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ORTOPEDIA UC ESPECIALIDADADE MÉDICO-‐CIRÚRGICAS I CHRISTOPHER SAUNDERS 4ºANO -‐ 2014/2015 CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 2 INTRODUÇÃO À ORTOPEDIA ORTOPEDIA – palavra de origem grega, usada pela primeira vez por Nicholas Andry em 1741 Orthos = direito + Paidon = criança É definida pela Sociedade Americana de Ortopedia como a especialidade médica que visa a investigação, a preservação, reconstrução e melhoria funcional dos esqueletos axial e apendicular, através de meios médicos, cirúrgicos ou fisioterapia. A especialidade rege-‐se por alguns princípios funcionais, tais como: • Manter uma visão funcional – função do esqueleto e autonomia do indivíduo • Os principais riscos associados às doenças ortopédicas são o aumento da morbilidade e a perda da capacidade funcional. As situações que cursam com risco de vida são RARAS. • Doentes participam activamente na sua própria reabilitação O alvo de estudo da especialidade é o APARELHO MUSCULO-‐ESQUELÉTICO – aparelho formado não só pelos ossos e articulações, como também por músculos e pelas suas porções tendinosas que permitem a sua inserção a nível do próprio osso. O osso pode ser caracterizado como um tecido vivo, formado inicialmente por uma matriz proteica que mais tarde mineraliza, e dinâmico, com capacidade de se regenerar. As suas principais funções são: protecção, suporte, locomoção e regulação da homeostasia de minerais, tais como, o cálcio. Podem-‐se classificar os ossos de várias formas. Quanto à densidade óssea, podem-‐se classificar os ossos como ossos corticais (ossos com maior densidade) e ossos esponjosos ( O crescimento ósseo é feito a partir de um molde cartilagíneo que mais tarde ossifica. Nos caso dos ossos longos, estes apresentam uma cartilagem de crescimento. Na criança, a cartilagem de crescimento permite a formação de estruturas ósseas que mais tarde amadurecem, levando assim ao crescimento destas mesmas estruturas, e além disso, permite a remodelação, ou seja, alteração da forma do próprio osso, absorvendo as estruturas que se encontram para além da forma do osso adulto e promovendo a deposição de material ósseo onde é necessário, para atingir a forma do osso adulto. Todos este processo de crescimento e remodelação nos ossos designa-‐se por OSSIFICAÇÃO. No caso dos ossos longo, a ossificação inicia-‐se pelo aparecimento de um molde de cartilagem que começa por ossificar a nível da diáfise, surgindo posteriormente a mineralização dos centros de ossificação acessórios, havendo entre o centro de ossificação principal (na diáfise) e os acessórios, centros de cartilagem de crescimento que vão gerando osso de uma forma centrífuga. Para que tudo isto se torne possível, o mais importante é manter a vascularização destas estruturas. Cada centro de ossificação apresenta a sua própria vascularização. O facto de este processo de ossificação se manter apenas até determinada idade explica o facto de que, no caso de fracturas, na idade adulta é necessária a fixação e o realinhamento das estruturas ósseas, enquanto que na idade pediátrica não essa necessidade, pois o esqueleto imaturo mantém a capacidade de remodelação óssea. MODALIDADES TERAPÊUTICAS EM ORTOPEDIA Existem vários tipos de tratamento: CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 3 Ø TRATAMENTO CONSERVADOR: podendo ser definitiva ou transitória, ou seja, de preparação para uma posterior abordagem cirúrgica. Este tipo de tratamento é incruente, ou seja, faz-‐se sem nenhum tipo de incisão na pele. Pode ser através de tratamento farmacológico, fisioterapia; colocação de ortóteses (= colocação de meios externos que limitam o movimento de uma determinada articulação, permitindo a sua cicatrização) e próteses (meios de substituição da articulação); utilização de meios de tracção (permitem o alinhamento ósseo) e de imobilização (através de tala engessada para manter a redução das fracturas e realinhamento correcto dos topos ósseos). As principais complicações deste tipo de tratamento podem ser de vários tipos: vasculares (resultante do edema localizado), cutâneas ( por exemplo, úlceras de pressão), nervosas (devido à compressão de nervos) e respiratórias (como no caso de imobilização torácica devido a fracturas da coluna). A prevenção das complicações é feita através da colocação de uma manga de protecção anível da pele, estruturas almofadadas a nível das proeminências ósseas e vigilância regular dos doentes. Ø TRATAMENTO CIRÚRGICO – pode abordar vários tipos de estruturas: • OSSO – existindo assim vários tipos de técnicas: o OSTEOSÍNTESE – no caso de fractura, a redução e alinhamento dos topos ósseos, com a fixação da posição com placas e parafusos. o OSTEOTOMIA – ressecção de um segmento ósseo por prejudicar o alinhamento ou para obter uma alteração de alinhamento que permite uma fixação correcta. o RESSECÇÃO ÓSSEA – técnica utilizada no caso de tumores e infecções ósseas. o ENXERTO ÓSSEO – utilizado de forma adjuvante a outras técnicas cirúrgicas o EPIFISIODESE – técnica utilizada apenas na criança pois diz respeito à fise ou cartilagem de crescimento, em que esta pode ser bloqueada transitória ou definitivamente para alinhar o crescimento do membro. • ARTICULAÇÃO – existindo vários tipos de técnicas: o ARTROCENTESE – punção da articulação para drenagem, quer pelo excesso de fluido sinovial ou de conteúdo hemático ou purulento que se pode acumular na articulação. o ARTROSCOPIA – visualização directa da articulação permitindo diagnóstico e tratamento das lesões. o ARTROTOMIA – abordagem aberta/directa da articulação CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 4 o SINOVECTOMIA – técnica de ressecção do revestimento sinovial da articulação o ARTROPLASTIA – podendo