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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA A MATEMÁTICA NA ARTE MANAUS / AM 2016 ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM DAMSON LUCAS DE OLIVEIRA RIBEIRO ................................................. 21205249 IGOR LUIZ RIBEIRO DA SILVA ................................................................... 21553854 RUTE CORDEIRO DOS SANTOS .................................................................. 21201729 A MATEMÁTICA NA ARTE Relatório solicitado pela professora Ana Acácia Pereira Valente na disciplina IEM182 – Laboratório de Ensino de Matemática II, referente ao período 2015/2. MANAUS / AM 2016 ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM INTRODUÇÃO Embora a Matemática seja concebida primeiramente como uma ciência investigativa, que constrói conteúdos a partir da resolução de problemas e que sempre age em concordância com o saber e com o desenvolvimento das civilizações, ela também age como um instrumento cultural, como difusora de técnicas e como sinônimo de perfeição e beleza. Arte e matemática nasceram praticamente juntas desde os primórdios do homem: nas mesmas cavernas onde haviam desenhos pré-históricos também haviam formas de registros de contagem e quantidade, mostrando a importância da linguagem artística em um tempo onde não havia ainda comunicação através de palavras. O pensamento matemático vinha expresso até mesmo na escolha da caverna: a amplitude do espaço e o número de habitantes do grupo com certeza eram levados em consideração. E mais, onde ainda não havia palavras pra expressar ações, a arte veio compensar, talvez para explicar por meio de pinturas que cinco ou seis caçadores eram necessários pra se abater um bisão ou que um utensílio maior abrigava mais comida. A vida do homem pré-histórico evidencia o quanto arte e matemática andam juntas, o quanto a matemática se alia à arte para tornar um objeto belo e útil e o quanto a arte torna a matemática mais visível e menos abstrata. Embora antagônicas, a matemática é a ciência dos padrões, da ordem e da regularidade. Mas também é a ciência da beleza, das formas, da intuição e da criatividade – que são os elementos mais básicos quando se fala em arte. Mas até onde é matemática e até onde é arte? Nossa cultura teve o mito, a ciência e a arte como formas de organização dos diferentes saberes humanos (contar, medir, se comunicar, se deslocar, se posicionar, etc.) e, à medida que as civilizações foram evoluindo e as ciências foram tomando vida própria, o conhecimento acabou por se fragmentar pra atender ao grande número de pessoas que desenvolviam apenas alguns desses saberes. Foram criadas disciplinas, métodos, objetos de estudo e conteúdos específicos que hoje em dia refletem na nossa educação escolar. A interdisciplinaridade foi substituída pelo "aprender de tudo um pouco", mas é preciso retomar as ligações que arte e matemática possuem e perceber que embora aparentemente distintas, elas se complementam. O objetivo do nosso trabalho é mostrar que a matemática está presente em tudo – até mesmo na arte, pois onde se exige organização e beleza ali está a matemática. ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM A PERSPECTIVA Os artistas renascentistas criaram a noção de perspectiva na arte: a técnica da representação de objetos tridimensionais no plano em consonância com a percepção óptica desses objetos. A perspectiva se contrapôs à representação puramente simbólica ou decorativa, presente na pintura medieval. Para os artistas renascentistas, o quadro era uma janela, que funcionava como uma seção transparente do cone visual, formado pelo conjunto de raios luminosos que, partindo do objeto retratado, convergem para o olho do expectador. As leis da perspectiva são baseadas na existência de um ponto de fuga, que pode ou não estar dentro da imagem retratada. Para o ponto de fuga convergem retas, de forma que os objetos parecem menores à medida que se aproximam do ponto