Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Assistência de enfermagem ao paciente cirrótico 1. Definição: Cirrose hepática é o ponto comum terminal da destruição hepatocelular de longa duração por qualquer causa. Nessa doença o fígado apresenta-se com extensa fibrose associada com nódulos de células hepáticas regeneradas. Sendo que o desenvolvimento desse padrão de resposta provoca distorção da arquitetura hepática e leva a uma pressão retrógrada elevada nos vasos sanguíneos portais. ** Toda alteração de ordem estrutural vão impactar na função. Há de inicio um comprometimento mecânico que passa a ser fisiológico. Quando é mecânico o corpo se reorganiza. Os sintomas aparecem quando há um comprometimento fisiológico. 2. Anatomia fígado: O fígado é maior víscera do corpo. Está localizado abaixo do diafragma e a direita. Apresenta duas fascies uma visceral e a outra diafragmática. Na face visceral distinguem-se quatro lobos: direito, esquerdo, quadrado e caudado. Na face diafragmática os lobos esquerdo e direito são separados por uma prega de peritônio, o ligamento falciforme. O pedículo renal é composto pela artéria renal, veia porta e ducto hepático comum. 3.Histologia: A unidade celular principal do fígado é o hepatócito, mas existem ainda: As células de kupffer, macrófagos responsáveis pela defesa fagocítica contra qualquer coisa estranha, metabolização de eritrócitos velhos e digestão da hemoglobina. Células Ito: células estreladas responsáveis pela defesa também. O Espaço de Disse separa os sinusóides dos hepatócitos. Os canalículos biliares ficam entre os hepatócitos e não tem parede própria. Os ductos biliares são uma reunião de vários canalículos que gradualmente se fundem formando o ducto hepático. Os hepatócitos são diferentes e em regiões diferentes do lóbulo apresentam diferentes propriedades metabólicas, o que torna cada tipo celular vulnerável a diferentes tipos de processos patológicos. Os hepatócitos são ricos em: RER que fazem proteínas, REL que conjugam, oxidam metilam inativando ou desintoxicando substancias antes da sua excreção. Os hepatócitos se agrupam em placas, e por essas placas passam capilares chamados sinusóides. O sangue flui pelos sinusóides levando até o fígado as substâncias que serão metabolizadas. 4. Fisiologia: O fígado é sutil anatomicamente e funcionalmente. Qualquer alteração nesse órgão resulta em interferências em diversas estruturas. Ele está ligado com o sistema porta, vesícula biliar e baço. É altamente irrigado pelos sinusóides, capilares onde as transferências ocorrem. Os sinusóides ramificados da veia porta convergem para o centro do lóbulo para formar a veia central. Estas se convergem formando as veias hepáticas que desembocam na veia cava superior. *Circulação portal: nesse tipo de circulação uma veia se interpõe entre duas redes de capilares, sem passar por um órgão intermediário. Na circulação portal hepática as redes são a rede capilar no intestino e a outra dos capilares sinusóides do fígado. Quadro 1. Funções do fígado Metabolismo de carboidratos O fígado é um local de acúmulo de glicogênio e fonte de glicose plasmática. Metabolismo de gorduras O fígado é central no processamento de gorduras da dieta em lipoproteínas. Essas vão para o sangue para o metabolismo periférico. Metabolismo de proteínas É o principal local de síntese protéica, particularmente das proteínas plasmáticas como albumina, fatores de coagulação como prototrombina e fibrinogênio, proteínas ligantes do ferro e cobre. No fígado também ocorre catabolismo protéico, com geração de uréia. Síntese da bile: O fígado secreta bile para a vesícula contendo bilirrubina, colesterol, eletrólitos e sais biliares ( formados por colesterol). **Cerca de 90% dos ácidos biliares derivam da absorção do epitélio intestinal e vão para o hepatócito. Os outros 10% são produzidos no REL dos hepatócitos. Armazenamento No fígado ocorre armazenamento de glicogênio, cobre, ferro e vitaminas lipossolúveis (A, B12, D, E e K), que podem se tornar patologicamente excessivas na doença. Desintoxicação O fígado desintoxica muitos metabólitos, particularmente os compostos nitrogenados, hormônios e drogas. Muitas toxinas são neutralizadas pelo processo de oxidação, acetilação, metilação e conjugação através das enzimas do REL. 5. Tipos de desordem hepática: I) Doenças que resultam em lesão primária devido à inflamação e/ou necrose hepatoceluar. Ex : vírus, drogas,acidentes, alterações no metabolismo da gordura. II) Desordens caracterizadas por inibição do fluxo biliar ( colestases) e retenção de constituintes biliares, alguns dos quais, tóxicos. 6. Patologia da cirrose: Na cirrose ocorrem lesões difusas e persistentes no tecido do fígado, que pode ser decorrente de diversos fatores, como o abuso de álcool. A lesão desencadeia um processo de cicatrização caracterizado pelo acúmulo de colágeno e fibrina, que paulatinamente, forma nódulos no parênquima hepático. Esquema de acontecimentos: * É difícil cirrótico sobreviver até o fígado necrosar, pois os sinais e sintomas clínicos levam o paciente ao óbito. 