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Beth Moyses e Berna Reale

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SUMÁRIO 
 
 
RESUMO................................................................................................................. 05 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 06 
 
1 BERNA REALE .................................................................................................... 09 
 
1.2 PRINCIPAIS PERFORMANCES ....................................................................... 12 
 
1.2.1 QUANDO TODOS CALAM. ............................................................................ 12 
 
1.2.2 PALOMO. ....................................................................................................... 13 
 
1.2.3 ORDINÁRIO ................................................................................................... 14 
 
1.2.4 LIMITE ZERO ................................................................................................. 15 
 
2 ELIZABETH DE MELO CAMARGO MOYSÉS. .................................................... 16 
 
2.1 PRINCIPAIS PERFORMANCES. ...................................................................... 17 
 
2.1.1 LEMBRANÇAS VELADAS ............................................................................. 17 
 
2.1.2 MEMÓRIA DO AFETO ................................................................................... 19 
 
2.1.3 INCUBADORA PARA ALMAS PREMATURAS. ............................................. 21 
 
2.1.4 MOSAICO BVRANCO POR 60 MULHERES ................................................. 22 
 
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 23 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 24 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho compõe a junção de biografia, trajetória artística e algumas 
das principais obras das artistas performistas Beth Moysés e Berna Reale. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
INTRODUÇÃO 
 
Na década de 1960 a performance artística surge como uma modalidade 
de manifestação artística interdisciplinar que (assim como o happening) pode combinar 
teatro, música, poesia ou vídeo, com ou sem público. Suas origens estão ligadas aos 
movimentos de vanguarda do início do século XX, onde se pregava a liberdade. Neste 
período a arte se torna autônoma, livrando-se da representação direta da natureza. 
Passa a usar a deformação, a abstração e a fragmentação (como exemplo tem-se o 
cubismo). Contudo, o que mais interessa nesse período são as movimentações e 
manifestos dos futuristas e dadaístas. Os futuristas eram famosos por suas 
manifestações que comumente acabavam em pancadaria e prisões. O dadaísmo é 
desmistificador dos valores constituídos, nega-se a si mesmo e reduz-se a pura ação. 
Segundo Rosangela Leote: 
 "Os futuristas assumiram o papel de deflagradores de uma certa 
postura que iria tornar-se performance". 
O termo performance remete a um evento no qual um grupo de artistas 
(ou artista) se comporta. É cuidadosamente elaborada e não envolve necessariamente 
a participação dos espectadores. Em geral, segue um "roteiro" previamente definido, 
podendo ser reproduzida em outros momentos ou locais. É realizada para uma plateia 
quase sempre restrita ou mesmo ausente e, assim, depende de registros - através de 
fotografias, vídeos e/ou memoriais descritivos - para se tornar conhecida do público. É 
uma arte híbrida porque carrega em sua totalidade características de outras 
linguagens, fazendo dessa forma, uma mistura de vários elementos e linguagens 
criativas numa mesma obra. 
A origem da palavra performance (também tendo como subjetivo o 
desempenho) vem da tradição egípcia primeiramente usada como um termo relativo às 
artes do espetáculo. A “Performancey” era um ritual de encontro de artistas itinerantes 
que no final de um longo dia de trabalho construindo pirâmides, se encontravam para 
praticar as mais diversas artes e se divertir. 
A performance é um dos meios de expressão mais difíceis de delimitar 
contornos específicos. Com a busca pela liberdade evitou-se a possibilidade de buscar 
conceitos que delimitassem até que ponto uma forma de expressão pode ser 
 
