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FAP AULA 07 Princípios Implícitos da Administração Pública

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AULA 07
PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1. INTRODUÇÃO
Os princípios constitucionais da Administração Pública estão inseridos no contexto mais abrangente 
dos princípios fundamentais, bem como os princípios implícitos que constituem os fundamentos da ação 
administrativa, ou, por outras palavras, os sustentáculos da atividade pública.
Os princípios não impõem coercitivamente qualquer conduta específica, mas determinam os 
fundamentos que alicerçam o agir humano. Essa característica é suficiente para distinguí-los das regras 
jurídicas, que impõe uma conduta determinada e contêm os elementos suficientes para disciplinar as 
circunstâncias e os efeitos de sua aplicação.
Verifica-se, portanto, que no exercício de uma atividade de natureza pública, convém observar os 
princípios constitucionais implícitos que regem a Administração Pública.
2. PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS
Destarte, os princípios explicitados no art. 37 da Constituição Federal, outros se extraem dos incisos e 
parágrafos do mesmo artigo, como o da licitação, o da prescritibilidade dos ilícitos administrativos e o da 
responsabilidade das pessoas jurídicas (inc. XXI e §§ 1.º a 6.º). Todavia, há ainda outros princípios que estão 
no mesmo artigo só que de maneira implícita, como é o caso do princípio da supremacia do interesse público 
sobre o privado, o da finalidade, o da razoabilidade e proporcionalidade. Vejamos alguns desses princípios.
a) Princípio da Finalidade
Significa que toda a atividade administrativa deve perseguir a finalidade de interesse público 
contemplada pela lei, que algumas pessoas chamam de espírito da lei. Como na finalidade da lei está o 
critério para sua correta interpretação e aplicação, qualquer ato que viole o princípio da finalidade é ato nulo, 
por violar a própria lei.
Toda atuação do administrador se destina a atender o interesse público e garantir a observância das 
finalidades institucionais por parte das entidades da Administração Indireta. A finalidade pública objetivada pela 
lei é a única que deve ser perseguida pelo administrador. A Lei, ao atribuir competência ao Administrador, tem 
uma finalidade pública específica. O administrador, praticando o ato fora dos fins, expressa ou implicitamente 
contidos na norma, pratica desvio de finalidade ou desvio de poder.
Os vícios de finalidade ou do fim dos atos administrativos escondem a intenção do administrador sob 
a capa da legalidade. Assim são demonstrados, mediante prova irrefutável, que permitem o controle 
jurisdicional da medida viciada, por desvio de poder, acarretando a anulação do ato. Dessa forma, o que vicia 
o ato, inquinando-o de desvio de poder, é o fim privado, isto é, a vontade distorcida do agente público que 
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UnB)
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS (FACE)
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO (ADM)�
DISCIPLINA CÓDIGO CRÉDITOS TURMA PERÍODO PROFESSOR
FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 200794 04 B 2016/1 MARCOS ALBERTO DANTAS
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deixa de ser administrador para tornar-se dominus, praticando ato com finalidade absolutamente incompatível 
com o espírito de objetividade e imparcialidade que deve nortear os atos do agente público.
Esse limite visa impedir que a prática do ato administrativo pudesse dirigir-se à consecução de um fim 
de interesse privado, ou mesmo de outro fim público estranho à previsão legal.
b) Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos
Pelo princípio da continuidade dos serviços públicos entende-se que o serviço público, sendo a forma 
pela qual o Estado desempenha funções essenciais ou  necessárias à coletividade, não podem parar. Por 
esse princípio o Estado é obrigado a não interromper a prestação dos serviços que disponibiliza.
Em razão de ter o Estado assumido a prestação de determinados serviços, por considerar que estes 
são fundamentais à coletividade, mesmo os prestando de forma descentralizada ou ainda delegada, deve a 
Administração, até por uma questão de coerência, oferecê-los de forma contínua, ininterrupta.
