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vsenckJ' McCrae e osta: Teoria dos raços e dos Fatores Visão Geral da Teoria elos Traços e dos Fatores , Biografia ele nans ]. Eysenc/c / O Trabalho pioneiro de Raymond B. Catte/l ,.. Funelamentos da Análise elos Fatores ;;- Teoria de Fatores de Eysenck Critérios para Identificação dos Fatores Hierarquia da Organização Comportamental d- Dimensões ela Personalidade Extroversâo Neuroticisrno Psicoticismo "" Mensurando a Personaliclaele @- As Bases Biológicas da Personalidade ~ Personalidade como Previsor Personalidade e Comportamento Personaiidade e Doença <v Os Cinco Grandes Fatores: Taxonomia ou Teoria? <;;.- Biografias de RoiJert R. McCrae e Paul T. costa)r. <i:r Em Busca dos Cinco Grandes Fatores Descoberta dos Cinco Fatores Descrição dos Cinco Fatores ""' Evolução da Teoria elos Cinco Fatores Unidades da Teoria dos Cinco Fatores postulados Básicos <0 PesC/uisv. Relacionada Biologia e Personalidade 394 Capítulo 14 Eysenck, McCrae e Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores 395 14 Asorte e o acaso em geral desempenham um papel decisivo na vida das pessoas. Umevento fortuito dessa natureza ocorreu com um jovem alemão de 18 anos que havia deixado sua terra natal como conseqüência da tirania nazista. Mais tarde, ele se estabe- leceu na Inglaterra,' onde tentou matricular-se na Universidade de Londres. Era um leitor ávido, interessado tanto em artes quanto em ciências, mas sua primeira escolhacurricular foi a Física. No entanto, um acontecimento alterou o fluxo de sua vida e, conseqüentemente, o curso da história da psicologia. Com o objetivo de ser aceito na universidade, foi-lhe soli- citado que realizasse um exame de admissão, o qual ele fez após ter estudado durante um ano em lima faculdade de formação de técnicos. Após ter sido aprovado, matriculou-se confiante, na Universidade de Londres, planejando obter sua graduação em Física. No en- tanto, disseram-lhe que ele havia realizado o teste com as disciplinas erradas em seu exame de admissão e, deste modo, não estava apto para prosseguir na área de Física. Em vez de aguardar outro ano para realizar os testes corretos, ele perguntou se havia alguma outra disciplina científica para a qual estivesse apto a cursar. Quando lhe disseram que poderia cursar psicologia, ele perguntou: "Mas, afinal de contas, o que é psicologia?". Nunca havia ouvido falar naquilo, embora tivesse uma vaga idéia sobre psicanálise. Poderia a psicologia ser uma ciência? Contudo, ele não tinha muita escolha, exceto obter uma graduação em psicologia, de forma que imediatamente entrou. na universidade para graduar-se em uma área acerca da qual não conhecia praticamente nada. Anos mais tarde, o mundo da psicolo- gia conheceria Hans J. Eysenck, talvez o mais produtivo escritor da história da psicologia. Em sua autobiografia, Eysenck (1997b) simplesmente ressaltou que em virtude de eventos fortuitos como esses, "a sorte de alguém é decidida pela estupidez burocrática" (p. 47). Ao longo de sua vida, Eysenck lutou contra a estupidez burocrática e qualquer outro tipo de estupidez contra a qual viesse a se deparar. Em sua autobiografia, descreveu a si mesmo como "um moralista puritano (...) que não tolerava tolos (ou mesmo pessoas nor- malmente brilhantes) com satisfação" (Eysenck, 1997b. p. 31). Eysenck McCra. Visão Geral da Teoria dos Traços e dos Fatores Como a personalidade pode ser melhor avaliada? Por meio de testes padronizados? Ob- servações clínicas? Julgamentos de amigos e conhecidos? Os adeptos da teoria dos fatores utilizaram todos estes métodos e mais alguns. Uma segunda questão é: quantos traços ou disposições pessoais uma única pessoa apresenta? Dois ou trés? Meia dúzia? Algumas centenas? Mais de mil? A.o longo dos últimos 25 a 45 anos, vários indivíduos (CatteJl, 1973, 1983; Eysenck, 1981, 1997a) e varias equipes de pesquisadores (Costa e McCrae, 1992; McCrae e Costa, 2003; Tupes e Christal, 1961) adotaram a análise dos fatores para responder a estas questões. Atualmente, grande parte dos pesquisadores que estuda traços de personalidade concorda que cinco, apenas cinco e não mais do que cinco traços domi- I nantes continuam a emergir das técnicas da analise fatorial - procedimento matemático o .!') n ~ i para Isolar traços de personalidade a par til de uma infinidade de dados de teste ~ J_. ~v ~ ; Enquanto muitos teóricos de personalidade contemporâneos acreditam que CI11COé /V'-"V i um número magrco, os mais antigos, como Raymond B Cattell, descobriram rnuitos ou- -ç: - O _ P~ ~ rros traços de personalidade, e Hans J Eysenck insisua em que apenas três grandes fatores I~ ~ podem sei discernidos com uma abordagem de análise fatonal Alem d,SSO. vnnos que a abordagem de senso comum de Gordon Allport (ver Capítulo 13) produziu de cinco a dez fatores centrais na vida de cada indivíduo. Contudo, a grande contribuição de Allport para a teoria de traços pode ter sido sua identificação de aproximadamente 18 mil nomes Costa Personalidade e Cultura O Modelo dos Cinco Fatores nas Culturas Estabilidade de Traços Durante a Vida o Crítica à Teoria dos Traços e elos Fatores <);o- Conceito de Humanidaele <.Y Termos e Conceitos Essenciais ® 96 Parte IV TeoriasDisposicionais de traços de personalidade em um dicionário de língua inglesa completo. Estes nomes de traços foram a base para o trabalho original de Cattell, e continuam a proporcionar os fundamentos para os estudos recentes da teoria da análise fatorial. A técnica analítico-fatorial de Eysenck forneceu três fatores bipolares ou tipos gerais - extroversão/introversão, neuroticismo/estabiiidade e psicoticisrno/superego. A Teoria dos Cinco Fatores (freqüentemente chamada cinco grandes traçosjinclui neuro- ticismo e extroversão; mas também compreende abertura a experiências, sociabilidade e consciência da relevância .das tarefas. Estes termos apresentam ligeiras diferenças entre as equipes de pesquisa, mas os traços subjacentes são bem similares. Biografia deHans J. Eysenck Hans Jurgen Eysenck nasceu em Berlim, em 4 de março de.-1916, filho único de urna família ligada ao teatro: Sua mãe era Ruth Werner, uma estrela em ascensão quando ele nasceu. Ruth Werner posteriormente tornou-se urna estrela do cinema mudo alemão sob o nome de Helga Molander. O pai de Eysenck, Anton Eduard -Eysenck, era comediante, cantor e ator. Eysenck (199Ib) recorda: "[Eu] Via muito pouco meus pais, que se divorcia- ram quando eu tinba quatro anos, e que tinham muito pouco afeto em relação a mim, um sentimento que eu retribuía" (p. 40). , Após o divórcio dos pais, Eysenck foi viver com sua avó materna, a qual também era ligada ao teatro. Sua carreira promissora na ópera, porém,' havia sido abreviada por urna queda que a deixou incapacitada. Eysenck (l991b) descrevia sua avó corno "caridosa, afetuosa, altruísta e realmente muito boa para este mundo" (p. AO). Embora a avó fosse católica devota, seus pais não eram religiosos, e Eysenck cresceu em um ambiente livre de qualquer compromisso religioso formal (Gibson, 1981). Cresceu também com pouca disciplina imposta pelos pais e poucas restrições se- veras sobre seu comportamento. Seus pais não pareciam interessados em cercear suas ações, e sua avó mantinha uma atitude bastante tolerante em relação a ele. Essa negligên- cia benéfica é exernplificada por dois incidentes. No primeiro, o pai havia-lhe comprado uma bicicleta e prometido que o ensinaria a conduzi-Ia. "Ele me levou até o alto de uma colina, disse-me que eu tinha de sentar no selim e pressionar os pedais para fazer com que as rodas se movessem. Em seguida, afastou-se para soltar balões (...) deixando-me para aprender a andar de bicicleta por minha conta" (Eysenck, 1997b, p. 12). No segundo incidente, o adolescente Eysenck contou à avó que sairia para comprar cigarros, esperando que ela fosse proibi-Io. No entanto, ela disse apenas: "Se você gosta disso, faça-o de uma vez"(p. 14).De acordo com Eysenck, experiências ambientais como estas duas têm pouca relação com o desenvolvimento da personalidade.Para'ele, os-fatores-genéticõlstêm-muito mais impacto sobre o comportamento subseqüente do que as experiências da infância, ' 'Desta forma, sua criação tolerante não o ajudou nem impediu de tornar-se um famoso' .cientista com estilo próprio.' Ainda estudante, Eysenck não tinha medo de assumir posições impopulares, com freqüencia desafiando seus professores, especialmente aqueles com tendências militaris- tas. Eysenck era cético acerca de grande parte daquilo que lhe ensinavam e quase nunca hesitava em constrangê-los com seu conhecimento e intelecto superiores. Eysenck sofreu as privações de grande parte dos alemães no período posterior à Primeira Guerra Mundial, os quais enfrentavam urna inflação astronômica, desemprego em massa e falta de alimentos. O futuro de Eysenck não parecia mais brilhante mesmo Capítulo 14 Eysenck, McCrae e Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores 397 , após a ascensão de Hitler ao poder. Como condição para estudar física na Universidade de Berlim,informaram-Ibe que ele teria de filiar-se à polícia secreta nazista, uma idéia que julgou tão repugnante que decidiu deixar a Alemanha. Esse encontro com a direita fascista e seus embates posteriores com a esquerda radi- cal sugeriram a ele que o traço de rigidez de pensamento, ou autoritarismo, era igualmente predominante em ambos os extremos do espectro político. Mais tarde, Eysenck encontrou 'apoio científico para esta hipótese em um estudo que demonstrava que, embora os comu- nistas fossem radicais e os fascistas conservadores em uma dimensão da personalidade, com relação à dimensão da rigidez de pensamento versus a dimensão da flexibilidade de idéias, ambos os grupos eram igualmente autoritários, rígidos e pouco tolerantes com a ambigüidade (pensamento rígido) (Eysenck, 1954; Eysenck e Coulter, 1972). Como