7 
considerada performance. Hoje estudiosos do teatro e de outras artes buscam essa 
conceitualização da palavra e do meio específico de arte. 
Segundo Davini (pág. 5): 
“A performance pode ser entendida como uma função, como um 
novo gênero, como uma fusão de gêneros, como um gênero multidisciplinar, 
como evento, como intervenção política ou ambiental, como ritual, ou como 
pura ação ou presença.” 
Davini diz ainda que a performance redefiniu a cultura ocidental em todos 
os campos. A arte, a política, o mercado, a teoria e a vida cotidiana têm sido renovados 
a través das perspectivas colocadas pelos estudos da performance, revelando a 
performatividade social e apagando, ao mesmo tempo, as fronteiras disciplinares. 
 Os elementos que compõe a arte da performance são o tempo o espaço, 
o corpo e o espectador. Mediante o reconhecimento destes elementos o performer 
(autor-ator) consegue criar uma infinidade de possibilidades sob um ponto de vista que 
articula a conexão ente o individual e o coletivo, e quanto mais complexa for a visão do 
mundo deste performer, mais consistente será seu processo criativo e o impacto 
cultural de suas performances. 
 Uma Instalação Artística (krafts) é uma manifestação artística 
contemporânea composta por elementos organizados em um ambiente. Pode ter um 
caráter efêmero, de “só existir na hora da exposição” ou pode ser desmontada e 
recriada posteriormente em outro local. Diferentemente do que ocorre tradicionalmente 
com as esculturas ou pinturas, a mão do artista não está presente na obra como um 
item notável. Uma instalação pode ser multimídia e provocar sensações táteis, 
térmicas, odoríficas, auditivas, visuais entre outras. 
O termo instalação foi incorporado ao vocabulário das artes visuais na 
década de 1960. No início do século XXI a instalação mantém-se como um gênero 
importante e muito difundido. Em virtude da sua flexibilidade e variedade, a sua 
conceituação tornou-se mais geral do que específica. Desde os anos 80, a voga da 
instalação leva ao uso e abuso desse gênero de arte em todo o mundo, o que torna 
impossível cobrir a produção recente. 
São obras criadas para despertarem inquietação em quem caminha pelas 
cidades, e que espelham um momento exato da sociedade. Expostas em espaço 
público para provocar o espectador a construir um olhar mais crítico, a instalação 
 
8 
artística modificou por completo todo o panorama das artes do fim do século XX e início 
do XXI. 
Entre as características principais da Instalação está a desconstrução de 
espaços, conceitos e ideias. Este estilo artístico surgiu em meio ao contexto da Arte 
Conceitual, ou seja, as instalações não permitem a criação de um conceito único, mas 
ganham significados a partir de sua essência e do que ela desperta em quem a vê. 
Neste contexto, destacamos as artistas Berna Reale e Beth Moysés, 
ambas performistas, e apresentaremos aqui, algumas de suas respectivas obras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
1. BERNA REALE 
 
Nasceu em 1965, Belém/PA. Cursou arte na Universidade Federal do 
Pará e participou de diversas exposições individuais e coletivas no Brasil e na Europa, 
como a Bienal de Cerveira (Portugal, 2005) e a Bienal de Fotografiade Liege (Bélgica, 
2006), além da exposição “Amazônia – Ciclos da Modernidade”, no Centro Cultural 
Banco do Brasil (Rio de Janeiro, RJ, 2012). 
Recebeu o grande prêmio do Salão Arte Pará, em Belém (PA, 2009), e foi 
selecionada para o “Rumos Visuais – Itaú Cultural” (2012-2013); participou da 
exposição “From the margin to the edge”, Somerset House, Londres (RU, 2012), 
“Boletim”, Galeria Millan, São Paulo (SP, 2013), “Vazio de nós”, Museu de Arte do Rio 
de Janeiro (RJ, 2013), “Cães sem Plumas”, Galeria Nara Roesler, RIo de Janeiro (RJ, 
2013), “Arquivo Vivo”, Paço das Artes, São Paulo (SP, 2013) e da I Bienal de Fotografia 
MASP- Pirelli, São Paulo (SP, 2013). 
Em suas performances e instalações, Berna Reale envolve seu próprio 
corpo ou aqueles que desejam participar da reflexão sobre o momento sociopolítico 
contemporâneo. 
 Em entrevista a Marcio de Oliveira Fonseca, Reale diz ter recebido 
influências de artistas como Mathew Barney, Tania Bruguera entre outros, no decorrer 
de sua formação. Considera-se uma artista que trabalha com questões do cotidiano, 
que atingem o coletivo, sendo a violência um dos seus grandes interesses. 
 Reale tornou-se perita criminal do Centro de Perícias Científicas do 
Estado do Pará e vive de perto as mais diversas questões de delito e conflitos sociais. 
Suas performances são pensadas com o objetivo de criar um ruído provocador de 
reflexão e questionamentos. Disse ainda em entrevista, que a arte contemporânea em 
Belém é difícil de ser produzida por não existir apoio. 
 Finalista do PIPA 2013. 
 Vencedora do PIPA Online 2012. 
 Indicada ao PIPA 2014. 
 Aos 45 anos, a paraense não tentaria mais uma vez. “Não pinto jangada, 
não fotografo ribeirinho. Tenho consciência de que não atendo ao paladar regionalista 
dos que querem um Norte de cartão-postal”, diz. 
 