O serviço público destina-se a atender necessidades sociais, portanto, é com fundamento nesse 
princípio que nos contratos administrativos não se permite que seja invocada, pelo particular, a exceção do 
contrato não cumprido.
A exceção do contrato não cumprido é deixar de cumprir a obrigação em virtude da outra parte não ter 
cumprido a obrigação correlata. Nos contratos civis bilaterais pode-se invocar a exceção do contrato não 
cumprido para se eximir da obrigação.
Serviço público pode ser interrompido por situação emergencial resultante de uma imprevisibilidade 
ou, após aviso prévio, por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações. A situação emergencial 
deve ser motivada, pois resulta de ato administrativo.
Em relação à interrupção dos serviços, questão interessante se levanta na aplicação da eficiência e 
continuidade dos serviços prestados pela Administração em caso de inadimplência, havendo divergência 
jurisprudencial e doutrinária a respeito da possibilidade de corte de fornecimento dos serviços essenciais, 
notadamente quanto à aplicação da possibilidade legal de corte, preenchidos os requisitos previstos no artigo 
6º, § 3º, incisos I e II, da Lei n. 8.987/95, e da vedação expressa de corte de fornecimento em relação a tais 
serviços, prevista no artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor.
c) Princípio da Autotutela
A Administração Pública tem o dever de controlar seus próprios atos, devendo anular os atos 
praticados com ilegalidade e revogar os atos que se tornaram contrários ao interesse público. A autotutela se 
manifesta inclusive no controle de um órgão superior sobre um órgão inferior ou mesmo em face de uma 
entidade autárquica.
Em consequência desse Princípio da Autotutela, a Administração:
✓ não precisa ser provocada para reconhecer a nulidade dos seus próprios atos;
✓ não precisa recorrer ao Judiciário para reconhecer a nulidade dos seus próprios atos.
Tanto a Administração como o Judiciário pode anular um ato administrativo. A anulação gera efeitos 
“ex tunc”, isto é, retroage até o momento em que o ato foi editado, com a finalidade de eliminar todos os seus 
efeitos até então. 
Somente a Administração pode fazer a Revogação. Caso o Judiciário pudesse rever os atos por 
razões de conveniência ou oportunidade estaria ofendendo a separação dos poderes. A revogação gera 
efeitos “ex nunc”, pois até o momento da revogação o ato era válido.
Percebe-se que a autotutela administrativa é mais ampla que a jurisdicional em dois aspectos. Em 
primeiro lugar, pela possibilidade de a Administração reapreciar seus atos de ofício, sem necessidade de 
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provocação do particular, ao contrário do Judiciário, cuja atuação pressupõe necessariamente tal manifestação 
(princípio da inércia); por segundo, em função dos aspectos do ato que podem ser revistos, já que a 
Administração poderá reavaliá-los quanto à sua legalidade e ao seu mérito, ao passo que o Judiciário só pode 
apreciar, em linhas gerais, a legalidade do ato administrativo.
d) Princípio da Razoabilidade
Pelo princípio da razoabilidade, entende-se que a Administração deverá obedecer a critérios racionais 
em sua atuação, considerando o senso normal de indivíduos sensatos e respeitáveis como parâmetro para o 
exercício de suas funções. Desta forma, não se admite conduta excêntrica ou incoerente por parte do 
administrador, em obediência ao referido princípio.
Trata-se de um princípio aplicado como tentativa de impor limitações à discricionariedade 
administrativa, ampliando-se o âmbito de apreciação do ato administrativo pelo Poder Judiciário. Os poderes 
concedidos à Administração devem ser exercidos na medida necessária ao atendimento do interesse coletivo, 
sem exacerbações.
O Direito Administrativo consagra a supremacia do interesse público sobre o particular,
mas essa 
supremacia só é legítima na medida em que os interesses públicos são atendidos. Exige proporcionalidade 
entre os meios de que se utilize a Administração e os fins que ela tem que alcançar. Agir com lógica, razão, 
ponderação.