conseqüência da tirania nazista, Eysenck, aos 18 anos, deixou a Alemanha e mais tarde estabeleceu-se na Inglaterra, onde tentou matricular-se na Universidade de. Londres. Como vimos no texto de abertura do capítulo, ele voltou-se para a psicologia de modo completamente acidental. Naquela ocasião, o Departamento de Psicologia 'da Universidade de Londres era basicamente pró-Freudiano, mas também dava forte ênfase à psicometria, tendo Charles Spearrnan recentemente saído e sendo na época presidido por Cyril Burt. Eysenck recebeu grau de bacharel em 1938, quase na mesma ocasião em quese casou com Margaret Davies, uma cidadã canadense graduada em Matemática. Em 1940, conquistou seu doutorado na Universidade de Londres, mas, neste período, a Inglaterra e grande parte das nações européias estavam em guerra. Como cidadão alemão, ele foi considerado um inimigo estrangeiro e não foi aceito na Royal Air Force (sua primeira escolha) ou em qualquer outro destacamento das forças armadas. Em vez disso. sem nenhum preparo como psiquiatra ou psicólogo clínico, foi trabalhar no Mill Hill Emergency Hospital, tratando pacientes que sofriam de vários sintomas psicológicos, inclusive ansiedade, depressão e histeria. Eysenck, contudo, não . se sentia à vontade com grande parte das categorias de diagnóstico clínico tradicionais. Utilizando análise fatorial, ele descobriu que dois grandes fatores de personalidade - neuroticismo/estabilidade emocional e extroversãolintroversão - poderiam responder por todos os grupos de diagnóstico tradicionais. Estas idéias teóricas iniciais o levaram a publicar seu primeiro livro, Dimensions 01Personality (Eysenck, J 947). Após a guerra, tornou-se diretor do departamento de psicologia do Hospital Maudsley, e, posteriormente, assumiu o cargo de professor de psicologia na Universidade de Londres. Em 1949, viajou à América para examinar os programas de psicologia clínica nos Estados Unidos e no Canadá, com a idéia de estabelecer-se profissionalmente como psicólogo clínico na Grã-Bretanha. Conseguiu um cargo de professor visitante da Uni- versidade da Pensilvânia entre 1949-1950, mas passou grande pane daquele ano viajando pelos Estados Unidos e Canadá analisando programas de psicologia clinica, os quais jul- gou serem totalmente inadequados e não-científicos (Eysenck, 1980, 1997b). Eysenck e sua mulher distanciavam-se cada vez mais, e seu casamento não melhorou nada com o fato de sua companheira de viagem ter sido Sybil Rostal, uma linda psicóloga quantitativa. Ao retomar para a Inglaterra, Eysenck obteve o divórcio de sua primeira es- posa e casou-se com Sybil. Haos e Sybil Eysenck foram co-autores de diversas publicações, e de seu casamento nasceram três filhos e uma filha. O filho de Eysenck de seu primeiro casamento, Michael, é um autor bastante conhecido de artigos e livros de psicologia. Após retomar da América do Norte, Eysenck abriu um departamento de psicologia clínica na Universidade de Londres e. em 1955, tornou-se professor de psicologia. Nos I. j. i f ), I "". " Parte IV Teorias Disposicionais Estados Unidos, havia começado a escrever The Structure of Human Personality (1952b), no qual defendia a eficácia da teoria da análise fatorial como o melhor método para repre- sentar os fatos conhecidos da personalidade humana. Eysenck talvez tenha sido o escritor mais prolífico da história da psicologia, tendo publicado aproximadamente 800 artigos jornalisticos ou capítulos de livros e mais de 75 livros'. Várias destas obras apresentam títulos de apelo popular, tais como Uses and Abu- ses of Psychology (1953); The Psychology of Politics (1954, 1999); Sense and Nonsense in Psychology (1956); Know Your Own IQ (1962); Fact and Fiction in Psychology (1965): Psychology 1s About People (l972bj; You and Neurosis (l977b); Sex, Violence and lhe Media (com D. K. B. Nias, 1978); Smoking, Personality, and Stress (1991c); Genius. The Natural History of Creativity (1995); e lntelligence: A New Look (l998a). A abrangência de interesses de Eysenck era excessivamente ampla, e sua disposição . para tomar parte em praticamente qualquer polêmica era lendária. Ele era uma pedra no sapato em relação à consciência da psicologia desde que ingressou em suas fileiras. Incomodava muitos psicanalistas e outros terapeutas do início dos anos 1950 com sua alegação de que não havia evidência sugerindo que a psicoterapia fosse mais eficaz do que a remissão espontânea. Em outras palavras, as pessoas que não recebiam nenhuma terapia tinham tanta probabilidade de apresentar melhoras quanto as que se submetiam a uma psicoterapia cara, dolorosa e prolongada com psicanalistas e psicólogos treinados (Eysenck, 1952a). Eysenck manteve esta crença por toda sua vida. Em 1996, confidenciou a um entrevistador que "as psicoterapias não são mais efetivas do que (...) tratamentos com placebo " (Feltham, 1996, p. 424). Eysenck não hesitava em assumir uma posição impopular, tal corno a testemunhada em sua defesa de Arthur Jensen, cuja alegação sustentava que as pontuações de QJ não po- diam ser incrementadas de forma significativa por meio de programas sociais bem-intencio- nados porque eram determinadas principalmente pela genética. O livro de Eysenck, The IQ Argument (1971) era tão polêmico que grupos nos Estados Unidos "ameaçaram incendiar as livrarias que ousassem colocar o livro à venda; jornais "liberais" conhecidos se recusaram a fazer resenhas; e o resultado foi que na terra da livre expressão era praticamente impossível descobrir a existência do livro ou comprá-lo" (Eysenck, 1980, p. 175). Em 1983,'Eysenck aposentou-se como professor de psicologia do Instituto de Psi- quiatria da Universidade de Londres e como psiquiatra sênior dos hospitais Maudsley e Bethlehem Royal. Durante dez anos ocupou a posição de professor emérito da Universi- dade de Londres, até morrer, vítima do câncer, em 4 de setembro de 1997. Eysenck, que freqüentemente afirmava que o fumo não era um fator de riscopara o câncer, foi um fumante inveterado até a meia-idade, quando abandonou o hábito de fumar por acreditar que ele afetava seu desempenho no jogo de tênis. Durante seus últimos anos, sua pesquisa continuou a considerar vários tópicos, incluindo criatividade (Eysenck, 1993, 1995; Frois e Eysenck, 1995), intervenções com- portamentais em câncer e doenças cardíacas (Eysenck, 1991d, 1996; Eysenck e Grossarth- Maticek, 1991) e inteligência (Eysenck, 1998a). Eysenck recebeu diversos prêmios, inclusive o Distinguished Contributions Award for the lnternational Society for the Study oflndividual Differences, do ano de 199i. A Arnerican Psychological Association agraciou-o com o Distinguished Scientific Award (1998), a Presidential Citation for Scientific Contribution (1993). o William Jarnes Fellow Award (1994) e o Centennial Award for Distinguished Contributions to Clinical Psycnology (1996). Capítulo 14 Eyscnck. McCrae e Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores 399 o Trabalho Pioneiro de Raymond B. CatteLL Uma figura importante nos primeiros anos da psicometria foi Raymond B. Cattell (1905- 1998), que nasceu na Inglaterra, mas passou grande parte de sua carreira nos Estados Unidos. Cattell não tinha uma influência direta sobre Eysenck; pelo contrário, os dois tinham abordagens muito distintas para a mensuração da estrutura da personalidade. {Çon- si~@iliLque a familiaridade com a t~a.-de..~.Qs..Jie_Cª1t.e:lLa.ume.ntut...l:illIl.pr<;~elJ.São.. da teoria dos três fatores de Ev~enck, discutire~!:§Y_'llilffil:!<..!Urabªlho o:I§....ǪlL~llo c.ompararemas30.Jrabalho,de.E ysen çk. ---Ei;;'p-;;;~Tro lugar, Cattell utiE~oL;.L1PLm.étodo indutivopara coleta de dados, ou seja, começou sem nenhum -Vírs;;;econcebido acerca do número ou dos nomes de traços ou de tipos. Por outro lado, Eysenck utilizou raciocínio dedutivo para identificar os três fatores de 'personalídade. Ou seja, tinha algumas hipóteses preconcebidas em mente antes de começar a reunir dados. Em segnndo lugar, Cattcll serviu-se de trés meios distintos de observação para exa- minar as pessoas a parti r do maior número possível de ángulos. As três fontes de dados incluíam um registro da vida do indivíduo (dados L) derivado das observações feitas por outras pessoas; auto-relatos (dag"iõ Q)-obtidos a partir de questionários e de outras técnicas elaboradas para permitir que as pessoas realizassem descrições subjetívas de si próprias; e testes objetivos (dados Il.JJue avaliam desempenho, tais como inteligência, velocidade de resposta e outras variáveis similares elaboradas para desafiar ao máximo o desempenho do indivíduo. Em contraste, cada um dos três fatores bipolares de Eysenck é limitado às respostas dadas aos avaliadores. Estes auto-relatos limitamos procedimentos de Eysenck a fatores de personalidade. _ Em terceiro lugar, Cattell dividiu os traços em traços comuns (compartilhados por muitas pessoas) e traços únicos (singulares para cada indivíduo). Também distinguia os traços constitucionais dos traços indicadores, ou traços de superficie. Cattell ainda clas- sificou os traços em temperamento, motivação e habilidade. Os traços de temperamento estão associados à forma pela qual urna pessoa se comporta; a motivação relaciona-se às razões pelas quais alguém se comporta de uma determinada maneira e a habilidade refere-se à extensão ou à rapidez segundo a qual um indivíduo pode desempenhar suas atividades. Em quarto lugar, a abordagem multifacetada forneceu 35 traços primários ou de primeira ordem, que rnensuram essencialmente a dimensão do temperamento da perso- nalidade. Entre esses fatores, 23 caracterizam a população normal e 12 mensuram a di- mensão patológica. Os traços normais mais significativos e freqüenternente estudados são os 16 fatores de personalidade encontrados no Questionário de Dezesseis Fatores (l6 PF) de Cattell (1949). Em comparação, o Questionário de Personalidade Eysenck proporciona avaliações apenas para três fatores de personalidade. Em quinto lugar, enquanto Cattell avaliava um grande número de traços, Eysenck concentrava-se em tipos, ou snperfatores, que compõem vários traços inter-relacionados. Discutiremos os tipos e os traços em uma seção intitulada "Hierarquia da Organização Cornportamental". Fundamentos da Análise dos fatores Não é necessário um conhecimento abrangente das operações matemáticas envolvidas na análise fatorial para a compreensão das teorias da personalidade dos traços e dos fatores; mas uma descrição geral desta técnica pode ser útil para este objetivo. 