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20141 Presidentes do Brasil

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Presidentes da República Federativa do Brasil
Campus Brasília (DF)
# Prof. Manoel Araujo de Medeiros, Ph.D.
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Deodoro da Fonseca (15/11/1889 a 23/11/1891)
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Monarquista convencido a apoiar a causa republicana e depor o Império, o marechal Manuel Deodoro da Fonseca liderou um governo instável política e economicamente, sofrendo oposição por parte das Forças Armadas, o que culminou no fechamento do Congresso Nacional e na sua renúncia. 
Seu apoio aos republicanos se deu pela difusão do boato infundado de que ele seria preso junto ao tenente-oficial Benjamin Constant. Após reunir tropas na manhã de 15 de novembro de 1889, Deodoro penetrou o Quartel-General do Exército e decretou a demissão do ministério imperial. Ele só proclamaria, de fato, a República, depois de ouvir outra notícia falsa: a de que dom Pedro II, amigo do marechal, havia escolhido como novo primeiro-ministro o gaúcho Gaspar Silveira Martins, desafeto de Deodoro. 
Em 1891, um colégio eleitoral o elege presidente do País, mas Deodoro assume sob forte oposição do Congresso. Sua queda é efetivada com a Revolta da Armada, quando, a mando do vice Floriano Peixoto, o encouraçado Riachuelo ameaçou bombardear o Rio de Janeiro caso Deodoro não renunciasse.
Curiosidade: Fez a primeira ligação telefônica de Porto Alegre, na condição de presidente da província do Rio Grande do Sul, contatando redações de jornais locais e cumprimentando a Companhia Telefônica pela inauguração da linha.
Foto: Portal Brasil / Divulgação
O “marechal de ferro” havia se recusado a resistir aos revoltosos no dia da proclamação da República. Respondeu que, no Paraguai, onde lutara, tinha “em frente inimigos, e aqui somos todos brasileiros”. 
Primeiro vice-presidente do País, Peixoto assumiu com a renúncia de Deodoro e combateu com aspereza as sucessivas rebeliões que abateram seu governo, como as duas revoltas da Armada e a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, que acabou com a mudança do nome da cidade catarinense de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis. Seu governo foi inconstitucional, já que o texto recém-redigido exigia novas eleições presidenciais em caso de renúncia. Entregou o cargo a Prudente de Morais em 1984 e, assim como Deodoro, morreu um ano depois de deixar a presidência.
Curiosidade: Com o fim da Revolução Federalista, Nossa Senhora do Desterro foi renomeada Florianópolis, em homenagem a Floriano, que era impopular na região e teve de enviar tropas à cidade para debelar a resistência 
Floriano Peixoto (23/11/1891 a 15/11/1894)
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Primeiro presidente civil do Brasil e o primeiro eleito por voto direto, Prudente de Morais também foi o primeiro governador de São Paulo e, como senador, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1891. 
Com ele, chegava ao poder a oligarquia cafeeira paulista, em lugar dos militares. Seu mandato foi conturbado pela oposição florianista, pelos desdobramentos da Revolta Federalista no Rio Grande do Sul, por uma crise diplomática com a Inglaterra e pela Guerra de Canudos. 
Chegou a sofrer um atentado, do qual foi defendido pelo general Carlos Machado Bittencourt, seu ministro da Guerra, que morreu no episódio. Apesar de dificuldades financeiras herdadas pela crise do encilhamento, deixou o cargo com aceitação popular.
Curiosidade: Recebeu o apelido de “Biriba” no Rio de Janeiro, comparação de sua barba à de um macaco e termo aplicado a tropeiros sorocabanos e pessoas com quem é preciso ter prudência.
Prudente de Morais (15/11/1894 a 15/11/1898)
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O terceiro governador de São Paulo deixou a presidência com popularidade substancialmente menor que a do antecessor, especialmente em função do imposto do selo e da retirada de circulação de parte do papel-moeda emitida por governos anteriores (medida para combater a inflação).
Anunciando ser um administrador independente de “paixões partidárias”, governou de modo a sanar o que julgava ser a raiz de todos os problemas do País: a desvalorização da moeda. Campos Sales também descentralizou o governo a partir da chamada Política dos Estados, que buscava fortalecer as unidades federativas. 
A instauração da política do café-com-leite, que sustentou o predomínio do Partido Republicano Mineiro (PRM) e do Partido Republicano Paulista (PRP) na presidência e vice-presidência, é atribuída à habilidade política de Campos Sales.
Curiosidade: Foi maldosamente apelidado de Campos Selos por quem se opunha ao novo imposto
Campos Sales (15/11/1898 a 15/11/1902)
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Três vezes governador de São Paulo, Rodrigues Alves teve como episódio marcante de sua gestão a Revolta da Vacina, que reagia a campanha de seu ministro da Saúde, Osvaldo Cruz. 
Sua administração das finanças brasileiras foi ajudada pelo auge do ciclo da borracha, que fez do País o responsável por 97% da produção mundial. 
Para valorizar o café, o governo federal passou a estocar o produto e determinou imposto de três francos por saca exportada. O dinheiro em caixa possibilitou a compra do Acre, então região da Bolívia. 
Reeleito em 1918, contraiu gripe espanhola e não pôde assumir, vindo a morrer em 16 de janeiro de 1919.
Curiosidade: Foi o último paulista a tomar posse como presidente do País e o primeiro político reeleito para o cargo.
Rodrigues Alves (15/11/1902 a 15/11/1906)
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Presidiu o Banco do Brasil e foi vice na gestão de Rodrigues Alves. Afonso Pena incentivou a criação de ferrovias e a imigração, interligou a Amazônia ao Rio de Janeiro por meio do fio telegráfico e ocupou seus ministérios com políticos jovens, dedicados a executar o pensamento do presidente sem pestanejar, no que ficou conhecido como “Jardim de Infância”.
Morreu em 14 de junho de 1909, deixando o cargo para seu vice, Nilo Peçanha. Foi o primeiro presidente a morrer enquanto exercia o cargo.
