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MAT DE ESTUDO EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS

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EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS (EEL0024)
Professor: ANA CRISTINA AUGUSTO PINHEIRO
 
DESCRIÇÃO
Os direitos fundamentais e seu papel no Estado Democrático de Direito.
PROPÓSITO
Entender o conceito de direito fundamental, quais são os direitos colocados nessa categoria pela Constituição Federal e de que forma a sua compreensão é importante para a boa atuação no setor público e para a defesa da democracia.
OBJETIVOS
Módulo 1
Compreender o conceito de direito fundamental e as suas classificações
Módulo 2
Reconhecer o tratamento dado pela Constituição Federal aos direitos fundamentais
PREPARAÇÃO
É importante que, ao longo do estudo, você tenha em mãos a Constituição Federal de 1988.
INTRODUÇÃO
O Brasil é um Estado Democrático de Direito, conforme expresso no art. 1º da Constituição Federal de 1988. Isso significa, em primeiro lugar, que em nosso país vigora a ideia de governo da maioria, como decorrência da soberania popular. É por isso que ocorrem eleições periódicas, por meio das quais se escolhem os representantes do povo de acordo com a vontade da maioria manifestada nas urnas.
Entretanto, o Estado Democrático de Direito também possui outro requisito essencial: a existência de uma Constituição que, além de definir a estrutura básica do Estado, protege os direitos fundamentais. É justamente esse o objetivo principal buscado pela Constituição Brasileira de 1988.
Isso nos mostra que a estruturação e a atuação do Poder Público estão intimamente ligadas aos direitos fundamentais que se busca proteger. Afinal, o fim último do Estado, por meio das suas instituições, é promover a proteção e concretização dos direitos fundamentais. Compreendê-los, portanto, é indispensável para uma boa gestão pública e atuação do poder público no exercício das suas mais variadas competências.
Estudar os direitos fundamentais elencados na Constituição, a partir da sua conceituação e com a análise dos direitos em espécie, permitirá uma melhor compreensão da nossa democracia, dos direitos que o cidadão possui em face do Estado e de que modo a Administração Pública pode repensar a sua gestão para atuar cada vez melhor na concretização desses direitos tão importantes.
MÓDULO 1
Compreender o conceito de direitos fundamentais e as suas classificações.
BREVE HISTÓRICO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Ao longo das sociedades antigas e da história, observamos períodos em que são reconhecidos direitos pontuais a determinados grupos ou categoria de indivíduos. Vejamos:
Ciro II e os hebreus
É o caso do decreto do rei persa Ciro II, permitindo que os povos exilados na Babilônia retornassem a suas terras de origem, ou a restrição de penas corporais no Império Romano. 
A primeira declaração moderna de direitos fundamentais é de 1776: a Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia, uma das treze colônias inglesas na América, à qual se seguiu a Constituição dos Estados Unidos da América, aprovada na Convenção de Filadélfia de 1787, e que foi objeto de diversas emendas garantidoras de importantes direitos fundamentais, como a liberdade de religião, o direito de propriedade etc.
Convenção de Filadélfia
Revolução Francesa
Outro marco importantíssimo nesse processo histórico foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, fruto da Revolução Francesa e da sua luta contra o absolutismo.
Tivemos também a Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, reconhecendo diversos direitos, como a dignidade da pessoa humana, o direito à vida, à liberdade etc.
Sede da Assembleia Geral
A partir desse processo histórico, podemos falar em três gerações de direitos fundamentais que surgiram ao longo do tempo:
PRIMEIRA GERAÇÃO
É formada por direitos individuais que buscavam proteger o indivíduo perante os excessos e abusos do Estado. São direitos ligados sobretudo às liberdades. Ex.: liberdade de reunião, direito
de ir e vir etc.
SEGUNDA GERAÇÃO
Surge no século XX e caracteriza-se por direitos que exigem uma prestação do Estado. Não basta que o Estado se abstenha de cometer abusos e violar os direitos individuais. É preciso mais: ele deve atuar para consolidar direitos sociais e culturais. Essa é a geração dos direitos sociais e coletivos.
Ex.: direito à saúde, direitos da seguridade social.
TERCEIRA GERAÇÃO
Surge na segunda metade do século XX e está associada aos ideais de solidariedade e fraternidade. É nesse momento que surgem os direitos difusos, como o direito ao meio ambiente equilibrado (art. 225 da Constituição).
Atenção
Já existem defensores de uma quarta geração de direitos fundamentais, que seriam aqueles relacionados ao desenvolvimento tecnológico e biológico. São discussões delicadas em torno de assuntos jurídica e moralmente controvertidos, como clonagem, eutanásia etc.
Observamos que a consolidação dos direitos fundamentais em diferentes sociedades e ordenamentos jurídicos é fruto de um longo e complexo processo histórico, que se acentuou especialmente após a Segunda Guerra Mundial. Os horrores causados pela guerra e pelos regimes totalitários deixaram clara a necessidade de se reconhecer direitos inatos a todos os seres humanos, de modo a protegê-los de abusos e autoritarismos. É nesse contexto que os diferentes Estados modernos começam a se preocupar em elaborar um catálogo de direitos fundamentais que não seja meramente uma declaração política, mas também uma fonte para a sua aplicação concreta à realidade.
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre as gerações dos direitos fundamentais.
CONCEITO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS
A Constituição de um Estado democrático, como é o caso do Brasil, possui, dentre as suas funções principais, a proteção de direitos fundamentais. A própria topografia dos dispositivos constitucionais que os preveem já indica a sua importância, tendo em vista que o catálogo de direitos fundamentais se encontra no início do texto constitucional.
Tradicionalmente, as Constituições brasileiras começavam tratando da estrutura do Estado e no final versavam sobre os direitos fundamentais. A Constituição de 1988 inverteu isso: os primeiros artigos tratam de direitos. Essa mudança topográfica transmite a ideia de que o mais importante são os direitos. O Estado existe em boa parte para protegê-los, promovê-los e assegurar que a pessoa humana seja respeitada.
O constituinte entendeu que os direitos são parte integrante da própria essência da Constituição, alçando-os à categoria de cláusulas pétreas, de modo que nem mesmo uma emenda pode suprimi-los (art. 60, §4º).
Conceituá-los, porém, não é tarefa fácil. Além de o seu conteúdo ter variado ao longo da história e dos diferentes contextos políticos e culturais, a sua nomenclatura muitas vezes se confunde com outras. Vamos, aqui, pontuar as principais diferenças entre as nomenclaturas mais comuns a fim de facilitar a compreensão da extensão e do conteúdo dos direitos fundamentais:
DIREITOS HUMANOS
São tratados no âmbito do
direito internacional e se referem genericamente a todos os seres humanos, sem considerar as peculiaridades de cada país ou comunidade, como religião, etnia etc.
Possuem a pretensão de serem atemporais e universais, aplicáveis a todos os povos e em todos os tempos.
DIREITOS FUNDAMENTAIS
São tratados de maneira diferente por cada Estado, de acordo com as suas próprias Constituições. Como cada ordenamento jurídico dispõe diferentemente acerca do rol de direitos fundamentais, eles nem sempre correspondem ao rol de direitos humanos.
São apenas aqueles estabelecidos pelo Estado, conforme o seu Direito Positivo interno.
Reconhecendo a dificuldade de se estabelecer um conceito preciso de direitos fundamentais, José Afonso da Silva (2020) prefere utilizar a expressão “direitos fundamentais do homem”. O autor explica:
No qualitativo fundamentais, acha-se a indicação de que se trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo sobrevive; fundamentais do homem no sentido de que a todos, por igual, devem ser, não apenas formalmentereconhecidos, mas concreta e materialmente efetivados. Do homem, não como macho da espécie, mas no sentido de pessoa humana. Direitos fundamentais do homem significa direitos fundamentais da pessoa humana ou direitos fundamentais. É com esse conteúdo que a expressão “direitos fundamentais” encabeça o Título II da Constituição, que se completa, como direitos fundamentais da pessoa humana, expressamente, no art. 17.
(SILVA, 2020)
É possível apontar também a diferença entre direitos e garantias fundamentais. Enquanto os direitos fundamentais são os enunciados que estabelecem o conteúdo de um direito (ex.: direito à vida, à liberdade religiosa), as garantias fundamentais são instrumentos previstos na Constituição para a defesa e proteção daqueles direitos (ex.: habeas corpus, que busca proteger o direito à liberdade de locomoção).
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Estudaremos a seguir as principais características dos direitos fundamentais apontadas pela doutrina:
Clique nas barras para ver as informações.
UNIVERSALIDADE
Significa que os direitos são de todos. O que faz alguém ser titular de um direito? Ser pessoa humana. A sua titularidade independe de sexo, categoria ou qualquer tipo de classe ou segmentação. Todos os seres humanos possuem igual dignidade.
A partir dessa premissa, o caput do artigo 5º da Constituição pode suscitar algumas dúvidas. Vejamos a sua redação:
· Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...] (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
As primeiras perguntas que surgem são: o estrangeiro que não reside no país não tem direitos fundamentais? O turista não tem direito à vida, por exemplo?