10 
 Berna ficou conhecida em 2009 com a performance “Quando Todos 
Calam”, que dava bem a dimensão visceral de sua pesquisa: nua, ela passou uma 
tarde deitada em frente ao mercado Ver-o-Peso, em Belém. Os feirantes, silenciosos, 
viram os urubus das redondezas interagir com seu corpo, coberto por carne crua. “Os 
policiais estavam muito temerosos. Achavam que eu seria atacada.” Não foi. 
Acostumada a ter problemas com a polícia em suas intervenções de rua – como 
naquela em que foi retirada de um caminhão frigorífico e, amarrada a um suporte 
metálico, atravessou a capital paraense sem roupa –, Berna se sente acolhida e 
compreendida pelos espectadores. 
 Sua potência cênica finalmente a colocou no Rumos e, por tabela, na 
mostra que ocupa a sede do Itaú Cultural, em São Paulo, até 22 de abril. Estão 
expostas ali fotos da performance de 2009, além de uma série de retratos de 2011, 
protagonizada pela própria artista. Paulo Miyada, um dos curadores do Rumos, diz que 
o que chama a atenção na obra de Berna é a força narrativa das imagens. 
 Foi Miyada quem montou a nova série fotográfica, com quatro irônicas 
figuras. Os personagens (A Mulher, O Mito, A Morte e O Homem) ganharam molduras 
douradas, que remetem às pinturas dos viajantes do século 17, os primeiros criadores 
de tipos nacionais. Filha de uma índia, a artista carrega o sobrenome do pai, 
descendente de italianos que um dia devolveu a esposa à floresta. “Passei parte da 
juventude visitando a Amazônia profunda e sempre me incomodou o mito do índio que 
só quer o natural, que é imune à cultura, que vive melhor sem ela. É muito parecido 
com esperar que o artista do Norte faça cerâmica e nada mais”, cutuca. 
 Berna rejeita interpretações psicanalíticas, mesmo quando enfeita suas 
personagens femininas com projéteis recolhidos em cenas reais de assassinato – 
sempre sob a autorização do centro de perícias para o qual trabalha. Reale diz que 
teve uma infância dolorosa, um pai ciumento que trocou sua mãe por mulheres que 
mudavam de cara todo dia. Ele não a deixava ir à janela. Achava coisa de prostituta. 
Mas não lhe interessam os problemas pessoais. Cansou-se da arte usada como divã. 
O coletivo é importante e é seu tema. 
 Há a partir de 2011, uma mudança fundamental à dinâmica de suas 
performances. Suas ações passam à forma do movimento. Os trabalhos configuram-
se, desde então, como marchas, procissões, um caminhar pleno de significados, um 
mover-se que vai além do deslocamento, cujas razões parecem ter menos a ver com o 
 
11 
ponto onde se deseja chegar do que com o ato em si. As performances realizadas a 
partir de 2011 foram registradas em vídeo, em contraposição aos trabalhos anteriores, 
cuja memória se dá através da fotografia. Essa mídia continua presente no trabalho de 
rua da artista, mas relegada a segundo lugar, à posição de uma narrativa alternativa à 
principal. Não é fato, porém, que na arte contemporânea o vídeo exija movimento – são 
inúmeros os artistas que se apropriam dessa mídia das maneiras as mais diversas, 
muitas vezes criando obras que se aproximam da suspensão temporal e imobilidade. 
Se as performances passaram a configurar-se como marcha e deslocamento, então, é 
válido crer que não foi por exigência técnica da linguagem videográfica, e sim pela 
superação da restrição à condensação instantânea a que a artista estava presa na 
fotografia. 
 Berna rejeita interpretações psicanalíticas, mesmo quando enfeita suas 
personagens femininas com projéteis recolhidos em cenas reais de assassinato – 
sempre sob a autorização do centro de perícias para o qual trabalha. Ela é funcionária 
concursada de um instituto de medicina legal no Pará e se tornou perita em 
assassinatos. “Tive, sim, uma infância dolorosa, um pai ciumento que trocou minha 
mãe por mulheres que mudavam de cara todo dia. Ele não nos deixava ir à janela. 
Achava coisa de prostituta. Mas não me interessam os problemas pessoais. Estou 
cansada da arte usada como divã. O coletivo é muito mais importante, o coletivo é o 
meu tema.” 
 Berna diz ainda, que a violência é um banquete. Você não sabe se volta. 
Pode ser assaltado e perder a vida, na maior banalidade. Suas performances são 
pensadas e têm que ser planejadas, para mexer com a sociedade e passar a ideia que 
quer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
1.2 PRINCIPAIS PERFORMANCES 
 
