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Livro Ética Aristóteles Filsofia do Direito

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Faculdade Mineira de Direito 
Filosofia do Direito 
Prof. Luiz A. L. de Ávila 
Livro V – Ética a Nicômaco 
(Aristóteles) 
 
Pressupostos Gerais: Ponto de partida, base geral. 
 
 
 
Justiça/ 
Injustiça 
Ação 
 
Meio-Termo 
 
Entre que 
extremos 
 
 
Disposição de caráter 
[Agir e desejar fazer o 
justo/injusto] 
 
 
 
(≠) 
 
 
Ciência e Faculdade 
[uma e a mesma coisa] 
 
 
 
 
Não são Verdadeira 
 
Não são Verdadeira 
 
 
 
 
Um entre dois contrários 
[Não produz resultados 
opostos] 
 
 
P Não P 
V F 
F V 
 
Se relaciona com objetos 
contrários 
[Produz resultados opostos] 
 
 
P Não P 
V F 
 
 
 
Exemplo: Saúde Contrário Negação da Saúde 
 [V] [F] 
 
Em razão da saúde, não fazemos o que é contrário à saúde. [um de dois contrários] 
Um homem caminha de modo saudável, quando caminha como o faria um homem que 
gozasse de saúde. [Meio-Termo] 
Esse “fazer” ou esse “caminhar” é o meio-termo entre que extremo? 
 
 
Pressupostos Específicos: Determinação do gênero “Ação” entre dois 
contrários. 
 
 Um estado é reconhecido pelo seu contrário; 
 Os estados são reconhecidos pelos sujeitos que o manifestam. 
 
porque, 
 
 Quando reconhecemos a boa condição, a má condição também se nos mostra 
conhecida; 
 A boa condição é conhecida pelas coisas que se acham em boa condição, e as 
segundas pelas primeiras. 
 
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Exemplo: 
 
 
Boa Condição Negação da Boa Condição 
[ou Má Condição] 
 Rijeza de Carnes Negação da Rijeza de Carnes 
[ou Flacidez de carnes] 
 
 Saudável 
 
Não Saudável 
Se um dos contrários for 
ambíguo o outro também o 
será: Se o justo é, também 
será o injusto. 
 
 
Justo e Injusto 
 
Justo e Injusto 
 Ambíguos Ambíguos 
 
Quando escapa à atenção: os significados diferentes se aproximam. 
Não é evidente: quando os significados se afastam muito. 
Ambiguidade ou polissemia: Manga de camisa ou Manga fruta. 
 
 
Os vários significados de homem justo e injusto. 
 
A) O homem sem Lei, ganancioso (lucrativo, avido de ganho) e improbo (negação de 
íntegro, honrado, justo, reto, honesto e virtuoso) → Injusto 
B) O homem respeitador da Lei, probo [e pródigo] → Justo 
 
 
Deve ter algo que ver com bens (bom; lícito, recomendável) [que dizem respeito a 
prosperidade e a adversidade] absolutos e bons, mas nem sempre o são para uma pessoa 
determinada. 
 
A) Almejam [desejo] tais coisas (bens) e as 
buscam [ação] diligentemente (pressa, 
aplicação, zelo, acuidade) 
B) Não almejar [desejo] tais coisas (bens) e 
não as buscam [ação] diligentemente (pressa, 
aplicação, zelo, acuidade) 
 
E isso é o contrário do que deveria ser. 
 
E isso é o contrário do que não deveria ser. 
 
O homem injusto não escolhe o maior, nem 
o menor – no caso das coisas que são más 
em absoluto. 
 
Bem (Bom) contrário Mal (Mau) 
 Meio-Termo 
 Menor Maior 
 (Extremo) (Extremo) 
 
 
O homem justo não escolhe o maior, nem o 
menor – no caso das coisas que são boas em 
absoluto. 
 
 Bem (Bom) contrário Mal (Mau) 
 Meio-Termo 
 Maior Menor 
(Extremo) (Extremo) 
 
 
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Filosofia do Direito 
Prof. Luiz A. L. de Ávila 
Como o mal menor é, em certo sentido, 
considerado bom, e a ganância se dirige para 
o bom, pensamos que esse homem é 
ganancioso. 
 
Como o bom menor é, em certo sentido, 
considerado mal, e a ganância se dirige para 
o mal, pensamos que esse homem é 
ganancioso. 
 
 
É igualmente iniquo (inequitativo, contrário a 
equidade, injusto, que tem mau caráter ou revela 
crueldade), pois essa caraterística contém ambas as 
outras e é comum a elas. 
 
