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Rev. bras. fisioter. Vol. 7, No. 2 (2003), 101-114 ©Associação Brasileira de Fisioterapia INSTABILIDADE FUNCIONAL DO TORNOZELO: CONTROLE MOTOR E APLICAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA Zampieri, C. 1•2 e Almeida, G. L. 1•3 1Universidade de Ribeirão Preto, UNAERP 2Universidade do Estado de São Paulo, UNESP, Rio Claro 3Universidade de Campinas, UNICAMP Correspondência para: Almeida, G. L., Laboratório de Estudos Clínicos em Fisioterapia, LECFT, Curso de Fisioterapia da Universidade de Ribeirão Preto, UNAERP, Av. Costabile Romano, 2201, Ribeirânea, CEP 14096-380, Ribeirão Preto, SP, e-mail: gla@odin.unaerp.br Recebido: 3/5/02 - Aceito: 17/2/03 RESUMO A instabilidade funcional do tornozelo é um problema crônico muito freqüente, principalmente entre atletas. Esse problema é sempre abordado na prática fisioterapêutica, porém pouco se sabe de concreto acerca de sua verdadeira etiologia. Por essa razão, os tratamentos fisioterapêuticos atualmente oferecidos são pouco padronizados e pouco fundamentados cientificamente. Neste artigo é feita uma revisão da literatura sobre a instabilidade funcional do tornozelo, ressaltando os aspectos mais relevantes para atualização do fisioterapeuta que trata essa lesão. Juntamente com esta revisão foram mostrados alguns dados de um estudo de movimentos voluntários realizados em laboratório. Primeiro lugar, foi descrito um tornozelo normal em seus aspectos anatômicos e funcionais. Em seguida relatou-se a incidência do entorse e sua relação com a instabilidade funcional. Depois, discorreu-se sobre os mecanismos de lesão, assim como as modificações e adaptações das estruturas envolvidas no entorse. Na seqüência foram escritos os possíveis mecanismos defesa e proteção do organismo para evitar lesões em inversão do tornozelo. Também discutimos como as mudanças nesses mecanismos podem predispor o indivíduo ao entorse, enfocando particularmente as respostas reflexas mono e polissinápticas (reações pré- programadas) na musculatura dessa articulação. Além das respostas reflexas, também foi abordado o papel do controle dos movimentos voluntários do tornozelo na instabilidade funcional. Finalmente, elegeu-se um sistema de avaliação fisioterapêutica e classificação do entorse, também fazendo considerações em relação às condutas adotadas para o tratamento da instabilidade funcional do tornozelo. Palavras-chave: tornozelo, entorse, ligamentos, fisioterapia, instabilidade e eletrorniografia. ABSTRACT Functional instability of the ankle is a very frequent chronic problem, especially among athletes. Even though this problem is very common in Physical Therapy practice, little is known about its true etiology. For this reason, physical therapy treatments that are currently offered lack patterns and scientific basis. In this article, we review the literature about: functional instability of the ankle, highlighting the most relevant aspects for physical therapists who treat this problem. Firstly we describe a normal ankle on its anatornical and functional aspects. Secondly we report the ankle sprain incidence and its relat:ion to functional instability. Next, we discourse about the mechanism of lesion, as well as the modifications and adaptations of the structures involved in the sprain. Then, we describe the possible mechanisms of body defense and protection to avoid inversion lesions of the ankle. We also dis- cuss how some changes in these mechanisms can predispose individuais to sprains, and we emphasize particularly mono and polisynaptic (pre-programmed reactions) responses in the muscles of the ankle. Finally, we elected a pattern of physiotherapic evaluation and classification of the sprain and we also make some considerations about physiotherapic treatment of functional instability of the ankle. Key words: ankle, sprain, ligaments, physical therapy, instability, and electromyography. 102 Zampieri, C. e Almeida, G. L. Rev. bras. fisioter. DESCRIÇÃO ANATÔMICA E FUNCIONAL DA ARTICULAÇÃO DO TORNOZELO Ossos e articulações O complexo articular do tornozelo é composto por articulações taiocrurai e subtalar, ambas classificadas como diartroses, isto é, capazes de se mover livremente. A articulação talocrural é constituída por extremidades distais da tíbia (maléolo mediai), da fíbula (maléolo lateral) e da face su- perior do tálus. O tálus articula-se superiormente com a extremidade distai da tíbia e lateralmente com a extremidade distai da fíbula. Esse encaixe em forma de dobradiça entre os maléolos e o tálus confere ao tornozelo estabilidade, fundamental durante a sustentação de peso. 1 Os movimen- tos realizados nessa articulação são a flexão dorsal e a plantar, com amplitude angular que pode atingir até 45°. A articulação subtalar é formada pelas faces inferior do tálus e superior do calcâneo. Sua conformação permite movimentos de inversão (cerca de 20°) e eversão (cerca de 5°). 2 Kendall descreve a inversão e a eversão como rotações da planta do pé, respectivamente, no sentido mediai e laterai.3 Normalmente, a inversão ocorre junto a algum grau de flexão plantar da articulação talocrural, ao pas- so que a eversão freqüentemente ocorre associada a uma flexão dorsai.2 A amplitude dos movimentos de flexão plantar e inversão é maior quando comparada à flexão dorsal e à eversão no tornozelo. 2 Tal fato deve-se à arquitetura ós- sea dos maléolos, sendo o maléolo lateral mais alonga- do do que o mediai. Essa arquitetura permite à articulação subtalar e ao tornozelo maior liberdade nos movimentos de flexão plantar e inversão, restringindo os movimentos de eversão e flexão dorsal.4 Ligamentos Os ligamentos são estruturas articulares resistentes e pouco elásticas.5 Sua função principal é manter as su- perfícies articulares encaixadas, produzindo estabilidade articular e limitando a amplitude de movimento. Por isso, algumas vezes os ligamentos são citados na literatura como estabilizadores articulares estáticos. 