400 Parte IV Teorias Dísposicionais \J-.Para utilizar análise fatorial, deve-se começar .pela elaboração de observações específicas de 'vários indivíduos. Estas observações são, então, quantificadas de alguma maneira; a altura é mensurada em metros e centímetros; o peso em quilos; a aptidão.em pontos de um -teste; o desempenho profissional com escalas de avaliação; e assim por diante. Considere que possuímos mil medidas como estas, obtidas em 5 mil pessoas. Nosso próximo passo é determinar quais dessas variáveis (pontuação) estão relacionadas a outras variáveis e.até que ponto. 'Para isso, calculamos o coeficiente de correlação entre cada variável e cada uma das outras 999 pontuações. (Um coeficiente de correlação é um procedimento matemático para expressar o grau de correspondência entre. dois cjlnjun- tos de pontuações). Correlacionar mil variáveis com outras 999 pontuações envolveria 499.500 correlações individuais (mil multiplicado por 999 e dividido por 2). Os resultados desses cálculos exigiriam uma tabela de intercorrelações, ou uma matriz, com mil linhas e mil colunas. Algumas destas correlações seriam elevadas e positivas.algumas-próximas de zero e outras, seriam negativas. Podemos observar, por exemplo;uma correlação alta- mente positiva entre comprimento de perna e altura, porque uma é uma medida parcial da outra. Também podemos encontrar uma correlação positiva entre a medição da habilidade de liderança e as pontuações relacionadas à segurança em situações sociais. Esta relação poderia existir porque cada um destes elementos faz parte de um traço subjacente mais básico - a auto confiança. Com rnil .variáveis definidas, nossa tabela de correlações seria extremamente difícil de manusear. -Neste ponto, recorremos à análise [atorial; que pode analisar um grande número de variáveis com um número muito menor de dimensões básicas. Estas dimensões mais básicas podem ser chamadas traços, ou seja, fatores que representam um agrupamento de variáveis intimamente relacionadas. Podemos encontrar, por exemplo, intercorrelações altamente positivas entre resultados de testes em Álgebra, Geometria, Trigonometria e Cálculo. Identificamos então um agrupamento de pontuação que po- deríamos chamar Fator M, que representa a habilidade matemática. De modo similar, podemos identificar inúmeros outros fatores, ou unidades de personalidade-derivados da análise fatorial. O número de fatores, obviamente, será menor do que o número original de observações. Nosso próximo passo será determinar até que ponto cada resultado individual contribui com os vários fatores. As correlações entre pontuações e fatores são chamadas de cargas fatoriais. Se os resu ltados para Álgebra, Geometria, Trigonometria e Cálculo contribuem significativamente com o fator M, mas não com outros fatores, eles terão car- gas fatoriais elevadas em relação a M. As cargas fatoriais nos oferecem uma indicação da pureza de vários fatores e nos capacitam a interpretar seus significados. Os traços gerados pela análise fatorial podem ser tanto unipolares quanto bipolares. Os traços unipolares são divididos em uma escala que vai de zero a uma quantidade expressiva. Altura, peso e habilidade intelectual são exemplos de traços unipolares. Por outro lado, os traços bipolares estendem-se de um pólo ao pólo oposto, no qual zero representa um ponto intermediário. lntroversão versus extroversão,liberalismo versus conservadorismo e ascenção social versus timidez são exemplos de traços bipolares. Para que os fatores definidos matematicamente tenham significado psicológico, os eixos sobre os quais assinalamos as pontuações normalmente são girados ou rotacionados em uma relação matemática específica entre eles. Esta rotação pode ser tanto ortogona! quanto oblíqua, mas Eysenck e os defensores da Teoria dos Cinco Grandes Fatores prefe- rem a rotação ortogonaJ. A Figura J4.1 demonstra que os eixos rodados ortogonalmente formam um ângulo reto entre si. À medida que as pontuações associadas à variável x aumentam, os resultados sobre o eixo y podem ter qualquer valor, ou seja, eles são com- pletamente dissociados das pontuações sobre o eixo x. '~:_. Capitulo 14 Eysenck, McCrae e Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores , ~---------------.-.- - - ~"....;...;..-,-~;.....:-::.....;;.....;...~.~ FIGUr..A 14.1 Eixos ortogonais. o método oblíquo, defendido por Cattell, considera certa correlação positiva ou negativa e refere-se a um ângulo menor ou maior que 90'. A Figura 14.2 descreve um diagrama de dispersão das pontuações em que x e y estão correlacionados positivamente entre si, ou seja', quando as pontuações relacionadas à variável x aumentam, os resultados sobre o eixo y apresentam, também, uma tendéncia de aumento. Note que a correlação não é perfeita; algumas pessoas podem obter uma pontuação alta na variável x e uma pon- tuação baixa na variável y e vice-versa, Uma correlação perfeita (r =1,00) resultaria em x e y ocupando a mesma linha. Em termos psicológicos, a rotação ortogonal normalmente resulta em apenas alguns poucos traços significativos, enquanto os métodos oblíquos ge- ralmente produzem um número maior. )!.. ~, .. .. .• • • x • e. e••••... . -<'-' , I. i, F1GURA 14.2 Eixos obliquos. . - - 402 Parte TV Teorias Disposicionais Teoria de Fatores de Eysenck A teoria da personalidade de Hans Eysenck apresenta fortes componentes psicométricos e biológicos. No entanto, Eysenck (i977a, 1997a) alegava que apenas a sofisticação psicorné- trica não bastava para mensurar a estrutura da personalidade humana e que as di1ensões da personalidade obtidas pelos métodos de análise fatorial são ineficazes e inócuas, a menos que tenha sido demonstrado que eles têm uma existência biológica. Critérios para Identificação dos Fatores Com esses pressupostos em mente, Eysenck enumerou quatro critérios para identificar um fator. Em primeiro lugar, deve ser estabelecida a evidência psicométrica para a existência do fator. Uma conseqüência para este critério é que o fator deve ser confiável e reprodu- zíveJ. Outros investigadores, de laboratórios diferentes, também devem ser capazes de encontrar o fator, e esses investigadores identificam de forma coerente a extroversão, o neuroticismo e o psicoticismo da teoria Eysenck. Um segundo critério é que o fator também deve possuir hereditariedade e deve encaixar-se em um modelo genético estabelecido. Este critério elimina características aprendidas, como a habilidade para imitar vozes de pessoas famosas ou uma crença po- lítica ou religiosa. Em terceiro lugar, o fator deve fazer sentido sob o ponto de vista teórico. Eysenck adotou o método de investigação dedutiva, iniciando com uma teoria e, em seguida, co- letando dados logicamente consistentes com ela. O critério final para a existência de um fator é que ele deve ter relevância social, ou seja, deve ser demonstrado matematicamente que os fatores derivados possuem uma relação (não necessariamente causal) com variáveis socialmente relevantes, como vício em álcool, propensão a lesões acidentais, excelência no desempenho esportivo, comporta- mento psicótico, crirninalidade e assim por diante. Hierarquia da Organização Comportamental Eysenck (1947, 1994c) adotou uma hierarquia da organização comportamental ou pensa- mentos em quatro níveis. No nível mais baixo estão atos 011 cogniçôes específicos: com- portamentos individuais que podem ou não ser característicos de uma pessoa. Um estu- dante que finaliza uma tarefa de leitura seria um bom exemplo de resposta específica. No segundo estão atos ou cognições habituais, ou seja, repostas que se repetem sob condições similares. Caso um estudante se mantenha freqüentemente em uma tarefa até terminá-Ia, este comportamento torna-se uma resposta habitual. Ao contrário das respostas específi- cas, as respostas habituais devem ser suficientemente confiáveis ou consistentes. Várias respostas habituais relacionadas formam um traço - o terceiro nivel de comportamento. Eysenck (1981) definia os traços como "importantes tendências de perso- nal idade aparentemente permanentes" (p. 3). Os estudantes teriam o traço da persistência se, por exemplo, completassem habitualmente as tarefas da disciplina e se mantivessem trabalhando em outros empreendimentos até que estivessem completos. Embora os traços possam ser identificados de modo intuitivo, os teóricos dos traços e dos fatores utilizam uma abordagem mais sistemática, isto é, a análise fatorial. Os comportamentos no nível de traço são obtidos pela análise das respostas no nível dos hábitos, da mesma forma que ij,:. i I Capitulo 14 Eysenck.McCrae e Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores Tipo: Traços: Hábitos: Comportamentos específicos: FIGURA 14.3 A organização comporramentaí em ações específicas, respostas habituais, traços e tipos. Além da persistência e da fobia social, outros traços como inferioridade, baixa atividade e seriedade de pensament.o contribuem para a introversão. as respostas habituais são matematicamente obtidas pela análise fatorial de respostas es- pecíficas. Os traços, então, são "definidos em termos de correlações significativas entre comportamentos habituais distintos" (Eysenck, 1990, p. 244). Grande parte dos 35 traços originais primários