 
Justo / Injusto 
 
Ambiguidade 
 
Justo / Injusto 
 
 
 
 
 
“Palavras certas, e muito para admirar. Em face disso, tenho em grande apreço a posse das 
riquezas, não para todo homem, mas para aquele que é comedido e prudente. Não ludibriar 
ninguém nem mentir, mesmo involuntariamente, nem ficar a dever, sejam sacrifícios aos 
deuses, seja dinheiro a um homem, e depois partir para o além sem temer nada – para isso a 
posse das riquezas contribui em alto grau. Tem ainda muitas outras vantagens. Mas, acima 
de tudo, ó Sócrates, é em atenção a este fim que eu teria riqueza na conta de coisa muito útil 
para o homem sensato.” (Platão. A República. Livro I. 331a/b. P. 08-09) Grifos nosso. 
“Falas maravilhosamente, ó Céfalo – disse eu –. Mas essa mesma qualidade da justiça, 
diremos assim simplesmente que ela consiste na verdade e em restituir aquilo que se tomou, 
ou diremos antes que essas mesmas coisas, umas vezes é justo, outras injusto fazê-las? 
Como este exemplo: se alguém recebesse armas de um amigo em perfeito juízo, e este, 
tomado de loucura, lhas reclamasse, toda gente diria que não se lhe deviam entregar, e que 
não seria justo restituí-lhas, nem tão-pouco consentir em dizer toda a verdade a um homem 
nesse estado.” (Platão. A República. Livro I. 331c. P. 09) Grifos nosso. 
 
 
 
 
As assertivas podem ser reduzidas à uma única hipótese “umas vezes é justo, outras 
injusto fazê-las”. Mas, será a impossibilidade ou a necessidade de não haver mais reduções o 
fundamento para a dúvida ou a devida fundamentação de nossas escolhas? Se assim o é, 
como podemos explicar a assertiva de que a Leis dizem a verdade no texto abaixo indicado: 
 
em suma, cumpre ou executar as ordens da cidade e da pátria ou 
obter a revogação palas vias criadas do direito. É impiedade usar de 
violência contra a mãe e o pai, mas ainda muito pior contra a pátria 
do que contra eles." Que responderei a isso, Critão? Que as Leis 
dizem a verdade, ou que não? (Platão, CRITÃO (Críton), ou o 
DEVER. p. 10) 
 
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Os vários significados de homem justo e injusto. 
Se um dos contrários for ambíguo o outro também o será: 
Se o justo é, também será o injusto. 
 
 
Disposição de caráter 
[Agir e desejar fazer o justo/injusto] 
 
Um entre dois contrários 
[Não produz resultados opostos] 
 
B) Justo → O homem respeitador da Lei, 
probo [íntegro, honrado, justo, reto, honesto 
e virtuoso]. 
A) Injusto → O homem sem Lei, 
ganancioso (lucrativo, avido de ganho) e 
improbo (negação de íntegro, honrado, justo, 
reto, honesto e virtuoso). 
 
 
[Negação] dos Bens – das Coisas 
Sempre não bons (em absoluto) 
 
B) Não almejam [desejo] tais coisas (bens) e 
não as buscam [ação] diligentemente (pressa, 
aplicação, zelo, acuidade). E isso é o 
contrário do que não deveria ser. 
Bens – Coisas 
Sempre bons (em absoluto) 
 
A) Almejam [desejo] tais coisas (bens) e as 
buscam [ação] diligentemente (pressa, 
aplicação, zelo, acuidade). E isso é o 
contrário do que deveria ser. 
 
OBS: Deve ter algo que ver com bens que dizem respeito à prosperidade (fortúnio) e a 
adversidade (infortúnio) e são absolutos e bons (sempre bons), mas NEM SEMPRE o são 
para uma pessoa determinada. 
NEM SEMPRE (contraditório a bens absolutos e bons) 
 
Meio Termo Meio Termo 
Extremo (Maior) Extremo (Menor) Extremo (Menor) Extremo (Maior) 
Prosperidade Adversidade Adversidade Prosperidade 
Mais prodigalidade Menos prodigalidade Menosavareza Mais avareza 
 
O homem justo não escolhe o maior, nem o 
menor – no caso das coisas que são boas em 
absoluto. 
 
 Bem (Bom) contrário Mal (Mau) 
 Meio-Termo 
 Maior Menor 
(Extremo) (Extremo) 
 
 
O homem injusto não escolhe o maior, nem 
o menor – no caso das coisas que são más 
em absoluto. 
 
Bem (Bom) contrário Mal (Mau) 
 Meio-Termo 
 Menor Maior 
 (Extremo) (Extremo) 
 
 
P Não P 
V F 
F V 
Escolha 
 
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Como o bem (bom) menor é, em certo 
sentido, considerado mal (mau) menor, e a 
ganância se dirige para o mal (mau), 
pensamos que esse homem é ganancioso. 
Como o mal (mau) menor é, em certo 
sentido, considerado bem (bom) menor, e a 
ganância se dirige para o bem (bom), 
pensamos que esse homem é ganancioso. 
É igualmente iníquo (inequitativo, contrário a equidade, injusto, que tem mau caráter), pois 
essa caraterística contém ambas as outras e é comum a elas. 
 
Contrário e contraditório 
 
Justo → O homem respeitador da Lei, 
probo. 
[Negação] dos Bens – das Coisas 
Sempre não bons (em absoluto) 
Isso é o contrário do que não 
deveria ser. 
 
