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Apostila e Questionario de Penal (1)

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PARTE ESPECIAL
TÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A VIDA
HOMICIDIO
CONCEITO
É injusta supressão da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa, ou seja, é a morte de um ser humano praticado por outro ser humano, assim a norma admite como criminosa qualquer conduta voltada ao término da vida da vítima. São inúmeras as formas que o autor do fato pode usar para matar alguém, no entanto deve ficar caracterizado o nexo causal entre a conduta e o resultado morte.
O crime também pode ser realizado pela omissão do autor, mas somente nas hipóteses de crime omissivo impróprio, chamado também crime comissivo-omissivo ou comissivo por omissão, onde a norma impõe ao autor obrigação de impedir a ocorrência crime, ou seja, impedir o resultado, tudo previsto no artigo 13, §2.º, do Código Penal.
É perfeitamente aceita a tentativa bem como a participação de terceiros, seja na figura da coautoria ou a participação.
Obs.1: o bem jurídico protegido é a vida humana extrauterina, considerando que a vida humana extrauterina inicia com o trabalho de parto, com o inicio das manobras de parto, antes disso teremos a figura do Aborto, fato tratado em outro artigo do nosso ordenamento.
Obs.2: o direito a vida não é um direito absoluto: O direito à vida é uma garantia fundamental prevista no artigo 5º, caput da Constituição Federal Brasileira. Ela garante proteção à vida e trata-se de um direito inviolável. Contudo a vida não constitui um direito absoluto, uma vez que a norma fundamental e o próprio Código Penal preveem exceções, como por exemplo, a pena de morte em caso de guerra declarada, artigo 5º, XLVII, a da CF, temos ainda os casos de estado de necessidade e legitima defesa previstos nos artigos 24 e 25 do CP, bem como as permissões para o aborto previstas no artigo 128 do CP.
Obs.3: a competência dos crimes dolosos contra a vida está prevista no artigo 5º, XXXVIII, CF. Somente os crimes dolosos, sendo que apenas o homicídio prevê a modalidade culposa. Muita atenção com a nova redação do artigo 122 do CP.
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Trata de uma conduta humana que provoque o resultado morte em outro ser humano vivo. É preciso que se demonstre a conduta, o resultado e também o nexo de causalidade.
É crime comissivo, onde se exige uma conduta típica de ação, mas que aceita a conduta omissiva, quando praticada por pessoa que tinha o dever de impedir o resultado, sendo sua omissão penalmente relevante. Sendo assim chamado de crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão.
Esse crime tipificado pelo código penal, é considerado o mais grave de todos, pois atenta contra o bem jurídico mais valioso do ordenamento, e por esse motivo é o primeiro, refere-se à vida extrauterina. E buscando a segurança jurídica e social aponta cada tipo de homicídios distintos e suas respectivas punições no ordenamento jurídico.
Sendo o homicídio a morte de um ser humano provocada por outro ser humano, ou ainda a eliminação da vida de uma pessoa praticada por outra. Trataremos o homicídio como um crime por excelência, isso porque todos os direitos partem do direito fundamental que é o direito de viver, sendo este o real motivo o primeiro bem tutelado pelo nosso Código penal é o bem vida.
Homicídio Simples
Previsto no caput do artigo 121 do Código Penal, tratando simples fato de matar alguém, que de simples não tem nada. Sendo considerado simples, quando a conduta do sujeito ativo não se enquadrar nas variáveis do homicídio privilegiado, tampouco do homicídio qualificado. Tem-se ainda que observar a motivação do agente, para determinar o tipo do homicídio, uma vez que dependendo do motivo, o homicídio deixa de ser simples.
Quando o homicídio for determinado como simples teremos a pena conforme o caput, ou seja, terá suas margens de seis anos no mínimo e vinte anos no máximo.
Homicídio Privilegiado
O legislador na criação da regra legal deu tratamento diferenciado aos casos de homicídio, tal tratamento esta diretamente relacionado ao grau de reprovação da sociedade diante do fato. E em se tratando dessa modalidade especifica o legislados concedeu uma causa especial de diminuição de pena, aplicada as hipóteses nele previstas.
Vale ressaltar que tecnicamente o termo “privilegiado”, está colocado de forma equivocada, uma vez que para ser considerado verdadeiramente “privilegiado” deveria ter os limites das penas mínima e máxima alterados para menos.
Para se entender melhor um crime privilegiado, observe o infanticídio (artigo 123), nota-se que é materialmente um homicídio “privilegiado”, pois possui penas mínima e máxima menores do que a do homicídio simples.
Obs.4: observe que o próprio CP traz o § 1º como causa de diminuição de pena e ao final narra ainda que juiz “pode” reduzir a pena, este sim um equivoco do legislador, porque uma vez que o júri reconhecer o fato como incurso nesse paragrafo o juiz se torna obrigado a reduzir a pena.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Motivo de relevante valor social: é aquele que atende aos interesses da coletividade, pertence à própria sociedade, logo já não é pessoal. Salientando que nosso ordenamento jurídico não permite a vingança. Não interessa tão somente ao agente, mas, sim, ao corpo social (ex.: a morte de um traidor da pátria).
Motivo de relevante valor moral: é aquele que embora importante, é considerado levando-se em conta os interesses do agente, é um valor pessoal, é do próprio homicida (ex.: o pai que mata o estuprador de sua filha).
A hipótese da eutanásia também se amolda à causa de diminuição de pena. Quando o agente causa a morte de um paciente já em estado terminal, que não suporta mais as dores impostas pela doença da qual está acometido, impelido pelo sentimento de compaixão, deve ser considerado um motivo de relevante valor moral, impondo-se a redução obrigatória da pena. Note que a eutanásia no Brasil não é permitida, contudo diante dos fatos o legislador entende que o autor merece uma diminuição de pena.
Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima: aqui o agente deve estar completamente dominado pela situação e não uma mera influência, fazendo com que este perca sua capacidade de autocontrole em decorrência da emoção. É necessário que imediatamente após a injusta provocação da vítima ao réu, embora se admita o decurso de alguns minutos, não podendo se estender o conceito para horas ou dias. O motivo que levou o agente a praticar o homicídio deve ser relevante. Caso não goze de certa importância, mesmo que tenha valor social ou moral, não poderá servir como causa de diminuição de pena.
Exemplo clássico é o marido que se depara com traição da esposa, veja que esse caso não combina com a premeditação, ou seja, aquele que já sabia da traição e se prepara para concretizar o fato.
Esta privilegiadora compõe-se de três elementos: a emoção violenta, a injusta provocação da vítima e a reação imediata em razão da provocação.
A emoção violenta que trata este parágrafo é aquela que domina o autor, provocando-lhe um choque emocional, tirando do autor a capacidade de avaliação dos fatos de forma coerente e justa, sendo imprescindível que o autor esteja sob o domínio da violenta emoção.
Obs.5: Se o autor já não estiver sob o domínio da violenta emoção no momento do crime, de forma que estará agindo apenas sob a influência dela, afasta então essa privilegiadora, configurando-se, no máximo, homicídio simples, podendo no máximo considerar tal fato como circunstância atenuante do artigo 65, inciso III, alínea “c” do Código Penal.
Homicídio qualificado
Termo destinado à figura criminosa do homicídio já enumerado pela lei penal com os elementos qualificativos. O homicídio qualificado representa o crime de maior gravidade, isso devido à intensidade do dolo, da naturezados meios utilizados para executar o homicídio, do modo de ação ou desejo de fugir à punição. Revela, assim, o grau de perversidade do agente, a visível maldade e covardia da sua prática. Em outras palavras o homicídio quando qualificado demonstra a conduta delituosa já prevista em lei, agregam-se a ela outros elementos que demonstram uma maior ofensividade ao bem jurídico, daí se justificando uma pena diversa (mais severa) daquela prevista para a forma simples do crime.
A principal diferença entre o homicídio simples (previsto no caput do artigo 121) e o homicídio qualificado (artigo 121,§ 2º) é que a pena do homicídio simples é de seis a vinte anos, enquanto a sanção do homicídio qualificado é de doze a trinta anos.
Obs.6: Todas as formas de homicídio qualificado serão consideradas crime hediondo, isso de acordo inciso I do artigo 1.º da Lei n.º 8072/90.
Artigo 121, § 2.º, inciso I
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
Também chamado assassínio ou homicídio mercenário. O pagamento ou a recompensa precisa ser real ou financeira (corrente majoritária) e, mesmo que não seja efetivada, o homicídio permanece como qualificado, pois o que importa é a motivação do crime, respondendo por ele o executor. O mandante, que paga ou promete a recompensa também responde pela qualificadora, pois as condições de caráter pessoal previstas no tipo se comunicam.
Já o motivo torpe é aquele considerado como imoral, vergonhoso, repudiado moral e socialmente, algo desprezível. Um exemplo seria matar para receber uma herança, ou matar por ter qualquer tipo de preconceito, ou seja, motivação moralmente reprovável.
Artigo 121, § 2.º, inciso II
II - por motivo fútil;
A futilidade aparece de forma isolada e trata do homicídio provocado por motivação insignificante, desarrazoado, desproporcional à própria conduta do homicídio. Evidencia-se ele quando se destaca a insignificância da motivação em relação ao crime praticado. É aquele que cujo motivo é banal, há uma desproporcionalidade entre o crime e a causa. Ex.: matar por ter levado uma fechada no transito, rompimento de relacionamento; pequenas discussões entre familiares, morte por dívida, por ofensa verbal, etc.