normais e anormais de Cattell encontra-se neste terceiro nível de or- ganização, o que explica o fato de ele ter identificado muito mais dimensões de personali- dade do que as apontadas por Eysenck e os defensores da Teoria dos Cinco Fatores. Eysenck concentrou-se no quarto nível, o dos tipos, ou superfatores. Um tipo é com- posto vários traços inter-relacionados. A persistência, por exemplo, pode estar relacionada a inferioridade, a um ajustamento emocional inadequado, à fobia social e a vários outros traços, todo o agrupamento constituindo o tipo introvertido. Cada um dos quatro níveis de organização comportamental é mostrado na Figura 14.3. i I I I I I I I J Dimensões da Personalidade Vimos que Eysenck e Cattell chegaram a um número diferente de dimensões de perso- nalidade porque trabalhavam em diferentes níveis de fatoração. Os 35 traços de CatteJl encontram-se todos no terceiro nível da estrutura hierárquica, enquanto os superfatores de Eysenck estão no quarto nível. Quantos superfatores gerais existem? Muitos teóricos fatoriais atuais insistem em que há ampla evidência de que cinco - nem mais, nem menos - fatores gerais emergirão de praticamente todas as análises fatoriais de traços de personalidade. Eysenck, no en- tanto, extraiu apenas três superfatores gerais. Suas três dimensões da personalidade são: extroversão (E), neuroticismo (N) e psicoticismo (P), embora ele não excluísse "a pos- sibilidade de que mais dimensões pudessem ser posteriormente adicionadas" (Eysenck, 1994c, p. 151). A Figura 14.4 demonstra a estrutura hierárquica de P, E e N de Eysenck. 403 Parte IV Teorias Disposicionais FIGURA 14.4 A estrutura hierárquica de P (psicoticismo), E (extroversão/introversão) e (neuroticismo) Fome: Eysenck H. J. Biological dimensions of personalny, ln: PERVIN, L.A. Handbook of personaliIy:theory and research. Nova York: Guilford Pren. 1990. p. 224-276. o neuroticismo e o psicoticismo não são limitados a indivíduos patológicos, embora as pessoas perturbadas tendam a obter pontuaçãomaior do que individuos normais nas escalas que avaliam estes dois fatores. Eysenck referia-se a estes três fatores como parte da estrutura de personalidade normal. Todos os três são bipolares, com a extroversão ocupando um extremo do Fator E e a introvcrsâo ocupando seu pólo oposto. Do mesmo :r;rªr; ·.t· Capítulo 14 Eysenck ..McCrae c Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores 405 modo, o fator N inclui o neuroticismo em um pólo e estabilidade em outro, e o fator P tem o psicoticismo em um pólo e a função superego em outro. A bipolaridade dos fatores de Eysenck não implica em que a maioria das pessoas está em um ou em outro extremo dos três pólos principais. Cada fator é distribuído de forma unimodal, e não em um formato bimodal. A extroversão, por exemplo, é normal- mente distribuída de forma equilibrada, quase da mesma forma que a inteligência ou a altura. Ou seja, grande parte das pessoas está próxima do centro, em uma distribuição em curva normal da extroversão. Eysenck afirmava que cada um destes três fatores satisfaz seus quatro critérios para a identificação de dimensões da personalidade. Em primeiro lugar, existem fortes evidéncias psicométricas para cada um deles, especialmente os fatores E e N. O Fator P (psicoricismo) emergiu mais tarde no trabalho de Eysenck, mas não foi levado a sério por outros pesquisadores até meados dos anos 1990 (Eysenck, 1997b). A extroversão e o neuroticismo (ou ansiedade) são fatores bási- cos em quase todos os estudos analítico-fatoriais da personalidade humana, inclusive as várias versões da teoria dos cinco grandes traços (Costa e McCrae, 1999, 2002; John e Srivastava, 1999). Em segundo lugar. Eysenck (1994b, 1994c) afirmava existir uma forte base bioló- gica para cada um de seus três superfatores. Ao mesmo tempo, alegava que traços como sociabilidade e consciência da relevância das tarefas, os quais fazem parte da taxonomia dos cinco fatores (John, 1990; W. T. Norman, 1963; Tupes e Christal, 1961), não têm um fundamento biológico subjacente. Em terceiro lugar, as três dimensões da personalidade de Eysenck teoricamente fazem sentido. Carl Jung (ver Capítulo 4) e outros reconheceram o efeito poderoso da introversão e da extroversão sobre o comportamento (Fator E), e Sigmund Freud (ver Ca- pítulo 2) enfatizava a 'importância da ansiedade (Fator N) em modelar o comportamento. Além disso, o psicoticismo (Fator P) está de acordo com os teóricos, como Abraham Mas- low (ver Capirulo 10), que sugeriu que a saúde psicológica varia da auto-atualização (uma pontuação P baixo) até esquizofrenia e psicose (uma pontuação P elevada). Em quarto lugar, Eysenck demonstrou repetidas vezes que seus três fatores relacio- navam-se com questões sociais. como uso de drogas (Eysenck, 1983), comportamentos sexuais (Eysenck, 1976), criminalidade (Eysenck, 1964, 1998b; Eysenck e Gudjonsson, (989), prevenção de câncer e de doenças cardíacas (Eysenck, 1991c, 1991d, Grossarth- Maticek, Eysenck e Verter, 1988) e criatividade (Eysenck, 1993). Extroversão No Capítulo 4, explicamos que Jung conceituou dois tipos amplos de personalidade, chamados de "extroversão" e de "introversão". Também notamos algumas diferenças entre suas definições e a noção proeminente desses dois termos. Jung via as pessoas ex- trovertidas como donas de uma visão objetiva e não-personalizada do mundo, enquanto os introvertidos tinham, essencialmente, uma forma individualizada ou subjetiva de olhar para as coisas. Os conceitos de Eysenck de extroversão e de introversão estão mais pró- ximos do uso popular. Os indivíduos extrovertidos são caracterizados primordialmente pela sociabilidade e impulsividade, mas também pela jocosidade, vivacidade, raciocínio rápido, otimismo e outros traços indicativos de pessoas que são recompensadas por sua associação com os outros (Eysenck e Eysenck, 1969). Os individuos introvertidos são caracterizados por traços opostos àqueles dos indi- viduos extrovertidos. Podem ser descritos como quietos, passivos, não-sociáveis, cuidado- sos. reservados, pensativos, pessimistas, pacíficos. sóbrios e controlados. De acordo com i } .! .--l ••., 406 Parte JV Teorias Disposicionais Eysenck (1982), no entanto, as principais diferenças entre extroversão e introversão não são comportamentais, mas sim de natureza biológica e genética. Eysenck (1997a) acreditava que a causa primordial das diferenças entre indivíduos extrovertidos e introvertidos estava associada ao nível de excitação coriical, uma condi- ção fisiológica essencialmente herdada e não aprendida. Como os extrovertidos têm um nível mais baixo de excitação cortical do que os introvertidos, eles apresentam patama- res sensoriais mais elevados e, dessa forma, têm uma reação menos intensa à estirnulação sensorial. Para manter um nível mais favorável de estimulação, os introvertidos, com seus patamares sensoriais congênitos baixos, evitam situações que produzem muita empolga- ção. Deste modo, os introvertidos evitam atividades como participar de grandes evento, sociais, esquiar, saltar de pára-quedas, praticar esportes de competição, presidir uma república de estudantes ou aplicar trotes. Por outro lado, como os extrovertidos normalmente tem baixos níveis de excitação cortical, necessitam de níveis mais elevados de estimulação sensorial para manter um nível mais favorável de estirnulação. Desta forma, os extrovertidos participam com mais freqüência de atividades empolgantes e estimulantes. Podem apreciar atividades como escalada em montanhas, apostas em jogos, guiar carros esportivos, ingestão de álcool e consumo de maconha. Além disso, Eysenck (1976) especulou que os extrovertidos, ao contrário dos introvertidos, iniciarão suas atividades sexuais de modo mais precoce, mais freqüentemente, com uma quantidade maior de parceiros, em um número ele posições mais variado, com uma variedade mais dilatada de comportamentos sexuais e desfrutarão de atividades preliminares pré-coito mais demoradas. Como os extrovertidos apresentam um nivel mais baixo de excitação cortical, no entanto, eles se acostumarão mais rapi- damente a estímulos mais fortes (sexuais ou de outra.natureza) e responderão cada vez menos aos mesmos estímulos, enquanto os introvertidos têm uma propensão menor a tornarem-se enfastiados ou desinteressados em relação às atividades rotineiras realizadas com as mesmas pessoas. Neuroticismo O segundo superfator obtido por Eysenck é neuroticismo/estabilidade (N). De modo similar à extroversão/introversão, o Fator N tem um forte componente hereditário. Eysenck (1967) relatou vários estudos em que foram encontradas evidências de uma base genética para tra- ços neuróticos, corno ansiedade, histeria e transtornos obsessivo-compulsivos. Além disso, encontrou uma concordância maior entre gêmeos idênticos do que entre gêmeos fraternos em relação a vários comportamentos anti-sociais e associais como crimes adultos, distúrbios de comportamento infantil, homossexualidade e alcoolismo (Eysenck, 1964). As pessoas que pontuaram alto em neuroticismo em geral tiveram uma tendência para manifestar reações emocionais exageradas e demonstraram dificuldade para retomar a um estado normal após um quadro de excitação emocional. Elas reclamavam continua- mente de sintomas físicos, como dores de cabeça e nas costas, e de problemas psicológicos vagos, como preocupações e ansiedades. O neuroticismo, contudo, não sugere necessaria- mente uma neurose no sentido tradicional do termo. Aspessoas podem obter pontuações elevadas em neuroticismo e estar livres de quaisquer sintomas psicológicos debilitantes. Eysenck aceitava o modelo de estresse-díátese de doenças psiquiátricas, o qual sugere que algumas pessoas são vulneráveis à doença por terem uma fraqueza genética ou adquirida, que as predispõem à doença. Esta predisposição (diátese) pode interagir com o estresse para produzir