ser de substituição da própria articulação ou pode ser de ressecção (= ressecção articular). o ARTRODESE – fixação da articulação de forma definitiva e funcional • TENDÕES – existindo vários tipos de técnicas: o TENORRAFIA – sutura do tendão o TENOTOMIA – ressecção do tendão o ENXERTO TENDINOSO – colheita de tendão de outro músculo, substituindo o tendão lesado. o TENODESE – fixação do tendão num ponto que não é o ponto de fixação original, mas que permite manter a funcionalidade • NERVOS PERIFÉRICOS – existindo vários tipos de técnicas: o TRANSPOSIÇÃO – é uma das técnicas mais utilizadas. Consiste na remoção do nervo na sua posição habitual e coloca-‐lo num leito mais seguro, de modo a garantir a sua funcionalidade. o NEURÓLISE – libertação do nervo, sendo realizada nas camadas mais superficiais do nervo o NEUROTOMIA – ressecção do nervo quando há um neuroma o ENXERTO NERVOSO – utilização de um segmento de outro nervo que substitui o segmento lesado ORTOPEDIA PEDIÁTRICA DEFORMIDADES DO CRESCIMENTO As deformidades do crescimento podem ser divididas em dois tipos – congénitas e adquiridas. 1. DEFORMIDADES CONGÉNITAS – todas as deformidades presentes à data do nascimento, podendo-‐se desenvolver até ao fim do 1º mês de vida (período neonatal). Dentro das deformidades congénitas podemos distinguir dois grupos: o As alterações que decorrem no período embrionário (que corresponde às 8 primeiras semanas de gestação) – período em que se desenvolvem as MAL-‐FORMAÇÕES CONGÉNITAS, sendo que as principais causas para estas são causas genéticas e causas teratogénicas. o As alterações que ocorrem no período fetal (que corresponde ao tempo compreendido entre as 8 primeiras semanas e o nascimento) – período em que as principais alterações são: DISPLASIA (alterações com o desenvolvimento do tecido, após a formação do mesmo), CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 5 DISRUPÇÃO (processo que envolve a quebra dos tecidos ditos normais) e DEFORMAÇÃO (processo desencadeado pelo stress mecânico sobre um tecido normal. Uma das principais causas é o oligohidrâmnios). Dois exemplos de deformidades congénitas são – Displasia do desenvolvimento da anca (DDA) e pé-‐ boto. A. DISPLASIA DE DESENVOLVIMENTO DA ANCA (DDA) -‐ É uma anomalia da modelação das superfícies articulares com carácter evolutivo. -‐ As principais alterações patológicas estão relacionadas com a falta de estabilidade da articulação, displasia articular, sub-‐luxação e luxação da articulação. Estas alterações podem ser coexistentes ou ocorrer de uma forma subsequente. -‐ É uma patologia RARA (2:1000), sendo mais frequente no sexo feminino (7:1), ocorrendo em 80% dos casos unilateralmente, com maior incidência sobre a anca esquerda. -‐ Os factores de risco associados à DDA são: sexo feminino, primeira gravidez (devido ao aumento da tonicidade do útero, condicionando os movimentos intra-‐uterinos do feto), feto de apresentaçãoo pélvica, história familiar (36% de risco associado) e mal-‐ formações congénitas (50% de risco associado. Exemplos de mal-‐fomações congénitas são torcicolo congénito, pé boto, deformidades do crânio-‐faciais). -‐ DIAGNÓSTICO: feito através da clínica no período neo-‐natal, através da realização do exame objectivo do recém-‐nascido. Podemosdividir os sinais clínicos em sinais clínicos major: • Teste de Ortolani (redução) – criança em decúbito dorsal, realizando-‐se a flexão da anca em cerca de 90º, imprimindo um movimento de abdução sobre a articulação. Caso haja redução da cabeça do fémur sobre a cavidade acetabular, haverá a presença de um click audível – TESTE DE ORTOLANI POSITIVO. • Teste de Barlow (deslocação) – criança em decúbito dorsal, realizando-‐se a flexão da anca, imprimindo um movimento de aducção com orientação ligeiramente para posterior. Este movimento condiciona nas ancas instáveis uma luxação da articulação, manifestando-‐se através de um ressalto e click – TESTE DE BARLOW POSITIVO. • Limitação da abdução – criança em decúbito dorsal e realiza-‐se o movimento de abducção dos membros, podendo verificar-‐se diferenças entre os dois membros. O membro afectado apresentará uma maior resistência ao movimento. E em sinais clínicos minor: • Assimetria das pregas cutâneas a nível da coxa – sendo que a prega mais relevante é a do sulco nadegueiro, sendo que esta é a mais proeminente. A ausência deste mesmo sulco pode ser sinal de DDA, do lado afectado. • Teste de Galeazzi – criança em decúbito dorsal com flexão da anca e dos joelhos, havendo uma assimetria do comprimento da perna, sendo o lado mais curto aquele que se encontra afectado. • Telescopagem ou teste de Pistoning – criança em decúbito dorsal. A mão homóloga do examinador é colocada na anca e a mão homolateral é colocada no joelho, fazendo um movimento compressivo/descompressivo. CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 6 Caso a anca esta reduzida, o impulso transmitido pelo movimento é sentido na mão do examinador. • Teste de Trendelenburg – sinal que é pesquisado na idade da marcha. Apoia-‐se o peso corporal no lado afectado, verificando-‐se uma báscula da bacia, no sentido contrário ao que é normal, devido à atrofia dos músculos abdutores. -‐ ECD’s: diagnóstico clínico é confirmado essencialmente através de dois exames: § ECOGRAFIA, devendo ser realizado ao fim das seis semanas de idade. Isto prende-‐se com o facto de até esta idade, o bebé apresenta um excesso de hormonas maternas em circulação que são miorelaxantes e por isso, dariam um falso positivo. § RX, devendo este ser realizado apenas no 4º mês de idade pois só nesta altura há ossificação do núcleo epifisário superior do fémur. Num RX de dum doente com DDA, verificar-‐se uma região ossificada de menores do lado afectado – isto é explicado pelo facto