Curiosidade: Primeiro governador de Minas Gerais eleito pelo voto direto, foi responsável pela mudança da capital do Estado de Ouro Preto para a atual Belo Horizonte.
Afonso Pena (15/11/1906 a 14/06/1909)
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De origem humilde, Nilo Peçanha é tido por alguns pesquisadores como o único mulato a ter presidido o País, embora reste controversa a tese de que ele renegava seus ancestrais africanos. 
O tempo escasso em que foi presidente do País foi suficiente para Nilo inaugurar o Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria, o Serviço de Proteção aos Índios e o ensino técnico no Brasil. 
Nas eleições de 1910, apoiou Hermes da Fonseca. Depois da presidência, seria eleito senador e assumiria o Ministério das Relações Exteriores em 1917, mas perderia a corrida presidencial de 1921 para Artur Bernardes.
Curiosidade: Ana Soares Peçanha, mulher do presidente, intervinha na política e não tinha papas na língua. Chegou a ameaçar quebrar uma sombrinha na cabeça de Pinheiro Machado para defender o marido das críticas do senador gaúcho.
Nilo Peçanha (14/06/1909 a 15/11/1910)
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Sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, o também marechal Hermes da Fonseca foi ministro da Guerra de Campos Sales e de Afonso Pena, tendo reformado o Exército e instituído o serviço militar obrigatório  apesar de a lei ter sido legitimada apenas em 1964. 
Concorreu à presidência contra Rui Barbosa e, apoiado por Nilo Peçanha, venceu com boa margem de votos. Logo na primeira semana de governo, enfrentou a Revolta da Chibata, que abalou a sua popularidade e seria seguida pela Guerra do Contestado. Deu seguimento à construção de ferrovias e à aproximação com os Estados Unidos. 
O gaúcho foi o primeiro presidente a vestir a faixa presidencial, que, por decreto, passou a ser transmitida a cada nova cerimônia de posse. 
Curiosidade: A mulher do presidente, a cartunista Nair de Teffé, organizava festas no palácio do Catete. No último baile antes do fim do mandato do marido, junto ao compositor Catulo da Paixão Cearense, ela tocou no violão o maxixe Corta-Jaca, de Chiquinha Gonzaga, incitando as marquesas a “requebrar” no salão, o que escandalizou a sociedade.
Hermes da Fonseca (15/11/1910 a 15/11/1914)
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O advogado enfrentou a Guerra do Contestado logo no início do mandato, como herança do governo de Hermes da Fonseca, de quem havia sido vice. 
Foi o responsável por estabelecer os limites entre Santa Catarina e o Paraná. Durante seu governo, navios brasileiros foram atacados por submarinos alemães, e o País entrou na Primeira Guerra Mundial. 
A dificuldade de importar produtos da Europa levou Brás a incentivar o fortalecimento da indústria nacional.
Curiosidade: Foi o mais longevo dos presidentes, morrendo aos 98 anos.
Venceslau Brás (15/11/1914 a 15/11/1918)
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Com a morte do presidente eleito Rodrigues Alves, o ex-governador de Minas Gerais assumiu o Executivo nacional. 
Durante seu curto mandato, sofreu de uma doença que o impedia de tomar decisões, o que geralmente ficava a cargo do ministro de Viação e Obras Públicas, Afrânio de Melo Franco. 
Na sua gestão, o Código Civil foi republicado com correções e a administração do Acre foi reformada. Eleito presidente, o senador Epitácio Pessoa assumiu o cargo assim que retornou de Paris, onde representava o Brasil na Conferência de Versalhes. 
Curiosidade: Foi um dos três vices que tiveram de completar seus mandatos como presidentes.
Delfim Moreira (15/11/1918 a 28/07/1919)
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Epitácio Pessoa foi indicado para a sucessão de Delfim Moreira quando representava o Brasil na Conferência de Versalhes, na condição de senador, e foi da França que o paraibano se viu vencer nas urnas Rui Barbosa, suspendendo a vigência da política do café-com-leite na República Velha. 
A origem nordestina foi afirmada em seus investimentos contra a seca na região, construindo açudes, poços e ferrovias. Enfrentou a Revolta do Forte de Copacabana e demais pressões do movimento tenentista. Em sua gestão, o progressismo estético da Semana de Arte Moderna de São Paulo se viu acompanhado pelo alegado progressismo político do Partido Comunista Brasileiro, fundado em 1922, sob inspiração da Revolução Russa de 1917. Em 1920, Pessoa aboliu a lei que bania a Família Imperial do Brasil. 
Também leva a sua assinatura a substituição do padrão monetário brasileiro da libra pelo dólar e a construção de mais de 1 mil km de ferrovias na região Sul.
Curiosidade: Órfão desde os sete anos de idade, foi criado pelo tio, Henrique de Lucena, então governador de Pernambuco. Como presidente, Epitácio irritou os militares ao escolher dois civis para os ministérios das Forças Armadas e negar aumento de soldo para as tropas.
Epitácio Pessoa (28/07/1919 a 15/11/1922)
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Em uma eleição que dividiu o País, com Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco apoiando Nilo Peçanha, Arthur Bernardes saiu vitorioso, ainda que tivesse enfrentado pouco tempo antes a polêmica das cartas falsas, em que difamações contra o ex-presidente Hermes da Fonseca foram enganosamente atribuídas a Bernardes. 
O presidente reprimiu ações tenentistas no Rio Grande do Sul e em São Paulo, cidade que chegou a ser bombardeada, e o País ficou em estado de sítio durante quase todo o seu mandato.
Curiosidade: Em seu discurso de posse, Bernardes lembrou a dificuldade das eleições: “Não estará ainda na memória de todos o que fora a penúltima campanha presidencial? Nela se afirmava que o candidato não seria eleito; eleito não seria reconhecido, não tomaria posse, não transporia os umbrais do Palácio do Catete!”  frases que seriam repetidas por Carlos Larcerda em referência a Getúlio Vargas em 1950.