O entendimento majoritário é de que, apesar da redação do dispositivo constitucional, o estrangeiro não residente no país também é titular de direitos fundamentais desde que compatíveis com a sua condição, pois a universalidade não impede a existência de alguns direitos específicos de determinados grupos. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que o réu estrangeiro sem domicílio no Brasil deve ter assegurados:
· “Os direitos básicos que resultam do postulado do devido processo legal, notadamente as prerrogativas inerentes à garantia da ampla defesa, à garantia do contraditório, à igualdade entre as partes perante o juiz natural e à garantia de imparcialidade do magistrado processante” (HC 94.016, rel. min. Celso de Mello, j. 16-9-2008, 2ª T, DJE de 27-2-2009).
Em que pese afirmarmos a universalidade como uma característica dos direitos fundamentais, há direitos que pressupõem certos requisitos como, por exemplo, a nacionalidade no caso dos direitos políticos. Há outros que são específicos para determinados grupos, como o direito fundamental garantido às presidiárias.
RELATIVIDADE
Significa dizer que não há direitos absolutos. Eles podem sofrer restrições. Se o direito de propriedade fosse absoluto, como ficaria a proteção do meio ambiente, por exemplo? Ou no caso da liberdade de expressão, que é um direito que frequentemente se choca com outros, como ficaria a proteção da intimidade?
Muitas vezes, a lei impõe uma restrição a um direito fundamental. É o caso das leis ambientais, que restringem o direito de propriedade e exigem o cumprimento de uma série de regras que visa à proteção do meio ambiente. Um exemplo é o Código Florestal (Lei n° 12.651), que possui diversas regras restritivas ao direito de propriedade.
O legislador, entretanto, não consegue prever nem solucionar todos os possíveis conflitos entre direitos fundamentais. Assim, muitas vezes, no caso concreto, é preciso que o Judiciário resolva essa colisão restringindo um direito em prol de outro, buscando, um equilíbrio. Um exemplo famoso é o caso Ellwanger, julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Nesse julgamento, o Tribunal entendeu que a liberdade de expressão, apesar de ser um direito fundamental importantíssimo, não é um direito absoluto. Dessa maneira, ela não protege o discurso de ódio, o racismo nem a publicação de livros antissemitas.
Há um princípio de interpretação constitucional que norteia o intérprete diante desses casos difíceis de conflitos entre direitos e normas constitucionais, chamado princípio da concordância prática:
· "Consiste, essencialmente, numa recomendação para que o aplicador das normas constitucionais, deparando-se com situações de concorrência entre bens constitucionalmente protegidos, adote a solução que otimize a realização de todos eles, mas ao mesmo tempo não acarrete a negação de nenhum." (MENDES; COELHO; BRANCO; 2007)
Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto nos dão um exemplo do emprego da concordância prática pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do Habeas Corpus 80.240 (STF, HC 80240, Relator(a): Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 20/06/2001, publicado no DJ 14-10-2005). Trata-se do caso de um líder indígena intimado para depor em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Diante das normas constitucionais que garantem os poderes da CPI e os direitos dos indígenas à sua cultura, o Tribunal, para conciliar as normas em conflito no caso, decidiu que o depoimento poderia ser feito, mas apenas no interior das terras indígenas e na presença de antropólogo e de representante da FUNAI.
Ou seja, considerando a relatividade dos direitos fundamentais e os seus possíveis conflitos em um caso concreto, deve-se buscar sempre uma solução que leve ao equilíbrio entre eles.
HISTORICIDADE
Os direitos fundamentais foram conquistados historicamente e as mudanças na sociedade influenciam a leitura que se faz deles.
Os direitos não são realidades metafísicas e sim realidades históricas e concretas. Eles foram conquistados e ampliados ao longo da história, surgindo em diferentes etapas.
INALIENABILIDADE
Não possuem conteúdo econômico e não podem ser negociados ou transferidos:
· “Se a ordem constitucional os confere a todos, deles não se pode desfazer, porque são indisponíveis.” (SILVA, 2020)
IMPRESCRITIBILIDADE
Os direitos fundamentais não se extinguem pelo decurso do tempo e o seu exercício não se sujeita a qualquer prazo.
IRRENUNCIABILIDADE
Não se pode renunciar aos direitos fundamentais. O titular do direito pode até não o exercer, mas isso não implica a renúncia ao direito.
APLICABILIDADE IMEDIATA
A Constituição Federal, no art. 5º, §1º, dispõe expressamente que:
· “As normas definidoras dos direitos e das garantias fundamentais têm aplicação imediata”.
Houve aqui uma preocupação do constituinte em dar plena efetivação aos direitos fundamentais, evitando o que acontecera sob a égide de Constituições pretéritas, em que os direitos previstos na Constituição, muitas vezes, eram apenas retórica, uma simples proclamação política, sem qualquer aplicação concreta.
A ideia da aplicabilidade imediata é a de que os direitos valem imediatamente e independem de concretização legislativa, de regulamentação, para surtirem seus efeitos. O titular dos direitos pode invocá-los com base apenas na Constituição.
NÃO EXAUSTIVIDADE OU ATIPICIDADE
Um direito não precisa estar positivado na Constituição para ser considerado fundamental. Vejamos a redação do art.5º, §2º da Constituição:
· "Os direitos e as garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte". (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
Isso significa que é possível ter direitos fundamentais fora do catálogo formal previsto na Constituição. Eles podem estar em tratados internacionais de direitos humanos, por exemplo. Qual é o principal critério para apontar direito fundamental fora do catálogo? O princípio da dignidade da pessoa humana.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar a ADI 939 (STF, ADI 939, Relator Sidney Sanches, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/1993, publ. DJ 18/03/1994), decidiuque o princípio da anterioridade tributária, apesar de não estar no rol dos direitos fundamentais elencados pela Constituição, e sim no capítulo referente à tributação, é um direito fundamental.
CLASSIFICAÇÕES
Existem inúmeras classificações que variam conforme o autor e o critério adotado. Uma delas, por exemplo, divide os direitos fundamentais de acordo com o conteúdo:
swap_horiz Arraste para os lados.
Direitos fundamentais do homem-indivíduo
Reconhecem autonomia aos particulares e se identificam com os direitos individuais. Ex.: liberdade, igualdade e propriedade.
Direitos fundamentais do homem-nacional
São aqueles que definem a nacionalidade.
Direitos fundamentais do homem-cidadão
São os direitos políticos como,
por exemplo, o direito de eleger e de ser eleito.
Direitos fundamentais do homem-social
São os direitos “assegurados ao homem em suas relações sociais e culturais”, como o direito à saúde e à educação.
Direitos fundamentais do homem membro de uma coletividade
São os direitos coletivos. Incluem-se aqui o direito de petição (art. 5º, XXXIV, a) e o direito de greve (art. 9º e 37, VII).
Direitos fundamentais de terceira geração ou do homem-solidário
Trata-se de uma classe mais recente de direitos, como o direito ao meio ambiente, à paz e ao desenvolvimento.
Vejamos outra classificação, com base no texto da Constituição Federal de 1988:
Direitos individuais
(art. 5º).
Direitos à nacionalidade
(art. 12).
Direitos políticos
(artigos 14 a 17).
Direitos sociais
(artigos 6º e 193).
Direitos coletivos
(art. 5º).
Direitos solidários
(artigos 3º e 225).
Atenção
Há também os direitos econômicos, previstos na Constituição no Título da Ordem Econômica e Financeira (artigos 170 e seguintes).
EFICÁCIAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Além da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais, eles também suscitam importantes questionamentos a respeito da sua eficácia.
Tradicionalmente, os direitos fundamentais eram aplicados à relação entre o indivíduo e o Estado, verticalmente. Isso se explica até mesmo pela primeira geração de direitos fundamentais, criados para a defesa do indivíduo contra o poder absoluto do Estado.
Essa noção, contudo, foi mudando ao longo do tempo, pois notou-se a existência de lesões a direitos que não provêm somente do Estado, mas podem se originar de relações entre patrão e empresa, entre loja e comprador, entre pai e filho, por exemplo. São relações muito variadas nas quais nem sempre o Estado está presente.
Surge, então, a ideia da eficácia horizontal dos direitos fundamentais (em contraposição à eficácia vertical), que significa a aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas. Mas, é importante ressaltar, há o risco de comprometer a liberdade individual e a espontaneidade das relações sociais.
Vejamos um exemplo dessa problemática:
Vamos supor que alguém pertença a uma associação. A associação, de maneira discriminatória, resolve expulsar os sócios. Isso é possível? Até que ponto a liberdade e a autonomia privada protegem esse tipo de conduta?
Explicação
Vejamos outro exemplo de um caso também enfrentado pelo Supremo Tribunal Federal:
Uma empresa francesa que estabelecia vantagens exclusivas para empregados franceses, criando uma discriminação em relação a funcionários de outras nacionalidades. O fato de ser uma empresa privada, à qual se aplica a autonomia e a livre iniciativa, protege esse tipo de conduta?
Explicação
Mais uma vez, a Corte Suprema entendeu que os direitos fundamentais também devem ser aplicados às relações privadas, declarando inconstitucional a discriminação perpetrada pela empresa:
“(...) Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar para a empresa francesa, no Brasil, não foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja aplicabilidade seria restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao princípio da igualdade: C.F., 1967, art. 153, §1º; C.F., 1988, art. 5º, caput.
