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Um olhar sobre o Direito Humano à Educação no Brasil: A Construção da Cidadania

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UM OLHAR SOBRE O DIREITO HUMANO À EDUCAÇÃO NO BRASIL: 
A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA 
 
 
Alois Guilherme Pletsch Saldanha1 
Carla Taís Basseto2 
Enio Waldir da Silva3 
 
 
RESUMO 
 
Este artigo tem por objetivo apresentar o desenvolvimento dos Direito Humanos no Brasil a 
partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, com vistas à construção da 
cidadania. Aborda, também, a importância da educação para a garantia dos direitos 
individuais e sociais, independente de fatores econômicos, sociais ou culturais. Outro aspecto 
diz respeito à educação como um instrumento capaz de provocar transformações na sociedade 
e contribuir para minimizar as diferenças sociais, econômicas e políticas entre os cidadãos e 
possibilitar o exercício da cidadania. 
 
Palavras-chave: Direitos Humanos; Educação; Cidadania. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A temática sobre a educação voltada aos direitos humanos vem ocupando um espaço 
crescente no debate acadêmico, político e social, mas ainda não se encontra difundido na 
prática e nem no currículo da escola brasileira. Em razão da crise mundial e local sobre o 
crescente número de desempregados e a falta de políticas públicas para a inclusão social, “[...] 
torna-se imperativo que as temáticas da igualdade e da dignidade humana não estejam 
inscritas apenas de textos legais, mas que, igualmente, sejam internalizadas por todos que 
atuam tanto na educação formal quanto na educação não formal.” (FERNANDES; 
PALUDETO, 2010). 
Interessante referir que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, 
ratificada pela Declaração Universal de Direitos Humanos de Viena, em 1993, são marcos 
importantes para a compreensão do debate internacional sobre direitos humanos. É sabido que 
as discussões sobre as atrocidades ocorridas com o genocídio imposto pelo nazismo na 
Segunda Guerra Mundial contribuíram para o desenvolvimento de mecanismos protetivos dos 
direitos humanos (SARLET, 2012). 
 
1
 Acadêmico do curso de Direito da Unijuí. E-mail: aloispletsch@gmail.com. 
2
 Acadêmica do curso de Direito da Unijuí. E-mail: carla.basseto@outlook.com. 
3
 Professor doutor do curso de Direito da Unijuí. E-mail: eniowsil@unijui.edu.br. 
Esses mecanismos jurídicos de proteção dos direitos humanos apresentam-se como um 
“importante marco, também, nesta luta pelas liberdades humanas, sendo que foi a Declaração 
Universal de Direitos Humanos de 1948, que anunciou o início de uma nova era em que se 
assumia a promoção dos direitos humanos como interesse da comunidade internacional.” 
(RAMOS, 2009). 
Inevitável, portanto, que essa Declaração estabelecesse algumas recomendações para a 
promoção dos direitos humanos, e que no plano nacional, os Estados dessem prioridade a 
novos temas, como crianças, mulheres, população, meio-ambiente, habitação, que parecem 
ser pautas da agenda internacional que se iniciou na década de 90 (PINHEIRO, 2001). 
Neste contexto, a criança e o adolescente têm direito à liberdade, que compreende: 
direito de ir e vir; de opinião e expressão; de crença e culto religioso; de brincar, praticar 
esportes e divertir-se; de participar da vida comunitária sem discriminação. É dever de todos 
velar pela dignidade de ambos, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano ou 
violento. 
Assegurar o direito à educação significa não só o acesso e permanência, mas a 
qualidade do ensino, estruturas escolares adequadas, condições básicas de trabalho aos 
profissionais da escola, enfim, fazer com que as leis deixem de ser meras folhas de papel e se 
voltem para o contexto. 
O que se almeja, portanto, é a formação de uma nova postura na sociedade, que 
busque o compromisso ético de todos para contribuir com as transformações necessárias à 
construção de uma sociedade mais justa e fraterna (BRASIL, 2010). 
Neste sentido, Maria Victória Benevides (2000) afirma que sem sombra de dúvida, “a 
Educação em Direitos Humanos é essencialmente a formação de uma cultura de respeito à 
dignidade humana, através da promoção e da vivência de atitudes, hábitos, comportamentos e 
valores como igualdade, solidariedade, cooperação, tolerância e paz.” Tais preceitos 
significam, antes de tudo, trabalhar com vistas ao desenvolvimento de uma sociedade mais 
justa, pautada por valores éticos e inclusivos. 
 