Artur Bernardes (15/11/1922 a 15/11/1926)
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O último presidente da República Velha foi deposto a 21 dias do término do mandato pelos militares liderados por Getúlio Vargas. Antes de cair diante da Revolução de 1930, criou o primeiro serviço de inteligência do Brasil e concretizou em escala nacional a reformulação da frase de Afonso Pena: “Governar é povoar; mas não se povoa sem se abrir estradas, e de todas as espécies; governar é, pois, fazer estradas!”, disse, ainda como governador de São Paulo. 
Para estimular o desenvolvimento rodoviário, foi criado o Fundo Especial para Construção e Conservação de Estradas de Rodagens Federais. A Rio-Petrópolis foi inaugurada como a primeira rodovia asfaltada do País. 
Washington Luís não somente libertou presos políticos, como deixou de prorrogar o estado de sítio perpetuado pelo mandato de seu antecessor  à exceção dos Estados em que passaria a Coluna Prestes, que acabou exilada na Bolívia em 1926. A fins de seu mandato, buscou estabilizar o câmbio diante da quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929. 
Apoiou Júlio Prestes à sucessão presidencial e o baiano Vital Soares como vice, o que rompia a política do café-com-leite, mas denúncias de fraudes na vitória de Prestes atiçaram as disposições revolucionárias da oposição. Washington Luís é deposto e preso pelos militares em 24 de outubro de 1930, vivendo exilado nos Estados Unidos e na Europa por muitos anos antes de voltar ao Brasil em 1947 para a sua última década de vida.
Curiosidade: Recebeu a maior votação para a Presidência do período da República Velha.
Washington Luís (15/11/1926 a 24/10/1930)
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O “pai dos pobres” foi sugerido a Washington Luís como seu sucessor na presidência pelo governador mineiro Antônio Carlos. O gaúcho era visto como “solução conciliatória” no contexto da política do café-com-leite, tal como havia sido o paraibano Epitácio Pessoa, cujo estado de origem apoiou Getúlio contra Júlio Prestes em 1929. Paraíba, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, tenentistas e opositores de diversos Estados constituíram a Aliança Liberal para enfrentar Prestes, cuja vitória não foi aceita. 
Em 3 de outubro, getulistas gaúchos tomaram o quartel-general da 3ª Região Militar e iniciaram uma marcha até o Rio. Governos foram depostos em todo o País até a derrubada do presidente, em 24 de outubro, por militares que entregam o poder a Getúlio no dia 3 de novembro, dando fim à República Velha. Getúlio administrava o País por decretos, pelos quais suspendeu as garantias da Constituição de 1891, fechou os congressos e câmaras de todo o País, excluiu da apreciação judicial os atos de seu governo e aposentou compulsoriamente militares opositores. Por outro lado, envolvidos em movimentos revolucionários foram anistiados, o voto feminino foi instituído, os diretos trabalhistas foram ampliados e foram criados os Correios, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a carteira de trabalho, leis de proteção aos animais e o Instituto Nacional de Estatística (atual IBGE). 
O endurecimento político culminou no Estado Novo, implantado em 1937, com adoção de nova Constituição. A imprensa passou a sofrer censura, e “subversores” foram torturados. Datam do Estado Novo a Companhia Siderúrgica Nacional e os códigos de Trânsito, de Processo Penal e de Processo Civil. Getúlio manteve o País neutro em relação à Segunda Guerra Mundial até o bombardeio de navios brasileiros por submarinos alemães e italianos, que arrastou o Brasil para as trincheiras dos Aliados. Apesar do apelo popular do paternalismo varguista, o abrandamento do regime após a guerra foi sintoma de seu declínio. Vargas acabou deposto em 29 de outubro de 1945 pelos militares que compunham o seu ministério.
Curiosidade: Com apenas 1,60 m de altura, Vargas exigia que seus fotógrafos oficiais escolhessem ângulos específicos para que ele parecesse mais imponente do que, de fato, era.
Getúlio Vargas (03/11/1930 a 29/10/1945)
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O presidente do Supremo Tribunal Federal foi convocado pelas Forças Armadas para presidir o País após a derrubada de Getúlio Vargas. 
Nos três meses em que governou, criou o Fundo Rodoviário Nacional, que se estenderia até 1998 financiando estradas de ferro. 
Apesar de ter ficado conhecido como um inveterado nepotista, nomeando diversos familiares para cargos públicos, garantiu a realização das eleições que ergueram Gaspar Dutra à presidência.
Curiosidade: Linhares estava em uma festa com familiares quanto foi solicitado a comparecer no Ministério da Guerra. Por volta das 2h já de
30 de outubro de 1945, soube que tomaria posse como presidente interino
José Linhares (29/10/1945 a 31/01/1946)
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Embora tivesse apoiado a deposição de Getúlio, Gaspar Dutra foi apoiado pelo ex-presidente nas eleições para o governo federal. 
Dutra assumiu o País no contexto da instauração de mais uma assembleia constituinte. Já a inícios de Guerra Fria, o Brasil se aproximou dos Estados Unidos e rompeu relações com a União Soviética. Sua gestão inaugurou a ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro que hoje leva seu nome, a Rodovia Presidente Dutra. 
O militar ainda foi responsável pela instalação das primeiras refinarias no País e pela incorporação dos territórios de Ponta Porã e Iguaçu ao Mato Grosso do Sul e ao Paraná, respectivamente. 
Em seu governo, foram proibidos os jogos de azar no Brasil, inaugurada a TV Tupi e realizada a Copa do Mundo em território nacional.
Curiosidade: Logo após a deposição de João Goulart pelos militares em 1964, Dutra tentou voltar à Presidência, mas já havia perdido influência no alto escalão do Exército.
Eurico Gaspar Dutra (31/01/1946 a 31/01/1951)
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Apoiado pelo então governador de São Paulo, Adhemar de Barros, Getúlio venceu as eleições de 1950 como candidato do PTB. Seu governo foi conturbado por controvérsias como o reajuste em 100% do salário mínimo, que lhe fez perder o pouco apoio de que ainda desfrutava entre os militares e motivou a demissão do ministro do Trabalho, João Goulart. Em seu último mandato, além de ter criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Getúlio fundou a Petrobras em 3 de outubro de 1953, aniversário da revolução de 1930. Combatido pela imprensa, o presidente foi enfraquecido por reiteradas denúncias de corrupção contra membros do governo. 
