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Introdução à hepatologia CA PÍ TU LO 1 1. Fisiopatologia 2. Icterícia 3. Enzimas hepáticas Respostas questões de fixação Medaula 3 Introdução à hepatologia INTRODUÇÃO À HEPATOLOGIA Anatomia A anatomia hepática é única e extremamente importante para compreendermos as manifestações das doenças que acometem o fígado e as vias bilíferas. O fígado é uma víscera maciça, localizada na projeção do hipocôndrio direito e classicamente é dividi- do em quatro lobos: direito, esquerdo, quadrado (ante- rior) e caudado (posterior). Esses limites macroscópicos são arbitrários levando-se em consideração pontos de reparo anatômicos macroscópicos. Note que a irrigação hepática é dupla: através da artéria hepática própria e da veia porta. A sua drenagem ocorre através das veias su- pra-hepáticas que tributam para a veia cava inferior. Ou seja, o parênquima hepático é nutrido por sangue arte- rial e venoso que se misturam nos sinusoides hepáticos. Se levarmos em consideração as subdivisões da veia porta, dividimos o fígado em oito lobos. Citamos acima que a veia porta que se dirige para o fígado, mas devemos ter um conceito importan- te: O que é uma circulação do tipo porta? Na verdade trata-se de uma veia porta interpon- do-se entre duas redes capilares. No nosso caso, uma das redes é a proveniente dos territórios drenados pela veia mesentérica superior, pela inferior e pela esplênica, formando a veia porta, enquanto que a outra rede capi- lar venosa localiza-se na intimidade do parênquima he- pático, fruto das ramificações da veia porta. Existe outro sistema porta no organismo localizado entre o hipotála- mo e a hipófise. FIXAÇÃO 1. Medaula - São características anatômicas/morfoló- gicas do fígado: a) Peso entre 2500-3000 g b) Normalmente, a margem inferior desce com 0,5-1 cm abaixo do rebordo costal c) O fígado é dividido em três lobos d) A sua drenagem ocorre através das veias supra-he- páticas Fenômeno de primeira passagem O chamado fenômeno de primeira passagem nada mais é do que as substâncias intestinais recém-ab- sorvidas pelos capilares mesentéricos que ganham o fí- gado através da circulação porta antes de chegarem à circulação sistêmica. Drenagem da bile A drenagem da bile produzida no fígado é rea- lizada através dos canalículos biliares, que formam uma extensa rede que se dirige do centro do lóbulo hepático para a periferia. Esses canalículos desembocam em um ducto biliar, chamado de canal de Hering e se unem for- mando os ductos hepáticos esquerdo e direito. A união desses dois últimos forma o ducto hepático comum. Quando o ducto hepático comum se une ao ducto císti- co proveniente da vesícula biliar, origina o ducto colédo- co, que leva bile ao duodeno desembocando na papila maior (ampola de Vater) após a junção com o ducto pan- creático ou de Wirsung. INTRODUÇÃO À HEPATOLOGIA FIXAÇÃO Medaula4 Introdução à hepatologia FIXAÇÃO 2. Medaula – Assinale a alternativa incorreta: a) Os lobos anatômicos direito e esquerdo do fígado não expressam a distribuição interna da artéria he- pática, da veia porta e ductos bilíferos b) O plano divisório do fígado em lobos funcionais di- reito e esquerdo passa pelo leito da vesícula biliar e o sulco da veia cava inferior c) O lobo funcional esquerdo do fígado inclui também os lobos caudado e quadrado d) O fígado é totalmente recoberto pelo peritônio e) O pedículo hepático é formado pela artéria hepáti- ca própria, ducto colédoco e veia porta Histologia A microscopia hepática revela uma arquitetura geométrica disposta em lóbulos: as unidades funcionais do fígado. O sangue proveniente dos ramos da veia por- ta e da artéria hepática abordam os lóbulos hepáticos pela periferia, ou seja, nos “cantos” de cada polígono, chamado de espaço porta, recebendo o nome de