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FUNÇÃO HEPÁTICA Funções do fígado · Metabólicas · Regular o suprimento energético: principal fonte de glicose endógena sérica (produz glicose através da gliconeogênese) · Metabolismo proteico: síntese de proteínas, principalmente albumina sérica (albumina só é sintetizada no fígado) · Metabolismo lipídico hepático: biossíntese e metabolismo de ácidos graxos, biossíntese de colesterol (70% do colesterol que circula pelo organismo é sintetizado pelo fígado os outros 30% vem da dieta, da gordura dos alimentos) · Metabolismo dos sais biliares · Metabolização da amônia na formação da ureia: ciclo da ureia, muito importante pois a amônia é neurotóxica, então seu acúmulo no organismo pode levar a encefalopatia · Armazenamento de vitaminas A, D, B12 · Síntese e metabolismo dos hormônios sexuais · Participar dos mecanismos moleculares envolvidos na síntese e metabolismo de fatores de coagulação (fibrinogênio, protrombina, fator V, VII e vários outros fatores) · Excretoras · Secretar e clarear substâncias, enzimas, valendo-se de sua capacidade de reciclar, inativar e excretar: é local de eliminação de substâncias tóxicas (detoxicação) e metabolização de vários medicamentos (todos os medicamentos que tomamos vão para o fígado e através do citocromo P450 faz a metabolização e ativação) · Defesa · Atua como órgão mantenedor da homeostase imunológica, tem várias células que são de defesa: células endoteliais sinusoidais e de Kupffer, hepatócitos, linfócitos intra-sinusoidais, células estelares. · Liberando citocinas ou linfocinas, participantes dos mecanismos corpóreos de defesa, eliminando antígenos ou patógenos que atingem o fígado através do sistema venoso portal · Temos trilhões de bactérias no aparelho digestivo e elas produzem produtos bacterianos. Esses produtos vão para o fígado, pois toda drenagem do aparelho digestivo é feita pelo sistema porta, lá ele elimina os antígenos e patógenos Obs.: Pacientes que perdem a função no fígado são imuno-comprometidos. 50% dos pacientes que tem doença crônica do fígado morrem de infecção Anatomia do fígado · Para manter as funções metabólicas, de excreção e de defesa ele deve manter a arquitetura histológico (lobular). · 70% do sangue que chega ao fígado vem pela veia porta, 30% pela artéria hepática · Em verde na imagem são os canalículos biliares · Espaço porta (na ponta de cada hexágono): um ramo da veia porta, um ramo da artéria hepática, um ramo do canalículo biliar e um ramo do linfático · Hepatites, qualquer uma que seja, modifica essa estrutura. Na forma aguda o fígado volta a ser como era depois, na forma crônica há uma distorção dos lóbulos · Os lóbulos são separados por placas limitantes Doenças que geralmente atingem o fígado · Genericamente chamadas de hepatites · Definição · Lesão necroinflamatória do fígado · Pode ser aguda ou crônica · Aguda: lesão inflamatória difusa do parênquima hepático (pega o fígado como um todo), podendo manifestar-se por sintomas, sinais (ou não) ou evidências bioquímicas de necrose hepatocitária. Geralmente ura semanas a 1 mês · Crônica: quando a hepatite dura mais de 6 meses. Lesão inflamatória comprometendo o espaço porta, invadindo (lentamente) ou não o restante do parênquima hepático, geralmente assintomática (apenas com evidências bioquímicas e/ou histológicas de necrose hepatocitária e fibrose) e pode evoluir para formas mais graves como cirrose. · Hepatites virais (A, B, C, D e E): são chamados de vírus hepatotrópicos, que são vírus que ficam localizados no fígado · Outras viroses: esses vírus só passam pelo fígado. A mais grave é a febre amarela. COVID-19 também causa uma hepatite · Febre amarela é grave, 40% dos pacientes evoluem para destruição maciça ou submaciça. Há necrose inflamatória grave, some os hepatócitos. Chance de morte de 80%, precisa rapidamente de transplante. · Hepatites agudas graves: perde a função metabólica, não sintetiza mais glicose e o doente entra em hipoglicemia, não sintetiza os fatores de coagulação e o doente começa a sangrar, e não metaboliza amônia paciente entra em coma hepático. Isso é muito raro. E mesmo nessas graves 10% consegue ainda viver e o fígado