Em 5 de agosto de 1954, um major da Força Aérea Brasileira (FAB) é morto a tiros e o jornalista Carlos Lacerda, ferrenho opositor de Getúlio, é ferido no pé. Atribuído a integrantes da guarda pessoal de Getúlio, o suposto atentado gerou uma crise política que se somou às pressões para que o presidente renunciasse. Getúlio Vargas se suicidaria após ser aconselhado por ministros a entregar o cargo. Ele deixou a reunião ministerial, subiu aos seus aposentos no Palácio do Catete e disparou contra o próprio coração, deixando carta manuscrita na qual lamentava “a mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices” com que “gratuitos inimigos, numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa” teriam lhe vitimado. 
A comoção popular pela morte do presidente foi tal que acabou adiado o golpe militar previsto para derrubar Getúlio, que passou de vilão a herói, saindo “da vida para entrar na história”, conforme a carta-testamento lida por João Goulart no enterro de Vargas em São Borja (RS).
Curiosidade: Adepto do golfe, Vargas jogava com bolas que tinham seu nome inscrito em vermelho.
Getúlio Vargas (31/01/1951 a 24/08/1954)
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José Fernandes Campos Café Filho assumiu a presidência após a morte de Getúlio Vargas, de quem era vice devido a um acordo alinhavado por Ademar de Barros para apoiar o gaúcho em 1950. 
Nas eleições de 1955, apoiou a União Democrática Nacional (UDN) contra Juscelino Kubitschek (PSD) e João Goulart (PTB). 
Meses antes da posse de seus adversários políticos, alegou motivos de saúde para se licenciar do cargo, que foi deixado para o então presidente da Câmara, Carlos Luz.
Curiosidade: Concebido em 3 de fevereiro de 1899, foi o primeiro presidente a nascer depois da Proclamação da República.
Café Filho (24/08/1954 a 08/11/1955)
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O presidente que ficou por menos tempo no cargo  quatro dias  foi afastado pelo Movimento 11 de Novembro, liderado pelo general Henrique Lott, recém-demitido do Ministério da Guerra por tentar frear uma suposta conspiração para não entregar o governo federal para o candidato eleito, Juscelino Kubitschek. 
Acossado, Luz embarcou junto com Carlos Lacerda e outras autoridades no Cruzador Tamandaré, o mais poderoso navio da Marinha à época, com o qual rumou para São Paulo à procura do apoio do governador Jânio Quadros, não sem antes quase ser alvejado pela artilharia do Exército na Baía na Guanabara. A embarcação teria sido impedida de revidar por solicitação de Luz.
Curiosidade: Carlos Luz foi o presidente que menos tempo permaneceu no cargo: apenas quatro dias.
Carlos Luz (08/11/1955 a 11/11/1955)
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Ainda em 11 de novembro de 1955, o general Lott enviou requerimento ao Senado, então presidido por Nereu Ramos, solicitando o impedimento de Carlos Luz, que teria deixado o território nacional sem autorização do Congresso. 
Ramos reconduziu Lott ao Ministério da Guerra e, em 21 de novembro, Café Filho anuncia ter recebido alta médica, informando seu retorno à presidência. Lott, entretanto, mobiliza militares para o apartamento de Café Filho para isolar o presidenciável enquanto o Congresso votava o seu impedimento pelo “retorno aos quadros constitucionais vigentes”. 
Com isso, Ramos foi presidente do Brasil até o fim do quinquênio que deveria ter sido completo por Getúlio Vargas, garantindo a posse de Juscelino Kubitschek.
Curiosidade: Foi o único vice-presidente do Senado  na época, presidente em exercício  a ter assumido a Presidência do País.
Nereu Ramos (11/11/1955 a 31/01/1956)
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Presidente responsável pela inauguração de Brasília, JK impulsionou o Brasil a índices de desenvolvimento até então inéditos, em feito que ele próprio chamava de “cinquenta anos em cinco”, conforme o seu Plano de Metas. Uma das principais preocupações de JK era fomentar o desenvolvimento industrial nacional para deixar o País menos dependente de importações. A isenção de impostos de importação de equipamentos industriais se uniu ao incentivo para a instalação de fábricas no País, e as indústrias automobilística, naval, siderúrgica e hidrelétrica  como a usina de Furnas  se desenvolveram como nunca antes. 
As rodovias passaram a interligar todas as regiões do País e, em 1959, JK criou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), para estimular a integração da região ao mercado nacional. Entre as críticas ao governo de JK estão apontamentos sobre o descaso com toda a forma de transporte que não a rodoviária e o endividamento deixado em função da construção de Brasília, que cumpriu previsão da Constituição de 1891, visando ao desenvolvimento do interior do País. Ainda assim, JK segue sendo saudado como um dos melhores presidentes que o Brasil já teve, consolidando a transição de uma economia rural para a urbana naqueles que ainda são lembrados como os “Anos Dourados”.
Curiosidade: No seu aniversário de 56 anos, JK se encantou com Lúcia Pedroso, então com 23 anos, casada com o líder do PSD José Pedroso, que acabaria descobrindo a traição e ameaçando matar os dois. O deputado, entretanto, apenas revelou o caso para Sara Kubitschek, e tanto os casamentos como o caso extraconjugal seguiram intactos, atravessando o câncer e a consequente impotência de JK até a morte do ex-presidente, que escreveu 10 mil páginas de cartas para a amada. 
Juscelino Kubitschek (31/01/1956 a 31/01/1961)
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O sul-mato-grossense e governador de São Paulo consagrado pela promessa de “varrer” a corrupção foi eleito presidente em 1960 com 5,6 milhões de votos, a maior aclamação das urnas registrada até aquele ano no País. Jânio não só assinou medidas excêntricas  como as proibições da rinha de galo e de biquíni nas transmissões televisivas dos concursos de miss e a regulamentação do carteado , como, em apenas oito meses, restabeleceu as relações com a União Soviética e com a China, nomeou o primeiro embaixador negro do Brasil, condenou intervenções estrangeiras  a exemplo do isolamento americano imposto a Cuba , criou as primeiras reservas indígenas e enviou ao Congresso uma proposta de reforma agrária. 