 
 
Contrário 
Injusto → O homem sem Lei, 
ganancioso e improbo. 
Bens – Coisas 
Sempre bons (em absoluto) 
Isso é o contrário do que deveria 
ser. 
OBS: Deve ter algo que ver com bens 
que dizem respeito à prosperidade 
(fortúnio) e a adversidade (infortúnio) 
e são absolutos e bons (sempre bons), 
mas NEM SEMPRE o são para uma 
pessoa determinada. 
 
 
NEM SEMPRE é contraditório a 
bens absolutos e bons. Ou seja, 
algumas vezes negamos os bens como 
absolutos e bons. 
 NEM SEMPRE é contraditório a 
bens sempre não bons (em absoluto). 
Ou seja, algumas vezes afirmamos os 
bens como absolutos e bons 
 
A Lei 
 
JUSTO 
O homem respeitador da Lei, probo. 
 
Todos os atos legítimos são, em certo sentido 
(em razão da ambiguidade), atos justos. 
 
 
Porque os atos prescritos pela arte do 
legislador são legítimos, e cada um deles, 
dizemos nós, é justo. 
 
 
Nas disposições [de caráter] que tomam 
sobre todos os assuntos, as leis tem em mira 
a vantagem comum, quer de todos, quer dos 
INJUSTO 
O homem sem Lei, ganancioso e improbo. 
 
Todos os atos não legítimos ou ilegítimos 
são, em certo sentido (em razão da 
ambiguidade), atos injustos. 
 
Porque os atos prescritos pela arte de quem 
não é legislador não são legítimos ou são 
ilegítimos, e cada um deles, dizemos nós, é 
injusto ou não é justo. 
 
É a disposição [de caráter] na perspectiva do 
NEM SEMPRE ou do contraditório a bens 
não bons (em absoluto). Trata-se da 
 
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melhores ou daqueles que detêm o poder ou 
algo do gênero. 
 
legitimação dos atos prescritos pela arte de 
quem não é legislador, mas que dizem 
respeito somente a ele e não à todos. 
 
 
Com respeito às virtudes e formas da bondade e, do mesmo 
modo, com respeito às outras virtudes e formas de maldade. 
Dirimindo a dúvida, a ambiguidade. 
 
 Atos de um homem 
bravo. 
[por exemplo, não 
desertar de nosso 
posto, nem fugir, 
nem abandonar 
nossas armas.] 
 Atos de um homem 
[Não] bravo. 
[por exemplo, 
desertar de nosso 
posto, fugir ou 
abandonar nossas 
armas.] 
Justos são os atos 
que tendem a 
produzir e a 
preservar, para a 
sociedade política, a 
felicidade e os 
elementos que a 
compõem. 
 
Atos de um homem 
temperante. 
[por exemplo, não 
cometer adultério 
nem entregar-se à 
luxúria.] 
Injustos são os atos 
que tendem a 
produzir e a 
preservar, para a 
sociedade política, a 
infelicidade e os 
elementos que a 
compõem. 
 
Atos de um homem 
[Não] temperante. 
[por exemplo, 
cometer adultério ou 
entregar-se à 
luxúria.] 
 
Lei bem elaborada 
 
Retidão 
Atos de um homem 
Calmo. 
[por exemplo, não 
bater em alguém nem 
caluniar.] 
 
Lei concebida às 
pressas 
 
Menos bem 
Atos de um homem 
[Não] Calmo. 
[por exemplo, bater 
em alguém ou 
caluniar.] 
 
 
 
Virtude completa, porém não em 
absoluto e sim em relação ao nosso 
próximo e, também, em relação a si 
mesmo. Justiça é a maior das virtudes 
e entre todas as virtudes é o bem do 
outro. 
 
 
 
Contrário 
O pior dos homens é aquele que 
exerce a sua maldade tanto para 
consigo mesmo como para com os 
seus amigos 
 
 
 
A Justiça não é uma parte da virtude, 
mas a virtude inteira. 
Aquilo que, em relação ao nosso 
próximo, é justiça, como uma 
determinada disposição de caráter e 
em si mesmo, é virtude. 
São elas a 
mesma 
coisa, mas 
não o é em 
sua 
essência. 
A Injustiça não é uma parte do vício, 
mas o vício inteira. 
 
 
 
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O Sofistas: Physis e Nómos. Polis ateniense - democracia, retórica 
e justiça. 
 
Texto anexo: O Sofista – Platao 
 
Os sofistas foram reputados como grandes mestres, eram procurados por jovens bem-
nascidos, dispostos a pagar muito dinheiro para aprender o que os filósofos tinham a lhes 
ensinar. O jovem buscava junto ao sofista a areté, qualidade indispensável para se tornar um 
cidadão bem-sucedido. 
 No regime democrático que vigorava em Atenas, o exercício da função política 
dependia do bom uso da palavra. E os sofistas foram mestres na arte de bem falar. 
 Os sofistas negam a existência da verdade, ou pelo menos a possibilidade de acesso a 
ela. Para os sofistas, o que existe são opiniões: boas e más, melhores e piores, mas jamais 
falsas e verdadeiras. Na formulação clássica de Protágoras, “o homem é a medida de todas as 
coisas”. 
 Sócrates desenvolveu um método de pesquisa, chamado dialética, que procedia por 
questões e respostas. 
 Sócrates é, para Platão, o único verdadeiro educador, capaz de levar à areté. Platão 
estabelece oposições entre Sócrates e os sofistas: 
 
 O sofista cobra pra ensinar, Sócrates não; 
 O sofista “sabe tudo”. Sócrates diz nada saber; 
 O sofista faz retórica, Sócrates faz dialética; 
 O sofista refuta para ganhar a disputa verbal, Sócrates refuta para purificar a alma de 
sua ignorância. 
 