 1.2.1 Quando todos calam (2009) 
 Berna ficou conhecida em 2009 com essa performance no mercado “Ver-
o-peso” em Belém. Berna entrega-se por toda uma tarde nua e coberta de vísceras aos 
urubus, que interagem com seu corpo. Este resiste às intempéries e às contingências 
da natureza por demais indiferente em seu poder para se importar com a sua 
fragilidade de gente. A matéria humana persiste, em sua fraqueza e efemeridade, face 
à grandiosidade do mundo e, principalmente, face aos horrores que motivaram tais 
performances, a barbárie oculta por detrás da civilização. “Os policiais estavam muito 
temerosos. Achavam que eu seria atacada”, conta Berna. Contudo, ela se diz acolhida 
e compreendida pelos expectadores. Berna disse que como estava ventando muito 
nesse dia, a toalha que cobre a mesa estava começando a cobrir seus pés. Um 
morador de rua aproxima-se e amarra a toalha com um fio de náilon, para que assim, 
“a fotografia fique mais bonita”. “Quando todos calam”, retira a violência do interior de 
quatro paredes, e de forma metaforizada expõe os vários ataques cometidos em 
segredo. O silêncio da “vítima/performer” é só comparável aos dos espectadores, que 
aceitam o seu papel inerte no espetáculo do ataque. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 ∙ Berna Reale (2009), Quando todos calam. Fotografia de performance, 100×150 cm 
 
 
13 
 1.2.2 Palomo (2012) 
 Filmada num amanhecer no centro da cidade quase deserto, com a maior 
parte dosestabelecimentos comerciais fechados e moradores dentro de casa. Quase 
remetendo para uma cidade onde foi decretado um recolher obrigatório, apenas uma 
figura de autoridade se passeia a cavalo pelas ruas. A artista montada sobre um cavalo 
branco tingido com tintura vermelha apropriada, enverga roupas negras de aparência 
semelhante às usadas por corpos de intervenção. Exibe ainda um açaime, objeto 
intimidatório, que ao invés de refrear o animal, amordaça e controla a mordida da figura 
autoritária representada. 
 A ação comenta de forma poética o abuso de poder institucionalizado na 
nossa sociedade. Ainda que o açaime impeça que esta figura “ataque” é também sinal 
da violência que lhe é intrínseca, da mesma forma que a sua montada imponente lhe 
confere estatuto e força. Nesta performance a abordagem da artista difere. Ao público 
(escassamente presente), não é oferecido o papel de testemunha mas antes de 
potencial vítima, desta figura prestes a investir perante sinal de desordem. Na verdade 
o público encarna o papel que lhe é destinado no quotidiano: é colocado à mercê de 
poderes e figuras elevadas, intocáveis e ameaçadoras. No entanto, espanto ou choque, 
e sobretudo o silêncio para além do trote do animal, mantém-se. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 Berna Reale (2012), Palomo. Vídeo de performance (frame), 3’00’’ 
 
14 
 
 
 
Figura 3 ∙ Berna Reale (2012), Palomo. Vídeo de 
performance (frame), 3’00’’ 
 
 
 
 
 1.2.3 Ordinário (2013) 
 Berna Reale carrega em um carrinho de mão, ossos de vítimas anônimas 
de assassinatos. Acede a um conjunto de ossos de cerca de 40 indivíduos, que 
transporta atravessando o violento e populoso bairro de Jurunas (na área metropolitana 
de Belém). Estes restos mortais sem identificação, são frequentemente encontrados 
por agentes policiais em cemitérios clandestinos, produto da elevada taxa de 
homicídios no Brasil. A performance é uma denúncia a esta realidade, e um confronto 
entre os vestígios de homicídios com o local onde habitam possíveis perpetradores de 
tais crimes. Sem que o público que assiste à passagem da artista tenha reações 
assinaláveis, sendo o silêncio a postura mais comum, em última análise, assistir ao 
vídeo da performance faz-nos pensar que mesmo depois da morte, a última 
indignidade é o esquecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
Figura 4 e 5 Berna Reale (2013), Ordinário. 
Vídeo de performance (frame), 3’13’’. 
 
