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Relatório bioetica

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INTRODUÇÃO
A bioética estuda os problemas éticos ligados às pesquisas em biologia e medicina e às suas aplicações. Ela discute, portanto, as implicações morais (o que é certo, o que é errado) das aplicações da medicina e da biotecnologia. Assim, a bioética procura responder às questões de cunho ético e moral, como por exemplo clonar um ser humano, usar células de embriões em fase inicial de desenvolvimento para o tratamento de doenças, escolher por parte dos pais o sexo e outras características da criança, entre outras questões polemicas. 
Isso deve-se a recente divulgação do final dos trabalhos de sequenciamento do genoma humano que trouxe um importante questionamento com relação às consequências deste novo conhecimento. Ao mesmo tempo que gera a esperança de cura de muitas doenças de origem genética, gera também muitas especulações - algumas gratuitas, outras não - sobre a possibilidade de um uso indesejável do conhecimento genético. A reflexão sobre os caminhos a que a engenharia genética pode levar e os impactos que esta tecnologia - e a ciência de um modo geral -- pode ter na sociedade também são de importância para o tema discutido.
O filme GATTACA fala sobre um jovem que, apesar de suas imperfeições, V tem uma determinação que lhe permite vencer suas limitações, ir para o espaço (talvez uma metáfora para a capacidade de escapar do peso do corpo, isto é, de suas deficiências genéticas) e até vencer seu irmão mais "perfeito" em uma aposta de natação. A força de Vincent viria então de uma capacidade de livre arbítrio, capaz de modificar seu "destino genético".
Logo, este relatório tem como objetivo evidenciar que os genes são um dos fatores que influem em nossas características. Além disso o ambiente - em sentido amplo, o que inclui a cultura e os fatores psicossociais - também deve ser levado em conta. Além disso, o fato de que podemos prever as conseqüências de nossas ações - inclusive em um futuro distante -, aumenta nosso poder de modificar nosso comportamento, ou seja, o que preconiza a bioética.
DESENVOLVIMENTO
O filme Gattaca – A Experiência Genética, de Andrew Niccol (1997) é um caso exemplar. Apesar de ser um filme de ficção-científica deixa claro sua intertextualidade. A partir de um certo momento, Gattaca parece se tornar um filme policial ou de suspense quando a trama narrativa se desloca para a busca do assassino de um dos diretores da corporação Gattaca. No desenrolar da trama, todo o suspense se concentra no personagem Vincent Freeman, um Inválido condenado pelo seu código genético a tarefas degradantes (Freeman significa, literalmente, “homem livre”). 
Gattaca retrata uma sociedade de classe cuja técnica de manipulação do código genético tornou-se prática cotidiana de controle social. Vincent é um jovem ambicioso, que almeja ir além do seu destino genético e decide assumir a personalidade de Jerome Morrow, um Válido que, em virtude de um acidente, ficou paralítico. 
Utilizando os serviços clandestinos de um “pirata genético”, Vincent clona os registros genéticos de Jerome. Sua ambição é driblar as restrições de classe e se integrar na elite intelectual e moral de Gattaca e realizar seu maior sonho: ir para o planeta Titã, satélite de Júpiter (seria uma alegoria de fuga do sistema do capital, de agudo cariz regressivo, tal como um "retorno ao útero materno"?). 
No final, a trama de Gattaca sugere um drama familiar, no estilo de East of Eden, de Elia Kazan (com James Dean), quando Vincent encontra em Gattaca, seu irmão Anton, que descobre a verdadeira personalidade de Jerome e ameaça denuncia-lo. Torna-se claro, mais uma vez, a rivalidade entre irmãos (que é, no filme, a transfiguração de uma rivalidade de classe, cabe salientar): um, “filho de Deus”, nascido do acaso da Natureza, outro, produto de um planejamento genético qu]ase perfeito.
O que se observa é que o tema da técnica de manipulação genética perpassa todo o drama policial (e familiar) de Gattaca. Apesar do mais alto controle social garantido pelo registro genético, a espécie humana continua a mesma: dividida em classes sociais e se utilizando de subterfúgios escusos e clandestinos para atingir seus interesses egoístas. Ao lado dos mais sofisticados recursos de manipulação genética, que hoje estão se tornando realidade pelos avanços da engenharia genética e da biologia molecular, assistimos a um jogo de ambição e fraude, seja a de Vincent para ter acesso à corporação Gattaca e realizar seu sonho de tornar-se astronauta; ou do diretor Josef, de Gattaca (representado pelo escritor Gore Vidal, num papel especial), que assassina outro diretor num jogo de poder. 