 Quem foi Sócrates? Qual sua opinião sobre os Sofistas? Quais suas idéias 
fundamentais? É relativamente pouco o que sabemos sobre Sócrates, o homem. Nascido em 
470 a.C., foi executado em 399 a.C., quando Atenas perdeu a Guerra do Peloponeso contra 
Esparta. Sócrates ensinou que o sistema filosófico é o valor do conhecimento humano. Antes 
de Sócrates questionava-se a natureza, depois de Sócrates, questiona-se o homem. O valor do 
conhecimento humano (Humanismo). Duas célebres frases são atribuídas à Sócrates: 
 
 “CONHEÇA-TE A TI MESMO” [nosce te Ipsvm], frase escrita no portal do templo 
de Apolo; cuja frase era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos. 
 
 “SÓ SEI QUE NADA SEI” [Scio me nihil scire]; é, para Sócrates, o princípio da 
sabedoria, o reconhecimento da própria ignorância. 
 
O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se ao dos Sofistas, embora não vendesse seus 
ensinamentos. Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, 
os novos problemas que surgiam a cada resposta.Seu objetivo inicial era demolir, nos 
discípulos, o orgulho, a ignorância e a presunção do saber. 
Dois são os métodos atribuídos à Sócrates: 
 
 
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 MAIÊUTICA: Dava alternativas, perguntas e respostas, ajudava a buscar a verdade. 
O nome Maiêutica foi uma homenagem a sua mãe que era parteira. Ele dava luz às 
idéias. 
 
 IRONIA: A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os 
discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só 
julgavam possuir certezas e clarividências, perguntas e respostas, destruía o falso 
saber. Os discípulos, libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, podiam 
iniciar o caminho da reconstrução das próprias idéias. Com isso, Sócrates acreditava 
num só Deus (Monoteísmo); a época era de Politeísmo. Por vários motivos ele foi 
perseguido. Foi condenado à morte em 399 a.c. por não aceitar mudar suas idéias 
(tomou Cicuta, um tipo de bebida que o carrasco deu-lhe para beber). 
 
Para Sócrates o homem deveria conhecer a si mesmo, chegar à virtude através do 
conhecer a si mesmo, pois a sabedoria nos dá a virtude. Ao trabalhar com Os Sofistas, 
Sócrates observa e questiona: 
 
a. Os Sofistas buscam o sucesso e ensinam as pessoas como o conseguir; Sócrates busca 
a verdade e incita seus discípulos a descobri-la. 
 
b. Os Sofistas tomam por necessário fazer carreiras, Sócrates quer chegar à verdade, 
desapegando dos prazeres e dos bens materiais. 
 
c. Os Sofistas se gabam de saberem tudo e fazer tudo; Sócrates tem a convicção de que 
ninguém pode ser mestre dos outros. 
 
d. Para os Sofistas, aprender é coisa passiva e facílima, afirmam isso e tudo por um preço 
módico. 
 
Sócrates defendia que a opinião é individual, mas a sabedoria é universal. A questão da 
felicidade e honestidade está na prática do agir. As riquezas não interessam aos homens. A 
doutrina socrática identifica o sábio e o homem virtuoso. Derivam daí diversas conseqüências 
para a educação, como: o conhecimento tem por fim tornar possível a vida moral; o processo 
para adquirir o saber é o diálogo; nenhum conhecimento pode ser dogmaticamente, mas como 
condição para desenvolver a capacidade de pensar; toda a educação é essencialmente ativa, e 
por ser auto-educação leva ao conhecimento de si mesmo; a análise radical do conteúdo das 
discussões, retirado do cotidiano, leva ao questionamento do modo de vida de cada um e, em 
última instância, da própria cidade. 
 
Quem foram os sofistas? Etimologicamente, o termo sofista significa sábio, entretanto, 
com o decorrer do tempo, ganhou o sentido de impostor, devido, sobretudo, às críticas de 
Platão. 
 
 
 
 
 
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Filosofia do Direito 
Prof. Luiz A. L. de Ávila 
 
Estoicismo. A Lei Natural. 
 
Texto anexo: Jusnaturalismo estoico e republicanismo no De Legibus de Cícero 
 
substantivo masculino 
1. fil doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264 a.C.), e desenvolvida por várias gerações 
de filósofos, que se caracteriza por uma ética em que a imperturbabilidade, a extirpação das 
paixões e a aceitação resignada do destino são as marcas fundamentais do homem sábio, o 
único apto a experimentar a verdadeira felicidade [O estoicismo exerceu profunda influência 
na ética cristã.]. 
2. p.ext. rigidez de princípios morais. 
 