volta ao normal. · Hepatite crônicas: Teve uma hepatite e não curou. É um processo inflamatório lento (anos) e progressivo. Agressão à placa limitante, é por esse caminho que as células inflamatórias vão avançando sobre o parênquima hepático. Por ser lento e progressivo as células de defesa (estreladas) são estimuladas por anos até que começam a fazer regeneração por fibrose. O fígado vai fibrosando e em seu estágio final é chamado de cirrose. · Cirrose hepática: · É um processo patológico inflamatório difuso e crônico do parênquima hepático caracterizado por 2 componentes: · Fibrose hepática · Rearranjo da arquitetura lobular nos chamados “nódulos de regeneração” · Hipertensão portal: fibrose comprime os ramos da veia porta · Nódulos de regenação: leva anos, as vezes a pessoa nem sabe que tem isso · Fibrose grau 5 não tem retorno paciente tem que ser transplantado, não há outro tratamento · Fígado perde a elasticidade, fica duro, diminui de tamanho, colaba, sangue passa com dificuldade · Macronodulares: geralmente infecções virais crônicas, por vírus hepatotrópicos (hepatite B ou C que não curou) · Micronodulares: geralmente por cirrose alcoólica Ascite/hipertensão · Forma clínica terminal: · Circulação colateral, porque o sangue não consegue passar pelo fígado, então abre veias superficiais para manter o retorno venoso · Hérnia umbilical · Homens ficam feminilizados: cria mama, cai os pelos, atrofia testicular, etc. Porque não metaboliza mais os estrogênios Avaliação laboratorial hepática · Não existe nenhum teste laboratorial isolado capaz de avaliar todas as funções do fígado · A utilização de vários testes melhora a sensibilidade e a especificidade na detecção de doenças relacionadas ao sistema hepatobiliar · Avaliação de lesão hepatobiliar (hepatócito e via biliar) · Avaliação da função hepática · Hepatograma: vê quase tudo · Obs.: O fígado tem 3 estruturas anatômicas principais: os hepatócitos, os ramos da veia porta e os canalículos biliares. · Doença só dos hepatócitos: hepatites · Doença só do sistema porta (intra ou extra-hepático): esquistossomose (nos intra-hepáticos portais) · Doença só na via biliar: colangiopatias · Precisa fazer teste para saber qual estrutura está a doença · Tem que fazer exame de imagem, começa com USG, eventualmente vai precisar de TC ou até mesmo RM. Não tem como saber só com exames laboratoriais, pois precisa ver a arquitetura lobular. Avaliação de lesão hepatobiliar · Bilirrubinas · Fosfatase alcalina: uma enzima de excreção · Gamaglutamil transpeptidase (gama GT): enzima de excreção · Aminotransferases (transaminases): vê a lesão necroinflamatória do hepatócito · Dá para avaliar hepatócito e via biliar. · Uma hepatite mexe com isso, pois hepatites agudas são processos necroinflamatórias, o fígado cresce comprime todas aquelas estruturas, dificulta drenagem da bile, da gama GT, elas estarão elevadas como as aminotransferases, não são excludentes. · Pode só ter alteração na fosfatase da gama GT que indica que deve ser um problema biliar intra-hepático, uma colangiopatia. · Esses dados devem ser interpretados de acordo com o quadro clínico, a história, o exame físico. E precisa do exame de imagem também para o diagnóstico. Bilirrubina · Bilirrubina é formada na destruição natural das hemácias. Hemácias duram 120 dias, são levadas ao baço. · O baço quebra a hemoglobina no grupamento heme, a globina volta para formar novas hemácias. Através do processo no plasma ele faz a conversão (com a enzima biliverdina redutase) de uma parte do grupamento heme em biliverdina e depois com outra enzima transforma biliverdina em bilirrubina indireta. · Do sangue vai em direção ao fígado onde vai ser conjugada. É carregada pela albumina. No fígado é transformada em bilirrubina direta. E é excretada na via biliar normalmente, cai no canalículo biliar na sua forma conjugada e vai parao intestino. · Uma parte sai na urina, na forma de unobilinogênio. · No intestino delgado, por ação bacteriana, se transforma em estercobilinogênio que dá a cor amarronzada para as fezes. Obs.: Se tiver uma doença que diminui a liberação para o canalículo biliar, como inflamação dentro dos hepatócitos, o paciente fica