Artigo 121, § 2.º, inciso III
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
A primeira parte não contém dificuldades de entendimento em sua redação, deixando claro que o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura no ato de matar qualificam o delito.
Agora já o meio insidioso é o desleal, ardiloso, o desconhecido pela vítima, e o cruel é o que impõe a ela um sofrimento maior do que o necessário para a prática do crime.
Conceitua-se meio insidioso como sendo algo camuflado, uma conduta verdadeiramente traiçoeira, como ocorre no referido caso do emprego de substância venenosa.
Artigo 121, § 2.º, inciso IV
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
Entende-se à traição, como sendo o ataque inesperado, que a vítima não tinha como pressentir.
A traição pode ser física (ataque súbito e sorrateiro, como um violento golpe de bastão pelas costas, com o intuito de ferir a vítima) ou moral (quebra de confiança entre agente e vítima, da qual ele se aproveita para praticar o crime, como convidar conhecido para consumir droga visando, após, feri-lo com maior facilidade).
Emboscada é sinônimo de tocaia, a vitima não percebe o ataque do agente, que se encontra escondido. Pressupõe premeditação. Já a dissimulação significa ocultação do próprio desígnio, da própria vontade. Pode ser moral (quando o agente dá falsas mostras de amizade para captar a atenção da vítima) ou material (utilização de disfarce).
Traição moral não se confunde com dissimulação moral; na traição, pressupõe-se uma relação de amizade preexistente entre os sujeitos, que foi quebrada; na dissimulação, o agente, desde o começo, já pretendia ganhar a confiança do ofendido para cometer o delito.
A parte final deste inciso acaba mantendo aberto um rol indefinido de meios (recursos) que podem qualificar o crime. Sendo necessário apenas o uso deles resulte na dificuldade ou impossibilidade de a vítima oferecer defesa contra a agressão.
Rol exemplificativo de recursos que dificultem ou tornem impossível a defesa do ofendido:
a) procurar o agente a noite para mais facilmente perpetrar o crime;
b) procurar o agente lugar ermo para perpetrar o crime;
c) ter o agente superioridade em força ou armas;
d) proceder o agente com fraude;
e) proceder o agente com abuso de confiança;
f) proceder o agente de surpresa.
Artigo 121, § 2.º, inciso V
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Ocorre quando o homicídio é praticado com o fim de garantir a execução, ocultação, impunidade ou a vantagem de outro crime. Tal circunstância se configura quando também comprovada a prática do crime fim, aquele cuja execução, ocultação, impunidade ou proveito se quer garantir.
O inciso V do § 2º do art. 121 do CP enuncia hipóteses de conexão (vínculo) entre o crime de homicídio e outros delitos.
A doutrina subdivide a conexão em:
a) teleológica, em que o homicídio é praticado para assegurar a execução de outro crime, futuro. É o caso, por exemplo, de quem mata a babá para sequestrar a criança.
b) consequencial, em que o homicídio visa a assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime, passado.
Exemplos:
1) para assegurar a ocultação de uma fraude financeira cometida na empresa em que trabalha, o agente mata um funcionário que havia descoberto a conduta criminosa;
2) para garantir a impunidade do crime de estupro, o agente mata a vítima, que o havia reconhecido;
3) buscando assegurar a vantagem obtida num roubo cometido em conluio, o agente mata seu comparsa.
Artigo 121, § 2.º, inciso VI
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino
Essa qualificadora que tem como vítima a mulher, foi inserida a partir da Lei nº 13.104 de 2015. Somente pela leitura desse inciso se poderia concluir que basta a condição biológica de gênero feminino da vítima para que o homicídio assim se torne qualificado. Mas o alcance dessa interpretação é balizada pelo § 2º-A, que definiu as hipóteses que se configura o feminicídio.
O §2º-A, do art. 121, traz a complementação do inciso definindo ocorre o feminicídio:
I - violência doméstica e familiar (o art. 5º da Lei nº 11.340/06 enumera o que é considerado pela lei violência doméstica);
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Esse complemento surgiu com a política de proteção contra a violência doméstica, dando suporte para a adoção de sanções mais severas, objetivando repreender e prevenir com maior rigor delitos desta natureza.
Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino.
Diferença entre feminicídio e femicídio:
Femicídio significa praticar homicídio contra mulher (matar mulher);
Feminicídio significa praticar homicídio contra mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero).
Quanto ao sujeito ativo, esse pode ser qualquer pessoa, trata-se de crime comum, uma vez que não exige características especificas do autor. Enfatizando que o sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher.
Agora já o sujeito passivo obrigatoriamente tem que ser mulher, deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde que do sexo feminino). Logo mulher que mata sua companheira homo afetiva, concorre ao feminicídio, se o crime foi por razões da condição de sexo feminino.
Temos que analisar com muito cuidado a situação do sexualidade, pois temos no polo passivo a figura do transexual que é o indivíduo que possui características físicas sexuais distintasdas características psíquicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a transexualidade é um transtorno de identidade de gênero. A identidade de gênero é o gênero como a pessoa se enxerga (como homem ou mulher). Assim, em simples palavras, o transexual tem uma identidade de gênero (sexo psicológico) diferente do sexo físico, o que lhe causa intenso sofrimento.
Assim Transexual que realizou cirurgia de transgenitalização (neovagina) pode ser vítima de feminicídio se já obteve a alteração do registro civil, passando a ser considerada mulher. Ponto que gera muita discussão.
Homicídio e suas principais circunstâncias
O homicídio está previsto no artigo 121 do Código Penal, e tem por definição a eliminação injusta da vida extrauterina (diferente de aborto que ainda é vida intrauterina) de uma pessoa por outra (diferente do art. 122 do CP).
É necessário delimitar o momento exato em que se configurará o delito de aborto e o de homicídio, ou seja, quando é o fim da vida intrauterina e o início da extrauterina (deve-se saber o momento exato para não confundir homicídio e aborto). O momento exato do início da vida é que diferencia o homicídio do aborto.
Obs.1: se as manobras provocam a antecipação do parto e por consequência a do nascituro, ocorrerá o aborto e não o homicídio.
Obs.2: O conceito de morte se da de acordo com a Lei nº 9.434/97, que trata do transplante de órgãos e tecidos, autorizados na forma do artigo 3º, com o diagnóstico da morte ENCEFÁLICA, independentemente da continuidade da atividade respiratória e circulatória.
Qualquer pessoa pode praticar homicídio. Trata-se de crime comum que não demanda nenhum atributo especial do sujeito ativo.
O sujeito passivo é indicado pela elementar “alguém”, ou seja, qualquer pessoa. Sendo necessário que seja um ser vivo nascido de mulher, logo é comum quanto à característica da vítima. 
É um de crime de forma livre, toda conduta ao menos relativamente capaz de produzir o resultado morte é suficiente para tipificar o homicídio.
É unissubjetivo, pois não exige um número mínimo de praticantes. Admite o concurso eventual de agentes tanto na coautoria quanto na participação.
São coautores os agentes que conjugam o verbo núcleo do tipo, que praticam atos de execução. E são partícipes aqueles que não ingressam diretamente no núcleo ativo do artigo, mas assumem uma conduta acessória e concorrem eficazmente para a produção do resultado.
O homicídio admite tanto a forma comissiva (ação) quanto à omissiva imprópria (ou comissivo por omissão). A primeira ocorre quando o agente efetua disparos de arma de fogo, enquanto a segunda quando, visando o resultado morte, a mãe deixa de amamentar o filho, ou quando o agente nega o fornecimento de alimentos, medicamentos ou socorro. A responsabilização penal por conduta omissiva imprópria exige que o agente tenha se colocado na posição de garante ou garantidor.
É um crime material, logo exige obrigatoriamente o resultado, devendo se este perceptível e por isso é exigido o exame de corpo de delito, preferencialmente direto (exame necroscópico).
Relembrando:
O crime material só se consuma com a produção do resultado naturalístico, como a morte no homicídio. O crime formal, por sua vez, não exige a produção do resultado para a consumação do crime, ainda que possível que ele ocorra. No crime de mera conduta o resultado naturalístico não descrito no tipo penal.
Quanto aos elementos subjetivos Admite-se tanto a forma dolosa quando a culposa. O dolo, animus necandi (VONTADE + CONSCIENCIA), pode ser direito ou indireto, eventual ou alternativo.
Detalhes importantes
Homicídio tentado e lesão corporal consumada:
Não ocorrendo o resultado morte, por circunstâncias alheias à vontade do agente, o iter criminis é desmembrado na fase dos atos executórios, o que implica em tentativa. O crime de lesão corporal tutela a integridade física e a saúde de outrem. A conduta do agente é revestida do animus de lesionar, ou seja, de vontade livre e consciente de ofender tão somente a integridade física ou a saúde de outrem. Sob uma ótica objetiva, os resultados são idênticos: um corpo lesionado e com vida. A diferença entre os dois tipos penais será observada ao analisar do tipo subjetivo, o dolo do agente. Se a intenção do agente era ceifar a vida de outrem ou apenas lesionar. Assim observado o animus necandi responderá pela tentativa de homicídio e se observado o animus laedendi, por lesões corporais.