II – A discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota intrínseca ou extrínseca do indivíduo, como o sexo, a raça, a nacionalidade, o credo religioso etc., é inconstitucional. (...)”
(STF, RE 161243, Relator Carlos Velloso, Segunda Turma, julgado em 29/10/1996, publ. DJ 19/12/1997)
Existe controvérsia em torno da maneira de aplicar os direitos fundamentais às relações privadas.
Teoria da eficácia indireta ou mediata
Um primeiro entendimento defende que essa aplicação deve ser feita pelo legislador. E se a lei, ao tratar de direito privado, violar direitos fundamentais ou não os proteger adequadamente, será inconstitucional. Ou seja, os direitos fundamentais não devem ser automaticamente aplicados às relações entre particulares.
Teoria da eficácia direta ou imediata
Um segundo entendimento defende que essa aplicação deve ser feita diretamente pelo juiz, independentemente da atuação do legislador. Este, ao julgar as causas, deve levar em consideração os direitos fundamentais, mesmo que sejam causas privadas.
A principal porta de entrada dos direitos fundamentais na atividade jurisdicional são as cláusulas gerais de direito privado. Ex.: bons costumes, boa-fé, ordem pública. Elas devem ser concretizadas, devem ser lidas de uma maneira que protejam e promovam os direitos fundamentais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. A respeito das dimensões dos direitos fundamentais, assinale a alternativa correta:
Os direitos de primeira geração são tipicamente de cunho social.
O direito ao meio ambiente equilibrado foi um dos primeiros direitos fundamentais a serem protegidos.
Os direitos difusos são típicos da terceira geração de direitos fundamentais, marcada especialmente pelo ideal de solidariedade.
O direito à liberdade só começa a ser protegido na segunda metade do século XX.
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
A letra C está correta, pois a terceira geração de direitos fundamentais se caracteriza pelo surgimento dos direitos difusos, como é o caso do direito ao meio ambiente, previsto no art. 225 da Constituição.
Parte superior do formulário
2. “Os direitos fundamentais podem sofrer restrições e não se sujeitam a qualquer prazo para serem exercidos”.
A afirmação acima se refere a quais características dos direitos fundamentais?
Irrenunciabilidade e aplicabilidade imediata.
Relatividade e imprescritibilidade.
Historicidade e indisponibilidade.
Atipicidade e eficácia horizontal.
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "B" está correta.
A afirmativa B está correta, uma vez que, ao dizer que os direitos fundamentais podem ser restringidos, refere-se expressamente à relatividade dos direitos fundamentais, que não são absolutos. Em seguida, ao dizer que o seu exercício não se sujeita a prazo, faz-se clara referência à imprescritibilidade dos direitos fundamentais.
MÓDULO 2
Reconhecer o tratamento dado pela Constituição Federal aos direitos fundamentais.
DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS CONSAGRADOS NA CONSTITUIÇÃO
Os direitos individuais estão previstos no artigo 5º e respectivos incisos da Constituição Federal. Podem ser conceituados, conforme ensina José Afonso da Silva (2020), como aqueles que reconhecem autonomia aos particulares, garantindo a iniciativa e independência aos indivíduos diante dos demais membros da sociedade política e do próprio Estado.
Em relação aos destinatários, será que eles se aplicam também às pessoas jurídicas ou apenas às pessoas físicas? 
RESPOSTA
No tópico relativo às características dos direitos fundamentais, nós também já vimos a controvérsia provocada pela redação do caput do art. 5º da Constituição, que aparentemente exclui o estrangeiro não residente no país da titularidade dos direitos fundamentais ali elencados.
Naquela oportunidade, vimos que o entendimento amplamente majoritário, inclusive agasalhado pelo Supremo Tribunal Federal, é o de que a Constituição não excluiu os direitos fundamentais do estrangeiro não residente no país.
Atenção
No processo de elaboração constitucional, cogitou-se colocaros direitos coletivos em capítulo especial. Tal proposta, porém, foi rejeitada, mantendo-se o capítulo intitulado “Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos”.
Eles são, na verdade, direitos cuja titularidade é individual, mas cujo exercício requer a participação conjunta de diversas pessoas. Incluem-se nessa categoria os direitos de reunião, de associação, dentre outros.
O rol de direitos elencados no art. 5º é extenso e, por isso, estudaremos mais detidamente a seguir aqueles que são mais relevantes e que suscitam maior controvérsia:
Clique nas barras para ver as informações.
DIREITO DE PROPRIEDADE
· Está previsto nos seguintes incisos do artigo 5º:
· XXII – é garantido o direito de propriedade;
· XXIII – a propriedade atenderá à sua função social.
Existem também outros dispositivos constitucionais com previsões específicas acerca do direito de propriedade ao longo de toda a Constituição (ex.: artigos 5º, XXIV; 182 etc.).
A partir dos dispositivos citados, vemos que a própria Constituição já define um limite para o direito de propriedade, ao exigir que ela atenda à sua função social. Essa decisão do constituinte supera a antiga ideia de que a propriedade é absoluta.
Uma questão que se põe diz respeito ao conceito de função social. O artigo 1228 do Código Civil fixa alguns parâmetros:
· §1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
· §2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
· A Constituição também fixa requisitos para o atendimento da propriedade rural:
· Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
· I – aproveitamento racional e adequado;
· II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
· III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
· IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
Atenção!
Seguindo essa linha, o Supremo Tribunal Federal já afirmou expressamente que o direito de propriedade não se revela absoluto, estando relativizado pela Constituição.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
· Está prevista no art. 5º, IV: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.
· É vital para uma democracia, que pressupõe debate público, amplo acesso a ideias e pontos de vista divergentes. Em qualquer espaço, pressupõe-se que cada pessoa, para poder decidir sobre algo, deva ter acesso às informações mais variadas.
· A ideia subjacente a esse direito fundamental é de que a democracia exige um espaço público de discussão robusto, plural, dinâmico no qual diferentes pontos de vista possam ser devidamente debatidos sem a tirania de uma única ideia.
· Tem por fim a autonomia, a realização pessoal de cada indivíduo, na medida em que o homem, como um ser social, tem a necessidade de se comunicar, moldando a sua personalidade conforme interage com os outros do seu meio.
· A necessidade de se proteger a liberdade de expressão como corolário da própria democracia tem sido reiterado pelo Supremo Tribunal Federal em diversos julgados:
· “A Democracia não existirá e a livre participação política não florescerá onde a liberdade de expressão for ceifada, pois esta constitui condição essencial ao pluralismo de ideias, que por sua vez é um valor estruturante para o salutar funcionamento do sistema democrático. A livre discussão, a ampla participação política e o princípio democrático estão interligados com a liberdade de expressão, tendo por objeto não somente a proteção de pensamentos e ideias, mas também opiniões, crenças, realização de juízo de valor e críticas a agentes públicos, no sentido de garantir a real participação dos cidadãos na vida coletiva. São inconstitucionais os dispositivos legais que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático” (STF, ADI 4451, Relator Alexandre de Moraes, Tribunal Pleno, julgado em 21/06/2018, publ. DJ 06/03/2019).
Atenção!
Conforme visto no tópico relativo às características dos direitos fundamentais, o Supremo Tribunal Federal não inclui discursos de ódio ou racistas no âmbito de proteção da liberdade de expressão.
LIBERDADE RELIGIOSA
· Liberdade de religião não é apenas o direito de professar publicamente determinada religião, mas também o direito de não ter nenhuma.
· Tema mais polêmico diz respeito à possibilidade de, com base na liberdade religiosa, tentar converter outras pessoas e atrair fiéis para determinada seita religiosa.
· O Supremo Tribunal Federal já se debruçou sobre o tema e entendeu que essas atitudes estão protegidas pela liberdade de religião:
· “A liberdade religiosa não é exercível apenas em privado, mas também no espaço público, e inclui o direito de tentar convencer os outros, por meio do ensinamento, a mudar de religião. O discurso proselitista é, pois, inerente à liberdade de expressão religiosa. (...) A liberdade política pressupõe a livre manifestação do pensamento e a formulação de discurso persuasivo e o uso dos argumentos críticos. Consenso e debate público informado pressupõem a livre troca de ideias e não apenas a divulgação de informações. (...) (STF, ADI 2.566, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, julgado em 16/05/2018, publ. DJ 23/10/2018).
· Outro ponto polêmico relacionado a esse direito envolve a discussão em torno da admissibilidade ou não do sacrifício de animais como manifestação religiosa. Como se sabe, essa é uma prática cultural presente em diversas religiões, especialmente nas de matriz africana. O debate nos coloca um conflito entre dois direitos fundamentais: a liberdade religiosa e a proteção ao meio ambiente.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal também já se manifestou sobre o assunto ao analisar uma lei, do Rio Grande do Sul, que permitia o sacrifício de animais em ritos religiosos. A Corte fixou a seguinte tese:
· “É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana”.
Dessa maneira, entendeu que a prática e os rituais relacionados ao sacrifício animal são patrimônio cultural imaterial e constituem os modos de criar, fazer e viver de várias comunidades religiosas, devendo tal direito ser protegido (STF, RE 494601, Relator Edson Fachin, Tribunal Pleno, julgado em 28/03/2019, publ. DJ 19/11/2019).