um distúrbio neurótico. Eysenck considerava que as pessoasna extremidade saudável da escala N têm a capacidade de resistir a um distúrbio neurótico Capítulo] 4 Eysenck, McCrae e COSta: Teoria dos Traças e dos Fatores 407 Neuroticismo o ""~~-----------------+---------------e"oE mx ~ '"ü: !l>'o FIGURA 14.5 Um esquema bidimensional descrevendo vários pontos extremos nas escalas E e N de Eysenck. Estabilidade mesmo em períodos de extremo estresse. Os indivíduos com pontuações N elevadas, no entanto, podem sofrer uma reação neurótica, como conseqüência de um nível minimo de estresse. Em outras palavras, quanto maior for a pontuação de neuroticismo, menor será o nível de estresse necessario para desencadear um transtorno neurótico. Uma vez que o neuroticismo pode estar combinado a diferentes pontos na escala de extroversão, uma única sindrorne não pode definir o comportamento neurótico. A técnica de análise fatorial de Eysenck considera a independência dos fatores, o que significa que a escala de neuroticismo está nos ângulos retos (significando correlação zero) em relação à escala de extroversão. Assim. várias pessoas podem ter pontos elevados na escala N e ainda assim demonstrar sintomas bem distintos, dependendo de seu grau de introversão ou de extroversão. A Figura 14.5 mostra que o pólo extroversãolintrovesão tem correlação zero com o pólo neuroticismo/estabilidade. Considere as pessoas A, B e C, todas com pon- tuações igualmente altas na escala de neuroticismo, mas representando três pontos distin- tos na escala de extroversão. A pessoa A, um introvertido neurótico, é caracterizada por ansiedade, depressão, fobias e sintomas obsessivo-compulsivos; a pessoa B, com índices elevados de neuroticismo e valores apenas medianos em extroversão, tem uma propensão maior de ser caracterizada por histeria (um distúrbio neurótico associado a instabilidade emocional), sugestionabilidade e sintomas somáticos; a pessoa C, um indivíduo neurótico extrovertido, talvez manifestará características psicopatas, como tendências para crimi- nalidade e delinqüência (Eysenck, 1967, 1997a). Considere, também, as pessoas A, D e E, todas igualmente introvertidas, mas com três níveis diferentes de estabilidade emocional. A pessoa A é o indivíduo neurótico introvertido que acabamos de descrever; a pessoa D é igualmeme inrrovertida, mas não é nem muito neurótica nem emocionalmente estável; e a pessoa E é tanto extremamente introvertida quanto psicologicamente estável. A Figura 14.5 apresenta apenas cinco pessoas, as quais apresentam, todas elas, pelo menos uma pontuação extrema. A. maior parte das pessoas, obviamente, pontuaria próximo à média tanto em extroversão quanto em introversão. À medida que as pontua- ções movem-se na direção dos limites externos do diagrama. tornam-se cada vez menos freqüentes. da mesma forma que as pontuações das extremidades de uma curva normal são menos freqüentes do que aquelas próximas ao ponto médio. Parte IV TeoriasDisposicionàis Psicoticismo A teoria da personalidade original de Eysenck baseava-se apenas em duas dimensões da personalidade -'extroversão e neuroticismo. Após vários anos de alusão ao psicoticismo (P) como um fator de .personalidade independente, Eysenck finalmente elevou-o a uma posição igual a de E e N (Eysenck e Eysenck, 1976). Assim.corno a extroversào e o neuro- ticismo, P é um fator bipolar, com o psicoticismo em umpólo e o superego em outro. In- divíduos com pontuações P elevadas são com freqüência egocêntricos, frios, desajustados, impulsivos, hostis, agressivos, desconfiados, psicopatas e anti-sociais. Pessoas com índices baixos de psicoticismo (na direção da função superego) tendem a ser altruístas, altamente socializados, afetuosos, cooperativos, ajustados e convencionais (S. Eysenck, 1997). Anteriormente, havíamos visto que Eysenck aceitou o modelo de diátese-estresse para as pessoas com valores elevados na escala de neuroticismo, ou seja, o estresse e as pontuaçõesN elevadas combinam-se para elevar a vulnerabilidade das pessoas a dis- túrbios psicológicos. Este modelo também sugere que as pessoas que pontuam de forma significativa em psicoticismo e que também estejam sofrendo altos níveis de estresse têm uma chance maior de desenvolver um transtorno psicótico. Eysenck (1994) especulava que indivíduos com níveis elevados de psicoticismo têm mais "predisposição para su- cumbir ao estresse e para desenvolver doenças psicóticas" (p. 20). Este modelo de diátese- estresse sugere que indivíduos com pontuação P alta são geneticamente mais vulneráveis ao estresse do que os indivíduos com pontuações P baixas. Durante períodos de cstresse reduzido, os detentores de pontuações P altas podem viver normalmente, mas quando uma alta quantidade depsicoticisrno interage com níveis elevados de estresse, as pessoas tornam-se vulneráveis a transtornos psicóticos, Ao contrário, indivíduos com pontuações P baixas não são necessariamente vulneráveis a psicoses relacionadas ao estresse e pode- rão resistir a um"surto psicótico até mesmo em períodos de extremo estresse. De acordo com Eysenck (l994b, 1994c), quanto maior for a pontuação de psicoticismo, menor será o nível de estresse necessário para precipitar urna reação psicótica. O binômio psicoticismo/superego (P) é independente tanto de E quanto de N. A Figura 14.6.mostra cada um dos três fatores em ângulos retos em relação aos outros dois. Neuroticismo Introversão Superego __ /::~:~:/ F ",:- ",'" I,' ,,,,,, -: Psicolicismo -. Extroversão FIGURA 14.6 Estabilidade Esquema tridimensional descrevendo os escores de um indivíduo em cada uma das grandes dimensões de personalidade de Eysenck. « Capítulo 14 Eysenck. McCrae e Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores 409 (Como o espaço tridimensional não pode ser fielmente reproduzido em um plano bidimen- sional, solicitamos ao leitor que olhe para a Figura 14.6 corno se as linhas sólidas represen- tassem o canto de um cómodo onde duas paredes encontram o piso. Cada linha pode ser vista como se estivesse perpendicular em relação às outras duas.) A visão da personalidade de Eysenck, portanto, perm ite que cada pessoa seja avaliada de acordo com três fatores in- dependentes e que as pontuações resultantes sejam marcadas como se tivessem três coorde- nadas no espaço. A pessoa F na Figura 14.6, por exemplo, tem uma pontuação muito alta na escala de superego, moderadamente elevada em extroversão e próxima do ponto médio na escala neuroticismoiestabilídade. De modo similar. os resultados de cada pessoa podem ser assinalados no espaço tridimensional. Mensurando a Personalidade Eysenck desenvolveu quatro inventários de personalidade que mensuravam seus superfa- tores, O primeiro, o Maudsley Personality lnventory, ou MPI (Eysenck, 1959), avaliava apenas os fatores E c N e produzia certa correlação entre eles. Por isso, Eysenck criou um outro teste. o Eysenck Personality lnventory, ou EPL O EPI contém um escala de mentira (L) para detectar simulações, mas, mais importante, ela mensura a extroversão e a intro- versão independentemente, com uma correlação quase zero entre E e N (H. 1. Eysenck e B. G. Eysenck, 1964, 1968). O Eysenck Personalíty Inventory foi estendido a crianças entre 7 e 16 anos por Sybil B. G. Eysenck (1965), que desenvolveu o EPI Júnior. O EPI ainda era um inventário de dois fatores; portanto, dessa forma, Hans Eysenck e Sybil Eysenck (1975) publicaram um terceiro teste de personalidade, denominado o Eysenck Personality Questionnaire (EPQ), que incluía a escala de psicoticismo (P). O EPQ, o qual apresentava tanto urna versão adulta quanto infantil, é uma revisão do ainda publicado EPl. Críticas posteriores levaram ainda à outra revisão, o Eysenck Personality Questionnaire - Revised (H. 1. Eysenck e S. B. G. Eysenck, 1993). As Bases Biológicas da Personalidade I 1 I. De acordo com Eysenck, os fatores de personalidade P, E e N têm, todos, determinantes biológicos extraordinários.Ele estimava que cerca de três quartos da variação das três dimensões de personalidades podem ser devidos à hereditariedade e um quarto a razões ambientais. Eysenck (1990) citou três linhas de evidência de um forte componente biológico na personalidade. Inicialmente, os pesquisadores (McCrae e Allik, 2002) descobriram fato- res praticamente idênticos entre pessoas de varias partes do mundo, não apenas na Europa Ocidental e na América do Norte, mas também em Uganda, Nigéria, Japão, China, Rússia e outros países africanos e europeus. Em segundo lugar, as evidências (McCrae e Costa, 2003) sugerem que os indivíduos tendem a manter sua posição ao longo do tempo em dife- rentes dimensões de personalidade. E, em terceiro lugar, os estudos de gêmeos (Eysenck, 1990) mostraram uma concordância maior entre gêmeos idênticos do que entre gêmeos fraternos do mesmo sexo criados juntos, sugerindo que os fatores genéticos desempenham um papel dominante na determinação das diferenças individuais da personalidade. Na teoria da personalidade de Eysenck, psicoticismo, extroversão e neuroticismo apresentam tanto antecedentes quanto conseqüências. Os antecedentes são genéticos e biológicos, enquanto as conseqüências incluem variáveis experimentais, corno experiên- Condicionamento Sociabilidade Sensitividade Criminalidad6 Excitação P Vigilância l-+ Criatividade DNA 1-+ do Sistema 1--+ E f.