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UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE FFEEDDEERRAALL RRUURRAALL DDOO RRIIOO DDEE JJAANNEEIIRROO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA IC 610 - QUÍMICA ANALÍTICA II EQUILÍBRIO IÔNICO EM SOLUÇÃO AQUOSA (metodologia matemática e representação gráfica para o entendimento de equilíbrio iônico em solução aquosa) Textos de apoio bibliográfico Cristina Maria Barra/Otavio Raymundo Lã/José Geraldo da Rocha Junior 2016 IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 1 OBJETIVOS DA DISCIPLINA Este texto foi elaborado para auxiliar e subsidiar o estudante de Química Analítica com informações específicas acerca do equilíbrio químico envolvendo espécies iônicas/moleculares em soluções aquosas (equilíbrio iônico) utilizando sistematicamente metodologia de cálculos matemáticos e representações gráficas de equilíbrio. Desta forma, pretende-se desenvolver o hábito de resolver os problemas com critério, avaliar criticamente quando utilizar as fórmulas já conhecidas em Química Analítica I e tentar desfazer vícios de reprodução de fórmulas ensaiadas, que nem sempre são aplicáveis nas diferentes situações. Na medida do possível, o estudante será conduzido a compreender as questões conceituais e, metodicamente, desenvolverá uma abordagem sistemática para diferentes situações. As referências bibliográficas citadas foram utilizadas para escrever este texto, e o estudante achará imprescindível recorrer a essas referências bem como a outras, até à internet para realizar seus trabalhos ao longo deste curso. FFUUNNDDAAMMEENNTTOOSS EEMM DDEESSTTAAQQUUEE O equilíbrio iônico em solução aquosa é, normalmente, abordado em quatro classes, quanto à sua natureza: 1) Ácido-base: Transferência de prótons ou elétrons, entre radicais ou elementos químicos, sem variação do número de oxidação. 2) Complexação: Cátion metálico (íon central ou ácido de Lewis – deficiente em elétrons) compartilhando com espécies que possuem um par ou mais pares de elétrons (ligantes ou bases de Lewis) através de ligações coordenadas (orbitais moleculares), ou por atração eletrostática com esses elétrons. 3) Solubilidade: Fase sólida composta de composto insolúvel (eletrólitos e não eletrólitos), em equilíbrio com os íons do composto insolúvel em solução. 4) Oxi-redução: Transferência de elétrons entre radicais ou elementos químicos com variação do número de oxidação. Destas classes, apenas o equilíbrio ácido-base, em toda a sua extensão, pode ser estudado de forma independente das demais classes de equilíbrio. A ionização de ácidos, bases e sais em água e as reações de neutralização constituem os principais aspectos do estudo do equilíbrio ácido-base. Os equilíbrios de complexação, de solubilidade e de oxidação-redução, via de regra, são acompanhados de reações ácido-base. Em equilíbrios de solubilidade, por exemplo, IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 2 raramente pode se aplicar equilíbrio puro de solubilidade, pois os outros equilíbrios sempre estão presentes. Como exemplo, podem ser destacados os sais pouco solúveis que não reagem com água e nem formam complexos, tal como: BaSO4, SrSO4, PbSO4, que são exemplos raros em que o equilíbrio de solubilidade pode ser estudado isoladamente. A solubilidade do AgCl, por exemplo, composto normalmente utilizado como introdução ao estudo da solubilidade, em um cálculo mais exato, é acompanhada de uma fraca formação de cloro-complexos de prata em soluções clorídricas, quando predomina o íon comum Cl-, como vai se poder verificar no estudo do equilíbrio de solubilidade envolvendo formação de complexos. O equilíbrio de oxidação-redução, da mesma forma, na maioria dos casos, também deve ser estudado considerando equilíbrios simultâneos de solubilidade e de formação de íons complexos. Desta forma, o estudo do equilíbrio iônico deverá ser abordado, na medida do possível, como um conjunto de equilíbrios simultâneos no qual serão consideradas as diferentes condições de equilíbrio e as relações entre as concentrações das espécies de acordo com as constantes dos equilíbrios envolvidos. A metodologia mais apropriada para os cálculos de equilíbrio iônico consiste no tratamento matemático que estabelece um sistema de várias equações para igual ou menor número de incógnitas, calculando-se todas as incógnitas que, por sua vez, devem satisfazer simultaneamente todas as equações matemáticas estabelecidas. Outro aspecto fundamental é o efeito eletrolítico (força iônica ou efeito salino) que é verificado quando os sistemas de equilíbrio contêm concentrações iônicas acima de 0,01 mol L-1, em razão das interações interiônicas de natureza eletrostática (forças de dispersão), interações íon-solvente e formação de pares iônicos, que deve ser considerado de modo a tornar os cálculos mais reais, ou seja, aplicáveis na previsão do comportamento experimental. Outro destaque é a representação gráfica do equilíbrio, que é uma ferramenta poderosa para a solução de problemas de equilíbrio. Esses diagramas servem para a análise de predominância das espécies em determinado equilíbrio, em função das reações químicas de acordo com o meio reacional. Serão estudados alguns diagramas simples construídos com base nas relações entre concentrações das diferentes espécies, obtidas através das constantes e relações gerais dos equilíbrios considerados. Cristina Maria Barra/Otavio Raymundo Lã/José Geraldo da Rocha Junior IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 3 AAUULLAA 0011 EEFFEEIITTOO EELLEETTRROOLLÍÍTTIICCOO SSOOBBRREE OO EEQQUUIILLÍÍBBRRIIOO QQUUÍÍMMIICCOO EEMM SSOOLLUUÇÇÃÃOO AAQQUUOOSSAA ((EEQQUUIILLÍÍBBRRIIOO IIÔÔNNIICCOO)) TTEEOORRIIAA CCLLÁÁSSSSIICCAA DDAA DDIISSSSOOCCIIAAÇÇÃÃOO EELLEETTRROOLLÍÍTTIICCAA A água é o solvente universal e mais disponível na Terra; é facilmente purificada e não é tóxica. A importância do estudo das soluções aquosas se deve a fatores, tais como: ocorrência comum de soluções aquosas na natureza e o fato de processos vitais ocorrerem em solução aquosa; e, além disto, a solução aquosa é um meio extremamente conveniente para se conduzir reações químicas de modo controlado. A solução aquosa é uma mistura homogênea quando se dissolve uma substância (soluto) em água (solvente em que se está fazendo a dissolução) e o interesse é a interação dessa substância (íons ou moléculas) com a solução. No caso de se ter uma mistura heterogênea, em que uma determinada substância possa estar parcialmente dissolvida na água, o interesse ainda é a interação dessa substância (íons ou moléculas) com a solução. Em meados do século XIX foram iniciados os primeiros estudos envolvendo propriedades coligativas (eletrólito e não eletrólito) e a condutividade elétrica (eletrólito forte ou fraco) em solução aquosa. Essas medidas das propriedades coligativas (coletivas) (diminuição da pressão de vapor e da temperatura de fusão, aumento da temperatura de ebulição e pressão osmótica quando um soluto é adicionado à solução aquosa) e da condutividade elétrica das soluções contendo eletrólitos formaram a base da Teoria Clássica da Dissociação Eletrolítica. PROPRIEDADES COLIGATIVAS DAS SOLUÇÕES MOLECULARES E IÔNICAS Propriedades coligativas das soluções são propriedades físicas que se somam pela presença de um ou mais solutos e dependem única e exclusivamente do número de partículas (número de moléculas ou íons) que estão dispersas na solução,não dependendo da natureza do soluto. Isso significa dizer que é a quantidade de partículas que estão na solução é que irá influenciar na variação das propriedades coligativas, e não a natureza (como tamanho, estrutura molecular ou massa). Na Tabela 1 estão listados como se comportam alguns solutos em meio aquoso, em função do número de partículas em solução. IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 4 Tabela 1 – Comportamento em solução de alguns solutos em meio aquoso. Soluto Tipo Equação química em solução aquosa Número de partículas dissociadas por mol soluto I2(s) não-eletrólito I2(s) I2(aq) 1 C6H12O6(s) não-eletrólito C6H12O6(s) C6H12O6(aq) 1 C12H22O11(s) não-eletrólito C12H22O11(s) C12H22O11(aq) 1 HCl(g) eletrólito HCl(g) HCl(aq) H + (aq) + Cl - (aq) 2 (1H + e 1 Cl - ) LiBr(s) eletrólito LiBr(s) Li + (aq) + Br - (aq) 2 (1Li + e 1 Br - ) K2SO4(s) eletrólito K2SO4(s) 2K + (aq) + SO4 = (aq) 3 (2K + e 1 SO4 = ) LaBr3(s) eletrólito LaBr3(s) La 3+ (aq) + 3Br - (aq) 4 (1La 3+ e 3Br-) Masterson e al., Princípios de Química, 1990. A Tabela 2 mostra algumas propriedades coligativas da água pura (1,0 L1000g) e a da solução resultante quando é adicionado 1,0 mol (180 g) de glicose (não eletrólito) à água. Como a glicose é um não-eletrólito, o número de partículas de glicose aquosa será 1,0 mol de partículas na solução. No caso do NaCl será o dobro, ou seja, 2 mols de partículas na solução. Tabela 2 – Pressão de vapor, temperatura de ebulição e temperatura da água pura e da solução aquosa contendo um mol de não-eletrólito. Propriedade coligativa Água pura (1,0L ou 1 kg) Concentração de não eletrólito (180 g glicose) Na solução (1,0L ou 1 kg) Variação (constante) pvapor 23,76 cm Hg 1 mol L -1 23,42 cm Hg -0,34 Tebulição 100 oC 1 mol kg-1 100,52oC +0,52 Tfusão 0 oC 1 mol kg-1 -1,86oC -1,86 Obs: molal=mol de soluto x kg-1 de solvente; molar=mol de soluto x L-1 solução. Algumas observações podem ser feitas: 1) Se em vez de 1 mol de glicose