LIBERDADE DE REUNIÃO
Está prevista no art. 5º, XVI:
· “Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.
Da leitura do dispositivo, concluímos que se exige apenas o mero aviso à autoridade competente. Não cabe à autoridade definir o local, nem tomar medidas para dificultar a reunião. A Constituição, porém, ressalta que não se pode atrapalhar outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local. Busca-se, assim, evitar o abuso de direito que vise atrapalhar outras reuniões, além de se evitar eventuais conflitos que coloquem em risco a ordem pública.
Na lição de José Afonso da Silva (2020), reunião é qualquer agrupamento formado em certo momento com o objetivo comum de trocar ideias ou de receber manifestação de pensamento político, filosófico, religioso, científico ou artístico. Ela protege passeatas e manifestações nos logradouros públicos.
Note-se que a liberdade de reunião tem grande relevância, pois, por meio dela, é possível exercer outras liberdades, como as de expressão e de locomoção.Assim, tal direito fundamental é instrumento para proteção de outros direitos fundamentais.
DIREITOS SOCIAIS
Os direitos sociais são aqueles ligados à igualdade. Trata-se de prestações positivas a serem oferecidas direta ou indiretamente pelo Estado a fim de conceder melhores condições de vida àqueles que não possuem uma situação social digna.
Conforme vimos no módulo 1, os direitos sociais surgem na segunda geração de direitos fundamentais, caracterizados por exigirem uma prestação positiva do Estado para atender às necessidades dos indivíduos. Não é mais suficiente que o Estado se abstenha de violar direitos; é preciso que ele atue para protegê-los e concretizá-los.
O artigo 6º da Constituição enumera como direitos sociais:
EDUCAÇÃO
SAÚDE
ALIMENTAÇÃO
TRABALHO
MORADIA
TRANSPORTE
LAZER
SEGURANÇA
PREVIDÊNCIA SOCIAL
PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA
ASSISTÊNCIA AOS DESAMPARADOS
Todos os direitos mencionados exigem uma prestação positiva do Estado, ou seja, uma política pública para garanti-los, o que gera custos. Assim, os direitos sociais trazem o desafio de qual será a parcela desse direito que será exigível do Estado.
Dentre eles, o direito à saúde merece uma análise mais detida. A Constituição deixa claro que a saúde é um direito de todos e dever do Estado. Ela é tratada com mais detalhes nos artigos 196 e seguintes da Constituição, onde também há regras de competências dos entes federados para a implementação de políticas públicas de saúde.
A consagração do direito à saúde tem provocado inúmeros debates em torno da extensão desse direito e dos limites da interferência do Judiciário na sua aplicação. Se a Constituição garante o direito à saúde, então é possível requerer judicialmente qualquer tratamento médico ou remédio em face do Poder Público? Esse é um tema que tem desafiado todos os entes federados no país, que recebem diariamente milhares de ações judiciais com demandas dessa natureza.
O STF, sempre que provocado, tenta estabelecer parâmetros para a interferência do Judiciário na concretização desse direito. A Corte Suprema já entendeu que, em regra, o Estado não é obrigado a fornecer medicamentos de alto custo solicitados judicialmente quando não estiverem previstos na relação do Programa de Dispensação de Medicamentos em Caráter Excepcional, do Sistema Único de Saúde (SUS).
O direito à alimentação e à moradia buscam consagrar o direito à saúde e a uma vida digna, tendo servido de esteio para diversos programas sociais de renda mínima e de crédito à moradia implementados nas últimas décadas. Em 2020, eles voltaram a ter destaque nacional com o auxílio emergencial implementado pelo governo federal diante dos impactos econômicos e sociais da pandemia de COVID-19.
Com base no direito à moradia, os tribunais, inclusive o Supremo Tribunal Federal, têm entendido que, no caso de construções irregulares, ainda que se reconheça o poder-dever do poder público de demoli-las, ele é obrigado a implementar medidas para mitigar os efeitos sobre as famílias que ali se encontram. É muito comum que o poder público, em especial o município, seja obrigado a oferecer alguma opção de moradia ou algum benefício assistencial antes de retirar as pessoas que ocupam áreas irregulares ou de risco.
O artigo 7º da Constituição também estabelece uma série de outros direitos sociais aos trabalhadores urbanos e rurais, como por exemplo:
Irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
Décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno.
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre a extensão da exigibilidade do direito fundamental à saúde.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. A respeito da liberdade religiosa, marque a alternativa correta:
Ela não está prevista expressamente na Constituição Brasileira de 1988.
Estabelece que todo cidadão obrigatoriamente precisa escolher uma religião.
O indivíduo é livre para escolher a sua religião, mas o Estado estabelece uma religião oficial.
A liberdade religiosa permite a prática de cultos religiosos, ainda que envolvam o sacrifício de animais.
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Comentário
Parabéns! A alternativa "D" está correta.
A letra D é a correta, porque a liberdade religiosa garante a prática livre e pública de todas as seitas religiosas e, conforme já decidido pelo Supremo Tribunal Federal, é constitucional a lei que permite o sacrifício de animais para fins religiosos.
Parte superior do formulário
2. Assinale a alternativa correta a respeito dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988:
O direito de propriedade, desde que atenda à sua função social, é absoluto.
O direito à saúde autoriza que o brasileiro ou estrangeiro residente no país requeira judicialmente qualquer tipo de medicamento, desde que possua receita médica.
O direito à moradia está no rol dos direitos sociais e exige que o poder público atue para garanti-lo.
O discurso racista está protegido pela Constituição, mas não o discurso de ódio.
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
A letra C é a correta, pois o direito à moradia foi expressamente previsto no art. 6º da Constituição como direito social. E como tal, o Poder Público é obrigado a atuar, por meio de políticas públicas, para garanti-lo.
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CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do nosso estudo, vimos a trajetória de surgimento e consolidação dos direitos fundamentais e as sucessivas gerações de direitos que ganharam espaço nas Constituições dos diferentes Estados ao redor do mundo.
Dos direitos individuais aos difusos, passando pelos direitos sociais, nós pudemos compreender melhor as características definidoras dos direitos fundamentais e por que eles possuem um lugar de destaque no ordenamento jurídico, estando inclusive no rol das cláusulas pétreas.
Analisamos também as dificuldades e controvérsias que desafiam a aplicação desses direitos e vimos alguns direitos em espécie cuja relevância exige um estudo mais aprofundado.
Tudo isso nos permite entender melhor o que podemos esperar do Estado como cidadãos e analisar criticamente o papel que o poder público vem desempenhando na concretização dos direitos previstos na Constituição.
 
DESCRIÇÃO
Estudo das perspectivas da Educação para os Direitos Humanos no Brasil e no mundo.
PROPÓSITO
Conhecer a fundamentação legal, os conceitos e os desafios da Educação para os Direitos Humanos para uma visão e atuação democrática e inclusiva nos contextos educacional e social.
OBJETIVOS
Módulo 1
Relacionar a Educação com o direito à dignidade e à cidadania
Módulo 2
Identificar princípios e desafios da relação entre Direitos Humanos e Educação
Módulo 3
Reconhecer a relevância da Educação para os Direitos Humanos
INTRODUÇÃO
A relação entre a Educação e os Direitos Humanos é complexa e multifacetada. Por essa razão, existem muitos modos de abordar o tema e buscar compreender sua importância na atualidade.
Agora, você terá oportunidade de estudar a Educação para os Direitos Humanos a partir da estreita relação entre o direito à Educação e o direito à cidadania e dignidade. Poderá compreender que o direito à Educação é universal e, por isso mesmo, pode ser entendido como direito humano.
Você também irá conhecer os vários princípios e desafios implicados no ato de educar para os Direitos Humanos, além de refletir sobre a necessidade de experiências educativas voltadas à cidadania, democracia e paz social, nos diferentes níveis de Educação.
Tudo isso com o fim de promover uma sociedade mais justa e democrática, na qual os Direitos Humanos possam ser efetivos para todos, superando a mera intencionalidade de promovê-los no futuro.
MÓDULO 1
Relacionar a Educação com o direito à dignidade e cidadania
DIREITO À EDUCAÇÃO EM DISPOSITIVOS LEGAIS E DOCUMENTOS
Pensar no direito humano à Educação, atualmente, também é considerara Educação como direito humano. Isso significa transcender o campo individual do direito constitucional à Educação e adentrar o campo da percepção de que a dignidade humana depende do acesso à Educação básica, necessária para o exercício da cidadania plena.
Na Constituição Federal de 1988 (CF), lê-se, no artigo 6º, que a Educação é um direito social, juntamente com a saúde e segurança, entre outros direitos. Elencar a Educação como direito social insere a formação educacional no rol das obrigações de fazer do Estado. Trata-se de prestações positivas no sentido de oportunizar aos cidadãos, sejam eles quais forem, garantias de direitos cujo objetivo é promover a redução das desigualdades sociais.
A CF reforçou a ideia de cidadão como sujeitos sociais ativos que contribuem para o desenvolvimento de um estado democrático social de direito.
Nesse contexto, o tema dos Direitos Humanos como condição para o exercício da cidadania ganha importância na sociedade brasileira.