de fuga. Essas retas convergentes são chamadas de linhas de fuga e a razão de semelhança entre os objetos retratados é dada inicialmente por uma reta que esteja a uma certa distância do ponto de fuga – a linha do horizonte. Ela define o foco do quadro, a profundidade e a harmonia da obra. O Papiro de Ani: o ritual de pesagem de corações está representado sem perspectiva O pintor florentino Giotto (1266–1337) já criava quadros com tentativas de profundidade, como o seu quadro chamado O Massacre dos Inocentes (1304–1306), onde não existe ponto de fuga e linha do horizonte. Assim os malfeitores que roubam as crianças parecem maiores que o amontoado de bebês mortos, apesar de estarem atrás do amontoado. Note que formas geométricas presentes nos edifícios e na sacada dão a ilusão de profundidade e solidez, mas o mesmo não acontece com as pessoas retratadas. ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM "O Massacre dos Inocentes" (1304–1306) de Giotto "A Flagelação" (1455–1460) de Piero Della Francesca O primeiro conjunto de regras matemáticas para a obtenção da perspectiva correta foi criada em torno de 1413 por Filippo Brunelleschi (1377-1446), arquiteto famoso por projetar e construir a gigantesca cúpula da catedral de Florença. Brunelleschi buscou regras para produzir a perspectiva artificial, que seria na concepção dele, o conjunto de procedimentos capazes de fazer o olho humano enxergar as proporções da forma imaginada pelo criador da obra. O olho humano, por sua vez, estaria sujeito às regras das perspectivas naturais, que são as leis matemáticas que regem a visão. O marco na história da perspectiva veio com os genoveses Leon Battista Alberti (1404–1472) e Piero Della Francesca (1415–1492) que além de artistas eram estudiosos da matemática árabe e da geometria grega. Influenciado pelos tratados árabes de al–Hazen sobre óptica, Alberti discorreu sobre princípios matemáticos para aplicação em pinturas bidimensionais. Enquanto Alberti se limitava à pintura em duas dimensões, ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM Della Francesca estudou figuras sólidas sendo o primeiro artista a produzir os sólidos platônicos em escala correta. Outro grande contribuidor foi o francês Girard Desargues (1591–1661) que nasceu e viveu na cidade de Lyon. Seus estudos geométricos sobre os princípios de Alberti deram origem à Geometria Projetiva e o teorema que leva seu nome é o tratado responsável por determinar o ponto de fuga do quadro, usando o Teorema de Tales para determinar a razão de semelhança e o Postulado das Paralelas de Euclides para determinar a linha do horizonte: Dois triângulos,no plano ou no espaço, possuem os vértices dois a dois sobre retas concorrentes se, e somente se, seus lados se encontram dois a dois em pontos que estão sobre a mesma reta. (MOL, 2013, pág 95) O Teorema de Desargues GEOMETRIA FRACTAL Fractais (do latim fractare: dividir) são tidos pela ciência como formas manuseáveis que, apesar de parecerem complicadas, são bastante evidente na natureza e mais precisamente no que os matemáticos chamam de espaços vetoriais euclidianos e não–euclidianos. Seu processo de construção obedece a complexos arranjos em padrões hierárquicos, tendo o mais simples fractal uma estrutura composta de subestruturas similares em pelo menos três estágios. O dinamarquês Benoit Mandelbrot nos anos 60, encontrou ordem na aparente desordem dos galhos de árvores, das estalactites e estalagmites formadas no inverno, ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM nos desenhos cartográficos dos rios, entre outros. Ele mostrou o senso estético e belo da natureza, que de acordo com sua teoria, reproduzia em escala natural o que acontecia em escalas subatômicas e previu que aconteceria em escalas astronômicas. Já o arquiteto e projetista Richard Fuller criou a cúpula geodésica (semelhante a um mosaico formado de pentágonos e hexágonos) que era uma estrutura que se apoiava no solo sem precisar de bases ou pilares e que poderia