5 Muitos estudos epidemiológicos relatam que aproxima- damente 85% dos entorses do tornozelo são laterais, ou seja, acometem os ligamentos laterais dessa articulação.6· 7• 8• 9• 10 Há três ligamentos principais que assistem à estabilidade lateral do tornozelo: o talofibular anterior (LTFA), o talofibular posterior (LTFP) e o calcaneofibular (LCF). A Figura 1 mostra a posição do LTFA e LCF em relação à tíbia, à fíbula e ao tálus. O LTFA localiza-se súpero-lateralmente ao tálus, sendo considerado extensão da cápsula articular anterior.9 No adulto, suas fibras possuem aproximadamente 20 mm de comprimento, 10 mm de largura e 2 mm de es- pessura.11· 12 Sua orientação é paralela à superfície plantar, quando o tom<;>zelo está em posição neutra, e passa a ser praticamente perpendicular ao chão na flexão plantar com- pleta.6· 13 Em razão de sua posição, a principal função do LTFA é limitar a inversãoY Figura 1. Representação da vista lateral do tornozelo mostrando o L1FA (ligamento talofibular anterior), o LCF (ligamento calcaneoficular) e o L1FP (ligamento talofibular posterior). O LTFP faz parte da cápsula articular posterior e estende-se do tubérculo posterolaterai do tálus à face mediai do maléolo lateral. A Figura 2 ilustra a posição desse ligamento em relação à face posterior da tíbia, da fíbula, do tálus e do calcâneo. Seu comprimento no adulto va- ria em tomo de 25 mm e sua largura, cerca de 4 mm.9• 12 A função do LTFP é limitar a dorsiflexão extrema. 11 Figura 2. Representação da vista posterior do tornozelo ilustrando a posição do LTFP (ligamento talofibular posterior) em relação à tíbia, à fibula, ao talus e ao calcâneo. Vol. 7 No. 2, 2003 Instabilidade Funcional do Tornozelo 103 O LCF atravessa as articulações talocrural e subtalar, originando-se na extremidade do maléolo lateral e inse- rindo-se na tróclea peroneal do calcâneo.Sua função é limitar a inversão do tálus e do calcâneo durante um estresse articular o tornozelo em varo. Suas fibras são extracapsulares e possuem conformação torcida, com aspecto de corda, atingindo, em média, 2 em de comprimento, 5 mm de largura e 3 mm de espessura. 11 Um estudo de tração realizado em cadáveres mostrou que dentre os ligamentos laterais do tornozelo, o LTFP é o mais resistente, seguido pelo LCF e pelo LTFA, o me- nos resistente dos três. 14 O grau de resistência desses li- gamentos e sua disposição anatômica estão diretamente relacionados ao mecanismo e à ordem de envolvimento dessas estruturas durante uma lesão. 8• 13• 11 • 5 Dessa forma, geralmente o LTFA é o primeiro a ser comprometido durante um entorse, seguido pelo LCF e pelo LTFP. Músculos Os músculos têm por função gerar as articulações torques musculares, cuja função é produzir movimentos ou reagir às perturbações durante o movimento. 15 A principal musculatura envolvida no entorse do tornozelo é a mus- culatura fibular. Quando estiramos a musculatura fibular por meio de uma inversão abrupta, essa musculatura é ativada reflexamente, gerando uma força em eversão. Essa força eversora pode ajudar a estabilizar lateralmente o tornozelo ao se opor à inversão. 11 • 16 Os fibulares longo e curto originam-se na extremi- dade proximal da fíbula e inserem-se, respectivamente, no primeiro e no quinto metatarsiano. A ação primária dos fibulares é a eversão (Figura 3), contraindo-se excentri- camente para ajudar a evitar a inversão abrupta que po- deria levar ao entorse do tornozelo. 17 Alguns autores advogam que os fibulares atuam na flexão plantar, 18 no entanto, mostraremos mais adiante uma ação agonista dos fibulares na flexão dorsal do tornozelo, quando é força- do a mover em flexão dorsal com padrão de eversão. 19 Além dos fjbulares, o músculo extensor longo dos dedos também pode ser considerado estabilizador do tornozelo (Figura 3). Apesar desse músculo agir primariamente na extensão dos dedos, também auxilia os fibulares nos mo- vimentos de eversão. Sua origem se dá no côndilo lateral da tíbia e nos três quartos superiores da fíbula e de sua inserção, nas falanges do segundo ao quinto dedo. O músculo principal na flexão dorsal do tornozelo é o tibial anterior (Figura 3). Porém, ao contrário do extensor longo de de- dos e fibulares, o tibial anterior atua na inversão. Ele tem origem no côndilo lateral e na metade proximal da tíbia e sua inserção se dá na base do primeiro metatarsiano e no osso cuneiforme. Os principais músculos posteriores que atuam no tornozelo são o gastrocnêmio, o sóleus e o tibial posterior, mostrados nas Figuras 4 e 5. O gastrocnêmio é formado por dois ventres musculares, mediai e lateral, os quais se originam nos côndilos femorais e se inserem na superfí- cie posterior do calcâneo. Esse músculo cruza as articu- lações do joelho e do tornozelo (biarticular), agindo tanto na flexão plantar do tornozelo quanto na flexão do joe- lho. O sóleus tem origem no terço proximal da fíbula e no terço intermediário da tíbia, e insere-se no tendão do músculo gastrocnêmio. A ação do sóleus é a flexão plantar do tornozelo. Já o tibial posterior, é o principal músculo que antagoniza a ação dos fibulares, agindo tanto na flexão plantar quanto na inversão do tornozelo. Sua origem se dá na superfície posterior da tíbia e da fíbula (dois terços proximais) e sua inserção nos ossos cuneiformes, no cubóide e nas bases do 211, 311 e 4n metatarsos. Infelizmente esse músculo raramente é estudado, em razão de sua localização profunda, o que inviabiliza uma investigação EMG de superfície (Figura 5). Fibular curto Figura 3. Representação da vista lateral dos músculos da perna, ilustrando os eversores, os flexores dorsais e o extensor dos dedos. Figura 4. Representação da vista posterior dos gastrocnêmios, dos sóleus e do tendão de Aquiles. 104 Zampieri, C. e Almeida, G. L. Rev. bras. jisioter. Tibial ~~.un; posterior Tendão do triceps sural Figura 5. Representação da vista posterior dos músculos da perna, ilustrando o posicionamento do tibial posterior em relação ao gastrocnêmio lateral. MECANISMO DE LESÃO O entorse é uma lesão ligamentar aguda decorrente de estresse aplicado em uma articulação, provocando rompimento parcial ou total dos ligamentos. 20• 21 • 22 Geral- mente, o entorse de tornozelo ocorre quando há sobrecarga articular na posição de inversão e flexão plantar. 5• 23• 24• 25• 26 Essa posição reduz a superfície de contato entre o tálus e a tíbia, favorecendo a lesão das estruturas que confe- rem a estabilidade lateral dessa articulação.8• 13• 10 A Figura 6 ilustra a ruptura do LTFA e do LCF quando o tornozelo se encontra na posição de estresse em inversão e flexão plantar. O retorno de um salto ao solo, o apoio em uma superfície irregular e acidentes automobilísticos são si- tuações que normalmente geram o entorse.50 Figura 6. Posição de estresse articular em inversão e flexão plantar que leva ao entorse, ilustrando a ruptura do LTFA e do LCF. Os ligamentos e a cápsula articular podem limitar movimentos de inversão e flexão plantar do tornozelo nas amplitudes articulares máximas. No entanto, durante um impacto violento, que gera nessa articulação um movimento muito amplo e abrupto, a resistência das estruturas estabiliza- doras do tornozelo é superada, resultando em entorse.50 Durante flexão plantar extrema e abrupta, as fibras do LTFA são fortemente estiradas. Por apresentarem baixa resistência à tensão, freqüentemente são as primeiras a se romper, juntamente com a cápsula articular anterior. 