Homicídio consumado e lesão corporal seguida de morte: 
É possível que um agente dotado de vontade de LESIONAR terceiro e não querendo e nem assumindo o risco de provocar um resultado mais danoso como a morte, o obtenha. No homicídio o agente dolosamente quer ou assume o risco de produzir o resultado morte, que não ocorre por circunstâncias alheias a sua vontade. Na lesão corporal seguida de morte, o agente quer violar a integridade física de outrem, mas culposamente, obtém o resultado morte.
Do Iter Criminis
Iniciada a execução, mas o resultado não ocorrendo por circunstâncias alheias à vontade do autor, o homicídio será classificado como tentado (art. 14, II do CP).
Relembrando:
O iter criminis (caminho do crime) pode ser dividido em quatro fases: cogitação, preparação, execução e consumação. As duas primeiras fases são impuníveis, com ressalva de que os atos preparatórios podem tipificar outra conduta, enquanto a partir da terceira instaura-se a eventualidade da pena.
Quando o evento morte não ocorre, quatro são as possibilidades a serem analisadas:
Da tentativa: Quando o resultado exigido no tipo, neste caso a morte, não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Da tentativa perfeita: Embora esgotada a fase de execução, não se produz o resultado esperado. Exemplo: efetuar vários disparos de arma de fogo contra a vítima que não vai a óbito.
Da tentativa imperfeita: o agente inicia a execução, mas por circunstâncias alheias à sua vontade o agente não consegue concluir os atos executórios.
Desistência voluntária: Ocorre quando iniciada a execução, voluntariamente o agente desiste de prosseguir. 
Obs.3: só desiste aquele que está executando.
Reconhecida a desistência voluntária, o agente responderá somente pelos atos praticados, se típicos, e não pelo resultado inicialmente pretendido e o agente responderá apenas pelos atos praticados.
#ficam as dicas
Arrependimento eficaz: esse instituto só ocorre com fase executiva concluída e antes da produção do resultado, quando o agente pratica conduta capaz de efetivamente impedir a ocorrência do evento morte.
Crime impossível: quando o resultado não ocorre por ineficácia absoluta do meio utilizado para a execução do crime (exemplo: arma de brinquedo) ou pela impropriedade absoluta do objeto material (exemplo: mulher supõe que está grávida a tenta abortar). Em ambas as hipóteses a tentativa é impunível.
“Homicídio privilegiado” (artigo 121,§ 1º do CP).
Tem como natureza jurídica ser uma causa de diminuição da pena e isso só ocorre porque a motivação e os meios ou os modos empregados na execução do homicídio diminuem o grau de censura social sobre a conduta. O legislador consagrou três formas privilegiadas, todas de cunho subjetivo, portanto relativas à motivação do crime, ou seja, fatos que levou o agente à prática do crime. 
Ocorre a incomunicabilidade das privilegiadoras, uma vez que estas são subjetivas e não se comunicam aos participes e coautores. 
Ex.: o pai que paga alguém para matar o homicida do filho. O pai age diante da privilegiadora enquanto autor responde pelo homicídio mercenário.
Relevante valor social: é um valor que reflete o interesse da coletividade.
Relevante valor moral: refere-se a um interesse de cunho pessoal.
Domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima: o reconhecimento dessa forma privilegiada exige o concurso simultâneo dos três requisitos, vale dizer que a violenta emoção seja desencadeada imediatamente após a injusta provocação da vítima.
O agente deverá obrigatoriamente estar totalmente transtornado com o fato, se estiver umasob uma mera influencia da violência emoção, perdera essa privilegiadora e concorrerá tão somente a uma atenuante, conforme o artigo 65, III, c do CP.
Obs. 4: homicídio privilegiado jamais será considerado crime hediondo.
Homicídio qualificado (art. 121,§ 2º, do CP): 
Identificando os motivos do crime, ou os modos ou meios de sua execução, como qualificadoras, o juiz pode aumentará as balizas da pena para mais.
Assim o homicídio qualificado é aquele cometido em circunstâncias que tornam o crime mais grave do que já é. O homicídio simples, por mais que o adjetivo possa parecer impróprio, é o ato de matar uma pessoa em circunstâncias que não ampliem a magnitude desse ato extremo.
O homicídio qualificado recebe essa designação quando identificado os elementos já enumerado pela lei penal. Desta forma se torna qualificado o homicídio, quando o crime é agravado devido a intensidade do dolo, da natureza dos meios utilizados para executar o homicídio, do modo de ação ou desejo de fugir à punição. De forma que demonstra o grau de perversidade do agente ou a visível maldade de sua prática.
Qualificadoras de ordem subjetiva e qualificadoras de ordem objetiva
Primeiramente, há que se destacar a diferença latente entre agravantes e qualificadoras. Agravantes são circunstâncias que, quando não constituírem ou qualificarem o crime, determinam a majoração da pena base, dentro dos limites previstos pelo tipo penal, conforme o juiz entenda como necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. E as qualificadoras são circunstâncias que, presentes no fato criminoso, cominam outra pena mais severa do que aquela prevista no tipo simples.
De maneira geral, as qualificadoras objetivas são as que dizem respeito ao crime, enquanto as subjetivas vinculam-se ao agente. Enquanto as objetivas dizem com as formas de execução (meios e modos), as subjetivas conectam-se com a motivação do crime.
Em caso de concurso de agentes, as qualificadoras subjetivas não se comunicam aos demais coautores ou partícipes.
Já as qualificadoras objetivas (artigo 121, incisos III, IV), comunicam-se aos demais coautores ou partícipes, desde que ingressem na esfera de conhecimento dos agentes.
Em relação ao homicídio qualificado, a pena passa a ser de 12 a 30 anos. Todos os incisos do parágrafo 2º do artigo 121 configuram crime é hediondo.
O inciso I fala do homicídio qualificado pela torpeza, sendo isso pagar por motivo vil, abjeto, repugnante e quase sempre espelhando ganância. Um exemplo é homicídio mercenário por mandato remunerado.
- é um crime de concurso necessário ou bilateral – um pagando ou ofertando e outro recebendo (mandante e executor).
- a vantagem da paga ou promessa de recompensa – não precisa necessariamente ter caráter econômico, pode ser qualquer tipo de compensação, pode ir desde o pagamento em dinheiro até qualquer outro tipo de vantagem. 
Exemplo: 
- promessa de casamento;
- oferecer favores sexuais.
Obs. 5: via de regra essa qualificadora se comunica ao mandante, sendo necessário a analise do caso concreto.
O inciso II fala de motivo fútil. Nesse caso, é um motivo pequeno, a pequeneza da causa comparada com a consequência, sendo um exemplo a briga de trânsito.
Obs. 6: ausência de motivo não caracteriza a qualificadora de motivo. É vedada analogia in malam partem.
O inciso III fala do homicídio qualificado por tortura, emprego de veneno, asfixia ou outro meio cruel. Para existir a qualificadora, por exemplo, do emprego de veneno, é necessário que a vítima não saiba que está ingerindo veneno, se ela souber, não existe a qualificadora. Será qualificada por meio cruel.
Meio insidioso quer dizer traiçoeiro, tendo, por exemplo, quando um indivíduo retira o óleo do freio do carro do desafeto para que este morra.
No inciso IV fala daquele que mata mediante traição, emboscada, dissimulação ou qualquer outro recurso que torne impossível ou dificulte a defesa da vítima. 
A traição pode ser física ou moral:
Um exemplo de traição física é atirar pelas costas. A traição moral é aquela que o autor chama a vítima para jantar e a executa.
Emboscada é o agente esconder-se para esperar a vítima. Dissimulação é uma autuação disfarçada.
O inciso V trata do homicídio em conexão com outro crime. O agente mata para assegurar a execução de um crime que vai acontecer ou mata para assegurar a ocultação de um crime que já aconteceu.
Obs.6: a lei fala em crime, logo não concorre a esta qualificadora se a conexão for com uma contravenção penal.
O agente realiza o homicídio para assegurar a execução de outro crime, esse agente responderá pelos dois delitos em concurso material.
Relembrando: 
Ocorre quando o autor da infração pratica duas ou mais condutas, comissivas ou omissivas, resultando no cometimento de dois ou mais crimes. Pode ser homogêneo, quando se trata de crimes idênticos, ou heterogêneo, caso ocorram delitos diferentes. No concurso material, as penas de todos os crimes são aplicadas cumulativamente. (artigo 69 do CP)
Obs. 7: mesmo que o agente desista de cometer o segundo crime, vai incorrer essa qualificadora.
Em relação ao primeiro, a execução é teleológica (sendo que o crime sequer precisa acontecer para que a qualificadora se aplique), quanto ao segundo, a execução é de conexão consequencial, não abrangendo nenhum desses contravenção penal.
Obs. 8: homicídio para garantir a ocultação ou a impunidade de outro crime, não precisa necessariamente ser praticado pelo agente diretamente envolvido, podendo sim ser praticado por terceiro.
O inciso VI fala sobre a qualificadora do feminicídio, que é matar mulher por menosprezo pelo sexo feminino, sendo via de regra julgado perante o Juízo Criminal Comum. Contudo, prevendo a Lei Orgânica que o homicídio seja julgado pela Vara da Violência Doméstica Familiar. Verificar o paragrafo 2A.