arté- ria e veia interlobulares. Além desses vasos, existem capilares linfáticos e ductos bilíferos, envolvidos por tecido conjuntivo. Dentro dos lóbulos, os hepatócitos se organi- zam em placas superpostas por apenas uma camada. Elas se encontram e se entrelaçam formando espaços entre si que são recobertos pelos capilares sinusoidais. Existe um espaço entre as placas de hepatócitos e os ca- pilares sinusoidais, chamado de espaço de Disse. O sangue proveniente do espaço porta, na peri- feria do lóbulo hepático, dirige-se para o centro do lóbu- lo de forma centrípeta através desses sinusoides hepáti- cos. Eles são fenestrados e compostos por apenas uma camada de células endoteliais e contém as células de Kupfer, que pertencem ao sistema imune. Os hepatóci- tos são nutridos pelo sangue proveniente dos capilares sinusoidais. As células de Kupffer têm função fagocitária e de hemocaterese, através da desintegração de hemá- cias senis, da digestão de hemoglobina e da liberação de bilirrubina. No centro de cada lóbulo hepático encontra- mos capilares venosos centrais, chamados de veias centrolobulares. O sangue proveniente dos capilares si- nusoidais desemboca nessa região, em seguida é trans- portado por tributárias até as veias supra-hepáticas e daí para a veia cava inferior. A drenagem da bile proveniente dos hepatóci- tos é inicialmente feita no próprio espaço entre os hepa- tócitos. Esses espaços são chamados de canalículos bi- liares. Eles formam uma vasta rede que segue em fluxo centrífugo, ou seja, em direção à periferia do lóbulo he- pático, tributando para os canais de Hering. O restante do trajeto já foi citado e vale a pena reler para fixar bem os conceitos. 1. FISIOLOGIA O fígado tem participação essencial em vários processos fisiológicos importantes. Atua sobre o meta- bolismo dos carboidratos, das proteínas, sobretudo da albumina, além de lipídeos e inativação de substâncias tóxicas. Metabolismo dos carboidratos O fígado é responsável pela manutenção dos ní- veis plasmáticos de glicose através de dois mecanismos: a gliconeogênese, ou seja, a formação de glicose a partir de compostos não-açucares (lactato, glicerol e aminoá- cidos); e a glicogenólise, que é a quebra do glicogênio hepático. Os hormônios envolvidos nessa regulação são a insulina, o glucagon, o hormônio do crescimento e al- gumas catecolaminas. As alterações na manutenção dos níveis de gli- cose são comuns na cirrose hepática, cursando com hi- perglicemia e intolerância a glicose. Já a hipoglicemia é mais comum na fase terminal da cirrose e na hepatite fulminante aguda. Alguns fatores que podem provocar hiperglicemia e hipoglicemia: Fatores que provocam hiperglicemia - Redução da captação hepática de glicose - Diminuição da síntese e glicogênio pelo fígado - Resistência hepática a insulina - Shunt portossistêmico FIXAÇÃO Fígado Ducto Hepático Comum Cistico Vesícula biliar Esôfago Ducto Biliar Comum Estômago Pâncreas Ducto Hepá- tico Direito Ducto Hepático Esquer- do Ducto Pan- creático VENULA CENTRAL ducto biliar veia porta hepática área portal ductos biliares SINUSOI- DES Medaula 5 Introdução à hepatologia - Resistência periférica a insulina - Glicogênio aumentado - Cortisol reduzido - Insulina aumentada Fatores que provocam hipoglicemia - Gliconeogênese reduzida - Diminuição das reservas hepáticas de glicogê- nio - Resistência hepática ao glucagon - Hiperinsulinemia pós-shunt portossistêmico FIXAÇÃO 3. Medaula - Após quanto tempo de jejum o fígado passa da degradação de glicogênio (glicogenólise) para a gliconeogênese: a) 48 horas b) 72 horas c) 5 dias d) 10 dias e) Imediatamente no período pós-prandial Metabolismo dos aminoácidos e da amônia O fígado é o principal local de conversão dos aminoácidos provenientes da dieta, da degradação de proteínas endógenas e da