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FGV Rio Organização Jurídica da Pequena Empresa Volume II

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA 
DA PEQUENA EMPRESA
vOlUME 2
ROTEIRO DO CURSO
2008.2
autor: MÁrCIo GuIMarÃES 
ColaboraçÃo: MÁrCIa barroSo
Sumário
Organização jurídica da pequena empresa
AUlA 08: A OpçãO pElO mODElO SOCIEDADE lImITADA Em COnTRApOnTO AO mODElO SOCIEDADE pOR AçõES ...................................3
AUlAS 09, 10 E 11: SER SóCIO DE UmA SOCIEDADE lImITADA ........................................................................................................... 11
AUlA 12: A ClASSIfICAçãO DA SOCIEDADE lImITADA ...................................................................................................................... 21
AUlAS 13 E 14: O fInAnCIAmEnTO DA SOCIEDADE lImITADA ........................................................................................................... 30
AUlA 15: mECAnISmOS DE fORmAçãO DA vOnTADE SOCIAl E SUA fISCAlIzAçãO ............................................................................. 41
AUlA 16: DIREITO DE RETIRADA. ApURAçãO DE hAvERES. BAlAnçO DE DETERmInAçãO................................................................... 50
AUlA 17: DIREçãO DAS ATIvIDADES EmpRESARIAIS ........................................................................................................................ 56
AUlA 18: fORmAS DE ExpURgAR O SóCIO InDESEjADO ................................................................................................................... 67
AUlA 19: A UTIlIzAçãO DA SOCIEDADE lImITADA COmO ESTRATégIA SOCIETáRIA pARA gRAnDES OpERAçõES ................................... 75
3FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
AUlA 08: A OPÇÃO PElO MODElO SOCIEDADE lIMItADA EM 
CONtRAPONtO AO MODElO SOCIEDADE POR AÇõES
Na aula passada, vimos que as sociedades limitadas representam hoje a grande maio-
ria das sociedades registradas em nosso país, atraindo principalmente a pequena e a média 
empresa por sua forma e constituição simplificada e a limitação da responsabilidade dos 
sócios.
Nesta aula discutiremos a leitura do(s) seguinte(s) capítulo(s):
– Páginas 357 a 372 do Curso de Direito Comercial. Fábio Ulhoa Coelho. Vol.II. 7ª 
edição. Saraiva. São Paulo/2004.
– Páginas 130 a 132 do O Direito de empresa à luz do novo Código Civil. Sérgio 
Campinho. 5ª edição. Renovar/2005.
Leitura CompLementar
– Páginas 358 a 360 do Manual de Direito Comercial e de Empresa. Ricardo Negrão. 
Vol.I. 4ª edição. Saraiva. São Paulo/2005.
ementário de temas
– Sociedade Limitada
– Sociedade Anônima – breves comentários
– Diferenças: LTDA e S.A.
– Classificação: Companhia Aberta e Companhia Fechada – breves comentários.
– Por que utilizar a S.A. e por que utilizar a LTDA.
roteiro de auLa
A sociedade por quota de responsabilidade limitada, ou seja, como Sociedade Limi-
tada, tem, desde sua criação até os dias atuais, uma enorme aceitação no meio empresarial, 
sobretudo em virtude de dois fatores: a garantia dos sócios contra os indesejáveis efeitos 
patrimoniais que ocorriam nas sociedades ilimitadas do antigo Código Comercial e a sim-
plificada forma de sua constituição (ao contrário da estrutura complexa das sociedades por 
ações).
A Sociedade Anônima é um instrumento jurídico muito importante para a economia, 
pois permite a captação de investimento na poupança popular para a aplicação em grandes 
empreendimentos, sem que o investidor se responsabilize pessoalmente pelos negócios da 
companhia.1 Assim, seu eventual prejuízo é adstrito ao valor pago pelos títulos no mercado 
de ações. Essa sociedade de capital permite aos sócios negociarem livremente seus títulos, 
sem a necessidade de consentimento dos demais sócios, conferindo mobilidade e liquidez 
ao capital investido.
1 na sociedade anônima, a 
responsabilidade dos sócios 
também é limitada ao capital 
social tendo em vista que o art. 
1º da Lei nº 6.404/76 determi-
na expressamente que, nesta 
espécie societária, o capital é 
dividido em ações nas quais a 
responsabilidade dos sócios é 
limitada ao preço de emissão 
das ações subscritas ou ad-
quiridas.
4FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
diferenças entre Ltda e s. a.
A sociedade pode ser de pessoas ou de capitais. Quando de pessoas, valoriza a qualidade 
pessoal do sócio. Já na sociedade de capital, o importante é o objeto social, não tendo maior 
relevância a pessoa do sócio. A sociedade limitada pode adequar o seu contrato social com 
característica de sociedade de pessoas ou de capital, enquanto que na Sociedade Anônima 
não haverá possibilidade de escolha, será sempre de capital, onde o interesse dos sócios não 
está voltado para a sociedade em si, e sim, aos resultados econômicos que ela pode gerar.
Além disso, é importante mencionar que enquanto foi conferida à sociedade limitada 
a opção de utilizar firma social ou denominação como nome empresarial, à sociedade anô-
nima não coube escolha, devendo esta ser identificada sempre por denominação. 
No que se refere à responsabilidade dos sócios, por sua vez, há uma diferença relevante. 
Enquanto que na sociedade limitada, o sócio responde pela integralização do capital social 
(não importa o valor de sua cota, o sócio se obriga pelo valor total constante no contrato 
social), na Sociedade Anônima o sócio só responde pelo valor das ações que subscreveu. As-
sim, não importa o valor total constante no Estatuto, só responderá pelo que se obrigou.
Por fim, cabe ressaltar que existem diferenças na estrutura de ambas. Enquanto que 
o Código Civil apresenta uma estrutura mais simples para a sociedade limitada, a Lei nº 
6.404/1976 traz inúmeras exigências para o funcionamento das Sociedades Anônimas, que 
acabam por dificultar sua criação e administração. 
Se a sociedade anônima pretender negociar suas ações no mercado de valores mo-
biliários (mercado aberto ao público), será classificada como uma “Companhia Aberta2” 
e será submetida ao controle e fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários – CVM3. 
Geralmente, as companhias de capital aberto são aquelas de maior porte4 ou que desejam 
captação maior de recursos.
Nas palavras de Fábio Ulhoa Coelho:
“Há atividades econômicas que, pelo seu porte, exigem uma alta soma de recursos, e a 
exploração delas, por isso, depende de um mecanismo jurídico que viabilize a captação deles 
junto aos investidores em geral5”.
Do contrário, se os títulos de uma sociedade anônima circulam de forma restrita, sem 
negociação em bolsa de valores ou mercado de balcão, será classificada como uma “Com-
panhia Fechada”.
O modelo da Sociedade Anônima é interessante para grandes empreendimentos que 
suportem a estrutura exigida pela lei. A forma de “capital aberto” é fundamental para as 
sociedades que desejam negociar na Bolsa de Valores e que tenham como grande objetivo a 
captação de recursos financeiros.
Já o modelo da Sociedade Limitada pode ser amplamente utilizado, desde a composta 
por dois sócios e com baixo faturamento, até a formada por vários sócios e movimentando 
valores elevados.
Por outro lado, a Limitada também pode se apresentar como subterfúgio para o Em-
presário Individual. Essa situação é muito comum como já vimos no caso do “sócio de 
palha”, uma vez que no Brasil a Sociedade Unipessoal só é admitida como exceção.
2 Lei n.º 6.385/1976. art. 22. 
considera-se aberta a compa-
nhia cujos valores mobiliários 
estejam admitidos à negocia-
ção na bolsa ou no mercado 
de balcão.
3 Lei n.º 6.404/1976.
art. 4º para os efeitos desta 
Lei, a companhia é aberta ou 
fechada conforme os valores 
mobiliários de sua emissão 
estejam ou não admitidos à 
negociação no mercado de 
valores mobiliários.
§ 1º somente os valores mo-
biliários de emissão de com-
panhia registrada na comissão 
de Valores mobiliários podem 
ser negociados no mercado de 
valores mobiliários.
§ 2º nenhuma distribuição 
pública de valores mobiliáriosserá efetivada no mercado sem 
prévio registro na comissão de 
Valores mobiliários.
§ 3º a comissão de Valores 
mobiliários poderá classificar 
as companhias abertas em ca-
tegorias, segundo as espécies e 
classes dos valores mobiliários 
por ela emitidos negociados no 
mercado, e especificará as nor-
mas sobre companhias abertas 
aplicáveis a cada categoria.
4 O custo para cumprir as for-
malidades exigidas em lei para 
o ingresso e permanência da 
companhia com suas ações no 
mercado é bastante alto.
5 in curso de Direito comercial. 
Vol.II. 7ª ed. saraiva/2004. 
pág.66.
5FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
Caso
H.Stern Comércio e Indústria S.A. é uma sociedade anônima de capital fechado, cujas 
ações são de propriedade, em sua maioria, da família Stern. O estatuto social traça um me-
canismo para evitar o ingresso de estranhos no quadro societário sem a anuência dos demais 
acionistas, aduzindo que o ingresso de terceiros deverá ser autorizado pelos demais acio-
nistas. Da mesma forma tratam do exercício do direito de retirada, restando disposto que 
deverão ser oferecidas as ações do retirante aos demais acionistas, sendo o preço estipulado 
com base no último balanço aprovado.
a) O mecanismo é suficiente?
b) E se o modelo societário adotado fosse de uma sociedade limitada? A solução seria 
a mesma?
c) Na hipótese de separação de um dos acionistas, terá o ex-cônjuge direito a ingressar 
no quadro societário da H.Stern, podendo, inclusive, controlá-la?
JurisprudênCia
PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE PARTILHA JUDICIAL POR DISSOLUÇÃO DA 
SOCIEDADE CONJUGAL. INVENTÁRIO DE BENS POR SEPARAÇÃO JUDICIAL. 
HOMOLOGAÇÃO DO ESBOÇO DE PARTILHA. DIVERGÊNCIA. REGIME DE 
COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS. ALIENAÇÃO FRAUDULENTA DE AÇÕES 
ORDINÁRIAS NOMINATIVAS DA EMPRESA APÓS SEPARAÇÃO DE FATO, RES-
GUARDADA A MEAÇÃO DA EX-MULHER POR MEDIDA ACAUTELATÓRIA 
DE SEPARAÇÃO DE CORPOS E ARROLAMENTO DE BENS. DECLARAÇÃO DE 
INEFICÁCIA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS SUBJACENTES À SEPARAÇÃO DO 
CASAL, HAVIDOS EM FRAUDE À MEAÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE FA-
MÍLIA PARA APRECIAR A QUESTÃO, QUE APESAR DE CERCADA POR CON-
TROVÉRSIA JURÍDICA, INDEPENDE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. HOMOLO-
GAÇÃO DO ESBOÇO DE PARTILHA.