 
 
 1.2.4 Limite zero (2012) 
 Em Limite Zero, os pés e mãos de Reale são amarrados a uma barra de 
ferro, como se de um animal morto. Retirando-a de um caminhão frigorífico, indivíduos 
que se assemelham a enfermeiros, passeiam-na por quatro quarteirões, em seis 
bairros diferentes de Belém. Berna diz que as reações dos expectadores variou entre 
pena e impacto. Alguns até telefonaram para polícia. Foram até abordados, pois os 
policiais acharam que estavam carregado uma mulher morta. Diz que é curioso o fato 
de ninguém achar que a estavam torturando. Apenas queriam que cobrissem seu 
corpo. As reações são passivas e nulas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6 Berna Reale (2012), Limite Zero. Vídeo de performance (frame), 3’45’’ 
 
16 
2. ELIZABETH DE MELO CAMARGO MOYSÉS 
 
 Beth é formada em Artes Plásticas, especializada em Comunicação Visual 
e possui Mestrado em Artes. Vive e trabalha em São Paulo onde possui um atelier 
desde 1993. Abandonou a pintura para dedicar-se ao uso e experimentação de 
materiais que se relacionam com o afeto, apropriando-se do vestido de noiva como 
símbolo da fantasia da mulher. Beth Moysés é representada pela galeria Thomas Cohn 
e professora da FAAP, em São Paulo. 
 Beth Moysés se graduou em Artes Plásticas na FAAP (onde, depois, 
lecionou escultura, entre 1998 e 2009). Obteve, em 2004, a titulação de Mestre em 
Artes, pela UNICAMP. 
 Em entrevista à revista Claves de Arte, Beth disse que quando começou a 
trabalhar com pintura, brigava muito com a tela, por acrescentar objetos femininos no 
trabalho, junto à pintura (tule, meia feminina) e depois acabava arrancando tudo, para 
revelar o que tinha por trás. 
 Disse que o artista está sempre falando a mesma coisa. Ela tenta fazer 
diferente: toca num tema que acontece dentro de casa, íntimo, preservado, que 
ninguém quer comentar e o traz para a rua. 
 Ela vive de fazer sua arte. Parece desejar ser arte É vital investigar e 
expressar seus incômodos por meio de seu trabalho artístico. Demonstra que está 
sempre ou quase sempre nesse estado. 
 Beth adotou a injusta, dramática e, às vezes, trágica situação da mulher 
num mundo machista e, para instigar as pessoas e chamar a atenção para essa causa, 
reinventa modos de configurar seus materiais e suas performances. Atualmente, tem 
trabalhado com vestidos brancos e lisos. Convida pessoas a, de um modo ou de outro, 
participarem e fazerem parte de alguns dos seus projetos. 
 O mito feminino sempre permeou sua obra. Sua produção abrange 
diversas mídias (instalação, performances públicas, objeto, fotografia, desenho). 
 Suas performances acontecem em espaços públicos, pouco usuais para a 
representação artística e com um grande volume de pessoas. São obras coletivas. 
 
2.1 PRINCIPAIS PERFORMANCES 
 
 2.1.1 Lembranças Veladas de Beth Moysés no Museu Zendai MoMA – Shangai 
 
17 
 Beth Moysés foi convidada pelo Museu Zendai MoMA, em Shangai, 
China, a realizar uma performance em espaço público, no dia 25 de novembro, "Dia 
Internacional da Não Violência Contra a Mulher". 
 Cerca de cem mulheres participaram da performance que ocorreu em 
uma praça em frente ao Museu. Durante a performance, cada uma delas distribuiu para 
os transeuntes, delicadas lembrancinhas de casamento da tradição Chinesa, junto a 
essas lembranças um pequeno cartão dobrado. Dentro dele, a palavra MEDO. Na parte 
de fora, a data da performance e a frase: "Em cada 15 segundos uma mulher é 
violentada por seu parceiro". As mulheres levaram para o espaço público o sentimento 
que muitas delas guardam no ambiente privado. Ela diz que eles queriam traduzir toda 
a mensagem para o inglês. Beth disse: “Não estou fazendo esse trabalho para mais 
ninguém. Estou fazendo para vocês. Tinha que ser em chinês.” Em entrevista Beth 
falou que durante essa performance havia uma menina que falava inglês e fazia sua 
tradução simultânea. Todos tinham entendido muito bem mas ela modificou um pouco 
a performance do jeito que queriam. A ordem existia, mas havia um distanciamento 
entre uma e outra. “Era perfeita a organização, de tanta disciplina que elas têm desde 
pequenas”. Disse que sofreu vendo essas mulheres sendo maltratadas. “Foi uma 
performance mais esfriada, que não tem muito a ver com meu trabalho, que costuma 
ter muita emoção. Meu trabalho tem muita emoção, ele precisa dessa emoção”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7 Beth Moysés, Lembranças veladas. Performance realizada em Shanghai, China. Novembro de 
2008. Fotografia de Marina Moysés 
 
