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DELEGADO CIVIL DIURNO CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Penal Especial Professor: Mauro Argachoff Aulas: 03 e 04| Data: 10|09|15 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO Feminicídio (recapitulação da aula anterior) 1. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO – ARTIGO 122 CP 2. INFANTICÍDIO – ARTIGO 123 CP 3. ABORTO – ARTIGO 124 A 128 CP - Feminicídio. § 2º-A Considera-se que há razões da condição de sexo feminino quando o crime envolve: I – Violência doméstica ou familiar; II – Menosprezo ou discriminação à condição de mulher. - Não se aplica ao simples fato da vítima ser mulher, tem que ser motivado por razão de gênero. - Sujeito ativo: qualquer pessoa. Observar sempre quanto á razão de gênero. E pode ser praticado por outra mulher (sujeito ativo). § 2º-A – norma penal explicativa. (Novidade) VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. CRIME FOR PRATICADO CONTRA TAIS PESSOAS NO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES OU EM RAZÃO DELA. • CONSANGUINEO ATÉ TERCEIRO GRAU EM LINHA RETA: PAI, AVÔ, BISAVÔ - FILHO, NETO BISNETO. • CONSANGUINEO ATÉ TERCEIRO GRAU EM LINHA COLATERAL: IRMÃO, TIO E SOBRINHO. PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO Art.122 – Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça Recebe o nome de participação ao suicídio. O sujeito ativo é aquele que instiga, induz ou auxilia alguém a suicidar-se. Não se pune a conduta daquele que tenta se matar. Página 2 de 6 Induzir: cria na cabeça da vítima que ela tem que se matar. A vítima não tem a intenção de se matar, o agente que coloca em sua cabeça; Instigar: a vítima já tinha a ideia de se matar e o agente a incentiva; Auxiliar: auxílio material, como por exemplo, oferecer uma arma de fogo para a vítima se matar. Maus tratos sucessivos: pode ser caracterizado como participação com dolo eventual. É fundamental que a vítima esteja consciente e o ato seja voluntário, sem vício, sob pena de caracterizar homicídio. Possibilidade da forma omissiva no auxílio – Divergência: 1ª posição: possível no crime omissivo impróprio ou comisso por omissão – Exemplo: figura do garante, artigo 13, §2º CP. Uma enfermeira sabe que seu paciente quer se matar e nada faz para impedi-lo. 2ª posição: Não é possível, porque o tipo penal utiliza o verbo “prestar”, incompatível com omissão, por ser indicativo de ação. Consumação Morte da vítima ou lesão corporal de natureza grave. Não há este crime se, em virtude da conduta praticada, a vítima tiver lesão leve (o agente responde só pelas lesões leves). Por este motivo, este crime não admite tentativa (lembrando que a tentativa no suicídio é possível. O que não é possível é a tentativa no crime de participação em suicídio). Elemento Subjetivo É dolo direto ou eventual – Exemplo: carcereiro com relação ao preso que faz greve de fome. O crime aqui estudado tem que ter uma pessoa determinada ou pessoas determinadas. É fundamental que se tenha seriedade na conduta de participação. Havendo animus jocandi (brincadeira), não se fala em crime. Vítima pede auxílio e utiliza outro meio: neste caso o agente oferece um tipo de auxílio material e a vítima utiliza outro. Não há crime por ausência de nexo causal. Diferentemente daquele que instiga (tipo objetivo), oferece o meio, porém a vítima utiliza outro. Neste caso, haverá o crime ora estudado. Excludente de Ilicitude – artigo 146, §3º, II CP: neste caso, não há o que se falar em constrangimento ilegal, pois a conduta constrangedora é para evitar que terceiro tente se matar. Pacto de morte: Aquele que desiste responde pelo art.122 CP; Página 3 de 6 O que sobrevive responde pelo art. 122 CP Ambos sobrevivem: o que sofrer lesão leve responde pelo art.122 CP se o outro sofrer lesão grave. Aumento de Pena – artigo 122, Parágrafo Único CP. Se o crime for praticado por motivo egoístico; Vítima menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Menor de 14 anos: corrente majoritária entende que se trata de homicídio. Há uma segunda corrente que não concorda, pois tem que haver a prova efetiva de ausência de capacidade. Infanticídio – artigo 123 CP Critério psicológico: desonra própria – a mãe tira a vida do filho para esconder uma desonra. Critério fisiopsicológico: estado puerperal (adotado pelo CP) Critério misto: mistura dos dois anteriores. Objeto Jurídico É a vida humana. Estado Puerperal: é um conjunto de perturbações físicas e psíquicas que a mulher sofre em decorrência do parto, por questões hormonais. A medicina entende que toda mulher tem esse estado, porém em algumas delas o estado puerperal é tão intenso a ponto de cometer o crime. A comprovação do estado puerperal deve ser feito por meio de perícia. Se o laudo for inconclusivo, aplica-se o artigo 123 CP (in dubio pro reo). Trata-se de um crime de ação livre. Sujeito Ativo Trata-se de crime próprio, praticado pela mãe. Sujeito Passivo Filho que está nascendo ou recém-nascido (erro sobre a pessoa, artigo 20, §3º CP, responde como se tivesse matado seu próprio filho – Exemplo: mão mata outro recém-nascido imaginado ser seu filho. Neste caso, responde como se fosse o próprio filho). As agravantes genéricas do artigo 61 CP não se aplicam. “Logo após o parto”: não se sabe o lapso temporal exato. O que se fala é em espaço de tempo razoavelmente pequeno. Forma Culposa – Divergência: Uma mulher, em estado puerperal, pratica uma conduta negligente e deixa seu filho morrer – por exemplo, mãe, acidentalmente, deixa seu filho cair do colo, que acaba morrendo. 