- Percepção Psicopatologia Umbico N Memória Comportamento Reminiscência Sexual Antecedentes Distais Determinantes genéticos de personalidade FIGURA 14.7 Parte TV Teorias Disposicionais Personalidade l Antecedentes Proximais Conseqüências Proximais Conseqüências Distais mtermediános biológicos Constelaçoes de traços psicométricos Estudos experimentais Comportamento social Um modelo dos principais componentes da teoria da personalidade de Eysenck. cias condicionantes, sensibilidade e memória, bem como comportamentos sociais. como, por exemplo, criminalidade, criatividade, psicopatologia e comportamento sexual. A Figura 14.7 nos mostra que P, E e N estão no meio de uma progressão de cinco etapas a partir do DNA até o comportamento social, nela os intermediários biológicos e a evidên- cia experimental baseiam-se nas três dimensões principais da personalidade. Em outras palavras, a personalidade apresenta determinantes genéticos que modelam indiretamente os intermediários biológicos e estes auxiliam a moldar P, E e N. Por outro lado, P, E e N contribuem para urna ampla variedade de aprendizados controlados, bem como para comportamentos sociais. Personalidade como Previsor o complexo modelo da personalidade de Eysenck apresentado na Figura 14.7 sugere que os traços psicométricos de P, E e N podem combinar entre si e com determinantes gené- ticos, intermediários biológicos e estudos experimentais para prever diversos comporta- mentos sociais, incluindo aqueles que contribuem para as doenças. Personalidade e Comportamento As três dimensões gerais de personalidade de Eysenck conseguem prever comportamen- tos? Segundo o modelo de Eysenck apresentado na Figura 14.7, psicoticismo, extroversão e neuroticismo devem nrever os resultados de estudos experimentais bem corno os com- portamentos sociais. Lembremo-nos que a teoria de Eyseuck afirma que " extroversão é um produto de baixa excitação cortical. Desta forma, introvenidos, comparados aos extrovertidos, deveriam ser mais sensíveis a uma variedade de estímulos e condições de aprendizado. Eysenck (1997a) alegava que uma teoria da personalidade efetiva deveria ser capaz de prever conseqüências tanto proximais quanto distais (ver Figura 14.7), e ele e seu filho, Michael (H. 1. Eysenck e M. W. Eysenck, 1985) citaram estudos que demonstraram uma demanda maior de extrovertidos por mudança e novidades tanto em estudos de labo- ratório quanto em estudos de comportamento social. Capítulo ]4 Eysenck, McCrae e Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores 411 Eysenck (1997a) ainda sustentou que muitos estudos psicológicos chegaram a conclusões equivocadas porque ignoraram os fatores de personalidade. Os estudos refe- rentes à educação, por exemplo, que comparavam a efetividade do aprendizado ativo ao aprendizado tradicional passivo, freqüentem ente produziram ou diferenças confiitantes ou nenhuma diferença. Eysenck acreditava que esses estudos não consideravam que as crian- ças extrovertidas preferem um aprendizado ativo e se saem melhor com este, enquanto as crianças introvertidas preferem um aprendizado de recepção passivo e se saem melhor nele. Em outras palavras, há uma interação entre dimensões de personalidade e estilos de aprendizado. Contudo, quando os investigadores ignoram esses fatores de personalidade, podem não encomrar diferenças na eficácia destes dois estilos de aorendizado. Eysenck (1995) também levanrou a hipótese de que o psicoticismo (P) se relaciona- ria à genial idade e à criatividade. Novamente, a relação não é simples. Muitas crianças apresentam habilidade criativa, não são ajustadas e têm idéias pouco ortodoxas; mas ao crescerem tornam-se pessoas não-criativas. Eysenck encontrou evidências de que essas pessoas não tinham a persistência dos indivíduos de pontuação elevada em P. As crianças com o mesmo potencial criativo, mas que demonstram níveis elevados de psicoticismo (P), são capazes de resistir ás críticas dos pais e dos professores e de monstrarem-se adultos criativos. Da mesma forma, Eysenck e S. B. G. Eysenck (1975) verificaram que indivíduos com valores elevados de pontuação tanto P quanto E têm uma probabilidade maior de serem problemáticos quando crianças. No entanto, pais e professores tendem a referir-se a crianças extrovertidas como marotos simpáticos e a perdoar suas transgressões, enquanto percebem os indivíduos com valores de P elevados corno mais maldosos, desordeiros e desagradáveis. Assim, os encrenqueiros com pontuações elevadas tendem a continuar' crescendo como adultos produtivos, ao passo que os problemáticos com pontuações P altos tendem a manter seus problemas de aprendizado. a envolver-se mais freqüentem ente com o crime e a apresentar dificuldades para fazer amigos (S. Eysenck, 1997). Mais uma vez, Eysenck acreditava de modo enfático que os psicólogos poderiam ser levados a erro caso não considerassem as várias combinações das dimensões da personalidade ao con- duzir suas pesquisas. I I \ I I I J. Personalidade e Doença Os fatores de personalidade podem prever a mortalidade por câncer e por doenças cardio- vasculares (DCV)? A partir do começo da década de 1960, Eysenck dedicou grande aten- ção a esse tema. Ele e David Kissen (Kissen e Eysenck, 1962) descobriram que as pessoas com baixas pontuações em neuroticismo (N) no Inventário de Personalidade Maudsley (Maudsley Personality lnventory) tendiam a suprimir suas emoções e eram muito mais propens~s do que os indivíduos com índices N elevados a receber um diagnóstico poste- nor de cancer de pulmão. Mais tarde, Eysenck juntou-se ao médico e psicólogo iugoslavo Ronald Grossartb- Maticek (Eysenck e Grossarth-Maticek, 1991; Grossarth-Maticek e Eysenck (1989); Grossarth-Maticek, Eysenck e Vetter, 1988) para investigar não apenas a relação entre personalidade e doença, mas também a eficiência da terapia de comportamento no prolon- gamento da vida de pacientes com câncer e DCV. Grossartb-Maticek havia utilizado um questionário breve e uma longa entrevista pessoal para distribuir as pessoas ao longo de quatro grupos ou tipos. O Tipo I incluía pacientes com uma reação não-emocional deses- perançada/desalentada ao estresse: as pessoas do Tipo II reagiam tipicamente à frustracão com raiva, agressividade e excitação emocional; as pessoas do Tipo III eram ambivalen~es, alternando-se entre reações típicas de pessoas do Tipo 1, e reações de indivíduos do Tipo 11 e, novamente de volta para o primeiro; os indivíduos oo Tipo IV referiam-seà sua própria Parte IV Teorias Disposicionais . ma I'mportante condiçãopara o bem-estar e a felicidade pessoais. Nóautonomia como u . . . .'. d .' 1 na'lu~osla'vI'a as pessoas do tipo J tinham uma probabilidade muito maiorestu o ongina , " , do que 'as demais para morrer de câncer e as pessoas, do tipo II dem?nstravam uma propen- são mais significàtiva para morrer de doenças cardíacas. Os individuos dos tIpOS 1II e IV apresentavam índices mais baixos de mortalidade causados por câncer e doenças card,~- vasculares. Grossarth-Maticek, Eysenck e Vetter reproduziram este estudo em Heidelberg, Alemanha, e encontraram resultados bastantes semelhantes. . Segundo ressaltou Eysenck (1996), este e outros estudos sobre o relac!On~mento entre personalidade e doença não provam que fatores psicológicos cO!:sam cancer e doenças cardíacas. Em vez disso, tais doenças são causadas por I~teraçao d,e diversos fatores. Para as doenças cardiovasculares, estes fatores Incluem histórico familiar, Idade, gênero, origem étnica, hipertensão, níveis de colesterol elevados-da ,lipoproteína de alta densidade (HDL), tabagismo, hábitos alimentares, sedentansmo e va~!Os,fatores d~ per- sonalidade. Para o câncer, os fatores incluem tabagismo, ahmentaçao, álcool, praticas sexuais, histórico familiar, origem étnica e fatores de personalidade (Brannon e Feist, 2004). Éysenck (1996) alegava que apenas o hábito de fumar não causava câncer ou DCV, mas que quando combinados ao estresse e a fatores de personalidade, contribui para a morte causada-pelas duas doenças. Eysenck et aI. (Marusic, Gudjonsson, Eysenck e Starc, 1999), por exemplo, desenvolveram um complexo modelo biopsicossocial para doenças cardíacas que incluíam 11 fatores biológicos e sete fatores psicossociais. Sua pesquisa com homens na Eslovênia confirmou a hipótese de que os fatores de personaltdade mteragem com diversos fatores biológicos para contribuir para as doenças cardíacas. Um exemplo de interação apresentado ocorre entre tabagismo, neuroticismo e reatividade emocional,. ou seja, indivíduos com pontuações P elevadas que fumam e reagem ao estresse com rarva, hostilidade e agressividade aumentam seus riscos de desenvolver doenças cardíacas. Os Cinco Grandes Fatores: Taxonomia ou Teoria? No Capítulo 1, definimos taxonornia como uma classificação de coisas segundo suas re- lações naturais. Também sugerimos que as taxonomias são um ponto de partida essencial para o avanço da ciência, ainda que não sejam teorias. Enquanto as t~onas produzem pesquisa, as taxonomias apenas proporcionam um sistema de classificação. A abordagem dos três fatores de Eysenck é um bom exemplo da forma pel~ qual uma teoria científica pode utilizar uma taxonomia para produzir centenas de hlpoteses. Na discussão subseqüente do Modelo dos Cinco Grandes Fatores de McCrae e Costa (FFM, sigla em inglês), veremos que seu trabalho iniciou como uma tentatlv,a de Identtfi l - car traços básicos de personalidade do modo como foram revelados pela análise faton~ .. Esse trabalho logo evoluiu para uma taxonomia e para o Modelo dos CInCOFatores. Apos um intenso trabalho adicional, esse modelo tornou-se uma teona; uma teoria que pode- ria, ao mesmo tempo, prever e explicar o comportamento. Biografias de Robert R. McCrae e Paul T. Costa Jr. Robert Roser McCrae nasceu em 28 de abril de 1949, em Maryville, Missouri, uma cidade de 13 mil habitantes localizada aproximadamente a 160 km ao norte da cidade de Kansas. Maryville é a sede da Northwest Missouri State, o maior empregador da cidade. McCrae, o mais jovem dos três filhos de Andrew McCrae e Eloise Elaine McCrae, cresceu com um Capitulo]4 Eysenck, McCrdc e Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores 413 grande interesse em Ciências e Matemática. Na ocasião de seu ingresso na Universidade Estadual de Michigan, havia decidido estudar filosofia. Bolsista da National Merit Scholar, ele, apesar disso, não estava completamente