de que se a cabeça do fémur não se encontra propriamente instalada no acetábulo, ocorre um atraso do crescimento de ambas as estruturas ósseas. A melhor leitura imagiológico é feita através do uso de algumas linhas de referência: o Quadrantes formado por duas linhas: linha de Perkins (linha vertical que passa no bordo superior do acetábulo) e linha de Hilgenreiner (linha horizontal que passa no centro da cartilagem tri-‐radiada). No caso de anca estável, o núcleo encontra-‐se no quadrante ínfero-‐ interno, e no caso de anca instável encontra-‐se nos quadrantes externos. o Linha acetabular (que passa pela cartilagem tri-‐radiada e pelo bordo inferior e superior da cavidade acetabular), que não deve fazer mais do que 30° com a linha de Hilgenreiner o Linha de Shenton (linha contínua que passa pelo bordo inferior do colo do fémur e bordo superior do foramen obturador), a disrupção da continuidade desta linha é indicativa de DDA. o Existem outros ECD’s que podem ser utilizados, nomeadamente: § ARTROGRAMA/ARTOGRAFIA – exame realizado ao 4º mês de vida apenas nas ancas instáveis, após a realização do controlo ecográfico de crianças submetidas a tratamento, mas que mantêm a luxação da articulação. No caso de DDA, não haverá contraste no fundo acetabular, devido ao bloqueio da redução do membro afectado. Este bloqueio é feito pelo por quatro componentes: pulvinar (tecido adiposo que se encontra no fundo do acetábulo e que, no caso de luxação/subluxação, o espaço existente entre o fundo acetabular e a cabeça do fémur), ligamento redondo (ligamento que permite a fixação da cabeça do fémur que, no caso de luxação/subluxação encontra-‐se aumentado de também, ocupando mais espaço da cavidade acetabular quando há a tentativa de redução do membro), debrum acetabular (fibrocartilagem que se pode encontrar invertido, impedindo a redução do membro) e músculo psoas (músculo que se insere no trocânter menor que no caso de luxação/subluxação vai apresentar uma dimensão menor, dificultando a redução do membro). CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO7 -‐ TRATAMENTO: deve ser iniciado o mais precocemente possível, depois do diagnóstico confirmado por ECOGRAFIA. Pode ser de tipos: • TRATAMENTO CONSERVADOR/INCRUENTE – consiste na utilização de talas/ortóteses flexíveis – ortóteses de Pavlik – permite a fixação da anca em flexão (100º) e em abdução (entre os 50° e 70°), ou seja, coloca-‐se o membro numa posição persistente e idêntica à do teste de Ortolani. A variabilidade da abdução deve-‐se à variabilidade inter-‐ individual da estabilidade da articulação da coxa. O grau de estabilidade é avaliado de duas formas: o segundo o grau de abdução, quanto maior o grau de abdução maior a instabilidade da anca. Em caso de ângulos de abdução muito elevados pode-‐se correr o risco da cabeça do fémur entrar num processo de OSTEONECROSE (isto porque em caso de grandes abdução ocorrer o estiramento da artéria circunflexa interna, responsável pela vascularização da cabeça femoral). o Segundo o grau de adução, isto explicado pelo facto de na realização do teste de Barlow, caso em ângulos de adução muito reduzidos haja luxação da articulação, então esta é muito instável. Quanto menor o ângulo de adução em que ocorre luxação, maior a instabilidade da articulação. Caso o tratamento com as ortóteses de Pavlik não resultem em primeira instância, os bebés são levados para o bloco operatório onde, após a realização de um artrograma, é realizada a manobra de Ortolani com redução da articulação, imbolizando o bebé com um gesso pelvi-‐podálico (ou calção gessado) durante 1 mês. Após este, o gesso é substituído pelas ostoses de Pavlik, em caso de estabilidade articular. • TRATAMENTO CIRÚRGICO – realizado em caso de falência do tratamento conservador. A cirurgia só deve ser realizada ao fim de 18 meses de vida. Podem se fazer dois tipos de cirurgias: o OSTEOTOMIA PÉLVICA – com o objectivo de criar um tecto articular – TECTOPLASTIA – ou realizar osteotomias de re-‐ orientação o OSTEOTOMIA FEMORAL – permitindo osteotomia de varização e osteossíntese com placa. O PROGNÓSTICO é muito dependente do grau de estabilidade da articulação – quanto mais estável for a articulação, melhor é o prognóstico cirúrgico. As duas principais complicações são: OSTEONECROSE (por estiramento iatrogénico da artéria circunflexa interna) e ARTROSE (ocorre mais precocemente, por volta dos 20-‐30 anos). B. PÉ-‐BOTO -‐ Deformidade que ocorre sem perda ou ausência de segmentos. CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 8 -‐ É considerado um vício de posicionamento do pé, com alteração das relações recíprocas dos ossos e tecidos moles. -‐ Verifica-‐se a alteração arquitectónica de três ossos do tarso – calcâneo, tálus e escafóide. -‐ É uma patologia RARA – ocorre em 1 de cada 1000 nascimentos, sendo mais comum no sexo masculino. Quando unilateral (50%), tem maior predomínio para o lado esquerdo. -‐ As deformidades presentes podem ser de vários tipos: equinus, cavus, varus e adductus, sendo que a deformidade mais comum é equinovarus. -‐ ETIOLOGIA: é uma patologia de causa MULTIFACTORIAL, contribuindo quer factores ambientais, como a posição intra-‐uterina do bebé e oligohidrâmnios, e factores genéticos, sendo associado a gene de transmissão autossómica dominante, de penetrância incompleta. -‐ DIAGNÓSTICO: é CLINICO, não sendo necessário a confirmação por exames de imagem. No raio-‐X do pé o diagnóstico é feito utilizado as linhas longitudinais do calcâneo e do tálus – na incidência AP, as linhas formam um ângulo convergente (divergentes na ausência de doença); no perfil, as linhas formam linhas paralelas (divergente na ausência de doença). Nestes casos, o escafoide não é referencia pois a sua ossificação ocorre mais tarde (3/4anos). Clinicamente, é necessário avaliar a RIGIDEZ do pé. Quanto maior a rigidez, pior é o prognóstico. O pé-‐boto com pior prognóstico é aquele que tem origem numa causa teratogénica. -‐ TRATAMENTO: deve ser realizado o mais precocemente possível. Objectivo é tornar o pé plantígrado e funcional. Podem ser feito dois tipos de tratamentos: o TRATAMENTO CONSERVADOR -‐ É utilizado o método de Ponseti, que consiste na manipulação de 5 gessos seriados, que são mudados semanalmente. O principal objectivo é: § no primeiro gesso – ao realizar a hiperextensão do hálux, permite a correcção da deformidade em cavus § no segundo gesso – colocação de um gesso de 0º de abdução, seguindo a colocação de gesso com o aumento progressivo desse mesmo grau – 15° (terceiro gesso), 45° (quarto gesso). Esta progressão permite a correcção do varus do retro-‐pé e o adductus do ante-‐pé. § noquinto gesso – colocação de um gesso com 20° de extensão e 75° de abdução, permitindo a correcção do equinus. Pode haver a necessidade de uma tenotomia do tendão de Aquiles antes da colocação do quinto gesso. Este último só é removido ao fim de 3 semanas, tempo que permite a cicatrização do tendão de Aquiles. No final das 7 semanas (1+1+1+1+3), o gesso é substituído pelas talas de Denis-‐ Brown, permitindo a extensão e abdução permanente do pé. Estas talas devem ser utilizadas 23 horas durante os primeiros 3 meses, seguido de 16h (horas em que o bebé se encontra a dormir) por dia até aos 3/4 anos de idades. o TRATAMENTO CIRÚRGICO – realizado ou no caso de falência do tratamento médico ou nos casos mais graves. Pode consistir: nos casos mais precoces, preconiza-‐se a cirurgia de tecidos moles: tenotomia do tendão de Aquiles (permitindo o seu CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 9 alongamento), realizada por via aberta ou via percutânea; e transferência do tensão tibial anterior (20% dos casos); nos casos mais tardios, na osteotomia de correcção. 2. DEFORMIDADES ADQUIRIDAS – todas as deformidades que ocorrem após o 1º mês de vida, podendo ser classificadas de duas formas diferentes: o Quanto à ETIOLOGIA – podem ter origem vascular, traumática, neurológica (ex: paralisia cerebral), infecciosa, inflamatória (ex: artrite reumatoide), tumoral (ex: hemangioma) e, nalguns casos, idiopática. o Quanto à LOCALIZAÇÃO – os principais locais são: COLUNA VERTEBRAL – escoliose, cifose e espondilolistese – e MEMBROS – desvios axiais, osteocondroses e epifisiólise femoral proximal. 2.1 DEFORMIDADES DA COLUNA VERTEBRAL A. ESCOLIOSE -‐ Escoliose é definida como qualquer curvatura da coluna vertebral no plano frontal. -‐ Relativamente à sua classificação podem ser dividir em: o NÃO ESTRUTURAIS – cursam SEM alteração morfológica das vértebras. São escolioses que não progridem no tempo, sendo corrigidas quando o doente executa o side-‐bending da convexidade. As principais causas são: POSTURAIS, ANTI-‐ÁLGICAS e COMPENSATÓRIAS. o ESTRUTURAIS – cursam COM alteração morfológica das vértebras, verificando-‐se uma alteração da curvatura da coluna no plano frontal. Verificam-‐se anomalias tri-‐ dimensionais, devido a um desvio rotacional das vértebras envolvidas na deformidade. São escolioses que progridem no tempo, sendo as principais causas: idiopáticas (normalmente são escolioses bem equilibradas, ou seja, os ombros e as cristas ilíacas encontram-‐se à mesma altura bilateralmente), tumorais, inflamatórias, neurológicas (normalmente a deformidade em C que acompanha toda a coluna) e congénitas (podem ser detectadas por alterações simétricas a nível dos pedículos, processo espinhoso ou a nível do corpo vertebral). -‐ HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME OBJECTIVO – na avaliação do doente devem-‐se ter em conta os seguintes aspectos: § INSPECÇÃO – avaliar pele, desenvolvimento músculo-‐esquelético, maturação esquelética e altura do doente; verificar se os ombros e as cristas ilíacas estão num nível balanceado ou descompensado; avaliar deformidades torácicas e escapulares; avaliar a flexibilidade; pesquisar sinais de síndrome que possam estar relacionados com a escoliose como, por exemplo, Síndrome de Marfan; avaliar os doentes na posição de pé, sentada e em marcha. A avaliação do equilíbrio dos ombros e da pelve é um factor de prognóstico importante. Relativamente à translacção da coluna vertebral, quando esta é maior do que 10mm é indicativo de mau prognóstico. doente CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 10 -‐ DIAGNÓSTICO: é CLÍNICO sendo realizado o teste de Adams – doente faz a flexão anterior da coluna tóraco-‐lombar. Além deste teste, é necessário fazer uma avaliação completa do doente em questão tendo em conta os seguintes aspectos: § Curvaturas – são nomeadas segundo o lado da sua convexidade § Vértebra apical – vértebra que apresenta a máxima rotação § Curvas compensatórias ou secundárias § Classificação quanto ao aparecimento: escoliose da criança (até aos 3 anos), adolescente (entre os 3 e os 10 anos) e do adulto jovem (a partir dos 10 ANOS). Relativamente ao diagnóstico imagiológico, o mais indicado é um RX de toda a coluna vertebral. Os objectivos a estabelecer na avaliação radiológica da escoliose são: § Determinar é o ÂNGULO DE COBB -‐ determinado a partir da intersecção de duas linhas: linha paralela ao bordo superior da primeira vertebra voltada para a concavidade e um linha paralela ao bordo inferior da última vértebra que está voltada para a concavidade. § Avaliação da rotação vertebral da vertebra apical, usando o MÉTODO DE NASH & MOE – a partir das radiografiasdo eixo longo da coluna vertebral, podendo-‐se estratificar em: o GRAU 0 – pedículos são simétricos o GRAU 1 – o pedículo convexo está deslocado na margem lateral do corpo vertebral o GRAU 2 – o pedículo