5• 25• 27 De acordo com estudos de Bronstrõm, aproximadamente 2/3 dos entorses do tornozelo constituem-se de lesões do LTFA.8 Uma vez que o LTFA se rompe, a sobrecarga no LCF aumenta. Se o estresse articular persiste, o LCF é a pró- xima estrutura a ser lesada ou rompida.9• 28 No caso de uma sobrecarga articular extrema, também pode ocorrer o rompimento do LTFP. 8• 10 A ruptura desse ligamento é pouco comum e caracteriza lesões mais severas. Apesar de a nomenclatura entorse estar relacionada à lesão ligamentar, os ligamentos não são as únicas estru- turas envolvidas na lesão. Alguns relatos clínicos indicam que também há comprometimento do sistema muscular e do sistema nervoso periférico dos indivíduos que sofrem entorse. Sammarco e DiRaimmondo31 analisaram micros- copicamente tendões de músculos fibulares de portado- res de instabilidade funcional, submetidos à cirurgia estabilizadora de tornozelo. Dos 4 7 tendões analisados, 11 apresentaram lesões longitudinais isoladas ou múlti- plas, com aspecto degenerativo. Explorações cirúrgicas em pacientes com tornozelo instável detectaram alterações cicatriciais macroscópicas e rupturas nos nervos fibulares profundo e superficial. 30. 31• 32, 33, 34 São poucos os estudos sobre a participação da musculatura do tornozelo no mecanismo do entorse. Em geral, esses estudos relatam que somente após uma seqüên- cia de lesões ligamentares a musculatura eversora entraria em ação, via contração reflexa. 16 No entanto, é importante salientar que, apesar de o envolvimento inicial no entorse ser possivelmente do LTFA, a lesão de outras estruturas, como a musculatura, acontece de forma contínua e concomitante. Além disso, o conjunto musculotendíneo é uma estrutura ativa, capaz de responder prontamente a qualquer estímulo de estiramento abrupto. Isto é, por causa de um mecanismo reflexo, a musculatura pode ser ativada mesmo quando não ocorre lesão ligamentar. INCIDÊNCIA DO ENTORSE E SUA RELAÇÃO COM A INSTABILIDADE FUNCIONAL O entorse de tornozelo é considerado a lesão mais comum na prática esportiva. 10• 35• 36• 37 Dentre todas as lesões do sistema músculo-esquelético que acometematletas, de Vol. 7 No. 2, 2003 Instabilidade Funcional do Tornozelo 105 10% a 30% se localizam no tornozelo e, destas, 25% são caracterizadas como entorse. 38 Bailarinos, jogadores de basquete, jogadores de futebol e corredores são as prin- cipais vítimas desse trauma. 9• 11• 35 O entorse de tornozelo é o maior responsável pelo afastamento competitivo de atletas em temporada.4• 35 No entanto, este não é o único prejuízo acarretado por tal le- são. Cerca de 40% dos indivíduos que sofrem esse trauma passam a apresentar instabilidade articular. 6• 16• 39• 40• 41 · 42 Essa instabilidade articular pode, a longo prazo, ocasionar pro- cessos degenerativos no tornozelo.43• 44 Segundo alguns estudiosos, a instabilidade articular do tornozelo pode ser do tipo funcional ou mecânica. 28• 45• 46 • 47 A instabilidade funcional é um distúrbio referido pelo paciente como "falseias no tornozelo", normalmente acom- panhada de entorses recorrentes e dor na região articular. 48• 49 • 5° Como falseio entende-se uma descontinuidade abrupta na direção da execução de um movimento, conferindo aspecto de flutuação ao mesmo. Já a instabilidade mecânica é caracterizada por hipermobilidade articular, mensurável radiologicamente, podendo ou não estar associada a en- torses recorrentes. Essa instabilidade mecânica seria con- seqüência da falta das estruturas estabilizadoras do tornozelo (i.e. ligamentos). 16• 28• 45 MECANISMOS DE DEFESA E PROTEÇÃO Por alguma razão ainda desconhecida, indivíduos que possuem tornozelos funcionalmente instáveis são muito suscetíveis a entorses recorrentes. Geralmente, atividades comuns da vida diária. como a marcha. a prática desportiva e o contato com terrenos irregulares, são condições suficientes para provocar novas lesões nesses indivíduos.37 Já aqueles que não possuem história de entorses recorrentes, raramente sofrem entorses de tornozelo em tais situações. As principais perguntas que emergem desse fato são: por que alguns indivíduos possuem entorses recorrentes de tornozelo e outros não? Quais as mudança(s) e adaptação(ões) nesse mecanismo predispõem alguns indivíduos aos entorses recorrentes? Integridade ligamentar Uma das hipóteses levantadas para esclarecer tais questões está relacionada à integridade ligamentar lateral do tornozelo. Segundo alguns estudiosos, a falta de liga- mentos no tornozelo poderia deixá-lo mais instável e suscetível a novas lesões. 24• 51 Parece lógico que a falta de estruturas ligamentares estabilizadoras de tornozelo seria condição suficiente para explicar os entorses recidivantes. No entanto, essa explicação não tem suporte em várias pesquisas. Muitos estudos têm demonstrado que não há correlação entre entorses recorrentes e falta de integridade ligamentar de tornozelo. Em outras palavras, o fato de alguns indivíduos adquirirem instabilidade mecânica de tornozelo não implica que os mesmos venham a apresentar entorses recorrentes dessa articulação. 52• 53 • 54• 55, 56• 57 Reflexos monossinápticos Ao estirarmos uma musculatura, alongamos também seu fuso neuromuscular que inicialmente ativa as fibras aferentes Ia e li. Essas fibras aferentes fazem conexão monossináptica (Ia) e polissináptica (li) com os neurônios motores eferentes a da musculatura homônima, ativando- a. A ativação dos neurônios motores a ocorre inicialmente de forma monossináptica. uma vez que há apenas uma sinapse entre o neurônio motor a. e o aferente Ia; e a velocidade de condução do estímulo elétrico é maior em Ia do que nos neurônios li. Essa ativação gera contração reflexa da mus- culatura, cuja latência entr1:! o estiramento do fuso e o início da contração é de aproximadamente 30 milisegundos. 