Outro documento que marca a importância do tema é o Plano Nacional de Educação (PNE), no qual a Educação se impõe como condição fundamental para o desenvolvimento nacional. O PNE propõe o crescimento cultural da sociedade por meio da Educação, com o objetivo de reduzir os desequilíbrios regionais que hoje existem no País.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96), em seu artigo 1º, estabelece a abrangência da Educação. Na mesma LDB, o capítulo 4 reconhece a importância da Educação para criação e difusão da cultura, como forma de desenvolvimento do pensamento reflexivo, além de fazer com que os sujeitos sociais se percebam como cidadãos com um papel a cumprir no seio da sociedade.
EDUCAÇÃO, CIDADANIA E DIGNIDADE
Vamos, agora falar de cidadania e da dignidade na sua relação com a Educação.
A Constituição Federal de 1988 traz, como princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito, em seu artigo 1º inciso II e III, a dignidade da pessoa humana e a cidadania, entre outros. São dois fundamentos de grande importância na formação da sociedade.
Princípio da cidadania
Pelo princípio da cidadania, "toda pessoa tem direito à Educação”. É certo que muitas crianças e jovens não têm ou não tiveram acesso à escola. Por isso, tornam-se essenciais a criação e a manutenção de políticas públicas que se preocupem com a efetivação da “Educação para todos”.
A Educação, sendo um direito inalienável de todo cidadão, é dever do Estado. Nesse sentido, o Estado deve garantir o acesso à Educação e a permanência de todas as pessoas, independentemente de raça, cor, sexo, nacionalidade.
A incorporação dos Direitos Humanos na Educação se torna primordial para a formação dos sujeitos sociais como partícipes de uma sociedade na qual seus direitos estejam assegurados. Desse modo, ao contrário do que afirmam alguns críticos, os Direitos Humanos são para todos, e não devem ser privilégios de parcelas da sociedade.
Pode-se, portanto, afirmar que a indissociabilidade entre a Educação e os Direitos Humanos também inclui a cidadania ativa.
Educação e cidadania
Como direito constitucional fundamental, a Educação é direito do cidadão, além de ser elemento constitutivo do acesso à condição de cidadão pleno – aquele que conhece e exerce seus direitos, reconhecendo, também, os direitos dos demais cidadãos. Nesse sentido, os Direitos Humanos são considerados pilares para organização do próprio Estado.
O Estado Democrático de Direito tem como alguns de seus fundamentos:
Cidadania
Dignidade da pessoa humana
A consolidação da cidadania eleva a condição daquele que vive em sociedade e, ao mesmo tempo, promove a dignidade da pessoa humana. É fundamental que todo cidadão reconheça os seus direitos, visto que este reconhecimento é o que permite a atuação cidadã em busca de melhorias na qualidade de vida.
A cidadania é, pois, um processo em construção, e tem como elemento propulsor a Educação.
Dignidade, cidadania e democracia
A dignidade da pessoa humana está relacionada ao direito do indivíduo, enquanto a cidadania se refere ao social, ao direito de todos.
De qualquer maneira, dignidade e cidadania estão interligadas de tal modo que o indivíduo, ao exercer a cidadania, participa não só da sociedade civil, mas também das atividades do Estado, buscando a melhoria na qualidade de vida individual e coletiva.
Os sujeitos sociais exercem a cidadania ao participarem ativamente na gestão da sociedade e nas necessárias transformações que esta sofre, exercendo seus direitos civis, políticos e sociais.
A democracia é inerente ao exercício da cidadania no que se refere à atuação do ser humano na sociedade na qual está inserido. Do mesmo modo, o exercício da cidadania é fundamental para a dinâmica do Estado.
Ao exercer a cidadania, o cidadão reconhece e exercita seus direitos, em uma luta constante pela sua efetivação em prol de melhorias em seu ambiente social e de seus semelhantes, e principalmente, pela concretização da democracia.
EDUCAÇÃO COMO CONDIÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA
Os Direitos Humanos e o exercício da cidadania são pilares para organização do próprio Estado e da sociedade.
É objetivo da Educação formar a pessoa para a cidadania, pelo conhecimento, pela possibilidade de opções ou alternativas de intervenção na sociedade, pela plenitude dos direitos. Consequentemente, também é objetivo da Educação formar para a dignidade da pessoa – princípio fundamental do Estado brasileiro, conforme estabelece o art. 1º da CF.
Uma combinação entre o inciso III do artigo 1º da Constituição Federal e já citado artigo 6º permite afirmar que, para que a pessoa humana possa ter dignidade (CF, art. 1º, III), é necessário assegurar os direitos sociais previstos no art. 6º da mesma Constituição:
Educação – Saúde – Trabalho - Lazer - Segurança
Previdência social - Proteção à maternidade e infância
Assistência aos desamparados
O Estado Democrático de Direito tem o princípio da dignidade da pessoa humana como basilar. Também é possível afirmar que a Educação está intimamente ligada ao princípio da dignidade humana. De qualquer forma, a dignidade da pessoa humana, em si, não é um direito fundamental, mas um atributo próprio a todo ser humano.
O direito à Educação, portanto, como direito fundamental do homem, deve ser analisado em consonância com o princípio da dignidade da pessoa humana.
Para muitos juristas e educadores, os direitos à vida e à Educação, entre outros, aparecem como consequência imediata da dignidade da pessoa humana e, como tal, tornam-se um fundamento da República Federativa do Brasil.
SENTIDOS DA DIGNIDADE HUMANA
A concepção e o sentido atual de dignidade humana são determinados pelo contexto pós-guerra, diante da reação ao totalitarismo e seus horrores, por meio de acordos e documentos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Ao pontificar que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos” (ONU, 1948), a Declaração nos oferece o conceito de dignidade humana a partir do contexto político e jurídico internacional.
Há duas perspectivas de dignidade mais frequentes nos estudos sobre o tema:
A perspectiva relacionada à ideia de dignitas romana de posição e função hierárquica;
A perspectiva relacionada à ideia de igualdade.
As duas perspectivas formam os eixos históricos e filosóficos relacionados à concepção de dignidade humana.
Atualmente, o predomínio do eixo filosófico é perceptível, assumindo-se a centralidade da pessoa humana e sua liberdade como princípios que contribuíram para delimitar e sustentar o sentido contemporâneo de dignidade humana:
O indivíduo tem dignidade, pois possui valor em si mesmo, não tem preço e não se configura como meio à vontade externa/de outros. Essa é a característica peculiar da natureza humana.
(DANTAS, 2018, p. 56).
No artigo 101 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, podemos identificar uma defesa da dignidade humana que assume, atualmente, também um estatuto jurídico por desempenhar papel relevante na proteção dos Direitos Humanos, sobretudo em relação a questões complexas.
TRÊS ABORDAGENS JURÍDICASSOBRE O CONCEITO DE DIGNIDADE
No campo jurídico, muitos autores também têm se debruçado sobre o tema da dignidade da pessoa humana. Vejamos, pelo menos, três abordagens sobre o conceito de dignidade:
Clique nas barras para ver as informações.
DIGNIDADE E CONCEITO DE PESSOA HUMANA
Para Sarmento (2016), dignidade é um princípio que está relacionado com a concepção de pessoa humana, a qual subjaz a Constituição Federal e a moralidade crítica.
A pessoa humana é concebida como possuidora de valor em si mesma, não constituindo mero instrumento a serviço do Estado ou de terceiros. Desse modo, a dignidade da pessoa humana representa o princípio que alimenta e está presente no conteúdo de todos os direitos fundamentais afirmados na Constituição, mesmo que em intensidades diferentes.
DIGNIDADE E DIREITOS
A partir da perspectiva legal, Barcellos (2002) conclui que o princípio da dignidade humana na Constituição brasileira, como consequência de seu valor fundamental, tem como conteúdos os direitos individuais e políticos, bem como os direitos sociais e culturais e econômicos.
A materialidade deste princípio, em relação às condições básicas de existência, ocorre por meio dos direitos sociais definidos no artigo 6º da CF.
DIGNIDADE E AS DIMENSÕES ONTOLÓGICA E SOCIAL
Ainda no campo do direito, Sarlet (2007) defende que a dignidade da pessoa humana é caracterizada pela dimensão ontológica e intersubjetiva. O autor compreende que a perspectiva ontológica se assenta no valor intrínseco do indivíduo – como em Sarmento – e é a condição que qualifica cada pessoa como tal.
A dignidade humana, portanto, deve ser sempre respeitada como valor inerente ao indivíduo. Embora possa ser violada, não pode ser suprimida.
Sarlet (2007) ainda defende que a dignidade humana também possui dimensão social, uma vez que os indivíduos, como iguais em dignidade, estão submetidos ao contexto da vida em sociedade e das relações sociais, configurando uma dimensão intersubjetiva.
LIMITAÇÕES NO AVANÇO DO DIREITO À EDUCAÇÃO
A Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra que "toda pessoa tem direito à Educação". Infelizmente, porém, a realidade é ainda bem cruel.
É inegável que, em muitos lugares, o crescimento econômico permitiu financiar a expansão da Educação. No entanto, esse desenvolvimento não é uniforme nem equilibrado. De qualquer forma, muitas conquistas vêm sendo possíveis.