Uma das polêmicas de seu governo foi a condecoração do guerrilheiro argentino e ministro cubano Ernesto Che Guevara com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, em agradecimento pela
libertação, a pedido do Brasil, de sacerdotes presos em Cuba. A homenagem indignou a oposição e os militares  uns ameaçaram arruinar a cerimônia dedicada a Guevara, outros anunciavam que devolveriam suas medalhas em sinal de repúdio. Sentindo-se pressionado, um dia após Carlos Lacerda ter denunciado um suposto plano de golpe de estado orquestrado pelo ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, Jânio apresentou, para a surpresa da nação, a sua carta de renúncia, alegando: “forças terríveis se levantaram contra mim”.
Curiosidade: Jânio paquerava a apresentadora de TV Hebe Camargo. Certa vez, tentou marcar um encontro alegando querer “discutir assuntos de interesse da classe artística”.
Jânio Quadros (31/01/1961 a 25/08/1961)
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Como estivesse João Goulart em visita oficial à China quando da renúncia de Jânio Quadros, Ranieri Mazzilli, na condição de presidente da Câmara dos Deputados, assumiu a presidência interinamente. 
A resistência dos ministros militares em aceitarem a posse de Jango  visto pelos setores conservadores como simpático ao comunismo  foi contra-atacada pela Campanha da Legalidade, encabeçada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. 
A crise só foi dissolvida depois de o Congresso aprovar a instauração do regime parlamentarista, reduzindo, assim, os poderes do presidente.
Curiosidade: Foi apelidado de modess: descartável, estava sempre na hora e no lugar certos para evitar derramamento de sangue.
Ranieri Mazzilli (25/08/1961 a 07/09/1961)
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Participante da Revolução de 1930 e da Segunda Guerra Mundial, chefiando operações durante quase um ano na Itália, Castelo Branco havia ajudado o general Lott a garantir a posse de JK menos de uma década antes de se tornar o primeiro presidente do regime militar no País. 
Escrevia em ensaio anterior ao golpe sobre a importância do nacionalismo frente ao comunismo, ideologia que, segundo ele, buscava dissociar a opinião pública e empreender uma “guerra global não declarada”, acabando por ser um “grande penacho dos ditadores e candidatos a ditador”. Ainda assim, Castelo Branco resistia ao grupo de seu sucessor, Costa e Silva, defendendo o retorno da democracia e se negando a apoiar o anticomunismo da ala “linha dura” do Exército. Em 11 de abril de 1964, ele foi eleito presidente pelo Congresso, contando com o voto de JK. Seu governo deveria encerrar o quinquênio iniciado por Jânio Quadros, mas o mandato foi prorrogado em 1967. 
Como presidente, Castelo Branco extinguiu todos os partidos por meio do AI-2, que passou a reconhecer apenas a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) como agremiações políticas permitidas. A resistência à ditadura motivou respostas duras do governo, que reprimiu as ações “subversoras”, restringiu a liberdade de expressão com a Lei de Imprensa e criou o Serviço Nacional de Informações (SNI). O Executivo, que desde o AI-2 já podia governar via decretos-lei, se fortaleceu com a aprovação da quinta Constituição brasileira, em 1967. Castelo Branco iniciou negociações para a criação da Usina Hidrelétrica de Itaipu e inaugurou o Banco Central do Brasil, a Embratur e a Polícia Federal, além de ter reduzido a inflação.
Curiosidade: Castelo Branco fazia piadas com a própria feiura. Ao oferecer um Volkswagen de presente a DeGaulle e perceber que o presidente francês tinha dificuldades de entrar no carro pelo seu tamanho, o brasileiro respondeu que tampouco lhe serviria o cachecol que recebera em troca, pois não tinha pescoço. Uma vantagem de não ter pescoço, brincava Castelo Branco, era a impossibilidade de ser guilhotinado.
Castelo Branco (15/04/1964 a 15/03/1967)
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O ministro da Guerra de Castelo Branco foi autor, como presidente, do AI-5, que lhe garantia não somente o poder de fechar o Congresso, como de cassar políticos e institucionalizar a tortura. Seu governo deu início à fase mais violenta da ditadura militar, sendo que apoiadores de Castelo Branco consideram o mandato de Costa e Silva o verdadeiro início do regime ditatorial no País. 
Enquanto a inflação seguia sendo combatida e o comércio exterior era intensificado, o País vivia crise política, com o surgimento de diversos grupos autodeclarados comunistas e revolucionários que passaram a pregar a resistência armada à violência do Estado. Atentados e sequestros de diplomatas eram encarados como atos terroristas pelo governo. Costa e Silva chegou a reunir juristas para restabelecer a vigência plena da Constituição de 1967, mas seu afastamento devido a um acidente vascular cerebral em 31 de agosto de 1969 deixa em dúvida se o marechal apoiaria mesmo o retorno ao Estado de Direito, e a junta governista provisória que lhe sucedeu relegou ao esquecimento a proposta de extinguir o AI-5.
Curiosidade: Durante a campanha, Costa e Silva escapou de um atentado no Aeroporto Internacional dos Guararapes, em Recife, porque seu avião entrou em pane em João Pessoa e ele teve de ir para a capital pernambucana de carro. Cerca de 300 pessoas esperavam por Costa e Silva no terminal, e a explosão de uma bomba, matando duas pessoas e ferindo outras 14, é considerada o início da resistência armada à ditadura no País.
Costa e Silva (15/03/1967 a 31/08/1969)
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Médici assumiu prometendo restabelecer a democracia até o fim do mandato, mas, ao contrário, seu governo acabou por ser o mais repressivo do período, valendo à época o apelido de Anos de Chumbo. 