for adicionado 1 mol (32g) de metanol (MM=32g/mol). Se a concentração molal ou molar é a mesma, a variação na propriedade coligativa será a mesma. IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 5 2) Repetindo a mesma experiência com soluções iônicas, tal como cloreto de sódio e cloreto de magnésio, todas de mesma concentração 1 molar ou 1 molal, o que se observa experimentalmente é que a variação nas propriedades coligativas nessas soluções é aproximadamente 2 e 3 vezes maior, respectivamente, que na solução de glicose. A variação nas propriedades coligativas será proporcional ao número de partículas. Assim, para soluções iônicas tem que embutir a fração de partículas que estão dissociadas/ionizadas, quando a dissociação não é completa (grau de ionização/dissociação), nesse caso, a fator de correção de Van’t Hoff, i, no cálculo das propriedades coligativas. Por exemplo, no cálculo de variação da temperatura de ebulição da água tem-se: Tebulição=imKebulição Onde: m - concentração molal (mol kg-1) Kebulição – constante ebulioscópica (para água pura Keb=0,51°C kg mol -1) i – fator de Van’t Hoff O Fator de Van’t Hoff (i) é utilizado para calcular e analisar os efeitos coligativos em soluções iônicas. É definido como “a relação feita entre o número total de partículas finais em relação ao número de partículas iniciais nas soluções iônicas”. Pode ser expresso matematicamente pela fórmula: i =1+(q–1), onde: é o grau de ionização e q é número de íons liberados na ionização. Em soluções moleculares, a quantidade de moléculas dissolvidas é a mesma de moléculas adicionadas. Por exemplo, se adicionarmos 1 mol de sacarose (C12H22O11) na água, será dissolvidas 1 mol de moléculas de sacarose aquosa exatamente. Em soluções iônicas, no entanto, este valor varia, pois os eletrólitos sofrem dissociação iônica (ou ionização). Um exemplo é uma solução de cloreto de sódio (NaCl – sal de cozinha). Se for adicionado 1 mol de NaCl na água, tem-se no final 1 mol de partículas de Na+ e 1 mol de partículas de Cl-, conforme mostra a equação de ionização do sal abaixo: NaCl→Na+(aq)+Cl - (aq) 1 mol→1mol+1mol } 2 mols i=número total de partículas finais/número total de partículas iniciais=2/1=2 IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 6 Este número de partículas finais pode também triplicar, e assim por diante, dependendo do sal utilizado. Assim, a relação feita entre o número total de partículas finais em relação às iniciais nas soluções iônicas é o fator de Van’t Hoff (i): i=número total de partículas finais/número total de partículas iniciais. ou i=1+(q-1)=1+1(2-1)=2 (onde q é número de íons liberados na ionização). Exemplos: 1) Variação de temperatura de ebulição da água quando se adiciona 180 g glicose em 1000 g de água pura. Dada MM (glicose)=180g/mol. - Número de mol glicose=180g/180g/mol=1mol em 1000g água (solução 1molal) Tebulição=imKebulição=1x1x0,51=0,51 oC i= no total de partículas finais/ no total de partículas iniciais=1/1=1 i=1+(q-1)=1+0(0-1)=1 (não há íons) 2) Variação de temperatura de ebulição da água quando se adiciona 58,5 g NaCl em 1000 g de água pura. Dada MM (NaCl)=58,5g/mol. Tebulição=imKebulição=2x1x0,51=1,02 oC i= no total de partículas finais/ no total de partículas iniciais=2/1=2 i=1+(q-1)=1+1(2-1)=2 3) Variação de temperatura de ebulição da água quando se adiciona 36,5 g HCl em1000 g de água pura, sendo que o HCl está 95% ionizado. Tebulição=imKebulição=1,95x1x0,51=0,9945 oC i= no total de partículas finais/ no total de partículas iniciais=0,95+0,95+0,05/1=1,95 i=1+(q-1)=1+0,95(2-1)=1,95 Assim, se o grau de ionização for de 100% (α=1), o fator de Van’t Hoff será igual ao número de íons gerados. Entretanto, se o grau de dissociação for menor que 100% (ou α<1), deve- se fazer o cálculo para descobrir o valor de i. Vejamos o caso a seguir, de uma solução de HCl: HCl→H+(aq)+Cl - (aq) (95% ionizado) Início: 1 mol→zero+zero Ionização:95%x1/100=0,95mol se ionizam→0,95íonsH++0,95 íons Cl- Final: 1-0,95=0,05molHCl→0,9 5íonsH++0,95íonsCl- Desse modo, o cálculo do fator de Van’t Hoff é dado por: i = 0,95+0,95+0,05=1,95 1 IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 7 O raciocínio utilizado anteriormente pode ser expresso matematicamente pela fórmula: i=1+(q-1)=1+0,95(2-1)=1,95 Daí, poder se afirmar que número igual de partículas dissolvidas em quantidades iguais de solução, apresentará a mesma variação (aumento) na pressão osmótica, a mesma variação (diminuição) na pressão de vapor, a mesma variação (diminuição) do ponto de congelamento e a mesmo variação (aumento) na temperatura de ebulição. Isto implica que as variações nas propriedades coligativas das soluções DEPENDEM EXCLUSIVAMENTE DO NÚMERO DE