Texto Anexo: O pensamento político medieval de Agostinho e Tomás de Aquino 
Cristianismo: A justiça nos Evangelhos. Virginius de Machado de Assis 
Santo Agostinho: Crítica ao intelectualismo clássico. Vontade, graça e obediência. 
Santo Tomás de Aquino: Lei Eterna, Lei Natural e Lei Humana. 
 
Cicero : estoicismo romano e lei natural 
1. CÍCERO: ESTOICISMO ROMANO E LEI NATURAL BITTAR, Eduardo C.B. 
ALMEIDA, Guilherme Assis de Curso de filosofia do Direito. São Paulo, Atlas, 2001 
2. Direito Natural  “Chamo lei tanto à que é particular como à que é comum. É lei 
particular a que foi definida por cada povo em relação a si mesmo, quer seja escrita ou 
não escrita; e comum, a que é segundo a natureza. Pois há na natureza um princípio 
comum do que é justo e injusto, que todos de algum modo adivinham mesmo que não 
haja entre si comunicação ou acordo; como, por exemplo, o mostra a Antígona de 
Sófocles ao dizer que, embora seja proibido, é justo enterrar Polinices, porque esse é 
um direito natural” (ARISTÓTELES. Retórica. 2. ed. Lisboa: Imprensa Nacional, 
2005, p. 144) 
3. Os Estóicos  Os filósofos estóicos e os pensadores cristãos, desenvolvendo a tradição 
aristotélica, privilegiavam a razão como fonte das normas morais. Sustentavam que a 
racionalidade permitiria aos seres humanos discernir a finalidade da vida a partir da 
compreensão da ordem da natureza e do papel da vida humana dentro dessa ordem. 
4. Pensamento ciceroniano  Marcus Túllius Cícero, como estóico afirma que a natureza 
humana só se pode realizar uma vez observada as regras do cosmo e a ordem divina 
das coisas. 132  “… o que é moral não pode estar vinculado a nenhum outro 
atrelamento senão à própria realização moral.” 
5. Independência regularidade e dever  “A ética estóica caminha no sentido de postular 
a independência do homem com relação a tudo o que o cerca e seu atrelamento com 
causas e regularidades universais. A preocupação com o conceito de dever (kathékon) 
irrompe com uma série de conseqüências histórico-filosóficas que haviam de marcar 
nuanças anteriores inexistentes. Razão, dever, felicidade, sabedoria e autonomia, 
relacionam-se com proximidade inusitada dentro da tradição romana…” 133 
 
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6. Ética estóica  A ética estóica é uma ética da ataraxia. O homo ethicus do estoico é o 
que respeita o universo e suas leis cósmicas e se respeita. (…) é capaz de alcançar a 
ataraxia, o estado de harmonia corporal, moral e espiritual, por saber distinguir o bem 
do mal. Este homem não se abala excessivamente nem pelo que é bom nem pelo que é 
mau,…  Significa, então, descoberta de sua interioridade, posse de um estado 
imperturbável diante das ocorrências externas. 134 
7. Ação, felicidade e dever  Na ética estóica convivem conhecimentos lógicos e físicos, 
não é a contemplação a finalidade da conduta humana, mas sim a ação, pois é nesta 
que reside a capacidade de conferir felicidade ao homem. É por meio da ação que 
surgem as oportunidades de ser ou não ser; é na ação que reside o ideal de vida 
estóico.  A ética estóica (…) determina o cumprimento de mandamentos éticos pelo 
simples dever. (…) A ética deve ser cumprida porque se trata de mandamentos certos 
e incontornáveis da ação. 135 
8. A honra e as leis naturais em oposição ao interesse  “Se o que nos leva a ser honrados 
não é a própria honradez, mas sim a utilidade e o interesse, então não somos bons, 
somos espertos” 135  “Mas, o maior absurdo é supor-se justas todas as instituições e 
leis dos povos.” 136  “Essa obediência aos mandamentos éticos se deve ao fato de 
tais mandamentos decorrerem de leis naturais. (…) É da phýsis que emanam as 
normas do agir.” 136 
9. A felicidade, a harmonia e a sabedoria  Elas residem num estado de alma em que o 
homem se torna capaz de ser indiferente às mudanças que estão a sua volta, a um só 
tempo: a) por reconhecer a fugacidade de todas as coisas, por ser temente a Deus; b) 
por confiar na justiça que decorre de seus atos; c) por estar certo de que age de acordo 
com sua lógica; d) por conhecer de um conhecimento certo as coisas pela causa física 
e) por respeitar a natureza e os preceitos dela decorrentes; f) por viver conforme o que 
é capaz de produzir um benefíciopara a comunidade. 137 
10. Ética ciceroniana e justiça  Duas contribuições são importantes, a formação da ética a 
partir da intuição natural e a afirmação da ação.  “No cosmos é que Cícero encontra a 
reta razão (…) que a tudo ordena, e de acordo com a qual se devem pautar todas as 
condutas humanas. A ética ciceroniana movimenta-se a partir de uma lei absoluta 
preexistente, imutável, intocável, soberana e perfeita que tudo governa:” 138 
11. Lei natural, bem e razão  “O parâmetro da conduta humana deverá ser a observância 
da lei natural, e isso porque nela se encontra a noção de bem que deve ser seguida.” 
138  “Se o bem é louvável é porque encerra em si mesmo algo que nos obriga a 
louvá-lo; pois o bem não depende das convenções e sim da natureza.”  “Se a razão é 
o distintivo humano, a virtude de acordo com a reta razão será o distintivo do ser 
humano justo:” 
12. Lei natural, bem e razão  “ A razão reta, conforme à natureza, gravada em todos os 
corações, imutável, eterna, cuja voz ensina e prescreve o bem, afasta do mal que 
proíbe e, ora com seus mandatos, ora com suas proibições, jamais se dirige inutilmente 
aos bons, nem fica impotente ante os maus. Essa lei não pode ser contestada, nem 
derrogada em parte, nem anulada; não podemos ser isentos de seu cumprimento pelo 
povo nem pelo senado; não há que procurar para ela outro comentador nem intérprete; 
... 
13. Lei natural, bem e razão  ... não é uma lei em Roma e outra em Atenas – uma antes e 
outra depois, mas una, sempiterna e imutável, entre todos os povos e em todos os 
 