O combate à repressão ficou a cargo do irmão do sucessor de Médici, então ministro do Exército, Orlando Geisel, a quem se atribui a eliminação das ações opositoras de guerrilha urbana e rural. O governo Médici também ficou marcado pelo intenso uso da propaganda, a partir do qual se notabilizou a campanha “Brasil, ame-o ou deixe-o”, que supunha patriotismo apenas de quem apoiasse o regime. 
Ao lado da ostensiva repressão política, acusada de tortura, mortes e desaparecimentos políticos, caminhava um pujante crescimento econômico, o chamado “milagre brasileiro”. O crescimento da classe média fomentou o consumo, e eletrodomésticos passaram a ser item comum nas casas do País. 
Inflação baixa e crescimento alto possibilitaram investimentos como as construções da ponte Rio-Niterói e da Transamazônica. Ainda assim, e mesmo com medidas visando ao desenvolvimento regiões como a Amazônia, o País permaneceu registrando alguns dos maiores índices de desigualdade do mundo. 
Curiosidade: É bastante difundida a teoria segundo a qual Médici aproveitou os jogos do Brasil na Copa do Mundo de 1970, no México, para desviar as atenções da opinião pública em relação a medidas autoritárias.
Emílio Garrastazu Médici (30/10/1969 a 15/03/1974)
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Durante o governo de Castelo Branco, Geisel havia investigado denúncias de tortura em unidades militares no Nordeste e se posicionado contra a candidatura de Costa e Silva para a sucessão. Presidente da Petrobras durante o governo Médici, Geisel foi eleito com 84% dos votos do Congresso contra a candidatura de Ulysses Guimarães, do MDB, e iniciou o processo de abertura política, a despeito dos reclames dos militares linha-dura, extinguindo o AI-5 e reatando as relações diplomáticas com a China comunista. Sua gestão foi responsável, ainda, pela criação do Mato Grosso do Sul, desgarrado do território de Mato Grosso, e pela aceleração das obras de construção da Usina de Itaipu, a maior do mundo à época. 
O afastamento de Geisel em relação aos colegas de farda que o antecederam incluiu sua política externa, e o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência da Angola, passando a se aproximar da África e da Europa em rompimento com a política de subserviência aos interesses dos Estados Unidos. 
Curiosidade: Segundo o jornalista Elio Gaspari, a família de Geisel, que viera da Alemanha, era pobre e só pôde lhe pagar os estudos após seu pai, Augusto Geisel, ganhar 100 contos de réis na loteria em 1919. O prêmio equivalia ao salário de 10 anos de um trabalhador de classe média.
Ernesto Geisel (15/03/1974
a 15/03/1979)
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Se haviam sido inócuas as promessas de democracia de todo novo presidente militar, a de Figueiredo se efetivou, com a gradual derrubada das medidas que haviam erguido a ditadura  políticos cassados a partir de atos institucionais foram todos anistiados e o bipartidarismo foi abolido, sendo que o próprio Figueiredo passou da extinta Arena para o recriado Partido Democrático Social (PDS), mesma legenda de Paulo Maluf, que perderia as eleições seguintes para Tancredo Neves. 
Figueiredo enfrentaria uma crise mundial que elevou as taxas de juros e de desemprego. Com inflação a 230% e uma dívida externa que ultrapassava os US$ 100 bilhões, o País se viu obrigado a recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Ainda assim, Figueiredo levou a cabo um programa de habitação que edificou quase 3 milhões de casas populares. Em seu governo, foi criado o Estado de Rondônia.
Como reação à abertura política, uma série de atentados atribuídos a setores da direita passaram a ocorrer. Em um show com mais de 20 mil jovens no Rio, um carro explodiu, matando um militar e ferindo gravemente outro, ambos integrantes do Destacamento de Operações de Informações  Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). Apesar da negativa do Exército, as suspeitas de que a dupla pretendia detonar duas bombas durante as apresentações musicais foi comprovada anos depois. 
Fervilhava no País a possibilidade da redemocratização e, em 1983, o Partido dos Trabalhadores (PT) faz, em São Paulo, o primeiro ato reivindicando eleições presidenciais diretas. O evento seria seguido pela campanha das Diretas Já, que, embora tenha tido sua pauta rejeitada pelo Congresso, encontra desdobramentos no pleito em que Tancredo, líder do movimento, acaba eleito. Com a morte de Tancredo e a consequente posse do vice José Sarney, Figueiredo se recusou a entregar a faixa presidencial ao maranhense, a quem julgava ser um “impostor”.
Curiosidade: O único presidente a exercer mandato de seis anos era um frasista polêmico. “Prefiro cheiro de cavalo a cheiro de povo” é um de seus apartes controversos. Indiferente em relação a um possível golpe contra Tancredo, deixou a primeira-dama perplexa ao afirmar que “o que sei é que no dia da posse vou embora de Brasília levando apenas minhas mulheres”. Em outra ocasião, perguntado por um menino sobre o que faria caso ganhasse um salário mínimo, respondeu: “Eu dava um tiro no coco.” 
João Figueiredo (15/03/1979 a 15/03/1985)
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O mais antigo parlamentar do Congresso contemporâneo teve uma posse presidencial conturbada, já que restavam dúvidas sobre quem deveria vestir a faixa reservada a Tancredo Neves, cuja morte por diverticulite foi anunciada oficialmente em 21 de abril de 1985. O apoio do general Leônidas Gonçalves, que seria ministro do Exército de Tancredo, pesou a favor de Sarney contra Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara. 
A hiperinflação iniciada no governo Figueiredo se acentuou na administração de Sarney, que lançou o Plano Cruzado, determinando o congelamento geral de preços por um ano e um mecanismo de reajuste automático de salários. O sucesso inicial do plano logo deu lugar a uma crise de abastecimento e o retorno da inflação, que, sem ser controlada pelo Plano Cruzado II, levou à moratória. Os planos Bresser e Verão repetiriam os fracassos de seus antecessores, e Sarney encerra seu mandato com uma inflação de 86% ao mês.