 
 
18 
 2.1.2 Memória do Afeto, São Paulo, 2000 
 Segundo Moysés (2004 pág. 104): 
 
“Refletindo sobre o conceito da performance, resolvi buscar 
onde ela poderia estar inserida no meu trabalho plástico. Como estou 
sempre preocupada com a condição da mulher na sociedade e sobretudo 
no casamento, resolvi me envolver com esta manifestação que além de 
plástica é também social.” 
 
 As mulheres que participaram dessa performance estão diretamente 
vinculadas ao problema da violência, foco de seu principal inconformismocomo pessoa 
e artista. 
 “É como o dia do casamento para a noiva”. Memória do afeto é uma obra 
de apenas algumas horas de duração, mas impactante. Isso acontece em vários 
trabalhos efêmeros de Beth Moysés. Confrontado com o teste de realidade que se 
segue ao casamento, o símbolo assume a configuração oposta: o fantasma da noiva, 
estendido na praça, é o negativo da postura triunfal da mulher entrando na Igreja com 
passo lento e aura de esperança que não conhecerá paralelo no restante de sua vida. 
Esse "corpo" (oco em Ausência de alma e vaporoso em Forro de sonhos pálidos, 1996, 
quando a artista preencheu o teto da Capela do Morumbi com vestidos de noiva 
entrelaçados) assumiu substância concreta com a performance Memória do afeto 
(2000). 
Eram mais de 100 mulheres fantasiadas de noiva. O branco do vestido 
contrastava com o cinza da cidade, assim como a insipidez das mulheres, com a cauda 
do traje varrendo a imundície da rua, contrastava com o zelo que costuma cercar esta 
cena. Caminharam em silêncio pela Avenida Paulista, despetalando rosas brancas ao 
longo do trajeto. Todos os vestidos utilizados na performance estavam "impregnados 
de memória", pois foram coletados entre conhecidas da artista e em lojas de roupas 
usadas. O encontro do "tempo retido" com o "tempo vivido" reflete a contradição na 
vida das mulheres. No final do trajeto, um enterro simbólico do passado: o que restou 
dos buquês (os espinhos) foi jogado em um buraco na praça Oswaldo Cruz e recoberto 
por terra pelas próprias noivas, empunhando pesadas pás. 
 A performance ocorreu no Dia Internacional da Não Violência Contra a 
Mulher. As participantes eram, em sua maioria, vítimas de violência doméstica, 
principalmente integrantes da Organização das Mulheres Independentes do Jardim São 
Francisco, bairro na periferia de São Paulo, consequência natural de uma produção 
 
19 
sempre voltada para o tema da violência ao utilizar como matéria-prima o vestido de 
noiva. "É como se eu tirasse ele da caixa e recuperasse o afeto que ficou retido 
naquele vestido, a felicidade do dia em que uma mulher se propôs a viver com alguém. 
Ao resgatar esse sentimento, busco confrontá-lo com o dia-a-dia dessas mulheres, com 
o que elas sofrem dentro de uma sociedade patriarcal", afirma, referindo-se à história 
da violência contra a mulher, que vem pesquisando. 
 