As causas de aumento de pena do feminicídio encontram-se no artigo 121,§ 7º do CP.
Já em relação ao feminicídio, a pena deste é aumentada de 1/3 até a metade se o crime é praticado durante a gestação ou três meses posteriores ao parto, ou menores de 14, maior de 60 anos e com deficiência. Ou seja, nesse caso, há aumento de pena quando a vítima possui deficiência.
O inciso VII trata do homicídio funcional, 
ou aquele que mata agentes das forças armadas ou das policias (abrangendo as diversas forças de segurança), ou aquele que mata os parentes desses agentes, no exercício da função ou em razão dela, sendo que no caso dos parentes, a morte desses para ter tal qualificadora o homicídio deve ter relação com o fato de ter existir a relação de parentesco.
Artigo 142 e 144, § 8º da CFB. O paragrafo 8º traz a guarda civil metropolitana.
Obs. 9: o policial aposentado não fará parte dessa qualificadora.
Obs. 10: a morte do filho adotivo do policial como retaliação, não concorrerá a essa qualificadora, porque a lei traz somente o parente consanguíneo. Por trazer esse tratamento diferenciado entre o filho consanguíneo e adotivo, a doutrina trata esse tratamento como inconstitucional. Não atinge também os parentes por afinidade.
Perguntas dificultosas:
É possível o homicídio privilegiado/qualificado? Neste caso esse crime será hediondo?
O como fica a apenação no caso de homicídio duplamente ou triplamente qualificado?
Diferencie a conexão teleológica da conexão consequencial?
A conexão teleológica ocorre quando o crime é praticado como meio para a realização de outro delito. Já a conexão consequencial ocorre quando o crime é praticado para encobrir o delito anterior já cometido.
A conexão teleológica ocorre quando o homicídio é perpetrado como meio para executar outro crime (homicídio para poder provocar um incêndio). A conexão consequencial ocorre quando é praticado para ocultar a prática de outro delito (homicídio contra o perito que vai apurar apropriação indébita do agente), ou para assegurar a impunidade dele (homicídio da testemunha que pode identificar o agente como autor de um roubo), ou para fugir à prisão em flagrante (RT 434/358), ou para garantir a vantagem do produto, preço ou proveito de crime (homicídiocontra o coautor de roubo ou furto para apossar-se da res furtiva).
OBS- Importa notar que tanto na conexão teleológica quanto na conexão consequencial, o homicídio qualificado e o outro crime praticado não formam um delito complexo como no caso do latrocínio. Na realidade, constituem delitos autônomos, mas há uma ligação (conexão teleológica ou consequencial) que os une, sendo aplicável no caso a regra do concurso material. Assim, responderá o agente pelos crimes de homicídio qualificado (pela conexão teleológica ou consequencial) em concurso material com o outro crime.
Homicídio Culposo - Art. 121, § 3º - Se o homicídio e culposo:
Pena: detenção, de um a três anos.
É classificada como homicídio culposo a situação em que um sujeito tira a vida de outro sem intenção. A culpa é inconsciente e o assassinato ocorre por negligência, imprudência ou imperícia.
Em caso de homicídio culposo, o réu pode ser condenado entre 1 a 3 anos de prisão. De acordo com o artigo 33 do Código Penal, caso o acusado não seja reincidente, a pena pode ser cumprida em regime aberto.
Porém, a pena pode ser acrescida em até 1/3 (um terço) nos casos em que:
1 - Se comprovado que o sujeito não seguiu regras ou técnicas básicas de segurança;
2 - Se o sujeito não prestou assistência imediata à vítima;
3 - O sujeito não buscou diminuir as consequências de suas ações.
Imprudência: corresponde a uma conduta positiva, onde o sujeito age sem a cautela necessária, vindo a provocar um resultado lesivo; caracteriza-se pela ausência de moderação na realização de um determinado ato, que pode resultar em um mal previsível pelo imprudente.
Ex.: Praticar ato perigoso de limpar arma de fogo, Velocidade exagerada no transito, etc.
Negligência: corresponde a um deixar de fazer, ou seja, o sujeito se abstém de fazer aquilo que a diligência normal impõe. Configura-se pela ausência de cuidado necessário à execução de um determinado ato, ou seja, pela omissão ou inobservância de dever que competia ao agente realizar.
Ex.: Ausência de precaução em deixar a arma ao alcance de criança, etc.
Imperícia: corresponde a uma inaptidão, momentânea ou não, de um profissional para a atividade ou ofício que deveria dominar. Caracteriza-se pela inabilidade do agente em realizar determinado ato, pois ele não possui arte ou técnica para tal.
A falta de aptidão para determinada função (não conhece). Não existe compensação de culpa. O agente só não responde se a culpa foi exclusivamente da vítima. Se duas ou mais causam a morte respondem como coautores por homicídio culposo. Na culpa consciente o agente vê o risco de causar a morte, mas acredita que dada a sua destreza o fato não ocorrerá e no dolo eventual o agente vê o mesmo risco, mas a ocorrência do evento morte lhe é indiferente (faço, dê no que der).
HOMICÍDIO CULPOSO DO CÓDIGO DE TRÂNSITO.
CTB - Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção De veículo automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
HOMICÍDIO CULPOSO DO CÓDIGO DE TRÂNSITO ADVINDO DE UM RACHA. (LEI 12.971/14).
Ocorrerá o delito quando ocorre morte na prática de um racha ou em competição não autorizada.
Veja que o legislador excluiu a possibilidade do dolo eventual nesse tipo penal, logo se houver o dolo eventual irá responder de acordo com o Código Penal.
CTB - Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada: Penas – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
§ 1º Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão corporal de natureza grave, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. 
§ 2º Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. 
Nota-se que no art. 308 o legislador agravou todas as penas previstas para quem participa de “racha”. Foram contempladas três situações:
1) participa do “racha”, gera risco de acidente, mas não lesa ninguém (pena de 6 meses a 3 anos + sanções acessórias); 
2) participa do “racha” e gera lesão corporal grave (pena de 3 a 6 anos mais sanções acessórias); 
3) participa do “racha” e gera morte (pena de 5 a 10 anos mais sanções acessórias).
Art. 121, § 4º
O Homicídio Culposo e doloso pertencem ao mesmo gênero, vez que tutelam o mesmo bem jurídico, a vida. Entretanto, encontram-se em espécies diferentes.
O diferencial entre ambos é justamente a conduta do autor que no homicídio doloso utiliza-se de elementos subjetivos para alcançar sua meta, ao passo que no homicídio culposo é utilizado elementos normativos.
Em caso de homicídio culposo, verifica-se que um exemplo é que há causa de aumento de pena àquele que foge para evitar o flagrante.
Com relação ao homicídio doloso, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra menor de 14 ou maior de 60 anos, pouco importando o momento do resultado e sim o momento da conduta, não falando de vítima com deficiência.
Outra causa de aumento de pena para o homicídio doloso é se o crime for praticado por milícia privada ou por grupo de extermínio. Assim, seja o homicídio doloso simples ou qualificado, conforme já mencionado, terá aumento de pena.
Artigo 121, §5º do Código Penal Brasileiro.
Este paragrafo traz a hipótese, no que tange o homicídio culposo, do juiz poder deixar de aplicar a pena, uma vez que as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
A doutrina se divide em duas correntes quanto à possibilidade de concessão do perdão judicial nas hipóteses de homicídio culposo decorrente de acidente de trânsito.
A primeira entende que o perdão judicial só pode ser aplicado nos casos expressamente previstos em lei (art. 107, IX, do CP).
A segunda cabe esse perdão, por analogia in bonam partem.
A Constituição Federal Brasileira, ao adotar o Princípio da Igualdade de Direitos, prevê que todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei. Consequentemente, inaceitável seria a concessão do perdão judicial às hipóteses de homicídio culposo previstas no Código Penal e a sua vedação àquela prevista no Código de Trânsito Brasileiro.
Atualmente os Tribunais tem uma preferência pela segunda corrente.
Artigo 122 do CP atualizado pela Lei 13.968/19.
Induzimento, instigação e auxílio ao suicídio ou à automutilação: Nova redação dada pela Lei 13.968/19 ao artigo 122 do Código Penal. 
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. (Incluído pela Lei nº 13.968, de2019)
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
Ceifar a própria vida, ato suicida, não é previsto como crime, de forma que a pessoa que tenta suicidar-se não comete infração penal. O tipo penal descrito no artigo 122, CP, visa à punição daquele terceiro que induz, instiga ou auxilia outrem ao suicídio, nesse panorama, o suicida figura como vítima. Com a nova Lei 13.968/19, não é somente o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio que é incriminado, passa a ser também previsto como crime o ato de induzir, instigar ou prestar auxílio a outrem a fim de que tal pessoa se automutile, ou seja, se auto lesione, cause lesões a si mesma, no próprio corpo, sem a necessidade de pretender tirar a vida. Seria o caso de induzir, instigar ou auxiliar alguém a, por exemplo, amputar ou mutilar um dos dedos da mão ou do pé, a se cortar, a se queimar com cigarros, a ingerir substâncias que possam causar mal estar, doenças ou distúrbios, ainda que não letais, dentre outras. É importante frisar que também a autolesão ou automutilação também não é prevista como crime. Quem se automutila não comete infração penal alguma. De forma que o autor do delito, nos termos do artigo 122, CP, é aquele que induz, instiga ou auxilia outra pessoa a se automutilar.
