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¹Acadêmica do terceiro semestre do curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo. RESENHA: “Um evento feliz” Naiara Barbosa Nierderauer de Brittes¹ O filme “Um evento feliz” (2012), conta a história do casal Bárbara e Nicholas, o momento em que iniciaram uma relação a dois, até que eles precisam amadurecer pois o bebê, (nomeada Léia) está para chegar. O casal se conheceu numa locadora, tiverem um relacionamento bem intenso. Num momento de paixão, eles decidem ter (fazer) um filho, mas não sabiam que o desejo ia chegar tão rápido e Bárbara se descobre grávida e precisa contar para Nico. O filme apresenta muito bem o que acontece em todo o período da gravidez, tendo a representação Bárbara, e bem no início a dúvida do casal, que são ainda muito jovens, de estarem preparados ou não para serem pais. Nicholas ainda trabalha na locadora e por isso aparentemente precisaria trocar de emprego por conta da condição financeira. Porém Nicholas tinha o sonho de ser cineasta. Já Bárbara estava fazendo mestrado e precisava escrever a tese. Durante a gravidez, Bárbara passa por momentos comuns e considerados normais para uma mulher, como por exemplo, mudança no papel e condição feminina: de mulher à mãe; as fases de ambivalência: sentir-se vigorosa e fértil e ao mesmo tempo angustiada e temerosa. Nesta nova fase, vem uma série de novidades, os cuidados que estando grávida, Bárbara precisa ter, como o que pode e o que não pode comer durante a gestação; o melhor carrinho de bebê para comprar; a decisão por saber o sexo do bebê, (Bárbara não queria saber mas, Nicholas queria), assim como experiências como escutar o coração no exame de ultrassom, o sentir “o bebe chutar” ou desejo de manter relações sexuais durante a gravidez por conta do aumento da quantidade de hormônios no organismo. Entretanto, Nicholas sentia que “poderia estar machucando o bebê” se mantivesse relações sexuais com Bárbara. ¹Acadêmica do terceiro semestre do curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo. Também são descritas por Bárbara, as sensações em relação a criança que ela gestara, como cita, em uma cena e é muito interessante: “Eu me sentia possuída, habitada por uma outra criatura, um alienígena, um estranho, que modificava e controlava meu corpo, um ser com suas próprias preferências e desejos que me controlavam por dentro. Ele me acordava todo dia bem cedo [...]”. Bárbara também se sente muito sozinha mesmo carregando um ser na barriga, ou mesmo sempre acompanhada de Nico, a mãe, ou amigos. Alterações corporais e as alterações bruscas no humor, como tristeza, irritabilidade também fazem parte das sensações apresentadas por Bárbara em seu período de gravidez. Há também o conflito externo, em que as pessoas que convivem com Bárbara, não a entendem e ela relata que eles os vê como “apenas um útero”. Isso pode ser exemplificado quando Bárbara e Nicholas vão à médica, e a doutora fala explicitamente que é uma menina referindo-se aos genitais do bebê, Bárbara comenta que não queria saber o sexo do bebê irritando-se facilmente com a médica e o namorado. Antecedendo o parto, Bárbara tem um sonho muito realista, que resume todo o medo que ela sentia durante a gravidez: ela está dormindo e ela sente que a bebê se mexe quando ela acorda (no sonho), ela chama por Nico, mas ele não responde (ela está aparentemente sozinha), então ela sai da cama com um pouco de dificuldade, e quando põe os pés no chão, sente que a casa está inundada, e assim ela tenta fugir e se afoga, e logo após o sonho, Bárbara já está no hospital e o nascimento de Leia está a caminho. Durante o parto, há dentro de Babi, uma mistura de sensações que se contradizem, medo, irritabilidade, angústia, dor. Bárbara tem muitas dificuldades logo após o parto, desde a saída do hospital, em que ela menciona em relação ao bebê: “E se eu não for com a cara dela?” sentindo-se impotente e insegura em relação a capacidade de cuidar da filha, ter que então cuidar da bebê sem enfermeiras por perto, a primeira amamentação, como segurar o bebê numa posição confortável para ambas. ¹Acadêmica do terceiro semestre do curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo. Chegando em casa Bárbara, começa a sentir as mudanças na rotina após a Léia nascer. Cuidar da casa, amamentar Léia ou tentar acalmá-la quando chora, e ao mesmo tempo construir uma boa tese para o mestrado, fazem parte dessa nova rotina. Sentindo- se exausta e com muito sono, Léia tenta buscar a ajuda da mãe para cuidar da bebê, pois Nico ainda parece ser um “adolescente”, porque ao mesmo tempo que cuida de Léia, está jogando videogame. Algumas partes interessantes que chamam a atenção de quem assiste ao filme revela-se na cena em que Bárbara está ocupada escrevendo a tese no computador e não consegue acalmar Léia que chora ao lado, porém ao começar a digitar, o barulho do teclado “acalma” a bebê. Outra cena que bem interessante, é quando Bárbara não consegue fazer Léia dormir, e a leva para o quarto do casal, Nicholas entretanto discorda ao dizer: “Será que é uma boa ideia?”, Nicholas pensa assim porque possui o aparelho psíquico atravessado pelo recalcamento, fazendo jus quando se aconselha aos pais, que a criança não deve coabitar o leito dos pais, porém Bárbara o convence: “Só por hoje”. Em uma cena que chama bastante atenção, Nicholas decide trocar as fraldas de Léia, ele fala “Ai ai ai como fede! [...] Chega a arder o nariz de tanto que fede!”, falando “mal” do cocô da