 
 
 
Figura 8, 9 e 10 Beth Moysés, Memória do afeto – São Paulo, 150 mulheres, Avenida Paulista, 2000 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
2.1.3 Incubadora Para Almas Prematuras 
 O trânsito do individual ao coletivo, na trajetória de Beth Moysés, fica mais 
evidente na obra “Almas Prematuras”, uma incubadora que contém 200 corações de 
argila. A peça situa-se em um ambiente feito com um pano branco, de vestido de noiva, 
e funciona como uma sala de passagem que leva até o vídeo Despontando nós. A 
escolha de uma incubadora como matéria-prima evidencia o propósito de salvar: "É 
como se eu falasse de uma alma em processo, neste trabalho" - explica a artista - "se 
esses corações não estivessem dentro de uma incubadora, meu trabalho não existiria. 
Se as almas não estivessem em processo, se elas já houvessem evoluído o suficiente, 
no sentido de ter atingido realmente a capacidade de amar - porque quem ama não 
violenta - não faria sentido fazer o trabalho que faço". A obra sinaliza um 
amadurecimento, fala do presente como um período transitório, que tende a melhorar. 
 Almas prematuras, a incubadora suspensa, expõe, da dor, a dor 
inconsciente de todas as presumíveis perdas que serão consumadas em vida e em 
morte. O artifício mecânico (a incubadora, ou o depósito legítimo de todas as sequelas 
e plenas ausências projetadas no espaço doméstico), como que incorporado pela 
sombra de todos os corações prematuros, ressignifica a vida em circunstância 
estranha, em um agora contínuo. 
 
 
 
Figura 11 Beth Moysés, Incubadora Para Almas Prematuras 
 
 
 
 
21 
2.1.4 Mosaico Branco por 60 Mulheres, 2001 
 Nessa performance-instalação, 60 mulheres vestidas de noiva 
caminharam como formigas brancas abraçadas a uma pedra de mármore de Carrara. 
Percorreram as ruas do centro antigo de São Paulo, varrendo com suas caudas 
brancas todas as nódoas que a multidão deposita no seu dia-a-dia. Cada pedra tinha 
um formato semelhante a um dente do fecho ecler, retirado simbolicamente da 
vestimenta da noiva. É como se cada mulher depositasse nesse mármore branco uma 
parte de suas esperanças, desejos e fantasias. Essas 60 peças foram se encaixando 
como em um jogo de quebra-cabeças e formando um grande fecho ecler que se 
encontra nele mesmo, potencializando a necessidade de uma ação coletiva na 
transformação da humanidade. Deixaram um centro de amor dentro de um centro de 
violências. Cravaram uma grande mandala no solo da cidade, em frente ao Mosteiro de 
São Bento, para que todas as pessoas que transitem sobre ela possam absorver esse 
sentimento. Marcaram para sempre o chão de São Paulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 12 e 13 Beth Moysés, Mosaico Branco por 60 mulheres, 60 mulheres 
participantes; Mosteiro de São Bento, São Paulo, 2001 
 
 
22 
CONCLUSÃO 
 
 A performance, por vezes caracterizada como arte poética e efêmera, 
ganha com as artistas em estudo, um carácter impositivo e inolvidável, polarizadas pelo 
choque e silêncio. Isso remete à violência silenciada. As artistas contemporâneas 
procuram despertar consciências, comunicando com o público através do choque ou 
confronto visual que as suas performances comumente provocam. Berna, partindo por 
vezes dos problemas sociais inerentes ao lugar onde vivem ela convidam à 
interpretação de metáforas performativas de carácter universal onde, por vezes, o 
próprio público parece tomar parte enquanto testemunha silenciosamente atos de 
violência. A intervenção do público é a “não ação”. 
 A dignidade da poética visual de Beth resiste ao apagamento de 
dolorosas marcas, quando traduzidas por testemunhos de mulheres sobre 
desencontros e espasmos do cotidiano. Dessa formulação densa - da violência de 
gênero entregue ao recurso da recomposição de corpos físicos e psíquicos, 
processados pelo abandono - surge o testemunho de um compromisso íntimo e 
confessional que a artista reafirma a cada projeto-documento. As performances 
passaram a fazer parte da sua produção artística. Beth considera de suma importância 
nesses quatro anos de estudo e de produção artística, a relação de carinho que 
desenvolveu com essas mulheres vitimizadas, e a possibilidade de integrá-las ao seu 
trabalho, misturando a suas vidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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14/08/29/berna-reale-uma-das-artistas-
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Reale, Berna (2013) Ordinário. 
[Consult. 20130114] Reprodução de 
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Disponível em <URL: 
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<http://www.canalcontemporaneo.art.b
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<http://mapa.pacodasartes.org.br/page
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Camargo, Abrigo da Memória, 
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