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Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila Livro V – Ética a Nicômaco (Aristóteles) Pressupostos Gerais: Ponto de partida, base geral. Justiça/ Injustiça Ação Meio-Termo Entre que extremos Disposição de caráter [Agir e desejar fazer o justo/injusto] (≠) Ciência e Faculdade [uma e a mesma coisa] Não são Verdadeira Não são Verdadeira Um entre dois contrários [Não produz resultados opostos] P Não P V F F V Se relaciona com objetos contrários [Produz resultados opostos] P Não P V F Exemplo: Saúde Contrário Negação da Saúde [V] [F] Em razão da saúde, não fazemos o que é contrário à saúde. [um de dois contrários] Um homem caminha de modo saudável, quando caminha como o faria um homem que gozasse de saúde. [Meio-Termo] Esse “fazer” ou esse “caminhar” é o meio-termo entre que extremo? Pressupostos Específicos: Determinação do gênero “Ação” entre dois contrários. Um estado é reconhecido pelo seu contrário; Os estados são reconhecidos pelos sujeitos que o manifestam. porque, Quando reconhecemos a boa condição, a má condição também se nos mostra conhecida; A boa condição é conhecida pelas coisas que se acham em boa condição, e as segundas pelas primeiras. Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila Exemplo: Boa Condição Negação da Boa Condição [ou Má Condição] Rijeza de Carnes Negação da Rijeza de Carnes [ou Flacidez de carnes] Saudável Não Saudável Se um dos contrários for ambíguo o outro também o será: Se o justo é, também será o injusto. Justo e Injusto Justo e Injusto Ambíguos Ambíguos Quando escapa à atenção: os significados diferentes se aproximam. Não é evidente: quando os significados se afastam muito. Ambiguidade ou polissemia: Manga de camisa ou Manga fruta. Os vários significados de homem justo e injusto. A) O homem sem Lei, ganancioso (lucrativo, avido de ganho) e improbo (negação de íntegro, honrado, justo, reto, honesto e virtuoso) → Injusto B) O homem respeitador da Lei, probo [e pródigo] → Justo Deve ter algo que ver com bens (bom; lícito, recomendável) [que dizem respeito a prosperidade e a adversidade] absolutos e bons, mas nem sempre o são para uma pessoa determinada. A) Almejam [desejo] tais coisas (bens) e as buscam [ação] diligentemente (pressa, aplicação, zelo, acuidade) B) Não almejar [desejo] tais coisas (bens) e não as buscam [ação] diligentemente (pressa, aplicação, zelo, acuidade) E isso é o contrário do que deveria ser. E isso é o contrário do que não deveria ser. O homem injusto não escolhe o maior, nem o menor – no caso das coisas que são más em absoluto. Bem (Bom) contrário Mal (Mau) Meio-Termo Menor Maior (Extremo) (Extremo) O homem justo não escolhe o maior, nem o menor – no caso das coisas que são boas em absoluto. Bem (Bom) contrário Mal (Mau) Meio-Termo Maior Menor (Extremo) (Extremo) Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila Como o mal menor é, em certo sentido, considerado bom, e a ganância se dirige para o bom, pensamos que esse homem é ganancioso. Como o bom menor é, em certo sentido, considerado mal, e a ganância se dirige para o mal, pensamos que esse homem é ganancioso. É igualmente iniquo (inequitativo, contrário a equidade, injusto, que tem mau caráter ou revela crueldade), pois essa caraterística contém ambas as outras e é comum a elas. Justo / Injusto Ambiguidade Justo / Injusto “Palavras certas, e muito para admirar. Em face disso, tenho em grande apreço a posse das riquezas, não para todo homem, mas para aquele que é comedido e prudente. Não ludibriar ninguém nem mentir, mesmo involuntariamente, nem ficar a dever, sejam sacrifícios aos deuses, seja dinheiro a um homem, e depois partir para o além sem temer nada – para isso a posse das riquezas contribui em alto grau. Tem ainda muitas outras vantagens. Mas, acima de tudo, ó Sócrates, é em atenção a este fim que eu teria riqueza na conta de coisa muito útil para o homem sensato.” (Platão. A República. Livro I. 331a/b. P. 08-09) Grifos nosso. “Falas maravilhosamente, ó Céfalo – disse eu –. Mas essa mesma qualidade da justiça, diremos assim simplesmente que ela consiste na verdade e em restituir aquilo que se tomou, ou diremos antes que essas mesmas coisas, umas vezes é justo, outras injusto fazê-las? Como este exemplo: se alguém recebesse