Numa sociedade de controle social quase-absoluto, os “de baixo” apelam para fraudes sutis, clandestinas, como forma de resistência individual ao totalitarismo do destino genético. Nesse ambiente de resistência individual, pode-se perceber certa solidariedade entre os “de baixo”, como a atitude condescendente do faxineiro Caesar (representado por Ernest Borgnine) ou pelo médico Lamar, que aparentam certa simpatia pelos ideais transgressores de Vincent/Jerome. 
O filme se passa na corporação Gattaca, mas poderia se passar num Campo de Concentração ou numa sociedade totalitária qualquer. E Vincent representa o herói americano – um anti-herói ao estilo de Charles Chaplin? - em sua luta contra o sistema, agora representado pelos imperativos categóricos da eugenia social. A ambição individualista de Vincent é que conduz a trama. A sua luta é contra o destino de classe – ou casta? - agora demarcado, graças ao avanço da técnica, pelo estigma do destino genético. É um destino genético produzido pelo homem, mas que, na medida em que é produto de um afastamento das barreiras naturais – o domínio do código da vida - numa sociedade de classe, tende a tornar-se uma “segunda natureza”. É contra essa “segunda natureza”, produzida pela manipulação técnica, que Vincent se revolta e busca uma saída individual.
Na ótica do Cinema de Hollywood, as saídas são individuais, apesar do drama possuir, antes de tudo, conteúdo de classe. A sociedade do capital, baseada na divisão hierárquica do trabalho, dividida em classe, com o desenvolvimento da técnica, tende a incorporar novas determinações de poder e de controle cada vez mais rígidas e com um lastro natural (pode-se, nesse caso, considerar mesmo uma divisão de classe, no sentido clássico, ou sim, uma divisão em casta ou de acordo com o sangue, bem ao estilo das sociedades tradicionais?). 
Em Gattaca, os proletários seriam os Inválidos, os Condenados da Terra. Apesar disso, a atitude arrogante do verdadeiro Jerome diante de um policial que o interroga, numa certa passagem do filme, sugere que, mesmo entre os Válidos existe uma certa hierarquia de classe - a não ser que os policiais, guardiães da Ordem genético-fascista da sociedade de Gattaca, sejam da classe dos Inválidos. Não podemos culpar a técnica em si, mas a forma social que a desenvolve e se apropria dela. 
Gattaca sugere o dualismo Acaso (ligado a “primeira natureza”) versus Planejamento (imperativo da “segunda natureza”). Pode-se apreender no filme, certa nostalgia de um passado distante em que um fio de cabelo era apenas um fio de cabelo (ou uma mera lembrança afetiva), e não um registro genético capaz de denunciar a identidade de classe das pessoas, através de exame de DNA. A luta de Vincent não é apenas contra o Sistema de Gattaca, mas contra si mesmo, contra seus fluidos e restos corporais capazes de denúncia-lo como Inválido. É o estranhamento assumindo proporções abismais, atingindo o próprio ser orgânico do homem, objeto de uma rede controlativa, de uma “grade”, talvez uma nova forma deciberespaço, capaz de aprofundar o controle social do capital.
Mas apesar do clima totalitário, o filme expõe as falhas irremediáveis de Gattaca e do seu sistema de controle. Contra a técnica que supostamente desumaniza o homem, na verdade, já desumanizado pelo capital, o diretor e roteirista Andrew Niccol sugere uma “natureza humana” recalcitranteàs imposições sistêmicas.
A perspectiva do filme Gattaca é tipicamente americana, mas o final não é propriamente um final feliz. O destino trágico do verdadeiro Jerome,que comete suicido se incinerando num auto-forno no exato momento em que Vincent parte para Titã, não deixa de ser um protesto contra a sociedade de Gattaca, que exclui como lixo humano todos os Inválidos, agora num sentido amplo, sejam eles de nascimento, sejam eles por incapacidade adquirida. E o sonho de Vincent (ir a lua Titã), não deixa de ser singelo e desesperador. É como se o único herói do filme busca-se lá fora o sentido da vida. Seria a sociedade de Gattaca uma “gaiola de ferro”, no sentido weberiano, ou seja, uma alegoria da sociedade (pós)-moderna, uma sociedade de classe em que só restaria, para as pessoas, adaptar-se, se auto-incinerar ou então viajar para Titã (se conseguir, é claro, apresentar-se como um Válido) ?