1ª corrente: entende que responde por homicídio culposo (grande parte da doutrina tem este entendimento). Página 4 de 6 2ª corrente: trata-se de fato atípico (não pode responder por homicídio culposo, pois é incompatível com estado puerperal. Além disso, se o legislador quisesse tipificar a modalidade culposa, teria feito de forma expressa). Consumação e Tentativa Momento da morte, sendo perfeitamente possível a tentativa. Concurso de Agentes – Duas posições: a) não admite concurso de pessoas no infanticídio – em face das elementares personalíssimas do tipo legal, como o estado puerperal. b) admite-se o concurso de pessoas no infanticídio – em nenhum momento a lei fala em condições personalíssimas, sendo o estado puerperal tratado como uma elementar do crime. Por este motivo, podemos falar em concurso de agentes, com base no artigo 30 CP (é pacifico este entendimento). Concurso de crimes Haverá concurso material com o artigo 211 CP, quando a mãe, coautor ou partícipe ocultar ou destruir o cadáver da vítima após a prática do infanticídio. Aborto - artigo 124 a 128 CP Aborto é a interrupção da gravidez com a consequente destruição do produto da concepção Espécies: natural, acidental, criminoso e legal. Lembrando que o aborto natural e acidental não interessa para o direito penal. Aborto Criminoso: Artigo 124, 1ª parte CP: auto aborto; Artigo 124, 2ª parte CP: consentimento para o aborto; Artigo 125 CP: aborto sem consentimento da gestante; Artigo 126 CP: aborto com consentimento da gestante. Consumação e Tentativa Consuma-se com a morte do feto, sendo admitida a tentativaquando as manobras abortivas não interromperem a gravidez ou provocarem apenas aceleração do parto, com a sobrevivência da criança. Caso ocorram lesões leves, serão absorvidas. Expulsão do feto com vida e nova agressão contra ele: responde por tentativa de aborto em concurso com homicídio doloso. Página 5 de 6 Artigo 124 CP – Auto aborto / Consentimento para o aborto 1ª parte – Auto aborto A própria gestante pratica as manobras abortivas. Trata-se de crime próprio, pois tem como único sujeito ativo a gestante. Além disso, é crime de mão própria e, por isso, não admite coautoria, mas somente participação. 2º parte – Consentimento para o aborto Neste caso, a gestante autoriza que terceiro provoque o aborto. O consentimento deve ser espontâneo. Trata-se de crime de mão própria, pois apenas a gestante pode dar o consentimento para que terceiro provoque o aborto. Se a gestante estiver gravida de gêmeos, responderá em concurso formal, desde que saiba desta situação. As lesões leves serão absorvidas. Concurso de Agentes: “Provocar em si mesmo”: Admite somente participação. Não haverá coautoria, pois terceiro responderá pelo artigo 126 CP. “Consentir que terceiro lhe provoque”: Também só admite participação, pois o consentimento é conduta personalíssima, somente podendo ser dado pela gestante. Artigo 125 CP – Aborto sem consentimento da gestante Dissentimento presumido: gestante menor de 14 anos, alienada ou débil mental – artigo 126, parágrafo único CP (entende-se que mesmo que a gestante autorize, não será considerado seu consentimento, e responderá pelo artigo 125 CP o terceiro que praticar a conduta). É caracterizado por dupla subjetividade passiva – gestante e feto. Página 6 de 6 Homicídio/Latrocínio contra mulher grávida: responderá em concurso com o aborto, somente se o agente que tem conhecimento da gravidez, sob pena de responsabilidade objetiva. Artigo 126 CP – Aborto com consentimento da gestante Constitui exceção pluralista a teoria monista, pois cada agente, mesmo estando naquele evento delituoso, irá responder por um tipo penal diferente. Ou seja, enquanto a gestante, que deu consentimento, é enquadrada no artigo 124, caput, segunda parte CP, o terceiro que realizou as manobras abortivas após consentimento da gestante, será enquadrado no artigo 126 CP. Parágrafo único: Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Artigo 127 CP – Aumento de pena A pena é aumentada de 1/3 se a gestante sofrer lesão corporal de natureza grave; A pena será duplicada se a gestante morre. Os dois resultados devem ser a título de preterdolo. A lei é expressa no sentido de que os aumentos serão aplicados somente com relação aos dois artigos anteriores (125 e 126). Sendo assim, não se aplica ao artigo 124 CP (é uma falha do legislador, pois o partícipe não será punido com o aumento).
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