Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 SUMÁRIO 1 LESÕES RELACIONADAS AO ESPORTE ..................................................................2 1.1 Lesões nos esportes coletivos ................................................................................3 2 LESÕES MUSCULARES ................................................................................................4 2.1 Mecanismos de Lesão Muscular ............................................................................6 2.2 Estiramento Muscular ............................................................................................ 13 2.3 Cãibra ....................................................................................................................... 16 3 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DAS LESÕES MUSCULARES ............... 17 4 LESÕES ARTICULARES ............................................................................................. 20 5 LESÕES DE JOELHO................................................................................................... 28 5.1 Anatomofisiologia do joelho .................................................................................. 29 5.2 Tratamento do joelho em casos agudos............................................................. 32 5.3 Fraturas da patela .................................................................................................. 36 5.4 Tendinopatia patelar .............................................................................................. 38 5.5 Tratamento fisioterápico ........................................................................................ 40 6 LESÕES DA COLUNA VERTEBRAL REALACIONADA AOS ESPORTES ........ 42 6.1 Instabilidades da coluna cervical ......................................................................... 44 6.2 Apofisite da coluna toracolombar......................................................................... 45 6.3 Espondilólise traumática ....................................................................................... 46 6.4 Lesões da coluna lombar em atletas................................................................... 46 6.5 Diagnóstico diferencial........................................................................................... 48 6.6 Lesões de tecidos moles ....................................................................................... 50 7 Fisioterapia e prevenção de lesões esportivas ......................................................... 50 8 Referências ..................................................................................................................... 56 2 1 LESÕES RELACIONADAS AO ESPORTE Fonte: fisioterapiamanual.com.br O esporte está difundido em nossas vidas desde a antiguidade. Algumas modalidades eram convenientes para a sobrevivência humana, como caça e a corrida. Outras eram mais úteis para a elaboração de táticas de guerra, como as lutas. Porém, atualmente a prática desportiva vai além da objetividade da ascensão física, podendo englobar lazer, saúde, prazer e socialização interpessoal. Contudo, é considerável salientar que apesar de todos os benefícios que a prática esportiva pode proporcionar, também traz associado o risco de lesões (ATALAIA, 2009). De acordo com o Conselho da Europa, lesão desportiva é toda patologia traumática adquirida durante um jogo ou prática desportiva, causando uma ou mais das seguintes condições: redução da atividade, necessidade de tratamento ou aconselhamento médico e/ou consequências negativas do ponto de vista econômico e social. Usualmente, os estudos sobre os mecanismos de lesões consideram apenas sete os fatores que podem desencadear uma lesão desportiva: contato físico, sobrecarga dinâmica, excesso de uso ou sobrecarga, vulnerabilidade estrutural, falta de flexibilidade, desequilíbrio muscular e crescimento exacerbado (aplicado apenas a crianças e adolescentes). Sendo o contato físico e o excesso de uso os principais fatores das lesões desportivas atualmente (FALCÃO, 2010). 3 1.1 Lesões nos esportes coletivos Tais lesões são classificadas a partir de diferentes critérios, como: localização, lado do corpo, tipo e gravidade. As lesões podem ser caracterizadas em lesões de crônicas e agudas. Lesões crônicas são aquelas causadas por esforço repetitivo de baixo impacto, geralmente sendo observadas em atletas de natação, ciclismo e maratonistas. Já as lesões agudas são originadas por um esforço repentino, onde a energia imposta é maior que a capacidade de resistência do tecido. Lesões agudas estão presentes comumente durante partidas de futebol, lutas, ginástica olímpica e levantamento de peso (CARVALHO, 2011). Outros tipos de caracterização das lesões são de acordo ao seu grau anatômico. Caracterizando-se em lesões articulares, lesões musculares e lesões ósseas. Lesões articulares podem englobar: entorses, luxações, rompimento de ligamentos e rupturas de menisco. Compreende as lesões musculares: câimbra, distensões, contusões e contratura. E nas lesões ósseas podemos incluir as fraturas (CARVALHO, 2011). Sabe-se que nos esportes coletivos o contato físico é inevitável e que lesões fazem parte da prática esportiva, seja ela amadora ou profissional. As lesões são em sua maioria de base muscular e diferentemente dos indivíduos que praticam esportes por lazer ou saúde, os atletas de alto rendimento estão mais suscetíveis a essas lesões, sendo quase inevitável a presença de inúmeras lesões durante sua vida atlética. As lesões que se constatam na prática esportiva podem ser reduzidas tanto em sua frequência, quando em sua gravidade se as devidas precauções forem tomadas pela equipe médica ou até mesmo pelo próprio indivíduo. É possível prevenir inúmeras lesões e acidentes se os fatores que as acompanham forem estudados previamente (ATALAIA, 2009. Apud CARVALHO, 2011). Toda atividade física gera uma sobrecarga em algum ponto do aparelho locomotor e o aumento da prática esportiva também provoca um aumento considerável na incidência de lesões. Além disso, a busca pela evidência e pelo sucesso impõe aos atletas necessária e inevitável condição de serem submetidos a esforços físicos e psíquicos muito próximos dos seus limites fisiológicos que os expõem a uma faixa de atividade potencialmente patológica e resulta em alto número de lesões esportivas. O futebol é a maior causa de lesões em atletas no mundo e essas são responsáveis por 50% a 60% de todas as lesões esportivas na Europa (CARVALHO, 2013). Dentre todos os traumas físicos tratados em hospitais europeus, entre 3,5% e 10% são causados pelo futebol. Além disso, a idade tem sido um fator importante nos estudos de exposição a fatores de risco de lesões, uma vez que se observa um número maior de lesões nos adultos em relação a atletas jovens. Raramente as equipes de formação de atletas 4 apresentam profissionais da saúde atuando diretamente na avaliação de fatores de risco e reabilitação de lesões, bem como poucos trabalhos têm investigado a incidência de lesões nesses atletas (CARVALHO, 2013). 2 LESÕES MUSCULARES Fonte: esteticderm.com.br A formação de atletas para o esporte de rendimento é dependente de um processo organizado em longo prazo, que demanda enorme investimento financeiro e de tempo. Tal processo constitui-se por um conjunto de recursos (instalações, contratação de profissionais qualificados, alimentação, viagens, competições, tratamentos médicos, etc.) que são propiciados por investimentos financeiros e que objetivam culminar em atletas que atinjam bons resultados esportivos e consequentemente gerem benefícios econômicos futuros aos clubes que detêm seus direitos (BANDEIRA et al., 2014). Procura-se minimizar gastos para que se obtenha uma maior margem de lucro na futura negociação dos direitos deste atleta. Lesões musculares são muito comuns ecostumam afastar os atletas da prática esportiva, o que obviamente, torna-se um transtorno e gera gastos aos clubes. Esportes como futebol e rúgbi caracterizam-se por serem atividades intermitentes de longa duração, com intensidade de exercício variável e ações diversas: chutes, lançamentos de bola, tackles (fundamento técnico utilizado no rúgbi com a intenção de derrubar e impedir o avanço do adversário que está com a posse da bola), saltos, giros, fortes contrações para manutenção do equilíbrio, etc (BANDEIRA et al., 2014). 