feliz com a natureza aberta e não-ernpirica da filosofia. Depois de formado, ingressou no programa de pós-graduação da Universidade de Boston, na área de psicologia. Considerando-se sua inclinação e talento para a matemática e as ciências, McCrae ficou intrigado com o trabalho psicométrico de Raymond Cattell. Ficou particularmente curioso acerca da utilização da análise fatorial para encontrar um método simples de identificação dos traços estruturais encontrados no dicionário. Na Uni- versidade deBoston, o principal professor de McCrae era Henry Weinberg, um psicólogo clínico com ·interesse apenas superficial em traços de personalidade. Desta forma, o inte- resse de McCrae em traços tinha de ser alimentado mais interna do que externamente. Durantes as décadas de 1960 e 1970, Walter Mischel (ver Capítulo 17) questionava a noção de que os traços de personalidade eram consistentes, alegando que a situação é mais importante do que qualquer traço de personalidade. Embora Mischel tenha, desde então, revisado sua posição sobre a consistência da personalidade, suas perspectivas foram aceitas por muitos psicólogos durante aquele período. Em um comunicado pessoal datado de 4 de maio de 1999, McCrae escreveu: "Eu freqüentei a escola de pós-graduação nos anos seguintes à critica de Mischel (1968) à psicologia dos traços. Muitos psicólogos daquela época foram preparados para acreditar que os traços não eram nada mais do que um conjunto de respostas, estereótipos ou funções cognitivas. Aquilo nunca fez sentido para mim, e minhas primeiras pesquisas experimentais mostravam uma extraordinária estabilidade em estudos longitudinais, o que encorajava a crença de que os traços eram reais e duradouros". Apesar disso, o trabalho de pós-graduação McCrae sobre traços era um empreendimento um tanto solitário conduzido de forma silenciosa e sem muito alarde. Como se revelaria mais tarde, esta abordagem silenciosa era muito adequada à sua perso- nalidade relativamente quieta e introvertida. Em 1975, quatro anos após o inicio de seu programa de Ph.D_, o destino de McCrae estava prestes a mudar. Foi enviado por seu orientador para trabalhar como pesquisa- dor-assistente com James Fozard, um psicólogo do desenvolvimento para orientação de adultos no estudo norrnativo do envelhecimento na Veterans Administration Outpatient Clinic, em Boston. Foi Frozard quem indicou McCrae a outro psicólogo da personalidade, Paul T. Costa Jr., que fazia parte do corpo docente da Universidade de Massachusetts, em Boston. Após McCrae completar seu Ph.D. em 1976, Costa contratou-o como diretor de pro- jetos e co-investigador principal para sua pesquisa sobre tabagismo e personalidade. Me- Crae e Costa trabalharam juntos nesse projeto por dois anos, até ambos serem contratados pelo Nationallnstitute on Aging's Gerontology Research Center, uma divisão do National lnstitutes for Health (NU-I), situado em Baltirnore. Costa foi contratado como chefe da seção sobre estresse e tolerância, enquanto McCrae assumiu o cargo de pesquisador sênior associado. Como a Gerontology Research Center já apresentava um amplo e bem esta- belecido conjunto de banco de dados sobre adultos, tratava-se do local ideal para Costa e McCrae investigarem a questão sobre como a personal idade está estruturada. Durante a década de 1970, com a sombra da infiuência de Mischel pairando pesadamente sobre o estudo da personal idade e com o conceito de traços sendo relegado quase à categoria de tabu, Costa e McCrae conduziram trabalhos sobre os traços que lhes asseguraram um papel de destaque na história de 40 anos da análise da estrutura da personalidade. Paul T. Costa Jr. nasceu em 16 de setembro de 1942, em Franklin. New Hampshire, filho de Paul T. Costa e Esther Vasil Costa. Formou-se na Clark University. em 1964, e também obteve os títulos de mestre (1968) e de Ph.D. (1970) em desenvolvimento humano na Universidade de Chicago. Seu interesse persistente pelas diferenças individuais e pela 14 ParteIV TeoriasDisposicionais natureza da personalidade aumentou bastante no ambiente intelectualmente estimulante da Universidade de Chicago. Enquanto esteve em Chicago, trabalhou com Salvatore R. Maddi, com quem publicou um livro sobre a teoria humanista da personalidade (Maddi e Costa, 1972). Após concluir seu Ph.D, lecionou por dois anos em Harvard e, então, entre 1973 e 1978, na Universidade de Massachusetts-Boston. Em 1978, começou a trabalhar no National Institute of Aging's Gerontology Research Center, tornando-se o chefe da seçào de Estresse e Enfrentamento e então, em 1985, chefe do Laboratório de Personalidade e Cognição. Naquele mesmo ano tornou-se presidente da Divisão 20 (Adult Development and Aging) da American Psychological Association. Em sua lista de realizações estão a posição de associado da American Psychological Association, em 1977, e a de presidente da International Society for the Study of Individual Differences, em 1995. Costa e sua esposa, Karol Sandra Costa, têm três filhos, Nina, Lora e Nicholas. A parceria de Costa e McCrae tem sido excepcionalmente produtiva, com a publica- ção de mais de 200 artigos científicos e capítulos e de vários livros, incluindo Emerging Lives, Enduring Dispositions (McCrae e Costa, 1984), Personality in Adulthood: A Five- Factor Theory Perspective, 2. ed. (McCrae e Costa, 2003) e Revised NEO Personality Inventory (Inventário de Personalidade NEO Revisado) (Costa e McCrae, 1992). Em Busca dos Cinco Grandes Fatores o estudo de traços foi iniciado originalmente por Allport e Odbert na década de 1930, prosseguido por Cattell nos anos 1940 e levado adiante por Tupes, Christal e Norman na década de 1960 (ver John e Srivastava, 1999, para um exame histórico do Modelo dos Cinco Grandes Fatores ou dos Cinco Grandes). No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, Costa e McCrae, tal como o maioria dos pesquisadores fatoriais, estavam construindo elaboradas taxonomias de traços de per- sonalidade, mas eles não utilizavam essas classificações para produzir hipóteses testáveis. Em vez disso, apenas empregavam técnicas analítico-fatoriais para examinar a estabili- dade e a estrutura da personalidade. Durante esse tempo, Costa e McCrae concentraram- se inicialmente nas duas grandes dimensões: neuroticismo e extroversão. Quase logo após descobrirem N e E, Costa e McCrae encontraram um terceiro fator. que chamaram de abertura a experiências. Grande parte do trabalho inicial de Costa e McCrae permaneceu centrado em torno destas três dimensões (ver, por exemplo, Costa e McCrae, 1976; Costa, Fozard e Bosse, 1976). Embora Lewis Goldberg tenha sido o primeito a utilizar o termo "Cinco Grandes", em 1981, para descrever as descobertas con- sistentes das análises fatoriais de traços de personalidade, Costa e McCrae continuaram seu trabalho sobre os três fatores. Descoberta dos Cinco Fatores Até 1983, McCrae e Costa defendiam um modelo de personalidade de três fatores. So- mente em 1985 começaram a relatar trabalhos a respeito de cinco fatores da personali- dade. Esse trabalho culminou em um novo inventário de personalidade de cinco fatores: o NEO-PI (acrônirno em inglês) (Costa e McCrae, 1985). O NEO-Pl era uma revisão de um inventário de personalidade inédito que mensurava apenas as primeiras três di- mensões: N, E, e O. No inventário de 1985, as duas últimas dimensões - sociabilidade e consciência da relevância das tarefas - ainda eram as escalas menos desenvolvidas, Capitulo 14 Eysenck. McCrae e Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores 415 sem nenhuma subescala associada a elas. Costa e McCrae (1992) passaram a desenvolver completamente as escalas A e C quando o NEO-PI Revisado apareceu em 1992. Ao longo dos anos 1980, Costa e McCrae (1985, 1989a) continuaram seu trabalho de analisar fatorialmente a maior parte dos outros grandes inventários de personalidade, inclusive o Myers-Briggs Type lndicator (Myers, 1962) e o Eysenck Personality inventor)' (H. Eysenck e S. Eysenck, 1975, 1993). Em uma comparação direta entre o seu modelo e o modele de Eysenck, por exemplo, Costa e McCrae verificaram que os primeiros dois fatores de Eysenck (N e E) são totalmente consistentes com seus dois primeiros fatores. A medida de psicoticismo de Eysenck explorou as extremidades da sociabilidade e COIlS- ciência da relevância das Tarefas, mas não se estendeu até a abertura a novas experiências (McCrae e Costa, 1985). Naquela mesma ocasião, havia duas questões significativas e mencionadas em pesquisas sobre personalidade. Em primeiro lugar, com dúzias de diferentes inventários de personalidades e centenas de escalas variadas, como poderia surgir uma linguagem comum? Todos tinham este ou aquele conjunto de variáveis de personalidade, de alguma forma idiossincráticos, tornando difícil a comparação entre estudos e o progresso cumu- lativo. De fato, segundo escreveu Eysenck (1991): Onde temos Iit.eralmente centenas de inventários incorporando milhares de traços, essencialmente sobrepostos, mas também contendo variações específicas, cada descoberta empírica é, em termos obsoletos, relevante apenas para um traço específico. Isto não é a forma de construir uma disciplina científica unificada. (p. 786) Em segundo lugar, o que é a estrutura da personalidade? Cattell defendia a existên- cia de 16 fatores, Eysenck, três, e muitos outros estavam começando a defender a existên- cia de cinco. A grande realização do Modelo dos Cinco Fatores (FFM, sigla em inglês) tem sido proporcionar respostas para ambas as questões. Desde o final da década de 1980 e o inicio da década de 1990, a maioria dos psi- cólogos da personalidade tem optado pelo Modelo dos Cinco Fatores (Digman, 1990; John e Srivastava, 1999). Os cinco fatores têm sido encontrados em diversas culturas, utilizando uma abundância de linguagens (McCrae e Allik, 2002). Além disso, os cinco fatores apresentam certa permanência ao longo da idade, ou seja, os adultos - na ausên- cia de doenças graves, como o mal de Alzheimer -, tendem a manter a mesma estrutura de personalidade à medida que envelhecem (McCrae e Costa, 2003). Essas descobertas levaram McCrae e Costa (1996) a escrever que "os fatos sobre a personalid.ade começam a encaixar-se" (p. 78). Ou, como McCrae e Oiiver John (1992) insistiam, a existência dos cinco fatores é "um fato empirico, tal como o fat.o de que há sete continentes Oll oito pre- sidentes americanos vindos da Virgínia" (p, J 94). (A propósito, não é um fato empírico a afirmação de que a Terra possui sete continentes: grande parte dos geógrafos considera a existência de apenas seis.) Descrição dos Cinco Fatores i I I I I J McCrae e Costa concordaram com Eysenck em que os traços de personalidade são bipola- res e seguem uma distribuição gráfica em forma de sino. Ou seja, grande parte das pessoas obtém pontuações próximas do meio em cada traço, sendo que apenas algumas pessoas pontuam nas extremidades. Como podem ser descritas as pessoas dos extremos? Neuroticismo (N) e extroversão (E) são os dois traços de personalidade mais fortes e presentes, e Costa e McCrae os conceituarn da mesma forma que Eysenck os definia. As pessoas com pontuações elevadas em neuroticismo tendem a ser ansiosas, ternperarnentais. 