Obs. 1: Embora concorra a impunidade a pessoa que tenta se matar ou que tenta ou mesmo consegue se automutilar, a vida e a integridade física continuam sendo bens jurídicos indisponíveis, tanto que a lei não considera ilegal a coação praticada para impedir o suicídio (ver artigo 146, § 3º, II, CP).
Do objeto jurídico 
Os bens jurídicos tutelados são a vida humana e a integridade física da pessoa. Neste ponto surge uma questão importante. O crime previsto no artigo 122, CP está no Título I – “Dos Crimes contra a pessoa”, Capítulo I – “Dos Crimes contra a Vida” do Código Penal Brasileiro. 
Até o surgimento da Lei 13.968/19 não havia dúvida de que se tratava de um crime exclusivamente contra a vida. Acontece que essa novel legislação incluiu também o induzimento, instigação ou auxílio à automutilação, o que implica na abrangência de outro bem jurídico, que já não é mais somente a vida humana, mas também a integridade física. De forma que a melhor opção do legislador seria ter incluído essa questão do induzimento, instigação ou auxílio à automutilação, não no artigo 122, CP, mas diretamente no Título I – “Dos Crimes contra a pessoa”, Capítulo II – “Das Lesões Corporais”, do Código Penal Brasileiro. 
A automutilação ficaria mais bem alocada no corpo do artigo 129 do CP e não no artigo 122, CP como esta agora. Com isso, o legislador acabou criando um tipo penal anômalo, que embora esteja no capítulo dos crimes contra a vida, tutela também, em parte, a integridade física. Mais adiante tal fato provocará problemas quanto à competência para o processo e julgamento das condutas tipificadas no atual artigo 122 do CP.
Do Sujeito ativo
Qualquer pessoa, tratando-se de crime comum.
Do Sujeito passivo
Qualquer pessoa desde que tenha capacidade de resistência à prática do suicídio ou da automutilação. Na ausência desta, não ocorrerá o crime de suicídio, descrito no artigo 122, “caput”, CP, muito menos as figuras qualificadas pelos resultados lesão grave ou gravíssima (artigo 122, § 1º., CP) CP, ou  morte (artigo 122, § 2º., CP), mas sim aquelas previstas nos §§ 6º. e 7º., do mesmo artigo 122, CP. 
A principal distinção está na condição da vítima que não tem capacidade psíquica de resistência contra os argumentos do influenciador. Os § 6º e § 7º, as vítimas serão aqueles denominados no Código Penal Brasileiro como “vulneráveis”, quais sejam, os menores de 14 anos; pessoas que por enfermidade ou deficiência mental, não têm o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não podem ofertar resistência. Nessas situações, considera a legislação que a vítima não toma uma decisão válida a ser considerada quanto à conduta de se auto lesionar ou se matar. A vítima não passa de uma marionete nas mãos do influenciador. Assim se do ato ocorre lesões gravíssimas, o influenciador responderá nas penas do crime de lesões gravíssimas, de acordo com o § 6º, do artigo 122, CP. Se vier a se suicidar, não responderá o influenciador nas penas do induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, mas sim naquelas do crime de homicídio.
A doutrina e a jurisprudência já adotava essa previsão mesmo antes dessa previsão legal, onde o influenciador, nos casos de vítima incapaz de resistência psíquica, não responderia nos termos do artigo 122, CP, mas por crime de lesão corporal ou de homicídio, conforme o que ocorresse. Com o advento da Lei 13.968/19 essa posição foi positivada.
Para a configuração do crime do artigo 122, CP, em qualquer das suas modalidades, é necessário, porém que a vítima(s) seja(m) determinada(s). Exemplos:
a) Um indivíduo convence uma ou mais pessoas determinadas a suicidarem-se porque o fim do mundo está próximo – configura-se o crime do art. 122, CP.
b) O mesmo indivíduo escreve um livro sobre o assunto para venda em geral – Fato Atípico.
Do Tipo objetivo
O tipo penal prevê três condutas (crime de ação múltipla, de conteúdo variado ou tipo misto alternativo), que são: induzir, instigar e prestar auxílio material. As duas primeiras (induzimento e instigação) são chamadas de “participação ou concurso moral”, enquanto o auxílio é chamado de “participação ou concurso físico ou material”.
As condutas do induzimento e da instigação diferem. No induzimento o agente cria a ideia do suicídio ou da automutilação que não existia na vítima. Já na instigação o agente apenas incentiva uma ideia anterior de se matar ou se automutilar, ideia que a vítima já tinha. Em ambos os casos a conduta do agente é meramente psicológica, de convencimento. Agora, no auxílio, existe uma participação material do autor. Por exemplo, fornecendo uma arma, fornecendo veneno, ministrando instruções sobre meios de suicidar-se ou de automutilar-se, montando um aparato para o suicídio ou automutilação, iludindo um vigia que impediria o suicídio ou a automutilação para que a vítima possa dar cabo da própria vida ou se auto lesionar, dificultando o socorro imediato do suicida etc. 
É importante salientar que essa intervenção física do agente não pode extrapolar a figura do auxílio e adentrar nos atos de execução da morte ou lesão, senão ocorrerá homicídio ou crime de lesão corporal. 
Por exemplo:
O indivíduo que chuta a cadeira para que a vítima seja enforcada; 
O indivíduo, na hesitação da vítima, pega a lâmina de barbear e faz vários cortes em seu braço (da vítima). Observe-se que, por obviedade, não importará em nada o consentimento da vítima nesses atos, eis que estamos diante de bens jurídicos indisponíveis (vida e integridade física). Observe-se que no Brasil, nem mesmo a “eutanásia” ou o chamado “suicídio assistido” nos casos de doentes terminais são permitidos. No primeiro caso ocorrerá, de regra, homicídio privilegiado (artigo 121, §1º., CP);no segundo caso, ficará configurado, sem dúvida, o auxílio ao suicídio (artigo 122, “caput” ou §§ 1º., 2º., 6º. ou 7º., dependendo das consequências do ato e das condições psíquicas da vítima).
PÓS A LEI 13.968/19
Na redação original do Código Penal o crime do artigo 122, CP só ocorreria se houvesse um dos resultados preconizados no preceito secundário (morte ou lesão corporal de natureza grave), sendo as penas então previstas respectivamente de reclusão de 2 a 6 anos e de 1 a 3 anos. Portanto, não existia tentativa, ou ocorria um dos resultados ou o fato era atípico.
Não se faz necessário exigência dos resultados lesões graves ou morte para que haja o crime e a pena. O induzimento, a instigação e o auxílio material ao suicídio ou à automutilação já configura o crime, com ou sem tais resultados. De crime eminentemente material, se converteu, por força da Lei 13.968/19, em crime formal.
Eventuais resultados como lesões graves, gravíssimas ou morte decorrentes da prática do suicídio, da tentativa de suicídio ou da automutilação, somente surgem agora como qualificadoras nos §§ 1º., 2º., 6º., e 7º., todos do artigo 122, CP. Tendo variações de acordo com a vítima (vulnerável ou não).
Desta forma quem induz, instiga ou auxilia outrem a se suicidar ou automutilar, mesmo que não ocorra resultado algum derivado da tentativa de suicídio ou automutilação ou ocorram apenas lesões leves, estará configurado o artigo 122, “caput”, CP, salvo no caso de vulneráveis, em que poderá ocorrer crime de lesão corporal leve ou grave consumado ou tentado, eis que não previstas essas consequências nos §§ 6º. e 7º., do artigo 122, CP. A ausência, portanto, dos resultados lesões graves ou morte, não mais implica atipicidade.
O artigo 122 caput que antes era material tem em sua no redação passou a ser formal, surgindo então a polêmica, é possível a tentativa, já que a consumação se dá com o induzimento, instigação ou auxílio. No caso do auxílio material o crime estará consumado com o fornecimento da ajuda material, venha ou não a vítima a suicidar-se ou automutilar-se, característica do crime formal. Mas, obviamente, será viável a tentativa, vez que se trata de conduta plurissubsistente, com o “iter criminis” fracionável, sendo plenamente possível que alguém impeça o infrator de fornecer o auxílio à vítima. Por exemplo, um indivíduo pede uma arma para se matar. Quando o infrator vai lhe levar tal arma, é submetido a uma revista pessoal, vez que a vítima estava internada num manicômio, sendo encontrada a arma e apurado o seu fim de auxílio ao suicídio alheio. Há tentativa (artigo 122 c/c 14, II, CP).
Do Tipo subjetivo
O elemento subjetivo é o dolo, que consiste na vontade de induzir, instigar ou auxiliar a vítima ao suicídio ou à automutilação.  O dolo poderá ser direto, eventual ou mesmo alternativo, inexistindo previsão de figura culposa.