CONCLUSÃO
     O filme mostra a humanidade em um futuro “não muito distante”, onde as tecnologias evoluíram bastante, influenciando em todos os setores da vida humana, inclusive na reprodução. Nesse contexto, se torna perceptível a idéia de que os seres humanos podem estar caminhando a passos longos para a realidade virtual de Gattaca. É relatada a história de uma pessoa foi concebida naturalmente, vivendo numa comunidade em que a maioria das pessoas foram projetadas geneticamente para serem “perfeitos”. Essa realidade mostra o ser humano como um ser soberbo, que cada vez mais tem a tendência de considerar perfeitos seus próprios projetos, e não o que a própria natureza se encarrega de criar.
     No filme, enquanto esses “perfeitos” ocupam as melhores posições, os “imperfeitos” (aqueles que apresentam algum tipo de deficiência física ou psicológica), são denominados de inválidos e ocupam os setores menos privilegiados da sociedade. Isso é o que acontece com Vicent, que era faxineiro. O mesmo era dotado de muita inteligência e tinha um sonho de viajar no espaço, porém, sofria de problemas cardíacos. Na realidade que o filme traça, não importava a inteligência de Vicent, ele tinha que viver à margem dos poucos privilegiados. É possível imaginar quantos daqueles faxineiros como ele, poderiam dar grandes contribuições à ciência, mas pelo fato de não serem “perfeitos”, na visão da maioria, eram impedidos até mesmo de pensar. Isso fica muito evidente em uma cena do filme em que Vicent está limpando o vidro do seu local de trabalho, e passa por ele um supervisor que diz “não limpe muito o vidro para não ficar tendo idéias”. 
     Fazendo um paralelo com o mundo capitalista contemporâneo, é comum encontrar empregos em grandes indústrias, onde as pessoas não têm tempo para ao menos raciocinar sobre o que fazem. Esses empregos são a mera repetição de algum movimento, o que pode camuflar as diversas capacidades intelectuais dos empregados. Não se pode esquecer que no filme está intrínseco o conceito de ideologia, que está diretamente ligado à desumanização do indivíduo. Pode-se perceber que os “inválidos” são pessoas marginalizadas por um processo ideológico e não por falta de capacidade. Até a própria denominação “inválido” já sugere que essas pessoas não servem para determinadas ocupações. Contudo, Vicent, consegue provar que ele era muito capacitado, se destacando na empresa, mas levando o nome e currículo de Jerome. 
     Esse último era possuidor de uma inteligência excepcional, porém, por perder sua capacidade de locomoção e estar numa cadeira de rodas, paraplégico, o sistema não o aceitaria para trabalhar na corporação. Com isso, ele escolheu Vicent, que tinha o sonho de ser astronauta (mas não poderia ser, por conta de sua deficiência) para utilizar seus dados e aparência como disfarce e se infiltrar na corporação.
     O filme termina, deixando o legado da superação, evidenciado no momento que Vicent (inválido) ganha do seu irmão (válido), na natação. Isso mostra que as deficiências só se tornam obstáculos quando há todo um processo ideológico (opressão) por trás disso. Ou seja, a classe aceita pela maioria da população como normais, exerce relações de poder sobre os indivíduos diferentes dessa maioria. 
     Os deficientes podem fazer muita diferença nesse mundo. Só necessitam de oportunidade. A cultura atual jamais deve caminhar para o ambiente excludente mostrado em Gattaca. A inclusão deve ser colocada em prática. Foram evidenciados no filme os preconceitos que a maior parte das culturas tem, de julgar o outro não pelas suas capacidades e pelo que é, mas pelos aspectos de vida diferentes da maioria. Além disso, evidencia-se hoje, mais o que o indivíduo é incapaz de fazer do que o que ele é capaz. 
REFERENCIA
BAKER, R. Sexo no futuro: anseios ancestrais e novas tecnologias. Rio de Janeiro, Record, 2002.
BELLINO, R. Fundamentos da bioética. São Paulo. Edusc, 1997.
BERNARD, J. A bioética. São Paulo, Ática, 1998.
FAGUNDES, M. B. Aprendendo valores éticos. Belo Horizonte, Autêntica, 2000.
GARRAFA, V; Costa, S. I. F. (orgs.). A bioética no século XXI. Brasília, Ed. da UnB, 2000.
JUNGUES, J. R. Bioética: perspectivas e desafios. São Leopoldo, Unisinos, 1999.

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