2 DIREITOS HUMANOS NO DESENVOLVIMENTO DA CIDADANIA 
 
Os Direitos Humanos possuem uma ampla inter-relação com a cidadania. É por meio 
deles que surgem a liberdade individual, os direitos sociais e os direitos coletivos da 
humanidade. Observa-se que os partidos políticos têm marcado presença constante quando se 
trata do tema Direitos Humanos e se utilizam da fragilidade da sociedade excluída e, por meio 
de políticas públicas passam a controlá-los e distribuí-los como bem entendem. 
Evidentemente que se fala em Direitos Humanos quando há a necessidade de 
enfretamento das desigualdades sociais, tanto na educação como em qualquer meio social. Em 
especial, porém, quando se verifica, por exemplo, que o índice de desemprego cresce a cada 
ano no Brasil, sendo uma das suas causas a baixa escolaridade da população (IBGE, 2006). 
Nota-se, portanto, que os Direitos Humanos assumem um papel preponderante no 
processo de desenvolvimento da cidadania, bem como na preservação dos direitos sociais de 
cada membro da sociedade, em igual valor para todos, sem restrições. 
O Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2007, p. 10) 
sustenta que: 
 
O Estado brasileiro tem como princípio a afirmação dos direitos humanos como 
universais, indivisíveis e interdependentes e, para sua efetivação, todas as políticas 
públicas devem considerá-los na perspectiva da construção de uma sociedade 
baseada na promoção da igualdade de oportunidades e da equidade, no respeito à 
diversidade e na consolidação de uma cultura democrática e cidadã. 
 
Cabe destacar, portanto, que da maneira como está posto no Plano Nacional de 
Educação em Direitos Humanos (PNEDH), o governo brasileiro está comprometido com o 
desenvolvimento de uma educação voltada à cidadania, dignidade e, principalmente, uma 
educação de qualidade. 
Foi contemplado igualmente na Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988 (CF/88) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei Federal nº 
9.394/1996), que o exercício da cidadania é uma das principais finalidades da educação ao 
estabelecer uma prática educativa “inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de 
solidariedade humana, com a finalidade do pleno desenvolvimento do educando, seu preparo 
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (BRASIL, 2007, p. 11). 
A CF/88 assegura que todos são iguais perante a lei, mas muitas pessoas consideram 
essa igualdade apenas formal. Nesse sentido, Paola Cristine Marchioro Hanna, Maria de 
Lourdes do Prado Krüger D’Almeida e Ana Maria Eyng (2009, p. 3666) acentuam que “[...] 
numa perspectiva de ‘humanidade’ – em que todos são iguais porque são humanos, 
declarando que o respeito e tolerância de todos para com todos é fundamental – todos os seres 
humanos são diferentes e se formam a partir de experiências históricas, sociais, culturais, 
econômicas e políticas diferentes.” 
Na verdade, essa afirmação tem um significado muito contundente em uma sociedade 
que valoriza o ter e não o ser, sendo naturalmente seletiva e excludente. Por isso, a educação 
emerge como o meio privilegiado para a conquista dos direitos humanos e como a 
possibilidade de abrir novas perspectivas ao homem, dando-lhe condições de se transformar e 
certamente lhe “[...] proporcionar a politização, a conscientização e indicar caminhos para a 
libertação.” (FREIRE, 2001, p. 35). É, portanto, dever do Estado, da família e da sociedade, 
educar para a cidadania,transformar o indivíduo em um cidadão participativo e emancipado 
social e politicamente. 
O Brasil contemporâneo é um país marcado por contradições, pois ao mesmo tempo 
em que perante a lei todos são iguais, percebe-se que nas condições materiais existe 
desigualdade de direitos, e o exercício da cidadania se apresenta quase como uma utopia. 
Possibilitar o respeito e a efetividade dos direitos humanos universalmente consagrados e o 
direito à educação constitui-se num meio eficaz para assegurar que as diferenças sejam 
minimizadas e a exclusão social diminuída. 
Com base em documentos internacionais e nacionais que aludem à Década da 
Educação em Direitos Humanos (1995-2004), prevista no Programa Mundial de Educação em 
Direitos Humanos e seu Plano de Ação 4, o PNEDH (BRASIL, 2007) propõe que a educação 
seja direcionada para o fortalecimento do respeito dos direitos humanos e liberdades. 
 
