Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA TEÓRICA 01 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO Devido a água ser um recurso natural essencial em qualquer atividade agrícola, torna-se importante que o profissional da área de ciências agrárias saiba utilizar este recurso com eficiência. Para isso o mesmo deve saber planejar e projetar estruturas de captação, condução e armazenamento de água. 1.1. Conceitos, subdivisões e importância da hidráulica A palavra Hidráulica significa “condução de água” (do grego hydor, água e aulos, conduto). Em sentido mais amplo, o termo Hidráulica é empregado significando estudo do comportamento da água e de outros líquidos, em repouso ou em movimento. Tratando-se de fluidos (líquidos e gases) em geral, este assunto é estudado mais profundamente pela Mecânica dos Fluidos. A Hidráulica pode ser dividida em: - Hidráulica teórica: - Hidrostática: trata dos fluidos em repouso ou em equilíbrio. - Hidrodinâmica: refere-se às velocidades, às acelerações e às forças que atuam em fluidos em movimento. - Hidráulica aplicada: é a aplicação prática dos conhecimentos científicos da mecânica dos fluidos e da observação criteriosa dos fenômenos relacionados à água, quer parada, quer em movimento. A Hidráulica é aplicada em diversos campos, tais como: Sistemas de abastecimento de água; irrigação; drenagem; conservação do solo e da água; saneamento de áreas alagadas; estações de tratamento de água; problemas de segurança com controle de enchentes; geração de energia em hidrelétricas; bombeamento em poços profundos, etc. 1.2. Sistemas de unidades Os sistemas de unidades habitualmente utilizados são do tipo FLT (força, comprimento, tempo) ou MLT (massa, comprimento e tempo). Os sistemas de unidades mais empregados na Hidráulica são: CGS (centímetro, grama, segundo); MKS (metro, quilograma, segundo); MKS técnico (metro, quilograma-força, segundo). Os sistemas CGS e MKS são absolutos, pois independem do local onde as medições são realizadas, empregando-se o grama e o quilograma para expressar a massa; por sua vez, o sistema MKS técnico depende do local da medição, devido à variação espacial da aceleração da gravidade. O sistema internacional de unidades (SI) estabelece sete unidades como fundamentais, cada uma delas correspondendo a uma grandeza, destacando-se para o estudo da Hidráulica, três grandezas: Todas as unidades, quando escritas por extenso, devem ter inicial minúscula, mesmo que sejam nomes de pessoas. Exemplo: metro, quilômetro, pascal, etc. A unidade de temperatura é uma exceção a essa regra – escreve-se grau Celsius. Os símbolos também são escritos com letras minúsculas, exceto para nomes de pessoas; exemplos: m, km, Pa. A expressão de uma grandeza física em função das grandezas fundamentais denomina-se equação dimensional. Para análise dimensional nesses sistemas de unidades, adotam-se as seguintes notações para as grandezas fundamentais: M - massa; L - comprimento; T - tempo A partir das grandezas fundamentais, obtêm-se as seguintes grandezas derivadas: Velocidade = espaço · tempo-1 = L T-1 Aceleração = velocidade · tempo-1 = L T-2 Força = massa · aceleração = M L T-2 = F Trabalho (Energia) = força · deslocamento = M L2 T-2 Potência = trabalho · tempo-1 = M L2 T-3 Pressão = força · área-1 = M L-1 T-2 Para esta grandeza, fazendo-se, , tem- se: Que é muito útil para se expressar o potencial de água no solo, na planta, etc., em unidades de pressão, devendo ser interpretado, como a energia necessária para remover a água do meio, por unidade de volume. Assim, é comum