armas de um amigo em perfeito juízo, e este, tomado de loucura, lhas reclamasse, toda gente diria que não se lhe deviam entregar, e que não seria justo restituí-lhas, nem tão-pouco consentir em dizer toda a verdade a um homem nesse estado.” (Platão. A República. Livro I. 331c. P. 09) Grifos nosso. As assertivas podem ser reduzidas à uma única hipótese “umas vezes é justo, outras injusto fazê-las”. Mas, será a impossibilidade ou a necessidade de não haver mais reduções o fundamento para a dúvida ou a devida fundamentação de nossas escolhas? Se assim o é, como podemos explicar a assertiva de que a Leis dizem a verdade no texto abaixo indicado: em suma, cumpre ou executar as ordens da cidade e da pátria ou obter a revogação palas vias criadas do direito. É impiedade usar de violência contra a mãe e o pai, mas ainda muito pior contra a pátria do que contra eles." Que responderei a isso, Critão? Que as Leis dizem a verdade, ou que não? (Platão, CRITÃO (Críton), ou o DEVER. p. 10) Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila Os vários significados de homem justo e injusto. Se um dos contrários for ambíguo o outro também o será: Se o justo é, também será o injusto. Disposição de caráter [Agir e desejar fazer o justo/injusto] Um entre dois contrários [Não produz resultados opostos] B) Justo → O homem respeitador da Lei, probo [íntegro, honrado, justo, reto, honesto e virtuoso]. A) Injusto → O homem sem Lei, ganancioso (lucrativo, avido de ganho) e improbo (negação de íntegro, honrado, justo, reto, honesto e virtuoso). [Negação] dos Bens – das Coisas Sempre não bons (em absoluto) B) Não almejam [desejo] tais coisas (bens) e não as buscam [ação] diligentemente (pressa, aplicação, zelo, acuidade). E isso é o contrário do que não deveria ser. Bens – Coisas Sempre bons (em absoluto) A) Almejam [desejo] tais coisas (bens) e as buscam [ação] diligentemente (pressa, aplicação, zelo, acuidade). E isso é o contrário do que deveria ser. OBS: Deve ter algo que ver com bens que dizem respeito à prosperidade (fortúnio) e a adversidade (infortúnio) e são absolutos e bons (sempre bons), mas NEM SEMPRE o são para uma pessoa determinada. NEM SEMPRE (contraditório a bens absolutos e bons) Meio Termo Meio Termo Extremo (Maior) Extremo (Menor) Extremo (Menor) Extremo (Maior) Prosperidade Adversidade Adversidade Prosperidade Mais prodigalidade Menos prodigalidade Menosavareza Mais avareza O homem justo não escolhe o maior, nem o menor – no caso das coisas que são boas em absoluto. Bem (Bom) contrário Mal (Mau) Meio-Termo Maior Menor (Extremo) (Extremo) O homem injusto não escolhe o maior, nem o menor – no caso das coisas que são más em absoluto. Bem (Bom) contrário Mal (Mau) Meio-Termo Menor Maior (Extremo) (Extremo) P Não P V F F V Escolha Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila Como o bem (bom) menor é, em certo sentido, considerado mal (mau) menor, e a ganância se dirige para o mal (mau), pensamos que esse homem é ganancioso. Como o mal (mau) menor é, em certo sentido, considerado bem (bom) menor, e a ganância se dirige para o bem (bom), pensamos que esse homem é ganancioso. É igualmente iníquo (inequitativo, contrário a equidade, injusto, que tem mau caráter), pois essa caraterística contém ambas as outras e é comum a elas. Contrário e contraditório Justo → O homem respeitador da Lei, probo. [Negação] dos Bens – das Coisas Sempre não bons (em absoluto) Isso é o contrário do que não deveria ser. Contrário Injusto → O homem sem Lei, ganancioso e improbo. Bens – Coisas Sempre bons (em absoluto) Isso é o contrário do que deveria ser. OBS: Deve ter algo que ver com bens que dizem respeito à prosperidade (fortúnio) e a adversidade (infortúnio) e são absolutos e bons (sempre bons), mas NEM SEMPRE o são para uma pessoa determinada. NEM SEMPRE é contraditório a bens absolutos e bons. Ou seja, algumas vezes negamos os bens como absolutos e bons. NEM SEMPRE é contraditório a bens sempre não bons (em absoluto). Ou seja, algumas vezes afirmamos os bens como absolutos e bons A Lei JUSTO O homem respeitador da Lei, probo. Todos os atos legítimos são, em certo sentido (em razão da ambiguidade), atos justos. Porque os atos prescritos pela arte do legislador são legítimos, e cada um deles, dizemos nós, é justo. Nas disposições [de