ser construída em proporções ilimitadas. Fuller notou que era uma estrutura estável e previu sua ocorrência na natureza, sendo que mais tarde foi descoberta por Harold Krotto, Robert Curi e Richard Smalley e denominada fulereno – em homenagem a Fuller. Os fulerenos são uma forma alotrópica do carbono e sua molécula C60 é constituída de sessenta átomos de carbono em disposição hexagonal e pentagonal, como numa bola de futebol. Em 1991, o koreano Sumio Ijama descobria outros tipos de estruturas atômicas, os nanotubos – semelhantes a cápsulas com extremidades fulerênicas. O que mais impressiona é a habilidade de um nanotubo conter outros nanotubos menores. Esses dois acontecimentos – a teoria de Mandelbrot e a descoberta do fulereno – foram os germes da teoria fractal. Nanotubos com extremidades fulerênicas O que caracteriza o conjunto dos fractais na geometria são os padrões de estruturas que se repetem em estágios menores ou maiores que o original, formando uma estrutura complexa com simetria magnifal (o que chamamos de zoom), ou seja, quando aproximamos numa escala tão menor quanto quisermos do fractal, ainda assim teremos subestruturas similares a original, mas em escala microscópica. Então estruturas ou formas grandes são simples agregações de estruturas menores, resultando numa tremenda complexidade resultante de padrões simples em agregações iteradas, como numa sequência numérica ou uma multiplicação de um vetor por um escalar não–nulo. ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM Fractais são independentes de escala, mas dependentes do número de iterações. Essas agregações ou iterações obedecem a função matemática D (número de subestruturas ou dimensão do fractal): D = log(n)/log(1/r) Onde n é o numero de cópias e r é o volume retirado da forma original. Se D é inteiro dizemos que o fractal possui dimensão inteira, do contrário sua dimensão é caótica, mas há exceções como o triângulo de Sierpinski com 3 cópias por iteração e volume igual a ½, resultando numa dimensão D = 1,58496… não–inteira. Mas o triângulo é inteiriço. Outro exemplo é a rosa, que cresce à razão áurea, que é irracional. No entanto, a rosa é um elemento em três dimensões. O Triângulo de Sierpinski Fractais são divididos em três categorias: – Fractal natural: quando as repetições iteradas são limitadas por número e por região, formando uma região fechada, bem definida e inteiriça, não podendo se repetir indefinidamente. Exemplos: flocos de neve, gelo, rosáceas, nervuras de folhas, montanhas, árvores, grãos de pólen, entre outros. – Multifractal: quando as repetições não são limitadas por número nem por região, mas ainda constituem uma estrutura fechada e bem definida, com subconjuntos que possuem a mesma propriedade. Exemplos: ondas do mar, rios, nuvens, órgãos humanos como o rim e o fígado, sistema circulatório, entre outros. – Fractal caótico: quando as repetições são indefinidas, formando estruturas disformes e não–fechadas. São as energias na natureza e os fractais gerados por ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM computação gráfica. Exemplos: fogo, relâmpago, fractal–objects, sóis, galáxias, entre outros. Nos fractais naturais é válida a multiplicação por escalar e a linearidade, ou seja, eles possuem estrutura algébrica de espaço vetorial fechado. Já os fractais caóticos são disformes, pertencentes a espaços vetoriais não–euclidianos onde algumas propriedades da nossa geometria não valem ou não são suficientes. Os multifractais representam a linha tênue entre a nossa natureza e o caos. Existem várias aplicações dos fractais na ciência e tecnologia, como a Esponja de Menger presente em antenas de celulares. Na arte e no design, os fractais desempenham um papel de otimização de imagem e som, nitidez, variância de forma no design (como os efeitos especiais nos filmes) entre outras aplicações. Sua aplicação didática é justamente o fato de se apresentarem constantemente divididos, onde podem ser estudadas semelhanças, frações