própria síntese hepática deproteínas. O resultado do processo metabólico é a for- mação de amônia. Ela é convertida em ureia pelo fígado e também pelos rins. A amônia é extremamente tóxica, principalmente para o sistema nervoso central e está diretamente relacionada com a encefalopatia hepática nos pacientes cirróticos graves. Existem vários mecanismos capazes de aumen- tar os níveis de amônia séricos, podendo desencadear ou agravar a encefalopatia hepática: - A própria insuficiência hepática diminui a con- versão de amônia em ureia, podendo levar a um acúmu- lo plasmático de amônia, causando a encefalopatia he- pática; - No caso de hipertensão portal importante com necessidade de derivação portossistêmica, a amônia absorvida pelo intestino não sofre depuração hepática adequada (mecanismo de primeira passagem). Assim, pode levar ao aumento da sua concentração plasmáti- ca, provocando a encefalopatia hepática. Note que esse efeito pode se sobrepor ao item anterior; - Nos casos que cursam com hemorragia diges- tiva alta, a digestão da hemoglobina forma amônia e também pode se associar ao primeiro item (lembre que a hemorragia digestiva alta é complicação frequente de cirrose hepática); - Hipocalemia e alcalose metabólica: A própria hipocalemia gera alcalose metabólica contribuindo para a encefalopatia hepática em pacientes cirróticos. Com o aumento do pH sanguíneo, ocorre conversão do íon amônio (NH4+), que é hidrossolúvel para amônia (NH3-). Este último é extremamente lipossolúvel, com alta capa- cidade para transpor a barreira hematoencefálica. Além de sintetizar as proteínas de que necessi- ta, o fígado também produz proteínas para outros teci- dos, sendo a albumina a mais importante. Muitos fato- res de coagulação também tem origem hepática. Na avaliação da função hepática de um pacien- te deve-se levar em consideração a meia-vida das pro- teínas. As alterações surgirão nas proteínas com menor meia-vida, como nos casos dos fatores de coagulação, em relação à albumina, por exemplo. Mecanismos de detoxificação Substâncias hidrossolúveis geralmente são ex- cretadas de forma inalterada na urina ou na bile. Já as lipossolúveis tendem a se acumular no corpo, e devem ser convertidas em compostos menos ativos ou mais hi- drossolúveis para então serem excretadas. Os fatores mais importantes para a eliminação de toxinas pelo fígado são: o fluxo sanguíneo hepático, a ligação proteica e a capacidade intrínseca do fígado em eliminar um agente. Esse processo é chamado de “efeito de primeira passagem”. Metabolismo hormonal Além da função de detoxificação, o fígado tam- bém é responsável pela inativação ou modificação de vários hormônios. Então, espera-se que os casos de he- patopatia crônica venham acompanhados, entre outros fatores, de sinais e sintomas de aparente desequilíbrio hormonal.Alguns hormônios que são inativados pelo fí- gado: - Tiroxina e tri-iodotironina - Glicocorticoides e aldosterona - Testosterona - Epinefrina, entre outros Metabolismo dos lipídeos As alterações no metabolismo dos lipídeos no fígado podem ser a causa ou a consequência de uma le- são hepática. Nos casos onde ocorre acúmulo de gordu- ra no fígado (esteatose), principalmente de trigliceríde- os, acaba havendo secreção plasmática de lipoproteínas de baixíssima densidade (VLDL). Além disso, o fígado é a principal fonte endóge- na de colesterol, por captação na dieta ou por síntese. A lipoproteína resultante desse processo secretada no plasma é a de baixa densidade (LDL). Os ácidos biliares são os principais responsáveis pela excreção do colesterol diariamente. O fígado também e a principal fonte de ácidos graxos sintetizados, embora eles sejam armazenados, em grandes proporções, no tecido adiposo. FIXAÇÃO Medaula6 Introdução à hepatologia FIXAÇÃO 4. Medaula - Sobre o metabolismo