referir-se ao potencial de água no solo, na planta ou na atmosfera, nas unidades pascal, atmosfera, bar, etc. Com essas considerações, pode-se construir o seguinte quadro: 1.3. Propriedades dos fluídos Dentre as propriedades dos fluidos, destacam-se para estudo da Hidráulica: 1.3.1. Massa específica (ρ) ou densidade absoluta É o quociente entre a massa do fluido e o volume que contém essa massa. As dimensões de ρ são: kg / m3 (Sistema internacional - SI) ou UTM / m3 ou kgf s2 / m4 (Sistema técnico). Exemplos: a) massa específica da água (4º C) ρ = 1 g / cm3 (C.G.S.) ρ = 1.000 kg / m3 (SI) ρ = 101,94 UTM / m3 ou kgf s2 / m4 (Sistema técnico, g = 9,81 m /s2) b) massa específica do mercúrio ρ = 13.595,1 kg / m3 (SI) ρ = 1.385,84 UTM / m3 ou kgf s2 / m4 (Sistema técnico, g = 9,81 m /s2) 1.3.2. Peso específico (γ) É o quociente entre o peso de um dado fluido e o volume que o contém. As dimensões de γ são: N / m3 (Sistema Internacional - SI) ou kgf / m3 (Sistema técnico). Exemplos: a) Peso específico da água (4º C) γ = 9.806,65 N / m3 (SI) γ = 1000 kgf / m3 (Sistema técnico) b) Peso específico do mercúrio (Hg) γ = 13.595,1 kgf / m3 (Sistema técnico) Entre o peso específico e a massa específica existe a relação fundamental, envolvendo a aceleração da gravidade (g): γ = ρxg. 1.3.3. Densidade relativa (δ) É a relação entre a massa específica (ρ) ou o peso específico (γ) de uma substância e a massa específica (ρ1) ou o peso específico (γ1) de uma outra substância, tomada como referência. Pela própria definição, a densidade é adimensional. A referência adotada para os líquidos é a água a 4º C. ρ1 = 1000 kg / m3 (SI) ρ1 = 101,94 UTM / m3 ou kgf s2 / m4 (Sistema Técnico, g = 9,81 m / s2) 1.3.4. Viscosidade (atrito interno) É a propriedade dos fluidos responsável pela resistência ao deslocamento (deformação), sendo bastante influenciada pela temperatura. Imaginando-se duas lâminas, com área A, no interior de um fluido, distanciadas de Δn, para induzir uma variação de velocidade Δv entre ambas, em regime laminar, necessita-se desenvolver uma força F: μ - coeficiente de viscosidade dinâmica (característica de cada fluido). Em consequência da viscosidade, o escoamento de fluidos dentro das canalizações somente se verifica com “perda de energia”, perda essa designada por “perda de carga”. No Sistema Internacional (SI) a unidade é o N s / m2, no Sistema Técnico é o Kgf s / m2 e no sistema CGS a unidade é o poise (dina s / cm2). A viscosidade cinemática representa a razão entre a viscosidade dinâmica (μ) e a massa específica do fluído (ρ). Em que ν é a viscosidade cinemática. As unidades são: m2 / s (Sist. Internacional e Sist. Técnico) e cm2 / s (Sist. C.G.S.) 1.3.5. Coesão É uma pequena força de atração entre as moléculas do próprio liquido (atração eletroquímica). Essa propriedade é que permite as moléculas fluidas resistirem a pequenos esforços de tensão. A formação da gota d’água é devida a coesão. 1.3.6. Adesão Quando à atração exercida sobre moléculas líquidas pelas moléculas de um sólido é maior que a atração eletroquímica existente entre as moléculas do líquido (coesão) ocorre a adesão do líquido às paredes do sólido. A água tem maior adesão que coesão por isto o menisco em um tubo de pequeno diâmetro (1 cm, por exemplo) é perfeitamente visível como ascendente do centro para a periferia; o contrário ocorre com o mercúrio cuja adesão e menor que a coesão. Figura 1. Representação da coesão e da adesão. 