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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - Matéria p2 - Manfré

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
JOSÉ ENCINAS MANFRÉ
Assunção de Dívida: É um negócio jurídico bilateral, pelo qual o devedor, com concordância expressa do credor, transfere a um terceiro os encargos obrigacionais, de modo que este assume sua posição na relação obrigacional, responsabilizando-se pela dívida, que subsiste com os seus acessórios. O terceiro substitui o devedor. Haverá apenas alteração subjetiva na relação obrigacional. 
	** A concordância do credor é necessária pois o credor não pode ser prejudicado com eventual desvantagem. Se o credor não for consultado, o negócio pode ser invalidado. A notificação para ciência do credor pode ser judicial ou extrajudicial. Caso o credor não expresse sua concordância, o silencio deve ser interpretado como recusa. 
	** Uma vez verificada a assunção de dívida, as garantias dadas pelo devedor primitivo ficam extintas. Art. 300: “Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor”. 
Pressupostos da assunção:
Existência e validade da obrigação transferida
Alteração no polo subjetivo passivo da obrigação 
Concordância expressa do credor, uma vez que a pessoa do devedor é muito importante para ele, pois o valor do crédito dependerá da sua solvência ou idoneidade patrimonial, de forma que não seria conveniente ao credor de pessoa solvente vê-la substituída por outra com menos possibilidade de resgatar a divida 
Art. 302: “o novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo”. Por exemplo quando “A” deve 100 para “B” e, ao mesmo tempo, “B” deve 100 para “A”. Quando “C” assume a dívida de “A”, ele deverá pagar os 100 para “B” e “B” deverá pagar, igual antes, para “A”. “C” não pode alegar compensação (que existia entre “A” e “B”), porque agora “B” deve para “A”, não para “C”. (wtf).
*** Art. 303 (O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento) é uma exceção ao Art. 299 (É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava). No 303 e preciso notificar o credor, mas não é preciso o consentimento expresso dele. O silencio do credor no 303 é consentimento.
EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
É da natureza da obrigação a transitoriedade. Obrigações não são perpétuas.
Pagamento: cumprimento/execução da obrigação. Em regra, a obrigação termina mediante pagamento. As exceções à regra são: prescrição; impossibilidade do cumprimento sem culpa do devedor; advento de termo ou condição resolutiva ou termo extintivo. 
	Requisitos do pagamento:
Existência de um vínculo obrigacional ou jurídico. 
O vínculo se origina das fontes da obrigação. Seja oriunda da lei imediatamente, ou do contrato, ou da declaração unilateral de vontade, ou do ato ilícito. 
Satisfação exata ou precisa da obrigação
Presença de quem efetue e de quem receba (credor ou seu representante legal). Deve ser efetuado pelo devedor ou de quem o representa. 
Tempo do Pagamento (art. 389, 394 e 939)
Descumprimento Absoluto – Art. 389: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”. O descumprimento absoluto é quando o cumprimento não interessa mais ao credor. Exemplo: noiva terá o casamento no dia 01/04 e recebe o vestido de noiva no dia 03/04. 
	** Se a obrigação nasceu de um contrato, o descumprimento deste contrato faz com que se presuma a culpa do devedor.
Descumprimento Relativo – Art. 394: “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer”. Exemplo: a pessoa X deveria efetuar o pagamento até o dia 10/03 e o devedor não pagou a tempo ao banco. Mas, como o banco ainda tem interesse em receber, o devedor ainda pode pagar. O inadimplemento relativo consiste no descumprimento da obrigação que, após descumprida, ainda interessa ao credor. A obrigação, neste caso, ainda pode ser cumprida mesmo após a data acordada para o seu adimplemento, por possuir, ainda, utilidade. Neste caso, o efeito do inadimplemento é a mora, ou seja, o retardamento da prestação. A mora representará o descumprimento da obrigação no tempo, modo ou forma. 
Art. 939: “O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro”.
** Por regra, o tempo para o cumprimento é o previsto no termo. A exceção disso é o Art. 333: “Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: (I) no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; (II) se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; (III) se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las”. 
Lugar do Pagamento (art. 327 a 330)
** Por regra, o pagamento deve ser feito no domicílio do devedor. Mas:
Dívida Quesível (“quérable”): no domicílio do devedor. Exemplo: seu Barriga cobrando aluguel na casa do seu Madruga.
Dívida Portável (“portable”): no domicílio do credor, se previsto em contrato. 
Art. 327: “Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias”.