Os agentes públicos devem ser guiados, na tomada das decisões, um padrão socialmente aceito de 
conduta. Existe uma razoabilidade consensual, que é exatamente um padrão de conduta que a esmagadora 
maioria das pessoas aceita como correta ou razoável.
O Poder Público está obrigado, a cada ato que edita, a mostrar a pertinência (correspondência) em 
relação à previsão abstrata em lei e os fatos em concreto que foram trazidos à sua apreciação. Este princípio 
tem relação com o princípio da motivação. Se não houver correspondência entre a lei o fato, o ato não será 
proporcional.
e) Princípio da Proporcionalidade
O princípio da proporcionalidade pressupõe que os atos administrativos só serão válidos se exercidos 
na extensão e intensidade proporcionais ao atendimento do interesse público inerente a eles. Assim, o 
excesso na atuação administrativa não reverte em benefício de ninguém, configurando ilegitimidade por parte 
da Administração a adoção de medidas que ultrapassem o necessário para atender os fins de sua função.
É um desdobramento da Razoabilidade. Adotando a medida necessária para atingir o interesse 
público almejado, o Administrador age com proporcionalidade. E essa proporcionalidade deve ser medida não 
pelos critérios pessoais do administrador, mas segundo padrões comuns na sociedade em que vive; e não 
pode ser medida diante dos termos frios da lei, mas diante do caso concreto.
Todo sacrifício de direito e toda ação administrativa deve guardar uma relação proporcional entre 
meios e fins. Não pode um particular ser tolhido na sua esfera de direitos individuais de forma desproporcional 
ao interesse público que supostamente estará sendo contemplado; da mesma forma, não pode um interesse 
público de maior grandeza ser preterido a pretexto de que há amparo jurídico para o direito individual ou 
mesmo em razão das garantias constitucionais dos direitos individuais. 
Se por um lado há prevalência do interesse público sobre o interesse particular, por outro lado deve 
haver uma proporcionalidade no sacrifício dos direitos individuais para o benefício da coletividade. Um ato 
administrativo que proporcionalmente beneficie muito pouco a coletividade e prejudique muito um particular 
será um ato nulo, por violar o princípio da proporcionalidade.
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f) Princípio da Supremacia do interesse público
A supremacia do interesse público sobre os interesses privados significa que o Estado não pode servir 
unicamente aos interesses de determinadas classes sociais. O bem estar da coletividade deve ser perseguido, 
nem que para isso os direitos individuais e a propriedade devam ser definitiva ou temporariamente 
sacrificados. É a essência do regime jurídico administrativo.
Por essa razão, goza a Administração Pública de uma posição hierarquicamente superior em relação 
ao particular: a Administração tem uma série de privilégios que não seriam admitidos no direito privado. Além 
disso, os vários atributos do ato administrativo, que existem exatamente para que a Administração possa 
desempenhar de forma eficiente sua missão, decorrem dessa posição privilegiada e da supremacia do 
interesse público sobre o interesse particular.
Entende-se que as atividades administrativas efetuadas pelo Estado tem o objetivo de beneficiar a 
coletividade. Pode-se demonstrar essa afirmativa, quando observamos o conflito de um interesse particular 
com um interesse público coletivo, prevalecendo o interesse público.
Relembrando que o Estado começou essa política voltada para a sociedade com o advento do Estado 
de Bem Estar Social, que tinha como premissa atender ao interesse público. Ainda que o resguardo do 
interesse público seja realizado pelo Estado, em suas atribuições administrativas, importante ter em mente 
que ele o faz em nome da população, seu titular legítimo. Deve-se, portanto, diferenciar o interesse público do 
interesse puramente do aparelho estatal, sendo este um interesse secundário, enquanto aquele é primário.