58 Esse reflexo também é conhecido como reflexo de latência curta. arco reflexo, resposta Ml ou reflexo monossináptico. A função desse reflexo é de proteção, uma vez que gera uma força muscular que se oporá ao estiramento. Dessa forma. uma ativação reflexa da musculatura eversora e flexora dorsal do tornozelo (fibular e extensor longo dos dedos) antagonizaria os movimentos amplos e abruptos em inversão e em flexão plantar, que poderiam gerar o entorse. Isto é, a ativação reflexa dessa musculatura preveniria a instabi- lidade funcional e, por conseguinte, as lesões recorrentes na articulação do tornozelo. No entanto, como veremos posteriormente, não há consenso na literatura sobre a exis- tência de atraso na ativação reflexa dos fibulares. As investigações sobre os reflexos monossinápticos tentam reproduzir o episódio do entorse em laboratório, registrando a resposta eletromiográfica (EMG) da muscu- latura fibular. Geralmente nesses estudos, os indivíduos ficam em sobre uma plataforma, em posição ortostática, com o peso igualmente distribuído entre os dois pés. Essa plataforma possui um mecanismo de sustentação que, quando eliminado, gera inclinação unilateral súbita da superfície de apoio de um dos pés, simulando uma inversão de tornozelo. No momento da inversão, a atividade EMG da musculatura fibular é registrada com o intuito de mensurar a latência do reflexo de estiramento monossináptico. Para alguns pesquisadores, não há diferença significativa entre as latências dos reflexos monossinápticos na musculatura fibular de indivíduos com e sem história de entorses recorrentes. 59• 6n· 61 No entanto, para outros pesquisadores há atraso significativo na elicitação do reflexo monossináptico dessa musculatura em indivíduos com entorses recorrentes do tornozelo. 46• 52• 62• 63 Segundo esses autores, a contração reflexa da musculatura fibular desem- penharia papel protetor na articulação do tornozelo. Essa ativação reflexa promoveria força muscular no sentido oposto ao do entorse, permitindo resposta ampla e abrupta em eversão, associada à flexão dorsal do tornozelo. Portanto, 106 Zampieri, C. e Almeida, G. L. Rev. bras. fisioter. um atraso nessa resposta reflexa comprometeria a utili- zação de um mecanismo de proteção da articulação. Sabe-se que o fuso neuromuscular é sensível à ve· locidade de estiramento do músculo.64 No entanto, nenhum dos estudos descritos anteriormente, sobre reflexos monossinápticos na musculatura fibular de indivíduos com instabilidade funcional do tornozelo, considerou a velo- cidade de estiramento dessa musculatura. Lynch et al. 29 demonstraram que variações na velocidade e no grau de inclinação da plataforma durante a simulação do entor- se interferem na latência de resposta reflexa dos fibulares longo e curto de indivíduos normaisY Dessa forma, a falta de controle experimental rigoroso desses estudos dificulta uma conclusão definitiva a respeito da existência ou não de atrasos nos reflexos monossinápticos em indivíduos com história de entorses recorrentes. Pode-se argumentar que, mesmo com aumento da latência das respostas monosinápticas nos indivíduos portadores de entorses recorrentes, elas não poderiam funcionar como um mecanismo de proteção no caso dos impactos abruptos. A perturbação, ou seja, o movimen- to rigoroso em inversão e flexão plantar do tornozelo, poderia ocorrer muito rapidamente. Nesse caso, o tempo para que a resposta monossináptica (algo em torno de 30 ms) entrasse em ação e gerasse as forças que se contra- pusessem à inversão e à flexão plantar poderia ser mai- or que o da perturbação. Em outras palavras, o tempo para colocar em prática essas respostas reflexas, apesar de pequeno, poderia ser maior do que o tempo para ocorrência de um impacto violento. Portanto, o mecanismo reflexo monossináptico perderia sua funcionalidade. Essa situação pode ser verdadeira para lesões ou impactos violentos e súbitos, o que caracteriza uma lesão aguda ou entorse primário. Nesse caso, o estiramento gerado na musculatura realmente poderia ocorrer em um tempo menorque o necessário para o sistema nervoso colocar em ação um mecanismo de defesa. Entretanto, nos entorses recorrentes, geralmente os impactos não são violentos, nem tão rápidos, o que daria mais tempo para o sistema ner- voso colocar em ação" o mecanismo de proteção represen- tado pelos reflexos monossinápticos. Assim, novos estudos com controle experimental rigoroso deveriam ser feitos para detectar a existência ou não do atraso nas respostas monossinápticas da musculatura fibular dos indivíduos. Como veremos, os reflexos monossinápticos são segui- dos de reflexos polissinápticos mais elaborados e com participação mais eficiente no mecanismo de proteção do tornozelo. Reflexos· polissinápticos Durante muitos anos o reflexo monossináptico foi tido como único e invariável. Entretanto, em 1960, Hammond65 constatou que .o reflexo de estiramento não consiste ape- nas em uma resposta estereotipada. Esse autor, ao inves- tigar esse reflexo durante a contração voluntária da musculatura interóssea de indivíduos normais, verificou a existência de um segundo componente eletromiográfico que apresentava latência de aproximadamente 60 milissegundos. Essa resposta ocorria depois do reflexo monossináptico e antes da resposta voluntária, e necessitava de ao menos 200 milissegundos para ser elicitada. Esse segundo componente do reflexo de estiramento foi denominado reação de lon- ga latência, sendo também conhecido como reação pré- programada ou M2 e M3. Trata-se de um reflexo polissináptico cuja circuitaria envolve conexões transcorticais. 66• 67• 68 A exata função dos reflexos polissinápticos ainda não é totalmente conhecida. Sugere-se que tais reações são capazes de promover respostas mais vigorosas66 às per- turbações externas, quando a execução de uma tarefa motora é perturbada. 69• 70 Muitos estudos têm demonstrado que esses reflexos teriam função mais significativa do que os reflexos monossinápticos, por se tratar de um envelope de ativi- dade EMG mais vigoroso e duradouro.66 Portanto, a resposta polissináptica recrutaria maior número de unidades motoras e fibras musculares, gerando mais força estabilizadora na articulação. 