2.1 O direito fundamental à educação na esfera global 
 
Para entender o significado de a educação ser considerada um direito fundamental no 
sentido real do termo no campo jurídico, utilizam-se os ensinamentos de Norberto Bobbio 
(2004) que compreende como fundamental tudo aquilo que é necessário e essencial. 
Neste sentido, o direito fundamental representa o mínimo necessário à existência 
humana, de modo a garantir uma vida digna, de acordo com os princípios da dignidade da 
pessoa humana. Bobbio (2004) esclarece que “Os direitos fundamentais abarcam toda uma 
perspectiva histórica e social, e por isso se envolvem de uma imensa complexidade na busca 
por um fundamento absoluto que possa respaldá-los, garantindo o seu correto cumprimento de 
maneira universal.” 
Bobbio (2004) ensina que é preciso considerar que há uma mutabilidade temporal nos 
direitos fundamentais, já que as condições históricas e sociais determinam as necessidades e 
interesses da sociedade. Segundo ele, por serem direitos relativos, não adquirem a imputação 
de um fundamento absoluto. A busca, porém, pelo fundamento absoluto, presente na história 
dos direitos fundamentais, é uma tese intrínseca em sua defesa, servindo de respaldo na 
garantia de sua aplicabilidade. 
Desta forma, Enivaldo Carvalho da Rocha e Erivaldo Ferreira do Carmo (2016) 
enfatizam que 
 
são considerados fundamentais os direitos inerentes à pessoa humana e que trazem 
consigo as qualidades da disposição à universalidade, à irredutibilidade e à 
inalienabilidade. Neste sentido, certamente a educação merece destaque como 
direito fundamental, inclusive pelo seu caráter imprescindível à formação do 
indivíduo no exercício dos seus direitos. Isto porque além de ser um direito social, a 
educação é também uma condição para usufruto dos demais direitos, despontando 
como um elemento principal na garantia dos direitos de cidadania. 
 
Na verdade, esta afirmação vem ao encontro da Declaração Universal dos Direitos do 
Homem, proclamada pela Organização das Nações Unidas, que declara a educação como 
direito de todos. É inegável que muitas inovações foram introduzidas no âmbito internacional, 
após a referida Declaração, notadamente, no que tange às garantias de acesso ao ensino em 
suas mais diferentes modalidades. 
Interessante destacar que nas lições de Rocha e Carmo (2016), 
 
diversos países se tornaram signatários deste princípio, estabelecendo ou ampliando 
o direito à educação em suas legislações nacionais, apesar de ainda haver alguns 
outros Estados que continuam violando de maneira drástica os direitos individuais e 
coletivos, não reconhecendo a educação como um bem fundamental ao seu cidadão. 
O artigo 26 da referida Declaração afirma que toda pessoa tem direito à educação, e 
esta deve ser gratuita, ao menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. 
 
Pode-se inferir, então, que a garantia fundamental à educação é um mecanismo a 
serviço da democracia e da cidadania, conforme expõem os documentos internacionais. Por 
outro lado, a legislação nacional, ao garantir em seus textos o direito à educação como direito 
fundamental, adquire mais efetividade prática, ou seja, enquanto os direitos do homem são 
aqueles oriundos da própria natureza humana, os direitos fundamentais são os vigentes em 
uma ordem jurídica concreta (ROCHA; CARMO, 2016). 
Utilizando os ensinamentos de Fábio Comparato (2001) e analisando suas afirmações 
denota-se que 
 
a ordem jurídica não concebe apenas o direito formalmente constitucionalizado, 
proclamado por normas com valor constitucional formal, mas sim todo o aparato 
legal e normativo nacional, no qual se inclui o direito materialmente fundamental, 
presente nas leis aplicáveis do direito internacional, embora não positivadas 
constitucionalmente. 
 