Art. 328: “Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem”.
Art. 329: “Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor”. 
Art. 330: “O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato”. 
Objeto do Pagamento: 
Dívida em dinheiro: é aquela em que o conteúdo se expressa em moeda, em dinheiro. Tem um valor nominal expresso em algarismo. O objeto é o próprio dinheiro.
Dívida de valor: o dinheiro não constitui o objeto, o dinheiro apenas valora este objeto. Se houver liquidação do valor, ela se torna em uma dívida em dinheiro. Exemplo: desapropriação. O estado traz para ele a propriedade de um particular. Estado se apropria de um bem particular. O estado assume uma dívida de valor e, depois, por um processo judicial, se definirá o algoritmo que representa esse valor (dívida em dinheiro). 
*** O pagamento deve ser efetuado ao próprio credor ou ao representante deste credor – seja legal, judicial ou convencional.
	A diferença do pagamento direto (onde o sujeito ativo do pagamento é o devedor, que é o que faz o pagamento) e do pagamento indireto é que, no direto, o devedor paga voluntariamente, e no indireto o devedor paga por meio judicial. Ex. de indireto: o credor não quer aceitar o pagamento, então o devedor tem de utilizar meio jurídico (ação de consignação em pagamento) para não sofrer as consequências de não pagar a dívida. 
Representante do credor: 
Legal: para o credor maior de idade
Judicial: representante nomeado por juiz
Convencional: representante cujos poderes foram outorgados pelo instrumento particular de procuração.
Quitação: é uma declaração unilateral escrita do credor em favor do devedor no sentido deste lhe haver satisfeito ou cumprido a obrigação. Assim, o credor libera o devedor da efetuação. Art. 319: “O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada”. Se faz a quitação de acordo com o título jurídico, queé a fonte que a lei prevê como fundador da obrigação. 
	Requisitos da quitação – Art. 320: “A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, dignará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou a quem este pagou, o tempo e lugar do pagamento com assinatura do credor ou de seu representante”. Se não houver todos os requisitos, a quitação pode ser aceita desde que prove. (?)
*** O pagamento deve ser efetuado pelo devedor ou por seu representante – legal, judicial ou convencional. 
Quitação Expressa: quando for manifestada ou externada na hipótese do artigo 320.
Quitação Tácita (ou presumida) – Exemplo: eu assumi uma dívida de valor com alguém de cem mil reais e emiti uma nota promissória (título de crédito) falando que pagarei até tal dia (vencimento). No dia que eu deveria efetuar o pagamento (10 de março) eu procuro meu credor e efetuo o pagamento. Para que eu tenha a quitação basta que o credor me devolva a nota promissória (que era a prova que o credor tinha da dívida). Ou seja, como o credor se desfaz da prova, presume-se que ele recebeu. Caso o credor tenha perdido a nota, eu peço uma garantia expressa de que eu paguei - Artigo 321: “Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido”. 
	Presunção:
Jure et de jurei: de direito e a respeito dele. É a presunção absoluta.
Juris tantum: somente do direito. Presunção relativa. Admite prova em contrário, diferente da absoluta. 
Despesas do Pagamento 
Art. 325: “Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida”. 
Despesas que o banco cobre, as tarifas bancarias: presume-se que o devedor que pagará. Outro exemplo, em caso que a dívida será paga no domicílio do devedor (quesível), o devedor deve pagar a locomoção do credor.
** Segundo o artigo 318: “São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial”. A dívida deve ser paga em moeda nacional, exceto em casos previstos na legislação especial (casos de exportação e importação). 
FORMAS INDIRETAS DE PAGAMENTO E DE EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO
Extinção: quando o credor está inacessível ou não quer receber o pagamento.
Pagamento mediante consignação: depósito. É a forma de extinção de uma obrigação sob a forma de depósito. O depósito pode ser judicial (mediante ação de consignação de pagamento) ou extrajudicial (banco). O devedor deve depositar (caso o credor não queira receber o pagamento) para não ser inadimplente.
Requisitos: 
Objetivos:
Dívida liquida e certa. Exemplo: contrato de locação de imóvel com valor determinado.
Oferecimento do valor total.
Depósito a ser feito no local do cumprimento da obrigação.
Observância de requisitos processuais e legais.
Subjetivos:
Dirigir-se contra o credor, nas hipóteses do artigo 355 (“Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa”), ou dos representantes dele. 
Ser o pagamento feito pelo devedor ou por representante dele.