hepático dos lipí- dios é CORRETO afirmar: a) As células adiposas tem uma capacidade enorme para sintetizar ácidos graxos b) O fígado sintetiza ácidos graxos para garantir o su- porte energético em caso de hipoglicemia c) Os ácidos graxos são armazenados no tecido adipo- so d) Os ácidos graxos no fígado servem somente com suporte energético e) A fome favorece os processos de esterificação dos ácidos graxos Metabolismo das bilirrubinas Origem da bilirrubina Após um período médio de 120 dias, as hemá- cias tendem a ser substituídas no baço. O produto da degradação da hemoglobina é o radical heme e a parte proteica (globina). O radical heme é fracionado em pro- toporfirina e em ferro. A imensa maioria da protoporfiri- na é proveniente da hemoglobina (85%), porém existem outras fontes produtoras como a mioglobina e o citocro- mo P450. A protoporfirina é convertida a biliverdina, que é rapidamente transformada em bilirrubina livre, que é insolúvel e necessita conjugar-se com a albumina para ganhar solubilidade. Essa bilirrubina ligada à albumina é chamada de bilirrubina indireta ou não conjugada. Metabolismo hepático São consideradas três fases hepáticas no meta- bolismo da bilirrubina: - Captação: A bilirrubina inicialmente ligada à albumina e é retida no hepatócito pela troca da ligação dessa proteína para outras proteínas do citoplasma do hepatócito. - Conjugação: Como citado, a bilirrubina livre é insolúvel em água. Após chegar ao citoplasma do hepa- tócito, ela é conjugada com um carboidrato chamado glucoronídeo, através da enzima glucoronil-transferase. Assim, aumenta a solubilidade da bilirrubina na água (hi- drossolubilidade). Essa bilirrubina conjugada é chamada então de bilirrubina direta ou conjugada. - Excreção: O hepatócito excreta a bilirrubina de forma ativa (com gasto de energia) para os canalícu- los biliares. O processo é mais afetado durante a injúria na célula hepática, levando a acúmulo de bilirrubina no hepatócito, que acaba “devolvendo” a bilirrubina para o plasma. Após a excreção hepática Após a fase hepática, a bilirrubina direta percor- re o trajeto das vias bilíferas intra-hepáticas para com- por a bile e ser armazenada na vesícula biliar. De lá, é secretada para o ducto colédoco, o qual leva a bile até o duodeno. No intestino, a bilirrubina direta pode ser con- vertida em urobilinogênio (cerca de 50%) através das bactérias colônicas. A maior parte é excretada nas fe- zes, porém uma pequena parte é reabsorvida no próprio intestino para ser excretada pelos rins. Colúria: Pode ocorrer devido ao aumento exa- gerado de urobilinogênio, nos casos de hemólise com produção exacerbada de bilirrubina ou ainda nos casos de colestase, com acúmulo de ácidos biliares no plasma. Hipocolia fecal: Pode ocorrer nos casos em que a secreção hepática for insuficiente, ou quando a flora bacteriana colônica normal estiver suprimida. 2. ICTERÍCIA Introdução Icterícia é a coloração amarelada das conjun- tivas, mucosas, pele e líquidos orgânicos. A causa mais frequente é a hiperbilirrubinemia. O diagnóstico diferen- cial é realizado com hipercarotenemia, hipotireoidismo, além do uso de fármacos como antibióticos, quimiote- rápicos, antimaláricos, corticoides e imunossupresso- res. Atentar para o fato de que o aumento da coloração amarelada da pele nem sempre indica icterícia, mas uma esclerótica amarelada dificilmente não será causada por icterícia. Os valores de referência são: - Bilirrubina total: entre 0,3mg/dl e1,0mg/dl - Bilirrubina indireta: entre 0,2mg/dl e 0,8 mg/dl - Bilirrubina direta: entre ZERO e 0,2 mg/dl Quando o nível sérico de bilirrubina estiver acima de 2,0 a 2,5 mg/dl, a produção a partir do radical heme ultrapassa seu metabolismo e excreção. A impreg- nação depende da concentração e do tipo de pigmento. No caso da