PARTÍCULAS PRESENTES EM SOLUÇÃO, INDEPENDENTEMENTE DA NATUREZA DESSA PARTÍCULA. CLASSIFICAÇÃO DE SOLUÇÕES E DE ELETRÓLITOS As soluções aquosas são classificadas em soluções moleculares ou iônicas dependendo do tipo de soluto dissolvido. A dissolução de sacarose em água dá origem à presença de moléculas de sacarose na solução aquosa, e essa solução é denominada solução molecular. A substância ou soluto presente na solução é denominado de não- eletrólito porque não é capaz de conduzir corrente elétrica. A dissolução de cloreto de sódio em água tema capacidade de conduzir a corrente elétrica, denunciando a presença de partículas transportadoras de cargas, ou seja, íons. Tais soluções são denominadas soluções iônicas e as substâncias, ou solutos, que as constituem, são denominados eletrólitos. A definição clássica para não-eletrólitos e eletrólitos: Não-eletrólitos: são substâncias moleculares (sólidas ou líquidas) que quando dissolvidas em solução aquosa formam moléculas; não conduzem eletricidade porque como não possuem carga (não podem migrar em um campo elétrico). Exemplo: metanol e sacarose em solução aquosa. CH3OH(líq)+águaCH3OH(aq) C12H22O11(s)+águaC12H22O11(aq) Eletrólitos: são substâncias moleculares ou iônicas, que em solução aquosa podem formar íons positivos e negativos; conduzem corrente elétrica porque por serem carregados positivamente e negativamente podem migrar em um campo elétrico. Exemplo: NaCl(s)+águaNa + (aq)+Cl - (aq) IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 8 Li2CO3(s)+água2Li + (aq)+CO3 2- (aq) Ce2(SO4)3(s)+água2Ce 3+ (aq)+2SO4 2- (aq) HCl(líq)+H2OH3O + (aq)+Cl - (aq) HAc(líq)+H2OH3O + (aq)+Ac - (aq) Observação: O HCl (composto molecular) se comporta como um eletrólito forte porque seus íons (hidrônio e cloreto) formam dipolos (cloro muito mais eletronegativo que hidrogênio) com momento dipolar () diferente de zero, e ao reagir com a água esses dipolos (íons) podem migrar em um campo elétrico, conduzindo corrente elétrica. O HAc (composto molecular) forma poucos dipolos, ou seja, se comporta como um eletrólito fraco pois ioniza pouco em solução aquosa, então conduz mal a corrente elétrica por ter poucos íons em solução. A condução de eletricidade em solução eletrolítica envolve a migração de íons, sejam íons positivos ou negativos, guiados por um campo elétrico, em direção ao eletrodo de sinal contrário. Soluções eletrolíticas que são boas condutoras indicam um elevado grau de dissociação/ionização da substância (sólido iônico ou molécula) na solução aquosa, e essas substâncias são denominadas de eletrólitos fortes. Por outro lado, soluções eletrolíticas pouco condutoras indicam um baixo grau de dissociação/ionização da substância (sólido iônico ou molécula) na solução aquosa e por isso essas substâncias são denominadas de eletrólitos fracos. As soluções iônicas estão divididas em duas classes – eletrólitos fortes e fracos – como pode ser observado na Tabela 3. Tabela 3 – Classificação de eletrólitos. FORTES Fracos 1. ácidos inorgânicos:*H2SO4, HNO3, HCl, HClO4, HI, HBr, HClO3, HBrO3 2.Hidróxidos alcalinos e alcalinos terrosos. 3. A maioria dos sais. 1. Muitos ácidos inorgânicos, incluindo HF, H2CO3, H3BO3, H3PO4, H2S, H2SO3. 2. A maioria dos ácidos orgânicos. 3. amônia e a maioria das bases orgânicas. 4. Haletos, cianetos e tiocianatos de Hg, Zn e Cd. *H2SO4 é completamente ioniziado para formar os íons HSO4 - e H3O + e, por essa razão, é considerado um eletrólito forte. Deve-se observar, entretanto, que íon HSO4 - é um eletrólito fraco, sendo apenas parcialmente ionizado para formar SO4 = e H3O +. SKOOG, Fundamentos de Química Analítica, 2004. Destacando os eletrólitos da Tabela 3: IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 9 - Sais como KCl, NaCl, KNO3 e CH3COONa; ácidos fortes tais como HCl e HNO3; e bases fortes tais como KOH e NaOH estão dentro da classe de Eletrólitos Fortes – solutos que se dissociam/ionizam completamente em solução aquosa e que essas soluções conduzem eletricidade. - Os ácidos HF e CH3COOH estão dentro da classe de Eletrólitos fracos – solutos que se ionizam parcialmente em solução aquosa e essas soluções não conduzem tão bem eletricidade. De 1865 a 1910 Kohlrausch, Ostwald e Arrhenius utilizaram a medida de condutividade na determinação do produto iônico da água, das constantes de ionização de ácidos e bases fracos e do produto de solubilidade de sais. Muitas dessas medidas foram surpreendentemente acuradas, e têm sido verificadas que estão corretas por estudos modernos que utilizam as técnicas mais sofisticadas. Observando com mais detalhes a condutividade de soluções de eletrólitos: CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DAS SOLUÇÕES