É importante frisar que se o agente atua com intenção relacionada somente à automutilação, o artigo 122, CP não é um “crime doloso contra a vida”. E ainda que resulte morte derivada dessa automutilação, esse resultado mais gravoso se dará a título de preterdolo. Já quanto à ocorrência de lesões graves ou gravíssimas no caso de automutilação, essas poderão decorrer do dolo do 
grupo ou rede social. Isso significa que se a influência à automutilação ou ao suicídio se dá por meio informático a pena é aplicada em dobro para todos os participantes desse evento. Porém, se identificado o líder ou coordenador de um grupo que se dedica a tal prática, este receberá a pena em dobro e mais um acréscimo de metade.
Da Ação Penal e competência 
O crime previsto no artigo 122 do CP, é de ação penal pública incondicionada em todas as suas formas. Com a inclusão da automutilação em um crime doloso contra a vida ao invés de alocar tal conduta no crime de lesão corporal, surge uma alteração na competência para o processo e julgamento das figuras do artigo 122, CP.
Se o induzimento, instigação ou auxílio se dirigir à prática do suicídio, pretendendo, portanto, o agente atingir o bem jurídico vida, a competência para processo e julgamento será do Tribunal do Júri, mas se o induzimento, instigação ou auxílio se voltar tão somente à automutilação, ainda que dela resulte a morte, esta será encarada como preterdolo, uma vez que o agente queria apenas a autolesão, decorrendo desta a morte que não era objetivada, a competência será do Juiz Singular, tendo em vista que claramente não se trata de um crime doloso contra a vida, embora alocado no Capítulo “Dos Crimes contra a vida”.
INFANTICÍDIO (art. 123 do Código Penal)
Artigo 123: “Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena – detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
A expressão infanticídio, do latim infanticidium sempre teve no decorrer da história, o significado de morte de criança, especialmente no recém-nascido. Antigamente referia-se a matança indiscriminada de bebês nos primeiros meses de vida, mas para o Direito brasileiro moderno, este crime somente se configura se a mulher, quando cometeu o crime, estava sob a influência do estado puerperal e logo após o parto ou mesmo depois de alguns dias.
No Brasil, é um crime doloso, tendo pena diminuída em relação ao crime de homicídio, vindo em dispositivo próprio do Código Penal (art. 123), desde que seja praticado pela mãe sob influência do estado puerperal, durante ou logo após o parto. Por outro lado, não se encontrando a mãe neste estado anímico, caracteriza-se o homicídio. E sendo antes do parto, o crime é o de aborto.
A legislação penal brasileira, através dos estatutos de 1830, 1890 e 1940, tem conceituado o crime de infanticídio de formas diversas. 
	
	
Infanticídio é o substantivo masculino que indica o ato voluntário de matar uma criança. Normalmente, o infanticídio é cometido contra um recém-nascido.
Infanticídio significa matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após, conduta esta que consta no art. 123 do Código Penal, cuja pena é de detenção, de dois a seis anos.
Como se percebe, no infanticídio existe elementares diferenciadoras do crime de homicídio: sujeito ativo próprio, circunstância de tempo, sujeito passivo único; o que não acontece com o homicídio, que é apenas a conduta de matar alguém. A semelhança encontra-se no objeto jurídico tutelado, que é a vida de alguém.
O infanticídio ocorre quando a mãe está em estado puerperal, que é aquele que envolve a parturiente durante a expulsão da criança do ventre materno. Neste momento, há intensas alterações psíquicas e físicas, as quais chegam a transformar a mãe, deixando-a sem plenas condições de entender o que está fazendo, razão pela qual se trata de situação de semi-imputabilidade, ocasionando o tipo penal próprio do infanticídio.
Bem jurídico tutelado
Vida humana. Protege-se a vida do nascente e do recém-nascido.
Sujeitos ativo e passivo 
Somente a mãe pode ser sujeito ativo e, desde que se encontre sob a influência do estado puerperal. Trata-se de crime próprio. Sujeito passivo é o próprio filho nascente (durante o parto) ou recém-nascido (logo após).
Natureza jurídica do estado puerperal 
O estado puerperal tem natureza jurídica de elemento normativo do tipo. Porém, deve conjugar-se com outro elemento normativo que é a circunstância de ocorrer durante o parto ou logo após. São requisitos cumulativos. Devemos observar, no entanto, que, com relação ao estado puerperal, quatro situações podem ocorrer: 
1) o puerpério não produz nenhuma alteração na mulher (caso em que haverá homicídio); 
2) acarreta-lhe perturbações psicossomáticas que são a causa da violência contra o próprio filho (caso em que haverá infanticídio);
3) provoca-lhe doença mental (caso em que a parturiente será isenta de pena por inimputabilidade – art. 26, caput, do CP); d) produz-lhe perturbação da saúde mental diminuindo-lhe a capacidade de entendimento ou de determinação (caso em que haverá redução da pena, em razão da semi-imputabilidade – p. único, art. 26 do CP).
Elemento normativotemporal 
É previsto na expressão “durante o parto ou logo após”. Para o Direito, inicia-se o parto com a dilatação, ampliando-se o colo do útero e chega-se ao seu final com a expulsão da placenta, mesmo que o cordão umbilical não tenha sido cortado. Entre estes dois marcos, estaremos na fase do “durante o parto”. Após a expulsão da placenta, inicia-se a fase do “logo após”. A lei não fixou prazo, mas, devemos considerar o variável período de choque puerperal. A doutrina tem sustentado que se deve dar uma interpretação mais ampla, para poder abranger todo o período do estado puerperal. Antes do início do parto, haverá aborto; após o término do estado puerperal, homicídio.
Consumação e tentativa 
Consuma-se o infanticídio com a morte do filho nascente ou recém-nascido, levada a efeito pela própria mãe. Basta que a vítima nasça com vida, não se exigindo que tenha viabilidade fora do útero. Admite-se a tentativa quando o crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade da agente.
Concurso de pessoas no infanticídio 
Uma corrente sustenta a comunicabilidade do estado puerperal da autora e, assim, os concorrentes responderiam todos por infanticídio; outra corrente sustenta a incomunicabilidade e, portanto, a mãe responderia por infanticídio e o participante, por homicídio.
Para Cezar Roberto Bitencourt, a influência do estado puerperal constitui uma elementar típica do infanticídio e, assim, de acordo com o que prevê o art. 30 do CP, haverá comunicabilidade, apesar de tratar-se de circunstância de caráter pessoal. Porém, é preciso analisar as seguintes hipóteses: 
1) Mãe e terceiro praticam a conduta nuclear do tipo (pressupondo a presença dos elementos normativos específicos) – para alguns, de lege lata, haverá co-autoria em infanticídio. Porém, para outros, é preciso analisar o elemento subjetivo do agente. Se agiu com dolo de concorrer para o infanticídio, responderá por este delito. Entretanto, pode ser que haja no participante dolo de matar o filho da puérpera e com isso, aquele se utiliza desta como mero instrumento do crime, aproveitando-se de sua fragilidade. Nesse caso, se a mãe não tinha discernimento, haverá autoria colateral; se estava sob a influência do estado puerperal, mas possuía discernimento, pretendendo cometer infanticídio, responderá por este crime enquanto o participante responderá por homicídio. Nesse caso não haverá quebra da unidade da ação existente no concurso de pessoas, pois, aplicar-se-á à mãe o § 2º do art. 29 do CP; 
2) o terceiro mata o nascente ou o recém nascido, com a participação meramente acessória da mãe – inquestionavelmente o fato principal praticado pelo terceiro é um homicídio. Quanto à mãe, em razão de sua especial condição, deverá responder por infanticídio, mas, para que não haja quebra da teoria monista, ambos teriam que responder pelo mesmo crime. Se dissermos que ambos responderão por infanticídio, haverá inversão da regra de que o acessório segue o principal e, se dissermos que ambos responderão por homicídio, a mãe estaria respondendo por fato mais grave do que aquele praticado. 
Assim, deve ser aplicado o § 2º do art. 29 do CP, pois, embora tenha havido um crime único (homicídio), a puérpera quis participar de crime menos grave e, deverá ser-lhe aplicada a pena deste.
– Classificação doutrinária 
O infanticídio é crime próprio, material, de dano, plurissubisistente (se perfaz em vários atos), comissivo e omissivo impróprio, instantâneo e doloso.
 Diferença entre infanticídio e aborto
O art. 123 do Código Penal preceitua que o infanticídio pode ser praticado durante o parto ou logo após. Nesse último caso a distinção com o aborto é nítida: a criança nasceu com vida e encerrou-se o trabalho de parto. A dúvida reside na situação em que o infanticídio é praticado durante o parto, pois é nessa hipótese que se exige cuidado na identificação do momento preciso em que o feto passa a ser tratado como nascente. É preciso saber quando tem início o parto, pois o fato classifica como aborto (antes do parto) ou infanticídio (durante o parto) dependendo do momento da prática delituosa.
O parto tem início com a dilatação, instante em que se evidenciam as características das dores e da dilatação do colo do útero. Em seguida, passa-se à expulsão, na qual o nascente é impelido para fora do útero. Finalmente, há a expulsão da placenta, e o parto está terminado. A morte do ofendido, em qualquer dessas fases tipifica o crime de infanticídio. Daí falar, com razão, que “o infanticídio é a destruição de uma pessoa e o aborto é a destruição de uma esperança”.
ABORTO (artigos 124 a 126 do Código Penal)
A conduta de aborto esta tipificada pelo Código Penal brasileiro entre os artigos 124 e 126. Trata-se de um crime contra a vida.