fração conjugada, ocorre uma icterícia mais pronunciada. A encefalopatia ocasionada por impregnação de altasconcentrações de bilirrubina indireta nos núcle- os da base de recém-nascidos é chamada de Kernicte- rus. FIXAÇÃO Medaula 7 Introdução à hepatologia Classificação das icterícias Existem 6 mecanismos que podem produzir a icterícia: - Produção excessiva de bilirrubina (hemólise e alteração da eritropoiese). - Defeito de transporte da bilirrubina (uso de medicamentos pelo mecanismo da competição e recém- nascidos). - Defeito na captação e da bilirrubina (jejum pro- longado, infecção, medicamentos). - Defeito na conjugação da bilirrubina (Síndro- mes hereditárias específicas: Gilbert, Crigler-Najjar I e II, icterícia neonatal). - Diminuição na excreção da bilirrubina (Síndro- me de Dubin-Johnson; Síndrome de Rotor; icterícia co- lestática gestacional; uso de medicamentos, etc). - Colestase (benignas – estenose, calculose, cor- po estranho; ou malignas – tumores). Hiperbilirrubinemia conjugada ou dire- ta A hiperbilirrubinemia predominantemente con- jugada ocorre principalmente por duas situações bási- cas: lesão intra-hepática e lesão extra-hepática (síndro- mes colestáticas). Intra-hepática A hiperbilirrubinemia intra-hepática pode ser di- vidida em hepatocelular e em canalicular. Na primeira, o paciente cursa com um defeito de excreção congêni- to ou adquirido por hepatites, álcool, cirrose, etc. Já a forma canalicular apresenta entre as principais causas o uso de medicamentos (esteroides, clorpromazina), além da cirrose biliar primária, da atresia das vias bilíferas e do colangiossarcoma. Extra-hepática A hiperbilirrubinemia extra-hepática pode ser dividida em benigna e maligna. Benigna: Colecistite, coledocolitíase e atresia das vias biliares. Maligna: Pode ser intrínseca (tumor da papila, do colédoco e da vesícula biliar) ou extrínseca (tumor de pâncreas). Hiperbilirrubinemia predominantemen- te não conjugada ou indireta Superprodução de bilirrubina Ocorre principalmente por superprodução de bilirrubina na destruição excessiva de hemácias (hemó- lise). A quantidade de bilirrubina não-conjugada excede a capacidade do fígado de removê-la. A bilirrubina total fica entre 3-5 mg %, com forte predomínio da forma não- conjugada. O aumento da bilirrubina conjugada pode ser entendido como uma insuficiência da sua secreção para os canalículos biliares que é o passo limitante do processo. Como existe muita bilirrubina não conjugada para ser processada, nem toda bilirrubina conjugada que se forma é secretada para a bile. Parte reflui para o sangue a partir dos próprios hepatócitos, aumentando os níveis séricos de bilirrubina conjugada (normalmente próximos de zero). Decréscimo da conjugação O principal exemplo de hiperbilirrubinemia não conjugada por decréscimo da conjugação é a icterícia fisiológica do recém-nascido. Quase todo RN apresen- ta hiperbilirrubinemia não conjugada aumentada entre o 2º e 5º dia. Ela, geralmente, não excede 5 mg%. O problema ocorre porque a glicuronil-transfe- rase (a enzima de conjugação) ainda esta “imatura”. A enzima pode ser induzida pelo tratamento da mãe ou da criança com fenobarbital. A icterícia fisiológica não está presente ao nascimento porque a placenta retira a bilir- rubina fetal e a transfere ao sangue materno. No prematuro, a icterícia fisiológica pode ser mais acentuada. Se há um processo hemolítico associado, por exemplo, a eritroblastose fetal (incompatibilidade para o fator Rh), o nível de bilirrubina não-conjugada pode atingir 20 mg% ou mais. Como a barreira hemoencefá- lica no RN a termo, e mais ainda no prematuro, é ima- tura, a bilirrubina pode atravessá-la, atingindo o tecido nervoso, onde é tóxica, causando morte de neurônios. O tecido fica impregnado de bilirrubina. A doença recebe o nome de