7. Causas: Tabela 1. Álcool (40 a 60g de álcool/ dia - 10 a 15 anos) O etanol é metabolizado primariamente no fígado. A metabolização do álcool forma radicais livre, devido à peroxidação lipídica, formação de acetaldeidos, citocinas pró - inflamatórias e citocinas com ação fibrinogênica. As subs produzidas na metabolização desencadeiam resposta inflamatória que resulta na formação de nódulos no fígado; Cirrose biliar primária e secundária Primária: É mediada por mecanismos imunológicos. Algo obstrui a passagem da bile internamente e uma reação imunológica de defesa é desencadeada. É caracterizada por: prurido, fosfatase alcalina elevada, hepatoesplenomegalia, pele seca, icterícia, xantomas, presença de AMA no soro (anticorpo antimitocondrial que sinaliza a presença de acionamento do sistema imune). Secundária Comum em etilistas Não é encontrada ruptura de canalículos intra –hepáticos ou disfunção intra- hepática. Relacionada a problemas sistêmicos. Caracterizada por icterícia. Hepatites B e C Congestão hepática crônica por ICC Doenças metabólicas genéticas como galactosemia 8. Fatores de risco: Historia familiar; Alcoolismo; Diabetes; Obesidade; Uso de medicações; Histórico de hepatite; 9. Manifestações clínicas:Anexo 1 Podem ser de dois tipos: Resultantes do comprometimento da função hepatocelular: Ex: icterícia, coagulopatia, hipoalbuminemia. Resultantes da ruptura do parênquima: Ex: anemia, esplenomegalia, varizes gastroesofagianas, ascite, edema. 10. Diagnóstico: Achados diagnósticos Exame físico + anamnese Anamnese: Investiga presença de fatores de risco para a doença como alcoolismo, abuso de certas drogas, contatos sexuais de risco, transfusões e etc. Exames laboratoriais: Exames que avaliam lesão hepática: TGO: Encontrado no citoplasma e mitocôndrias do fígado, músculo esquelético, músculo cardíaco, rins e pâncreas. È liberada quando qualquer um desses tecidos ou órgãos está lesado. TGP: É exclusivo do fígado, mas pode estar elevada em conjunto com o TGO em casos de miocardiopatia severa. DHL: Está presente somente em lesão hepática. Exames que avaliam fluxo biliar e vias biliares: Fosfatase alcalina e GGT (gama gluqamiltranferase): Estão presentes nos ductos e canalículos biliares. Quando estão elevadas refletem colestase, uma diminuição ou obstrução do fluxo da bile. O excesso de sais biliares solubiliza essas enzimas. Bilirrubinas: Indireta elevada (não conjugada): Ou o fígado tem problemas na conjugação ou a degradação de hemácias está aumentada. Direta elevada (Conjugada): Há problemas na eliminação da bile / problemas no escoamento, no fluxo. Ambas elevadas: Obstrução das vias ou lesão interna nos hepatócitos(que causa deficiência na conjugação). Exames que avaliam função de síntese hepática: Albumina: Fatores de coagulação: A falta de fatores de coagulação pode ocorrer por lesão nos hepatócitos, mas também pode ocorre por falta de matéria prima para sua síntese, a vitamina K. Está não é produzida endogenamente e precisa ser ingerida na dieta. Outros exames: USG: mede a densidade das células do parênquima hepático e o tecido cicatricial TC e RX: Mede tamanho do fígado, fluxo sanguíneo e obstrução hepática; Gasometria arterial: desequilíbrio de ventilação/ perfusão e hipóxia. 11. Tratamento: É baseado nos sintomas. Antiácido: para diminuir desconforto gástrico e minimizar possibilidade de sangramento; Vitamina e suplementos nutricionais: Melhoram o estado nutricional e ajudam no processo de cura dos hepatócitos; Diuréticos poupadores de K: diminui a ascite e minimiza as alterações eletrolíticas; Reposição de albumina: Preserva a pressão coloidosmotica. Dieta balanceada: Reposição de proteínas de alto valor biológico; Dieta hipossódica; Hipolipídica Hiperproteica, com exceção da presença de encefalopatia hepática; Abstinência alcoólica; Controle de peso corporal; Avaliação de glicemia devido a risco de glicemia instável; 12. Cuidados de Enfermagem: Oferecer refeições pequenas e freqüentes; Orientar o paciente para escovar os dentes com escovas macias. Dieta hipercalórica (2.000 a 3.000) diárias, hipossódica e rica m proteínas de alto valor biológico; Monitorar deficiências nutricionais; Solicitar avaliação nutricionista. Monitorar parâmetro hemodinâmicos para detectar sinais de hipovolemia ( P.A, pulso e FC); Monitorar perfusão tissular periférica; Cuidados no banho e na realização de curativos; Avaliação cardiorrespiratória. Atentar para níveis de uréia e creatinina; Avaliar padrão respiratório; Monitorar sinais de angústia respiratória; Observar e anotar aceitação da dieta; Monitorar hematócrito e prototrombina; Avaliar nível de consciência; Pesar o paciente em jejum diariamente; Medir e anotar a circunferência abdominal e dos tornozelos e panturrilha (edema) em jejum; Controlar a diurese e restringir os líquidos; Conservar as unhas curtas e limpas; Cuidados especiais com a pele (prurido); Verificar e anotar os SSVV de 6/6 horas. Encorajar períodos alternados de repouso e atividade. Promover repouso. Encorajar e ajudar com períodos cada vez maiores de exercícios. Evitar atividades estressantes. Tentar melhorar sua auto-estima através de elogios e valorização Observar as evacuações: cor, consistência e quantidade. Pesquisar sangue oculto nas fezes; Alertar para sintomas de ansiedade, plenitude epigástrica, fraqueza e inquietação. Administrar vitamina K se prescrito. Administrar diuréticos, potássio e suplementos protéicos, quando prescrito Informar o paciente sobre os agravos da ingestão alcoólica para usa saúde e encorajá-lo a procurar ajuda (alcoólicos anônimos).
Compartilhar