5 Quando há um alongamento do músculo, concomitante à geração de tensão, esta ação muscular é denominada ação excêntrica. Esses esportes envolvem, portanto, enorme quantidade de ações de contrações excêntricas que causam alterações morfológicas nas fibras musculares. O alto impacto das colisões, agregado à sobrecarga funcional de intensidade e duração, pode causar lesões teciduais estruturais e como resposta do organismo, ocorre a inflamação de fibras musculares. Disso resultam rupturas das estruturas citoesqueléticas, causando alterações morfológicas e bioquímicas nas fibras musculares tanto por causa das lesões nas fibras quanto pelo posterior processo inflamatório (BANDEIRA et al., 2014). Quando a lesão muscular ocorre, há uma variação térmica no local comprometido, gerando um acréscimo da temperatura local, causado pelo aumento do fluxo sanguíneo nas proximidades da área afetada, fazendo supor que estes pontos podem ser avaliados através da mensuração da temperatura. Alguns estudos têm mostrado que este aumento de temperatura sugere a utilização da termografia como método auxiliar de diagnóstico de lesão. A termografia é um método não invasivo e sem contato utilizado para registrar padrões térmicos corporais, utilizada para captar o calor emitido pelo corpo ou partes deste, e, portanto, pode ser utilizado como diagnóstico de lesões causadas pelo treinamento ou esporte (BANDEIRA et al., 2014). A análise de imagens infravermelhas como diagnóstico tem como vantagens: baixo custo; técnica não-invasiva; indolor; sem contato; não-intrusiva; sem radiação ionizante; inócua; disponibilizar as temperaturas de uma superfície em imagens de tempo real; possibilitar a localização da lesão e ser capaz de demonstrar mudanças metabólicas e fisiológicas através de um exame funcional, e não estritamente dos detalhes anatômicos como em outros métodos de análise. Existem diversos métodos para análise e diagnóstico de lesões musculares causadas pela atividade física (BANDEIRA et al., 2014). Medição da atividade de enzimas plasmáticas (por exemplo: creatina quinase (CK), lactato desidrogenase (LDH), troponina I e mioglobina, registro da ação voluntária máxima, aquisição de respostas subjetivas de dor por meio de escala de percepção, ressonância magnética, ultrassonografia, tomografia, eletromiografia de superfície, termografia e amostra do músculo são alguns dos métodos utilizados. A CK é uma enzima que catalisa reações com transferência de energia com fosforilação reversível da creatina. Geralmente, esta enzima está confinada no interior das células e sua concentração sérica é 6 muito baixa. A atividade plasmática da CK depende tanto da prática de atividades físicas quanto de algumas patologias (por exemplo: infarto do miocárdio) (BANDEIRA et al., 2014). A CK vem sendo utilizada como biomarcador e parece ser um dos melhores indicadores de lesão tecidual após o exercício. A CK tem sido utilizada como marcador de lesão muscular em diversas pesquisas. Após danos nas fibras musculares causadas pelo exercício intenso e exaustivo, ocorre a liberação da CK na corrente sanguínea, ocasionando um aumento considerável em sua concentração sérica. Uma grande quantidade sérica da CK sugere que ocorreu algum tipo de dano tecidual nessas células e permite, indiretamente, determinar o grau de agressão causado pelo exercício (BANDEIRA et al., 2014). 2.1 Mecanismos de Lesão Muscular Fonte: tudotimao.com.br As fibras musculares geralmente se originam em um osso ou tecido conectivo denso e se inserem a outro osso através de uma inserção tendínea. Há músculos que atravessam uma ou mais articulações para gerar movimento. Os músculos com função tônica ou postural geralmente são uni articulares, largos, planos, com velocidade de contração baixa e com capacidade de geração e manutenção de força contrátil grande. Geralmente estão localizados nos compartimentos mais profundos (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). Os músculos biarticulares têm velocidade de contração e capacidade para mudança de comprimento maiores, contudo, menor capacidade de suportar tensão. Geralmente estão localizados em compartimentos superficiais. Quanto à forma, os músculos fusiformes 7 permitem uma maior amplitude de movimento, enquanto que os músculos penados têm maior força contrátil. O comprimento da fibra é um determinante importante da quantidade de contração possível no músculo. Como as fibras musculares geralmente apresentam distribuição oblíqua dentro de um ventre muscular, elas geralmente são menores do que o comprimento total do músculo (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). As lesões musculares podem ocorrer por diversos mecanismos, seja por trauma direto, laceração ou isquemia. Após a lesão, inicia-se a regeneração muscular, com uma reação inflamatória, entre 6 e 24 horas após o trauma. O processo de cicatrização inicia-se cerca de três dias após a lesão, com estabilização em duas semanas. A restauração completa pode levar de 15 a 60 dias para se concretizar. As principais causas de lesão são: o treinamento físico inadequado, a retração muscular acentuada, desidratação, nutrição inadequada e a temperatura ambiente desfavorável (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). As lesões musculares podem ser classificadas em quatro graus: grau 1 é uma lesão com ruptura de poucas fibras musculares, mantendo-se intacta a fáscia muscular; grau 2 é uma lesão de um moderado número de fibras, também com a fáscia muscular intacta; lesão grau 3 é a lesão de muitas fibras acompanhada de lesão parcial da fáscia; grau 4 é a lesão completa do músculo e da fáscia (ou seja, ruptura da junção músculo-tendínea. A lesão muscular por estiramento pode ocorrer nas contrações concêntricas ou excêntricas, sendo muito mais comum nesta última, com a falha frequentemente ocorrendo na junção miotendíneas (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). O diagnóstico é realizado pelo exame clínico, em que se percebe a nítida impotência funcional e pelos exames complementares que podem auxiliar também no tratamento e na prevenção de novas lesões. Exames laboratoriais, como de Sódio, Potássio, Cálcio, Fosfato, Magnésio, VHS, podem ser úteis em determinadas situações, a critério do médico. Na suspeita de uma doença da tireoide, em que podem ocorrer lesões musculares de repetição, pode se solicitar exames de marcadores desta glândula (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). Na suspeita de lesões ósseas, como avulsões, os exames radiográficos podem ser úteis. A Ultrassonografia, a Tomografia e a Ressonância Magnética também podem ser consideradas para auxiliar no diagnóstico e tratamento, tendo em vista que a correta localização anatômica da lesão é fundamental para o tratamento e previsão de retorno ao esporte (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). 8 As lesões musculares por trauma direto são mais comuns em esportes de contato ou em quedas (algum tipo de impacto), como as contusões ou lacerações. As lesões indiretas, como os estiramentos, ocorrem principalmente em esportes que exigem grande potência muscular, como o ciclismo (e mountain bike) e a corrida. O estiramento muscular ocorre quando o músculo é exigido além da força que suas fibras podem gerar, geralmenteem movimentos de desaceleração ou por traumas repetitivos (stress) (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). Fonte: portalcbncampinas.com.br Existem grupos musculares mais propensos à lesão, como os músculos posteriores da coxa, o gastrocnêmico (um dos músculos da panturrilha), os adutores do quadril (musculatura interna da coxa) e o reto femoral (uma das porções do quadríceps). Após a lesão, inicia-se a regeneração muscular, com uma reação inflamatória, entre 6 e 24 horas após o trauma. O processo de cicatrização inicia-se cerca de três dias após a lesão, com estabilização em duas semanas. A restauração completa pode levar de 15 a 60 dias para se concretizar (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). Classificação A atual classificação das lesões musculares separa as lesões entre leve, moderada e grave a partir dos aspectos clínicos revelados. Estiramentos e contusões leves (grau I) representam uma lesão de apenas algumas fibras musculares com pequeno edema e desconforto, acompanhadas de nenhuma ou mínima perda de força e restrição de movimentos. Não é possível palpar-se qualquer defeito muscular durante a contração muscular. Apesar de a dor não causar incapacidade funcional significativa, a manutenção 9 do atleta em atividade não é recomendada devido ao grande risco de aumentar a extensão da lesão (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). Estiramentos e contusões moderadas (grau II) provocam um dano maior ao músculo com evidente perda de função (habilidade para contrair). É possível palpar-se um pequeno defeito muscular, ou gap, no sítio da lesão, e ocorre a formação de um discreto hematoma local com eventual ecmose dentro de dois a três dias. A evolução para a cicatrização costuma durar de duas a três semanas e, ao redor de um mês, o paciente pode retornar à atividade física de forma lenta e cuidadosa. Uma lesão estendendo-se por toda a sessão transversa do músculo e resultando em virtualmente completa perda de função muscular e dor intensa é determinada como estiramento ou contusão grave (grau III) (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). A falha na estrutura muscular é evidente, e a equimose costuma ser extensa, situando-se muitas vezes distante ao local da ruptura. O tempo de cicatrização desta lesão varia de quatro a seis semanas. Este tipo de lesão necessita de reabilitação intensa e por períodos longos de até três a quatro meses. O paciente pode permanecer com algum grau de dor por meses após a ocorrência e tratamento da lesão. O que distingue a cicatrização da lesão muscular da cicatrização óssea é que no músculo ocorre um processo de reparo, enquanto que no tecido ósseo ocorre um processo de regeneração (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). A cicatrização do músculo esquelético segue uma ordem constante, sem alterações importantes conforme a causa (contusão, estiramento ou laceração). Três fases foram identificadas neste processo: destruição, reparo e remodelação. As duas últimas fases (reparo e remodelação) se sobrepõem e estão intimamente relacionadas (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). Fase 1: destruição - caracterizada pela ruptura e posterior necrose das miofibrilas, pela formação do hematoma no espaço formado entre o músculo roto e pela proliferação de células inflamatórias. Fase 2: reparo e remodelação - consiste na fagocitose do tecido necrótico, na regeneração das miofibrilas e na produção concomitante do tecido cicatricial conectivo, assim como a neoformação vascular e crescimento neural. Fase 3: remodelação - período de maturação das miofibrilas regeneradas, de contração e de reorganização do tecido cicatricial e da recuperação da capacidade funcional muscular. 