Surgem, a todo momento, muitas e valiosas realizações científicas e culturais que contribuem para melhor qualidade de vida – uma das metas da Educação como direito.
Os avanços, no entanto, não são considerados suficientes, e muitas questões sobre Educação permanecem inconclusas.
DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS
Em 1990, foi realizada a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia. O tema estava relacionado ao fato de que a Educação para todos precisava ser: “um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro” (DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1990, p. 2).
Apesar de, historicamente, sabermos que a Educação é uma condição necessária para o progresso pessoal e social conquistados até hoje, também sabemos que não é suficiente.
A Educação é um instrumento universalmente válido para criar oportunidades de conquista de uma vida e um mundo melhores, em todos os sentidos: “mais sadio, mais próspero e ambientalmente mais puro, e que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso social, econômico e cultural, a tolerância e a cooperação internacional” (DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1990).
Embora acreditar nisso seja razoável e essa seja a perspectiva de compreensão mais avançada do direito à Educação, é preciso considerar os problemas enfrentados pela realidade educacional. As condições para esse sucesso não vêm sendo criadas. Ao contrário, são criados problemas e dificuldades para muitos, cujos direitos são desrespeitados e desconsiderados, no processo educacional.
No contexto da busca pela Educação Para Todos, há duas fortes razões para que Educação e escolaridade não sejam igualadas. Em primeiro lugar, muitas escolas ao redor do mundo não conseguem oferecer uma experiência que possa ser chamada efetivamente de Educação [...]. Além de poder não ter quase nenhum significado, a escola pode ser positivamente prejudicial.
(MCCOWAN, 2011, p. 12)
Necessidades básicas de aprendizagem
A Declaração Mundial sobre Educação para Todos apresenta o objetivo de satisfazer às necessidades básicas de aprendizagem de todos. Para tanto, propõe, no primeiro artigo, que cada indivíduo – criança, jovem ou adulto –, deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem.
Segundo a Declaração, as necessidades básicas de aprendizagem incluem:
Os instrumentos essenciais para a aprendizagem – leitura e escrita, oralidade, cálculo, solução de problemas, por exemplo.
Os conteúdos básicos da aprendizagem – conhecimentos, habilidades, valores e atitudes, por exemplo.
Os instrumentos essenciais e os conteúdos básicos, por sua vez, são necessários para:
A sobrevivência dos seres humanos;
O desenvolvimento pleno de suas potencialidades;
A vida e o trabalho dignos;
A participação plena no desenvolvimento;
A qualidade de vida, a tomada de decisões fundamentadas;
A aprendizagem continuada (DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1990).
Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), a satisfação dessas necessidades deve conferir, aos membros da sociedade, a possibilidade e a responsabilidade de:
Promover a Educação de outros.
Defender a causa da justiça social.
Proteger o meio ambiente.
Ser tolerante com os sistemas sociais, políticos e religiosos que difiram dos seus.
Assegurar respeito aos valores humanistas e aos Direitos Humanos comumente aceitos.
Trabalhar pela paz e pela solidariedade internacionais em um mundo interdependente.
Educação básica
A Declaração segue enunciando os princípios dessa Educação para Todos e defende a Educação básica, que deve ser proporcionada a todos, independentemente da idade e sem qualquer discriminação.
É necessário, para tanto, universalizar a Educação básica e melhorar sua qualidade, bem como tomar medidas efetivas para reduzir as desigualdades. A Educação básica se torna fundamento para a aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes.
Para que a Educação básica se torne universal e igualitária, é necessário oferecer a todos a oportunidade de alcançar e manter um padrão mínimo de qualidade da aprendizagem, superando obstáculos de qualquer natureza para tal objetivo.
Deve haver a inclusão e a garantia da qualidade da formação das minorias, dos grupos excluídos, dos discriminados e daqueles que possuem alguma necessidade educacional especial.
O processo de Educação não ocorre em situação de isolamento. Ele se dá em um contexto social, político, ambiental. Dessa forma, os cuidados básicos, como aqueles relacionados com a nutrição e a saúde integral, são essenciais.
Responsabilidade coletiva e dificuldades
As necessidades básicas de aprendizagem precisam ser contempladas integralmente valendo-se da integração de ações no âmbito de cada país e, até mesmo, por meio da cooperação entre diferentes países. Nesse sentido, a Declaração defende que o atendimento às necessidades básicas de aprendizagem de todas as pessoas é responsabilidade de todas as nações e povos.
Apesar de todas as intenções e propostas da Declaração, o que se vem assistindo no mundo nas últimas décadas é o aprofundamento de desigualdades, a fragilização da Educação básica pública, mesmo em países ricos, e a crescente cassação dos direitos educacionais das populações subalternizadas – exatamente aquelas que mais precisariam de que a proposta funcionasse.
Do ponto de vista dos direitos de todos à Educação, o mundo caminha, hoje, de modo fortemente desfavorável, e algumas mudanças de rumo vêm se tornando cada vez mais urgentes.
EDUCAÇÃO, CIDADANIA E DIGNIDADE
Assista ao vídeo em que a professora Inês Barbosaaborda a relação entre o direito à Educação, o valor da dignidade humana e o direito pleno ao exercício da cidadania.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. Assinale a alternativa, a seguir, que relaciona corretamente a dignidade da pessoa humana com a cidadania:
A dignidade da pessoa humana e a cidadania são igualmente direitos civis sem relação com a Educação.
Embora interligadas, a dignidade da pessoa humana se vincula ao direito do indivíduo, e a cidadania se relaciona ao direito de todos, ao social.
A cidadania se vincula aos sujeitos sociais no exercício de seus direitos, enquanto a dignidade é um direito coletivo, social.
O direito à dignidade da pessoa humana depende de como a cidadania é exercida pelas pessoas.
A busca da qualidade de vida individual e coletiva está relacionada apenas com a dignidade, e não com a cidadania.
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Comentário
Parabéns! A alternativa "B" está correta.
A dignidade da pessoa humana e a cidadania são fundamentais na formação da sociedade. A dignidade da pessoa humana está relacionada ao direito do indivíduo, enquanto a cidadania se liga ao social, ao direito de todos. Cidadania e dignidade estão interligadas, assim, o exercício da cidadania pelo indivíduo permite que ele participe tanto da sociedade civil quanto das atividades do Estado, em prol de mais qualidade de vida individual e coletiva. Os sujeitos sociais exercitam sua cidadania ao se envolverem na gestão da sociedade e nas transformações pelas quais ela passa. Assim, esses sujeitos exercem seus direitos civis, políticos e sociais.
Parte superior do formulário
2. Considere as afirmativas a seguir:
I. A formação para a cidadania é objetivo da Educação, assim como formar para a dignidade da pessoa.
II. A dignidade da pessoa humana deve ser assegurada pelos direitos sociais, entre eles a Educação, estabelecidos constitucionalmente.
III. Embora a Educação seja uma forma de se exercer cidadania e obter dignidade, a Educação não se constitui em um direito.
Assinale a alternativa correta.
Apenas a afirmativa I é verdadeira.
Apenas a afirmativa II é verdadeira.
Apenas a afirmativa III é verdadeira.
Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
As afirmativas I, II e III são verdadeiras.
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "D" está correta.
A Educação deve ter o objetivo e o compromisso com a formação para a cidadania e para a dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, a Educação é tanto um direito assegurado constitucionalmente quanto um meio de também assegurar o direito à cidadania e à dignidade humana. Além disso, em uma inter-relação, o direito à Educação, entre outros direitos, deve ser visto como consequência ou implicação do direito à dignidade da pessoa humana.
MÓDULO 2
Identificar princípios e desafios da relação entre Direitos Humanos e Educação
PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS
Bandeira da ONU.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi adotada pela Organização das Nações das Unidas (ONU) em 10 de dezembro de 1948, no contexto do pós-guerra.
O documento reafirma a crença nos direitos do homem, na dignidade e nos valores humanos das pessoas. Sua aprovação e divulgação também foram uma convocação de todos os estados-membros a promoverem o respeito universal, bem como a observância dos Direitos Humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.
O conceito de Direitos Humanos está ligado à ideia de liberdade de expressão e igualdade perante a lei.
Três princípios dos Direitos Humanos
À luz da Declaração Universal dos Direitos Humanos, pode-se dizer que os Direitos Humanos contemporâneos se fundamentam em três princípios:
Clique nas informações a seguir.
Princípio da inviolabilidade da pessoa
Princípio da autonomia da pessoa
Princípio da dignidade da pessoa
Os direitos têm uma dinamicidade, já que não nascem prontos nem ficam congelados em sua primeira formulação, uma vez que outras necessidades e situações emergem com o tempo. Desse modo, os direitos costumam ser organizados em gerações ou dimensões.
Atualmente, a maior parte dos estudiosos dá preferência ao termo dimensões, em virtude de sua amplitude. As diferentes dimensões se articulam e interpenetram, em uma perspectiva de complementariedade entre elas.
Três dimensões ou gerações de direitos
Em 1979, o jurista tcheco Karel Vasak (1929-2015) criou uma classificação de dimensões ou gerações de direitos, a partir dos princípios da Revolução Francesa. O objetivo era situar as diferentes categorias de Direitos Humanos:
Clique nas informações a seguir.