caráter] que tomam sobre todos os assuntos, as leis tem em mira a vantagem comum, quer de todos, quer dos INJUSTO O homem sem Lei, ganancioso e improbo. Todos os atos não legítimos ou ilegítimos são, em certo sentido (em razão da ambiguidade), atos injustos. Porque os atos prescritos pela arte de quem não é legislador não são legítimos ou são ilegítimos, e cada um deles, dizemos nós, é injusto ou não é justo. É a disposição [de caráter] na perspectiva do NEM SEMPRE ou do contraditório a bens não bons (em absoluto). Trata-se da Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila melhores ou daqueles que detêm o poder ou algo do gênero. legitimação dos atos prescritos pela arte de quem não é legislador, mas que dizem respeito somente a ele e não à todos. Com respeito às virtudes e formas da bondade e, do mesmo modo, com respeito às outras virtudes e formas de maldade. Dirimindo a dúvida, a ambiguidade. Atos de um homem bravo. [por exemplo, não desertar de nosso posto, nem fugir, nem abandonar nossas armas.] Atos de um homem [Não] bravo. [por exemplo, desertar de nosso posto, fugir ou abandonar nossas armas.] Justos são os atos que tendem a produzir e a preservar, para a sociedade política, a felicidade e os elementos que a compõem. Atos de um homem temperante. [por exemplo, não cometer adultério nem entregar-se à luxúria.] Injustos são os atos que tendem a produzir e a preservar, para a sociedade política, a infelicidade e os elementos que a compõem. Atos de um homem [Não] temperante. [por exemplo, cometer adultério ou entregar-se à luxúria.] Lei bem elaborada Retidão Atos de um homem Calmo. [por exemplo, não bater em alguém nem caluniar.] Lei concebida às pressas Menos bem Atos de um homem [Não] Calmo. [por exemplo, bater em alguém ou caluniar.] Virtude completa, porém não em absoluto e sim em relação ao nosso próximo e, também, em relação a si mesmo. Justiça é a maior das virtudes e entre todas as virtudes é o bem do outro. Contrário O pior dos homens é aquele que exerce a sua maldade tanto para consigo mesmo como para com os seus amigos A Justiça não é uma parte da virtude, mas a virtude inteira. Aquilo que, em relação ao nosso próximo, é justiça, como uma determinada disposição de caráter e em si mesmo, é virtude. São elas a mesma coisa, mas não o é em sua essência. A Injustiça não é uma parte do vício, mas o vício inteira. Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila O Sofistas: Physis e Nómos. Polis ateniense - democracia, retórica e justiça. Texto anexo: O Sofista – Platao Os sofistas foram reputados como grandes mestres, eram procurados por jovens bem- nascidos, dispostos a pagar muito dinheiro para aprender o que os filósofos tinham a lhes ensinar. O jovem buscava junto ao sofista a areté, qualidade indispensável para se tornar um cidadão bem-sucedido. No regime democrático que vigorava em Atenas, o exercício da função política dependia do bom uso da palavra. E os sofistas foram mestres na arte de bem falar. Os sofistas negam a existência da verdade, ou pelo menos a possibilidade de acesso a ela. Para os sofistas, o que existe são opiniões: boas e más, melhores e piores, mas jamais falsas e verdadeiras. Na formulação clássica de Protágoras, “o homem é a medida de todas as coisas”. Sócrates desenvolveu um método de pesquisa, chamado dialética, que procedia por questões e respostas. Sócrates é, para Platão, o único verdadeiro educador, capaz de levar à areté. Platão estabelece oposições entre Sócrates e os sofistas: O sofista cobra pra ensinar, Sócrates não; O sofista “sabe tudo”. Sócrates diz nada saber; O sofista faz retórica, Sócrates faz dialética; O sofista refuta para ganhar a disputa verbal, Sócrates refuta para purificar a alma de sua ignorância. Quem foi Sócrates? Qual sua opinião sobre os Sofistas? Quais suas idéias fundamentais? É relativamente pouco o que sabemos sobre Sócrates, o homem. Nascido em 470 a.C., foi executado em 399 a.C., quando Atenas perdeu a Guerra do Peloponeso contra Esparta. Sócrates ensinou que o sistema filosófico é o valor do conhecimento humano. Antes de Sócrates questionava-se a natureza, depois de Sócrates, questiona-se o homem. O valor do conhecimento humano (Humanismo). Duas célebres frases são atribuídas à Sócrates: “CONHEÇA-TE A TI MESMO” [nosce te Ipsvm], frase escrita no portal do templo de Apolo; cuja frase era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos. “SÓ SEI QUE NADA SEI” [Scio me nihil scire]; é, para Sócrates, o princípio da sabedoria, o reconhecimento da própria ignorância. O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se ao dos Sofistas, embora não vendesse seus ensinamentos. Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta.Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o orgulho, a ignorância e a presunção do saber. Dois são os métodos atribuídos à Sócrates: Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila MAIÊUTICA: Dava alternativas, perguntas e respostas, ajudava a buscar a verdade. O nome Maiêutica foi uma homenagem a sua mãe que era parteira. Ele dava luz às idéias. IRONIA: A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividências, perguntas e respostas, destruía o falso saber. Os discípulos, libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, podiam iniciar o caminho da reconstrução das próprias idéias. Com isso, Sócrates acreditava num só Deus (Monoteísmo); a época era de Politeísmo. Por vários motivos ele foi perseguido. Foi condenado à morte em 399 a.c. por não aceitar mudar suas idéias (tomou Cicuta, um tipo de bebida que o carrasco deu-lhe para beber). Para Sócrates o homem deveria conhecer a si mesmo, chegar à virtude através do conhecer a si mesmo, pois a sabedoria nos dá a virtude. Ao trabalhar com Os Sofistas, Sócrates observa e questiona: a. Os Sofistas buscam o sucesso e ensinam as pessoas como o conseguir; Sócrates busca a verdade e incita seus discípulos a descobri-la. b. Os Sofistas tomam por necessário fazer carreiras, Sócrates quer chegar à verdade, desapegando dos prazeres e dos bens materiais. c. Os Sofistas se gabam de saberem tudo e fazer tudo; Sócrates tem a convicção de que ninguém pode ser mestre dos outros. d. Para os Sofistas, aprender é coisa passiva e facílima, afirmam isso e tudo por um preço módico. Sócrates defendia que a opinião é individual, mas a sabedoria é universal. A questão da felicidade e honestidade está na prática do agir. As riquezas não interessam aos homens. A doutrina socrática identifica o sábio e o homem virtuoso. Derivam daí diversas conseqüências para a educação, como: o conhecimento tem por fim tornar possível a vida moral; o processo para adquirir o saber é o diálogo; nenhum conhecimento pode ser dogmaticamente, mas como condição para desenvolver a capacidade de pensar; toda a educação é essencialmente ativa, e por ser auto-educação leva ao conhecimento de si mesmo; a análise radical do conteúdo das discussões, retirado do cotidiano, leva ao questionamento do modo de vida de cada um e, em última instância, da própria cidade. Quem foram os sofistas? Etimologicamente, o termo sofista significa sábio, entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou o sentido de impostor, devido, sobretudo, às críticas de Platão. Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila Estoicismo. A Lei Natural. Texto anexo: Jusnaturalismo estoico e republicanismo no De Legibus de Cícero substantivo masculino 1. fil doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264 a.C.), e desenvolvida por várias gerações de filósofos, que se caracteriza por uma ética em que a imperturbabilidade, a extirpação das paixões e a aceitação resignada do destino são as marcas fundamentais do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira felicidade [O estoicismo exerceu profunda influência na ética cristã.]. 2. p.ext. rigidez de princípios morais. Texto Anexo: O pensamento político medieval de Agostinho e Tomás de Aquino Cristianismo: A justiça nos Evangelhos. Virginius de Machado de Assis Santo Agostinho: Crítica ao intelectualismo clássico. Vontade, graça e obediência. Santo Tomás de Aquino: Lei Eterna, Lei Natural e Lei Humana. Cicero : estoicismo romano e lei natural 1. CÍCERO: ESTOICISMO ROMANO E LEI NATURAL BITTAR, Eduardo C.B. ALMEIDA, Guilherme Assis de Curso de filosofia do Direito. São Paulo, Atlas, 2001 2. Direito Natural “Chamo lei tanto à que é particular como à que é comum. É lei particular a que foi definida por cada povo em relação a si mesmo, quer seja escrita ou não escrita; e comum, a que é segundo a natureza. Pois há na natureza um princípio comum do que é justo e injusto, que todos de algum modo adivinham mesmo que não haja entre si comunicação ou acordo; como, por exemplo, o mostra a Antígona de Sófocles ao dizer que, embora seja proibido, é justo enterrar Polinices, porque esse é um direito natural” (ARISTÓTELES. Retórica. 