10 Como as miofibrilas são fusiformes e muito compridas, há um risco iminente de que a necrose iniciada no local da lesão se estenda por todo o comprimento da fibra. Contudo, existe uma estrutura específica, chamada de banda de contração, que é uma condensação do material cito esquelético que atua como um "sistema antifogo". Uma vez que a fase de destruição diminui, o presente reparo da lesão muscular começa com dois processos simultâneos e competitivos entre si: a regeneração da miofibrila rota e a formação do tecido conectivo cicatricial. Uma progressão balanceada destes processos é pré-requisito para uma ótima recuperação da função contrátil do músculo (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). Fonte: hzm.com.br Embora as miofibrilas sejam genericamente consideradas não mitóticas, a capacidade regenerativa do músculo esquelético é garantida por um mecanismo intrínseco que restaura o aparato contrátil lesionado. Durante o desenvolvimento embrionário, um pool de reserva de células indiferenciadas, chamado de células satélites, é armazenado abaixo da lâmina basal de cada miofibrila. Em resposta à lesão, estas células primeiramente se proliferam, diferenciam-se em miofibrilas e, finalmente, juntam-se umas às outras para formar miotúbulos multinucleados (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). Com o tempo, a cicatriz formada diminui de tamanho, levando as bordas da lesão à uma aderência maior entre si. Contudo, não se sabe se a transecção das miofibrilas dos lados opostos da cicatriz vai, definitivamente, se fundir entre si ou se irá formar um septo de tecido conectivo entre elas. Imediatamente após a lesão muscular, o intervalo formado entre a ruptura das fibras musculares é preenchido por hematoma. Dentre o primeiro dia, as células inflamatórias, incluindo os fagócitos, invadem o hematoma e começam a organizar 11 o coágulo. A fibrina derivada de sangue e a fibronectina se intercalam para formar o tecido de granulação, uma armação inicial e ancoramento do local para os fibroblastos recrutados. Mais importante, este novo tecido formado provê a propriedade de tensão inicial para resistir às contrações aplicadas contra ele (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). Aproximadamente 10 dias após o trauma, a maturação da cicatriz atinge um ponto em que não é mais o local mais frágil da lesão muscular. Apesar de a maioria das lesões do músculo esquelético curar sem a formação de tecido cicatricial fibroso incapacitante, a proliferação dos fibroblastos pode ser excessiva, resultando na formação de tecido cicatricial denso dentro da lesão muscular. Um processo vital para a regeneração do músculo lesionado é a área de vascularização. A restauração do suprimento vascular é o primeiro sinal de regeneração e pré-requisito para as recuperações morfológica e funcional subsequentes (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). Contusão A contusão muscular é uma lesão comum em modalidades coletivas e de contato, sendo ocasionadas em decorrência a trauma direto local. Estas lesões, apesar de menos comum, também ocorrem em esportes individuais. Os músculos mais comumente atingidos são o quadríceps e gastrocnêmico, podendo também ocorrer em qualquer outro músculo. Após a ocorrência do trauma, ocorre um processo inflamatório imediato, havendo edema, presença ou não de hematoma, dor localizada, impotência funcional com limitação da força e da mobilidade articular, dor ao alongamento passivo e rigidez. Nos casos se contusão muscular, a mesma pode ser classificada apenas com relação à restrição da mobilidade articular apresentada, podendo ser leve ou grave (ROCCHI, 2013). Nos casos de contusão leve, há diminuição de menos de um terço da mobilidade articular normal ao redor da lesão. Nos casos de contusão grave, há diminuição de mais de um terço da mobilidade articular ao redor da lesão. Outra classificação para as contusões musculares, aplicada a lesões quadriciptais, foi proposta por Jackson e Feagin, na qual fatores como a intensidade da dor, amplitude de movimentose variações da marcha são avaliados. Nos casos de contusão leve, a dor é localizada, a amplitude de movimentos é maior do que 90°, a marcha é normal e o paciente é capaz de balançar o joelho (ROCCHI, 2013). Nos casos de contusão moderada, a dor e edema são moderados, a amplitude de movimentos está entre 45° e 90°, a marcha é antálgica, há impotência ao subir escadas e ao se levantar de uma cadeira sem dor. Nos casos de contusão grave, a dor e o edema são 12 intensos, a amplitude de movimentos articular é menor do que 45°, a marcha é antálgica (com o uso de muletas para deambular), além de haver dor no joelho ipsilateral. O hematoma poderá ser intermuscular ou intramuscular. Nos casos de hematoma intermuscular, o sangue apresenta contato com a fáscia muscular e septos intermusculares. Nos casos de hematoma intramuscular, o sangue não extravasa a substância muscular (ROCCHI, 2013). Fonte: buzzero.com.br Os casos de hematoma intramuscular não mais susceptíveis a complicações, e são mais difíceis de serem resolvidos, podendo implicar em miosites ossificante e retrações cicatriciais. Pode haver casos mais graves, mais raros, podendo ocorrer sangramento difuso, o qual evolui, rapidamente, para um quadro de síndrome compartimental, necessitando então de descompressão cirúrgica de urgência. Das complicações nos casos de contusão muscular grave, a miosite ossificante é a mais frequente, havendo uma ossificação dos tecidos moles ao nível da lesão, perceptível, radiologicamente, no período de 2 a 4 semanas. Este tipo de complicação pode ocorrer em até 20% dos casos de lesão quadriciptal, podendo simular, radiograficamente, tumores ósseos e de partes moles, havendo, geralmente, reabsorção da lesão (ROCCHI, 2013). Ruptura Muscular É uma lesão de qualquer massa muscular, como consequência, em geral, de falta de sinergismo entre a atividade dos músculos agonistas e antagonistas, de uma contração violenta do músculo sobrepondo-se à sua capacidade contráctil, ou, menos frequente, devida a uma contusão seguida de uma contração violenta de defesa. A ruptura pode ser 13 mais ou menos grave conforme a extensão de feixes afetados. Considera-se que os fatores a seguir mencionados predispõem para este tipo de lesões: Biótipo do desportista (os brevilíneo musculares e tônicos são os mais afetados). Inatividade prolongada. Execução de exercícios intensos sem prévio e adequado aquecimento. Fadiga muscular (ROCCHI, 2013). Sinais: No momento em que se produz a ruptura, o lesionado sente uma dor intensa que abranda com o repouso e volta a aparecer quando se contrai novamente o músculo lesionado. Pouco tempo depois aparece um inchaço devido ao hematoma produzido, acompanhado de derrame sanguíneo (equimose). Tudo isso acarreta uma impotência, em maior ou menor grau, do músculo afetado. Comportamento a seguir (Prevenção): Ter em atenção aos atletas com dores musculares localizadas. Começar, sempre, qualquer sessão ou competição com um aquecimento (geral e específico) adequado. Ter em atenção o aparecimento da fadiga muscular (diminuir a intensidade ou terminar os exercícios) (ROCCHI, 2013). 2.2 Estiramento Muscular O estiramento muscular é um dos tipos de lesão mais frequente e comum que ocorre nos membros inferiores. Nestes casos, há um período de afastamento das atividades esportivas por um período significativo, havendo limitação funcional, dor e redução do rendimento esportivo. Há a possibilidade de recidiva da lesão, sendo este fato comum em atletas. Este tipo de lesão é considerado uma lesão indireta, na qual há o alongamento excessivo das fibras musculares, além dos limites fisiológicos, bem como pode decorrer de uma contração muscular excêntrica ou concêntrica brusca (ROCCHI, 2013). Nas contrações musculares excêntricas, o alongamento gradual das fibras musculares em decorrência da força muscular é de menor intensidade que a resistência oferecida ao músculo. Os esportes que mais causam este tipo de lesão são os que demandam aceleração rápida, desaceleração, saltar, chutar e que necessitam de mudanças bruscas de direção e rotações. Dentro destas atividades, sobressaem-se o atletismo e o futebol. A musculatura mais comumente acometida é biarticular e tem predomínio de fibras do tipo II (fibras de contração rápida), como os músculos tríceps sural, quadríceps femoral e os isquiotibiais, sendo que a localização mais frequente é na junção miotendíneas, em sua porção distal (ROCCHI, 2013). 