kernicterus (kern em alemão significa núcleo) e causa crises convulsivas, sendo fatal ou deixando gra- ves sequelas para a criança. Distúrbios do metabolismo da bilirrubi- na (categorias) Icterícia hemolítica a Redução da sobrevida dos eritrócitos a Aumento da produção de bilirrubina não con- jugada ou indireta a Com frequência há também aumento discreto da fração conjugada a Presença de reticulócitos na circulação e au- mento do urobilinogênio fecal a Queda da hemoglobina plasmática - anemia a Aumento da LDH (desidrogenase láctica): indi- ca rompimento de eritrócitos Icterícia por defeito enzimático a Captação hepática de bilirrubina está compro- metida. O defeito pode estar na dissociação da albumina, no transporte através da mem- brana ou na ligação à ligandina a Elevações pronunciadas dos níveis séricos de billirrubina não conjugada (indireta) Hepatites virais CA PÍ TU LO 2 1. Introdução 2. Quadro clínico 3. Laboratório 4. Hepatite A 5. Hepatite B 6. Hepatite C 7. Hepatite D 8. Hepatite E Respostas questões de fixação Medaula 9 Hepatites virais HEPATITES VIRAIS 1. INTRODUÇÃO As hepatites virais possuem um amplo espectro de manifestações clínicas, podendo ser agudas ou crô- nicas. A maioria dos casos de hepatites agudas se ma- nifesta de forma autolimitada, com período médio de 1 a 2 meses podendo persistir por até 6 meses. Raramen- te uma hepatite aguda evolui de forma desfavorável. Quando isso ocorre, estamos diante de um quadro de insuficiência hepática fulminante, com graves consequ- ências para o paciente. A lesão hepática derivada da hepatite viral que persiste por período acima de 6 meses é considerado hepatite crônica. Geralmente nesses casos, existem poucos ou nenhum sintoma no paciente e via de regra o diagnóstico é feito através de métodos complementa- res (laboratoriais e biópsia hepática). Os tipos mais comuns de hepatites são aqueles causados pelos vírus A, B, C, D e E. Outros vírus podem causar lesão hepatocelular (CMV, Epstein-Barr, herpes simples, rubéola, etc.). Mesmo assim, em alguns casos não é possível determinar a etiologia da hepatite e nes- ses casos a hepatite é chamada de idiopática. No quadro abaixo, temos as principais caracte- rísticas dos vírus causadores de hepatites: HEPATITES VIRAIS VÍRUS Incubação Formas Crônicas Transmissão A 2 a 4 semanas Não cronifica - Fecal-Oral B 4 a 22 semanas Recém-nascidos 90% Crianças até 50% Adultos até 10% - Vertical - Relação Sexual - Percutânea - Transplante de Órgãos - Hemotransfusão C 2 a 26 semanas Adultos 85% - Desconhecido 45% dos casos - Relação Sexual (menor que o vírus B) - Hemodiálise - Hemotransfusão D - Sim - Sempre necessita do Vírus B - Percutânea - Relação Sexual E 2 a 8 semanas Não Cronifica - Fecal-Oral 2. QUADRO CLÍNICO Podemos considerar que os sintomas apresen- tados pelo paciente durante o desenvolvimento de he- patite podem ser divididos em três fases: pródromos ou sintomas gerais, icterícia e convalescença. Vejamos abai- xo: Pródromos ou sintomas gerais São sintomas inespecíficos, comuns a diversas doenças. Não se restringem ao sistema digestório e in- cluem: mal-estar, astenia, náuseas, anorexia, vômitos, diarreia, artralgias, mialgias, tosse, coriza, cefaleia, com ou sem febre branda, desconforto abdominal com hepa- tomegalia dolorosa e esplenomegalia eventual associa- da, glomerulonefrite (principalmente causada pelo vírus B), artrite, perversão alimentar, etc. Icterícia É uma fase que pode ou não acontecer! Quando ocorre, o paciente em poucas semanas evolui com icte- rícia de padrão colestático com colúria, hipocolia fecal e prurido. Convalescença Ocorre a melhora dos sintomas e associa-se à possibilidade de cura ou cronificação da doença – im- portante lembrar do período de 6 meses no mínimo de acompanhamento para a confirmação da resolução do