ictérico · Hiperbilirrubinemia · Conjugada ou direta: · Doença hepatobiliar (hepatites e cirroses) · Colestases (intra-hepática ou extra-hepática) · Não conjugada ou indireta: · Hemólises · Imaturidade enzimática · Defeitos congênitos (captação e conjugação) · Icterícia: se é por hiperbilirrubinemia conjugada vai dar colúria (urina com cor de coca cola). Se a urina tiver com coloração normal é hiperbilirrubinemia não conjugada (não é lipossolúvel, por isso não sai na urina) Fosfatase alcalina · Localiza-se nas células dos ductos biliares, osso, intestino e placenta · Isoladamente é um teste inespecífico em relação as doenças hepatobiliares · Pode elevar-se na gestação, em doenças ósseas e nas doenças inflamatórias intestinais · A determinação se a elevação da FA é produto de doença hepatobiliar ou não, pode ser feita pelo seu fracionamento eletroforético (um exame caro, de difícil acesso) ou pela dosagem simultânea da gama GT (vem no hepatograma). -> Se a gama GT está alterada analisa também a FA, se as 2 estão elevadas pode ser doença no ducto biliar -> Se a FA está elevada e a gama GT não, não deve ser doença no fígado, pode ser no osso, intestino ou placenta. · É uma enzima de excreção hepática · Não distingue entre colestase intra ou extra-hepática · Se é colestase intra-hepática não distingue se é biliar ou hepatocelular · Valores normais – 40 a 130 UI/L · Os valores podem estar elevados · Causas hepatobiliares: · Causas hepatocelulares (hepatites): aumento leve a moderado (ate 3x o valor normal) · Aumento marcante (3 a 10x o valor normal) · Obstrução extra hepática das vias biliares · Colestase intra-hepática (induzida por drogas, colangite biliar primária, ductopenias e neoplasias) Gama GT · É uma enzima microssomal de excreção hepática · É um indicador sensível, embora inespecífico de doença hepatobiliar quando é usado isoladamente · Seu principal papel é melhorar a especificidade hepática da elevação da FA · Trata-se de enzima microssomal podendo elevar-se no soro por ação de agentes indutores do sistema microssomal hepático (uso abusivo de etanol, barbituratos- medicamentos para epilepsia, e fenitoína) · Valores normais de 40 U/l Aminotransferases · São enzimas que se localizam no interior dos hepatócitos · ALT (antiga TGP): alanina aminotransferase. Mais específica do fígado · AST: aspartato aminotransferase. Está presente no coração, músculo esquelético, rins e cérebro · São excelentes marcadores de lesões necroinflamatórias dos hepatócitos · Valores normais ate 40 U/I · A elevação das aminotrasnferases não guarda relação com o grau de lesão hepática. Portanto não tem valor prognóstico. Pode ter uma hepatite aguda com 3000 de aminotransferase e o paciente estar aparentemente bem. E pode ter também paciente cirrótico com aminotransferase normal. · Queda nos níveis das aminotransferases no transcurso de uma hepatopatia aguda: · Queda esperada nos pacientes que se recuperam da sua hepatopatia · Traduzir escassez de hepatócitos viáveis após extensa necrose (hipoglicemia, coagulopatia e elevação das bilirrubinas). Destruiu tudo e não produz mais aminotransferases. insuficiência hepática grave Testes de função hepática Grau de fibrose- 1,2,3,4- albumina e fatores de coagulação normais. F4 e F5 já é fibrose intensa está sintetizando mal albumina e fatores de coagulação. · Albumina · Tem 3 funções principais · Manter a pressão coloidosmótica (que segura os líquidos dentro dos vasos) · Transportar substâncias (íons, bilirrubina, hormônios e drogas) · Armazenar aminoácidos · Só é sintetizado no fígado – sua dosagem reflete a capacidade de síntese do fígado (função hepática) · É um bom marcador de gravidade de doença hepática crônica, sendo menos sensível para a doença hepática aguda (as vezes o paciente morre e a albumina ainda está normal por causa da sua meia-vida prolongada) · Sua meia-vida é prolongada (cerca de 20 dias) e podem não refletir a função hepatocelular atual · Os hepatopatas crônicos também costumam ter elevações inespecíficas das globulinas séricas · Fatores de coagulação · O fígado tem papel central no hemostasia: · Sintetiza a maioria dos fatores e inibidores de coagulação, além de algumas proteínas