14 Fonte: drmarcelotostes.com A ocorrência de estiramentos no ventre muscular é menos comum, mas não rara. Dentre os músculos mais acometidos, o bíceps femoral, o semimembranoso e o semitendinoso possuem lugar de destaque, uma vez que são músculos biarticulares, realizam movimentos combinados da extensão do quadril, flexão e rotação do joelho. Estes músculos, durante a corrida, possuem a função de frenagem, através da sua contração excêntrica. Neste movimento, há a predisposição para o surgimento do estiramento muscular, uma vez que a tensão gerada neste tipo de ação é muito maior do que em movimentos de contração concêntrica, favorecendo o surgimento deste tipo de lesão (ROCCHI, 2013). O estiramento do iliopsoas, por sua vez, ocorre em casos de contrações de grande intensidade do referido músculo, em que a coxa esteja imóvel ou durante a extensão forçada do quadril. Seu reflexo é uma sensação de sensibilidade aumentada na região inguinal e desconforto profundo. Em jovens, este tipo de lesão pode implicar em fratura do trocanter menor. Nos casos de estiramento muscular dos adutores do quadril, há a realização de movimentos de contração intensa de adução do quadril, adução forçada ou rotação externa com o membro inferior abduzido. Este tipo de lesão também é comum em movimentos de contração excêntrica, sendo o adutor longo o músculo mais acometido. Já na perna, os músculos mais acometidos são, por ordem de frequência, o gastrocnêmico medial (mais acometido), gastrocnêmico lateral e sóleo (ROCCHI, 2013). A capacidade de gerar uma resposta inflamatória aguda em decorrência a uma lesão muscular se dá devido ao fato de o tecido muscular ser um tecido bem vascularizado. Nesse interim, conforme o grau da lesão sofrida, maior ou menor é o sangramento resultante da 15 lesão. A intensidade do sangramento fica condicionada à quantidade de fibras lesadas. Quanto maior o número de fibras lesadas, maior é o sangramento e, quanto menor o número de fibras acometidas, menor é o sangramento. Quando a quantidade de fibras lesadas é pequena, a intensidade do sangramento é pequena, não ocorrendo acúmulo, formando o que se chama de equimose, a qual é mais visível no tecido celular subcutâneo (ROCCHI, 2013). Quando a quantidade de fibras lesadas é maior, a intensidade do sangramento é maior, formando o que se chama de hematoma, o qual geralmente se localiza no ventre muscular lesado. A classificação dos estiramentos musculares leva em conta a gravidade das lesões, dividindo-as de acordo como número e a extensão das fibras lesionadas. As lesões de primeiro grau são as que acometem uma pequena quantidade de fibras. Nesses casos, a dor é em um ponto específico, havendo danos estruturais mínimos e hemorragia pequena. A resolução, nesses casos, é rápida. As lesões de segundo grau possuem os mesmos achados das lesões de primeiro grau, com a diferença que a intensidade é maior (ROCCHI, 2013). Nesses casos, a lesão geralmente ocorre na junção miotendíneas. Há dor de maior intensidade, hemorragia moderada, diminuição da função e processo inflamatório local, podendo a lesão ser palpável. A sua resolução é mais lenta, uma vez que a gravidade da lesão e o número de fibras acometidas é maior. As lesões deterceiro grau apresentam uma ruptura completa do músculo, havendo perda completa da função do referido músculo, bem como a lesão se torna palpável, com defeito estrutural local. Apesar da dor ser variada, a hemorragia e o edema são grandes (ROCCHI, 2013). Em lesões de primeiro e segundo graus, a dor geralmente se localiza no local da lesão, sendo provocada pela contração ativa do músculo lesionado ou por alongamento passivo do mesmo. Em lesões de terceiro grau, o músculo é totalmente incapaz de produzir qualquer contração ou produzir força, uma vez que há a separação total de suas fibras. Nestes casos, há a tentativa de compensar o músculo lesionado com a utilização de outros grupamentos musculares. Conforme a localização do músculo lesionado, a equimose, hematoma e o edema podem ser visíveis, surgindo geralmente distais ao local da lesão, em decorrência da força da gravidade (ROCCHI, 2013). Além de serem também palpáveis, as lesões de terceiro grau podem ser visíveis à inspeção. A gênese das lesões musculares está associada, dentre outros fatores, a lesões prévias e à fadiga muscular. Com a realização de treinamentos específicos, a ocorrência 16 destas lesões tem tido a sua frequência diminuída. Também há que se ressaltar a importância do alongamento muscular prévio à atividade física, bem como o aquecimento muscular, com o intuito de minimizar a ocorrência deste tipo de lesão (ROCCHI, 2013). 2.3 Cãibra Fonte: drcarlosmattos.com.br Trata-se de uma fasciculação de um determinado grupo muscular (ou associação dos mesmos), ondo há a sua contração, de modo desordenado. Esta contração ocorre devido a uma descarga de alta frequência direcionada para as fibras musculares, havendo uma contração muscular intensa, implicando no encurtamento do músculo acometido. As cãibras podem ocorrer durante a realização de atividade física, no repouso ou enquanto a pessoa dorme. Mais frequentemente ocorrem durante a atividade física e após a mesma. O músculo mais comumente afetado é o gastrocnêmio (ROCCHI, 2013). A etiologia das cãibras é incerta, contudo, algumas teorias tentam explicar a sua origem. É sabido que as cãibras estão associadas a alguns fatores que não possuem relação com o exercício ou o esporte, como o suor e a diurese excessiva (implicam em hiponatremia), como na insuficiência renal aguda e em pacientes que realizam hemodiálise. Níveis séricos baixos de magnésio e cálcio também podem estar relacionados com o início dos seus sintomas. Também é sabido que as cãibras podem ser prontamente interrompidas e solucionadas com a contração ativa da musculatura antagonista do músculo acometido, bem como com o alongamento passivo da musculatura que apresentar cãibras (ROCCHI, 2013). 17 Mesmo após a resolução do quadro de cãibra, a musculatura pode se mostrar fasciculado por alguns minutos. A ocorrência de cãibras durante a atividade física, apesar de permanecer de causa incerta e controversa, aparentemente possui explicação através da hipótese de desidratação, da fadiga muscular e da ocorrência de distúrbios eletrolíticos. A realização de hidratação pré-atividade física parece ser a melhor forma de prevenir a ocorrência de cãibras (ROCCHI, 2013). 3 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DAS LESÕES MUSCULARES Fonte:imagem.band.com.br Os atuais princípios de tratamento da lesão muscular são carentes de bases cientificas sólidas. A mobilização precoce induz a um aumento da vascularização local na área da lesão, melhor regeneração das fibras musculares e melhor paralelismo entre a orientação das miofibrilas regeneradas em comparação à restrição do movimento. Contudo, re-rupturas no sítio original do trauma são comuns se a mobilização ativa se inicia imediatamente após a lesão. Um curto período de imobilização com enfaixamento adesivo firme ou similar é recomendado. Este período de repouso permite que o tecido cicatricial conecte novamente à falha muscular (ROCCHI, 2013). O objetivo do tratamento das lesões musculares é a redução do quadro álgico e do processo inflamatório local, a redução do espasmo muscular, auxiliar na regeneração e reparação tecidual muscular, recuperar a flexibilidade e função contrátil da fibra muscular, minimizar a chance de novas lesões e dar condições de retorno ao esporte. Para a realização 18 do correto tratamento da lesão muscular, primeiramente deve-se evitar que a lesão sofrida possa aumentar, o que pode ocorrer caso haja um aumento da resposta inflamatória ou caso o paciente realize exercícios não recomendados (ROCCHI, 2013). Nesse modo, as primeiras 24 horas após a lesão são de importância fundamental no processo de recuperação da lesão muscular. Quando há a mobilização precoce (logo após três ou quatro dias da lesão), de modo passivo, há a propensão para o aumento da vascularização no sítio da lesão, melhorando a regeneração das fibras musculares lesionadas e induzindo a um maior paralelismo na orientação das fibras regeneradas quando comparado em casos em que há a restrição de movimentos. Nesse mesmo período de tratamento, caso a mobilização ocorra de modo ativo, a chance de novas rupturas musculares no mesmo local da lesão é maior, bem como a mobilização precoce pode causar um aumento do tecido cicatricial, dificultando a passagem dos capilares (ROCCHI, 2013). Desse modo, está indicada a imobilização com enfaixamento firme no local da lesão, o que permite que o tecido cicatricial se conecte novamente à falha muscular apresentada, bem como o uso de braces para mantar a imobilização. Contudo, a imobilização não deve ser prolongada, uma vez que pode implicar em rigidez articular e hipotonia da musculatura acometida. Também está indicada a utilização de duas muletas (em casos de lesão nos membros inferiores), pelo período aproximado de três a sete dias, em casos de lesões musculares com maior gravidade (ROCCHI, 2013). Fase aguda O tratamento imediato para a lesão do músculo esquelético ou qualquer tecido de partes moles é conhecido como princípio PRICE (Proteção, Repouso, Gelo ou Ice, Compressão e Elevação). A justificativa do uso do princípio PRICE é por ele ser muito prático, visto que as cinco medidas clamam por minimizar o sangramento do sítio da lesão. Colocando-se o membro lesionado em repouso logo após o trauma, previne-se uma retração muscular tardia ou formação de um gap muscular maior por se reduzir o tamanho do hematoma e, subsequentemente, o tamanho do tecido conectivo cicatricial (ROCCHI, 2013). Com relação ao uso do gelo, mostrou-se que o uso precoce de crioterapia está associado a um hematoma significativamente menor no gap das fibras musculares rompidas, menor inflamação e regeneração acelerada. De acordo com os conhecimentos atuais, é recomendada a combinação do uso de gelo e compressão por turnos de 15 a 20 minutos, repetidos entre intervalos de 30 a 60 minutos, visto que este tipo de protocolo resulta em 3º a 7ºC de decaimento da temperatura intramuscular e a 50% de redução do fluxo sanguíneo 19 intramuscular. Finalmente, a elevação do membro acima do nível do coração resulta na diminuição da pressão hidrostática, reduzindo o acúmulo de líquido no espaço intersticial (ROCCHI, 2013). Passado o período de imobilização, que é de aproximadamente três a quatro dias, inicia-se a mobilização do grupamento muscular lesionado. Esta mobilização deve ser de modo passivo, sempre precedida por aquecimento e alongamento suave da musculatura. Conforme dito anteriormente, a mobilização precoce ira favorecer o crescimento de novos vasos capilares, melhorando a regeneração e a organização das células musculares (ROCCHI, 2013). Tratamento pós-fase aguda Fonte: esportealternativo.com.br 1. Treinamento isométrico (contração muscularem que o comprimento do músculo se mantém constante e a tensão muda) pode ser iniciado sem o uso de pesos e posteriormente com o acréscimo deles. Especial atenção deve ser tomada para garantir que todos os exercícios isométricos sejam realizados sem dor. 2. Treinamento isotônico (contração muscular em que o tamanho do músculo muda e a tensão se mantém) pode ser iniciado quando o treino isométrico for realizado sem dor com cargas resistidas. 