Sob o ponto de vista médico legal, considera-se aborto: “a interrupção da gravidez até a 20a ou 22a semana, ou quando o feto pese até 500 gramas ou ainda, alguns consideram quando o feto mede até 16,5 cm (...) Este conceito foi formulado baseado na viabilidade fetal extrauterina e é mundialmente aceito pela literatura médica”.
Trata-se, pois, da interrupção do processo gestacional antes que a vida fora do útero seja biologicamente viável, antes do desenvolvimento completo ou ao menos viável, do nascituro, resultando, por consequência na morte deste.
O aborto pode ser provocado, pode ser acidental, espontâneo, conforme cada caso, demandando, pois, a análise concreta de cada caso para determinar as circunstâncias do evento.
Contudo, este não é o conceito de aborto que interessa para o Direito penal. Conforme estudado anteriormente, o Direito penal criminaliza condutas, dolosas ou culposas, que lesionam ou expõem a risco de lesão bens jurídicos que a sociedade entendeu como valiosos e que, portanto, mereçam essa proteção pelas vias do Direito penal.
O direito a vida é reconhecido e resguardado pelo nosso ordenamento jurídico da forma mais ampla possível, havendo proteção à vida desde o momento de sua concepção. Apesar de ainda não se considerado como uma “pessoa”, uma vez que, em que pese existir de forma autônoma, não o faz de forma independente, conquanto ainda em estágios de formação, já é reconhecido como sujeito de direitos, antes mesmo de ser-lhe reconhecida a personalidade jurídica, que somente advém com o nascimento com vida.
Não obstante, a partir do comento da concepção até o momento do nascimento, o Direito reconhece e protege o direito à vida daquele ser humano em formação.
Para efeitos jurídico-penais considera-se o início da vida na concepção, assim entendida no processo de nidação – quando o embrião (óvulo já fecundado e em processo inicial de divisão celular) fixa-se ao útero, iniciando o desenvolvimento embrionário ligado à mãe.
A partir deste momento, a interrupção do processo pode ser caracterizado como aborto.
· Bem jurídico tutelado – é a vida do ser humano em formação, embora, rigorosamente falando, não se trate de crime contra a pessoa, pois, o produto da concepção – feto ou embrião – não é considerado pessoa, para fins de Direto. Existe entendimento em sentido de que o nascituro já é pessoa. Quando o aborto é provocado por terceiro, o tipo penal protege também a incolumidade da gestante. É a vida intrauterina (desde a concepção até momentos antes do parto).
· Espécies de aborto:
· Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (art. 124 do CP) – no primeiro caso, a própria gestante interrompe a gravidez causando a morte do feto; no segundo, permite que outrem lho provoque. Trata-se de dois crimes de mão própria, pois, somente a gestante pode realizar. Porém, admite-se a participação em sentido estrito. Se o partícipe for além da atividade acessória, responderá pelo crime do art. 126 do CP (esta é uma das exceções à teoria monista).
· Aborto provocado sem consentimento da gestante (art. 125 do CP) – para alguns autores, pode assumir duas formas: sem consentimento real ou ausência de consentimento presumido (vítima não maior de 14 anos, alienada ou débil mental). Se houver consentimento da gestante, o crime seráo do art. 124 do CP para esta e do art. 126 para quem provoca o aborto (atipicidade relativa ou desclassificação). Não há concurso com o delito de constrangimento ilegal; não é necessária a violência, fraude ou grave ameaça, bastando que a gestante desconheça que nela está sendo feito aborto.
· Aborto provocado com conhecimento da gestante (art. 126 do CP) – aqui, conforme já mencionado, há quebra da teoria monista, pois, a gestante responderá pelo art. 124 e o agente que nela provoca o aborto, pelo art. 126 do CP. O desvalor do consentimento da gestante é menor do que o desvalor da ação abortiva de terceiro. A conduta da primeira assemelha-se à conivência, embora não possa ser adjetivada de omissiva, enquanto a do segundo é sempre comissiva. O aborto consentido (art. 124, 2ª parte do CP) e o aborto consensual (art. 126 do CP) são crimes de concurso necessário, pois, exigem a participação da gestante e do terceiro.
· Consumação e tentativa do aborto – consuma-se o crime de aborto, em qualquer de suas formas, com a morte do feto ou embrião. Pouco importa que a morte ocorra no ventre materno ou fora dele. Também é irrelevante que o feto seja expulso ou permaneça nas entranhas da mãe. É indispensável a comprovação de que o feto estava vivo quando a ação abortiva foi praticada e que foi esta que lhe causou a morte (relação de causa e efeito entre a ação e o resultado). O aborto para alguns, pode ser praticado a partir da fecundação (Cezar Roberto Bitencourt); para outros, é preciso que tenha havido nidação. Admite-se a tentativa desde que, a morte do feto não ocorra por circunstâncias alheias à vontade do agente. No auto aborto, alguns sustentam ser impunível a tentativa, pois, o ordenamento brasileiro não pune a autolesão. Nesse caso, mais nos aproximamos da desistência voluntária ou do arrependimento eficaz do que de uma tentativa punível.
· Figuras majoradas do aborto – O art. 127 do CP prevê duas causas especiais de aumento de pena (e não qualificadoras como prevê a rubrica do artigo) para o crime de abordo praticado por terceiro, com ou sem o consentimento da gestante. Assim, se ocorrer lesão corporal grave, a pena aumenta-se de um terço; se ocorrer morte da gestante, a pena é duplicada. É indiferente que o resultado mais grave decorra do aborto em si, ou das manobras abortivas, ou seja, ainda que o aborto não se consume, se as manobras abortivas provocarem um dos dois resultados acima, haverá aumento de pena. As lesões leves integram o resultado natural da prática abortiva. Para que se configure o crime qualificado pelo resultado, é indispensável que o resultado mais grave decorra, pelo menos, de culpa (art. 19 do CP). Se houver dolo também em relação aos resultados mais graves, haverá concurso formal.
· Excludentes especiais de ilicitude: aborto humanitário e necessário – são previstas no art. 128 do CP, cujo inciso I, tem a rubrica de “aborto necessário” e o inciso II, a de “aborto em caso de gravidez resultante de estupro” que a doutrina e a jurisprudência encarregam-se de definir como “aborto sentimental ou humanitário”. Quando o CP diz que não se pune o aborto nas condições acima, está afirmando que, nesses casos, o aborto será lícito.
· Aborto necessário – previsto no art. 128, I, do CP, também conhecido como terapêutico, constitui verdadeiro estado de necessidade. Exige dois requisitos simultâneos: a) perigo de morte da gestante; b) inexistência de outro meio para salvá-la. É necessário o perigo de morte, não sendo suficiente o perigo para a saúde. Se não houver médico no local, ainda assim o aborto pode ser praticado por outra pessoa, com base nos arts. 23, I e 24 do CP. Havendo perigo de vida iminente, dispensa-se o consentimento da gestante ou de seu representante legal (art. 146, § 3º, I do CP). Além de tudo isso, o médico age no estrito cumprimento do dever legal nesses casos.
· Aborto humanitário ou ético – previsto no art. 128, II, do CP pode ser licitamente praticado quando a gravidez é proveniente de estupro e há o consentimento da gestante. A prova tanto da ocorrência do estupro quanto do consentimento da gestante ou de seu representante legal, deve ser cabal. Atualmente a doutrina e a jurisprudência admitem, por analogia (já que se trata de norma penal não incriminadora e a analogia é aplicada in bonan partem), o aborto sentimental quando a gravidez provém de atentado violento ao pudor. É desnecessária a autorização judicial, sentença condenatória ou mesmo processo criminal contra o autor do crime sexual e, além disso, a prova do estupro (ou do atentado violento ao pudor) pode ser feita por todos os meios em Direito admissíveis. Se o médico acautela-se da veracidade das informações, ainda que a gestante tenha mentido, a boa-fé daquele caracterizará erro de tipo, excluindo o dolo e afastando a tipicidade de sua conduta, mas, a gestante responderá pelo delito do art. 124 do CP.
 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
A conduta incriminada no tipo penal do Art. 124 é a da gestante que pratica auto aborto, dolosamente agindo para interromper a gestação e provocar o aborto, causando a morte do embrião ou feto em formação, ou que livre e conscientemente coaduna, consente que seja realizado o procedimento para interrupção da gestação, provocando a morte do nascituro.
Trata-se de um crime de mão própria, uma vez que se exige do autor do crime uma característica especial – no caso, estar grávida – e somente ela, nesta condição, pode realizar a conduta de auto aborto ou de consentir que se pratique o procedimento abortivo.
Bem jurídico tutelado
O bem jurídico protegido nos tipos que incriminam a conduta de aborto é a vida humana em seu estágio intrauterino, desde o momento de da concepção até o início do parto.
Ainda que alguns doutrinadores sustentem que nesse estágio não existe a pessoa propriamente dita, uma vez que não possui existência autônoma e viável, mas ainda em desenvolvimento, a Constituição Federal e a legislação emprestou o mais amplo grau de proteção ao bem jurídico vida, protegendo mesmo sua potencialidade desde o momento da concepção.
Sujeito ativo
Trata-se de crime de mão própria, no qual a lei exige certas circunstâncias especiais do agente para a configuração do delito e somente a pessoa nas condições indicadas pela lei pode realizar a conduta que configura o delito.