66 Além disso, a influência de uma rota trans- cortical na elicitação desses reflexos implicaria uma resposta melhor elaborada e mais lenta66 em comparação com o reflexo monossináptico. As reações pré-programadas têm sido observadas em correções da postura verticaF1 e da marcha durante falseios simulados em indivíduos normais.72 Dessa forma, pode-se pensar que as reações pré-pro- gramadas têm papel mais importante do que os reflexos monossinápticos na prevenção dos entorses recorrentes. Porém, essas duas respostas não acontecem de forma dissociada. Como foi dito, à resposta monossináptica se- gue-se uma polissináptica. Apesar de sua importância, não foi encontrado qualquer estudo na literatura sobre as reações polissinápticas em portadores de entorses recorrentes. Estudos a esse respeito são necessários, p"ois poderão ajudar a es- clarecer o papel dessas repostas reflexas na proteção da articulação do tornozelo contra os entorses recorrentes. Atraso, diminuição ou mesmo ausência das reações pré- programadas poderiam predispor os indivíduos com insta- bilidade funcional do tornozelo aos entorses recorrentes. Movimentos voluntários Nada conclusivo pode ser dito a respeito de modi- ficações no mecanismo de defesa do sistema nervoso em termos de respostas reflexas para prevenir o entorse re- corrente. Por outro lado, o aspecto funcionalidade do tornozelo durante tarefas motoras voluntárias também deve ser considerado. Muito se fala sobre instabilidade funcional Vol. 7 No. 2, 2003 Instabilidade Funcional do Tornozelo 107 do tornozelo. Porém, até recentemente não havia estudos mostrando as modificações e as adaptações que ocorrem nos mecanismos de controle dos movimentos voluntári- os do tornozelo nesses indivíduos. O controle dos movimentos voluntários implica geração de forças musculares apropriadas para promo- ver os movimentos focais (nas articulações que se pre- tende mover) e, ao mesmo tempo, evitar ou diminuir os movimentos nas articulações não-focais (as que se pretende manter estáveis). 73 Para tanto, o sistema nervoso central precisa ser capaz de ativar, de forma coordenada e dentro de um tempo preciso, um conjunto de músculos. Isso é obtido por meio de um perfeito acoplamento temporal e espacial do recrutamento de um número específico de unidades motoras dentro de cada músculo envolvido na geração de um movimento. 73 Em outras palavras, o in- divíduo precisa ser capaz de gerar uma atividade mus- cular apropriada na musculatura agonista e antagonista, produzindo torque muscular específico em uma articu- lação. Nas articulações focais, os torques musculares devem ser suficientes para gerar o movimento desejado. Já nas articulações não-focais, esses torques devem se contrapor à tendência dessas articulações se moverem, em razão do movimento gerado nas articulações não-focais (força de interação). Assim, as articulações não-focais podem exercer o papel de estabilizadoras para que o movimento focal ocorra. 70 Em laboratório, recentemente foram analisados movimentos voluntários de oito indivíduos com instabi- lidade funcional de tornozelo e oito normais.74 Os sujei- tos realizaram movimentos em flexão plantar e dorsal do tornozelo em três distâncias angulares diferentes (10°, 20° e 30°). Durante a execução da tarefa, os sujeitos estavam sentados em frente a uma tela de computador com o pé fixo num manipulador de tornozelo. A tarefa consistia em realizar movimentos do tornozelo, o mais rápido possível, em direção a um alvo. A amplitude do movimento do tornozelo era sinalizada na tela do computador por meio de um cursor e um alvo. Foram coletadas atividades EMG dos músculos tibial anterior, fibulares longo e curto e gastrocnêmio mediai de todos os sujeitos. Além disso, também foram registradas as variações angulares e a velocidade dos movimentos. Em comparação com os indivíduos normais, os por- tadores de entorse recorrente usaram a mesma estratégia para controlar os movimentos voluntários de flexão dorsal e plantar do tornozelo. Os movimentos tiveram forma de sino e foram mais velozes para distâncias angulares maiores. As atividades EMGs da musculatura agonista também aumentaram com o aumento da distância angular e hou- ve padrão de coativação da musculatura antagonista. Essa coativação provavelmente serviu para aumentar a estabi- lidade da articulação. Também não houve diferença entre os grupos na precisão em que os movimentos foram re- alizados. No entanto, a atividade EMG agonista foi estatistica- mente maior para os portadores de entorse recorrente do que para os indivíduos normais. Uma maior atividade EMG agonista gerou um torque muscular maior e, por conseguinte, os movimentos dos indivíduos com entorse recorrente foram mais rápidos. Também é importante salientar que amai- or velocidade dos movimentos dos indivíduos portadores de entorse recorrente não foi conseguida às custas de maior erro. Tanto o erro-padrão da amplitude angular quanto o da velocidade angular foi igual entre os dois grupos de indivíduos, com e sem entorse recorrente. Para ilustrar esses achados, é mostrada na Figura 7 uma série temporal com os dados dos movimentos em flexão dorsal do tornozelo, com as atividades EMGs dos músculos fibular longo e gastrocnêmio .mediai. Nota-se que a velo- cidade dos movimentos foi caracterizada em forma de sino e aumentou com a distância angular, tanto para os indi- víduos normais quanto para os indivíduos portadores de história de entorses recorrentes. No entanto, a velocida- de dos movimentos foi maior para os indivíduos portadores de entorse recorrente (painel da direita) do que para os indivíduos normais(painel da esquerda). A quantidade de atividade EMG dos fibulares aumentou com o aumento da distância angular para os dois grupos, porém foi maior para os indivíduos portadores de entorse, quando comparada aos indivíduos normais. As atividades EMG dos fibulares curtos e do tibial anterior não são mostradas na figura, porém são iguais ao fibular longo. Alguns autores argumentam que a função dos fibulares longo e curto seria a de flexão plantar e não dorsal. 18 O pé foi mantido imobilizado em eversão no manipulando, sobre uma cunha, durante toda a amplitude dos movimentos de flexão dorsal mostrados na Figura 7. Logo, todos os movimentos do tornozelo realizados pelos indivíduos ocorreram no plano sagital e no eixo transversal. Portanto, tanto os fibulares quanto o tibial anterior foram ativados concentricamente, enquan- to os gastrocnêmios foram ativados excentricamente. Se os fibulares não tivessem atuação na flexão dorsal, não se esperaria observar acentuada atividade EMG como demonstrado na Figura 7. Uma quantificação da atividade eletromiográfica entre os 16 indivíduos analisaqos mos- trou que, de modo geral, os fihulares estiveram mais ativos durante a flexão dorsal do que durante a plantar. 