3. O exercício isocinético com carga mínima pode ser iniciado uma vez que os dois exercícios anteriores sejam realizados sem dor. A aplicação local de calor ou "terapia de contraste" (quente e frio) pode ser de valor, acompanhado de cuidadoso alongamento passivo e ativo do músculo afetado. Ressalta-se 20 que qualquer atividade de reabilitação deve ser iniciada com o aquecimento adequado do músculo lesionado. Outra razão para o alongamento é distender o tecido cicatricial maduro durante a fase em que ele ainda é plástico. Alongamentos da cicatriz sem dor podem ser adquiridos por estiramentos graduais, começando com turnos de 10 a 15 segundos e, então, progredindo para períodos de até um minuto (ROCCHI, 2013). Contudo, se os sintomas causados pela lesão não melhorarem entre três e cinco dias após o trauma, deve-se considerar a possibilidade da existência de um hematoma intramuscular ou um tecido lesionado extenso que necessitará de atenção especial. A punção ou aspiração do hematoma pode ser necessária (ROCCHI, 2013). Ultrassom O ultrassom terapêutico é difusamente recomendado e utilizado no tratamento da lesão muscular, embora exista vaga evidência científica de sua efetividade. O fato de o ultrassom produzir micro massagens pelas ondas de alta frequência, aparentemente, funciona para o alívio da dor (ROCCHI, 2013). 4 LESÕES ARTICULARES Fonte: domtotal.com.br Entorses de tornozelo A entorse de tornozelo é uma das lesões musculoesqueléticas agudas, sendo frequentemente encontradas na população ativa. A articulação do tornozelo (talocrural) é uma articulação sinovial em dobradiça suportada por um encaixe estruturalmente forte, feito 21 pelos maléolos tibial e fibular. O tornozelo, junto com a articulação talocalcânea, é suportado medialmente pelo ligamento deltoide (ou ligamento colateral medial) e lateralmente pelos ligamentos talofibular anterior e posterior e calcaneofibular (KISNER, 2005). O tornozelo é a articulação mais frequentemente lesada na vida diária e nas atividades esportivas, tendo como a entorse de tornozelo a lesão mais comumente observada, sendo o mecanismo por inversão responsável por 70% a 85% dos casos (SILVA, 2011). Segundo Sacco (2004) a palavra “entorse” (latim: exprimere – “pressionar para fora”) é literalmente definida como uma lesão articular na qual algumas fibras do ligamento de sustentação são rotas, mas a continuidade do ligamento permanece intacta sem deslocamento ou fratura. O mecanismo de entorse lateral de tornozelo é relatado quando há supinação excessiva do retropé combinado com rotação externa da tíbia no início do contato do pé com o solo durante a marcha, corrida ou salto. Acredita-se que as lesões nas estruturas relacionadas ao sistema sensório-motor presentes no tornozelo seja uma das principais causas de recorrência das lesões em inversão. A classificação de entorse de tornozelo é baseada no exame clínico da área afetada e divide a lesão em três tipos: grau 1- estiramento ligamentar; grau 2- lesão ligamentar parcial e grau 3- lesão ligamentar total (RODRIGUES, 2009. Apud MEURER, 2010). Segundo Belangero (2010), estima-se que ocorra uma entorse lateral aguda do tornozelo (ELAT) a cada 10.000 pessoas por dia, sendo esta uma das lesões mais comuns do sistema musculoesquelético e também uma das mais comuns no esporte. De acordo com Sousa (2004), os desportos que mais levam os praticantes às clínicas médicas, por ordem de importância é o futebol, voleibol e basquetebol, todos coletivos. Quantos às citações de lesões, a primeira mais citada, por ordem de importância, foi a entorse de tornozelo (30%). O gesto esportivo realizado em determinado esporte pode predispor o atleta a sofrer entorse de tornozelo (FORTES, 2008). Entorse de tornozelo é a lesão aguda mais frequentemente encontrada no voleibol, com incidência variando entre 15 a 60%. A maioria das lesões de tornozelo ocorre durante a aterrissagem de um salto após um bloqueio ou ataque (CARDOSO, 2005). É comum observar o uso de medidas profiláticas pelos atletas, como tornozeleiras, enfaixamentos e órteses, na tentativa de evitar lesões de tornozelo. Essas medidas podem ser usadas em qualquer estágio da reabilitação e também na prevenção de entorses de tornozelo em atletas saudáveis (SACCO, 2004). O tratamento baseia-se de forma conservadora, no qual ocorre na grande maioria dos casos utilizando o método PRICE (proteção, repouso, gelo, compressão e elevação), o 22 tratamento farmacológico, a imobilização e a cinesioterapia, embora em alguns casos mais graves o tratamento é geralmente cirúrgico. O objetivo de tratamento dessa lesão é o retorno às atividades diárias, com um período curto de tempo, e a utilização de implementos para o tornozelo, no qual são importantes na prevenção, evitando assim uma nova lesão (SACCO, 2004). Classificação das entorses De acordo com Pacheco (2005) as entorses podem ser classificadas de acordo com a intensidade do trauma em: a) Grau I ou leve – a integridade de quase todas fibras ligamentares é mantida. Encontra-se pequena reação vasomotora, caracterizada, geralmente, pelo edema. Há presença de dor leve na fase aguda. b) Grau II ou moderado – há presença de hematoma e edema de maior dimensão, devido a uma maior lesão vascular. Pelo teste de gaveta anterior, verifica-se pequena instabilidade quando a articulação é submetida ao exame sob estresse. Grau 3 ou grave – apresenta-se com dor intensa, há grande área de ruptura de vasos mostrando edema importante, hematoma de grande extensão e, ainda, tumefação na articulação do tornozelo. Ocorre instabilidade radiológica por estresse de grande abertura, e pode haver avulsões ósseas. No teste de gaveta anterior, também é possível a verificação de grande instabilidade. A ruptura das estruturas capsulo ligamentares é completa, e isso se comprova por artrografia devido ao extravasamento de líquido para as regiões onde, normalmente, ele não deve ser encontrado. Neste grau, o tratamento é geralmente cirúrgico (PACHECO, 2005). Mecanismo de lesão Fonte: ortopediamaterdei.com 23 O mecanismo de inversão corresponde à grande maioria dos casos e a severidade da lesão é comumente classificada em três graus que definem o prognóstico e protocolo de tratamento (BARONI, 2010). Para Suda (2009) o mecanismo de lesão mais comum é uma supinação excessiva do complexo tornozelo-pé, que ocorre quando o complexo articular apresenta inversão, flexão plantar e inversão excessivas durante a descarga de peso no membro acometido. Em uma entorse por inversão pode ocorrer a lesão do ligamento talofibular anterior, da região anterolateral da cápsula articular, do ligamento calcaneofibular e do ligamento talofibular posterior, resultando na presença de dor aguda, redução da amplitude de movimento, déficit da função física. O mecanismo de lesão para a entorse em inversão pode ocorrer durante a deambulação, corrida, especialmente em terrenos irregulares, ou após aterrissar de um salto ou queda caindo com o peso do corpo sobre o pé invertido. (GARRICK e WEBB, 2001). A lesão aguda em inversão resulta em danos às estruturas laterais do tornozelo, que incluem os ligamentos laterais, as cápsulas das articulações subtalar e talocrural e o nervo fibular superficial. Tais alterações apresentamimplicações clínicas importantes, uma vez que se observa instabilidade funcional (sensação de falseio e recorrência da lesão) em 15% a 60% dos casos após um evento de entorse primário (SILVA, 2011). Após um trauma, os ligamentos do tornozelo podem ficar distendidos ou rompidos. O tipo mais comum de entorse é causado por uma sobrecarga em inversão e pode resultar em laceração parcial ou completa do ligamento talofibular posterior (TFP); o ligamento talofibular posterior (TFP) é rompido apenas com sobrecargas intensas em inversão. Se os ligamentos tibiofibulares inferiores são rompidos após uma sobrecarga no tornozelo, o encaixe torna-se instável. Sabe-se ainda que aproximadamente 80% dos indivíduos apresentam lesão recorrente do tornozelo após o primeiro episódio da entorse, e que a entorse responsável pela instabilidade acontece quando ocorre a lesão combinada do ligamento talofibular anterior e o calcâneo fibular (KISNER, 2005. Apud LUSTOSA, 2011). Segundo Dutton (2007) como em qualquer outra área, as lesões podem ser micro ou macro traumáticas. A maioria das entorses de tornozelo ocorre quando o pé está em flexão plantar, invertido e aduzido. Contudo, o mesmo mecanismo também pode levar a condições mais graves, como fratura do maléolo ou do colo talar. O mecanismo de inversão ocorre em grande velocidade, não permitindo, muitas vezes, que o músculo reaja a tempo de estabilizar a articulação, impondo, assim, sobrecarga lesiva ao complexo ligamentar lateral, atingindo, principalmente, os músculos fibulares curto e longo. Com esse estiramento, pode ocorrer alteração da capacidade proprioceptiva pela lesão e pela instabilidade articular (MEURER, 2010). 