I - a ação de inventário por separação judicial é o leito próprio para apreciação de 
questões jurídicas surgidas após a separação de fato do casal, admitindo a discussão de prova 
documental a respeito de fatos incontroversos, e comportando incidente processual quan-
to aos efeitos jurídicos dos negócios entabulados pelo cônjuge varão à revelia do cônjuge 
virago, que não é matéria fática de alta indagação, mas solução de natureza doutrinária e 
jurisprudencial. 
II - a competência em razão da matéria é pressuposto de validade da relação processu-
al, de ordem pública, podendo ser suscitada e discutida a qualquer tempo e grau de jurisdi-
ção, desde que não seja renovada perante o mesmo grau de jurisdição, em face da preclusão 
pro judicato.
III - a sanção prevista no art. 600 do código de processo civil, por ato atentatório à 
dignidade da Justiça, apesar de não mais se referir a “executado”, mas sim a “devedor”, tem 
seu campo de incidência nas ações de execução, em geral, não podendo ser interpretado 
ampliativamente para alcançar a execução de toda ordem emanada do Poder Judiciário, 
a exemplo da ação de inventário por separação judicial combinada com partilha, mas tão 
somente aquelas derivadas nas ações de execução estrito sensu.
6FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
IV - por serem “...várias as formas através das quais se pode prejudicar o cônjuge ou 
a companheira com atos praticados sob o manto pseudo-protetivo da empresa”, o julgador 
deve ser preocupar em trilhar “caminhos para se chegar a decisões que fujam ao ‘faz de 
conta”.
Decisão: DAR PARCIAL PROVIMENTO A AMBOS OS RECURSOS. UNÂNI-
ME. REJEITADAS AS PRELIMINARES À UNANIMIDADE”.
(APC-5246299/DF, 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Rela-
tora: DES. NANCY ANDRIGHI em 18/10/1999. DJ 16/02/2000 p. 20). Grifamos.
notíCias reLaCionadas
Lucros e perdas do desamor6
mulheres enfrentam ex-maridos nos tribunais, ganham fortunas e transformam o divór-
cio num tormento para as empresas.
Helena Abib Rezende acordou às 9 horas na sexta-feira 30 de abril para enfrentar uma 
jornada inesquecível. Tomou o café com leite e torradas, encarou uma ducha rápida e não 
teve dúvidas na hora de escolher o que vestir: um conjunto bege, a opção mais próxima 
em seu guarda-roupa do que seria o figurino de uma executiva. Estava pronta para em-
barcar rumo a Uberlândia, na companhia de dois advogados. Os três deixaram Brasília ao 
meio-dia. No vôo, Helena dispensou o almoço. Ansiava pelo lance decisivo de uma batalha 
judicial que começara 25 anos antes. “Passei a tarde inteira bebendo cafezinho e fumando, 
com medo de uma liminar de última hora”, recorda-se, três meses depois, instalada numa 
sala de diretoria. Naquela tarde, estavam em jogo uma fortuna avaliada em R$ 436 milhões 
e o controle acionário da Granja Rezende, um dos maiores grupos alimentícios do país. 
Somente às 18h30 ela faria a entrada triunfal na sede da empresa, criada e administrada ao 
longo dos últimos 39 anos pelo empresário Alfredo Júlio Rezende, o ex-marido. Por volta 
das 21 horas, saiu vitoriosa da assembléia de acionistas. Aos 57 anos, a dona de casa mineira, 
ex-funcionária pública, acabava de se tornar controladora do grupo, com 42% das ações, 
patrimônio estimado em R$ 185 milhões – quatro vezes o que recebeu a princesa Diana 
ao se divorciar do príncipe Charles. Chegou ao topo do ranking das partilhas de bens no 
Brasil.
A escalada foi áspera. Depois de esperar duas décadas por uma sentença favorável, 
Helena enfrentou o vaivém das liminares nos últimos três anos, até a 5a Vara de Família em 
Brasília garantir-lhe a tutela antecipada das ações. A Justiça ainda aplicou multa de R$ 72 
milhões a Alfredo Rezende, suspendendo-o do cargo de diretor-presidente da empresa. Só 
então abriram-se as portas do negócio milionário para a ex-mulher, cuja pensão alimentícia 
é de R$ 571. Hoje ela controla um grupo de 4 mil funcionários e faturamento previsto de 
R$ 1 bilhão em 2002. O próximo embate ocorrerá em setembro, com o julgamento do 
último recurso de Alfredo. Até lá, a nova diretoria tentará conseguir capital de giro e pror-
rogar empréstimos de curto prazo com os credores, o maior dos quais é o Banco do Brasil. 
“Litígios predatórios reduzem grandes patrimônios a pó”, alerta o advogado Luiz Fernando 
Gevaerd, autor do livro Quando o Amor Acaba na Justiça. Disputas prolongadas também 
geram fortunas para advogados, peritos e consultores. No caso Rezende, as custas do pro-
cesso superam R$ 70 milhões7. 
6 Fonte: Revista Época. por 
Eliane Trindade. Disponível 
em: http://epoca.globo.com/
edic/19990712/soci1.htm
7 no final de 1999, a saDIa 
adquiriu 90% das ações da 
Granja Rezende s.a., os demais 
10% ficaram com a Fundação 
Rezende. O valor da transação 
foi de R$ 134.000.000,00 (cen-
to e trinta e quatro milhões 
de reais). assumir a gestão e 
o controle acionário da Granja 
Rezende, com sede em uber-
lândia, foi um importante 
passo para a expansão dos 
negócios da saDIa no país, em 
especial na região centro-Oes-
te, onde os produtos da marca 
mineira Rezende tinham forte 
penetração. Em 2002, a Granja 
Rezende foi incorporada pela 
saDIa.
7FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
Quando a roupa suja começa a ser lavada em público, a sangria financeira é inevitável. 
Menos tímidas que suas mães e avós, as ex-mulheres parecem dispostas a tudo para proteger 
o quinhão. Começam a compreender os labirintos da Justiça e colocam em cena uma cate-
goria de causar calafrios ao mundo dos negócios: a esposa corporativa. Na condição de só-
cia, ela pode destituirdiretores, vender participações a grupos rivais e tumultuar conselhos 
de administração. A General Electric, uma das maiores empresas do mundo, viu-se no meio 
do embate matrimonial entre Lorna e Gary Wendt - segundo homem da empresa e prová-
vel substituto do todo-poderoso Jack Welch, considerado um dos empresários do século. 
Lorna e Gary resolveram duelar depois de 32 anos de casamento. Diante de um batalhão 
de advogados, ela não concordou em receber os US$ 8 milhões oferecidos pelo ex. Achou 
miserável a recompensa financeira pelos anos de dedicação a casa, aos filhos e à preparação 
de impecáveis recepções para executivos e clientes. Lorna partiu para o ataque com uma 
calculadora na mão. Calculou o custo de uma doméstica e de uma babá ao longo de três 
décadas. Chegou a US$ 2,1 milhões. Acrescentou os ganhos médios que teria conseguido 
caso se dedicasse à carreira de professora de Música, abandonada em conseqüência do casa-
mento. Mais US$ 1,5 milhão. E assim por diante. A precisão dos cálculos e dos argumentos 
convenceu o juiz: Lorna levou US$ 22 milhões. 
O império General Electric, uma usina de cifras estratosféricas, não chegou a balançar 
diante da esposa corporativa, mas fortunas menores não resistem à infiltração dos ódios 
conjugais. José Eduardo Andrade Vieira, ex-ministro e ex-dono do Bamerindus, além de 
amargar a condição de sem-banco, tem nos calcanhares uma ex-mulher, abastecida de muita 
raiva. “Eu o ajudava 24 horas por dia, sem folga. Nos finais de semana, recebia os convi-
dados dele para jantares e reuniões, preparava recepções, atendia a telefones, era, enfim, 
uma secretária-executiva”, enumera Tânia Vieira, lembrando-se dos tempos de vacas gordas. 
Emagreceram: em 1997, o Bamerindus sofreu intervenção e acabou vendido ao HSBC. 
Separados de fato há um ano, os Andrade Vieira estão longe de uma solução amigável. Na 
quinta-feira, os advogados de Tânia ingressaram no fórum de Curitiba com o pedido de se-
paração e estão prontos para a guerra. Tânia avoca direitos sobre o que restou do patrimônio 
do ex-marido, computando horas extras devotadas aos negócios dele. Até os jantares ofereci-
dos ao presidente Fernando Henrique, na mansão no Lago Sul em Brasília, serão incluídos 
entre as provas. A ex do executivo da GE fez escola. 
Tânia semeia ressentimentos e colhe notoriedade. Há três semanas, compareceu sem con-
vite à CPI dos Bancos, para assistir ao depoimento do marido. A aparição intempestiva deixou 
o depoente trêmulo e os senadores constrangidos. “Eu confirmo”, aparteou em voz alta quando 
um senador perguntou se Andrade Vieira mantivera contatos com Marcos Malan, irmão do 
ministro da Fazenda, Pedro Malan, na época da quebradeira do Bamerindus. Tânia roubou o 
espetáculo. Depois de 24 anos de casamento e quatro filhos, não pretende renunciar aos bens 
que escaparam à intervenção do Banco Central. “Eu enfrentei duas intervenções!”, esbraveja. “A 
do BC e agora a dele para cima de mim!” Estimam-se em R$ 30 milhões as sobras da fortuna 
de Andrade Vieira, depois da perda do banco e da indisponibilidade de parte do patrimônio. 
Tânia faz mistério, mas seus advogados estão levantando tudo - fazendas, contas no Brasil e no 
exterior, imóveis. Retirada a parte que cabe aos filhos, ela vai brigar pela divisão de R$ 15 mi-
lhões. “Não quero ver o nosso patrimônio desviado para terceiros”, indigna-se. Com um sorriso 
malicioso, corrige: “Terceiras” - alusão a supostas namoradas do ex-banqueiro. 