filha.Bárbara escuta, e então ela diz que Léia vai ter problemas de prisão de ventre “como o pai” se ele continuar falando mal do cocô de Léia, e que a mãe de Nico teria “passado uma imagem muito feia do cocô” dele quando era pequeno e isso explicaria ele ter prisão de ventre na vida adulta. Então Nico começa a elogiar o cocô de Léia “esse é cocô mais cheiroso”. Há uma outra cena inusitada quando Bárbara conversa com a mãe sobre amamentação, e a avó de Léia disse que a sociedade obriga as mulheres a amamentar, então ela menciona o “Clube do Leite”, e Babi fica interessada. Nesse clube, as mulheres são a favor de amamentar, e quando Bárbara comenta que produz pouco leite, as integrantes dizem a ela que “a mamadeira é inimiga da amamentação”, porém concordam do bebê dormir junto, ou seja, coabitar o leito dos pais. Cada vez mais Bárbara e Nicholas se separam e as tentativas de continuarem sendo um casal só diminuíam pois tentavam manter relações mas não era tão intenso como no início e então Bárbara começou a passar mais tempo com Léia, e a considerava “o bem mais precioso”. ¹Acadêmica do terceiro semestre do curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo. O casal viajou de férias para tentar reaproximação, porém mesmo longe de Léia, Bárbara alucinava e a escutava chorando. No natal, é demonstrado que a relação dos dois não é mais tão intensa, porque Nico chega atrasado para o jantar, e Bárbara fica chateada, depois no outro dia de manhã, Bárbara pergunta o porquê de Nico não abrir o presente que ganhou dela e nesse momento (cena) começam uma discussão que dará fim ao relacionamento dos dois. O casal se separa, Bárbara sai de casa, e Léia passa um bom tempo apenas com o pai. Bárbara vai para casa da mãe, e lá ela “volta” a ser adolescente, que vai a festas com as amigas e bebe, porém não consegue se divertir totalmente porque ela agora é mãe, e os seus pensamentos e preocupações estão voltados para Léia. Durante o tempo que ficou longe de Léia, Bárbara sente muita falta da filha, e escreve um texto sobre a experiência de estar grávida que coincidentementeou não, ela dá o título de “Um evento feliz”, o título do filme. Alguns trechos são citados enquanto ela escreve: “Eu me sentia uma tartaruga de pernas pro ar, incapaz de voltar a andar sozinha”; “Não nascemos mãe, nos tornamos mãe, responsável pelo outro.” Então Bárbara está no bar, onde está esperando Nico e Léia, e nesse momento estava nevando, quando os dois chegam e os recentes pais começam a conversar, Nico diz que conseguiu a vaga na creche, e Bárbara diz que sentiu muita falta de Léia e a pega no colo, e comenta “Parece que não via ela há anos”. Nico diz que eles precisam conversar bastante, e a cena, apenas com uma música de fundo, vai se distanciando, e mostra Bárbara pegando algo na bolsa da mesma forma que fez na cena, em que conta a Nico que estava grávida justificando com o teste de gravidez positivo. Durante essa cena em que conversam, o filme acaba com um comentário extremamente relevante de Bárbara: “Eu adoraria acreditar que basta um olhar para saber que ainda existe amor, um amor grande demais para acabar assim. Tudo passa com o tempo, tudo. Mas o que fica, o que permanece por um grande mistério, é a vida.” O filme também retrata um pouco da história de Bárbara. Ela foi abandonada pelo pai aos 4 anos, e viveu com a irmã e a mãe, e isso faz Bárbara nem queira contar para a mãe que está grávida. Observa-se que pela conversa entre Bárbara e a mãe, que Babi, teve uma infância bem conturbada. Porém, logo depois que Léia nasce, o pai de ¹Acadêmica do terceiro semestre do curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo. Bárbara se comunica enviando uma filmadora e também via e-mail para tentar se reaproximar da filha e conhecer a neta, portanto através de vídeos, Bárbara mostra toda a angústia e decepção que sente pelo pai. Por isso que ao longo do filme e principalmente depois que Léia nasce, (na cena em que grava os vídeos para o pai), Bárbara usa da regressão a qual o ponto de fixação é o período em que foi abandonada pelo pai e criticando-o, inclusive rejeita bastante Nicholas e durante o período que ficaram juntos a relação deles esfria. Bárbara se apega bastante a Léia e tem dificuldades de se separar da bebê, apresentando com Léia uma relação simbiótica. Em uma cena, Bárbara comenta com Nicholas que não conseguiu vaga na creche, porém o que na verdade aconteceu é que ela não queria se separar de Léia. Trata-se de um filme muito interessante, e com uma análise minuciosa das cenas é possível afirmar que mostra de fato, o que um casal realmente vive quando passam pela experiência de uma gravidez não planejada, inclusive outros fatos, momentos e o cotidiano da vida de um casal. Nico e Babi infelizmente, não deram certo como casal, mas terão que manter uma relação boa de amizade, pois Léia os une como pais. O filme deixa uma incógnita de que Léia estaria grávida novamente, e que a relação dos dois poderia estar sendo renovada com a chegada de mais uma criança, um irmãozinho para Léia. REFERÊNCIAS: FAVERO, Altair Alberto; GABOARDI, Antônio (Coord). Apresentação de Trabalhos científicos: normas e orientações práticas. 5. ed. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2014. UM EVENTO FELIZ. Direção de Remi Bezançon. França: California Filmes, 2012. 1 DVD(107min), color. son. FICHA Técnica: Um evento feliz. Adoro Cinema. Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-138273/>
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