416 Parte IV TeoriasDispcsicicnais "-~'. 'TABELA 14..1 . Extroversão Modelo de Cinco Fatores de Personalidade de Costa e McCrae Pontuações Elevadas afetuoso sociável falador gosta de se divertir ativo apaixonado Neuroticismo ansioso temperamemal autopiedoso autoconsciente emotivo vulnerável Abertura a novas experiências imaginativo criativo original prefere a variedade curioso liberal Sociabilidade dócil confiante generoso tolerante flexível Conscíentização da Relevância das. Tarefas bondoso consciente esforçado organizado pontual ambicioso perseverante Pontuações Baixas reservado solitário quieto sóbrio passivo insensívelcalmo equilibrado autocontido despreocupado reservado ousado pragmático não-criativo convencional prefere a rotina discreto conservador cruel desconfiado avaro antagonista crítico irascível negligente preguiçoso desorganizado atrasado semmetas instável i :'.~. - "l-~-~~ 1 .i . I j V l- I ·1i I II. I ) i< -; .••:..J":-:- autopiedosas, autoconscientes, emotivas e vulneráveis a distúrbios associados ao estresse. Aquelas com Índices N baixos normalmente são calmas, equilibradas, autocontidas e não- emotivas. Os indivíduos com índices elevados em extroversão tendem a ser afetivos, joviais, falantes sociáveis e gostam de se divertir. Em contraste, as pessoas com pontuações E baixas têm uma propensão a serem reservadas, quietas, solitárias, passivas e incapazes de expressar emoções fortes (ver Tabela 14.1). Capitulo 14 Eysenck, McCrae e Costa: Teoria dos Traços e dos Fatores 417 A abertura a novas experiências distingue as pessoas que preferem a variedade daquelas que têm uma necessidade de reclusão e que obtêm conforto associando-se a coisas e pessoas familiares. Aquelas que buscam de forma coerente experiências diferen- tes e variadas obtêm pontuações mais elevadas na abertura a experiências. Por exemplo, experimentando novos itens do menu em um restaurante ou procurando restaurantes noVOSe estimulantes. Em contraste, as pessoas que não estão abertas a novas experiências permanecerão atreladas a um item familiar, um item qne sabem que agradará. As pessoas com pontuações elevadas em abertura a novas experiências também tendem a questionar os valores tradicionais, enquanto as com pontuçõesbaixas neste quesito tenderão a apoiar os valores tradicionais e a preservar um estilo de vida fixo. Em resumo, as pessoas com indices altos de abertura a experiências em geral são criativas, imaginativas, curiosas e liberais, além de terem urna preferência pela variedade. Por outro lado, as que apresentam pontuações baixas em abertura a novas experiéncias são geralmente convencionais, prag- máticas, conservadoras e carentes de curiosidade. A Escala de Sociabilidade distingue as pessoas generosas das cruéis. Aquelas que pontuam com relação à sociabilidade tendem a ser confiantes nos outros, generosas, fle- xíveis, tolerantes e controladas. Indivíduos que pontuam na outra direção geralmente são desconfiados, avaros, não-amigáveis, irascíveis e críticos em relação às outras pessoas. O quinto fator - conscientização da relevância das tarefas - descreve pessoas que são ordeiras, controladas, organizadas, ambiciosas, voltadas para a realização e autodis- ciplinadas. Em geral, os indivíduos que pontuam significativamente em C são dedicados, conscientes, pontuais e perseverantes. Por outro lado, as pessoas que obtêm pontuações baixas no tópico conscientização da relevância das tarefas tendem a ser desorganizaàas, negligentes, preguiçosas, sem metas e inclinadas a abandonar um projeto quando este fica difícil. Juntas. estas dimensões compõem os traços de personalidade do modelo dos cinco fatores, freqüenternente conhecido como "Cinco Grandes Fatores" (Goldenberg, 1981). EvoLução da Teoria dos Cinco Fatores Originalmente, os cinco fatores nada mais eram do que urna taxonomia, uma classificação de traços básicos de personalidade. No final da década de 1980, Costa e McCrae torna- ram-se confiantes de que eles e outros pesquisadores haviam encontrado uma estrutura estável de personalidade. Ou seja, haviam respondido a primeira questão central da perso- nalidade: o que é a estrutura de personalidade? Este avanço foi um marco importante para os traços de personalidade. O campo tinha agora uma linguagem comum e compartilhada para descrever a personalidade, e ela apresentava-se em cinco dimensões. Descrever os traços de personalidade, no entanto, não é o mesmo que explicá-Ios. Para explicar, os cien- tistas necessitam de uma teoria: e aquele seria o próximo projeto de McCrae e Costa. McCrae e Costa (1996) opunham-se às teorias anteriores sob a alegação de que elas baseavam-se excessivamente em experiências clínicas e especulação teórica. Durante os anos 1980, a polêmica entre as teorias clássicas e as teorias modernas embasadas em pesquisas havia se tornado explícita. Era claro para eles que "as velhas teorias não podem simplesmente ser abandonadas. Deveriam ser substituídas por urna nova geração de teo- rias que decorrem do conhecimento conceitual do passado e das descobertas empíricas cia pesquisa contemporânea" (p. 53). De fato, essa tensão entre o novo e o velho era uma das forças propulsoras por trás do desenvolvimento de uma teoria alternativa de McCrae e Costa, uma que ultrapassasse os limites da taxonomia dos cinco fatores. Qual, entâo. é a alternativa? O que poderia haver em uma teoria moderna dos tra- ços que estivesse faltando nas teorias clássicas? Segundo McCrae e Costa, em primeiro lugar e acima de tudo, uma nova teoria deveria ser capaz de incorporar a mudança e o us Parte IV TeoriasDisposicionais crescimento do campo que havia ocorrido ao longo dos últimos 25 anos bem como estar fundamentada em princípios empíricos atuais que haviam surgido das pesquisas. Por 25 anos, Costa e McCrae estiveram na linha de frente da pesquisa contemporâ- nea de personalidade, desenvolvendo e elaborando o Modelo dos Cinco Fatores. De acordo com McCrae eCosta (J 999) "nem o modelo em si nem as descobertas do corpo de pes- quisas aos quais ela está associada constituem uma teoria da personalidade. Uma teoria org~niza as descobertas para contar uma história coerente, para enfatizar tais questões e fenomenos que podem e devem ser explicados" (p. 139-140). Anteriormente, McCrae e Costa (1996, p. 78) haviam declarado que "os fatos sobre a personalidade comecam a encaixar-se. Agora é a ocasião para começar dar sentido a eia;". Em outras palavr~s, era tempo de transformar o Modelo dos Cinco Fatores (taxonomia) em uma Teoria dos Cinco Fatores (FFT, sigla em inglês). Unidades da Teoria dos Cinco Fatores Na teoria da personalidade de McCrae e Costa (1996, 1999 e 2003), o comportamento é previsto por meio da compreensão de três componentes centrais ou essenciais e de três componentes periféricos. Os três componentes centrais incluem: (I) tendências básicas. (2) adaptações características e (3) autoconceito. . Componentes Centrais da Personalidade Na Figura 14.8, os componentes centrais ou essenciais são representados por retângu- los, enquanto os periféricos são representados por elipses, As flechas representam o, proc.essos dinâmicos e indicam a direção da influência causal. A biografi; objetiva (ex- pertencias de VIda), por exemplo, é o resultado de adaptações características bem como de influências externas. Além disso, as bases biológicas são a única causa das tendências básicas (traços de personalidades). O sistema de personalidade pode ser interpretado tanto de forma transversal (o modo pelo qual o sistema opera em qualquer ponto ao longo do tempo) quanto de forma longitudinal (o modo pelo qual nos desenvolvemos ao 100"0 de nossas vidas). Ademais, cada influência causal é dinâmica, o que significa que sofre'"alte- ração no decorrer do tempo. Tendências Básicas Segundo a definição de McCrae e Costa (J 996), as tendências bá- sicas sã~ um dos componentes centrais da personalidade, juntamente com as adaptações caractensncas, autoconceito, bases biológicas, biografia objetiva e influências externas. McCrae e Costa definiram as tendências básicas como a matéria-prima universal das capacidades e disposições da personalidade que geralmente são deduzidas em vez de observadas. As tendéncias básicas podem ser herdadas, Impressas por experiências iniciais ou modificadas por doenças ou Intervenção psicológica, mas, em qualquer período da vida de uma pessoa, elas definem o potencial e a direção do indivíduo. (p. 66, 68) Nas primeiras versões de sua teoria, McCrae e Costa
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