porque a criança passa do exercício simples às combinações sem finalidade e 
depois com finalidade. Ao mesmo tempo o exercício torna-se coletivo, podendo 
ser regulado e tendendo a evoluir para o aparecimento de regras que 
constituem a base do contrato moral. As regras supõem relações sociais ou 
interpessoais e envolvem questões de justiça e honestidade. O respeito a elas 
provém de acordos mútuos entre os jogadores, e não pura e simplesmente, da 
mera aceitação de princípios impostos. A regra substitui o símbolo, 
enquadrando o exercício nas relações sociais. 
 As regras são para Piaget a prova concreta do desenvolvimento da 
criança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 XXXII
CONCLUSÃO 
 
 Neste trabalho, podemos perceber que as brincadeiras são muito 
importantes para as crianças. A criança que brinca parece ser mais feliz, além 
disso, tem possibilidades de lidar com seus medos, conflitos e angústias. 
 
 Embora seja recente a valorização dos jogos no contexto educacional, 
surgiram diversas investigações quanto ao seu significado durante o 
transcorrer da infância. As fundamentações encontradas foram as de ordem 
psicológica e sócio-cultural, que são mencionadas em diversas teorias 
publicadas. 
 
 Como vivemos em uma sociedade, tudo que a criança vive torna-se 
conteúdo de suas brincadeiras: sua família, a escola, os meios de 
comunicação,... Um dos meios de comunicação que mais influencia as 
brincadeiras das crianças é a televisão. Esta fornece vários conteúdos para as 
crianças, podendo-se criar em cima deles. Toda a nossa cultura influencia as 
atividades lúdicas das crianças; pois elas podem desempenhar papéis sociais, 
imitando algum “modelo” que pertence ao seu cotidiano. 
 
 Quanto ao bebê, de acordo com Piaget, podemos classificar os seus 
jogos como jogos de exercício, que vão até aproximadamente os dois anos de 
idade. Esses jogos estão voltados para a exploração do corpo do bebê e mais 
tarde para o corpo da mãe e dos objetos que o cercam. 
 
 Quando surge a linguagem, aparecem os jogos simbólicos, que vão até 
os seis ou sete anos de idade. Estes jogos caracterizam-se pela invenção de 
um objeto que não está presente, porque este surge da imaginação das 
crianças. 
 XXXIII
 Em torno dos três a quatro anos, afirma Piaget, as crianças nas suas 
brincadeiras apresentam características dos jogos simbólicos e suas 
brincadeiras se tornam combinações simbólicas. Estas podem ser 
combinações simples, compensatórias, liquidantes e antecipatórias, cada qual 
com a sua função; portanto todas estão presentes nos jogos simbólicos. 
 
 Mais tarde, em torno de seis ou sete anos, surgem os jogos de regras, 
que acompanham o indivíduo por toda a sua vida. 
 
 As crianças se interessam muito por jogos e brincadeiras e, sabendo 
que a aprendizagem está ligada a motivação de cada um, podemos perceber 
que, através destas atividades lúdicas, as crianças se concentram e aprendem 
muito mais. 
 
 Muitos professores utilizam algumas brincadeiras para transmitir algum 
conteúdo, porém estas se tornam direcionadas. Embora possa até despertar 
maior interesse na turma, é muito importante que as próprias crianças criem 
suas brincadeiras, façam suas escolhas, desenvolvendo a criatividade. Um 
ambiente propício para essas atividades são os multimeios onde há uma 
diversidade de materiais que permitem a criação através das brincadeiras. 
 
 Nas brincadeiras, as crianças interagem e se socializam, trocando 
esquemas sociais e desenvolvendo suas habilidades. Com as brincadeiras em 
grupo, as crianças vão percebendo que para participar de qualquer grupo 
social precisamos ter regras, inclusive brincando e jogando. As regras servem 
para definir os papéis ou o desenrolar das brincadeiras. 
 
 Os próprios brinquedos trazem consigo valores e modos de pensar de 
nossa sociedade. A sociedade estimula a diferença de sexos através dos 
 XXXIV
brinquedos, diferenciando os brinquedos para os meninos e para as meninas, 
porém as crianças não se importam com tal diferença. Meninos e meninas 
podem brincar com carro ou boneca, ou seja, com qualquer brinquedo. Até 
mesmo, um objeto como, por exemplo, uma tampinha de garrafa, pode virar um 
brinquedo em atividades lúdicas. 
 
 Utilizar brincadeiras com o intuito de despertar o interesse das crianças 
para determinado conteúdo é valido, contudo, é de maior importância que as 
crianças brinquem segundo suas escolhas, seus interesses, sua criatividade, 
para que se desenvolvem cada vez mais em suas potencialidades. O brincar 
espontâneo desperta grande interesse nas crianças, estas se concentram, 
trocam experiências, enriquecendo assim a sua expectativa de vida. 
 
 Considerando toda a evolução dos jogos, pode-se dizer que a educação 
lúdica integrada, na sua essência, é uma concepção prática atuante e concreta. 
O lúdico faz do ato de educar um compromisso consciente, intencional e 
modificador da sociedade. 
 
“Criar é tão difícil ou fácil como viver. E é do mesmo modo 
necessário”. 
 
 
“A criança adquire experiências brincando. A brincadeira é uma 
parcela importante da sua vida. As experiências tanto externas como 
internas podem ser férteis para o adulto, mas paraa criança essa 
riqueza encontra-se principalmente na brincadeira e na fantasia”. 
 Psicanalista e médico inglês D. W. Winnicott (1979) 
 
 
“O lúdico é uma dimensão especificamente humana e o direito ao 
lazer está incluído, pelas nações, entre os direitos humanos”. 
 (Redin, op. Cit:63) 
 
 
 XXXV
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 XXXVII
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 XXXVIII
ENTREVISTA: 
 
1. O jogo pode ser considerado um meio para a auto-expressão da criança? 
Por quê? 
 
 
 
2. Será que brincar significa tão somente recrear-se? 
 
 
 
3. Podemos afirmar que através dos “jogos” e das “brincadeiras” a criança tem 
um melhor desempenho cognitivo, afetivo e social. Explique. 
 
 
 
4. Qual a contribuição das “brincadeiras” em relação à Alfabetização? 
 
 
 
5. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil diz que 
os “jogos” e as “brincadeiras” propiciam a ampliação dos conhecimentos 
infantis por meio da atividade lúdica. Você concorda que a Escola deverá ver a 
“brincadeira” como algo sério?