algébricas como o Número de Ouro, geometria projetiva, séries numéricas, limites e integração em R n . MOSAICOS Conta a lenda que a sogra de um professor de matemática estava cansada de fazer tapetes usando triângulos, quadrados e hexágonos. Decidiu fazer um tapete com pentágonos, mas seu genro matemático a advertiu que isso era impossível. "Por que impossível? Você pode entender de matemática, mas quem entende de tapetes sou eu!" – disse ela. O mosaicismo artístico é a arte de se misturar elementos de forma a se constituir uma figura ou transmitir um sentimento. Nessa expressão artística se apresenta comumente o problema de cobrir uma superfície plana com ladrilhos poligonais, de modo que entre eles não haja lacunas nem superposições. O verbo ladrilhar é constantemente evocado no mosaicismo e quer dizer preencher, cobrir, se estender mas também possui o sentido de misturar, mesclar, interagir. Vários personagens da mitologia como a quimera (persa), o pégaso (grego), o grifo (babilônico), o anubite (egípcio) e dragão (asiático) são consideradas mosaicos na arte. São animais que se constituem numa mistura de partes de outros animais, como cabeça (poder), asas (velocidade) e cauda (infuência). O mosaicismo (em termos de ladrilhar) obedece então a duas condições matemáticas: ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM (I) Dois polígonos regulares possuem como intersecção um vértice ou um lado comum; (II) A distribuição poligonal ao redor de cada vértice é sempre a mesma. Os mosaicos que obedecem a essas duas condições são chamados de mosaicos regulares e são compostos de triângulosequiláteros, quadrados ou hexágonos, pois os ângulos desses polígonos são divisores de 360. A questão é justamente descobrir quais outros polígonos regulares podem ladrilhar uma superfície. Mas não existe um polígono regular cujos ângulos sejam maiores que 120° e dividam 360°. No caso um ângulo raso – de 180°, resolveria, mas não se pode formar um polígono com ângulos rasos, obviamente. No entanto há combinações de polígonos regulares que ladrilham superfícies, os chamados mosaicos semirregulares. Essa descoberta, legada aos artesãos árabes, divide hoje o mosaicismo artístico em pelo menos três vertentes: – O Mosaicismo Geométrico ou Arte das Musas, onde o plano era coberto sem deixar lacunas ínfimas, usando combinações de polígonos regulares e era frequente entre os árabes, mouros, artesãos medievais e gregos; ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM – O Mosaicismo Moderno que, além de planos são usados também sólidos, tendo como particularidade deixar um vão entre os ladrilhos e/ou usar figuras derivadas de cortes de polígonos regulares. Ex: M.C. Escher (Holanda), Marcelo de Melo (Brasil); – O Mosaicismo Não–Geométrico ou Mandala, onde os polígonos não necessariamente precisam ser regulares e onde há mais liberdade de expressão na escolha dos ladrilhos, que podem ser conchas, pedras, frutas, cerâmicas, seixo, linhas coloridas, entre outros. Ex: John Lennon, a indiana Ratnabali e artistas hippies atuais. No estudo de estruturas algébricas vemos os Ladrilhos de Penrose que são o exemplo máximo de mosaicos na matemática, em particular na álgebra abstrata da qual estudava Roger Penrose. Aqui então temos a geometria – evidente, manuseável, concreta e fácil, e a álgebra – abstrata, não–trivial, metódica e aparentemente difícil como dois objetos do mundo matemático que estão presentes nos mosaicos. MOVIMENTOS ARTÍSTICOS (ARTES PLÁSTICAS) A estética desempenha papel importante não só nas artes plásticas como na música, no teatro e no cinema, e pode ou não ser obtida com a matemática. Aqui apresentamos alguns movimentos artísticos que usam elementos matemáticos em suas obras, em favor da estética, da beleza, da harmonia, da rebelião aos padrões de beleza e ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM do culto ao abstrato e surreal. O Cubismo, o Surrealismo, o Abstracionismo e a Arte Moderna Brasileira estão entre os citados. CUBISMO