Liberdade – primeira geração
Igualdade – segunda geração
Fraternidade – terceira geração
Outros direitos vêm sendo considerados fundamentais. Nesse sentido, atualmente, existe uma quarta e, talvez, quinta geração ou dimensão de direitos.
Na quarta dimensão, estariam o direito à democracia, à informação, ao pluralismo e à bioética. Além disso, pensa-se em uma quinta dimensão – a dos direitos à esperança e à paz.
O direito à Educação e à dignidade são, nesse contexto, reconhecidamente interligados. O Estado deve garantir ambos, já que ambos fazem parte das gerações de direito reconhecidos e articulados.
DIREITOS HUMANOS HOJE E PROBLEMAS GLOBAIS
Notícias sobre desrespeito à grande parte dos Direitos Humanos chegam a todo momento. A própria situação da Educação traz dúvidas quanto ao nível de respeito ao reconhecimento da formação educacional como direito em muitos países, inclusive o Brasil.
Há um longo caminho a seguir para que os Direitos Humanos se universalizem, dentro e fora do Brasil. Muitas vezes, também em locais diferentes, percebe-se um engatinhar nas garantias mínimas. Em outras circunstâncias, retrocessos são percebidos.
Cabe, portanto, refletir sobre os problemas enfrentados pelo conjunto desses direitos para serem assegurados e, especificamente, cabe uma reflexão sobre o direito humano à Educação.
A desigualdade e o desequilíbrio econômico são ainda elementos inibidores na propagação e implantação dos Direitos Humanos para todos, mas não são as únicas questões que se podem colocar.
Em novos tempos, temos novas dimensões dos Direitos Humanos. No entanto, ainda há velhos problemas e, nem sempre, em função de desigualdades sociais.
Direito à vida
Em relação ao direito à vida, fala-se da pena de morte em alguns países. No entanto, a pena de morte não é a única forma de infração do direito à vida. Os conflitos entre nações, o terrorismo, a criminalidade, os ataques deliberados contra civis ou grupos de refugiados e a violência policial são as novas-velhas formas que ferem o princípio do direito à vida.
Atenção
Recentemente, a ONU divulgou que o mundo ainda tem mais de quarenta milhões de vítimas da escravidão moderna. Entre essas vítimas, 25% são crianças. Isso pode incluir o tráfico de pessoas, a exploração sexual, o casamento forçado e o recrutamento forçado de crianças para uso em conflitos armados.
Desse modo, há problemas que atingem países e sujeitos diferentes, mas que atentam contra o mais elementar e fundante direito humano – o direito à vida.
A pandemia causada pela covid-19 trouxe outras evidências sobre as dificuldades de assegurar a vida às diferentes populações do mundo. Em alguns países, não houve preocupação maior com a vida e foi necessária a intervenção da comunidade internacional no problema.
Quanto às pesquisas e vacinas, os países mais endinheirados puderam não só fazer e capitanear pesquisas, mas têm podido sair na frente na imunização de seus cidadãos, assegurando-lhes a vida. Se a vida é um direito humano universal, faz-se mister que o direito à vacina seja ampliado para todos os países, para todos os cidadãos.
Uma idosa implorando por dinheiro na rua, Filipinas, 2020.
As questões migratórias, as guerras civis, os muitos refugiados decorrentes desses conflitos, a pobreza extrema de populações ao redor do globo e outros problemas endêmicos que o mundo enfrenta – tudo isso não tem sido pautado com firmeza pela ONU.
A esperança de dias melhorespara essas populações soa cada vez mais vã. Apesar do direito à vida ser o princípio de maior relevância para todos e de interesse de todas as nações, resguardá-lo, tanto em nível nacional quanto internacional, é ainda extremamente difícil.
SETE DESAFIOS MUNDIAIS PARA A GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS
Iremos, agora, refletir sobre duas questões importantes:
Quais são os principais desafios e as perspectivas para implementação dos Direitos Humanos?
Quais são as grandes inquietudes e as grandes tensões que afetam a proteção desses direitos?
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PRIMEIRO DESAFIO
O primeiro desafio estaria, hoje, no enfrentamento da tensão entre o universalismo – de um lado – e o relativismo cultural – de outro.
Nesse campo de discussão, o sociólogo e professor português Boaventura de Sousa Santos vem defendendo uma concepção multicultural dos Direitos Humanos inspirada no diálogo entre culturas. O objetivo é compor o que o pensador português chamava de multiculturalismo emancipatório e que, atualmente, formula-se como interculturalidade emancipatória.
A ideia central é a de formulação de um universalismo pluralista, não etnocêntrico. Tal universalismo incluiria, no campo dos Direitos Humanos, perspectivas não individualistas de direito humano, por meio de diálogos entre a cultura dos países europeus e os valores de outras culturas – asiáticas e indígenas.
Seriam reformuladas, nessa perspectiva, algumas compreensões dos direitos individuais, incorporando os direitos mais coletivos, próprios dessas culturas, como elementos dos Direitos Humanos – aí sim, universais.
SEGUNDO DESAFIO
O segundo desafio é o enfrentamento das diferentes formas de fundamentalismo, religioso ou não. As relações entre Estado e religião ainda são muito problemáticas em muitas nações. Há, porém, outras formas de fundamentalismo – político, econômico e outros – que também comprometem o exercício dos Direitos Humanos.
A Educação é um direito de difícil exercício em algumas culturas e diante de determinados valores. A imposição de uma moral única e de valores baseados nela compromete qualquer projeto de sociedade pluralista aberta e democrática, inclusive porque prejudica as possibilidades de implantação de uma Educação voltada aos Direitos Humanos.
TERCEIRO DESAFIO
O terceiro é o desafio do direito ao desenvolvimento perante as desigualdades econômicas e sociais que caracterizam o planeta. Atualmente, os 15% mais ricos do mundo concentram 85% da renda mundial, enquanto os 85% mais pobres concentram tão somente 15%.
A pobreza, acima de qualquer guerra ou somatório das guerras, é a principal causa mortis do mundo. Nesse contexto de desigualdade, a América Latina é a região mais desigual, e o Brasil é o campeão da desigualdade.
Isso não quer dizer que o Brasil seja o mais pobre, incluindo a América Latina, mas que a diferença entre os mais ricos e os mais pobres é muito acentuada. Tal fato se reflete na Educação, uma vez que, diante dessas desigualdades, o acesso à Educação e a permanência na escola são direitos negados à boa parte da população.
QUARTO DESAFIO
O quarto desafio está relacionado à proteção dos direitos sociais diante dos dilemas da globalização econômica, que têm agravado ainda mais as desigualdades sociais.
A pobreza se torna uma ameaça sistêmica fundamental à estabilidade em um mundo que se globaliza. A fragilização do Estado o torna crescentemente incapaz de cumprir suas responsabilidades de assegurar esses direitos.
QUINTO DESAFIO
O quinto desafio trata do respeito à diversidade, de modo que a intolerância não impeça a vida tranquila de suas vítimas. Nesse caso, as vítimas mais comuns são os pobres, as mulheres, os não brancos, os não heterossexuais, as pessoas com deficiência, os migrantes, entre outros.
O direito à diferença precisa se articular com o direito à igualdade.
SEXTO DESAFIO
O sexto desafio consiste na oposição entre o combate ao terrorismo e a preservação das liberdades públicas. Desde o 11 de setembro de 2001, medidas restritivas ao terrorismo afrontam as liberdades de muitos.
A solução para o problema, nesse caso, estaria em mais investimento no respeito mútuo e na promoção dos Direitos Humanos. Isso pode e deve ser feito por meio de uma Educação para os Direitos Humanos.
SÉTIMO DESAFIO
O último desfio diz respeito à exigência ética de fortalecer o Estado de Direito e a construção da paz nas esferas global, regional e local, mediante uma cultura de Direitos Humanos que rompa com o unilateralismo e incentive o multilateralismo.
A construção do Estado Democrático de Direito, com o primado da legalidade e a legitimidade dos acordos entre diferentes por base, é a possibilidade de a sociedade poder assegurar os Direitos Humanos a todos.
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL E DIREITO À EDUCAÇÃO
Um grande marco para os Direitos Humanos no Brasil foi a Constituição Federal de 1988, também conhecida como Constituição cidadã. No quesito Direitos Humanos, a CF procura resguardar os direitos básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Embora esses direitos sejam bem formulados e claros, muitos não são exercidos por imensas parcelas da população. Isso torna o caminho em direção à sua efetivação longo e árduo.
Muitos problemas se devem à pobreza ou à falta de condições de acesso aos direitos. No entanto, infelizmente, há problemas internos de violência que nada têm a ver com problemas estruturais e materiais do País. Seu enfrentamento se daria por meio de outra Educação, para os Direitos Humanos e para o reconhecimento da igualdade de direitos, na diferença entre comportamentos, valores, modos de estar no mundo e de compreendê-lo.
O desafio, portanto, de uma Educação para os Direitos Humanos no Brasil vem acompanhado de uma luta mais básica, já que trata dos chamados direitos de primeira dimensão. Tal dimensão envolve o direito à vida e à liberdade, além da dignidade humana em sua expressão mais simples.