2. ed. Lisboa: Imprensa Nacional, 2005, p. 144) 3. Os Estóicos Os filósofos estóicos e os pensadores cristãos, desenvolvendo a tradição aristotélica, privilegiavam a razão como fonte das normas morais. Sustentavam que a racionalidade permitiria aos seres humanos discernir a finalidade da vida a partir da compreensão da ordem da natureza e do papel da vida humana dentro dessa ordem. 4. Pensamento ciceroniano Marcus Túllius Cícero, como estóico afirma que a natureza humana só se pode realizar uma vez observada as regras do cosmo e a ordem divina das coisas. 132 “… o que é moral não pode estar vinculado a nenhum outro atrelamento senão à própria realização moral.” 5. Independência regularidade e dever “A ética estóica caminha no sentido de postular a independência do homem com relação a tudo o que o cerca e seu atrelamento com causas e regularidades universais. A preocupação com o conceito de dever (kathékon) irrompe com uma série de conseqüências histórico-filosóficas que haviam de marcar nuanças anteriores inexistentes. Razão, dever, felicidade, sabedoria e autonomia, relacionam-se com proximidade inusitada dentro da tradição romana…” 133 Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila 6. Ética estóica A ética estóica é uma ética da ataraxia. O homo ethicus do estoico é o que respeita o universo e suas leis cósmicas e se respeita. (…) é capaz de alcançar a ataraxia, o estado de harmonia corporal, moral e espiritual, por saber distinguir o bem do mal. Este homem não se abala excessivamente nem pelo que é bom nem pelo que é mau,… Significa, então, descoberta de sua interioridade, posse de um estado imperturbável diante das ocorrências externas. 134 7. Ação, felicidade e dever Na ética estóica convivem conhecimentos lógicos e físicos, não é a contemplação a finalidade da conduta humana, mas sim a ação, pois é nesta que reside a capacidade de conferir felicidade ao homem. É por meio da ação que surgem as oportunidades de ser ou não ser; é na ação que reside o ideal de vida estóico. A ética estóica (…) determina o cumprimento de mandamentos éticos pelo simples dever. (…) A ética deve ser cumprida porque se trata de mandamentos certos e incontornáveis da ação. 135 8. A honra e as leis naturais em oposição ao interesse “Se o que nos leva a ser honrados não é a própria honradez, mas sim a utilidade e o interesse, então não somos bons, somos espertos” 135 “Mas, o maior absurdo é supor-se justas todas as instituições e leis dos povos.” 136 “Essa obediência aos mandamentos éticos se deve ao fato de tais mandamentos decorrerem de leis naturais. (…) É da phýsis que emanam as normas do agir.” 136 9. A felicidade, a harmonia e a sabedoria Elas residem num estado de alma em que o homem se torna capaz de ser indiferente às mudanças que estão a sua volta, a um só tempo: a) por reconhecer a fugacidade de todas as coisas, por ser temente a Deus; b) por confiar na justiça que decorre de seus atos; c) por estar certo de que age de acordo com sua lógica; d) por conhecer de um conhecimento certo as coisas pela causa física e) por respeitar a natureza e os preceitos dela decorrentes; f) por viver conforme o que é capaz de produzir um benefíciopara a comunidade. 137 10. Ética ciceroniana e justiça Duas contribuições são importantes, a formação da ética a partir da intuição natural e a afirmação da ação. “No cosmos é que Cícero encontra a reta razão (…) que a tudo ordena, e de acordo com a qual se devem pautar todas as condutas humanas. A ética ciceroniana movimenta-se a partir de uma lei absoluta preexistente, imutável, intocável, soberana e perfeita que tudo governa:” 138 11. Lei natural, bem e razão “O parâmetro da conduta humana deverá ser a observância da lei natural, e isso porque nela se encontra a noção de bem que deve ser seguida.” 