19 Esses dados mostram que se deve ter bastante cautela ao assu- mir uma função de flexão plantar para os fibulares. A conclusão deste estudo é que o grau de eversão do pé afeta a ação dos fibulares nos movimentos de flexão dorsal e plantar do tornozelo. AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA Na prática clínica, os entorses primários são diagnos- ticados, classificados e tratados de acordo com a severi- dade da lesão. 108 Zampieri, C. e Almeida, G. L. Rev. bras. fisioter. Classificação Há vários métodos de classificação de entorses pri- mári<;>s descritos na literatura. Esses métodos são ba- seados na funcionalidade articular e no comprometimento do complexo ligamentar lateral do tornozelo, observados clinicamente. Em geral, esses sistemas de classificação seguem a descrição de Kannus e Renstrõm, 74 apesar de ela não ser detalhada: Grau /: entorse leve. Presença de edema leve, per- da funcional sutil e sem alterações na amplitude de mo- vimento articular. Há pouca lesão ligamentar. .9 c:~ (I)~ E,_ cu.!!! o ::::J 001 -c: :llcu o (i) ~ (I) "C cu "C '(3 o ~ ~ o OI c: ..Q lã :; .c u:: o ·E~ •<DG C:- ocu o·- ,_"C -CD ~E C!) 10 o -10 -20 -30 400 200 o -200 0,6 0,3 o 0,12 0,06 Normal ,.;.-- ----------- , t.' ,. ,,. /: -10 ·---20 ······30 100 200 300 400 500 600 Tempo (ms) Grau //: entorse moderado. Paciente refere sentir dor moderada, edema, alguma perda funcional e moderado aumento da amplitude articular fisiológica. Há ruptura ligamentar parcial. Grau ///: entorse severo. Presença de edema seve- ro, dor, equimose, perda da função articular. Podem ser observadas amplitudes de movimentos consideravelmente anormais no tornozelo. Nesse estágio há ruptura completa dos ligamentos. Vista a classificação, segue-se agora uma seqüência de passos que caberiam em uma avaliação fisioterapêutica. Entorse .9 10 c:~ (I)~ o E,_ cu.!!! o ::::J -10 OOI -c: :llcu -20 o -30 400 (i) ~ 200 (I) "C cu "C '(3 o o ~ -200 0,6 ~ o OI c: ..Q 0,3 lã : ;·t·. :; ···. .c u:: o 0,12 o ·E~ (Q) C, C:- oca 0,06 o·- ,_"C -CD ~E C!) 100 200 300 400 500 600 Tempo (ms) Figura 7. Série temporal ilustrando ângulo, velocidade e atividade EMG dos músculos fibular longo e gastrocnêmio mediai durante movimentos de flexão dorsal do tornozelo em três distâncias-alvo (10°, 20° e 30°). O painel da direita corresponde a indivíduos portadores de entorse e o da esquerda, a indivíduos normais. Vol. 7 No. 2, 2003 Instabilidade Funcional do Tornozelo 109 História A história clássica dos pacientes que sofreram entorse está diretamente relacionada ao mecanismo de lesão. Esses indivíduos referem ter "torcido o pé para dentro e para baixo" (inversão com flexão plantar). Tal entorse pode ocorrer durante a prática de atividade física, como retomar de um salto ao solo, pisar em um terreno irregular ou durante um acidente. Sua queixa principal é dor na região articular do tornozelo em repouso, que se exacerba ao movimen- to. Em alguns casos também há relatos de ruptura na re- gião do tornozelo no momento da lesão, o paciente diz que sentiu um "estalo no tornozelo no momento da lesão".9 Exame físico Durante a inspeção, primeiro deve-se observar o paciente como um todo, buscando verificar posturas antálgicas, tanto na posição ortostática quanto durante a deambulação. A marcha estará tanto mais comprometida quanto maior for a extensão da lesão e a tolerância do paciente à dor. Lesões de graus II e III normalmente im- pedem os indivíduos de apoiarem o lado lesado no solo durante a deambulação. Após a observação geral do pa- ciente, deve-se atentar especificamente para a articulação do tornozelo, verificando a existência ou não de edema, rubor e/ou hemorragia (equimose) na região acometida. Feita inspeção detalhada, deve-se partir para o exame de palpação na articulação. Na palpação, observa-se o qua- dro de dor e evidência de comprometimento da integridade ligamentar. No entanto, é preciso lembrar que o exame via palpação tem suas limitações na detecção de um rompi- mento ligamentar, visto que pode ser mascarado quando há presença de edema significativo. Além da inspeção e da palpação, também deve ser verificada a amplitude de movimento do tornozelo lesado com o auxílio do goniômetro universal. Uma mobilidade articular excessiva revela amplitudes de movimento anormais. Normalmente, a mobilidade excessiva pode ser visível até mesmo sem o auxílio do goniômetro, o que não dispensa sua utilização, para maior precisão do comprometimento articular do tomozelo.53• 55 Também deve-se solicitar a mobilização ativa do tornozelo com o intuito de estabelecer o nível de fun- cionalidade articular apresentado pelo paciente após a lesão. De acordo com sua habilidade de mover ativamente o tornozelo, o paciente apresentará maior ou menor funci- onalidade articular. No caso de lesão leve, sem quadro de dor exacerbada, edema e comprometimento dos ligamentos do tornozelo, não é necessário encaminhar o cliente para exames comple- mentares. Porém, antes de decidir pelo não encaminhamento para exames complementares, o fisioterapeuta dever fa- zer os testes específicos para detectar a integridade dos ligamentos. Esses testes devem incluir o teste da gaveta, e o estresse em varo. No teste da gaveta, o examinador traciona anteriormente, com uma das mãos, o calcanhar ( calcâneo) do paciente, mantendo fixa a extremidade inferior da tíbia com a outra mão. Esse teste provoca um deslo- camento anterior do tálus em relação à tíbia. 41 Um sinal positivo, ou seja, um deslocamento anormal do tálus em relação à tíbia, indica ruptura e/ou alongamento do LTFA.49 Já no teste do estresse em varo, o examinador executa movimento de inversão passiva do tornozelo do cliente, procurando realizá-lo até a amplitude de movimento per- mitida pela articulação. O aumento da amplitude em varo indica ruptura e/ou alongamento do LCF e do LTFA.49 Exames complementares A radiografia revela se o comprometimento é apenas ligamentar ou se também hit outras lesões associadas, como, por exemplo, fraturas por avulsão da tíbia, fíbula e do tálus e fraturas osteocondrais do tálus. Além disso, no caso das radiografias em estresse articular (gaveta anterior e varo), pode-se esclarecer melhor o nível da instabilidade mecânica do tornozelo do paciente.19 Sua instabilidade mecânica pode ser mensurada em milímetros,por meio da gaveta ante- rior, e em graus, por meio do teste do estresse em varo. Normalmente, durante as radiografias para o diagnóstico de entorse de tornozelo, utiliza-se o estresse articular manual, porém já existe um equipamento denominado Telos, que permite que o estresse seja aplicado com maior controle.47 Segundo Karlsson28 um sinal da gaveta anterior positivo, acima de 1 O mm, ou uma inclinação em varo acima de 9°, caracterizaria instabilidade mecânica. 