CONTENDO ELETRÓLITOS. É fundamental, para a teoria dos eletrólitos, verificar a influência da variação da condutância de certa massa de eletrólito com a diluição. A condutância específica de uma solução contendo eletrólitos depende da quantidade de íons presentes, e, portanto, varia com a concentração. Quando se dilui a solução de um eletrólito, a condutância específica diminui, pois há menos íons por mL de solução para conduzir a corrente. A condutância específica, k, medida obtida utilizando um condutivímetro, é o inverso resistência (R) do condutor quando se tem uma solução de eletrólito imersa em uma célula eletrolítica contendo dois eletrodos de área A (1cm2), separados por uma distância l (1cm). K é diretamente proporcional ao comprimento, l, do condutor (em cm) e inversamente proporcional à área (A) dada em cm2, AxR l K Onde: K – condutância específica (ohm-1.cm-1 ou S cm-1, onde: S=Siemens) R – resistência (ohm); l - comprimento (cm); A – área (cm2) Quando A=1cm2 e l =1cm, tem-se que: K=1/R IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 10 A condutância específica da solução de um eletrólito é função da concentração deste eletrólito. Para um eletrólito forte, a condutância específica aumenta marcadamente com ou aumento da concentração. Nas soluções mais diluídas, K aumenta quase linearmente com o aumento da concentração, conforme ilustram os dados a seguir referentes a soluções de cloreto de potássio a 25°C: C (mol/L) 0,0001 0,0010 0,010 0,10 1,0000 K (S cm-1) 0,000015 0,0015 0,001413 0,01289 0,1119 Em contrapartida, as condutâncias específicas dos eletrólitos fracos aumentam, muito gradualmente, com o aumento da concentração. Em ambos os casos, o aumento da condutância é devido ao aumento do número de íons por unidade de volume da solução. Com os eletrólitos fortes, o número de íons por unidade de volume aumenta na proporção da concentração; nas soluções mais concentradas, a não-linearidade no aumento de K com a concentração é devida às interações iônicas. A variação gradual de K nas soluções de eletrólitos fracos se relaciona com a ionização parcial do soluto e a diminuição do grau de ionização com o aumento da concentração. Para facilitar a comparação das condutâncias de soluções de diferentes eletrólitos, foi introduzido o conceito de condutância equivalente, , que representa a capacidade de condução de todos os íons produzidos por um equivalente-grama (1 Faraday) do eletrólito em uma determinada solução de concentração concentração e condutância conhecidas. Condutância equivalente (): é a capacidade que 1 Eqg de eletrólito tem de transportar corrente elétrica em uma célula entre dois eletrodos de área S (1 cm2) e distância l (1 cm), ou seja, é a condutância exercida por um equivalente-grama do eletrólito/cm3 de solução eletrolítica. A condutância específica, K, se correlaciona com a condutância equivalente pela equação: C Kx1000 Onde: C- Concentração do eletrólito (Eq/L); - Condutância equivalente (ohm-1cm2eq-1 ou Scm2eq-1); K – Condutância específica (ohm-1cm-1= S/cm). Observação 1: O fator 1000 é para transformar Litro (dm3) em cm3 (mL). Observação 2: quando C for expresso em mol/L, se aestequiometria for diferente de 1:1, tem-se que introduzir a razão estequiométrica no cálculo de K porque a massa molar será diferente do equivalente-grama. IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 11 Observação 3: S (Siemens) = ohm-1. A condutância equivalente de um eletrólito aumenta à medida que diminui a concentração da solução. Os dados a seguir referem-se a soluções de cloreto de sódio, um eletrólito forte: C (mol/L) 0,1 0,01 0,001 diluição infinita (Scm2eq-1) 106,7 118,5 123,7 126,6 As condutâncias equivalentes de um eletrólito tendem para um valor limite em soluções muito diluídas, sendo a condutância equivalente em diluição infinita representada por o. A variação da condutância equivalente com a concentração depende, em grande extensão, do tipo do eletrólito. A Figura 1 representa as condutâncias equivalentes de soluções de cloreto de potássio, ácido clorídrico e de ácido acético em função da raiz quadrada da concentração. No caso do cloreto de potássio e do ácido clorídrico, eletrólitos fortes típicos, a relação é linear; a extrapolação da linha reta à concentração zero dá a condutância equivalente em diluição infinita. Figura 1 – Variação da condutância equivalente com a concentração para um eletrólito fraco (HAc) e dois eletrólitos fortes univalentes (KCl e HCl) e um eletrólito forte bivalente. O ácido acético, um eletrólito fraco típico, tem um comportamento diferente; a condutância equivalente é baixa para concentrações até cerca de C1/2=0,05 então, aumenta muito IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 12 rapidamente quando se tende à diluição infinita. A condutância de uma solução de um eletrólito depende do número de íons e da velocidade dos íons. O aumento da condutância equivalente dos eletrólitos fracos com a diluição é determinado, essencialmente, pelo aumento do grau de ionização. Já o aumento da condutância equivalente dos eletrólitos fortes com a diluição deve-se a um aumento da velocidade dos íons. Em solução diluída, os íons se acham relativamente muito afastados uns dos outros e as influências recíprocas são diminutas; porém, com o aumento da concentração, aumentam as atrações interiônicas e, conseqüentemente, diminuem as velocidades dos íons. Observação: Em soluções muito diluídas (concentração em torno de 0,0001 Eq/L) fica inviável medir a condutância dos eletrólitos, pois a condutância da água começa a ter uma influência considerável. Como para eletrólitos +1/-1 Kohlrausch demonstrou que a condutância equivalente é uma função linear da C, a condutância equivalente à diluição infinita pode ser obtida por extrapolação da reta e tabelar cada valor de condutância equivalente. No caso de eletrólitos fracos à diluição infinita fica inviável essa extrapolação pois a condutância equivalente aumenta não linearmente. Exemplo: Em solução muito diluída não se pode medir a condutância de soluções eletrolíticas, mas se o eletrólito for forte, conhecendo o seu comportamento (Figura 1) pode- se por exemplo, estimar a condutância equivalente à diluição infinita. Da Figura 1, tem-se o(KCl)=130,1Scm 2eq-1 o(HCl)=379,4 Scm 2eq-1 Para os eletrólitos fracos, não se pode empregar o método de extrapolação, mas pode-se calcular através da condutância equivalente à diluição infinita dos eletrólitos fortes que tenham íons comuns com esses eletrólitos fracos, de acordo com a Lei de migração independente dos íons observada por Kohlrausch. Kohlrausch, após prolongados e cuidadosos estudos de condutância de soluções de sais a baixa concentrações, verificou que quanto mais diluída a solução eletrolítica mais móveis estão os íons e maior a condutância equivalente, e que a diferença de condutividade equivalente entre pares de sais que contém sempre os mesmos dois cátions, associados com ânions diferentes de mesma carga, é constante e independente da natureza do ânion (e viceversa), dando origem à LEI DA MIGRAÇÃO INDEPENDENTE DOS ÍONS. Exemplo: IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 13 o(KCl)-o(NaCl)=130,1-109,0=21,1 Scm 2eq-1 o(KNO3)-o(NaNO3)=126,3-105,3=21,0 Scm 2eq-1 Desses resultados Kohlrausch concluiu que a condutividade equivalente do eletrólito é o somatório das condutâncias equivalentes dos íons componentes do eletrólito. Matematicamente isto pode ser expresso como: o= o ++o -, onde: o + e o - são as condutâncias equivalentes à diluição infinita do cátion e do ânion, respectivamente. Tomando como exemplo o KCl, o(KCl)=130,2 Scm 2eq-1, que é a soma das contribuições independentes de K+ e Cl-. Sabendo que a diferença de o de um eletrólito é independente do contra-íon associado pode-se então, através da combinação da condutância equivalente à diluição infinita de uma série de eletrólitos, estimar a condutância de diferentes eletrólitos pela combinação das o de outros três eletrólitos conhecidos. Exemplo: Calcular a o(NaNO3) sabendo-se que: o(NaCl)=109,0 Scm 2eq-1, o(KNO3)=126,5 Scm 2eq-1 e o(KCl)=130,2 Scm 2eq-1. Combinando-se os três eletrólitos para dar NaNO3, assumindo-se que os sais consistem de íons que migram independentemente, tem-se: o(NaCl)+ o(KNO3)- o(KCl)= o(NaNO3) o(Na +) + o(Cl -)+o(K +) + o(NO3 -)-o(K +) - o(Cl -)=o(Na +) + o(NO3 -)=o(NaNO3) o(NaNO3)=109,0+126,5–130,2=105,3 Scm 2eq-1 Observação: De forma geral, utiliza-se o para identificar as condutâncias equivalentes de íons (iônica) à diluição infinita. Para resolver exercícios de condutância pode-se lançar mão de tabelas contendo essas condutâncias equivalentes. Observar que para íons diferentes de +1/-1 devem ser feitas correções se as condutâncias iônicas à diluição infinita forem expressas em mol/L (condutâncias molares à diluição infinita). Exemplo: 1/2o(Mg 2+)+o(NO3 -)=o(Mg(NO3)2) quando expresso em mol/L o(Mg 2+)+o(NO3 -)=o(Mg(NO3)2) quando expresso em eq/L A condutância equivalente do eletrólito fraco, CH3COOH, não pode ser estimida por extrapolação, pois com a diluição a condutância equivalente aumenta muito (não é mais linear). Esta observação experimental indicou para Arrhenius que, com a diluição as IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 14 moléculas de ácido acético se ionizam mais em íons acetato e prótons, e esta ionização era governada pela constante de equilíbrio. Nesse caso não se pode