Os divórcios entraram na pauta das grandes empresas. Um seminário realizado há 
dez dias em São Paulo reuniu uma platéia de 150 homens de negócios. A pretexto de 
8FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
discorrer sobre o tema Proteção de Bens, na Área Societária, Tributária, de Família e 
Sucessões, o advogado paulista Newton Oliveira Neves forneceu exemplos práticos de 
como salvar empresas de ataques especulativos do mercado matrimonial. Entre os casos 
mencionados aparece o de um comerciante de sucesso (Neves omitiu seu nome), que an-
gariou milhões de dólares e driblou um clássico golpe do baú, no segundo matrimônio. A 
futura esposa queria casar-se em regime de comunhão universal. O empresário antecipou 
a partilha de 50% dos bens para os filhos e transferiu a outra metade do patrimônio para 
uma empresa off-shore, num paraíso fiscal. Sem nada em seu nome, só faltou fazer voto 
de pobreza antes do novo casamento. “No auge do amor, não dá para falar em separações 
de bens. O melhor é prevenir”, lembra o advogado. Outra saída, freqüente nos grandes 
grupos econômicos, é a criação de holdings para administrar o patrimônio pessoal de 
sócios e herdeiros, cujas ações são incomunicáveis. Ou seja, não são partilháveis. “Criar a 
holding é uma forma de proteger os bens em futuras relações”, resume Neves, cujo escri-
tório realiza uma dezena de reestruturações societárias por ano. 
Nem sempre paraísos fiscais resolvem a pendenga. Prova disso é a separação de Max 
Gonçalves, dono da Fenasoft, maior feira de informática do país. Tina Bauer, com quem 
viveu por seis anos, tenta provar na Justiça que ele enviou ao exterior uma fortuna de R$ 
16 milhões. Em agosto, deverá sair a primeira decisão sobre o caso, em Florianópolis. “Ela 
quer metade do que Max deixou de declarar”, diz o advogado Taltíbio Araújo, representante 
de Tina. A briga vai se estender por décadas. O caso da viúva Anna Elmira, que há 26 anos 
briga com os cunhados pelo espólio do marido, Fausto Salomão ilustra a lentidão da Justiça 
nas partilhas. Sua história foi lembrada pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) 
na sessão de abertura da CPI do Judiciário. “Perdi um tempo precioso que nenhum juiz 
poderá devolver”, irrita-se. Mora numa bela mansão em Brasília, bem em frente ao Centro 
Comercial Gilberto Salomão, parte do fantástico patrimônio imobiliário da família. Anna 
Elmira luta com dois cunhados pela parte do patrimônio que caberia ao finado – algo em 
torno de R$ 100 milhões. O caso se arrasta em fóruns de Brasília e Minas Gerais. 
O advogado Sérgio Marques da Cruz Filho, de São Paulo, à frente de um tradicional 
escritório especializado em Direito de Família, sugere a ricos e pobres encarar de frente o 
lado material do casamento. Conhece de cor a aritmética do coração: quando existe amor, 
somar é possível. Quando bate o ódio, dividir é martírio e subtrair uma compulsão. “Os 
acordos tornam-se quase impossíveis”, constata. Seu colega carioca Luiz Fernando Geva-
erd vai mais longe. “As pessoas se esquecem que casamento é uma comunhão de afetos e 
interesses.” Os brasileiros bem aquinhoados começam a sintonizar uma tendência comum 
entre americanos e europeus: a adoção do pacto pré-nupcial, coisa de Primeiro Mundo. 
“Ainda é tabu no Brasil falar em pacto. O romantismo latino atrapalha tudo”, explica o 
advogado Marco Antônio Fanuchi, contratado por Chiquinho Scarpa para defendê-lo das 
garras esmaltadas da ex-mulher, Carola. Os dois formalizaram um pacto, pouco antes do 
matrimônio principesco. O papel não evitou a baixaria no desenlace. “O pacto foi assinado 
sob pressão,” jura Carola. “Chiquinho chegou com o documento quando os convites já 
estavam distribuídos e o vestido de noiva pronto”, choraminga. Sem direitos sobre os bens 
dos Scarpa, restou à ex-condessa brigar por pensão alimentícia. Pede R$ 100 mil por mês, 
quer continuar morando no apartamento em bairro nobre de São Paulo e retomar o carro 
importado. Tenta faturar algum por conta própria: lançou o livro A Condessa que Virou 
Princesa, vendido a R$ 9,90 o exemplar. “Teria escrito um épico se contasse toda a minha 
vida”, diz. 
9FGV DIREITO RIO
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A família Scarpa ostenta um caso anterior e bem-sucedido de pacto pré-nupcial, cele-
brado em 1976 entre Analícia Scarpa, prima de Chiquinho, e o ex-senador Gilberto Miran-
da. Quando ainda era instrutor de natação, Miranda aceitoucasar-se com separação total 
de bens. Hábil operador de influências políticas, ficou milionário e separou-se. Colocadas 
nos pratos de uma balança, as tradições dos Scarpa valem menos que o baú do novo-rico. 
Analícia não tem do que reclamar: continua a desfrutar dos milhões do pai de suas duas 
filhas. É um caso raro de generosidade pós-separação. “Enquanto tiver dinheiro, ela terá 
tudo”, garante Miranda. “O meu acordo saiu mais caro do que o do Bozano”, completa, 
referindo-se à partilha entre Iza e o banqueiro Júlio Bozano, estimada em R$ 175 milhões, 
a mais cara no Brasil até o caso Rezende. À frente de três holdings e de um patrimônio de 
R$ 1 bilhão, Gilberto Miranda se resguarda. Suas ações estão a salvo. Mesmo assim, não 
escapou incólume. Uma ex-namorada entrou com uma ação de partilha, com base na nova 
lei da união estável. Aconselhado pela advogada Priscila Corrêa da Fonseca, a mais temida 
nos fóruns de Família, o ex-senador abriu de novo a carteira. “Aquela v... levou dinheiro 
suficiente para ficar à toa até hoje”, vocifera. A ex-namorada deve ser uma aplicada discípula 
de Ivana Trump. Ao se separar do milionário americano Donald Trump, a loura cobriu-se 
de diamantes e deu a receita infalível para um divórcio milionário: “Não fique com raiva. 
Fique com tudo”. 
Maridos também mordem.
mais raros, há casos em que ricas ex-mulheres pagam a conta.
Golpe do baú não é prerrogativa feminina. Paloma Picasso tornou-se uma legítima 
representante das vítimas da ganância conjugal. Bem-sucedida empresária do ramo de 
cosméticos e administradora do espólio do pai, o pintor Pablo Picasso, ela pagou a conta 
depois de 20 anos de convivência. Após a separação, o ex-marido, Rafael Lopez-Cambil, 
levou 50% dos negócios dela. Queria também metade das obras de arte que ela herdara. 
Não conseguiu. Outra herdeira célebre, Christina Onassis, filha do armador grego Aristó-
teles Onassis, tornou-se um bilhete premiado nas mãos de ex-maridos. Morreu em 1988, 
aos 38 anos. Seu último companheiro, Thierry Roussel, acumulou US$ 73 milhões só em 
presentes oferecidos depois de cada briga do casal. No Brasil, um caso rumoroso envolve 
o clã dos Matarazzo. A herdeira do império, Maria Pia, acabou seu quarto matrimônio no 
final dos anos 80, em clima de denúncia. Acusou o ex-marido Roberto Calmon Barreto 
de tentar extorquir US$ 2 milhões. Ele teria ameaçado revelar segredos comerciais do 
conglomerado. Casada em separação de bens, Maria Pia não cedeu às pressões do marido 
e ainda o acusou de manter um romance com a arrumadeira da mansão. Barreto negou 
tudo. A apresentadora Ana Maria Braga, dona de um dos maiores salários da televisão, 
casou-se no ano passado com Carlos Madrulha, seu guarda-costas. Os boatos não tar-
daram. Para afastar qualquer suspeita de interesse, Madrulha deixa claro: casou-se com 
separação de bens. 
placar milionário
No Brasil e no mundo, estimativas de algumas das partilhas mais caras e rumorosas 
dos últimos anos.
10FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
no BrasiL.
Partilhas concluídas:
Iza x Júlio Bozano - R$ 175 milhões
Lisiane x Sérgio Prosdócimo - R$ 78 milhões
Evelyn x Daniel Ioschpe - R$ 45 milhões
Gláucia x Ipoty Ioschpe - R$ 17 milhões
Edna x Olacyr de Moraes - R$ 2,5 milhões
Helena x Alfredo Rezende - R$ 185 milhões
no mundo.
Partilhas concluídas:
Amy Irving x Steven Spielberg - US$ 112 milhões
Cindy x Kevin Costner - US$ 80 milhões
Marianne x Kenny Roggers - US$ 60 milhões
Ivana x Donald Trump - US$ 50 milhões
Diana x Príncipe Charles - US$ 26 milhões
Lorna x Gary Wendt - US$ 22 milhões
Jerry Hall x Mick Jagger - US$ 50 milhões
Demi Moore x Bruce Willis - US$ 150 milhões
Questões de ConCurso
CONCURSO PARA JUIZ DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRI-
TO SANTO (2003).
22) “Sociedade de capital constituída por frações com titularidade móvel e impessoal, 
ou seja, seu capital é dividido em ações suscetíveis de transferência, não tendo a rele-
vância a pessoa de seus detentores”. Esta definição se aplica à :
A) Sociedade em nome coletivo
B) Sociedade anônima
C) Sociedade limitada
D) Sociedade em comandita simples
E) Sociedade de capital e indústria
11FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
AUlAS 09, 10 E 11: SER SóCIO DE UMA SOCIEDADE lIMItADA
Em virtude da atribuição de personalidade anotada no art. 44 do Código Civil, a 
sociedade é compreendida como pessoa jurídica de direito privado (sujeito de direito), com 
capacidade para adquirir direitos, contrair obrigações e ser titular de patrimônio próprio, 
não se confundindo com a pessoa de seus sócios que são, tão somente, proprietários de 
quotas ou ações da sociedade.
Nestas aulas discutiremos a leitura do(s) seguinte(s) capítulo(s):
– Páginas 350 a 360 e 374 a 378 do Manual de Direito Comercial e de Empresa. Ri-
cardo Negrão. Saraiva: São Paulo/2005.
– Páginas 357 a 370 e 398 a 419 do Curso de Direito Comercial. Fábio Ulhoa Coelho. 
7ª edição. Saraiva/2004.
Leitura CompLementar
– Capítulos 15 e 16 do Manual de Direito Comercial e de Empresa. Ricardo Negrão. 