28 As artrografias de contraste contribuem para uma in- formação mais precisa a respeito da extensão da lesão. 13• 76 Nesse exame é injetado um líquido contrastànte dentro da articulação do tornozelo do cliente, que, quando radiogra- fado, revela os limites do espaço intrarticular. Quando a articulação está íntegra, macroscopicamente o líquido deve permanecer no espaço intrartic:ular. O extravasamento desse contraste na região capsular lateral indica lesão das estru- turas que a compõem. 9 Há, ainda, outros exames de imagem mais sofistica- dos, como a ressonância magnética, que tem sido muito utilizada na área desportiva para diagnóstico de lesões de tecidos moles (por exemplo, tendões, ligamentos e carti- lagens). Nos casos de entorse de tornozelo, esse exame permite a detecção precisa do nível de ruptura dos ligamentos envolvidos na lesão, revelando se houve ruptura parcial ou completa dessas estruturas. 76• 78 A precisão e a qualidade da ressonância magnética são superiores ao diagnóstico do entorse via radiografia.79 Além disso, o exame possui ca- ráter não-invasivo, uma vantagem sobre as artrografias de contraste.80 Apesar das vantagens da ressonância magné- tica na precisão do diagnóstico, no Brasil, por questões econômicas, a grande maioria dos casos de entorse de tor- nozelo ainda é detectada por meio de radiografia, confor- me relatos verbais dos ortopedistas. Todos esses exames complementares são executados por médicos qualificados. 110 Zampieri, C. e Almeida, G. L. Rev. bras. fisioter. TRATAMENTO Entorses leves Pacientes/clientes que sofrem entorses leves raramente procuram auxílio médico ou fisioterapêutico e, quando o fazem, são submetidos a uma conduta conservadora. 81 No caso dos desportistas, o tratamento fisioterapêutico pode ser iniciado imediatamente após a lesão, consistindo em aplicação de gelo, compressão, elevação e repouso da ar- ticulação. 81 • 82 O objetivo dessa intervenção conservadora é o controle a dor e do edema, principais sinais inflamatórios combatidos nos casos de entorses leves. 83 Segue-se um breve comentário a respeito do mecanismo de ação de cada um desses recursos. Gelo: o efeito benéfico do gelo no entorse consis- te na redução do edema e da dor, subseqüentes à lesão. 83 A diminuição da temperatura local por meio do gelo tem por efeitos a vasocontrição dos capilares e a diminuição do metabolismo dos tecidos lesados. 83 Com isso, previ- ne-se o extravasamento de líquido para o espaço intersticial, o que diminui o edema na região articular. 83 O frio tam- bém diminui a velocidade de condução dos impulsos nervosos, diminuindo a dor. No entanto, para que a ação preventiva do gelo possa ser alcançada, sua aplicação deve ser feita imediatamente, entre 1 O e 20 minutos após a ocorrência da lesão. 83 Compressão: o efeito básico da compressão ou da pressão externa é aumentar a pressão fora dos vasos e, com isso, auxiliar a reabsorção do fluido extravascular pela circulação venosa. 83 Essa compressão deve ser local e aplicada minutos após a lesão, durante um período de, no mínimo, 24 horas. 83 As faixas elásticas e as botas infláveis são as formas de compressão mais utilizadas atualmente. Elevação: o efeito da elevação no entorse está direta- mente relacionado ao conceito de pressão hidrostática. Pressão hidrostática é a pressão resultante do peso da água em um recipiente. A elevação combate o edema durante a fase aguda do entorse, uma vez que auxilia na diminuição da pressão hidrostática nos capilares lesados. 83 Ao utili- zarmos a elevação, a ação da gravidade atua nos fluidos no sentido de promover o retorno. 83 Repouso: o repouso da articulação, ou melhor, a ausência de atividade motora e descarga de peso no tor- nozelo durante a fase aguda seguinte à lesão evita que a mesma seja agravada. Entorses moderados e graves Clientes que sofrem entorses primários moderados e severos, são a maioria dos casos atendidos nos pronto- socorros, consultórios de ortopedia e traumatologia e clí- nicas de fisioterapia. 82 Apesar de serem casos muito freqüentes, os indivíduos acometidos por essa lesão ainda não recebem um tratamento padronizado. O tratamento dos entorses moderados e severos ainda é muito discutido na literatura atual. 11• 54• 75 Alguns autores preconizam o trata- mento conservador, mesmo em situações de ruptura ligamentar completa, alegando que a cirurgia seria uma agressão desnecessária ao paciente, uma vez que os resultados obtidos seriam os mesmos. 82• 84 No entanto, até mesmo a conduta conservadora varia muito entre os profissionais da área. Dentre os tratamentos conservadores do entorse, há os mais tradicionais, que envolvem apenas a utilização do gesso por tempo predeterminado; e os mais atuais, que utilizam a mobilização precoce do tornozelo, possibilita- da pelo uso de botas de contenção removíveis. A imobi- lização por meio de gesso objetiva evitar agravamento da lesão e favorecer a reparação do tecido. 38 Porém, tem-se observado que há algumas desvantagens em relação a essa conduta, como o favorecimento de aderências articulares, encurtamentos e atrofias musculares.75 Segundo alguns autores, os problemas decorrentes da imobilização pode- riam ser evitados pelo uso das botas de contenção remo- víveis associado a exercícios de mobilização precoce.28• 75 Como parte do tratamento conservador, os programas de reabilitação envolvem exercícios ativos e resistidos, treinamento proprioceptivo e alongamento da musculatura fibular e do tríceps sural.49• 84 Apesar de serem constituídos basicamente pelos mesmos recursos fisioterapêuticos, tais programas variam muito de profissional para profissional. Isso ocorre porque são poucos os estudos realizados cientificamente sobre o uso de cada um desses recursos no entorse do tornozelo. Infelizmente, os estudos encon- trados na literatura são pouco específicos, pois envol- vem investigação de vários recursos concomitantemente. Dessa forma, quando é observado algum benefício, não se pode atribuí-lo a um recurso em particular, o que dificulta conclusões concretas a respeito de qual seria o tratamento adequado. Além da falta de especificidade da literatura em termos de recursos utilizados no entorse, outro.empecilho ao tra- tamento adequado é o fato de não se saber ao· certo quais modificações e alterações fisiológicas, sofridas pelo incijvíduo, levariam a uma futura instabilidade funcional do tornozelo. Então, como avaliar a efetividade de um tratamento sem conhecer um parâmetro adequado para tanto? Por essa razão os fisioterapeutas devem procurar aprender métodos cien- tíficos para aplicar em casos clínicos. Essa ferramenta ajudaria a avaliar sua conduta até que a ciência pudesse trazer res- postas mais objetivas e precisas sobre a melhor forma de intervenção fisioterapêutica para o entorse. Além dos autores que indicam tratamentos conser- vadores, há, ainda, outros estudiosos que indicam o tra- tamento cirúrgico em entorses leves e moderados, visando à estabilidade mecânica da articulação, que somente poderia ser alcançada por meio de uma reconstrução das estruturas lesadas. 