fazer a extrapolação à diluição infinita, pois o resultado é incerto. Assim, utilizando-se a Lei da migração independente dos íons e conhecendo a condutividade equivalente a diluição infimita de uma série conveniente de eletrólitos pode-se estimar mais convenientemente a condutância equivalente do HAc. Assim: Exemplo: Sabendo-se que as condutâncias equivalentes dos eletrólitos listados abaixo são: NaAc (o=87,4 Scm 2eq-1), HCl (o=379,4 Scm 2eq-1) e NaCl (o=109,0 Scm 2eq-1); a partir da combinação das condutividades dos três eletrólitos para dar HAc, assumindo-se que os sais consistem de íons que migram independentemente, tem-se: o(NaAc)+o(HCl)-o(NaCl)=o(HAc) o(Na +)+o(Ac -)+o(H +)+o(Cl -)-o(Na +)-o(Cl -)=-o(H +)+o(Ac -)=o(HAc) o(HAc)=87,4+379,4–109,0=357,8 Scm 2eq-1 TEORIA CLÁSSICA DA DISSOCIAÇÃO ELETROLÍTICA – ARRHENIUS. ARRHENIUS (1887) propôs a sua célebre “Teoria da dissociação eletrolítica”, que se fundamenta nos seguintes pontos: a) Os eletrólitos são substâncias que em solução aquosase dissociam espontaneamente em partículas carregadas eletricamente denominadas “íons”, de maneira que a carga total dos íons positivos é igual à carga total dos íons negativos. A presença de íons é que justifica a capacidade dessas soluções de conduzir a corrente elétrica. b) Os íons atuam independentemente uns dos outros e também das espécies químicas não ionizadas/dissociadas e constituem partículas distintas com propriedades físicas e químicas características. c) Um eletrólito em solução não necessita obrigatoriamente estar totalmente ionizado/dissociado; ele pode estar parcialmente ionizado/dissociado, estando os íons em equilíbrio com as espécies químicas não dissociadas/ionizadas. d) A dissociação/ionização de um eletrólito fraco é um processo reversível, isto é, os íons libertados se unem novamente para formar a espécie química do composto correspondente, estabelecendo um equilíbrio entre as espécies químicas não dissociadas/ionizadas e os íons. Esse equilíbrio se desloca ao se diluir a solução, no sentido de aumentar a proporção IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 15 de íons. Somente em soluções infinitamente diluídas é que o eletrólito fraco estará completamente dissociado/ionizado. Desse conceito de dissociação/ionização parcial surgiu o fator “grau de dissociação/ionização - ” que é a fração de uma espécie química em relação a concentração inicial (C). E de acordo com o grau de dissociação/ionização, os eletrólitos se classificam em fortes quando apresentam valores altos para e fracos quando apresentam valores baixos para . O grau de dissociação/ionização, , é igual à fração das moléculas que estão efetivamente dissociadas/ionizadas (íons). =concentração molar de espécies dissociadas (íons) /concentração molar total do composto na solução. O valor de pode variar de 0 a 1. Assim, grau de dissociação é próximo de 100% ( =1,0) para eletrólitos fortes, e até 10% (=0,1) para eletrólitos fracos. O grau de ionização/dissociação é variável com a concentração de eletrólito, ainda mais se ele for fraco. Lei da diluição de Ostwald Assim, Ostwald utilizou a Lei da migração independente dos íons de Kahlrousch para estimar a condutância equivalente à diluição infinita de uma série de compostos. Por exemplo, para um ácido fraco, ele partiu da premissa que em diluição infinita o eletrólito fraco está totalmente ionizado; e assim, ele pode estimar o grau de ionização desse ácido HA em função da razão da condutância equivalente em uma determinada concentração e a condutância equivalente à diluição infinita (quando este HA está completamente ionizado). Ostwald =/o Associando o grau de ionização/dissociação em função das condutâncias equivalentes com o grau de dissociação/ionização do ácido () de Arrhenius em função da concentração pode-se por meio de medidas de condutividade calcular a constante de equilíbrio desse ácido fraco. Arrhenius =[Ac-]/C Assim, para o HAc, por exemplo, conhecendo a concentração do ácido C e a medida da condutância equivalente , pode-se obter facilmente a constante de equilíbrio do HAc. Sabendo que: C=[HAc]+[Ac-], e que [Ac-]=C, e que =/o, E a solução aquosa de ácido acético dissocia-se um H3O + para íon Ac-: IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 16 [H3O +]=[Ac-]=C A concentração do ácido não dissociado é obtida pela diferença: [HAc]=C–[Ac-]=C–C=(1–)C Os valores obtidos experimentalmente obedecem à relação de equilíbrio: Ka=[H3O +]x[Ac-]/[HAc]=2C/(1–) Considerando que =/o (Ostwald) tem-se que: Ka= 2C/o 2(1–/o) Ka= 2C/o(o–) Assim, medindo a condutividade elétrica de uma solução de HAc em determinada concentração e tendo o valor da condutância à diluição infinita, tem-se o grau de ionização