No caso em tela, apenas a gestante pode ser autora do delito descrito no Art. 124, CP uma vez que apenas ela pode provocar aborto em si própria ou assentir na realização do aborto.
Sujeito ativo no auto aborto e no aborto consentido (art. 124) é a própria mulher gestante, Somente ela própria pode provocar em si mesma o aborto ou consentir que alguém lho provoque, tratando-se, portanto, de crime de mão própria. 
Sujeito passivo
O sujeito passivo no crime de aborto é o embrião ou feto ainda em desenvolvimento no útero materno. Neste crime (Art. 124) o sujeito ativo é apenas o nascituro, não figurando a gestante como vítima, ainda que acabe sofrendo lesões em decorrência de sua conduta, já que o Direito penal não incrimina a autolesão.
No caso do aborto praticado por terceiro com o consentimento da gestante, caso está acabe por sofrer alguma lesão corporal ou mesmo acabe morrendo em decorrência do procedimento, continuaria sendo sujeito ativo (autora) do crime do art. 124 e sujeito passivo (vítima) da conduta do terceiro (Art. 126, CP, em sua forma qualificada pelo resultado). O sujeito passivo permaneceria sendo o nascituro.
Tipo objetivo
O núcleo da conduta típica descrita no art. 124 é “provocar aborto”, logo, qualquer conduta dolosa, realizada pela gestante, com o fim de interromper a gestação causando a morte do embrião ou do feto subsume-se ao tipo incriminador.
A conduta se volta contra a vida intrauterina, do ser humano em formação ainda no útero materno, configurando-se o delito com qualquer conduta dolosa atentatória a vida intrauterina entre a concepção e o iníciodo parto.
Iniciado o parto já não se fala mais em aborto. Havendo crime, será de homicídio ou, dentro de determinadas circunstâncias, infanticídio.
É pressuposto, pois, do crime de aborto, o estado de gravidez. Da mesma forma, sendo o bem jurídico tutelado a vida, somente se configura o crime se a manobra se voltar contra embrião ou feto vivo. Comprovado que o nascituro não tinha vida no momento da conduta trata-se de crime impossível.
Outro aspecto importante para a configuração do crime é que a manobra realizada com o fim de provocar o aborto deve ser hábil para atingir tal finalidade. Assim, simpatias, rezas, garrafas ou fórmulas caseiras que tenham efeito abortivo inócuo não se prestam a caracterizar a conduta de provocar aborto, sequer em sua modalidade tentada.
Elemento subjetivo do tipo
É crime doloso, praticado quando a gestante age querendo ou assumindo o risco de produzir aborto, ou consentindo que outra pessoa o faça, interrompendo a gestação e resultando na morte do nascituro.
Não existe o delito do art. 124 na modalidade culposa. Assim, se por negligência, imprudência ou imperícia a gestante acabar dando causa ao aborto, a conduta é atípica.
Consumação e tentativa
O crime de aborto provocado pela gestante ou com o seu consentimento se consuma quando, iniciada a manobra visando a interrupção da gestação (provocar o aborto) resulta-se na morte no nascituro. O tipo incriminador visa proteger a vida intrauterina em seus estágio de formação, entre a concepção e o início do parto. Dessa forma, não há qualquer relação com a mera expulsão do feto. O que importa para a consumação do delito do Art. 124, CP é que da manobra realizada com o objetivo de interromper a gestação advenha a morte do embrião ou do feto.
Admite-se a tentativa do crime doa art. 124, CP na medida em que é plenamente possível que, iniciada a execução da manobra abortiva por parte da gestante ou com o consentimento desta, o resultado esperado – a morte do nascituro – não ocorra por circunstâncias alheias à vontade do agente, conformando-se a tentativa.
Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Trata-se aqui da hipótese do aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante, vale dizer, a realização de manobra ou conduta objetivando de forma livre e consciente provocar a morte do embrião ou feto, sem que haja o consentimento da gestante. Conforme aponta Fernando Capez é a forma mais gravosa de aborto, a que merece maior reprovabilidade por parte do ordenamento jurídico.
A ausência do consentimento da vítima é elementar do tipo penal, ou seja, o delito do artigo 125 apenas se configura quando não existe o consentimento da gestante na realização da manobra abortiva. Caso exista consentimento por parte desta, não se configura este delito, ao contrário, haverá novo enquadramento jurídico – responderá a gestante pelo delito do art. 124, enquanto que o terceiro responderá pelo delito do artigo 126.
No que diz respeito ao consentimento da gestante, podemos dividir a ausência deste consentimento em duas correntes:
1. Falta de consentimento real – a gestante não manifesta a sua vontade ou não tem oportunidade de fazê-lo, ou ainda, manifestando-se contra a realização do aborto, este é realizado contra a sua vontade. Pode configurar a falta de consentimento real em três hipóteses:
a- Fraude – há o emprego de um ardil ou outro subterfúgio no sentido de ludibriar a gestante, provocando-lhe o aborto sem o seu conhecimento e, por consequência, sem o consentimento desta. Um exemplo disso seria o médico que, a pretexto de realizar uma consulta, pratica manobras a fim de provocar o aborto;
b- Grave ameaça – hipótese em que há a promessa de um mal grave e injusto contra a gestante visando obriga-la a se submeter e permitir que se seja realizado o aborto. Por exemplo, o pai que ameaça expulsar a filha menor de casa se ela não abortar a criança que espera em seu ventre.
c- Violência real – caracteriza-se pelo emprego de força física contra a gestante, visando assim provocar-lhe o aborto. O sujeito que, ao saber que sua amante está gravida, e não querendo a criança, desfere socos no ventre para provocar o aborto.
2. Falta de consentimento presumido – mesmo que haja uma manifestação de vontade por parte da gestante no sentido de que seja realizado o aborto, sua manifestação de vontade, por suas condições pessoais, é considerada nula, não sendo considerada para efeitos do enquadramento jurídico penal, considerando-se, então, como se o aborto tivesse sido provocado sem o consentimento da gestante. São hipóteses:
a- Gestante menor de quatorze anos – sendo a gestante menos de quatorze anos, é presumido que ela não pode consentir a realização do aborto, sendo então desconsiderada qualquer manifestação de vontade da mesma, caracterizando-se o delito do art. 125 (Art. 126, parágrafo único)
b- Gestante alienada ou débil mental – a falta de discernimento ou a incapacidade de coordenar as ideias e de agir conforme o entendimento sobre a realidade impede o reconhecimento da validade de qualquer manifestação de vontade por parte da pessoa alienada ou débil mental. Assim, sendo o aborto provocado por terceiro em gestante alienada ou débil mental, será presumida a falta do consentimento, configurando, igualmente, o delito do art. 125 (Art. 126, parágrafo único)
Sujeito ativo
O sujeito ativo do crime previsto no art. 125, CP pode ser qualquer pessoa. O tipo penal incriminador não indica nenhuma característica ou condição pessoal do agente executor da conduta, de modo que se trata de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Será, pois, sujeito ativo do crime de aborto provocado sem o consentimento da gestante, qualquer pessoa que dolosamente provocar a interrupção da gestação, causando a morte do nascituro, sem o consentimento da gestante.
Sujeito Passivo
Neste delito temos dupla subjetividade passiva (BITENCOURT: 2001) uma vez que figuram no polo passivo o nascituro, que tem sua vida ceifada pela conduta do sujeito ativo de provocar o aborto, e a gestante, que é alvitrada em sua vontade, sendo constrangida a se submeter ao procedimento ao qual ela não assentiu e ao resultado que, em tese, ela não desejava.
Objeto jurídico
Há também duplo objeto jurídico protegido pela lei penal. De um lado, a vida do feto. De outro, a integridade física e a liberdade da gestante.
Todavia, não se há que olvidar, conforme apontado por Bitencourt, a dupla polaridade passiva que se dá no crime em comento. A vida em formação do embrião ou feto é o bem jurídico protegido diretamente pelo tipo penal, o que se revela até mesmo por sua inserção no capítulo dos crimes contra a vida (GRECO: 2005), mas, também, a integridade física e psíquica da gestante, bem como sua liberdade individual, na medida em que é submetida ao procedimento invasivo e com a consequente morte do bebê que se formava em seu ventre sem o seu o consentimento.
Elemento subjetivo
O elemento subjetivo no crime de aborto provocado por terceiro é o dolo – vontade livre e consciente de provocar o aborto na gestante, interrompendo a gestação e provocando a morte do nascituro.
Admite-se a configuração do delito tanto pelo dolo direto (o agente quer provocar o aborto) ou pelo dolo eventual (o agente, com sua conduta, assume o risco de produzir o resultado). 
O delito não existe na modalidade culposa (NUCCI: 2008). Assim, se por negligência, imprudência ou imperícia o sujeito ativo der causa ao aborto sem o consentimento da gestante, não se configura o delito do art. 125, CP, podendo, eventualmente, caracterizar outro delito.
Consumação e tentativa
O crime se consuma com a morte do embrião ou do feto (NUCCI: 2008). Pouco importa se a morte de seu no interior do ventre ou como consequência da expulsão do feto do corpo materno.
Como o objeto material visado pela conduta do sujeito ativo é a vida do nascituro, pouco importa se a morte se dê ainda no ventre ou como consequência da expulsão.

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