138 “Se o bem é louvável é porque encerra em si mesmo algo que nos obriga a louvá-lo; pois o bem não depende das convenções e sim da natureza.” “Se a razão é o distintivo humano, a virtude de acordo com a reta razão será o distintivo do ser humano justo:” 12. Lei natural, bem e razão “ A razão reta, conforme à natureza, gravada em todos os corações, imutável, eterna, cuja voz ensina e prescreve o bem, afasta do mal que proíbe e, ora com seus mandatos, ora com suas proibições, jamais se dirige inutilmente aos bons, nem fica impotente ante os maus. Essa lei não pode ser contestada, nem derrogada em parte, nem anulada; não podemos ser isentos de seu cumprimento pelo povo nem pelo senado; não há que procurar para ela outro comentador nem intérprete; ... 13. Lei natural, bem e razão ... não é uma lei em Roma e outra em Atenas – uma antes e outra depois, mas una, sempiterna e imutável, entre todos os povos e em todos os Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila tempos; uno será sempre o seu imperador e mestre, que é Deus, seu inventor, sancionador e publicador, não podendo o homem desconhecê-la sem renegar-se a si mesmo, sem despojar-se do seu caráter humano e sem atrair sobre si a mais cruel expiação, embora tenha conseguido evitar todos os outros suplícios” (CÍCERO, Marco Túlio. Da república. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985, p. 346. - Coleção Os Pensadores). 14. Natureza do Direito e natureza do homem “Para que se possa iniciar um estudo acerca das leis, ter-se-á, então, que iniciar um estudo sobre a natureza e as leis naturais,…” “Temos de explicar a natureza do Direito e buscaremos a explicação no estudo da natureza do homem.” (…) a lei é a razão suprema da natureza, que ordena o que se deve fazer e proíbe o contrário. 15. Lei, natureza e razão “… para falar de Direito devemos começar pela lei; e a lei é a força da Natureza, é o espírito e a razão do homem dotado de sabedoria prática, é o critério do justo e do injusto.” 140 “A razão é o que há de ligação, (…), entre os homens e os deuses.” 140 A razão justa é a lei, outro vínculo entre os homens e os deuses. Logo, devemos considerar que o nosso universo é uma só comunidade, constituída pelos deuses e pelos homens. 16. Felicidade constituição e República “Em suma, não há felicidade sem uma boa constituição política; não há paz, não há felicidade possível, sem uma sábia e bem organizada República”. 141 “…a natureza nos criou para que participássemos todos do Direito e o possuíssemos em comum.” A lei natural e eterna é a fonte do Direito. 141 17. O Bem e a razão divina “… a noção intuitiva de bem, de acordo com a razão eterna e divina, precede a qualquer convenção humana e a qualquer ato legislador.” “Por isso a lei verdadeira e essencial, a que manda e proíbe legitimamente, é a razão do grande Júpiter.” “Assim como a mente divina é a lei suprema, do mesmo modo a razão é a lei quando atinge no homem seu mais completo desenvolvimento; mas este desenvolvimento só se encontra na mente do sábio.” 142 18. República, Direito, leis naturais e Deus “A república pressupõe Direito, e o Direito pressupõe leis, e as leis pressupõem leis naturais, e as leis naturais pressupõem Deus. Assim, a investigação ciceroniana em torno do problema da justiça, da virtude e do Direito se entrelaça com razões cósmicas, com razões naturais…” 145-146 19. Obrigações da justiça “A primeira obrigação da justiça é não fazer mal a ninguém, sem que se seja provocado por qualquer injúria; e a segunda, usar dos bens comuns como comuns, e como próprios dos nossos em particular.” 146 Numa profunda ordenação cósmico-natural se pode encontrar o fundamento de toda ética e de todo conceito de justiça na teoria ciceroniana. 20. Virtudes, sociabilidade e realização humana “As virtudes são estimuladas pela lei natural, e os vícios são repreendidos por ela. ” “É a sociabilidade condição natural humana, de modo que a organização do Estado, das leis, da justiça são condições para a realização da própria natureza humana.” Tem-se uma ética do dever, na base da lei natural, cuja finalidade é governar o todo. “É com a república que surge a felicidade humana.” 147 Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila Epicuro: A utilidade e o Direito. Texto anexo: TÒ DIKAIÓN -EPICURO ACERCA DO JUSTO Texto complementar (curiosidade): Epicuro - trechos selecionados -x- Cristianismo: A justiça nos Evangelhos Texto anexo: Igualdade e Desigualdade Perante a Justiça. -x- Santo Agostinho: Crítica ao intelectualismo clássico. Vontade, graça e obediência. Santo Tomás de Aquino: Lei Eterna, Lei Natural e Lei Humana. Texto anexo: Agosinho e Tomás de Aquino -O pensamento político medieval -x- Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila 1a Unidade: Teorias da Justiça: Antigüidade Clássica e Idade Média. 