24 Medidas Preventivas É comum observar o uso de medidas profiláticas pelos atletas, como tornozeleiras, enfaixamentos e órtese, na tentativa de evitar lesões de tornozelo. Essas medidas podem ser usadas em qualquer estágio da reabilitação e também na prevenção de entorses em atletas saudáveis. Segundo Cardoso (2005) uma revisão de literatura descreve meios para prevenir a entorse de tornozelo: tipos de calçados, bandagem, órteses de tornozelo e treinamento sensório-motor. As órteses de tornozelo têm principal objetivo promover um suporte externo adicional aos ligamentos e músculos à articulação. Em uma investigação biomecânica sobre a estabilidade do tornozelo com órtese (brace), verificou-se um aumento do torque da articulação do tornozelo, neutralizando o movimento de inversão e mantendo a articulação em uma posição anatômica apropriada, com melhor contato entre as superfícies articulares. As órteses de tornozelo podem ser classificadas em: lace-up (constituída de um material flexível, como couro, e de cadarços para melhor fixação), stirrup (com dois apoios laterais constituídos de material plástico) e elástico (CARDOSO, 2005). Fonte: drgustavoarliani.com.br Em relação à utilização de proteção com órtese do tipo tornozeleira, antes do último episódio de entorse, 46,2% dos atletas relataram que faziam uso constante. Após o último episódio de lesão, 68,9% dos atletas passaram a utilizar proteção (FORTES, 2008). Em virtude da alta incidência de entorses de tornozelo, foram desenvolvidas estratégias preventivas, sendo a bandagem funcional de tornozelo amplamente utilizada como uma das técnicas para prevenir as recidivas de entorse. O efeito das bandagens de tornozelo na 25 entrada proprioceptiva ao sistema nervoso central, a atividade dos fibulares e a contenção do movimento excessivo do tornozelo aliados à limitação da inversão, são muito importantes na prevenção da entorse (MEURER, 2010). Está comprovado que o uso de implementos para o tornozelo reduz a taxa de lesões principalmente em indivíduos com história prévia, além de serem úteis na prevenção e controle dos sinais inflamatórios na fase aguda das entorses (BELANGERO, 2010). Medidas preventivas, tais como o uso de estabilizadores dinâmicos de tornozelo (EDT) e de bandagens funcionais, têm sido frequentemente propostas, afim de evitar a ocorrência da lesão (ANJOS, 2009). A bandagem funcional de tornozelo tem sido demonstrada como eficaz na redução do movimento de inversão; entretanto, estudos demonstram que a eficácia da bandagem diminui rapidamente com exercício, em cerca de 12 e 50% após os 10 primeiros minutos de utilização. Sendo assim, o uso do EDT promove maior estabilidade durante maior período de tempo, torna-o um recurso profilático mais eficiente. Este tipo de suporte tem sido preferido em detrimento da bandagem funcional, pois, ao contrário desta, o EDT não perde seu poder de restrição de movimento após a atividade de salto vertical, além de ser fácil aplicação, menos irritante para a pele e pode ser neutralizado (ANJOS, 2009). A análise biomecânica indica que as bandagens e órteses podem limitar a amplitude do movimento, especialmente de inversão e eversão do pé, podendo, no entanto, aumentar as solicitações mecânicas longitudinais. Mas há de considerar que a estabilidade mecânica diminui consideravelmente após pouco tempo de exercício, principalmente em relação à bandagem. Sugere-se que uma intervenção fisioterapêutica precoce em jovens atletas possa ser uma solução em potencial para a correção postural das alterações observadas, assim como para dar orientações posturais (BELANGERO, 2010). Tais medidas poderiam diminuir o risco da incidência de lesões decorrentes de alterações posturais e também realizar reabilitação adequada após a lesão, diminuindo assim o tempo de afastamento do jogador da prática esportiva e melhorando o desempenho da equipe como um todo. Quando o paciente estiver envolvido em atividades esportivas, o tornozelo deverá ser imobilizado com tala, faixa ou bandagem, e deverão ser usados calçados apropriados para proteger o ligamento de uma nova lesão (KISNER, 2005). É importante ressaltar que a bandagem, logo que aplicada, tem efeito por tempo determinado e tudo depende do local de aplicação e qual atividade está sendo exigida com a aplicabilidade desta bandagem (RIBEIRO, 2003. Apud MEURER, 2010). 26 Tratamento O tratamento ocorre depois de uma minuciosa avaliação do paciente, obtendo informações possíveis para traçar um plano de tratamento com segurança, obtendo a eficácia no tratamento. A informação sobre o mecanismo deve incluir quando, onde e como a lesão ocorreu. Detalhes sobre o mecanismo da lesão permitem que o fisioterapeuta conclua o estado patológico e as estruturas envolvidas, embora se deva ressaltar que a recordação que o paciente tem do mecanismo frequentemente não corresponde às estruturas danificadas (DUTTON, 2007). Dutton (2007) ressalta que vale a pena lembrar que a apresentação clínica de fraturas sutis pode ser similar a das entorses de tornozelo, e essas fraturas frequentemente passam despercebidas no exame inicial. Embora alguns casos mais graves possuam uma controversa indicação cirúrgica, a grande maioria é tratada de forma conservadora utilizando o método PRICE (proteção, repouso, gelo, compressão e elevação), o tratamento farmacológico (anti-inflamatórios não esteroides, por exemplo), a imobilização e o tratamento cinesioterapêutico (BARONI, 2010). Fonte: ortopedistasaoluis.com.br O tratamento conservador: Se possível, examinar o tornozelo antes que ocorra efusão celular. Para minimizar o edema, usar compressão, elevação e gelo. O tornozelo deve ser imobilizado na posição neutra ou em leve dorsiflexão e eversão. Instrução do paciente: Ensinar ao paciente a importância do repouso, do gelo, da compressão e da elevação, e aplicação de gelo a cada duas horas nas primeiras 24 a 48 horas; ensinar o apoio de peso 27 parcial com muletas para diminuir a sobrecarga da deambulação; ensinartécnicas isométricas e flexões ativas dos artelhos para ajudar a manter a integridade muscular e assistir à circulação (KISNER, 2005). Segundo Thomson; Skinner e Piercy (1994) uma torção leve pode ser tratada com bandagem elástica, uma lesão mais grave requer uma bandagem com pressão, e em lesões graves o paciente deve ser aconselhado a repousar com o membro em elevação, realizando exercícios metabólicos do tornozelo e a usar muletas por certo período. Treinamento de propriocepção com pranchas de inclinação é iniciado assim que possível, usualmente após três a quatro semanas. Seu objetivo é melhorar o equilíbrio e controle neuromuscular do tornozelo. O objetivo do tratamento da lesão ligamentar do tornozelo é o retorno às atividades (esporte/trabalho), com remissão da dor, inchaço e inexistência de instabilidade articular. O tratamento inicial para todas as lesões consiste em repouso por três dias, aplicação local de gelo, elevação do membro afetado e proteção articular com imobilizador ou tala gessada. Nas lesões leves, o tratamento é sintomático, com manutenção da imobilização até a melhora dos sintomas, que dura entre uma e duas semanas. Assim que os sintomas agudos diminuírem, continuar a dar proteção ao ligamento envolvido usando uma tala durante o apoio de peso (RODRIGUES, 2009). Aplicar massagem transversa nos ligamentos conforme a tolerância; usar técnicas de mobilização articular grau II para manter a mobilidade da articulação; ensinar ao paciente exercícios para serem feitos dentro da tolerância dos tecidos pelo menos três vezes ao dia. Progredir para alongamentos com apoio de peso quando a recuperação do paciente permitir; à medida que o edema diminui e a tolerância ao apoio de peso aumenta, progredir exercícios de fortalecimento, resistência à fadiga e estabilização; incluir resistência isométrica para os fibulares, bicicleta ergométrica e exercícios na prancha de equilíbrio com apoio de peso parcial a completo (KISNER, 2005. Apud RODRIGUES, 2009). Segundo Kisner (2005) na fase de retorno à função deve trabalhar os exercícios de fortalecimento acrescentando resistência elástica aos movimentos do pé na posição sentada com joelhos estendidos (cadeia aberta) e com o calcanhar no solo para apoio de peso parcial. Usar resistência isocinética se tiver um aparelho disponível; progredir a estabilização e o tratamento de equilíbrio para estabilidade de tornozelo, coordenação e resposta reflexa com atividades de apoio de peso completo sobre uma prancha de balanço, de oscilação ou deslizante. Dependendo dos objetivos finais da reabilitação, treinar atividades de apoio de peso com o tornozelo como caminhada, corrida leve e de velocidade, e com atividades de 28 agilidade controladas como giros, mudanças de direção e transferência de peso lateral (KISNER, 2005). Garrick e Webb (2001) expressam que a imobilização das entorses de grau I e II somente compromete ainda mais os movimentos e causa atrofia, por desuso, nos músculos envolvidos. Porém o emprego de uma tala pode ser necessário para o prosseguimento das atividades rotineiras, mas a tala deve ser retirada várias vezes ao longo do dia para que os exercícios apropriados sejam realizados. Segundo Moreira & Antunes (2008) na fase de reeducação funcional o treino proprioceptivo deve ser mantido indefinidamente. Restaura o reflexo antrocinético e é, provavelmente, a medida isolada mais importante na redução do risco de recorrência das entorses. É de suma importância que seja realizada uma reabilitação adequada nas lesões ligamentares de tornozelo em atletas, para que não haja reincidência, pois poderá gerar graves instabilidades articulares caso ocorra entorses repetitivas, aumentando o tempo de retorno desse atleta as atividades esportivas. 5 LESÕES DE JOELHO Fonte: boladetenisdelivery.com As lesões traumáticas e suas consequências representam 80% das patologias do joelho. O sistema osteoligamentar, muito complexo e pouco elástico, é bastante submetido a traumas diretos e indiretos hoje em dia. Os acidentes automotivos e esportivos são os principais responsáveis pelas variadas lesões que a articulação do joelho sofre. Essa 29 traumatologia, em constante progresso, forneceu um incentivo muito grande ao estudo da anatomo fisiologia e da biomecânica do joelho. Para encontrar métodos de tratamento eficazes, é estudada cada vez mais a normalidade das funções ligamentar e osteoarticulares. Portanto, esse capítulo inicia com a revisão dos conceitos anatômicos e biomecânicos do joelho (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). 