76, 8s, 86 Vol. 7 No. 2, 2003 Instabilidade Funcional do Tornozelo !li O tratamento cirúrgico consiste em reparação e/ou reconstrução das estruturas lesadas durante o trauma. Algumas técnicas cirúrgicasimplicam sutura direta dos ligamentos rompidos, os quais podem ser transeccionados, encurtados ou até imbricados, dependendo de sua integri- dade. 54• 87• 88 Outros procedimentos consistem nas denomi- nadas tenodeses, em que o tendão do músculo fibular curto é utilizado para substituir o LTFA. 89• 90 O principal objetivo dos tratamentos de entorse é devolver aos clientes sua funcionalidade, possibilitando o retorno às atividades de vida diária. No entanto, atual- mente, nenhum tratamento parece atingir esse objetivo em 100% dos casos. 75 Cerca de 40% dos pacientes vítimas de entorses, classificados e tratados como moderados e se- veros, passam a apresentar instabilidade funcional a longo prazo, independentemente do tipo de tratamento a que foram submetidos.54• 75• 76• 91 • 92• 93 • 94 Tal fato implica duas constatações: 1. a instabilidade funcional é um problema atual e freqüente; e 2. ainda não se conhece uma medida realmente eficaz para resolver esse problema, provavel- mente porque ainda não se conhece claramente o meca- nismo gerador da estabilidade articular do tornozelo. Este estudo mostra que a instabilidade funcional do tornozelo não está relacionada à capacidade de os indiví- duos, voluntariamente, controlarem os movimentos de flexão plantar e dorsal do tornozelo.74 Os resultados obtidos com este experimento mostram que não há diferenças em termos de estratégia de controle motor utilizada pelos indivídu- os com entorses de tornozelo recorrentes, em comparação a indivíduos normais. Além disso, os dados deste trabalho não suportam a prescrição do treinamento proprioceptivo para indivídu- os portadores de entorses recorrentes, uma vez que esses sujeitos foram bastante precisos na execução dos movi- mentos. As condutas que utilizam o treinamento proprioceptivo são baseadas em estudos que relatam au- mento na latência das respostas monossinápticas (reflexo de estiramento) durante um estiramento abrupto da mus- culatura fibular. 46• 52• 62• 63 Como já foi mencionado anteri- ormente, a lógica desses estudos é que os indivíduos com instabilidade funcional de tornozelo reagem a um estiramento da musculatura fibular mais tardiamente do que indivíduos com tornozelos intactos. Sendo assim, um treinamento proprioceptivo reeducaria a musculatura fibular dos portadores de entorses recorrentes a responder pron- tamente às perturbações. Neste estudo, os sujeitos não foram testados em relação à resposta monossináptica, porém pôde- se avaliar sua propriocepção por meio da execução de movimentos voluntários. 76 Visto que a dorsiflexão e a plantiflexão foram executadas o mais rápido possível, a precisão com que os sujeitos atingiram o alvo reflete a integridade de seu sistema proprioceptivo. Se houvesse perda proprioceptiva que acometesse sua funcionalidade, seria de se esperar que os indivíduos instáveis fossem pouco precisos na execução dos movimentos, o que não ocorreu. Certamente, não foi questionado o papel dos refle- xos no controle dos movimentos, pois, além de não haver dados quantitativos a esse re:speito, em questão ainda é muito contraditória. Assim como há registros de aumento no tempo de resposta reflexa dos fibulares a um estiramento, 46• 52• 62• 63 também há outras constatações de que esse tempo não seria aumentado. 59• 60• 61 No entanto, assume-se que ocor- re perda proprioceptiva na musculatura do tornozelo dos indivíduos com entorses recorrentes e também que essa perda proprioceptiva acomt~te o mecanismo de respostas reflexas dessa população. Nesse caso, os dados estariam mostrando que, em termos de movimentação voluntária, indivíduos funcionalmente instáveis podem contar com um sistema proprioceptivo funcional. Diante de tal constatação, sugere-se que a perda proprioceptiva não seja o principal fator desencadeante das lesões recorrentes de tornozelo e que talvez o papel dos reflexos na execução dos mo- vimentos voluntários seja menor do que o defendido em parte da literatura. 95 Os dados deste estudo também não dão suporte à idéia de que portadores de instabilidade funcional de tornozelo tenham fraqueza na musculatura fibular que ocasione diminuição da capacidade de geração de força, como mostram alguns estudos. 16• 96 Este estudo mostra que in- divíduos com instabilidade de tornozelo são mais velozes durante a execução dos movimentos em flexão dorsal, quando comparados aos indivfduos normais (Figura 7). A rapidez dos sujeitos com instabilidade funcional de tor- nozelo durante esses movimentos decorre de uma maior ativação EMG da musculatura fibular. Apesar de não se testar a força muscular nesse grupo, conclui-se que não há comprometimento de força muscular, com base na constatação de grande atividade EMG. Diante do que foi abordado, é importante que fique clara a cautela de interpretação desses dados. Outros estudos ainda precisam ser realizados para que possa ser estabelecida com clareza a relação entre o controle dos movimentos voluntários do tornozelo e a ocorrência de entorses recorrentes nessa articulação. Em nosso labo- ratório, particularmente, estaremos investigando mudanças no padrão da marcha de portadores de entorses recorrentes que possam predispor os portadores de instabilidade funcional de tornozelo a novos traumas. 112 Zampieri, C. e Almeida, G. L. Rev. bras. fisioter. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. RASCH, P. J., 1991, A estrutura e composição do corpo. In: Cinesiologia e anatomia aplicada. 7. ed. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, pp. 12-21. 2. GRABINER, M. D., 1991, O tornozelo e o pé. In: P. J. 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