Em que pese a debilidade amargada pelas finanças do País na gestão Sarney, a redemocratização foi conduzida com êxito, primeiro com eleições municipais em 1985, depois com a promulgação da Constituição de 1988 e, finalmente, com as primeiras eleições presidenciais diretas desde Jânio Quadros. 
Curiosidade: Em 1966, quando de sua posse como governador do Maranhão, Sarney pediu ao amigo e cineasta Glauber Rocha que filmasse o evento, de que resultou o documentário de curta-metragem Maranhão 66, que intercala o discurso do político eleito e imagens da fome e da miséria no Estado. Parte dessas imagens seria utilizado por Glauber no aclamado Terra em Transe.
José Sarney (15/03/1985 a 15/03/1990)
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Collor assumiu o País com apenas 40 anos de idade, após vencer o petista Luiz Inácio Lula da Silva por uma diferença de 5,71% dos votos, o que não raro se atribui a uma suposta inclinação da imprensa a seu favor – o último debate entre os candidatos acabou televisionado pelo Jornal Nacional com uma edição que beneficiaria o “caçador de marajás”, apelido que Collor deve ao alarde dos meios de comunicação em torno de seu combate aos altos salários recebidos por certos estratos do funcionalismo público. 
A reputação foi uma de suas munições em um contexto de denúncias de corrupção em todas as esferas do governo Sarney, a quem Collor chegou a chamar de “corrupto, incompetente e safado”. O crescimento do adversário nas pesquisas  apoiado Brizola, Mário Covas, Ulysses Guimarães, artistas e sindicatos  levou o programa eleitoral de Collor a recorrer ao depoimento de uma ex-namorada de Lula que o acusava de tê-la induzido ao aborto. 
Eleito, um dia após a posse o hoje senador lançou o Plano Collor para estabilizar a inflação, junto à Política Industrial e de Comércio Exterior (Pice) e ao Programa Nacional de Desestatização (PND). Entre as medidas estavam a substituição do Cruzado Novo pelo Cruzeiro, a criação do IOF e de um imposto sobre as grandes fortunas, a eliminação de incentivos fiscais, o aumento dos preços dos serviços e os congelamentos dos preços, dos salários e de 80% de todos os depósitos do overnight, das contas correntes e cadernetas de poupança que excedessem a NCz $50mil. 
O insucesso no controle da inflação desembocou no Plano Collor II, igualmente ineficaz. Embora atentasse contra o direito da propriedade, o confisco bancário foi aprovado pelo Congresso em poucos dias. Em 10 de maio de 1991, a prima de Collor, Zélia Cardoso de Mello, foi substituída no Ministério da Fazenda pelo economista Marcílio Marques Moreira, que providenciou junto ao FMI um empréstimo de US$ 2 bilhões. A inflação batia os 1200% ao ano, e denúncias de corrupção contra o tesoureiro Paulo César Farias contribuíram para um processo de impeachment que, antes de aprovado, levou Collor a renunciar em 29 de dezembro de 1992. 
Curiosidade: Ainda hoje o presidente mais jovem a ter sido eleito em todas as Américas, Collor não raro era visto praticando cooper e outros esportes com camisetas descoladas, em demonstração de arrojo e juventude, chegando mesmo a pilotar um avião supersônico da esquadrilha da fumaça durante sua gestão.
Fernando Collor (15/03/1990 a 29/12/1992)
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O vice-presidente assumiu o Planalto durante o processo de impeachment  quando já havia se desligado do PRN e manifestava publicamente suas diferenças em relação ao ex-colega de chapa , e assim o mineiro permaneceu após a renúncia de Collor. A maior herança de sua gestão foi o lançamento do Plano Real, colocado em prática por seu ministro da Fazenda e sucessor na Presidência, Fernando Henrique Cardoso. 
Também sob a administração de Itamar foi realizado um plebiscito para decidir a forma de governo do Brasil adiado desde a Proclamação e consumado com a opção de 66% dos votantes pela República e de 55% pelo presidencialismo. Com a garantia do ambiente democrático tumultuado pela instabilidade econômica e política dos governos que o antecederam, Itamar deixou a Presidência com bons índices de aprovação popular.
Curiosidade: Apreciando o carnaval carioca em um dos camarotes da Sapucaí em 1994, Itamar foi fotografado ao lado de uma Lilian Ramos sem calcinha. O episódio passou longe de ser lamentado pela modelo e capa da Playboy, mas chegou a causar um breve escândalo que acabou conhecido como “crise de calcinha”.
Itamar Franco (29/12/1992 a 01/01/1995)
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O sucesso do Plano Real alavancou FHC à Presidência, a partir da qual o sociólogo o implementou uma série de medidas de cunho social  como o Bolsa Escola, a Rede de Proteção Social e o Auxílio Gás, unificados depois
por Lula com o Bolsa Família  e continuou o processo de privatização iniciado por Collor, do qual a venda mais notável foi a da parte acionária do governo da Vale do Rio Doce, hoje a maior empresa privada do País. Também foram privatizados diversos bancos estaduais e estatais do sistema telefônico. A desestatização provocou diversas greves de servidores públicos, a quem o governo sucessivamente negou reajustes salariais. Com o estímulo à entrada de empresas estrangeiras no País e o aumento da concorrência, aliado ao abafamento das fontes de déficit público, FHC conseguiu domar a inflação ainda em seu primeiro mandato. O tucano logrou, ainda, aprovar a reeleição para os cargos eletivos do Executivo. São obras de sua gestão a criação do gasoduto Brasil-Bolívia e a vigência do novo Código de Trânsito e da Lei de Responsabilidade Fiscal, além de diversas melhorias no setor rodoviário.
Vencedor em primeiro turno nas eleições de 1998, FHC enfrentou uma grave crise financeira logo no início do segundo mandato, com uma substancial desvalorização da moeda. A essa crise se somou a do setor energético. FHC tampouco ficou incólume a denúncias de corrupção, a exemplo de acusações de compra de parlamentares pela aprovação da reeleição, favorecimento de grupos financeiros durante processos de privatização e caixa dois de sua campanha eleitoral, que teria ligação com o escândalo do Caso Alstom  denúncias de pagamento de propina a diversos integrantes do PSDB por parte da imprensa internacional, notadamente pelos periódicos alemão Der Spiegel e americano Wall Street Journal. De todo modo, FHC concluiu seus dois mandatos, feito que não era alcançado por um presidente eleito pelo voto direto desde Juscelino.