5.1 Anatomofisiologia do joelho Articulação femorotibial O sistema ósseo do joelho determina seu alinhamento e absorve a carga axial. O terço distal do fêmur tem angulação em valgo, decorrente do fato de alinhar a cabeça femoral com o centro da articulação do joelho, respeitando a angulação formada pelo colo femoral e determinando o eixo mecânico do membro inferior. O terço proximal da tíbia apresenta angulação em varo, pois tem o comportamento de barra fixa nas duas extremidades submetida à compressão axial, que se deforma proximal e distalmente (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). A articulação femorotibial deve ser paralela ao solo. Sendo assim, os desvios axiais estruturais, quando ocorrem, acentuam o varo da tíbia ou o valgo do fêmur. Tanto o fêmur como a tíbia possuem, próximo do joelho, as corticais anterior, medial e lateral muito delgadas, envolvendo uma grande massa de osso esponjoso. Essa estrutura, semelhante à do calcâneo, é muito eficiente na função de absorver e distribuir carga. Contudo, quando atingida por trauma, sua reconstrução é muito difícil. A articulação do fêmur com a tíbia é assimétrica, devido a sua incongruência óssea, sendo, portanto, instável (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). O compartimento medial resulta da articulação do côndilo medial do fêmur em forma convexa com o côndilo medial da tíbia em forma côncava. O compartimento lateral é produto da articulação do côndilo lateral do fêmur em forma de esfera com o côndilo lateral da tíbia em forma convexa. Esse complexo articular, embora instável, permite que o joelho exerça a flexão-extensão associada às rotações externa e interna. Tal movimento ocorre pela estabilização do complexo medial, que funciona como eixo do movimento rotacional, e pela extrema mobilidade do côndilo lateral esférico do fêmur, que percorre, à semelhança de um limpador de para-brisas, o côndilo lateral convexo da tíbia (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). 30 Articulação patelofemoral A patela é um osso submetido a esforços de tração enormes; por isso somente dois terços de sua área têm superfície articular, o restante corresponde a zonas de inserções musculares em função dos esforços de tração. A superfície articular é multifacetada, sendo descritas até sete facetas. Isso se deve ao fato de a excursão ser feita em vários ângulos diferentes na sua relação com o fêmur, sendo mais por arrasto do que por congruência articular. Articula-se a troclear femoral, que resulta de depressão entre os côndilos do fêmur (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Músculos e ligamentos Esse conjunto articular, para se tornar eficiente e estável na transmissão da ação muscular, recebe várias inserções musculares e dispõe de diversos ligamentos. As inserções musculares do joelho são próximas ao fulcro do movimento, ou seja, da interlinha articular, o que resulta em enorme desvantagem mecânica em termos de momento de força. Tal desvantagem está expressa pela fortíssima massa muscular que movimenta a articulação, determinando, por sua ação, frequentes queixas de tendinites. O sistema ligamentar deve ser compreendido de forma conjunta, mais pela sua função do que por sua descrição anatômica. Com base nisso, os ligamentos são separados, na articulação femorotibial, em centrais, periféricos e os da articulação patelofemoral(CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Ligamentos da articulação femorotibial Fonte: isaem.net/lesões-do-ligamento-colateral-medial-cm Centrais. Englobam os ligamentos cruzados anterior (LCA) e posterior (LCP), os quais são os principais responsáveis pela estabilização no sentido anteroposterior e auxiliam na 31 estabilização medial e lateral. O LCA apresenta comportamento mecânico individualizado. Estudos demonstraram variações de 35 a 159 kgf para sua resistência máxima à tração. Ele é responsável por 85% da estabilização anterior do joelho. O LCP possui estrutura anatômica que sugere a existência de dois ligamentos ou pelo menos dois folhetos completamente distintos. Essas duas estruturas têm funções diferentes, pois uma está tensa em flexão e a outra, em extensão (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). O LCP tem como função impedir a posteriorização da tíbia em relação ao fêmur e, com isso, desempenha um importante papel no mecanismo desacelerador e frenador do joelho. Essa função estática é sinérgica à mesma função do quadríceps, que é o grande desacelerador e frenador dinâmico do joelho. Segundo Hernandez (1994), não há diferença entre o comportamento mecânico das duas estruturas que compõem o LCP e o LCA no que diz respeito à resistência. Para alguns autores pode existir diferença no que se refere à elasticidade. O LCP é responsável por 95% da estabilização posterior do joelho (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Periféricos. São os principais responsáveis pela estabilidade medial, lateral e rotacional e auxiliam na estabilização anteroposterior. O complexo medial é composto por dois folhetos: o superficial, que é mais delgado, e o profundo, mais espesso, dividido em menisco femoral e menisco tibial. O folheto superficial é mais elástico, podendo ocorrer lesão de um dos folhetos profundos, sem haver trauma no superficial (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). O complexo medial é reforçado no canto póstero medial pela inserção do músculo semimembranáceo, que forma o ligamento poplíteo oblíquo posterior. O complexo ligamentar lateral é resultado de o espessamento da cápsula articular, reforçada pela fáscia lata e por um forte complexo ligamentar posterolateral. Esse complexo, formado pelo ligamento colateral da fíbula, pelo tendão do músculo poplíteo e pelo ligamento arqueado, tem a importante função de limitar a rotação externa da tíbia em relação ao fêmur, além de, obviamente, ser um estabilizador lateral. Nessa região, ocorrem muitas variações anatômicas (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). O complexo ligamentar lateral é o principal restritivo secundário da estabilização anterior e posterior do joelho. Como estabilizador secundário, é responsável por 58% da estabilidade anterior e por 64% da estabilidade posterior. Unindo as estruturas ligamentares, ajustando e auxiliando a distribuição de carga das estruturas ósseas, há os meniscos. O menisco medial segue o comportamento do compartimento medial, sendo mais 32 estável e menos móvel. O menisco lateral, à semelhança do compartimento lateral, é mais móvel. Os meniscos funcionam harmonicamente, embora sejam independentes. Essa complexa estrutura possibilita a estabilização em qualquer grau de movimento, pois tal mecanismo é o resultado da interação do sistema ligamentar estático com o sistema muscular dinâmico. Há certa simetria em todo o conjunto, representada no esquema proposto por Nicholas (1973) (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Ligamentos da articulação patelofemoral A partir da descrição de Warren e Marshall, em 1979, do ligamento patelofemoral medial (LPFM), houve mudança na compreensão da estabilidade da articulação patelofemoral. Após 1998, vários estudos a respeito desse ligamento foram iniciados, demonstrando que ele é o principal responsável pela estabilização da patela. Com origem na borda súpero-medial da patela e na inserção no epicôndilo medial, o LPFM é o mais importante restritivo à lateralização da patela. Suas relações com o músculo vasto medial explicam, a nosso ver, a importância desse músculo no mecanismo de estabilização da articulação patelofemoral (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). 5.2 Tratamento do joelho em casos agudos Fonte: vita.org.br O divisor de águas na conduta terapêutica é o exame clínico seguido da radiografia simples. A RMN, sempre que possível, deve ser realizada nos casos agudos, pois a incidência de lesões osteoarticulares é maior do que a detectada pelos métodos convencionais. Entorse de joelho, sem hemartrose e sem sinal clínico de instabilidade. 33 Realizar exame radiográfico convencional. É uma lesão leve, sem comprometimento da estabilidade do joelho. Utiliza-se o protocolo resumido na palavra “PREGO”, por 16 a 21 dias (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Proteção: uso de muletas. Repouso: ausência de esforço sobre a articulação. Exercícios: iniciados imediatamente após o trauma, para a manutenção dos tônus musculares. Gelo: em 3 a 4 sessões de 20 minutos, por 3 a 4 dias. O gelo, usado assim, tem a função de agir como analgésico e anti-inflamatório. Observação: é o acompanhamento do paciente. Como já relatado, os sinais clínicos podem se tornar positivos durante a evolução, após cessar o espasmo da musculatura (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Os pacientes devem ser acompanhados, já que aproximadamente metade das lesões agudas do LCA não produz hemartrose. Entorse de joelho com hemartrose e sem sinais clínicos de instabilidade. Realizar exame radiográfico convencional. Sabe-se que 75% das hemartroses indicam lesão do LCA, associada, na metade dos casos, com lesão meniscal ou osteocondral. Neste capítulo, são abordados os aspectos referentes à lesão do LCA. O tratamento das lesões intrínsecas será considerado em item específico. Estudos para determinar a evolução para instabilidade anterior, a partir da lesão isolada do LCA, indicam como fatores de risco (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016): Atividade esportiva. Os pacientes em atividade esportiva evoluíram duas vezes mais para instabilidade anterior do que aqueles que praticavam esportes de forma esporádica. Intercôndilo estreito. Dividindo-se a medida de abertura do Intercôndilo (a qual é determinada por radiografia que possibilite a visualização do túnel intercondilar) pela largura dos côndilos (definida no nível da inserção do músculo poplíteo), obtém-se o índice intercondilar de Souryat e colaboradores (apud Rezende et al., 1994). Nos pacientes com índices menores de 0,2, a possibilidade de evolução para instabilidade anterior, a partir da lesão isolada do LCA, é muito maior. Varismo do joelho. Noyes, Barber e Simon (1993) determinaram que portadores de lesão do LCA e varismo evoluem com maior frequência para instabilidade anterior (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). 