Saraiva: São Paulo/2005.
– Páginas 99 a 107 do Direito Societário. José Edwaldo Tavares Borba. Renovar: Rio 
de Janeiro/2004.
ementário de temas
– Ser sócio de uma sociedade limitada.
– Mecanismos de responsabilidade do sócio.
– Ingresso e Retirada.
– Deveres e Direitos.
– As vantagens e desvantagens.
– Texto: “A morte da limitada, o Fisco e a Justiça”.
roteiro
A denominação de “sócio” é usada para nomear o membro da sociedade empresária 
que pode ser pessoa jurídica ou pessoa natural, esta última, deve ter capacidade para exercer 
os atos da vida civil (exceções na forma da lei).
Aprendemos que nas sociedades de pessoas, a pessoa do sócio é mais importante que 
a contribuição material que este realiza para a sociedade. Neste caso, a cessão da partici-
pação societária dependerá da anuência dos demais sócios, ou seja, o ingresso do sócio na 
sociedade, obviamente, dependerá da aceitação dos outros sócios, cujos interesses podem 
ser, diretamente, afetados. Já nas sociedades de capital o que ocorre é o inverso, a pessoa do 
sócio é irrelevante para a empresa explorada pela sociedade. Assim, o sócio pode alienar sua 
participação societária a quem quer que seja, não dependendo da aprovação dos demais.
Mediante um acordo de vontade, os sócios irão compor o instrumento pelo qual 
a pessoa jurídica irá se estabelecer. No caso da sociedade limitada, seu ato constitutivo 
12FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
denomina-se “contrato social” e seus sócios são chamados de “sócios-quotistas” uma vez 
que a contribuição para a formação do capital social recebe o nome de “quota”. O ingresso 
do sócio na sociedade também poderá ocorrer durante a existência da pessoa jurídica, por 
meio da aquisição de quotas que se fará mediante uma alteração contratual.
Normalmente, a sociedade limitada tem poucos sócios, estes são de uma mesma famí-
lia ou conhecidos, e participam do dia-a-dia do negócio, tomando todas as decisões para o 
desenvolvimento da empresa sem muita formalidade.
Diante do grande número de sociedades limitadas registradas no país8, o Código Civil 
prevê algumas formalidades, trazendo maior normatização e menor flexibilidade para as 
limitadas, entre elas:
– RESPONSABILIDADE LIMITADA DOS SÓCIOS: desde que integralizado o 
capital social por eles subscrito. De acordo com o art. 1.052, “na sociedade limitada, a 
responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem 
solidariamente pela integralização do capital social” e não apenas por suas quotas. Uma vez 
integralizado o capital social, os sócios ficam liberados de qualquer responsabilidade, caso 
contrário, respondem solidariamente pelo que faltar. Assim, o terceiro, ao contratar com a 
sociedade limitada, deverá preocupar-se em aferiro patrimônio da pessoa jurídica, visto vez 
que, efetivamente, esta é a sua garantia.
– LIMITAÇÃO EXPRESSA: É necessária a inserção do termo limitada (ou abreviado 
“Ltda.” ) no nome empresarial, sob pena da responsabilidade ilimitada9.
– RESPONSABILIDADE PESSOAL DO SÓCIO:
a) Por violação do dever de lealdade: O sócio responde por perdas e danos se aprovar 
alguma operação de interesse contrário ao da sociedade10.
b) Por participação em deliberação infringente do contrato social ou da lei, desde que 
expressamente aprovada por ele11.
c) Na qualidade de Administrador - responsabilidade pessoal e solidariamente12.
d) Pela superavaliação de bens conferidos à sociedade para integralização do capital 
social13. “Os sócios responderão, solidariamente, perante credores, pela diferença entre o 
valor estimado e os parâmetros de mercado”14.
e) Responsabilidade ilimitada nos casos de DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONA-
LIDADE JURÍDICA15: A limitação da responsabilidade não traduz a falta de responsabi-
lidade dos sócios. “Muitas vezes, os interesses dos credores ou terceiros são indevidamente 
frustrados por manipulação na constituição de pessoas jurídicas, celebração dos mais varia-
dos contratos empresariais, ou mesmo realização de operações societárias, como as de incor-
poração, fusão, cisão. Nesses casos, alguns envolvendo elevado grau de sofisticação jurídica, 
a consideração da autonomia da pessoa jurídica importa a impossibilidade de correção da 
fraude ou do abuso16”. Com a desconsideração, os sócios respondem pessoal e ilimitada-
mente pelas dívidas sociais decorrente do ato ilícito, para cuja prática concorreram com a 
administração da sociedade.
– DISSOLUÇÃO PARCIAL.
– DIREITO DE RETIRADA: O sócio que não tem mais vontade de continuar na 
sociedade pode negociar suas quotas com os outros sócios ou junto a terceiros. Inexistindo 
oposição de sócio com mais de ¼ do capital social17 e resolvendo a questão referente ao valor 
da quota, formaliza-se no contrato a substituição do sócio. Entra o cessionário e sai o que 
cedeu as quotas. Caso não consiga negociar suas quotas, poderá exercer o direito de retirada, 
denominado também recesso ou dissidência. A retirada é o direito do sócio se desligar dos 
8 98,9% dos registros de so-
ciedades. Fonte: http://www.
dnrc.gov.br
9 art. 1.158 §3º do código civil.
10 art. 1.010 §3º do código 
civil.
11 art. 1.080 do código civil.
12 art. 1.016 e 1.017 do código 
civil.
13 art. 1.055, §1º do código 
civil.
14 BORBa, josé Edwaldo Tavares 
in Direito societário. 9ª edição. 
Renovar/2004. pág.105.
15 art. 50 do código civil.
16 uLHOa cOELHO, Fábio in 
curso de Direito comercial. 7ª 
edição. saraiva/2004. pág.31.
17 art. 1.057 do código civil.
13FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
vínculos que o une aos demais sócios e à sociedade, por ato unilateral de vontade. Não há, 
assim, negociação.
a) O art. 1.029 está inserido no capítulo das sociedades simples e aplica-se à sociedade 
limitada em não havendo disposição contratual em sentido contrário (regência supletiva 
pelas normas da sociedade simples). Consagra a regra do “recesso imotivado” na sociedade 
por prazo indeterminado. Trata-se da aplicação do princípio constitucional18 que proíbe 
qualquer pessoa de ser compelida a associar-se ou permanecer associada. Desta forma, as-
segura ao sócio o direito de retirar-se, a qualquer tempo, mediante prévia notificação aos 
demais sócios com antecedência de 60 dias.
b) Sendo a sociedade por prazo determinado e com regência supletiva pelas normas da 
sociedade simples, para exercer o direito de retirada deverá ser comprovada judicialmente a 
“justa causa” (não cabe a dissolução parcial por retirada imotivada).
c) O “recesso motivado” cabe sempre que o sócio minoritário discorda de deliberação 
da maioria, ou seja, caso tenha sido alterado o contrato contra a sua vontade, ou aprovada a 
participação da limitada em incorporação ou fusão19. Em se tratando da sociedade limitada 
com regência supletiva pelas normas da sociedade por ações, adotando perfil capitalista, o 
direito de retirada só pode acontecer de “forma motivada”.
O exercício do direito de retirada (ou recesso) assegura ao sócio retirante o recebimen-
to de seus haveres, apurados de acordo com o contrato social ou, no silêncio deste, na forma 
do art. 1.031 do Código Civil.
– EXPULSÃO DE SÓCIO20
– LIQUIDAÇÃO DOS HAVERES: será apurada por meio de balanço especial, cha-
mado de “balanço especial de determinação” e deverá levar em consideração o patrimônio 
empresarial da sociedade, que envolve elementos incorpóreos ou imateriais do fundo de 
empresa, reservas sociais etc., será um balanço empresarial.
– DELIBERAÇÕES DOS SÓCIOS21
Exceções à regra da responsabilidade limitada dos sócios, previstas em leis especiais:
•	Código	Tributário	Nacional:	art.	134,	VII22 e 135, III23.
•	 Lei	n.º	8.078/1990	(Código	de	Política	Nacional	das	Relações	de	Consumo):	art.	
2824.
•	 Lei	n.º	8.620/1993	(altera	dispositivos	da	legislação	previdenciária)	:	art.	1325.
•	 Lei	n.º	8.884/1994	 (dispõe	 sobre	a	prevenção	e	a	 repressão	às	 infrações	 contra	a	
ordem econômica): art 1826.
•	 Lei	n.º	9.605/1998	(dispõe	sobre	as	sanções	penais	e	administrativas	derivadas	de	
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente): art. 4º27
dever dos sócios
Ao ingressar na sociedade, seja na sua formação ou numa já constituída, o sócio contrai 
a obrigação de “investir”, em outras palavras, tem o dever de integralizar a quota subscrita 
do capital social, nos termos do compromisso contratual assumido junto aos demais sócios. 
Isto é exemplo do mecanismo dos atos de constituição de pessoa jurídica.
O sócio que não cumpre seu dever de integralizar a quota é chamado de sócio remisso28 
e poderá ser cobrado pela sociedade, em juízo, ou expulso. No caso da sociedade decidir por 
expulsá-lo, deve restituir ao remisso as entradas feitas, deduzidas as quantias corresponden-
tes aos juros de mora, cláusula penal expressamente prevista no contrato social, e despesas.
18 art. 5º, XX da constituição 
Federal da República de 1988.
19 art. 1.077 do código civil.
20 art. 1.085 do código civil.
21 art. 1.072 do código civil.
22 art. 134. nos casos de im-
possibilidade de exigência do 
cumprimento da obrigação 
principal pelo contribuinte, 
respondem solidariamente 
com este nos atos em que in-
tervierem ou pelas omissões 
de que forem responsáveis: 
(...) VII - os sócios, no caso de 
liquidação de sociedade de 
pessoas.
23 art. 135. são pessoalmente 
responsáveis pelos créditos 
correspondentes a obrigações 
tributárias resultantes de atos 
praticados com excesso de 
poderes ou infração de lei, 
contrato social ou estatutos: 
(...) III - os diretores, gerentes 
ou representantes de pessoas 
jurídicas de direito privado.