Curiosidade: Hoje, FHC é um dos maiores nomes do ativismo a favor da descriminalização da maconha no País. Ao lado dos ex-presidentes americanos Bill Clinton e Jimmy Carter, ele aparece no filme Quebrando o tabu, que, lançado em maio de 2011, defende que a política de guerra contra as drogas é ineficaz
Fernando Henrique Cardoso (01/01/1995 a 01/01/2003)
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Depois de três candidaturas frustradas, o ex-torneiro-mecânico, saído do agreste pernambucano e dos comícios sindicais no ABC Paulista, chegou ao Planalto abandonando discurso tido como radical em favor de tom moderado. A agenda de Lula foi pautada pela manutenção do Plano Real, o incentivo ao crescimento, a aproximação com países vizinhos e emergentes e o compromisso com a erradicação da fome e da miséria. Entre 2003 e 2009, 27,9 milhões de pessoas saíram da pobreza, enquanto 35,7 milhões ascenderam à classe média. 
Insucesso precoce, o Fome Zero deu lugar ao Bolsa Família, que ampliou o acesso à educação e o estímulo ao consumo da população carente. A corrupção granjeou espaço entre as preocupações da opinião pública como em poucos governos anteriores. O petista viveu seu momento mais crítico em 2005, com as denúncias do mensalão, suposto esquema de caixa dois e de compra de votos no Congresso. Os ministros Antônio Palocci (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil) foram derrubados pela onda de acusações. Ainda assim, o clima de que a “esperança” vencera o “medo”, junto a uma ampla aliança que contemplou o PMDB, garantiu a Lula reeleição em primeiro turno em 2006. 
A descoberta em 2007 da camada pré-sal entre se somou às vitórias econômicas do governo. Na educação, se destacaram o lançamento do Programa Universidade para Todos (ProUni) e a reformulação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), acompanhada de denúncias de fraude na prestação dos testes. Já o planejamento foi colocado em xeque com o apagão aéreo, que multiplicou transtornos nos aeroportos e ainda divide opiniões frente à escolha do Brasil como palco da Copa do Mundo de 2014 e do Rio como sede das Olimpíadas de 2016. 
Por outro lado, o governo recebeu o “tsunami” da crise de 2008 como uma “marolinha”, nas palavras do presidente, e garantiu ao Brasil relevância no cenário internacional a ponto de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas poder ser vislumbrado. Aplaudido pela imprensa mundial e chamado de “o cara” pelo presidente americano, Barack Obama, Lula comandou uma diplomacia respeitada por erguer a bandeira do diálogo e mediar conflitos, mas criticada em episódios como o da ocupação de soldados bolivianos em uma refinaria da Petrobras e da aproximação com Irã, Cuba e Venezuela. Em palanque, Lula se notabilizou pelo improviso, pelo bom humor e pela sintonia com o vocabulário popular. Com aprovação recordista a fins de seu segundo mandato, foi peça fundamental na eleição da primeira presidente mulher do Brasil. 
Curiosidade: Lula nasceu no ano de 1945 em Vargem Comprida, localidade de Caetés, no interior de Pernambuco e na época um distrito de Garanhuns. Seu registro de nascimento foi feito pelo pai, em São Paulo, apenas sete anos depois e com uma data diferente: 6 de outubro. Ainda assim, Lula comemora aniversário no dia 27, preferindo se fiar à memória da mãe a crer na do pai, que formou uma segunda família e pouco conviveu com Lula. 
Luiz Inácio Lula da Silva (01/01/2003 a 01/01/2011)
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A primeira mulher presidente do País foi aclamada pelas urnas depois de, militante da resistência à ditadura militar, ter sido presa e torturada entre 1970 e 1972. Chefe do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil de Lula, Dilma contou com o carisma e o apoio irrestrito do antecessor para se alçar à Presidência, vencendo o tucano José Serra em eleições tumultuadas por denúncias de escândalos e apelos ao eleitorado religioso via exploração de temas moralmente controversos, como o aborto. No discurso de posse, assumiu compromisso com o seguimento dos programas para erradicara miséria, exaltou as liberdades democráticas e rendeu homenagens às mulheres. 
Embora não tenha suprimido as criticadas relações diplomáticas do País com o Irã, o Itamaraty endureceu seu discurso diante de questões relativas aos direitos humanos. Em seu primeiro ano de governo, Dilma teve de lidar com sucessivas denúncias de irregularidades em seus ministérios. Primeiro, Palocci deixou a Casa Civil, fragilizado politicamente pela divulgação de seu aumento patrimonial. Nelson Jobim não se manteve no Ministério da Defesa depois de criticar publicamente colegas da alta cúpula do governo. 
Os ministros Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo) e Orlando Silva (Esporte) tiveram de abandonar seus cargos, vencidos por acusações de esquemas de desvios de verbas, superfaturamento de obras e favorecimento a empreiteiras e ONGs. Blindada da desaprovação popular por sua “faxina”  termo que ela própria rejeita, afirmando que o combate à corrupção se trata apenas de “ossos do ofício” , Dilma mantém atuação que faz justiça a uma reputação de gestora dura, enérgica e incisiva. Além do pioneirismo ao vestir a faixa presidencial, Dilma foi também a primeira mulher a abrir a Assembleia-Geral da ONU, realizada em Nova Iorque neste ano. 
Curiosidade: Integrante da Vanguarda Armada Revolucionária  Palmares (VAR-Palmares), Dilma era responsável pela limpeza das armas do grupo, embora tenham existido suspeitas de que ela participou do roubo ao “cofre do Adhemar” e foi uma das idealizadoras do plano de sequestrar o ministro da Fazenda por trás do “milagre econômico”, Delfim Neto. 
Dilma Rousseff (01/01/2011 a 01/01/2015)
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