Atenção
Cabe ressaltar, no entanto, que essa Educação não é um “depois” em relação a tais garantias. Trata-se de direitos interligados, e é possível considerar a necessidade de uma Educação para os Direitos Humanos para evitar tantos desperdícios de vidas.
Paralelamente a isso, pode-se fomentar uma maior consciência social em relação à responsabilidade cidadã com o combate às diferentes formas de violência e o investimento em Direitos Humanos para todos.
DIREITOS HUMANOS E A EDUCAÇÃO COMO DIREITO
A Educação como direito humano é entendida de múltiplas formas:
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É um direito individual de acesso a conhecimentos necessários ao exercício pleno da cidadania e à preparação para o trabalho. Em outras palavras, é uma ferramenta para o crescimento pessoal.
Também é um direito que envolve a autonomia dos sujeitos sociais.
Do ponto de vista mais coletivo, o direito à Educação pode operar como um mecanismo de equalização social, de conscientização e de democratização da sociedade, já que também pode ser fator de preparação para o reconhecimento do outro, o respeito aos direitos de todos e o desenvolvimento da capacidade de interação com grupos sociais distintos.
O status de direito humano da Educação se relaciona estreitamente com a questão da dignidade humana, que requer a possibilidade de autonomia social, o conhecimento formal básico para ampliação da compreensão de mundo e atuação social mais efetiva.
De acordo com Claude (2005, p. 38), a Educação é um direito que tem, pelo menos, três faces: social, econômica e cultural. Vejamos:
Direito social
Promove o desenvolvimento pleno da personalidade humana no contexto da comunidade.
Direito econômico
Promove autossuficiência econômica pelo emprego ou trabalho autônomo.
Direito cultural
Promove a construção de uma cultura universal de Direitos Humanos.
Três objetivos do direito à Educação
A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece a Educação como um direito e elenca condições e critérios para o que seria sua efetivação.
A Declaração também exibe algumas marcas dos conflitos entre diferentes países na redaçãodo documento, já que alguns valorizavam mais fatores coletivos de formação enquanto outros buscavam assegurar a escolarização formal.
Atenção
Devemos lembrar que, em 1948, o que se buscava era usar, positivamente e em busca de paz, a triste memória da Segunda Guerra Mundial e seus milhões de mortos.
O artigo 26 vincula o direito à Educação a três objetivos:
(1) pleno desenvolvimento da personalidade humana e fortalecimento do respeito aos direitos do ser humano e às liberdades fundamentais; (2) promoção da compreensão, da tolerância e da amizade entre todas as nações e a todos os grupos raciais e religiosos; e (3) incentivo às atividades da ONU para a manutenção da paz (CLAUDE, 2005, p. 39).
Vejamos, a seguir, cada um desses objetivos:
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Primeiro objetivo
Segundo objetivo
Terceiro objetivo
EDUCAÇÃO COMO DIREITO NO BRASIL: DAS NORMAS À REALIDADE
Embora seja signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e possuidor de uma legislação bastante consistente no que diz respeito ao direito à Educação, o Brasil enfrenta muitas dificuldades nesse campo.
Algumas dessas dificuldades ocorrem por descaso com o compromisso do Estado com a população. Outras muitas dificuldades se dão em virtude das desigualdades sociais imensas que caracterizam o País.
Imensos segmentos populacionais não conseguem exercer seu direito constitucional à Educação de qualidade simplesmente por falta de acesso a escolas distantes ou inacessíveis, pela miséria em que vivem ou pelo desconhecimento completo de seus direitos constitucionais.
Escola improvisada às margens da rodovia BR 101, no município de Eunápolis, Bahia, 2009.
Soma-se a esses problemas o pouco investimento do Estado em Educação. Como consequência, temos a baixa qualidade e pouca quantidade de espaços escolares apropriados às suas necessidades, a péssima remuneração dos docentes, bem como as políticas educacionais confusas e não consolidadas.
Apesar das importantes iniciativas educacionais favoráveis à consolidação da Educação pública, laica, gratuita e de qualidade para todos, temos de encarar o fato de que, no Brasil, ainda não se pode falar de pleno exercício do direito à Educação.
A situação é ainda mais prejudicada por políticas educacionais recentes, que trazem dificuldades à Educação pública no País, por meio da proibição de investimentos, da precarização da escola pública e de políticas curriculares nocivas à efetivação do direito de todos à Educação. Isso ocorre uma vez que tais políticas se voltam à competição meritocrática, à exclusão social que dela emerge e à retração do sistema público de Educação.
Do ponto de vista do acesso, muito tem sido feito, uma vez que a quase totalidade da população em idade escolar está nas escolas – pelo menos, no Ensino Fundamental. No entanto, os problemas de não aprendizagem, evasão, repetência e abandono seguem muito reais para as parcelas mais pobres da população.
Restam, ainda, os milhares de jovens e adultos que seguem buscando uma formação escolar – direito atendido pela noção de Educação ao longo da vida – e o acesso a melhores condições de vida.
Também cabe lembrar os muitos problemas enfrentados pelos estudantes de escolas públicas e privadas de baixa qualidade acadêmica, e a impossibilidade de ascenderem às melhores universidades, aos melhores postos de trabalho e, portanto, à vida digna que o exercício do direito à Educação deveria lhes possibilitar.
EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS: DA NORMA À ATUAÇÃO
Assista ao vídeo em que a professora Inês Barbosa aborda os desafios e as dificuldades para ir além das normas e dos documentos sobre Direitos Humanos e efetivamente atuar no contexto educacional em prol dos Direitos Humanos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. Analise as afirmativas sobre os três princípios básicos dos Direitos Humanos.
I. Os princípios basilares dos Direitos Humanos na Declaração Universal dos Direitos Humanos são o princípio da inviolabilidade da pessoa, o princípio da autonomia da pessoa e o princípio da dignidade da pessoa.
II. Não há, na Constituição Federal de 1988, qualquer relação ou repercussão dos princípios estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, já que a Declaração é um documento internacional.
III. A igualdade de todos perante a lei e a garantia de que o direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade deve ser inviolável são aspectos do princípio da inviolabilidade da pessoa.
Assinale a alternativa correta:
Apenas a afirmativa I é verdadeira.
Apenas a afirmativa II é verdadeira.
Apenas a afirmativa III é verdadeira.
Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.
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Comentário
Parabéns! A alternativa "E" está correta.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra os princípios da inviolabilidade da pessoa, da autonomia da pessoa e da dignidade da pessoa como fundamentos dos Direitos Humanos. O primeiro desses três princípios, relacionado com a inviolabilidade da pessoa, implica o reconhecimento de que todos são iguais perante a lei, independentemente de qualquer tipo de distinção. Outro aspecto do princípio da inviolabilidade da pessoa está relacionado com a garantia de que os direitos fundamentais não devem ser violados. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 garante, em seu artigo 5º, a inviolabilidade desses direitos.
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2. Assinale a alternativa em que é possível identificar uma afirmativa que apresenta, corretamente, um desafio para a garantia dos Direitos Humanos.
Entre os fundamentalismos existentes no mundo, o fundamentalismo religioso é o único que ainda representa riscos para a proteção à vida e à garantia dos direitos fundamentais.
O universalismo pluralista e não etnocêntrico representa uma ameaça aos Direitos Humanos, assim como o relativismo cultural.
As desigualdades sociais e econômicas podem trazer prejuízos ao desenvolvimento dos países, mas não impactam a garantia dos Direitos Humanos ou o risco à vida e aos direitos básicos.
As políticas de segurança e o combate às ameaças terroristas acabam, muitas vezes, resultando em limitação ou ofensa ao direito de liberdade de muitos.
Não há necessidade de se garantir o Estado Democrático de Direito para que se efetive uma cultura de Direitos Humanos e o multilateralismo.
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Comentário
Parabéns! A alternativa "D" está correta.
A garantia e a efetividade das liberdades públicas e individuais podem ficar comprometidas e entrarem em conflito com medidas de segurança que visem ao combate ao terrorismo. Nessas situações, o desafio se manifesta na tensão entre a restrição à liberdade, diante das medidas restritivas em face da ameaça terrorista ou de alguma escalada da violência, e o direito às liberdades individuais.
MÓDULO 3
Reconhecer a relevância da Educação para os Direitos Humanos
EDUCAR PARA APRENDER
Passados mais de setenta anos desde a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, permanece o desafio de levar às populações do planeta o conhecimento e as possibilidades de luta pelos Direitos Humanos.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no cenário internacional, é a agência responsável pela proposição de contribuir para a consolidação da paz e segurança do mundo, a erradicação da pobreza, o desenvolvimento sustentável e o diálogo intercultural por meio da Educação, da ciência, da cultura, da comunicação.
O relatório presidido pelo político francês Jacques Delors e elaborado para a Unesco, intitulado Educação, um tesouro a descobrir (UNESCO, 2010), propõe quatro pilares para a Educação:
Aprender
a conhecer
Aprender
a fazer
Aprender
a conviver
Aprender
a ser
A proposta do relatório era a de incentivar uma Educação que fosse além da aprendizagem de conhecimentos específicos. A Educação, na verdade, deveria estar voltada “a ensinar a pensar, saber comunicar-se e pesquisar, ter raciocínio lógico, fazer sínteses e elaborações teóricas, ser independente e autônomo;

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