Consequências: 
Devedor fica exonerado (livre): juiz reconhece força de pagamento do depósito.
Constituir em mora o credor: que, indevidamente, deixa de aceitar o pagamento.
Pagamento mediante sub-rogação: aquela situação jurídica pela qual se altera o credor da obrigação pois outra pessoa passará a ocupar o lugar deste credor originário. É a substituição de uma pessoa por outra, ou de uma coisa, numa certa relação jurídica. 
Substituição de pessoa: sub-rogação pessoal é a substituição no polo ativo (credor). “A” é credor de “B”, “C” passa a assumir a posição de “A”. Logo, “B” continuará devedor, porém, deverá à outra pessoa (“C”). Ou seja, “C” paga a dívida de ‘B”, age como analista, para “A” e daí “B” passa a dever para “C”. 
Sub-rogação legal – Art. 346: “A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: (I) do credor que paga a dívida do devedor comum; (II) do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; (III) do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte”. Quem determina a substituição é a lei, independente da vontade das partes. 
Sub-rogação convencional – Art. 347: “A sub-rogação é convencional: (I) quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; (II) quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito”. Quem determina a substituição é o contrato. Se aplica ao terceiro não interessado. 
O efeito dessas sub-rogações é o mesmo, a diferença é a vontade das partes. 
** 3º interessado (avalista ou fiador) terá todas as garantias e ações que o credor primitivo tinha. Ex.: ir ao banco e pedir que ele expressamente passe seu lugar de credor.
** 3º não interessado é o não vinculado ao cumprimento da obrigação. Somente terá reembolso, não é sub-rogação. Ex.: namorada que paga dívida de namorado. 
Substituição de uma coisa por outra: sub-rogação real. Ex.: pai, com medo de filha sofrer golpe do baú, faz um testamento público vinculando a parte da filha às cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade e daí, assim, essa herança não passaria para o marido. 
Imputação do pagamento: Indicação. Se têm pagamento por imputação quando uma pessoa, a devedora, tem diferentes obrigações ou dividas em relação ao mesmo credor. Por exemplo: em decorrência de distintos contratos. Caso ela forneça ou dê certo valor sem indicar a qual das dívidas se refira, se terá a imputação conforme o código civil. “A” deve para “B” 20 mil no contrato 1; 15 mil no contrato 2; e 10 mil no contrato 3. Daí, “A” dá 25 mil reais para “B”. Deverá, então, haver uma imputação de qual das dívidas é para ser paga. Caso o devedor não indique, o dinheiro deverá pagar a primeira das dívidas. (A primeira que venceu ou a primeira que vai vencer).
Art. 352: “pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos”.
Art. 353: “Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo”.
Pressupostos da Imputação
Identidade do credor e devedor
Que as dívidas tenham a mesma natureza (devem dizer a respeito de um bem fungível, ou seja, dinheiro). 
Dívidas vencidas e liquidadas. Se não houve vencimento, não se tem a responsabilidade, sim a obrigação. Não pode ser exigida antes do vencimento, salvo em casos excepcionais, como a falência. 
Entrega do valor correspondentes à quitação de pelo menos uma das dívidas. Art. 313: “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa” e Art. 314: “Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou”. 
A imputação é feita, por regra, pelo devedor. Mas pode ser feita pelo credor ou legalmente – Art. 355: “Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa”. É preciso a falta de indicação e quitação (recibo) omissaquanto à imputação para se ter a legal. Nesse caso, se fará nas dívidas liquidas e vencidas em primeiro lugar. Se forem todas liquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa. 
Dação de Pagamento: é aquela forma indireta de pagamento pelo qual se faz mediante entrega de um bem jurídico diferente do objeto original da prestação (diferente do originalmente previsto). Ex.: não tenho 50 mil, mas tenho um carro que vale isso. Se o credor concordar em receber o carro no lugar do dinheiro, há dação de pagamento. Pode até ser de valor menor, desde que o credor aceite. Credor pode aceitar prestação diversa da devida. 
Art. 356: “O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida”.
Art. 357: “Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda”.
Art. 358: “Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão”.
Art. 359: “Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros”.
Todo aquele que faz uma venda, deverá fazê-la boa, ou assegurar ao adquirente que a coisa não tenha vícios ou defeitos que impeçam a satisfatória fruição (utilização pelo adquirente).
** JUROS
1. Compensatórios: contraprestação. Juros devidos da utilização de capital alheio. Ex.: banco
2. Moratórios: decorre da mora. Se paga pelo atraso.

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