Isso significa que a positivação na esfera nacional é tão ou mais importante que os 
documentos internacionais, pois de nada adianta ser signatário de uma Declaração, como a 
Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, se internamente não se concretiza o 
direito fundamental à educação. 
No Brasil, a educação está diretamente relacionada aos princípios fundamentais da 
dignidade da pessoa humana, e isso já se percebe da leitura do art. 6º, caput, da CF/88, com 
sua consagração como direito social e fundamental, sendo “reconhecida como um instrumento 
necessário à construção de uma sociedade livre, justa e solidária.” 
 
2.2 Educação na esfera nacional: evolução constitucional brasileira e legislativa 
 
É inegável que o direito à educação sempre esteve presente nos textos constitucionais, 
portanto, cumpre analisar como isto ocorreu no decorrer da evolução histórica brasileira. 
A Constituição Imperial brasileira, de 1824, e a Republicana, de 1891, consagraram o 
direito de todos à educação. E, conforme previsão no primeiro texto constitucional, observa-
se que a Carta Imperial de 1824 (Imperial), previu entre os direitos civis e políticos a 
gratuidade da instrução primária para todos os cidadãos e a criação de colégios e 
universidades. O art. 179 da Constituição Imperial (BRASIL, 1824) assim expressa: 
 
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, 
que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida 
pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. 
XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos. 
XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das 
Sciencias, Bellas Letras, e Artes (sic). 
 
Na verdade, a educação, nesse período, era excludente já que os escravos não podiam 
frequentar a escola, pois não eram considerados cidadãos (CARVALHO, 2002). Já a 
Constituição Republicana, de 1891, preocupou-se em repartir a competência relativa à 
educação, estabelecendo que a União deveria legislar sobre o ensino superior. Enquanto isso, 
aos Estados cabia legislar sobre o ensino secundário e primário, muito embora tanto a União 
quanto os Estados pudessem criar e manter instituições de ensino superior e secundário. 
A ideia da educação como direito, todavia, só ganhou visibilidade no cenário brasileiro 
a partir da promulgação da Constituição de 1934, que declarou, pela primeira vez, no seu art. 
140: “a educação é direito de todos e deve ser ministrada pela família e pelos poderes 
públicos.” (DIAS, 2016). 
Pode-se afirmar que a questão do direito à educação, segundo Dias (2016, p. 445), 
“possui um vício de origem: não se aplicava a todas as crianças em idade escolar, mas apenas 
àquelas que tinham o ‘privilegio’ de ter acesso à escola.” Percebe-se, portanto, que o direito à 
educação proclamado pela Carta de 1934 carecia de efetividade, só sendo possível mediante a 
assunção, por parte do Estado, de sua oferta. Tal reconhecimento, contudo, pelo menos do 
ponto de vista legislativo, só veio acontecer mais de três décadas depois. A formulação do 
dever doEstado para com o direito à educação de todos surgiu, pela primeira vez, na Emenda 
Constitucional de 1969, em seu art. 176 (JOAQUIM, 2013). 
Neste sentido, Adelaide Alves Dias (2016, p. 446) assegura que 
 
desde a sua formulação inicial, na Carta de 1934, até os dias atuais, a ideia da 
educação como um direito ganha contornos e assume configurações diversas, 
matizadas por aspectos de ordem jurídico-constitucional que sofrem as pressões dos 
momentos históricos que permearam e, por vezes, definiram seus conteúdos e 
processos. 
 