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tempos; uno será sempre o seu imperador e mestre, que é Deus, seu inventor, 
sancionador e publicador, não podendo o homem desconhecê-la sem renegar-se a si 
mesmo, sem despojar-se do seu caráter humano e sem atrair sobre si a mais cruel 
expiação, embora tenha conseguido evitar todos os outros suplícios”  (CÍCERO, 
Marco Túlio. Da república. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985, p. 346. - Coleção 
Os Pensadores). 
14. Natureza do Direito e natureza do homem  “Para que se possa iniciar um estudo 
acerca das leis, ter-se-á, então, que iniciar um estudo sobre a natureza e as leis 
naturais,…”  “Temos de explicar a natureza do Direito e buscaremos a explicação no 
estudo da natureza do homem.”  (…) a lei é a razão suprema da natureza, que ordena 
o que se deve fazer e proíbe o contrário. 
15. Lei, natureza e razão  “… para falar de Direito devemos começar pela lei; e a lei é a 
força da Natureza, é o espírito e a razão do homem dotado de sabedoria prática, é o 
critério do justo e do injusto.” 140  “A razão é o que há de ligação, (…), entre os 
homens e os deuses.” 140  A razão justa é a lei, outro vínculo entre os homens e os 
deuses. Logo, devemos considerar que o nosso universo é uma só comunidade, 
constituída pelos deuses e pelos homens. 
16. Felicidade constituição e República  “Em suma, não há felicidade sem uma boa 
constituição política; não há paz, não há felicidade possível, sem uma sábia e bem 
organizada República”. 141  “…a natureza nos criou para que participássemos todos 
do Direito e o possuíssemos em comum.”  A lei natural e eterna é a fonte do Direito. 
141 
17. O Bem e a razão divina  “… a noção intuitiva de bem, de acordo com a razão eterna 
e divina, precede a qualquer convenção humana e a qualquer ato legislador.”  “Por 
isso a lei verdadeira e essencial, a que manda e proíbe legitimamente, é a razão do 
grande Júpiter.”  “Assim como a mente divina é a lei suprema, do mesmo modo a 
razão é a lei quando atinge no homem seu mais completo desenvolvimento; mas este 
desenvolvimento só se encontra na mente do sábio.” 142 
18. República, Direito, leis naturais e Deus  “A república pressupõe Direito, e o Direito 
pressupõe leis, e as leis pressupõem leis naturais, e as leis naturais pressupõem Deus. 
Assim, a investigação ciceroniana em torno do problema da justiça, da virtude e do 
Direito se entrelaça com razões cósmicas, com razões naturais…” 145-146 
19. Obrigações da justiça  “A primeira obrigação da justiça é não fazer mal a ninguém, 
sem que se seja provocado por qualquer injúria; e a segunda, usar dos bens comuns 
como comuns, e como próprios dos nossos em particular.” 146  Numa profunda 
ordenação cósmico-natural se pode encontrar o fundamento de toda ética e de todo 
conceito de justiça na teoria ciceroniana. 
20. Virtudes, sociabilidade e realização humana  “As virtudes são estimuladas pela lei 
natural, e os vícios são repreendidos por ela. ”  “É a sociabilidade condição natural 
humana, de modo que a organização do Estado, das leis, da justiça são condições para 
a realização da própria natureza humana.”  Tem-se uma ética do dever, na base da lei 
natural, cuja finalidade é governar o todo. “É com a república que surge a felicidade 
humana.” 147 
 
 
Faculdade Mineira de Direito 
Filosofia do Direito 
Prof. Luiz A. L. de Ávila 
 
 
 
Epicuro: A utilidade e o Direito. 
 