convexo encontra-‐se nos 2/3 do corpo vertebral o GRAU 3 – o pedículo convexo encontra-‐se no centro do corpo vertebral o GRAU 4 – o pedículo convexo passa a linha média do corpo vertebral § Avaliação de processos de descompensação § Avaliação da flexibilidade – pede-‐se ao doente para realizar side-‐bending para o lado da convexidade (o que se verifica é que a curvatura diminui, permitindo a avaliação das estruturas sólidas). Além do RX da coluna vertebral, torna-‐se também importante a aquisição do RX pélvico, afim de avaliar a maturidade do esqueleto. A avaliação da pelve é feita através do ÍNDICE DE RISSER – mede o grau de visualização da cartilagem de crescimento da crista ilíaca: o GRAU 0 – a cartilagem não é visível. o GRAU 1 – cartilagem preenche até 25% da crista ilíaca. o GRAU 2 – cartilagem preenche até 50% da crista ilíaca. o GRAU 3 – cartilagem preenche até 75% da crista ilíaca. o GRAU 4 – quando a cartilagem preenche toda a crista ilíaca, mas ainda se consegue individualizar, o GRAU 5 – o crescimento da crista ilíaca já terminou, estando a cartilagem completamente fundida, Em raras situações, pode-‐se ainda recorrer ao RX do punho e da mão para a avaliação da maturidade esquelética. No entanto, estes métodos são muito pouco utilizados. -‐ TRATAMENTO: pode ser dividido em dois tipos: CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 11 o TRATAMENTO CONSERVADOR/INCRUENTO – mais frequentemente são utilizados coletes Milwaukee (CTLSO), coletes LSO/lombostatos (para o caso das curvaturas lombares). Os principais objectivos deste tipo de tratamento são: a redução das curvaturas escolióticas, a correcção da escoliose durante o período de crescimento e a prevenção da reincidência de novas lesões escolióticas. o TRATAMENTO CIRÚRGICO/CRUENTO – os objectivos deste tipo de tratamento são: melhorar a curva escoliótica, melhorar a imagem tri-‐dimensional da coluna, prevenir a progressão da escoliose, reduzir a dor, optimizar a função pulmonar e manter a integridade morfológica. A correcção da deformidade é feita através da criação de uma ARTRODESE – conseguida por várias abordagens: • ANTERIOR – é realizada por toracotomia, toracolombofrenotomia ou lombotomia. Pode ainda ser feita de uma maneira isolada para a corracção da deformidade ou pode utilizada para casos em que seja necessária uma libertação da coluna vertebral, para depois pela via posterior se conseguir a desrotação. • POSTERIOR – mais utilizada. Deve-‐se definir o local para a colocação dos pontos de fixação, recorrendo ao uso de parafusos e ganchos para realizar o processo de desrotação. Este processo, juntamente com a compressão e a distracção permite obter o realinhamento pretendido. Além disso, o processo de descorticação das lâminas dos processos transversos para garantir uma maior estabilidade da coluna vertebral. • MISTA B. CIFOSES -‐ CIFOSES consistem em curvaturas da coluna no plano sagital de convexidade posterior. As cifoses podem-‐se dividir em: o CIFOSES FISIOLÓGICAS – ocorrem na coluna vertebral ausente de qualquer deformidade/patologia. Existem duas cifoses – cifose torácica (ângulo varia entre 20° a 45°) e cifose sagrada. o CIFOSES PATOLÓGICAS – também designadas de hipercifoses. Ocorrem quando há alteração da variabilidade do ângulo cifótico. A cifose patológica mais comum ocorre a nível torácico. -‐ Além das cifoses, podem ainda ser consideradas as LORDOSES – curvaturas da coluna no plano sagital de convexidade anterior, sendo que, tal como as cifoses, podem ser fisiológicas ou patológicas. As lordoses fisiológicas ocorrem a nível cervical e lombar (ângulo varia entre 40° a 60°. A lordose lombar é característica do ser humano). As lordoses patológicas mais comuns ocorrem a nível lombar. -‐ Assim as várias curvaturas da coluna vertebral pretender atingir o equilíbrio sagital ideal – equilíbrio postural que permite ao individuo ter uma visão tri-‐dimensional com o menor esforço muscular possível, qualquer que seja a posição. Balanço sagital da coluna vertebral é altamente dependente da forma e posição da pelve. -‐ Para a avaliação do equilíbrio sagital recorre-‐se ao RX de perfil de toda a coluna, podendo-‐se avaliar de duas formas possíveis o traçando-‐se uma linha vertical que passa pelo centro do corpo vertebral de C7 e que cruza o promontório sagrado em ± 2cm. CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 12 o Avaliação do ÂNGULO ESPINO-‐SAGRADO – método mais utilizado(mais fiável). Este ângulo é formado pelo cruzamento de duas linhas: uma linha que vai do centro do corpo vertebral de C7 até ao centro do promontório sagrado e outra que vai desde o promontório sagrado até à sínfise púbica, com uma amplitude angular fixa de 135°. A utilização deste método permite a avaliação global da quantidade de cifose. -‐ A perda do equilíbrio cifótico é uma das causas mais frequentes para lombalgia. Além disso, Glassman defende que o facto de existir um desequilíbrio sagital, verificável a nível radiográfico, é altamente preditivo e indicativo do status clínico do doente. -‐ ETIOLOGIA – quanto à sua causa as cifoses podem ser classificadas em: o CIFOSES ESTRUTURAIS – cujas causas podem ser: defeitos congénitos (deformações na formação, na segmentação – barras vertebrais que resultam da fusão de vária vértebras – ou mistas), doença de Scheuermann, causas neuromusculares (neurofibromatose, mielomeningocelo, trauma (fracturas do corpo vertebral), causas pós-‐cirúrgicas (pós-‐laminectomia), doenças do colagénio, status pós-‐RT e doenças metabólicas (osteoporose – provoca fracturas do corpo vertebral do tipo A, osteomalacia, osterogénese imperfecta). o CIFOSES NÃO-‐ESTRUTURAIS – cuja causa mais frequente é a causa postural. Este tipo de cifoses é mais comum nos adolescentes e jovens