de ácido acético, e colocando-se na constante de ionização tem-se Ka. Por exemplo, calcular a constante de ionização do HAc 0,1 mol/L sabendo-se que a medida de condutividade específica dessa solução foi K=0,000476S/cm e que o(HAc)=357,8 Scm2/eq. A partir de K acha-se , que é =1000x0,000476/0,1=4,76 Scm2/eq Após acha-se α=4,76/357,8=0,0133 [Ac-]=[H+]=0,1x0,0133=0,00133mol/L [HAc]=0,1-0,00133=0,0987mol/L Colocando esses valores em K=(0,00133)2/0,0987=1,79x10-5 Assim, sintetizando, tem-se a: PELA TEORIA CLÁSSICA, EXISTEM DOIS GRUPOS COM COMPORTAMENTOS DIFERENTES: - O primeiro grupo (eletrólitos fortes): formado pelos ácidos fortes, bases fortes e sais (incluindo os derivados de ácidos e bases fracos). Estes se dissociam quase que completamente, e quando em soluções de concentração relativamente baixa (abaixo de 0,01 mol L-1) produzem apenas pequenas variações nos graus de dissociação/ionização. - O segundo grupo (eletrólitos fracos): ácidos e bases fracos, somente começa a dissociar/ionizar em concentrações muito baixas, e, nesta faixa de concentração, apresentam uma variação considerável em seu grau de dissociação. Uma crítica à teoria de Arrhenius é que para eletrólitos fracos sua teoria se adapta muito bem, porém quando se tratava de eletrólitos fortes, a mesma teoria não se aplica, pois com a descoberta do raio-X ficou evidenciado que os eletrólitos fortes já estão 100% na forma de IC 610 - 2016 - Textos de Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 17 íons no estado sólido, e quando se dissociam em solução aquosa apenas o fazem por um mecanismo de solvatação e não de ionização como previra Arrhenius. Assim, A teoria de Arrhenius acabou sofrendo algumas alterações com relação aos eletrólitos fortes em razão da descoberta do estado cristalino, com o advento dos raios-X, mas até hoje é perfeitamente aplicável para eletrólitos fracos. A teoria, como desenvolvida por Arrhenius, pode ser aplicada sem grandes desvios no que concerne aos eletrólitos fracos, mas à medida que novas evidências surgiram, principalmente a respeito da estrutura da matéria no estado sólido, essa teoria se tornou cada vez menos adequada para os eletrólitos fortes. Tornou-se claro que as substâncias classificadas como eletrólitos fortes são constituídas por íons no estado sólido (cristalino). Em um cristal de NaCl, por exemplo, não existe moléculas de NaCl (estas moléculas só existem no cloreto de sódio em estado vapor). Como os íons já estão presentes em estado sólido é incorreto sugerir que na dissolução ocorre a ionização de moléculas em íons. A dissolução de um cristal iônico em água é um processo físico. Dissociação Nesse caso, em que já existiam íons e apenas os separamos, chamamos o processo de dissociação iônica, pois tudo o que fizemos, repito, foi separar íons pré-existentes. É o que acontece com os sais e as bases. NaCl(s) + água Na + (aq)+Cl - (aq) CaCO3(s) + água Ca 2+ (aq)+CO3 2- (aq) LiOH + água Li+(aq)+ -OH (aq) Al(OH)3+ água Al 3+ (aq)+3 -OH(aq) Importante: Compostos iônicos sofrem dissociação quando em solução e quando fundidos. Ionização Alguns compostos moleculares, como os ácidos, quando colocados em um solvente são "atacados" por esse solvente e acabam formando íons. Perceba claramente que não existiam íons na solução original. Quando ela foi colocada na presença do solvente, este conseguiu por força magnética, "arrancar" um ou mais de seus átomos, mas nesse processo, o átomo arrancado acaba tendo que deixar um elétron para trás, tornando-se um íon. Nesses casos, dizemos que houve uma ionização, pois uma molécula que não possuía originalmente íons passa a tê-los (livres no solvente). É o que acontece com os ácidos. IC 610 - 2016 - Textosde Apoio Bibliográfico UFRRJ – Prof. Cristina Maria Barra 18 HCl+H2OH3O ++Cl- H2SO4+H2OH3O ++HSO4 - HSO4 -+H2OH3O ++SO4 2- H3CCOOH+H2O H3O ++H3CCOO - Importante: Substâncias moleculares que sofrem ionização só o fazem quando em solução. O processo não ocorre quando essas substâncias estão fundidas. O que você deve lembrar Sais e bases: por serem compostos iônicos, sofrem dissociação quando em solução ou fundidos. Ácidos: por serem compostos moleculares, sofrem ionização quando em solução. A dissociação/ionização é de grande importância para o favorecimento da ocorrência de reações. É muito mais fácil promover reações com íons livres do que com moléculas agrupadas. Talvez seja por isso que, na sábia natureza, a esmagadora maioria das reações químicas - inclusive no corpo humano - aconteça em solução. Além disso, íons livres permitem a passagem de corrente elétrica, o que, em casos como neurotransmissores é absolutamente fundamental.
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