Texto anexo: TÒ DIKAIÓN -EPICURO ACERCA DO JUSTO 
Texto complementar (curiosidade): Epicuro - trechos selecionados 
 
-x- 
 
 
 
Cristianismo: A justiça nos Evangelhos 
 
Texto anexo: Igualdade e Desigualdade Perante a Justiça. 
 
-x- 
 
 
Santo Agostinho: Crítica ao intelectualismo clássico. Vontade, 
graça e obediência. 
Santo Tomás de Aquino: Lei Eterna, Lei Natural e Lei Humana. 
 
Texto anexo: Agosinho e Tomás de Aquino -O pensamento político medieval 
 
-x- 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Faculdade Mineira de Direito 
Filosofia do Direito 
Prof. Luiz A. L. de Ávila 
 
 
 
1a Unidade: Teorias da Justiça: Antigüidade Clássica e Idade Média. 
1.1. O Sofistas: Physis e Nómos. Polis ateniense - democracia, retórica e justiça. 
1.2. Sócrates: Crítica aos sofistas. A morte de Sócrates e o problema da justiça. 
1.3. Platão: A justiça fundada na ordem. 
1.4. Aristóteles: A virtude da justiça. 
1.5. Epicuro: A utilidade e o Direito. 
1.6. Estoicismo. A Lei Natural. 
1.7. Cristianismo: A justiça nos Evangelhos. 
1.7. Santo Agostinho: Crítica ao intelectualismo clássico. Vontade, graça e obediência. 
1.8. Santo Tomás de Aquino: Lei Eterna, Lei Natural e Lei Humana. 
 
2a Unidade: Teorias da Justiça: Jusnaturalismo Moderno A fundamentação da ordem jurídica 
de Grócio a Kant. 
2.1. Grócio: Razão e Direito Natural. 
2.2. Hobbes: Direito Natural e Direito Positivo em Hobbes. 
2.3. Espinosa: Direito Natural e Direito Positivo em Espinosa. 
2.4. Rousseau: Contrato social e Direito. 
2.5. Kant: Direito e moral. 
 
3a Unidade: Teoria do Método Jurídico: Juspositivismo - Construção e crisedo método 
jurídico. 
3.1. A Escola da Exegese. 
3.2. Jurisprudência dos Conceitos e Jurisprudência dos Interesses. 
3.3. Teoria Pura do Direito: A Dinâmica Jurídica estrutura escalonada da ordem jurídica. 
3.4. A Interpretação na Teoria Pura do Direito: A dissolução do problema da interpretação da 
norma. Interpretação do Direito como criação do Direito. 
 
 
Descrição da Bibliografia Complementar 
 
BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: lições de filosofia do direito. São Paulo: Ícone, 
1995. 239 p. ISBN 8527403285 
 
DE CICCO, Claudio. História do pensamento jurídico e da filosofia do direito. 3. ed. reform. 
São Paulo: Saraiva, 2006. xx, 313 p. ISBN 8502055291 
 
GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e diferença: estado democrático de direito a partir do 
pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. 232p. ISBN 8587054406 
 
POPPER, Karl Raimund Sir,. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. Belo 
Horizonte:Itatiaia, 1999. 394 p. 
 
RADBRUCH, Gustav. Introdução à ciencia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 
232p. ISBN 8533610238 
 
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Filosofia do Direito 
Prof. Luiz A. L. de Ávila 
 
 
 
 
O Sofista. Platão. 
Estrangeiro - Então, para começar, caso estejas de acordo, admitamos haverem eles afirmado 
que nada tem o poder de comunicar-se de qualquer maneira seja com o que for. Nessa 
hipótese, o repouso e o movimento não participarão, em absoluto, do ser. 
Teeteto - Não, evidentemente. 
Estrangeiro - Mas, como! Qualquer deles poderá existir, se não participar do ser? 
Teeteto - Não é possível. 
Estrangeiro - A conseqüência imediata dessa primeira concessão, como parece, é tudo 
subverter: a doutrina dos que movimentam o todo e a dos que o imobilizam como um, e 
também a dos que admitem a distribuição dos seres em idéias imutáveis e eternas. Todos 
acrescentam às coisas a noção do ser, com afirmarem alguns que elas são realmente móveis, e 
outros, que estão, de fato, em repouso. 
Teeteto - É evidente. 
Estrangeiro - O mesmo se passa com os que ora unem o todo ora o separam, seja reduzindo à 
unidade a infinitude, seja fazendo-a sair dela ou decompondo o Universo em número limitado 
de elementos, com os quais, depois, voltam a reconstruí-lo, pouco importando se consideram 
tais mudanças como sucessivas ou coexistentes. De qualquer jeito, se; não houver mistura, 
tudo o que disserem carecerá de sentido. 
Teeteto - Exato. 
Estrangeiro - Porém ao maior ridículo expõem sua própria tese os que chegam a ponto de não 
permitir que receba denominação diferente da sua a coisa que participa da qualidade de outra. 
Teeteto - Como assim? 
Estrangeiro - É que a todo instante se vêem forçados a empregar expressões como Ser, À 
parte, Dos outros, Em si mesmo, e uma infinidade mais. Como não podem dispensá-las e são 
obrigados a entremeá-las em seus discursos, não precisam que os outros os refutem, pois 
levam consigo, como se diz, o inimigo e contraditor que por toda a parte eles carregam e que 
lhes fala de dentro deles mesmos, tal como fazia o famoso ventríloquo Euricles. 
Teeteto - O símile é muito oportuno e verdadeiro. 
Estrangeiro - E então? E se concedêssemos a todas as coisas a faculdade de se comunicarem 
entre si? 
Teeteto - Eis uma questão que eu sou capaz de resolver. 
Estrangeiro - De que jeito? 
Teeteto - Ora, porque o próprio movimento ficaria em repouso e o repouso se moveria, se 
ambos se reunissem. 
Estrangeiro - Porém é de todo em todo impossível parar o movimento ou movimentar-se o 
repouso. 
Teeteto - Sem dúvida. 
Estrangeiro - Só nos resta, pois, a outra alternativa. 
Teeteto - Certo. 
Estrangeiro - Por força, uma das três terá de ser verdadeira: ou tudo se mistura, ou nada; ou 
ainda, algumas coisas o fazem, outras não. 
Teeteto - Sem dúvida. 
 