1.1. O Sofistas: Physis e Nómos. Polis ateniense - democracia, retórica e justiça. 1.2. Sócrates: Crítica aos sofistas. A morte de Sócrates e o problema da justiça. 1.3. Platão: A justiça fundada na ordem. 1.4. Aristóteles: A virtude da justiça. 1.5. Epicuro: A utilidade e o Direito. 1.6. Estoicismo. A Lei Natural. 1.7. Cristianismo: A justiça nos Evangelhos. 1.7. Santo Agostinho: Crítica ao intelectualismo clássico. Vontade, graça e obediência. 1.8. Santo Tomás de Aquino: Lei Eterna, Lei Natural e Lei Humana. 2a Unidade: Teorias da Justiça: Jusnaturalismo Moderno A fundamentação da ordem jurídica de Grócio a Kant. 2.1. Grócio: Razão e Direito Natural. 2.2. Hobbes: Direito Natural e Direito Positivo em Hobbes. 2.3. Espinosa: Direito Natural e Direito Positivo em Espinosa. 2.4. Rousseau: Contrato social e Direito. 2.5. Kant: Direito e moral. 3a Unidade: Teoria do Método Jurídico: Juspositivismo - Construção e crisedo método jurídico. 3.1. A Escola da Exegese. 3.2. Jurisprudência dos Conceitos e Jurisprudência dos Interesses. 3.3. Teoria Pura do Direito: A Dinâmica Jurídica estrutura escalonada da ordem jurídica. 3.4. A Interpretação na Teoria Pura do Direito: A dissolução do problema da interpretação da norma. Interpretação do Direito como criação do Direito. Descrição da Bibliografia Complementar BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: lições de filosofia do direito. São Paulo: Ícone, 1995. 239 p. ISBN 8527403285 DE CICCO, Claudio. História do pensamento jurídico e da filosofia do direito. 3. ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2006. xx, 313 p. ISBN 8502055291 GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e diferença: estado democrático de direito a partir do pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. 232p. ISBN 8587054406 POPPER, Karl Raimund Sir,. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. Belo Horizonte:Itatiaia, 1999. 394 p. RADBRUCH, Gustav. Introdução à ciencia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 232p. ISBN 8533610238 Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila O Sofista. Platão. Estrangeiro - Então, para começar, caso estejas de acordo, admitamos haverem eles afirmado que nada tem o poder de comunicar-se de qualquer maneira seja com o que for. Nessa hipótese, o repouso e o movimento não participarão, em absoluto, do ser. Teeteto - Não, evidentemente. Estrangeiro - Mas, como! Qualquer deles poderá existir, se não participar do ser? Teeteto - Não é possível. Estrangeiro - A conseqüência imediata dessa primeira concessão, como parece, é tudo subverter: a doutrina dos que movimentam o todo e a dos que o imobilizam como um, e também a dos que admitem a distribuição dos seres em idéias imutáveis e eternas. Todos acrescentam às coisas a noção do ser, com afirmarem alguns que elas são realmente móveis, e outros, que estão, de fato, em repouso. Teeteto - É evidente. Estrangeiro - O mesmo se passa com os que ora unem o todo ora o separam, seja reduzindo à unidade a infinitude, seja fazendo-a sair dela ou decompondo o Universo em número limitado de elementos, com os quais, depois, voltam a reconstruí-lo, pouco importando se consideram tais mudanças como sucessivas ou coexistentes. De qualquer jeito, se; não houver mistura, tudo o que disserem carecerá de sentido. Teeteto - Exato. Estrangeiro - Porém ao maior ridículo expõem sua própria tese os que chegam a ponto de não permitir que receba denominação diferente da sua a coisa que participa da qualidade de outra. Teeteto - Como assim? Estrangeiro - É que a todo instante se vêem forçados a empregar expressões como Ser, À parte, Dos outros, Em si mesmo, e uma infinidade mais. Como não podem dispensá-las e são obrigados a entremeá-las em seus discursos, não precisam que os outros os refutem, pois levam consigo, como se diz, o inimigo e contraditor que por toda a parte eles carregam e que lhes fala de dentro deles mesmos, tal como fazia o famoso ventríloquo