adultos, e as alterações radiológicos não são muito consideráveis. O doente mantém a flexibilidade do movimento da coluna vertebral. Ø DOENÇA DE SCHEUERMANN – é uma osteocondrose, cuja patogenia ainda não está completamente definida, havendo num entanto uma tendência familiar para o aparecimento da doença. Ocorre a partir dos 12/14 anos, sendo tão frequente no homem como na mulher. Doença é caracteriza por deformidade cifótica torácica e dor (em 50% dos casos). Radiologicamente o exame indicado é a RMN – verifica-‐se uma alteração da ossificação endocondral, irregularidades da região epifisária, estreitamentos focais do espaço discal, formação de nódulos de Schmorl (invaginações do disco para o interior da corpo vertebral). O padrão típico é afectar mais do que 3 vértebras e com 5 graus de cunha. A progressão da doença leva ao aparecimento de alterações degenerativas. O tratamento deste doença pode ser de dois tipos: CONSERVADOR – através da utilização de coletes de Schroth (complementado por fisioterapia); CIRURGICO – realização de osteotomias apicais , redução, fixação e atrodese 2.2 DEFORMIDADES DOS MEMBROS C. DESVIOS AXIAIS DOS MEMBROS -‐ Representam um conjunto de patologias que leva à alteração da relação entre os membros (esqueleto apendicular) e o esqueleto axial. Estas alterações levam a alterações no plano axial dos membros, podendo cursar com o afastamento ou aproximação dos mesmos relativamente ao esqueleto axial. -‐ Os desvios axiais são mais comuns no membro inferior do que no membro superior. CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 13 -‐ Dentro dos desvios do membro inferior podemos agrupá-‐los em três regiões: anca, joelho e pé. As alterações mais frequentes ocorrem a nível do joelho e pé. o DEFORMIDADES DO JOELHO § GENU VALGUM e GENU VARUM No final do crescimento, os joelhos apresentam entre 5-‐7° de valgum. O diagnóstico das alterações é CLÍNICO, sendo realizado através da observação do doente na posição vertical. Genu varum é avaliado pela medição da entre os joelhos, com as pernas esticadas e as junção dos maléolos mediais. Esta distância deve ser inferior a 6 cm. Genu valgum é avaliado pela medição da distância entre os maléolos mediais, com a junção dos joelhos e a patela orientada anteriormente. Esta distância deve ser inferior a 8 cm. Estas alterações são mais frequentes na criança, fazendo parte do desenvolvimento dos próprios membros. A maioria dos desvios são corrigidos entre 10/12 anos de idade. Tratamento não é necessário, mas a progressão do desvio deve ser avaliado de 6/6 meses. Caso aos 10/12 anos de idades, os desvios ainda sejam muito marcado, o tratamento é CIRÚRGICO com a realização de epifisiodese (fixação da fise para diminuir a taxa de crescimento) ou osteotomia, nos estados mais tardios. § TIBIA VARA ou DOENÇA DE BLOUNT Trata-‐se de uma doença RARA na qual há um alteração da porção medial da epífise superior da tíbia, resultando num genu varum progressivo. As alterações podem uni ou bilaterais. O tratamento é CIRÚRGICO e consiste na osteotomia da porção superior da tíbia, podendo ter que ser repetida durante o desenvolvimento da criança. § Apesar de mais frequentes nas crianças, estas alterações podem ocorrer nos adultos. Nestes casos, as alterações mais frequentemente são UNILATERAIS. São secundarias aoutras entidades – lesões pós-‐traumáticas, artrite reumatoide (mais comum – valgum) e osteoartrite (mais comum – varum). o DEFORMIDADES DO PÉ – de um forma geral podem se caracterizar por: § EQUINUS – o retro-‐pé tem flexão plantar no tornozelo § CALCANEUS – o retro-‐pé tem dorsiflexão no tornozelo § VARUS – o retro-‐pé está em adução ou invertido quando visto posteriormente § VALGUS – o retro-‐pé está em abdução ou evertido quando visto posteriomente § CAVUS – o arco longitudinal inferior é mais elevado que na maioria dos casos § PLANUS – não existe arco longitudinal, sendo que o pé é normalmente valgum. CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 14 D. EPIFISIOLISE SUPERIOR DO FÉMUR (ESF) -‐ Caracterizada pelo escorregamento da epífise sobre o colo femoral, numa direcção póstero-‐ inferior. -‐ Em situação não-‐patológicas, o eixo do colo femoral e o eixo do corpo do fémur são perpendiculares entre si. No caso da ESF, esta relação entre os dois eixos está ausente. -‐ Mais comum nos indivíduos do sexo masculino, entre 10/17 anos de idade, altura em que o esqueleto apresenta uma fase de crescimento rápido. Apenas em 1/3 dos casos é que a lesão ocorre bilateralmente. -‐ CAUSAS: esta entidade tem uma origem multifactorial – associado a uma taxa de crescimento muito elevado (verificando-‐se uma zona hipertrófica na cartilagem de crescimento, alterando os factores mecânicos da própria articulação); factores traumáticos ou microtraumáticos, pois ocorre normalmente associado ao exercício físico; factores endócrinos e inflamatórios, nomeadamente hipotiroidismo (nestes doentes 50% dos casos cursam com lesões bilaterais); síndrome adiposo-‐genital (ocorre devido ao desiquilibrio entre a hormona de crescimento – GH – e as hormonas sexuais); distrofia local do tecido adiposo. -‐ DIAGNÓSTICO: feito através da clínica, com a necessidade de recorrer a exames complementares de diagnóstico. o DIAGNÓSTICO CLÍNICO – o principal sintoma é DOR NA ANCA, que pode irradiar até à face interna da articulação do joelho (devido à irritação do nervo obturador). Na maioria dos casos (60%), a forma de apresentação é crónica, que evolui durante 3/4 semanas. A segunda forma de apresentação mais comum é a agudização de um estado crónico. Os doentes podem ainda referir CLAUDICAÇÃO. No exame objectivo, verifica-‐se uma redução da mobilidade articular, resultante da diminuição da rotação interna e da abdução devido à limitação mecânica imposta