Continua a referida autora informando que “os anos de 1950 e 1960, no bojo de um 
debate ideológico acerca da relação educação e desenvolvimento, testemunharam o 
nascimento de um grande movimento em defesa da escola pública.” (DIAS, 2016, p. 447). 
Sublinha-se que a Campanha em Defesa da Escola Pública foi um movimento liderado por 
educadores da velha geração, encontrando-se entre estes, Florestan Fernandes e os educadores 
Anísio Teixeira e Paulo Freire, que contribuíram para que a educação fosse vista como agente 
de transformação da sociedade (DIAS, 2016). 
Nota-se que desde a sua formulação inicial, na Carta de 1934, até os dias atuais, a 
ideia da educação como um direito, no entendimento de Dias (2016, p. 446), “ganha 
contornos e assume configurações diversas, matizadas por aspectos de ordem jurídico-
constitucional que sofrem as pressões dos momentos históricos que permearam e, por vezes, 
definiram seus conteúdos e processos.” 
Na verdade, percebe-se que as demais Constituições Republicanas apresentavam em 
seu texto aspectos ligados à educação, sem, no entanto, apresentar novidades substanciais que 
pudessem dar uma guinada na agenda democrática relativa aos direitos sociais. 
Sem sombra de dúvida, a Constituição Federal de 1988 tornou-se um marco na história 
e garante a todos o direito à educação, tanto que este se encontra prescrito no art. 6º, como um 
direito social e fundamental, inerente ao ser humano. 
Destaca-se, ainda, que tanto a Carta Imperial, de 1824, quanto a Constituição 
Republicana, de 1891, não apresentaram em seus textos aspectos significativos para o 
desenvolvimento da educação ou do ensino primário e secundário. Pouca ou quase nenhuma 
efetividade apresentaram, pois mesmo com o estabelecimento da obrigatoriedade de criação 
de instituições de ensino secundário e superior nos Estados, o Congresso Nacional pouco fez 
nesse sentido. No decorrer da evolução constitucional, porém, a Constituição de 1934 e a de 
1937, em que pese a primeira estar voltada ao social e a segunda com conotação ditatorial, 
dedicaram todo um capítulo à educação e à cultura. Estabeleceu-se, assim, a divisão de 
competências dos entes federativos, garantindo um percentual mínimo dos impostos a ser 
aplicado no sistema educativo e criando a obrigação de se manter Fundos de Educação. O 
mesmo ocorreu com a Constituição de 1946, que “semelhantemente, manteve o sistema 
adotado na Carta anterior, consagrando a educação como direito de todos e assegurando sua 
obrigatoriedade no ensino primário.” (ROCHA, CARMO, 2016). 
O mesmo ocorreu com a Constituição de 1946, que “semelhantemente, manteve o 
sistema adotado na Carta anterior, consagrando a educação como direito de todos e 
assegurando sua obrigatoriedade no ensino primário.” (ROCHA, CARMO, 2016). 
Um aspecto que merece destaque, segundo Rocha e Carmo (2016) é que sob a égide 
dessa Constituição foi promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, a Lei nº 4.024/61. 
Em 1967, a Constituição outorgada pelos militares não apresentou novidades 
referentes ao direito à educação, entretanto, comentam Rocha e Carmo (2016), que “a 
Emenda Constitucional nº 1/69, acrescentou a possibilidade da intervenção dos Estados nos 
municípios que não cumprissem a exigência de aplicação anual de 20% da receita tributária 
municipal no ensino fundamental.” 
É inconteste que com a promulgação da Constituição Federal de 1988 – também 
conhecida como Constituição Cidadã – que o direito à educação ganhasse destaque, pois já 
estava incluída no art. 6º como direito social, e passou a compor o art. 205: 
 
Art. 205. A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser 
promovida e incentivada com a colaboração de toda a sociedade para o 
desenvolvimento da pessoa, o preparo para o exercício da cidadania e a qualificação 
para o trabalho. 
 
É imprescindível que se diga que a CF/88 conferiu um tratamento especial à educação, 
ao assegurar o ensino obrigatório, deixando claro que, “[...] além de ser um dever do Estado, 
ainda está configurado com o porte de direito subjetivo da pessoa humana.” Não há, portanto, 
distinção de qualquer natureza e, ainda, faz parte do chamado núcleo dos direitos essenciais e 
do mínimo existencial, necessários para uma vida com dignidade, na qual a educação faz 
parte (SILVA, 2011, p. 101). 
Caminhando nessa direção, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº 
8.069/90), repetiu os termos da Constituição e ampliou para as crianças e os adolescentes o 
rol de direitos previsto no texto constitucional. O ECA, em seu art. 2º, explicita que: 
 
Art. 2º. A criança e o adolescente gozem de todos os direitos fundamentais inerentes 
à pessoa humana, assegurando-se todas as oportunidades e facilidades a fim de lhes 
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições 
de liberdade e de dignidade. 
 