No Cubismo, houve total rebelião contra os padrões estéticos vigente do século XX, tanto que este movimente foi o mais influente da época, uma época marcada pela Primeira Guerra Mundial, pela invenção do automóvel e da eletricidade, pela expansão do cinema e da fotografia. Com formas representadas por prismas, cubo e cilindros, o artista cubista procurava transmitir a ideia de um objeto visto em vários ângulos ao mesmo tempo. Sua característica principal é a projeção em três dimensões no plano, como se o objeto retratado estivesse aberto e exposto, planificado e induzindo a expressão de ideias – em oposição ao belo e meramente visível presente na arte renascentista que ainda vigorava naquela época. Seu início se deu em 1906 com Pablo Picasso em sua tela Les Demoiselles d'Avignon – onde a nudez feminina foi trabalhada com formas próximas às formas geométricas e fazendo uso de arte africana e aborígene. Picasso ainda perdurou com o Cubismo até a fase de estopim da Segunda Guerra Mundial, com o famoso quadro Guernica (1937) que retrata os horrores de um bombardeio nazista apoiado pelo então ditador espanhol Franscisco Franco à cidade de Guernica. O Cubismo possui desde os tempos iniciais três vertentes: – O Cubismo Primitivo: iniciado em 1907, formas geométricas foram sendo mescladas com traços abstratos e pinturas das cavernas, artes africanas, pinturas a dedo, ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM etc. Pintores desse período: o espanhol Pablo Picasso e os franceses Georges Braque (ex–fauve) e Paul Cézanne (pós–impressionista). – O Cubismo Analítico: iniciado em 1910, perdurou até 1913. Demonstrava a decomposição de objetos cotidianos, em sua maioria naturezas mortas. O artista combinava vários pedaços de peças, vistos de várias maneiras e em perspectivas diferentes. As telas em sua maioria resultavam mais abstratas do que próximas do real além de usarem cores opacas e escuras, como o marrom e o preto. Artistas desse período: os espanhóis Joaquín Torres Garcia e Pablo Picasso. – O Cubismo Sintético: oriundo da colagem, se iniciou em 1915. Mistura vários papeis, de diferentes texturas e padrões, fazendo uso de cores vivas e uma paleta mais diversificada e dinâmica. O espaço e volume eram dados por pequenos traços de sombra. Artistas desse período: os espanhóis Juán Gris e Joaquín Torres Garcia e o português Sócrates Quintana. No Brasil, esse movimento ganhou adeptos como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Anita Malfatti que usaram em várias de suas obras como: Abaporu e Central do Brasil – de Tarsila, Os Músicos – de Di Cavalcanti e A Menina das Flores e Café – de Anita Malfatti. O Cubismo tem, na matemática, tanto influência como foi influenciado, devido às forma geométricas e o tratamento que os artistas deram pra decompor linhas curvas suaves e contínuas em linhas poligonais. Onde muitos enxergam apenas formas, alguns enxergam os contornos de animais, plantas, montanhas, etc. Um exercício prático de abstração geométrica é feito com o Cubismo e fica mais fácil pra identificar figuras geométricas em situações do dia a dia, onde nem sempre as formas aparecem bem delineadas e semelhantes, bem retas ou definidas. Você observa mais facilmente o desenho tridimensional nas aulas de geometria onde o professor desenha no quadro: você observa um sólido desenhado num plano graças ao Cubismo. ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM ABSTRACIONISMO E SURREALISMO Nessas duas expressões artísticas, oriundas do Cubismo, do Expressionismo de Van Gogh e do Fauvismo, predomina a abstração e a rebeldia contra a ideia do que seria belo ou real. O Abstracionismo dominou a pintura moderna, tendo se dividido em duas tendências: – O Abstracionismo Informal, que não faz uso de formas geométricas, mas de manchas, traçados aleatórios, disformes e cores vivas. Em algum sentido o artista ainda fazia uso da matemática, pois em vários compêndios e obras sobre o Abstracionismo encontram–se distâncias, dimensões e