do sistema fibrinolítico · Doenças hepáticas severas (agudas ou crônicas) costumam cursas com alterações na coagulação. A meia-vida é rápida por isso dá para analisar em agudas. · Os fatores de coagulação também refletem a função de síntese do fígado · Tem meia-vida curta, prestando-se para o diagnóstico e acompanhamento da insuficiência hepática aguda · O fígado produz a maior parte dos fatores de coagulação: · I (fibrinogênio); II (protrombina); V; VII; IX; X · À exceção do I e V todos dependem de vitamina K para sua síntese, que não é produzida no nosso organismo e precisa ser absorvida da dieta (carne vermelha é rica em vit K) · A falta de fatores da coagulação pode ocorrer por perda da função dos hepatócitos, mas também por falta de “matéria prima” (vit K) para sua síntese Vitamina K: · É lipossolúvel · Necessita de sais biliares para sua absorção intestinal. Se a secreção de sais biliares para dentro do intestino for insuficiente, resulta uma absorção inadequada da vitamina K · Pode reduzir sua concentração sérica de forma significativa nos quadros colestáticos (ictéricos) · O fator V que independe da vit K pode servir para diferenciar a insuficiência hepatocelular da deficiência dessa vitamina. · O tempo e a atividade da protrombina (TAP), por representarem a etapa final da cascata da coagulação, são universalmente aceitos como testes de avaliação dessa coagulação. Normal é acima de 70%, se começar abaixar é porque o fígado está ruim. · TAP normal é indicação segura de boa concentração dos fatores da coagulação e boa função da síntese pelo fígado. · Dosa albumina e TAP, os 2 normais= fígado normal, função preservada · Albumina normal= acima de 3,5 · Cirrose clínica descompensada nem precisa fazer esses exames. Alterações nos leucócitos e plaquetas · Hiperesplenismo (esplenomegalia congestiva): Aumento da pressão do sistema porta retrogradamente, então todo sistema que forma veia porta vai ficar congestivo, baço vai crescer e aumentar atividade- sequestro e destruição de células do sangue periférico. · Anemia: hemocaterese aumentada · Leucopenia: 1500 a 3000 cél/mm3 · Trombocitopenia: (raramente) é grave < 80000 plaquetas Obs.: Isso é visto no hemograma · A redução na quantidade de plaquetas no sangue (plaquetopenia) é comum em portadores de doenças hepáticas crônicas por 5 mecanismos principais: · Aumento do sequestro e destruição pelo baço aumentado (hiperesplenismo), · Redução na produção pela medula óssea, · Deficiência de ácido fólico · Destruição por mecanismos imunológicos (presença de anticorpos circulantes – IgG anti-plaquetas) · Por coagulação intravascular disseminada e consequente aumento do consumo de plaquetas (é uma síndrome clínica mal caracterizada, que consiste na ativação sistêmica da coagulação sanguínea, com a conseguinte formação e deposição de fibrina, provocando trombose microvascular e disfunção isquêmica de diferentes parênquimas). · Como a quantidade de plaquetas reflete e é grosseiramente proporcional ao grau de hipertensão portal (que leva à esplenomegalia e ao sequestro de certo modo proporcional ao aumento do baço), que por sua vez também é proporcional ao grau de fibrose hepática, a dosagem de plaquetas tem sido utilizada como método indireto de avaliação do grau de fibrose hepática e como preditor do risco de surgimento de varizes gastroesofágicas Outras alterações laboratoriais · Alfa fetoproteína · Essa proteína também pode ser dosada e estar elevada em 70 a 90% doa pacientes com carcinoma hepatocelular; apesar deter valor limitado (também está aumentada na hepatite crônica em atividade), a associação da dosagem de alfa-fetoproteína e exame de imagem (preferencialmente USG) é recomendada a cada 6 meses (ou a cada 3 meses em indivíduos de maior risco) em paciente cirróticos para o diagnóstico precoce de carcinoma hepatocelular, procurar por nódulos malignos (dá para saber se é maligno em RM com contraste hepato-específico) que se houver o paciente passa na frente para fila de transplante Obs.: a cirrose por si só é carcinogênica e as principais causas de cirrose (hepatite viral B ou C e alcoolismo) todas são oncogênicas.
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