sobre a articulação da anca. Relativamente à gravidade do escorregamento este pode ser caracterizado em três graus: • GRAU 1 – escorregamento até 30% da cabeça em relação ao colo femoral. • GRAU 2 – escorregamento até 50% da cabeça em relação ao colo femoral. • GRAU 3 – escorregamento acima de 50% da cabeça em relação ao colo femoral. o DIAGNÓSTICO IMAGIOLÓGICO – realização de RX da anca em dois planos – AP e de perfil. Os critérios que permitem o diagnóstico de ESF são: • Presença do sinal em crescente – resultante da sobreposição da cabeça em relação ao colo femoral. • Linha de Kline – linha que passa no bordo superior do colo femoral que, em caso de escorregamento, mantém-‐se superior à cabeça do fémur (sinal de Trethowan), em vez de intersecta-‐la. -‐ COMPLICAÇÕES: as complicações mais frequentes são: § NECROSE AVASCULAR -‐ pois pode levar a alterações a nível da articulação e estiramento da cápsula articular, que pode culminar no estiramento dos vasos capsulares, levando à osteonecrose da cabeça do fémur. Esta complicação pode cursar com a evolução. A consequência desta mesma necrose acaba por ser ARTROSE. CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 15 § CONDRÓLISE – destruição primária da cartilagem articular, sem envolvimento do osso subcondral. Traduz-‐se radiograficamente por uma diminuição da linha articular, e clinicamente por dor. A complicação tardia desta condição é a própria ARTROSE. § OSTEOARTRITE -‐ TRATAMENTO: ESF trata-‐se de uma EMERGÊNCIA CIRÚRGICA. O tratamento cirúrgico consiste na FIXAÇÃO, que pode ser de vários tipos, consoante o grau de gravidade do escorregamento: § GRAU 1 – FIXAÇÃO IN SITU, que consiste na fixação das estruturas ósseas sem fixação do próprio escorregamento. § GRAU 2/3 – associa-‐se REDUÇÃO à FIXAÇÃO. No casos mais graves, em que é necessário reestabelecer a anatomia da articulação pode-‐se recorrer à OSTEOTOMIA, que pode ser realizada a nível da base do colo femoral com a remoção de um fragmento triangular. E. OSTEOCONDROSE -‐ Consiste numa doença necro-‐degenerativa, de origem isquémica, localizada nos núcleos de ossificação de epífises e apófises/processos.-‐ Mais comum em indivíduos do sexo masculino, sendo menos frequente em indíviduos de raça nega. -‐ Ocorre sobretudo na primeira década de vida – 3/12 anos de idade. As duas excepções a esta regra são as osteocondroses do adulto – Doença de Kienbock e doença de Muller-‐Weiss Ø DOENÇA DE KIENBOCK – necrose avascular do lunato (osso do procarpo) após lesão ou fractura de stress. Um dos factores de risco associado é um encurtamento da ulna (variação anatómica). Ocorre mais frequentemente em doentes jovens com queixas de dor e rigidez local, com limitação da extensão do punho. Imagiologicamente pode ser detectado por RX, sendo que os estádios mais precoces da doença são apenas detectados por RMN. O tratamento dos estádios mais precoces consiste na osteotomia da porção mais distal do rádio, de forma a aliviar a pressão local; nos estádios mais tardios consiste na artrodese parcial da articulação do punho. Ø DOENÇA DE MULLER-‐WEISS – -‐ ETIOLOGIA: é uma patologia de causas multifactoriais – processos de necrose, microtraumatismos e fracturas de stress (devido à tracção de estruturas ligamentares e tendinosas inseridas a nível das epífises e apófises). -‐ as osteocondroses podem-‐se classificar radiograficamente como: variante do normal, alteração do crescimento sem necrose e osteonecrose. -‐ DIAGNÓSTICO: o principal sintoma referido pelo doente é DOR LOCAL, de carácter crónico e intensidade moderada, podendo estar associada a situações de exercício físico. -‐ TRATAMENTO: consiste essencialmente na remoção dos fragmentos causadores de dor e na restauração da função da articulação, com o objectivo de manter a cabeça do fémur a nível da cavidade acetabular. -‐ Existem vários tipos de osteocondroses que diferem relativamente à localização e na idade em que se desenvolvem: CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 16 Ø a mais comum é DOENÇA DE OSGOOD-‐SCHLATTER – que desenvolve entre 11/15 anos de idade, mais frequente nos indivíduos do sexo masculino, a nível da tuberosidade anterior da tíbia. Associada ao exercício físico, cursando com dor e sinais inflamatórios na região afectada. Ø DOENÇA DE SEVER – que se desenvolve entre 7/10 anos de idade, mais frequentemente nos indivíduos do sexo masculino, a nível do processo posterior do calcâneo Ø DOENÇA DE KOHLER – que se desenvolve entre 3/8 anos de idades, a nível do escafoide társico. Ø DOENÇA DE FRIEBERG -‐ que se desenvolve entre 12/15 anos de idade, mais frequentemente nos indivíduos do sexo feminino, a nível do 2º e 3º metatarsos. Ø DOENÇA DE LEGGES-‐CALVÉ-‐PERTHES – osteocondrose que se desenvolve a nível da epífise proximal do fémur, entre os 5/12 anos de idade (faz diagnóstico diferencial com a DOENÇA DE MEYER, sendo que esta se desenvolve entre 2/4 anos de idade). É mais comum nos indivíduos do sexo masculino (4:1). Ocorre bilateralmente, sendo que se em ambas as ancas com um intervalo de tempo igual a 1 ano. A doença demora cerca de 2/4 anos a desenvolver-‐se, passando por 3 etapas: NECROSE ÓSSEA (necrose parcial da cabeça do fémur, não havendo alterações imagiológicas), REVASCULARIZAÇÃO E REPARAÇÃO (através de processos de neovascularização, há formação de nova superfície óssea sobre a área necrosada, podendo haver restauração óssea completa) e DISTORÇÃO E REMODELLING (ocorre no caso da área afectada ser de grandes dimensões, não havendo possibilidade de reparação). Quer a reparação (por haver aumento da fragilidade dessa região) quer a distorção podem levam ao colapso epifisário. DIAGNÓSTICO: clinicamente, o doente refere DOR e CLAUDICAÇÃO, havendo limitação, no exame objectivo, da abdução e da