34 A indicação ou não de tratamento cirúrgico ou de análise por artroscopia ou RMN deve ser feita considerando-se tais fatores e o acompanhamento clínico. Nos casos submetidos a artroscopia, pode-se utilizar um critério mais preciso de indicação ou não para a reparação das lesões de LCA. Abdalla (1994) demonstrou que os portadores de lesão do LCA com extensa lesão da membrana sinovial têm possibilidade muito maior de evoluir para instabilidade anterior. De qualquer forma, para os portadores dessas lesões, a conduta inicial é o protocolo PREGO, e, nos casos selecionados (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Entorse do joelho com sinais clínicos de instabilidade medial ou lateral, sem hemartrose. Exame radiográfico convencional. Nos pacientes afetados, ocorre lesão moderada dos complexos ligamentares periféricos, sem comprometimento dos componentes centrais. É indicado o protocolo PREGO por 21 dias (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Fonte: isioterapia.com.brEntorse do joelho com sinais clínicos de instabilidade em varo ou valgo, com hemartrose. Exame radiográfico em busca de sinais de fratura ou de afundamento do platô tibial. O tratamento das fraturas do platô tibial será abordado mais adiante neste capítulo (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Entorse do joelho com hemartrose e sinal clínico de instabilidade anterior. Exame radiográfico convencional. Nos pacientes com tal condição, há sinais de lesão do LCA já com instabilidade manifestada. São indicados o protocolo PREGO por 21 dias e a reconstrução do LCA, com base na técnica que será descrita mais adiante (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). 35 Entorse do joelho com ou sem hemartrose e com sinais de instabilidade posterior. Exame radiográfico convencional ou com sinais de arrancamento do LCP. As duas condições possíveis são decorrentes de posteriorização, seja ela passiva ou não. Nos casos de lesão do LCP sem posteriorização passiva, utiliza-se o protocolo PREGO e observa-se a evolução dos pacientes. Naqueles com posteriorização passiva, a indicação de reconstrução ou reinserção do LCP é necessária. O diagnóstico tardio de instabilidade posterior costuma ser confundido com instabilidade anterior. A RMN não ajuda muito, pois o LCP cicatriza, e são visualizadas imagens de integridade em ligamentos alongados (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Lesões do aparelho extensor. As luxações da patela, sobretudo as agudas, são de difícil diagnóstico clínico. Como consequência, são negligenciadas. O sinal clínico frequente é a hemartrose com dores na aleta medial. A palpação da aleta e a tentativa de lateralização da patela produzem dor. O exame radiográfico pode demonstrar pequenos arrancamentos ósseos na faceta medial. Fraturas marginais podem acompanhar as luxações (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Lesões complexas do joelho. Nesse grupo, são incluídas as instabilidades complexas associadas ou não a fraturas do platô tibial. Inicialmente, são consideradas as instabilidades complexas. As fraturas do platô serão descritas mais adiante. As lesões ligamentares complexas do joelho ocorrem por comprometimento dos complexos ligamentares periféricos associado a lesões de um ou dos dois ligamentos centrais. Em tais situações, o correto é a reconstrução de todas as estruturas comprometidas, utilizando todos os recursos cirúrgicos (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Lesões osteocondrais As lesões osteocondrais traumáticas têm assumido importância progressivamente maior com a evolução dos meios diagnósticos. A RMN demonstrou incidência próxima a 80% de lesões osteocondrais traumáticas nos portadores de hemartrose com lesão aguda do LCA. Esses mesmos pacientes, submetidos a artroscopia, apresentam incidência de 20% de lesões visíveis. Provavelmente, a alta incidência de artrose em portadores de lesão do LCA esteja relacionada às lesões osteocondrais traumáticas. Pode-se considerar dois tipos de lesões osteocondrais traumáticas: por impacção e por destaque (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Lesões osteocondrais por impacção 36 São muito frequentes nas lesões agudas do LCA. Ocorrem, na maioria dos casos, no fêmur. Não se conhece ainda o real significado dessas lesões e, como são estáveis, não são submetidas a procedimento terapêutico. A ocorrência de lesões por impacção na tíbia, em que se consideram os afundamentos do platô tibial, tem merecido maior atenção. Nos casos de afundamentos de até 0,5 cm, a carga é retirada por seis semanas, orientando o uso de muletas. Nas seis semanas seguintes, a descarga parcial é permitida ainda com muletas. Após 12 semanas, é instituído o retorno progressivo às atividades anteriores ao trauma. Nos casos de afundamentos maiores de 0,5 cm, indica-se o levantamento sob controle radioscópico (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). 5.3 Fraturas da patela Fonte: brunoluciano.com.br A patela é o maior osso sesamóide do corpo, com seu centro de ossificação surgindo entre o segundo e o terceiro anos de vida ou, eventualmente, mais tarde. Em alguns casos, apresenta centro de ossificação secundário (patela bipartida). Tendo formato triangular com o ápice voltado para baixo, recebe inserções dos componentes do quadríceps, que também a recobrem e formam o ligamento da patela, que se origina no polo inferior desse osso. Sua disposição anatômica favorece mecanicamente a função do quadríceps. Sua face articular apresenta a cartilagem mais espessa do corpo humano e, durante a flexão-extensão, transmite ao seu ligamento e à superfície anterior do fêmur distal (tróclea) a força gerada no quadríceps (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). 37 Sua vascularização vem de ramos das artérias superiores, média e inferiores do joelho, que penetram em sua porção central e em seu polo inferior, fato considerável na gênese da necrose avascular. Sua significância foi muito discutida na literatura, havendo alguns que a consideram sem valor funcional e outros que enfatizam a necessidade de sua reconstrução e preservação, devido a sua importância para o aparelho extensor. Há dois mecanismos frequentes de lesão na patela. O primeiro, devido a sua posição extremamente superficial na face anterior do joelho, é o trauma direto, muitas vezes com alguma lesão de pele associada (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). O segundo é o trauma indireto por tração violenta do aparelho extensor do joelho. A existência de desvio ou não depende do grau de lesão de partes moles de tal aparelho. A classificação das fraturas da patela depende, basicamente, do traço de fratura e da ocorrência ou não de desvio. As fraturas são divididas em transversas, longitudinais, cominutivas e osteocondrais. As transversas são as mais comuns, ocorrendo com mais frequência na porção média ou distal. Todas elas são divididas em fraturas com ou sem desvio. Correspondem a cerca de 1% de todas as fraturas do corpo, com maior incidência entre os 20 e os 50 anos de idade (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Clinicamente, o diagnóstico de fratura da patela é realizado pela história de trauma direto ou de flexão violenta do joelho, seguidos de dor, edema e limitação, em grau variável, da capacidade de extensão do joelho. A disposição anatômica da patela costuma permitir boa avaliação mediante inspeção e palpação. A presença de edema ou de hemartrose também sugere fratura. Durante a avaliação inicial, é de extrema importância que se caracterize ou não a capacidade de extensão ativa do joelho contra a resistência da gravidade (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). Eventualmente, pode ser necessária a infiltração intra-articular de anestésico local para a observação. O exame radiográfico é fundamental para o diagnóstico, devendo ser realizado nas posições de frente e de perfil, com flexão moderada, e, quando possível, na incidência axial, que permite a visualização de fraturas longitudinais. Raramente são indicados outros exames, exceto para identificação de fraturas osteocondrais, em que a artrografia, a TC e a RMN contribuem para o diagnóstico (CAMANHO, HERNANDEZ, 2016). 38 5.4 Tendinopatia patelar A tendinopatia é causada devido a uma sobrecarga que acontece no aparelho extensor do joelho, com isso há o aparecimento da dor quando o local é palpado ocasionando um défice funcional. A região do joelho mais acometido é a porção profunda do tendão patelar localizado no pólo inferior da patela. Também chamado de JUMPER’s KNEE ou joelho de saltador, pode se acometido em atletas que praticam esportes de salto. As causas devem ser avaliadas durante o tratamento. A causa da tendinopatia patelar abrange vários fatores, que envolve causas intrínsecas e extrínsecas (SANTANA, TEIXEIRA, PRADO, BORGES, 2015). Fatores extrínsecos: ocorrem quando a um grande esforço em que haja repetições durante as atividades que envolvem corrida e saltos. Essas afecções acometem
Compartilhar