24 art. 28. O juiz poderá des-
considerar a personalidade 
jurídica da sociedade quando, 
em detrimento do consumidor, 
houver abuso de direito, exces-
so de poder, infração da lei, fato 
ou ato ilícito ou violação dos 
estatutos ou contrato social. 
a desconsideração também 
será efetivada quando houver 
falência, estado de insolvência, 
encerramento ou inatividade 
da pessoa jurídica provocados 
por má administração. (...) § 
5° Também poderá ser descon-
siderada a pessoa jurídica sem-
pre que sua personalidade for, 
de alguma forma, obstáculo 
ao ressarcimento de prejuízos 
causados aos consumidores.
25 art. 13. O titular da firma 
individual e os sócios das em-
presas por cotas de responsa-
bilidade limitada respondem 
solidariamente, com seus bens 
pessoais, pelos débitos junto à 
seguridade social.
parágrafo único. Os acionistas 
controladores, os administra-
dores, os gerentes e os direto-
res respondem solidariamente 
e subsidiariamente, com seus 
bens pessoais, quanto ao 
inadimplemento das obriga-ções para com a seguridade 
social, por dolo ou culpa.
14FGV DIREITO RIO
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O sócio também terá responsabilidade para com a sociedade e para com a coletividade 
por ela alcançada, atendendo, assim, aos ditames da função social da empresa. Não pode 
tratar “como a minha empresa”, pois ela não deve ser assim visualizada, mas sim como um 
foco irradiador de riquezas, extremamente importante à manutenção e desenvolvimento da 
economia.
direitos do sócio
Por participarem do capital social, os sócios adquirem direitos inerentes a esta condi-
ção, como por exemplo: participar do resultado social, fiscalizar a gestão da empresa, con-
tribuir para as deliberações sociais e retirar-se da sociedade. Desse modo, é o contrato social 
que defini como se dará a distribuição dos lucros, os mecanismos especiais de fiscalização da 
administração e hipóteses de retirada.
Caso Gerador
Camila é credora da Moto Racing Ltda, na quantia de R$ 120.000,00. Intentada ação 
de execução, a sociedade não tem bens suficientes para a satisfação da obrigação. Analisando o 
quadro societário, verifica-se que os sócios Pablo, Artur e Daniel têm participação no capital 
social da seguinte forma: Pablo (40%), Artur (30%) e Daniel (30%). O capital social da socie-
dade é de R$ 100.000,00, parcialmente integralizado. Pablo é o administrador da sociedade. 
a) Camila poderá alcançar o patrimônio pessoal dos sócios?
b) Nessa mesma sociedade, Daniel se apaixona por uma senhora de nacionalidade pa-
raguaia e resolve se mudar para o Peru, fixando residência em Matchu Pitchu. Em virtude 
dessa decisão, comunica que não pretende mais permanecer associado. Neste caso, você é 
procurado por Daniel, com a proposição de que sua atual paixão está disposta a pagar o que 
for para vê-lo livre de todas as suas obrigações no Brasil. Qual será a consulta?
c) Daniel terá direito a receber algo?
d) Caso Daniel não tenha integralizado o valor referente as suas quotas, haverá direito 
de reembolso de suas quotas?
JurisprudênCia
TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. SÓCIO-GEREN-
TE. RESPONSABILIZAÇÃO PESSOAL. NÃO-CONFIGURAÇÃO, POR SI SÓ, NEM 
EM TESE, DE SITUAÇÃO QUE ACARRETA A RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁ-
RIA DOS SÓCIOS.
1. Segundo a jurisprudência do STJ, a simples falta de pagamento do tributo e a 
inexistência de bens penhoráveis no patrimônio da devedora (sociedade por quotas de res-
ponsabilidade limitada) não configuram, por si sós, nem em tese, situações que acarretam a 
responsabilidade subsidiária dos representantes da sociedade.
2. Recurso especial a que se dá provimento.
(REsp 831.380/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julg. 20.06.2006, 
DJ 30.06.2006 p. 192)
26 art. 18. a personalidade 
jurídica do responsável por 
infração da ordem econômica 
poderá ser desconsiderada 
quando houver da parte deste 
abuso de direito, excesso de 
poder, infração da lei, fato 
ou ato ilícito ou violação dos 
estatutos ou contrato social. 
a desconsideração também 
será efetivada quando houver 
falência, estado de insolvência, 
encerramento ou inatividade 
da pessoa jurídica provocados 
por má administração.
27 art. 4º poderá ser desconsi-
derada a pessoa jurídica sem-
pre que sua personalidade for 
obstáculo ao ressarcimento de 
prejuízos causados à qualidade 
do meio ambiente.
28 art. 1.004 do código civil.
15FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL – SÓCIO GERENTE 
– REDIRECIONAMENTO – INTERPRETAÇÃO DO ART. 135, INCISO III, DO CTN.
1. Quando a sociedade por cotas de responsabilidade limitada dissolve-se irregularmente, 
impõe-se a responsabilidade tributária do sócio gerente, autorizando-se o redirecionamento.
2. A empresa que deixa de funcionar no endereço indicado no contrato social arquiva-
do na junta comercial, desaparecendo sem deixar nova direção é presumivelmente conside-
rada como desativada ou irregularmente extinta.
3. Imposição da responsabilidade solidária.
4. Recurso especial provido.
(REsp 800.039/PR, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, Rel. p/ Acórdão Min. Elia-
na Calmon, Segunda Turma, julg. 25.04.2006, DJ 02.06.2006 p. 117)
RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO. DÍVIDA DA SOCIEDADE DE RESPON-
SABILIDADE LIMITADA. PENHORA DAS QUOTAS SOCIAIS, PERTENCENTES 
AOS SÓCIOS. INEXISTÊNCIA DE QUALQUER HIPÓTESE QUE AUTORIZE A 
CONFUSÃO DOS PATRIMÔNIOS. IMPOSSIBILIDADE.
– Salvo em hipóteses taxativamente previstas em lei, o patrimônio dos sócios não 
responde por dívidas da sociedade. Por isso, não é lícita a penhora das quotas sociais em 
execução movida contra a pessoa jurídica.
(REsp 757.865/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma, julg. 
20.04.2006, DJ 12.06.2006 p. 482).
RECURSO ESPECIAL – DÍVIDA DE SOCIEDADE LIMITADA – EXECUÇÃO 
FRUSTRADA – REDIRECIONAMENTO AOS BENS DE SÓCIO – ARTS. 592, II, E 
596 DO CPC – RESPONSABILIZAÇÃO SECUNDÁRIA, OU SUBSIDIÁRIA, QUE 
EXIGE SITUAÇÃO ESPECÍFICA, PREVISTA EM LEI.
1. Normalmente, os bens do sócio não respondem por dívidas da sociedade.
2. Apenas em casos previstos em lei deve ser aplicada a responsabilização secundária, 
ou subsidiária, estabelecida nos Arts. 592, II, e 596 do CPC.
3. Tais artigos contêm norma em branco, vinculada a outro texto legal. Não podem 
– e não devem – ser aplicados de forma solitária. Por isso é que em ambos existe a expressão 
“nos termos da lei”.
4. A desconsideração da personalidade jurídica é artifício destinado à profilaxia e tera-
pêutica da fraude à lei.
(REsp 401.081/TO, Rel. Min. Humberto Gomes De Barros, Terceira Turma, julg. 
06.04.2006, DJ 15.05.2006 p. 200)
DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. INVENTÁRIO. CESSÃO 
DE QUOTAS CAUSA MORTIS. ESTADO DE SÓCIO. ADMINISTRAÇÃO DA SO-
CIEDADE EMPRESÁRIA.
– A transmissão da herança não implica a transmissão do estado de sócio.
– A solução de controvérsias a respeito dos efeitos da cessão mortis causa de quotas na 
administração da sociedade empresária é matéria estranha ao Juízo do inventário.
Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 537.611/MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julg. 05.08.2004, 
DJ 23.08.2004 p. 230).
16FGV DIREITO RIO
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DIREITO DE EMPRESA. SOCIEDADE POR COTA DE RESPONSABILIDA-
DE LIMITADA CONSTITUÍDA POR DOIS SÓCIOS. DISSOLUÇÃO PARCIAL 
COM APURAÇÃO DE HAVERES. RECESSO DO SÓCIO MINORITÁRIO. POS-
SIBILIDADE. TEORIA DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. UNIPESSOALIDADE 
INCIDENTAL TEMPORÁRIA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA, ADUZINDO 
A IMPOSSIBILIDADE DA DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE COMPOSTA 
POR APENAS DOIS SÓCIOS.
1- A apelante não está obrigada a permanecer associada contra sua vontade. Tem ela 
impostergável direito de recesso, que o contrato social não pode nulificar ou obstruir.
2- A quebra da affectio societatis, como condição de existência do contrato de socieda-
de, legitima a dissolução parcial da pessoa jurídica.
3- No caso, a empresa poderá ser preservada atuando o sócio remanescente, ainda que 
provisoriamente, como empresário individual, sem prejuízo de encetar uma nova sociedade 
para desenvolver a empresa no prazo da lei – artigo 1033, IV, do CC/2002.
4- Pretendendo-se a dissolução parcial da sociedade, o valor das quotas, verificado em 
balanço especial, liquidar-se-á com base nos valores reais da situação patrimonial da socie-
dade à data da resolução - artigo 1031 do CC/ 2002.
5- O balanço especial deve refletir um levantamento contemporâneo, incluindo os 
bens corpóreos e incorpóreos, aproximando-se do resultado que poderia ser obtido com a 
dissolução total.
6- Vedada a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e 
das perdas – artigo 288 do Código Comercial e 1008 do Código Civil de 2002.
7- Não há que se confundir lucro com pro labore. A este último só faz juso sócio que 
se dedicar à administração social.
8- Princípio da causa madura para julgamento. No caso, embora a matéria seja de 
direito e de fato, a fase instrutória já se encerrou, autorizando o julgamento do mérito da 
causa - artigo 515, §§1º e 3º, do CPC.
Provimento do recurso. 
(2006.001.18077 – Apelação Cível. Des. Antonio Saldanha Palheiro – Julgamento: 
06/06/2006 – Quinta Câmara Cível. TJ/RJ). grifamos
EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO PROMOVIDA CONTRA ESPÓLIO. 