1.3.7. Tensão superficial (σ) e capilaridade: Na superfície de contato entre dois fluidos não miscíveis (água e ar), forma-se uma película elástica capaz de resistir a pequenos esforços. A tensão superficial é a força de coesão necessária para formar a película. Figura 2. Representação da tensão superficial. As unidades são: N / m (SI) e kgf / m (Sistema Técnico). As propriedades de adesão, coesão e tensão superficial são responsáveis pelo fenômeno da capilaridade, que é a elevação (ou depressão) de um líquido dentro de umtubo de pequeno diâmetro. No caso da água a capilaridade ocorre quando a coesão entre as moléculas do líquido é superada pelas forças de adesão da capilar. Figura 3. Representação da capilaridade. A elevação ou depressão em um tubo é dada por: Em que: h = elevação ou depressão; σ = coeficiente de tensão superficial; θ = ângulo formado pela superfície liquida com a parede do tubo; γ = peso específico; D = diâmetro do tubo 1.3.8. Solubilidade dos gases Os líquidos podem dissolver os gases. A água dissolve o ar em proporções diferentes entre o O2 e N. A dissolução dos gases pode ser a causa do desprendimento de ar e aparecimento de bolhas de ar os pontos altos das tubulações. 1.3.9. Pressão de vapor Os líquidos atingem o estado de vapor com a elevação da temperatura ou com a redução da pressão (pressão negativa ou tensão). Se o líquido está em um recipiente fechado, as moléculas de vapor vão acumulando-se sobre o mesmo, até atingirem a saturação (pressão de saturação), exercendo uma pressão – pressão de vapor. A pressão de vapor aumenta com a elevação da temperatura, tornando-se igual ao valor da pressão atmosférica no ponto de ebulição. Para a água, ao nível do mar, isso ocorre a 100 ºC, com pressão de 10,33 m c.a. 1.4. Exercícios 1. Se 7 m3 de um óleo tem massa de 6300 kg, calcular sua massa específica (ρ), densidade relativa (δ) e peso específico (γ) no sistema internacional (SI). Considere g = 9,81 m/s2. R: ρ = 900 kg/m3; γ = 8829 N/m3; δ = 0,9 2. Repita o problema do exercício anterior usando o Sistema Técnico. Compare os resultados. R: ρ = 91,74 U.T.M./m3; γ = 900 kgf/m3; δ = 0,9 3. Dois dm3 de um líquido pesam 1640 gf. Calcular seu peso específico, massa específica e densidade. R = γ = 820 kgf/m3; ρ = 83,6 U.T.M/m3; δ = 0,82 4. Um fluido pesa 25 N/m3 em um local onde a aceleração da gravidade é 9,81 m/s2. Determinar: massa específica do fluido no referido local em kg/m3. R: 2,548 kg/m3 5. Para um líquido cuja massa especifica é ρ = 85,3 kgf s2 / m4, calcular o respectivo peso especifico (γ) e a densidade relativa (δ). (Sistema Técnico). R: γ = 836,8 kgf/m3; δ = 0,836 6. Um frasco de densidade cheio de gasolina tem massa de 31,6 g, quando cheio de água ele tem massa de 40 g, e quando vazio, possui massa de 12 g. Determine a densidade relativa da gasolina (δ). R: δ = 0,7 7. Calcular o peso de uma massa de 5,55 U.T.M. em um local onde a aceleração da gravidade é 9,65 m/s2. R: Peso = 53,56 kgf 8. Transformar a pressão de 15 m.c.a. em: a) kgf / cm2; b) kgf / m2; c) atm; d) kPa Obs: Utilizar peso especifico da água de 9806,65 N/m3, 1 atm = 101325 Pa = 760 mmHg R: a = 1,5 kgf/cm2; b = 15.000 kgf/m2; c = 1,452 atm; d = 147,13 kPa CÁPITULO 2. HIDROSTÁTICA A Hidráulica teórica pode ser dividida em Hidrostática e Hidrodinâmica. Neste capítulo iremos abordar aspectos importantes sobre a água em repouso (Hidrostática). O mesmo servirá de base para o estudo da Hidráulica aplicada. Abordaremos pressão dos fluídos, Lei de Pascal, Lei de Stevin, escalas de pressão, medidores de pressão e empuxo. 