caso. 3. LABORATÓRIO As alterações laboratoriais nas hepatites virais refletem a lesão hepatocelular, com alteraçõesmais sig- nificativas na fase aguda e menos proeminentes na fase crônica. Essas alterações apesar de importantes não são características apenas das lesões hepáticas causadas por vírus. O hemograma encontra-se alterado na fase aguda com alterações típicas de infecção viral, caracte- rizada por leucopenia e linfocitose. Casos de leucocitose ocorrem geralmente na hepatite aguda fulminante. Medaula10 Hepatites virais É característico o aumento das transaminases hepáticas em valores até acima de 10 vezes o valor de re- ferência, com leve predomínio de ALT em relação à AST, associado ao aumento de bilirrubina com predomínio da fração direta, devido principalmente à lesão do hepató- cito ao nível da excreção da bile para os canalículos bilia- res. Nas hepatites crônicas, o aumento das amino- transferases é menos pronunciado, em torno de 1,5 a 5 vezes em relação aos valores de referência, ainda com predomínio de ALT sobre a AST. Quando ocorre a inver- são desta relação, com predomínio da AST sobre a ALT, aventa-se a possibilidade de cirrose, doença avançada ou lesão hepática conjunta com o álcool. O aumento das enzimas canaliculares como a γ-GT e a fosfatase alcalina na fase aguda é moderado, com diminuição para valores normais ou próximos do normal na forma crônica. A albumina e a atividade de protrombina per- manecem normais, exceto nos casos de hepatite aguda fulminante forma aguda ou no caso de cirrose descom- pensada forma crônica. Devemos ter cuidado para não confundirmos os termos “Hepatograma” e “Provas de função hepáti- ca”, apresar de serem muito parecidos. Observe: Hepatograma - Enzimas hepáticas - AST e ALT, fosfatase alcali- na, γ-GT; - Albumina; - Tempo de protrombina com INR; - Bilirrubinas; - Dosagem sérica de amônia. Desses todos citados anteriormente, apenas as enzimas hepáticas não entram nas provas de função he- pática, apesar de pertencerem ao hepatograma. FIXAÇÃO 1. Centro Médico de Campinas – SP - Podemos avaliar a função hepatocelular com os seguintes exames, EXCETO: a) Bilirrubinas b) Transaminases (AST e ALT) c) Coagulograma d) Tempo de protrombina e) Albumina sérica FIXAÇÃO Diagnóstico sorológico das hepatites Sinopse dos testes sorológicos para as hepatites agudas Interpretação HBsAg IgM anti-HAV IgM anti-HBc Anti-HCV Hepatite B + - + - Hepatite B crônica + (> 6 meses) - - - Hepatite A aguda superposta à hepatite B crônica + + - - Hepatites agudas A e B + + + - Hepatite A aguda - + - - Hepatite C aguda - - - + 4. HEPATITE A Trata-se de um vírus de RNA com capsídeo, des- provido de envelope, do grupo Picornaviridae, gênero Hepatovírus sorotipo único, com acometimento geral na faixa etária entre 5-14 anos e normalmente quando há contágio de adultos, foi gerado a partir de contato com criança contaminada. Patogênese e contágio da hepatite A A principal via de contágio é a fecal-oral por contato interpessoal ou por água e alimentos contami- nados. A incidência e a prevalência da hepatite A tem correlação direta com as políticas de saúde, principal- mente de saneamento básico. Dessa forma, essa doença é mais comum em países pobres. A hepatite A é uma doença eminentemente aguda, ou seja, após a passagem dos estágios de pródro- mos, da fase ictérica e da convalescença não existirá o estado de portador crônico assintomático. Por se tratar de vírus com sorotipo único, a imunidade é duradoura e eficaz após o contato. A patogênese ainda não é com- pletamente conhecida, mas sabemos que o vírus da he- patite A (HAV) não é diretamente citopático e pode ter correlação com a resposta imune do paciente. Clínica da hepatite A O quadro clínico geralmente é autolimitado.
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