EM RAZÃO DE DIVIDA CONTRAÌDA PELO DE CUJUS. PENHORA DE BEM IMÓ-
VEL PERTENCENTE À EMPRESA DA QUAL O FALECIDO ERA SÓCIO MAJORI-
TÁRIO. Comprovado está que a dívida é do Espólio, e não da empresa apelada, pois o que 
se está executando é o acordo firmado entre aquele e o ora apelante, do qual não fez parte a 
recorrida. Em que pese o débito ter sido constituído pelo sócio majoritário da apelada, não 
pode a penhora recair sobre bem dessa, se, pelo contrato social, a morte de um dos sócios não 
acarreta sua dissolução da sociedade, nem partilha dos seus bens, e, conseqüentemente, em hi-
pótese alguma o imóvel deixará de pertencer à empresa apelada Não se pode confundir a pessoa 
jurídica da empresa, da qual o espólio detém cotas, com a pessoa de seu falecido sócio, já que os 
bens da sociedade por cotas de responsabilidade limitada não se comunicam com os adquiridos 
pela pessoa física de seus sócios. Assim, se a dívida foi contraída pelo falecido, são seus bens que 
devem garantir a execução, e não os da empresa da qual era sócio. Desprovimento do recurso. 
(2005.001.52831 – Apelação Cível. Des. Sergio Lucio Cruz – Julgamento: 01/02/2006 
– Décima Quinta Câmara Cível. TJ/RJ). grifamos
17FGV DIREITO RIO
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texto: a morte da Limitada, o FisCo e a Justiça29
Significativa parte da economia gira em torno da iniciativa privada. Vou ficar com o 
exemplo dos empresários e das sociedades empresárias (os antigos comerciantes individuais 
e as sociedades comerciais) que separam uma parte do seu patrimônio e, arrostando todos 
os perigos, iniciam uma empresa mercantil. Os perigos não são poucos. Poucas empresas 
passam dos cinco anos de vida e um número bem menor delas chega a completar dez anos. 
Bem, há louco para tudo. Na minha família se alguém resolver abrir uma empresa eu vou 
procurar interditá-lo por prodigalidade.
Mas se existe uma vocação irresistível para ser empresário, pelo menos ele teria o di-
reito de minimizar o seu risco, o que se dá pela escolha de um mecanismo de exploração 
da atividade mercantil que permitisse salvar uma parte do patrimônio no caso da perda da 
empresa. Para o empresário (individual) existe o favor do bem de família, que corresponde 
a um patrimônio separado dentro do patrimônio geral, salvaguardando os bens mínimos 
necessários a uma vida com razoável dignidade. Mas cuidado, o Novo Código Civil (NCC) 
mudou o regime anterior, tendo passado a exigir uma formalidade antes desnecessária. 
Quem dormir no ponto, já era... 
Outra forma de correr riscos menores está na escolha de um tipo societário no qual 
a responsabilidade do sócio seja limitada. Micros, pequenas e médias empresas optam pela 
sociedade limitada que tem um custo mais barato e na qual a responsabilidade máxima cor-
responde ao montante do capital social. Bastaria aos sócios cuidar que o capital da sociedade 
estivesse sempre integralizado para que não sofressem qualquer tipo de responsabilidade pa-
trimonial. Veja-se que o perfil jurídico das limitadas era dado pelo Decreto 3.708/19, agora 
a cargo do NCC. Desta maneira, os outros ramos do direito, na falta de norma específica, 
ao cuidar da responsabilidade pessoal dos sócios, deveriam acatar a construção da limitada 
tal como definidos pelo legislador. Isto geraria segurança e certeza no exercício da atividade 
econômica privada. Ledo engano! 
Em primeiro lugar os empresários têm um sócio que é um verdadeiro “encosto”, o 
Fisco. Toma o que pode e não dá nada em troca. As micros, pequenas e médias empresas 
mal conseguem sobreviver, sendo-lhe penoso até mesmo pagar um contador que cuide de 
sua escrita, quanto mais fazerem planejamento fiscal. Então elas são oneradas até mais do 
que deveriam, por ignorância dos seus direitos. 
Mas não é somente isto. Um dia alguém no Fisco ouviu falar de uma tal de “descon-
sideração da personalidade jurídica”, que tornaria responsáveis pelas dívidas tributárias não 
somente os administradores faltosos, mas também os sócios, mesmo os minoritários. O 
“peixe” foi bem vendido ao Judiciário e de lá para cá, não sendo encontrados bens no pa-
trimônio da sociedade, basta agitar a varinha mágica da desconsideração que os sócios são 
apanhados na rede tal peixes em aquário. 
A Justiça do Trabalho também veio a trilhar o mesmo caminho da desconsideração 
da personalidade jurídica. Veja-se que, segundo a CLT, quem responde pelas obrigações 
trabalhistas é o “empregador” (artigo 2º). Como a CLT não inclui sócio como empregador, 
o regime jurídico deste deve ser remetido para as normas que cuidam do tipo societário 
correspondente. 
Ora, o regime das limitadas seria justamente - quem diria! - o de uma responsabili-
dade limitada. Para isto elas foram criadas. Mas a bendita da “desconsideração” também 
foi descoberta pelos advogados dos empregados e acolhida festivamente pelos tribunais 
29 Gazeta mercantil em 
30.03.2004. Legal & jurispru-
dência. por Haroldo malheiros 
Duclerc Verçosa (mestre, Dou-
tor em Direito comercial e pro-
fessor da Faculdade de Direito 
da usp).
18FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
trabalhistas. E com a “penhora on line” a festa ficou completa. Basta que, citada, a socie-
dade não pague ou não indique bens à penhora para ter lugar a desconsideração imedia-
tamente. É só pedir, sem qualquer fundamento. Não ter bens para pagar significa - em 
uma presunção absoluta na Justiça do Trabalho - que a sociedade foi utilizada indevida-
mente, locupletando-se alguém por trás dela à custa dos empregados e de outros credores. 
Quanto ao Direito Tributário, no CTN existe apenas uma menção à responsabilidade 
dos sócios no artigo 134, verificada na liquidação de sociedade. Por sua vez, o artigo 135 
estabelece que os administradores ou representantes da pessoa jurídica respondem diante 
de atos praticados com excesso de poderes ou infração da lei, contrato social ou estatutos. 
Portanto, o sócio pelo simples fato de ser sócio não é responsável tributário. Mas também 
neste campo tem operado fartamente a desconsideração da personalidade jurídica às vezes 
tão somente pelo fato de que um sócio tem participação mínima no capital, o que seria 
prova de simulação no disfarce de um comerciante individual em sociedade. 
As “soluções” acima referidas nos dois campos do direito acabaram por levar a socieda-
de limitada a um completo descrédito, até mesmo a sua morte como instrumento apto ao 
exercício da empresa mercantil. 
Na verdade, a desconsideração da personalidade jurídica não é e nem nunca foi uma 
panacéia para salvar credores. Era uma doutrina que “levantava o véu da sociedade” sempre 
que a personalidade jurídica concedida pelo legislador fosse utilizada de forma inadequada, 
pois tal criação jurídica foi reconhecida como instrumental ou finalística. Isto que dizer 
que a personalidade jurídica deveria ater-se ao regime estabelecido pelo direito, indican-
do a presença de uma sociedade mercantil - que, por meio dos seus órgãos, efetivamente 
exercesse uma atividade econômica distribuindo aos sócios os lucros correspondentes. O 
direito, portanto, na análise do caso concreto poderia determinar o não reconhecimento da 
personalidade jurídica. 
A idéia acima sempre permeou a boa doutrina e a melhor jurisprudência. E o NCC a 
acatou claramente no artigo 50, ao referir-se ao “abuso da personalidade jurídica”, quando 
vier a ocorrer “desvio de finalidadeou confusão patrimonial”. Desvio de finalidade consiste 
justamente na utilização da sociedade para fins estranhos à sua criação, tendo-se como parâ-
metro o objeto social estabelecido no contrato social. Este é o limite de atuação da sociedade 
no mundo do direito. Confusão patrimonial dá-se, por sua vez, quando não há distinção 
efetiva entre o patrimônio da sociedade e o dos sócios ou de algum deles. Estas hipóteses 
somente são suscetíveis de realização por quem administra a sociedade e não por quem seja 
somente sócio. 
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica não inclui a simulação e a frau-
de. Estas têm um tratamento próprio na qualidade de defeitos do ato jurídico, que são 
anuláveis (CCiB, artigos 102 a 113 e NCC, artigos 158 a 167). 
Os juízes precisam começar a pensar na eficiência de suas decisões dentro de um 
horizonte macroeconômico. Este é o espírito da nova Lei de Falências. Mas vale preservar 
uma empresa com um pouco de sacrifício de todos do que privilegiar alguns extinguindo 
uma unidade produtiva. É a mesma coisa que abrir as entranhas da galinha dos ovos de 
ouro e pegar o que ali encontrar, matando-a, ao invés de deixar que ela ponha um ovo 
por dia.
19FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
Questões de ConCurso
125º EXAME DA ORDEM DOS ADVOGADOS DE SÃO PAULO - PROVA OBJETI-
VA. TIPO 1. DIREITO COMERCIAL.
45. Resolvendo-se o vínculo de um sócio com a sociedade empresária de que faz parte, 
e não havendo previsão contratual a respeito, seus haveres sociais serão pagos de acor-
do com o critério do valor.
(A) patrimonial de suas quotas na data da resolução, apurado em balanço especial. 
(B) econômico de suas quotas à data da resolução, conforme a cotação em bolsa de 
valores.
(C) patrimonial de suas quotas na data do efetivo pagamento, apurado em perícia 
judicial.
(D) econômico de suas quotas na data do efetivo pagamento, apurado em balanço 
especial.
22º EXAME DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO RIO DE JANEIRO - PROVA 
DISCURSIVA. 2ª FASE. DIREITO COMERCIAL.
4 - O sócio de responsabilidade ilimitada que tenha sido admitido na sociedade por 
cessão de sócio retirante responde solidariamente com o cedente pelas obrigações exis-
tentes à época da cessão? 
XXXIX CONCURSO PARA INGRESSO NA MAGISTRATURA DE CARREIRA DO 
ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 2ª Prova Específica.
2ª QUESTÃO:
Dispondo o contrato social que, na hipótese de retirada ou exclusão de sócio, seus 
haveres serão pagos com base no último balanço levantado, é acolhível a alegação do 
retirante ou excluído de que a apuração, por não expressar o último balanço a reali-
dade patrimonial da empresa, deverá fazer-se de outra forma? Fundamente a resposta. 
(VALOR: UM PONTO E MEIO).
CONCURSO PARA INGRESSO NA MAGISTRATURA DO ESTADO DE MINAS 
GERAIS (2003/2004) – PROVA SUBJETIVA DE DIREITO COMERCIAL. EXAMI-
NADOR: DES. ERNANE FIDELIS. OBJETIVA.
Questão 2.