perspectivas ao serem estudadas algumas obras dessa vertente. Artistas principais: o russo Wassily Kandinsky, o americano Jackson Pollock (o Pai do Grafitti e da pintura de rua) e o espanhol Joán Miró (também adepto do Surrealismo). – O Abstracionismo Geométrico, onde as formas e cores são representadas com menos liberdade e mais racionalidade. A base da tela são linhas e figuras geométricas, o artista buscava a essência das coisas retratadas e projetava o que de mais puro e simples ele via numa paisagem, reduzindo tudo a formas geométricas. Artistas principais: o russo Kazimir Maleviche o holandês Piet Mondrian, considerando o Criador da Estética. O Abstracionismo veio a se juntar com outra vertente muito polêmica no século XX, o Surrealismo. Fruto da valorização da pesquisa científica, sobretudo da psicanálise e dos ideais de um grupo de escritores, pintores e escultores liderados por André Breton, o Surrealismo nasceu em 1924 na cidade de Paris. Representava os sonhos, os pensamentos mais íntimos do homem, o inconsciente, as emoções e todo um mundo do século XX, que estava no período Entre–Guerras (1918–1939) cheio de ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM ansiedade, medo, expectativa, revolta e preparação para outros conflitos. A matemática teve importante papel no Surrealismo por apresentar uma arte mesclada entre o racional e o emocional, entre as linhas e formas cruas e a beleza próxima do natural sendo retratada de forma triste, preste a deixar de existir – o que traduzia o mundo como o era em 1924 e nos anos seguintes. O quadro surrealista mais famoso é A Persistência da Memória, do espanhol Salvador Dalí. Artistas dessa vertente: Salvador Dali, André Breton, o francês René Magritte, o russo Marc Chagall, o espanhol Juan Miró (também Abstracionista), o poeta romeno Tristan Tzara (o criador do Dadaísmo) e o italiano Filippo Marinetti (também Futurista). Na Semana de Arte Moderna de 1922, elementos europeus vieram a fazer parte da arte brasileira, sendo absorvidos e mesclados com elementos de nossas raízes, como a pintura indígena, a arte nordestina dos cordeis e o paisagismo literário das obras de Monteiro Lobato, José de Alencar, Aluízio de Azevedo e Santa–Rita Durão. Nas obras de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro e Vítor Brecheret, além de nossas expressões de raiz como a cerâmica indígena, escultura nordestina e ornatos e pinturas corporais amazônicas, figura a matemática através das formas e simetrias, das curvas e retas de uma arte interessada em não mais representar a realeza imperial ou as cenas urbanas. Já não satisfazia o artista brasileiro do século XX esse estilo de arte, tanto que o Movimento Antropofágico de 1922 visava devorar tudo o que fosse de brasileiro e de moderno pra se expressar naturalmente e com mais liberdade. Igual como foi nos primórdios do homem, a matemática teve importante papel para a expressão artística, para dar um choque de modernidade num país onde palavras não mais bastavam. A matemática se aliou à arte para levar o homem a outros patamares, desde arte das cavernas até à perspectiva, desde as obras do renascimento – tão bonitinhas, mas sem passar a ideia de mundo – até as obras revolucionárias, polêmicas, em meio ao mundo permeado pela guerra, pelas invenções, pelas pesquisas científicas. Todas essas expressões precisaram da matemática, ou foi a matemática que precisou delas? Observe que a matemática representa a disposição da obra como a ortografia é para a palavra, as palavras que não podem ser ditas são a arte e a filosofia vem a ser o pensamento que originou essas palavras. Arte, matemática e filosofia de novo juntas (ou nunca estiveram separadas) pra tentar comunicar – de forma mais evidente e rápida possível, como é nosso mundo. ________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS – ICE AV. GAL. RODRIGO OCTÁVIO JORDÃO RAMOS, 3000 – COROADO, MANAUS / AM REFERÊNCIAS AGARWAL, R. SEN, S. 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