2.1. Pressão provocada pela coluna de um fluido A pressão exercida por um fluido pode ser expressa por uma coluna desse fluido em relação a uma superfície. Assim, considerando-se uma coluna de fluido de peso específico γ, altura h e área A, a força que o fluido exerce na base A refere-se ao seu peso, ou seja: força = peso = γ volume = γ A h. Sendo, pressão = força/área = . Assim, podendo-se entender que a pressão corresponde à altura de coluna do fluido. 2.2. Lei de Stevin Para o reservatório com base A, contendo um líquido de peso específico γ, até a altura h, a pressão exercida na base é: Por essa expressão, verifica-se que a pressão exercida pela coluna do fluido (pressão hidrostática), não depende da área envolvida, mas somente da natureza do fluido (γ) e da altura da coluna (h). Considerando-se os pontos 1 e 2, nas profundidades h1 e h2, as pressões serão: pressão 1 = γ h1 e pressão 2 = γ h2. Assim, pressão 2 – pressão 1 = γ (h2 -h1), que traduz o Teorema Fundamental da Hidrostática, ou Lei de Stevin: “A diferença de pressão entre dois pontos no interior de um fluido homogêneo e em repouso, é igual ao produto da diferença de profundidade e o peso específico”. 2.3. Lei de Pascal “A pressão exercida num ponto no interior de um fluido transmite-se com a mesma intensidade em todas as direções”. Como exemplo, acionando-se o êmbolo do sistema ilustrado, o fluido escoa-se semelhantemente pelos orifícios. Existem muitas aplicações práticas do princípio de Pascal, podendo-se citar: o freio hidráulico de máquinas e de automóveis, elevadores em postos de lavagem e a prensa hidráulica. 2.4. Pressão atmosférica - unidades de pressão A atmosfera constitui-se em um fluido que exerce pressão na superfície da Terra: a pressão atmosférica. Essa pressão exercida pelo ar foi demonstrada pela clássica experiência de Torricelli: um tubo é preenchido com mercúrio e invertido em uma cuba com esse mesmo fluido. O nível do mercúrio estabiliza-se a 760 mm de altura, no caso de a experiência ter sido realizada ao nível do mar. Acima do mercúrio no tubo, praticamente reina o vácuo. Pela Lei de Stevin, estando os pontos A e B ao mesmo nível, eles possuem a mesma pressão e conclui-se que a pressão atmosférica ao nível do mar (pressão atmosférica normal) corresponde a 760 mm de Hg. Essa mesma pressão pode ser expressa em coluna de outro líquido. Assim, sendo a água 13,596 vezes mais leve que o mercúrio (dHg = 13,596), multiplicando-se a coluna de mercúrio pelo valor de sua densidade, ter-se-á o equivalente em coluna d’água: 0,760 m x 13,596 = 10,33 metros de coluna d’água. Exemplificando, no esquema a seguir, para uma coluna com essa altura e 1 cm2 de área, tem-se: Peso da coluna = γ A H = 103 kgf/m3 · 0,0001 m2 · 10,33 m = 1,033 kgf ⇒ Deste modo, a pressão atmosférica ao nível do mar, chamada atmosfera física, pode ser expressa nas diversas unidades: 1 atm física = 760 mm Hg = 10,33 m c.a. = 1,033 kgf/cm2 = 10.330 kgf/m2 = 1,013 bar = 101,3 kPa = 0,101 MPa = 14,7 psi (pound square inch) Exercícios: 9. O elevador hidráulico consta de dois recipientes providos de êmbolos, cujas seções têm áreas diferentes e se intercomunicam por um fluido. Imaginando-se que o diâmetro do cilindro maior é 5 vezes o diâmetro do cilindro menor e o peso do veículo é 3.000 kgf, qual deverá ser a força F1 para equilibrar o sistema? R: 120 kgf 10. Determinar a pressão absoluta (em atm) que atua em um mergulhador em um lago ao nível do mar, a 20 m de profundidade. Considere γágua do lago = 1,07 grama-força/cm3. R: 3,07 atm 11. Qual a pressão no fundo de um reservatório que contém água, com 3 m de profundidade? Idem se o reservatório contém gasolina (densidade de 0,75)? R: 0,3 kgf/cm2 e 0,225 kgf/cm2
Compartilhar