Prevê o contrato social que, no caso em que ocorra a retirada de sócios, por deliberação 
da maioria, a apuração da respectiva quota atenderia o valor do último balanço. O excluído 
provou, porém, que os valores convencionais do balanço eram bem inferiores à realidade e 
pretendeu que a apuração se fizesse pelo efetivo valor patrimonial da empresa e não apenas 
pelo escritural, devendo haver avaliação, inclusive levando-se em conta certos bens imate-
riais adquiridos no curso da atividade da empresa, como a exclusividade de comercialização 
de produtos famosos, novo ponto comercial, bem como as reservas de capital que seriam 
volumosas.
Indaga-se, assim:
Devem prevalecer os valores do último balanço, nos moldes contratuais, ou se calcula 
o valor da quota social, levando-se em conta a própria evolução positiva da empresa no 
20FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
mercado, como, por exemplo, a exclusividade adquirida para venda de produtos, novo 
ponto comercial, etc. ? E as reservas de capital, incluem-se na apuração de haveres?
Observação:
Esta questão tem o objetivo de avaliar o senso jurídico do candidato, a coerência da 
decisão e não apenas o resultado apresentado.
21FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
30 cOELHO, Fabio ulhoa in curso 
de Direito comercial. Vol.II. 7ª 
edição. saraiva/2004. pág.366.
AUlA 12: A ClASSIfICAÇÃO DA SOCIEDADE lIMItADA
“A sociedade limitada – anteriormente chamada sociedade por quotas de responsabili-
dade limitada – tem uma história pequena e pobre. Sua criação é, em relação às demais socie-
dades, recente e decorre da iniciativa de parlamentares, para atender ao interesse aos pequenos 
e médios empreendedores, que queriam beneficiar-se, na exploração de atividade econômica, 
da limitação da responsabilidade típica das anônimas, mas sem atender às complexas forma-
lidades destas, nem se sujeitar à prévia autorização governamental”30.
Nesta aula discutiremos a leitura do(s) seguinte(s) capítulo(s):
– Páginas 358 a 360 do Manual de Direito Comercial e de Empresa. Ricardo Negrão. 
Saraiva: São Paulo/2005.
– Páginas 367 a 378 do Curso de Direito Comercial vol.II. 7ª edição. Fabio Ulhoa 
Coelho. Saraiva: São Paulo/2004.
Leitura CompLementar
– Páginas 149 a 154 e 266 a 275 de O Direito de Empresa à luz do novo Código Civil. 
5ª edição. Sérgio Campinho. Renovar/2005.
ementário de temas
– A classificação da sociedade limitada como:
	 •	de	pessoas	e	de	capital;
	 •	simples	e	empresária;
	 •	nacional	e	estrangeira.
	 •	holding.
roteiro de auLa
“de pessoas” e “de capital”.
Aprendemos que as sociedades “de pessoas” são aquelas nas quais a pessoa do sócio se 
reveste de extrema relevância, uma vez que sua constituição baseia-se no relacionamento e 
vínculo existentes entre os sócios - “affectio societatis” pessoal. Já nas sociedades “de capitais”, 
o aspecto relevante é objeto da sociedade (visão capitalista) e não a figura do sócio, tendo 
como regra, portanto, a livre participação societária e a facilidade de se verificar uma grande 
mutabilidade dos sócios.
A	sociedade	simples,	por	exemplo,	será	sempre	“de	pessoas”;	já	a	sociedade	anônima,	
diante de sua natureza capitalista, será sempre “de capital”. Nesta, a alienação de ações 
não pode ficar adstrita à anuência dos demais sócios, mesmo no caso das companhias 
fechadas, “na medida em que eventual limitação estatutária à circulação de ações não 
22FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
poderia significar a sujeição da venda destas à anuência dos outros acionistas. No máxi-
mo, o estatuto da sociedade anônima fechada pode prever o direito de preferência, que 
é diferente do direito de aprovar ou vetar a alienação das ações, em função dos atributos 
pessoais do eventual adquirente”31.
No caso da sociedade limitada, ela não possui sempre a mesma natureza, sendo a 
vontade dos sócios, expressa através das cláusulas do contrato social, que a definirá como 
sociedade “de pessoas” ou “de capital”.
São três, basicamente, as cláusulas do contrato social que dispõem sobre a natureza da 
sociedade, todas direcionadas à “cessão de quotas”: a) morte de sócio (sucessão), b) alienação 
de quotas e c) penhora de quotas.
Importante lembrar que se não for possível definir qual a natureza da sociedade limita-
da, mesmo após a análise do ato constitutivo, ela será considerada como “de pessoas”, uma 
vez que o art. 1.057 do Código Civil estabelece que, a menos que o contrato social disponha 
de forma diferente, “o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, 
independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de 
titulares de mais de um quarto do capital social”, conceituando, em regra, a limitada como 
uma sociedade “de pessoas”.
simples e empresária
Como regra geral, a sociedade limitada será simples32 quando houver reunião de duas 
ou mais pessoas (que, caso atuassemindividualmente seriam consideradas autônomas), re-
ciprocamente se obrigando a contribuir com bens ou serviços, para o exercício de atividade 
econômica e a partilha, entre si, dos resultados, não tendo por objeto o exercício do ato de 
empresa e seu ato constitutivo será arquivado no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (art. 
1.150).
Na sociedade limitada empresária, os sócios exercem profissionalmente atividade eco-
nômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, constituindo o 
elemento de empresa33. A atividade intelectual será elemento de empresa quando estiver 
absorvida pela estrutura organizacional da sociedade empresária e fará parte dos fatores de 
produção, juntamente com o capital, mão de obra e organização. Seus atos constitutivos são 
arquivados na Junta Comercial (art. 1.150).
A sociedade limitada poderá se “apresentar” como SOCIEDADE LIMITADA SIM-
PLES ou SOCIEDADE LIMITADA EMPRESÁRIA, como veremos a seguir:
Vejamos o caso de dois médicos que se unem e montam um consultório para, através 
de consultas particulares, explorarem atividade intelectual relacionada aos seus conheci-
mentos científicos na área médica. Este exemplo é típico de uma sociedade simples, mas que 
poderá adotar o modelo “LIMITADA” ou “SIMPLES” (art. 997 e seguintes do CC), neste 
caso será chamada de “simples pura”.
Continuando com o exemplo dos médicos, se o consultório oferecer também exames 
clínicos laboratoriais, atendimentos e consultas por outros médicos, aplicação de vacinas e 
outros serviços ao público em geral, a atividade intelectual estará absorvida pela estrutura 
organizacional, configurando o elemento de empresa. Esta sociedade será empresária e po-
derá adotar o modelo “LIMITADA” com as regras da sociedade simples ou, supletivamen-
te, com as regras das sociedades anônimas (art. 1.053 CC).
31 cOELHO. Op.cit. pág.370.
32 art. 966, p. ú. do código 
civil.
33 art. 966 do código civil.
23FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
nacional e estrangeira
A personalidade jurídica da sociedade estrangeira34 é reconhecida conforme dispõe o 
art. 45, in fine, do Código Civil, contudo não podem se estabelecer no Brasil sem a autoriza-
ção do Poder Executivo Federal35. As sociedades estrangeiras são constituídas e organizadas 
em conformidade com a legislação do país de origem onde mantém sua sede administrativa. 
Será estrangeira a sociedade constituída com capital de origem brasileira, por sócios brasi-
leiros e residentes no Brasil, registrada e com sede em Portugal, regendo-se pelas normas 
deste país36. 
As sociedades nacionais37 são as organizadas e registradas em conformidade com a lei 
brasileira, com a sede de sua administração no Brasil e seus negócios jurídicos realizados 
em obediência aos ditames legais brasileiros. É indiferente a nacionalidade e o domicílio 
dos sócios e acionistas (mesmo de seus controladores), ou, a origem do capital (desde que 
lícita), ressalvadas as hipóteses legais em que vigoram restrições e impedimentos (veremos 
logo abaixo algumas restrições). Será nacional a sociedade constituída com capital de ori-
gem árabe, por sócios chineses, residentes na Rússia, mas com sede administrativa no Brasil 
e segundo as leis brasileiras.
As sociedades estrangeiras podem operar no Brasil:
– atuando de forma direta, por meio de sucursais38, filiais, agências ou estabelecimen-
tos de sociedade anônima estrangeira, dependendo de autorização,
– atuando de forma indireta, por meio de coligada ou joint-ventures, constituída por 
sociedade empresária, desde que devidamente autorizada pelo Poder Executivo bra-
sileiro	(art.	1.134);
–	como	acionista	de	sociedade	anônima	brasileira	(parte	final	do	art.	1.134);
– como sociedade anônima, mediante processo de nacionalização, conforme disposi-
tivo do art. 1.141.
A sociedade estrangeira, uma vez instalada no Brasil, deverá desenvolver suas ativida-
des atendendo especificamente as condições estabelecidas no decreto que a autorizou. Em 
caso de modificações de quaisquer condições e em caso de modificação dos atos constituti-
vos da matriz, um novo decreto de autorização deve ser requerido – art. 1.139 do Código 
Civil e art. 7.º IN 81/99 do DNRC39. Diante da rigidez nas formalidades previstas para a 
sociedade estrangeira além da delonga para sua autorização, normalmente, elas são conside-
radas inviáveis para investimento.
Nessa seara, a sociedade limitada é a preferida dos investidores estrangeiros, pois, como 
já vimos, possui simples estrutura, organização e funcionamento, o quê gera menos despesas 
se comparadas às sociedades anônimas.
Entre as características da sociedade limitada, algumas são específicas para sócios resi-
dentes no exterior:
a) devem nomear um procurador residente no Brasil que se responsabilize perante as 
autoridades locais pela sua participação40.
b) não podem exercer a administração da sociedade, mas devem nomear a tal fim um 
administrador residente no Brasil41.
c) na hipótese de integralização de quotas em bens, por parte dos investidores estran-
geiros, os mesmos deverão ter sido regularmente importados.
34 arts. 1.134 a 1.142 do código 
civil.
35 por meio de requerimento 
dirigido ao ministério do De-
senvolvimento, Indústria e 
comércio Exterior, protocolado 
no Departamento nacional de 
Registro do comércio – DnRc, 
conforme art. 1º da Instrução 
normativa n° 81 de 25.09.99.
36 Lei de Introdução ao código 
civil (Decreto-lei 4.657/42):
art. 11. as organizações des-
tinadas a fins de interesse 
coletivo, como as sociedades 
e as fundações, obedecem à 
lei do Estado em que se cons-
tituírem. 