Caso a Administração Pública não tenha por finalidade atingir o interesse público, incorre sua atuação 
como um desvio de finalidade, ou seja, como dito, tem que ter a finalidade de beneficiar o grupo social como 
um todo, e não um simples indivíduo.
g) Princípio da Indisponibilidade
Significa que os administradores não podem, em nome da Administração, renunciar aos interesses da 
Administração Pública, exatamente por serem da Administração Pública e estarem a serviço da coletividade e 
não de titularidade de qualquer agente público. 
O administrador público, portanto, tem o dever de zelar pelos interesses da administração, devendo 
agir de acordo com o disposto em lei. “A Administração não poder dispor dos serviços públicos, nem dos bens 
públicos que estão afetos”. 
Desse princípio decorre a ilegalidade da venda dos bens públicos, sem o preenchimento de 
determinados requisitos, bem como dele decorre a obrigatoriedade do concurso para o preenchimento de 
certos cargos públicos. É em virtude do princípio da indisponibilidade que a licitação se impõe antes da 
contratação administrativa.
Sendo o interesse público qualificado como próprio da coletividade, este não se encontra à livre 
disposição de quem quer que seja, por ser insuscetível de apropriação. Cabe à Administração Pública, e, 
consequentemente, aos seus agentes públicos, com relação aos interesses públicos, somente o dever de 
regular, administrar e preservar estes interesses em proveito dos administrados.
h) Princípio da Motivação
Motivação são as razões de fato e de direito que embasam a prática de um ato e devem ser 
expressas. Qualquer ato da Administração deve ser motivado. O agente público deve expor os motivos pelos 
quais tomou essa ou aquela decisão.
Cumpre esclarecer, desde logo, que não se confundem motivo e motivação. Todo ato administrativo 
tem de ter um motivo, uma razão pública na origem. No entanto, existe controvérsia quanto a se 
necessariamente todos os atos administrativos necessitam vir com motivação, entendida esta como a 
exteriorização do motivo.
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Os defensores da motivação acredita que a Administração está “obrigada” a motivar todos os atos que 
edita, pois quando atua representa interesses da coletividade. É preciso dar motivação dos atos ao povo, pois 
ele é o titular da “res publica” (coisa pública). O administrador deve motivar até mesmo os atos discricionários 
(aqueles que envolvem juízo de conveniência e oportunidade), pois só com ela o cidadão terá condições de 
saber se o Estado esta agindo de acordo com a lei. 
A falta de motivação leva à invalidação, à ilegitimidade do ato, pois não há o que falar em ampla 
defesa e contraditório se não há motivação. Os atos inválidos por falta de motivação estarão sujeitos também 
a um controle pelo Poder Judiciário.
i) Princípio da Isonomia
Significa que a Administração não pode conceder privilégio injustificado ou dar tratamento 
desfavorável a quem quer que seja. Todos os administrados estão, formalmente, em igual posição em relação 
à Administração Pública. Todos são iguais perante a lei.
A igualdade não exclui a desigualdade de tratamento indispensável em face da particularidade da 
situação. A lei só poderá estabelecer discriminações se o fator de descriminação utilizado no caso concreto 
estiver relacionado com o objetivo da norma, pois caso contrário ofenderá o princípio da isonomia.
Há várias concepções filosóficas para definir e legitimar a igualdade, dentre as quais menciona-se: o 
idealismo, a teoria da igualdade pelo nascimento e o realismo. Os idealistas sustentam que a igualdade é 
implícita aos homens. Isto é, o ser, em sentido lato, é detém a igualdade. Por outro
prisma, a teoria da 
igualdade pelo nascimento prega a existência da isonomia em razão da condição de nascimento, ou seja, os 
indivíduos nascem iguais e desiguais. Para os realistas a igualdade é um bem atribuído a todo homem, a toda 
pessoa humana. Todavia, reconhecem a existência das desigualdades sociais, políticas, econômicas que 
destroem progressivamente com o uso a consubstanciação da isonomia de fato.

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