Euricles. Teeteto - O símile é muito oportuno e verdadeiro. Estrangeiro - E então? E se concedêssemos a todas as coisas a faculdade de se comunicarem entre si? Teeteto - Eis uma questão que eu sou capaz de resolver. Estrangeiro - De que jeito? Teeteto - Ora, porque o próprio movimento ficaria em repouso e o repouso se moveria, se ambos se reunissem. Estrangeiro - Porém é de todo em todo impossível parar o movimento ou movimentar-se o repouso. Teeteto - Sem dúvida. Estrangeiro - Só nos resta, pois, a outra alternativa. Teeteto - Certo. Estrangeiro - Por força, uma das três terá de ser verdadeira: ou tudo se mistura, ou nada; ou ainda, algumas coisas o fazem, outras não. Teeteto - Sem dúvida. Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila Estrangeiro - As duas primeiras já excluímos, por impossíveis. Teeteto - Realmente. Estrangeiro - Logo, quem quiser responder certo, terá de adotar a terceira. Teeteto - Perfeitamente. Estrangeiro - Mas, como algumas coisas desejam comunicar-se e outras se recusam a isso, comportam- se todas mais ou menos como as letras: umas não combinam em absoluto entre elas; outras ficam em perfeita consonância. Teeteto - É muito certo. Estrangeiro - As vogais, principalmente, se distinguem das demais letras por servirem de vinculo para as outras, de forma que, sem vogal, não é possível haver combinação entre as letras. Teeteto - Sim, é de todo impossível. Estrangeiro - E qualquer pessoa estará em condições de saber que as letras permitem combinações, ou haverá uma arte apropriada, a que terá de recorrer quem quiser proceder com acerto? Teeteto - Sim, uma arte. Estrangeiro - Qual, é? Teeteto - A gramática. Estrangeiro - Como! E o mesmo não acontece com os sons agudos e graves? Músico é quem conhece a arte de distinguir os sons que se combinam e os que destoam, sendo leigo na matéria quem nada entende de tudo isso. Teeteto - Certo. Estrangeiro - Igual distinção iremos encontrar nas demais artes, no que tange ao conhecimento ou à ignorãncia de seus princípios. Teeteto - Como não? Estrangeiro - E agora? Uma vez que já nos declaramos de acordo sobre se comportarem os gêneros de igual modo, no que diz respeito às combinações reciprocas, não será de toda a necessidade conhecer uma arte para orientar-se do começo ao fim do discurso quem quiser indicar os gêneros que combinam e os que se repelem? E mais: se há gêneros que atuam como elo de ligação para outros, permitindo que se misturem, e o contrário disso, na divisão, que sejam motivo de virem alguns a separar-se? Teeteto - Como não haver esse conhecimento, talvez mesmo o mais importante de todos? XXXIX - Estrangeiro - E que nome lhe daremos, Teeteto? Por Zeus! Acaso, sem o querer, viemos bater no conhecimento do homem livre e, empenhados em encontrar o sofista, primeiro descobrimos o filósofo? Teeteto - Que queres dizer com isso? Estrangeiro - Dividir por gêneros e não tomar a idéia de um pela do outro, e o inverso, a deste pela daquele: não diremos ser esse, precisamente, o conhecimento dialético? Teeteto - É o que diremos, sem dúvida. Estrangeiro - Então, quem for capaz de distinguir uma idéia única numa multidão de idéias independentes, ou um sem-número de idéias diferentes entre si, porém abrangidas por outra mais ampla, e, de novo, uma idéia apenas que se estende por muitas outras e todas elas ligadas a uma unidade, e também muitas inteiramente isoladas ou separadas: eis o que se chama a arte de distinguir os gêneros, conforme a capacidade de se combinarem ou de não combinarem. Teeteto - Perfeitamente. Estrangeiro - Porém tenho certeza de que não atribuirás essa capacidade dialética senão a quem souber filosofar com pureza e justiça. Faculdade Mineira de Direito Filosofia do Direito Prof. Luiz A. L. de Ávila Teeteto - Como atribuí-la a mais alguém? Estrangeiro - O filósofo, se bem o procurarmos, só nesta região é que poderemos encontrá-lo, agora e no futuro, conquanto não seja fácil distingui-lo. O sofista também; mas no seu caso a dificuldade é de outra espécie. Teeteto - Como assim? Estrangeiro - É que o sofista se acoita nas trevas do não-ser, com cuja convivência já se familiarizou. A escuridão do meio é que torna difícil reconhecê-lo. Não é isso mesmo? Teeteto - Parece. (Pg. 58-61) -x-
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