Com a mesma intenção, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – 
LDBEN (Lei nº 9.394/96) fortaleceu a garantia de acesso ao Ensino Fundamental, acentuando 
que por ser um direito público subjetivo, o Poder Público não pode se negar a lhe dar 
efetividade. Em seu art. 1º, A LDBEN expressa que “A educação abrange os processos 
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas 
instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e 
nas manifestações culturais.” (BRASIL, 1996). 
Com base nesses documentos legais, com destaque para a CF/88, pode-se afirmar, sem 
medo de incorrer em erro, e utilizando os ensinamentos de Westphal Fernanda Prince Sotero 
(2009, p. 9-10), que: 
 
O processo de construção da cidadania no Brasil perpassa o sistema educacional, 
tornando-se este, um fator primordial para a consolidação de sujeitos cidadãos 
portadores de direitos e deveres; que procurem superar carências sociais 
participando efetivamente da consagração de uma democracia que não trate 
desigualmente os desiguais. 
 
Significa, em uma última análise, que os direitos humanos estão intimamente 
relacionados com os princípios fundamentais da dignidade humana e da cidadania, assim 
como a educação está intimamente relacionada com a cidadania, qualificando o sujeito para 
participar da vida do Estado. 
 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Quando se fala em educação deve-se levar em conta a sua expressiva importância na 
construção da cidadania, configurando-se numa real possibilidade para o exercício de direitos 
e deveres. A educação é, ao mesmo tempo, um direito humano essencial e um direito público 
subjetivo e, portanto, o Estado tem o dever de dar a efetividade necessária para atingir a todos 
os cidadãos. 
Constata-se, também, que a garantia fundamental à educação é um mecanismo a 
serviço da democracia e da cidadania, conforme se verificou nos estudos de documentos 
internacionais e até mesmo da legislação brasileira. 
Por derradeiro, deve-se acentuar que as Constituições brasileiras, com exceção da 
Constituição Cidadã de 1988, pouco se preocuparam em conferir à educação um papel 
relevante para o efetivo exercício da cidadania e da democracia. A educação qualifica os 
cidadãos a participarem da vida do Estado e os habilita a reconhecer e a lutarpara a efetivação 
dos seus direitos. Por outro lado, a consolidação dos direitos fundamentais possibilita ao 
cidadão melhores condições de vida, bem como contribui para a concretização da democracia. 
Com efeito, conclui-se que no Brasil a educação está diretamente relacionada aos 
princípios fundamentais da dignidade da pessoa humana e da cidadania, sendo reconhecida 
como um instrumento necessário à construção de uma sociedade livre, justa e solidária. 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Humanos. São Paulo, 18/02/2000. Disponível em: <http://hottopos.com/convenit6/victoria. 
htm>. Acesso em: 21 mar. 2016. 
 
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2004. 
 
BRASIL (Constituição, 1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília: Senado Federal, 1988. 
 
______ (Constituição, 1824). Constituição Política do Império do Brasil de 1824. Rio de 
Janeiro, 1824. 
 
______. Lei 4.024/1964. Fixa as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília, 1961. 
 
______. Lei 8.069/1990. Institui o Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, 1990. 
 
______. Lei 9.394/1996. Promulga a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 
Brasília, 1996. 
 
______. Diretrizes curriculares nacionais gerais para a educação básica. Brasília, 2010. 
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download& 
alias=15548-d-c-n-educacao-basica-nova-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 12 mar. 2016. 
 
CARVALHO, José Murilo de. A cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2002. 
COMPARATO, Fábio. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 
2001. 
 
DIAS, Adelaide Alves. Educação em direitos humanos: fundamentos teórico-
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FERNANDES, Angela Viana Machado; PALUDETO, Melina Casari. Educação e direitos 
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FREIRE, Paulo. Política e Educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. Disponível em: 
<http://www.webartigos.com/artigos/resenha-politica-e-educacao-de-paulo-freire/54539/#ixzz 
43U9ruIrw>. Acesso em: 20 mar. 2016. 
 
HANNA, Cristine Marchioro; D’ALMEIDA, Maria de Lourdes do Prado Krüger; EYNG, 
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com a diferença. IX Congresso Nacional de Educação – Educere, 2009. Disponível em: 
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