rotação interna. Radiologicamente, recorre-‐se ao RX (duas incidências – AP e de perfil). TRATAMENTO: é realizado um tratamento sintomático com tracção do membro afectado, afim de reduzir a dor. Depois de 3 semanas (tempo médio necessário para o desaparecimento dos sintomas), faz-‐se a reavaliação doente. Doentes com bom prognóstico mantêm tratamento medico. Doentes com mau prognóstico têm indicação para tratamento cirúrgico. Os critérios de mau prognóstico: incidência da doença depois dos 6 anos de idades; envolvimento total da cabeça femoral; rarefacção metafisária grave; deslocação lateral da cabeça do fémur. O tratamento cirúrgico consiste na OSTEOTOMIA em varum do fémur ou inominada da pelve, de forma a manter a cabeça do fémur na cavidade acetabular. INFECÇÕES OSTEO-‐ARTICULARES -‐ Podem-‐se dividir as infecções osteo-‐articulares, quanto à sua LOCALIZAÇÃO, em dois grandes grupos: ÓSSEAS e ARTICULARES. -‐ Além disso, quanto à sua ETIOLOGIA, as infecções osteo-‐articulares podem ser divididas em: o SUPURATIVAS, de causa séptica ou piogénica,podendo ocorrer tanto nos ossos como nas articulações. São o tipo de infecções mais comum. CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 17 o NÃO-‐SUPURATIVAS,ou também designadas granulomatosas, sendo que a localização destas é preferencialmente articular. A infecção granulomatosa articular mais comum é a tuberculose. -‐ Relativamente aos MEIOS DE DISSEMINAÇÃO, estes podem ser de vários tipos: o HEMATOGÉNEA, como é o caso da artrite ou osteomielite hematogénea; o INOCULAÇÃO DIRECTA, como é o caso das fracturas expostas, feridas cirúrgicas ou artrocentese, sendo que o principal agente é o Staphylococcus aureus; o POR CONTIGUIDADE, como é o exemplo do pé diabético, com o envolvimento inicial dos tecidos moles circundantes e que acabam por afectar o osso. -‐ A EVOLUÇÃO das infecções osteo-‐articulares pode-‐se dividir em dois grandes grupos: o AGUDO – com sinais de inflamação aguda localizadas – dor, rubor, calor – e sinais sistémicos – febre, alterações analíticas, como o aumento da PCR e leucocitose. o CRÓNICA – Pode-‐se verificar fibrose e, nalguns casos, fenómenos de epitelização sobre o músculo ou tendão. Este tipo de infecções incluem as infecções que sejam primariamente crónicas, sendo que o mais característico e frequente é o ABCESSO DE BRODIE – radiologicamente assemelha-‐se a um tumor benigno (bem definido, capsulado, septado e que não passa a cartilagem de crescimento), mas que não passa de um abcesso colectado. Estas situações primaria crónica têm um desenvolvimento paulatino, ou seja, as queixas são pouco específicas e o doente é avaliado tardiamente. No entanto, o diagnóstico definitivo de abcesso de Brodie é feito por análise microbiológica e anatomo-‐patológica. 1. INFECÇÕES SUPURATIVAS A. OSTEOMIELITE HEMATOGÉNEA -‐ patologia que ocorre com mais frequência nas crianças devido ao tipo de circulação verificada e ao desenvolvimento do próprio osso. A circulação em ansa a níveis das metáfises férteis e a lentificação do fluxo de sangue nessa região, leva a que haja uma maior probabilidade de se desenvolver uma infecção. -‐ Nas fases agudas, a colonização bacteriana da zona metafisária pode levar à formação de abcessos – ABCESSOS METAFISÁRIOS. -‐ Estas infecções apresentam várias etapas de evolução: o PRIMEIRA FASE – dura cerca de 48h – infecção encontra-‐se contida a nível metafisário, sendo que o abcesso se tenta estender à própria diáfise óssea, estrutura rígida mas altamente inervada, sendo nesta primeira fase o sintoma característico é a DOR. o SEGUNDA FASE – ocorre a nível do 4º dia – abcesso aumenta de dimensão passando para o espaço sub-‐periósteo, através da destruição da cortical óssea, levando ao aparecimento dos primeiros sinais inflamatórios – tumefacção, rubor, calor. o TERCEIRA FASE – ocorre a nível do 6º dia – o abcesso vai descolando os planos, promovendo a necrose do fragmento ósseo que fica desprotegido de periósteo. Pode ocorrer a fragmentação do osso, ficando este fragmento envolto em pus, designa-‐se este fenómeno por – SEQUESTRAÇÃO, visto que o próprio periósteo pretende conter a infecção através da formação de novo osso. O sequestro deve ser removido cirurgicamente, deforma a não perpetuar a própria infecção. o QUARTA FASE – ocorre a nível do 10º dia -‐ o processo infeccioso afecta todo o periósteo, levando a uma necrose de toda a diáfise. CHRISTOPHER SAUNDERS EMC I|ORTOPEDIA| 4ºANO 18 -‐ O abcesso fica normalmente retido a nível do periósteo, não passando para a epífise, isto por duas razões: em primeiro lugar, não existe continuidade entre as duas regiões devido à presença da cartilagem de crescimento e, em segundo lugar, o periósteo fixando-‐se à própria cartilagem de crescimento formando um anel isolante – anel de Lacroix – que vai separar a metáfise da epífise. No entanto, existem excepções a esta condição – ARTICULAÇÃO DA ANCA – isto porque a metáfise é intra-‐articular, levando à formação de uma artrite séptica (devido à saída do pus para a própria cavidade articular, podendo levar à infecção da epífise por contiguidade). -‐ A osteomielite hematogénea ocorre com mais frequência nas crianças/adolescentes e nos imunocomprometidos. -‐ ETIOPATOGENIA: O agente mais comum é o Staphylococcus aureus (80% dos casos). No entanto, existem agentes que ocorrem com mais frequência consoante o grupo etário em que o doente se encontra – Hemophilus influenza, verifica-‐se com mais frequência nas crianças; Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella pneumonia, nos doente imunocomprometidos; Neisseria gonorrhea, nos adolescentes em fase sexualmente activa. A antibioterapia só deve ser inciada após a colheita de pus. -‐ DIAGNÓSTICO:
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