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Estrangeiro - As duas primeiras já excluímos, por impossíveis. 
Teeteto - Realmente. 
Estrangeiro - Logo, quem quiser responder certo, terá de adotar a terceira. 
Teeteto - Perfeitamente. 
Estrangeiro - Mas, como algumas coisas desejam comunicar-se e outras se recusam a isso, 
comportam- se todas mais ou menos como as letras: umas não combinam em absoluto entre 
elas; outras ficam em perfeita consonância. 
Teeteto - É muito certo. 
Estrangeiro - As vogais, principalmente, se distinguem das demais letras por servirem de 
vinculo para as outras, de forma que, sem vogal, não é possível haver combinação entre as 
letras. 
Teeteto - Sim, é de todo impossível. 
Estrangeiro - E qualquer pessoa estará em condições de saber que as letras permitem 
combinações, ou haverá uma arte apropriada, a que terá de recorrer quem quiser proceder com 
acerto? 
Teeteto - Sim, uma arte. 
Estrangeiro - Qual, é? 
Teeteto - A gramática. 
Estrangeiro - Como! E o mesmo não acontece com os sons agudos e graves? Músico é quem 
conhece a arte de distinguir os sons que se combinam e os que destoam, sendo leigo na 
matéria quem nada entende de tudo isso. 
Teeteto - Certo. 
Estrangeiro - Igual distinção iremos encontrar nas demais artes, no que tange ao 
conhecimento ou à ignorãncia de seus princípios. 
Teeteto - Como não? 
Estrangeiro - E agora? Uma vez que já nos declaramos de acordo sobre se comportarem os 
gêneros de igual modo, no que diz respeito às combinações reciprocas, não será de toda a 
necessidade conhecer uma arte para orientar-se do começo ao fim do discurso quem quiser 
indicar os gêneros que combinam e os que se repelem? E mais: se há gêneros que atuam como 
elo de ligação para outros, permitindo que se misturem, e o contrário disso, na divisão, que 
sejam motivo de virem alguns a separar-se? 
Teeteto - Como não haver esse conhecimento, talvez mesmo o mais importante de todos? 
XXXIX - Estrangeiro - E que nome lhe daremos, Teeteto? Por Zeus! Acaso, sem o querer, 
viemos bater no conhecimento do homem livre e, empenhados em encontrar o sofista, 
primeiro descobrimos o filósofo? 
Teeteto - Que queres dizer com isso? 
Estrangeiro - Dividir por gêneros e não tomar a idéia de um pela do outro, e o inverso, a deste 
pela daquele: não diremos ser esse, precisamente, o conhecimento dialético? 
Teeteto - É o que diremos, sem dúvida. 
Estrangeiro - Então, quem for capaz de distinguir uma idéia única numa multidão de idéias 
independentes, ou um sem-número de idéias diferentes entre si, porém abrangidas por outra 
mais ampla, e, de novo, uma idéia apenas que se estende por muitas outras e todas elas ligadas 
a uma unidade, e também muitas inteiramente isoladas ou separadas: eis o que se chama a arte 
de distinguir os gêneros, conforme a capacidade de se combinarem ou de não combinarem. 
Teeteto - Perfeitamente. 
Estrangeiro - Porém tenho certeza de que não atribuirás essa capacidade dialética senão a 
quem souber filosofar com pureza e justiça. 
 
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Teeteto - Como atribuí-la a mais alguém? 
Estrangeiro - O filósofo, se bem o procurarmos, só nesta região é que poderemos encontrá-lo, 
agora e no futuro, conquanto não seja fácil distingui-lo. O sofista também; mas no seu caso a 
dificuldade é de outra espécie. 
Teeteto - Como assim? 
Estrangeiro - É que o sofista se acoita nas trevas do não-ser, com cuja convivência já se 
familiarizou. A escuridão do meio é que torna difícil reconhecê-lo. Não é isso mesmo? 
Teeteto - Parece. (Pg. 58-61) 
-x-

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