§ 1º não poderão, entretanto. 
ter no Brasil filiais, agências 
ou estabelecimentos antes de 
serem os atos constitutivos 
aprovados pelo Governo bra-
sileiro, ficando sujeitas à lei 
brasileira.
37 arts. 1.126 a 1.133 do código 
civil.
38 na forma do art. 64 e seguin-
tes do Decreto-Lei n° 2.627/40; 
art. 300 da Lei n° 6.404/76; art. 
84 – inciso IV da constituição 
Federal de 1988; art. 1.134 a 
1.141 do código civil e Instrução 
normativa n° 81/99 do DnRc.
39 art. 7º qualquer alteração 
que a sociedade mercantil 
estrangeira autorizada a fun-
cionar no país faça no seu con-
trato ou estatuto, para produzir 
efeitos no território brasileiro, 
dependerá de aprovação do 
Governo Federal e, para tanto, 
deverá apresentar os seguintes 
documentos:
I - requerimento ao ministro de 
Estado do Desenvolvimento, 
Indústria e comércio, solicitan-
do a devida aprovação, proto-
colizado no Departamento na-
cional de Registro do comércio 
- DnRc;
II - ato de deliberação que pro-
moveu a alteração; e
III - guia de recolhimento do 
preço do serviço.
40 art. 1.138 do código civil.
41 arts. 98 e 99 da Lei n.º 
6.815/80 – Estatuto do Es-
trangeiro.
24FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
polêmica (in)justificada
Em função do art. 1.134 do Código Civil, haveria uma suposta proibição à participação de 
sociedades estrangeiras em sociedades limitadas brasileiras. Este tema causou polêmica no meio 
jurídico até que o DNRC, por meio do Parecer Jurídico 126/0342, reconheceu a viabilidade de 
ser constituída uma sociedade limitada que tenha pessoa jurídica estrangeira como sócia.
O principal argumento do DNRC é de ordem constitucional:
“De mais a mais, dentre os princípios traçados pela Constituição Federal, empresas 
devidamente organizadas e existentes segundo as leis brasileiras não podem, como regra ge-
ral, sofrer qualquer discriminação fundada na nacionalidade de seus sócios. Portanto, nada 
impede que uma empresa estrangeira participe de uma sociedade constituída no País, salvo 
os casos especiais, onde a lei especialmente requerer que, em determinadas atividades, o tipo 
societário seja o de sociedade anônima”.
Se tal proibição existisse, inúmeras sociedadesestrangeiras existentes poderiam ser 
consideradas em situação irregular, sem contar o fato de que novas limitadas não poderiam 
ser criadas tendo sociedades estrangeiras como sócias.
sociedade holding
Aprendemos que a previsão legal da sociedade holding está no art. 2º, § 3º da Lei nº 
6.404/1976, que estabelece que a “companhia pode ter por objeto participar de outras 
sociedades;	ainda	que	não	prevista	no	estatuto,	a	participação	é	facultada	como	meio	de	
realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais”.
Enquanto as sociedades das quais participa estão “preocupadas” com as tendências do 
mercado, com os clientes, com a concorrência e com outros problemas externos, a holding 
tem uma visão voltada para dentro. Seu interesse é a produtividade de suas “controladas” e 
eficácia da administração dos negócios.
Temos, assim, a possibilidade de constituir uma sociedade cujo objeto social seja, ape-
nas, a participação em outras sociedades em níveis suficientes para controlá-las43, podendo 
adotar a forma de Limitada ou de Sociedade Anônima, conforme a situação motivadora de 
sua criação.
Neste caso, mais uma vez, haverá a preferência pela forma “limitada”, em função da 
facilidade no manejo de suas regras.
Podemos elencar como algumas vantagens da sociedade holding o seguinte:
a) Concentração do poder econômico do controlador na holding.
b) Flexibilidade e agilidade na transferência e alocação de recursos, dentro do grupo, 
sem necessidade de oitiva dos sócios e/ou acionistas minoritários.
c) Solucionar problemas referentes à sucessão (herança) e partilha (divórcio).
d) Maior poder de negociação na obtenção de recursos financeiros e nos negócios com 
terceiros. A holding não só poderá obter financiamentos externos como também agir como 
provedora de investimentos para atender às necessidades das controladas, agindo em parce-
ria visando novas oportunidades.
e) Enxugamento das estruturas ociosas das sociedades controladas e descentralização 
de alguns trabalhos, com possibilidade de redução de despesas operacionais.
42 parecer jurídico n.º 126/03 
- DnRc: Ingresso de sócia pes-
soa jurídica estrangeira em 
sociedade limitada. adminis-
tração por pessoa natural. Le-
gitimidade de representação. 
Disponível em: http://www.
facil.dnrc.gov.br/pareceres/ar-
quivos/pa126.pdf
43 n.a. chama-se subsidiária, a 
sociedade que é controlada por 
outra, enquanto a holding é a 
sociedade que controla.
25FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
f ) Vantagens tributárias e centralização das decisões financeiras.
Quando o objeto social da holding for somente a participação no capital de outras 
sociedades, ela é chamada de Holding Pura. Quando, além da participação no capital de 
outras sociedades, ela exercer a exploração de alguma atividade empresarial, ela é chamada 
de Holding Mista ou impura.
O enquadramento da “holding pura”, como sociedade simples ou empresária, é tema 
ainda muito discutido na doutrina, vejamos alguns entendimentos:
Para o Prof. Ronald A. Sharp Júnior: “Do enquadramento da holding pura como so-
ciedade simples resulta na sua inscrição no cartório do registro civil de pessoas jurídicas (art. 
1.150 do NCC) e na insubmissão à falência, mas ao processo de insolvência civil”.
O professor conclui dizendo que “a holding pura terá sempre natureza de sociedade 
simples, uma vez que estará constantemente agindo como sócia, direcionando suas ativi-
dades não ao mercado, mas para o âmbito interno caracterizado pelas relações societárias, 
salvo se for constituída sob a forma de sociedade por ações”44.
O Prof. Jorge Lobo, em seu livro Sociedades Limitadas, destaca o entendimento do 
Prof. Ronald Sharp no sentido de classificar como sociedade simples a “holding pura”, a 
“empresa de papel”, controladora até mesmo de poderosos grupos econômicos e financei-
ros, em que só estão presentes os perfis subjetivo e objetivo, este, inclusive, apenas em parte, 
por lhe faltar a idéia de estabelecimento e quiçá de patrimônio comercial, bem como au-
sentes os perfis funcional e corporativo. Anote-se, contudo, que, se a holding pura adotar a 
forma de sociedade anônima ou organizar-se consoante o modelo de ASQUINI, passa a ser 
sociedade empresária, ainda que se possa questionar seu objeto, uma vez que sua atividade-
fim não é a produção ou a circulação de bens ou de serviços. O raciocínio desenvolvido se 
deu com base na ausência de um mínimo de organização econômica, exigido pelo caput do 
art. 966 do Código Civil.
Na opinião de José Edwaldo Tavares Borba45: “se as sociedades controladas são empresá-
rias, a holding que as controla encontra-se envolvida, de forma indireta, naquelas mesmas ati-
vidades, devendo, então, por afinidade, ganhar idêntica condição de sociedade empresária”.
Corroborando com o entendimento acima, o ilustre Prof. Sérgio Campinho46 enfatiza 
a classificação das holdings como sociedades empresárias em virtude da atividade profissional 
dessas sociedades: “A organização e o caráter profissional da atividade seriam, destarte, os 
elementos reveladores da atividade empresarial”.
Na opinião do jurista Miguel Reale “é preciso lembrar que o maior número das so-
ciedades empresárias é formado pelas sociedades por quotas de responsabilidade limitadas, 
as quais têm o mais amplo espectro, indo desde as microempresas ou de pequeno porte até 
gigantescas sociedades que atuam como holding, ou seja, como entidade de regência de uma 
rede de sociedades, inclusive anônimas47”.
Em artigo publicado no jornal Gazeta Mercantil48, os advogados Márcio Tadeu Gui-
marães Nunes e Felipe Demori Claudino, sustentaram que a “holding pura pode ser defi-
nida como a sociedade cujos escopos principais são a aquisição, titularidade, alienação e 
controle de participações societárias. Tais escopos são exercidos com profissionalismo, vez 
que a holding os tem como principal atividade e razão da sua própria existência como vértice 
de uma estrutura de controle (cf. artigo 2º, parágrafos 1º e 2º combinado com o artigo 243 
parágrafo 2º, ambos da Lei 6.404/76 combinado com o artigo 1.053, parágrafo único, do 
NCC). Também são econômicas porque visam a administrar e a agregar valor à carteira de 
participações societárias. O direito comparado (exemplo Itália) confirma este entendimento 
44 in “a holding pura como so-
ciedade simples”. Disponível 
em: http://www.irtdpjbrasil.
com.br/Holding.htm 
45 in Direito societário – 9ª ed. 
pág.49.
46 in O Direito de Empresa à luz 
do novo código civil. Reno-
var/2005. pág.39.
47 REaLE, miguel. Invencionices 
sobre o novo código civil. Direi-
to de Empresa. jus navigandi, 
Teresina, a. 7, n. 63, mar. 2003. 
Disponível em: <http://jus2.
uol.com.br/doutrina/texto.
asp?id=3820>. acesso em: 15 
mar. 2006
48 a holding pura como socie-
dade empresária, Gazeta mer-
cantil em 02.03.2005.
26FGV DIREITO RIO
ORGanIzaçãO juRíDIca Da pEquEna EmpREsa
reafirmando a presunção de profissionalismo e de viés econômico em estruturas de controle 
como as que reveladas pelas holdings puras.
A existência, em si mesma, de uma sociedade destinada a organizar e controlar par-
ticipações societárias pressupõe estrutura fortíssima, fazendo presente, quando menos, o 
elemento de empresa da parte final do parágrafo único do artigo 966 do NCC. Isso é o que 
basta para afastar tal sociedade do regime próprio da Simples. Mais forte fica o argumento 
caso a holding pura esteja regulada pelas regras supletivas da Lei 6.404/76 (LSA).”
E concluem o artigo entendendo não haver “motivo sério para classificar a holding 
pura como Simples, posto que a participação em outras sociedades também é forma de em-
presa e diante do fato de que o NCC reservou às Simples o caráter de exceção ao fenômeno 
empresarial (até porque é como tipo facultativo ou como regime jurídico subsidiário que 
a Simples agoniza nos

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